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POR UMA TEORIA DE INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO: A CIDADE REPRESENTADA NOS CARTÕES-POSTAIS

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Academic year: 2019

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POR UMA TEORIA DE INTERPRETAÇÃO DO ESPAÇO: A

CIDADE REPRESENTADA NOS CARTÕES-POSTAIS

Saulo Rondinelli Xavier da Silva1 Natanael Reis Bomfim2

1. Considerações Iniciais

O ensino crítico, ao contrário do tradicional, não se presta à assimilação de conceitos previamente definidos. Seu objetivo principal é desenvolver as potencialidades do educando: seu raciocínio lógico, sua autonomia, sua criatividade, seu espírito crítico, sua capacidade de investigação. Percebe-se que essas iniciativas são estimuladas quando o tema em estudo se apresenta ao educando com o potencial de convidar-lhe a um aprofundamento do conhecimento.

Nesse sentido, Bomfim (2002, p.83) afirma que “o estudo da imagem se apresenta como um amplo campo de investigação, seja no domínio da Psicologia, da Sociologia, da Psicosociologia, da Comunicação, da Educação e da Geografia”. E como recurso didático, a imagem se apresenta de maneira interdisciplinar.

Grande interesse não só no estudo da Geografia é obtido quando o assunto tratado com os alunos também é manifestado em sua cidade e, a cidade é o ponto de partida desse estudo. Ou quando o estudo é, eminentemente, a cidade em que o aluno vive, permitindo a ele conhecê-la em diferentes épocas através de sua imagem, possibilitando o seu estudo. Callai (1998, p.74) dá grande importância ao estudo geográfico a partir da escala local, principalmente nas séries iniciais, pois a partir do vivido pelos alunos,

1 Geógrafo (UESC), Especialista em Educação Geoambiental (FacSul), Mestrando em Cultura e Turismo

(UESC). E-mail: geoilheus@hotmail.com

2 Geógrafo (UCSal), Mestre em Educação (UFBA), PhD em Educação (UQÀM), Professor Adjunto da

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A noção de próximo/distante é muito relativa, não se restringe a uma variada extensão do espaço, mas tem a ver com o que é significativo para a vida dos alunos, para que eles se reconheçam como cidadãos que vivem num determinado lugar e num determinado tempo.

Nesse aspecto, o cartão-postal surge como um recurso didático potencial para a análise/descrição do espaço geográfico e até mesmo de uma sociedade, “uma imagem material que ilustra, educa e resgata algum momento do passado” (SILVA, 2009, p.199). Numa abordagem sobre a cidade e a aplicação de seus estudos em sala-de-aula, Schäffer (1996, p.110), menciona que

A cidade e o urbano estão presentes, nessas propostas, como instrumento de promoção de uma educação que se volta à formação de uma cidadania consciente, atuante, capaz de levar o aluno a refletir sobre seu papel como agente de construção do espaço através da análise crítica da realidade que o cerca.

Partindo desta proposição, a experimentação didático-pedagógica utilizando como recurso os cartões-postais poderá resgatar a memória e revelar as transformações do espaço em um determinado período. Nesta perspectiva, este recurso poderá ser um catalisador para a análise dos aspectos sócio-espaciais, além de servir como fonte de informações sobre a cidade.

Assim, buscamos explicitar uma proposta metodológica de leitura e interpretação do cartão-postal, onde a sistematização dessa metodologia é conduzida a partir de teorias adequadas à análise e interpretação de outras fontes imagéticas, bem como outras linguagens que representem elementos a partir da realidade, onde se registram aspectos selecionados do concreto organizado cultural, técnica, econômica e

esteticamente.

2. Uma estratégia de interpretação do espaço

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))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))) Nessa perspectiva, o discurso oriundo de um repertório adquirido pela percepção da imagem de um cartão-postal merece uma teoria de interpretação própria. Essa proposta parte do princípio semiótico, ciência que veio teoricamente se desenvolvendo e que teve nascimento em três fontes, onde destacamos a norte-americana, que germinou nos trabalhos do cientista-lógico-filósofo Charles Sanders Peirce (1839-1914) (SANTAELLA, 1983; FERRARA, 1986).

Ao realizar uma leitura do cartão-postal, o sujeito primeiramente faz uma percepção da imagem fotográfica e, nela identifica os elementos e absorve inúmeras informações conforme o seu objetivo. A comunicação que se inicia no emissor (cartão-postal) onde a linguagem é proporcionada pela estética da imagem, que é a visão do tempo e do espaço ordenados numa perspectiva unificada e contemplativa, fornece seus princípios para a ética ou ciência da ação ou conduta, tocando a dimensão afetiva. A todo esse processo denominamos de mensagem.

As dimensões e possibilidades de uso pelo receptor é que irá conferir significado à mensagem, portanto, o receptor é, eminentemente, um usuário da mensagem. A ação reflexiva do usuário da mensagem se constituirá no repertório, inclusive a possibilidade e a capacidade em revelar ou alterar a realidade transmitida através da imagem.

O repertório pode ser expressado pelo receptor num discurso não-verbal, com a reprodução da imagem segundo o seu entendimento e compreensão, a sua captação visual seguida de um processamento mental e a elaboração de um significado ilustrativo. O discurso também pode ser verbal, isto é, quando o receptor utiliza palavras para designar a sua interpretação.

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Paisagem

CARTÃO-POSTAL (Emissor) USUÁRIO DA

MENSAGEM

(Receptor) visão

MENSAGEM

Estética Ética

REPERTÓRIO linguagem Diálogo

(discurso – passado) > > > > Respostas > < Perguntas < < < < < < < (sujeito – presente)

revelar / alterar a realidade expectativas

interesses

DISCURSO

pré-compreensão

sentidos latentes ou implícitos na imagem recheado de subjetividade

INTERPRETANTE: Supersigno

Figura 1 – Esquema representativo da comunicação estabelecida pela percepção do cartão-postal. Fonte: Elaboração do autor.

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))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))) espaço e na (re)elaboração de propostas didáticas voltadas ao desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem em diversas áreas do conhecimento.

3. Imagens de cartões-postais e a Geografia escolar

Percebemos que as imagens visam fixar o que é transmitido verbalmente, até mesmo os livros didáticos exemplificam com gravuras, fotografias, charges, ou usam destes para sugerir a reflexão e a produção de uma redação, por exemplo. Sabemos que a imagem tem a capacidade de fixar seu conteúdo mais facilmente do que qualquer outra forma. Numa aula de Geografia o assunto é melhor assimilado quando o recurso didático estimula a percepção e interpretação do aluno, principalmente quando manifestado no lugar em que ele vive.

Nessa perspectiva, o cartão-postal é um recurso didático ideal para o estudo de fenômenos geográficos partindo de uma análise local. O estudo do lugar estimula a atenção e o interesse, e quando associado a utilização de imagens, desperta a compreensão e o senso crítico do aluno.

Da paisagem retratada num cartão-postal podemos obter informações para o estudo do espaço “natural”, como a perspectiva ambiental, a vegetação, o relevo, a hidrografia, ou mesmo um aspecto que “diz” qual é o clima ou como está o tempo naquele local; e para o estudo do espaço geográfico, a perspectiva urbana, social e a relação homem/natureza.

Através dessa análise, o receptor realiza inferências sobre a constituição do espaço geográfico, compreendendo os fatores de organização e constituição do espaço nos aspectos socioeconômicos, topológicos e socioespaciais. Assim, o aluno pode entender melhor e com a sua criatividade criar seus próprios conceitos para definir fenômenos, elementos e agentes que atuam no espaço geográfico.

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Figura 2 - Vista parcial da praia da Avenida Soares Lopes numa época que o mar chegava a atingir a murada de proteção. Ilhéus (BA), início do século XX.

Figura 3 - Ressaca na Avenida Beira-Mar, Rio de Janeiro (RJ). f. Bippus, 1913

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Figura 4 - Praia de Copacabana, bastante freqüentada pela população ilheense no início do século XX.

Figura 5 - Avenida Soares Lopes e praia, Ilhéus, década de 1990.

Além disso, a possibilidade de visualizar ambientes geográficos como realmente são, como ilhas, tômbolos, baías, e também outros não precisamente oceanográficos como tipos de vegetação e relevo, organização urbana, atividade econômica e outros aspectos, auxiliam e potencializam a aprendizagem geográfica escolar.

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ferroviário como um sistema de grande importância econômica no fluxo do principal produto de exportação agrícola: o cacau, e para o conceito que hoje tem a cidade por ter sido o quinto porto exportador do país, segundo anuários comerciais da época (AMADO, 1944, p.47).

Hoje, a população contemporânea tem a insatisfação de conhecer “pessoalmente” parte da locomotiva – que fazia o transporte de todo o cacau colhido entre os municípios de Vitória da Conquista e Ilhéus para exportação pelo Porto de Ilhéus (Figura 6) – entregue a corrosão física e cultural promovida pelo desgaste e o esquecimento no pátio da Circunscrição Regional de Trânsito (13.ª CIRETRAN). A Estação Ferroviária de Ilhéus se localizava junto ao antigo porto da baía do Pontal, onde hoje localiza-se o Terminal Rodoviário Urbano e a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) (Figuras 7 e 8).

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Figura 8 - Maria-Fumaça estacionada em seu “descanso” indesejado. Ilhéus-BA, 2003.

Outro exemplo é a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna – FESPI surgiu em 1972 como uma grande promessa para a região cacaueira (Figura 9), hoje, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, principal centro de estudos e pesquisas científicas em diversas áreas de ensino, pesquisa e extensão, com 29 cursos de graduação (licenciatura e bacharelado) e 32 cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) (Figura 10).

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Figura 10 - Campus da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC

Analisando as imagens anteriores, surge mais uma questão onde o cartão-postal se encaixa como um recurso didático, na análise de que a localização da UESC é um fator de grande influência para a conurbação entre as cidades de Ilhéus e Itabuna no caráter funcional, senão territorial para o futuro.

Nota-se que a análise através de imagens partindo do local convida o aluno para um aprofundamento do estudo através da percepção do espaço geográfico. Esse recurso didático, contudo, motiva e leva o aluno a realizar, além da descrição, crítica dos fatores técnico-econômicos e sua inserção no espaço, demonstrados no cartão-postal; e desenvolve sua autonomia quando esse tem a intenção de realizar um estudo por conta própria como a compreensão das relações afetivas entre o habitante e seu lugar.

3. Considerações Finais

Se analisarmos um único cartão-postal com o intuito de obter conhecimento, ou sermos auxiliados nesse processo, podemos adquirir conteúdos que atenderão a nossa intenção. Um cartão-postal tanto retrata a paisagem como registra o espaço cronologicamente.

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))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))) visão e os demais órgãos dos sentidos conseguem captar: volumes, movimentos, cores, odores, sons etc.

O seu caráter documental aproxima-o de um recurso didático fundamental para se estudar a historicidade do fato retratado. A paisagem de um cartão-postal corresponde, por ter características marcantes, com a época em que foi fotografada. Numa imagem onde visualizamos pessoas circulando nas ruas e praças ou reunidas para prestigiar algum evento, através da mensagem transmitida pelo cartão-postal, podemos realizar inferências acerca dessa sociedade.

Ademais, como cartão-postal que é, claramente se configura um recurso didático, agora para se entender a comunicação e sua importância para a humanidade, através de um veículo já não tão utilizado pela sociedade, mas que sugere novas utilizações.

4. Referências

BOMFIM, Natanael Reis. Uma análise dos estudos sobre a imagem. In: JIMENEZ, J. E

(et al orgs.). Nuevos horizontes en la formación del professorado de Ciencias

Sociales. Palencia: Espanha. 2002. p.437-445.

CALLAI, Helena Copetti; ZARTH, Paulo Afonso. O estudo do município e o ensino de História e Geografia. Ijuí: Unijuí, 1988. 63p. (Coleção ensino de 1.º grau; 22)

FERRARA, Lucrécia d’Aléssio. A estratégia dos signos. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1986. 197p. (Coleção Estudos; Semiótica).

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983. 84p. (Coleção Primeiros Passos; 103).

SCHAEFFER, Jean-Marie. A imagem precária. Campinas-SP: Papirus,1996. 215 p. (Coleção Campo Imagético).

Imagem

Figura 1 – Esquema representativo da comunicação estabelecida pela percepção do cartão-postal
Figura 3 - Ressaca na Avenida Beira-Mar, Rio de Janeiro  (RJ). f. Bippus, 1913
Figura  4  -  Praia  de  Copacabana,  bastante  freqüentada  pela  população  ilheense  no  início  do  século XX
Figura 6 – Antigo Porto de  Ilhéus, localizado na baía  do Pontal, década de 1930,  aproximadamente
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