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O SURGIMENTO DA LINGUÍSTICA COGNITIVA

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Academic year: 2021

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O SURGIMENTO DA LINGUÍSTICA COGNITIVA

Cristiane Fernandes Moreira1

GT7 – Educação, Linguagens e Artes

RESUMO

A proposta de trabalho que aqui se apresenta é fruto de uma Bolsa Sandwich Doutoramento Exterior concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Procura tecer considerações acerca do surgimento da Linguística Cognitiva (LC), recente área científica que não distingue significado e conhecimento do mundo, tudo é organizado no conceito de forma complexa, não como uma lista de palavras. De acordo com artigo de Silva (2007), os estudos de LC em solo português europeu iniciaram-se há 10 anos. Até o presente momento, essa área de estudos é descrita a partir de projetos de pesquisa, teses, dissertações e publicações. Tem como objetivos demonstrar uma visão de conjunto sobre a situação atual da LC, e datar os primeiros textos introdutórios de divulgação do paradigma.

Palavras-chave: Linguística Cognitiva. Embodiment. Significado. Conhecimento enciclopédico.

ABSTRACT

The proposed work presented here is the result of a Sandwich PhD Foreign Exchange granted by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Looking for some considerations about the emergence of Cognitive Linguistics (LC), recent scientific area that does not distinguish between meaning and knowledge of the world, everything is organized in the complex form of the concept, not as a list of words. According to Silva's article (2007), LC studies in European Portuguese started up 10 years ago. To date, this study area is described from research projects, theses, dissertations and publications. Has as goals demonstrate an overview of the current situation of LC, and date the first introductory texts paradigm of disclosure.

Keywords: Cognitive Linguistics. Embodiment. Meaning. Encyclopedic knowledge.

Introdução

1 Doutorado em Linguística Histórica, com pesquisas na área de Linguística/Estudos em

Semântica/ Área Semântica Cognitiva. UFBA/SEC. Email: svencris@gmail.com. Endereço para acessar o CV: http://lattes.cnpq.br/9203404082524634.

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A Linguística Cognitiva (doravante, LC) apresenta diversidade teórica e metodológica. Assume que a linguagem é parte integrante da cognição, fundamentando-se em processos cognitivos, sócio interacionais e culturais. O modelo é bafundamentando-seado no uso e no contexto da conceptualização, da categorização, do processamento mental, da interação e da experiência individual, social e cultural, a fim de melhor compreender como é que a linguagem contribui para o conhecimento do mundo. Para a LC, toda a linguagem é acerca do significado e o significado é: perspectivista, quer dizer, não reflete objetivamente o mundo, mas considera as muitas perspectivas diferentes; enciclopédico, i.e., intimamente associado ao conhecimento do mundo; flexível e baseado na experiência e no uso, i.e., na nossa experiência individual corpórea ou biológica e na nossa experiência coletiva, social e cultural e, sempre, na experiência do uso atual da língua.

Referencial teórico: o surgimento dos estudos da Linguística Cognitiva

De acordo com artigo de Silva (2007), os estudos de Linguística Cognitiva (LC) em solo português europeu iniciaram-se há 10 anos. A LC não distingue significado e conhecimento do mundo, tudo é organizado no conceito de forma complexa, não como uma lista de palavras. Até o presente momento, essa área de estudos é descrita a partir de projetos de pesquisa, teses, dissertações e publicações. De acordo com este pesquisador:

The longed-for development of a Cognitive Linguistics of Portuguese requires greater attention to grammatical phenomena and collaborative work by the few Portuguese linguists and the Brazilian linguists already organized in an Association (SILVA, 2007, p. 1).

Procurando uma visão de conjunto sobre a situação atual da LC portuguesa, Silva assinala que há outros estudos cognitivos fora dos países lusófonos, que têm sido continuamente preenchidos com vários estudos da língua portuguesa. Tomando o primeiro trabalho que se inscreve na perspectiva da Linguística Cognitiva em português europeu, o autor cita a dissertação de doutoramento de José Pinto de Lima sobre o significado avaliativo, datada de 1989, inspirado em Wittgenstein e na teoria do protótipo.

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Afirma tal autor que só a partir da segunda metade dos anos 90 é que surgem outros trabalhos cognitivos com o mesmo estatuto de teses de doutoramento, a exemplo dos trabalhos de Batoréo (1996), com um estudo linguístico e psicolinguístico sobre a expressão do espaço em português (publicado em 2000); de Silva (1997), com um estudo sincrônico e diacrônico sobre a semântica do verbo deixar e suas implicações no nível da causatividade e da polissemia (publicado em 1999); e, dois anos mais tarde, de José de Sousa Teixeira (1999, publicado em 2001), da Universidade do Minho, sobre modelos mentais da dimensão espacial da frontalidade (frente/trás). Mais recentemente surgem as dissertações, como a de Mineiro (2006), sobre a metáfora na terminologia náutica, por exemplo. Datam também dos meados dos anos 90 os primeiros textos introdutórios de divulgação do paradigma: Silva (1995) sobre a Gramática Cognitiva e Silva (1997) sobre a Linguística Cognitiva em geral. A divulgação mais recente é de Batoréo (2004e) num CD intitulado “A Língua Portuguesa: Abordagem Cognitiva”. Ainda em linha desse autor, a Linguística Cognitiva se faz presente em algumas universidades portuguesas: Faculdade de Letras de Lisboa (com Isabel Hub Faria, José Pinto de Lima e Clotilde Almeida), Universidade Aberta (Na Batoréo), Faculdade de Letras do Porto (Mário Vilela), Faculdade de Letras de Coimbra (Ana Cristina Macário Lopes e Maria da Felicidade Morais), Universidade de Aveiro (Rosa Lídia Coimbra), Universidade do Minho (José Teixeira) e Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Braga (Augusto Soares da Silva). Foi inicialmente acolhida em Lisboa e no Porto: na Faculdade de Letras de Lisboa, no seio do Grupo de Estudos de Linguagem e Cognição criado, em 1988, por Isabel Hub Faria e, posteriormente, no Laboratório de Psicolingüística, dirigido pela mesma; na Faculdade de Letras do Porto, com os estudos semântico-lexicais de Mário Vilela. Nos últimos anos, tem tido expressão significativa na Faculdade de Filosofia da UCP, em Braga. Outras presenças da Linguística Cognitiva no nível da formação pós-graduada são os seminários inseridos em diversos cursos de mestrado e doutoramento, nomeadamente na Faculdade de Letras de Lisboa e na Faculdade de Letras do Porto, na Universidade Aberta e na Universidade do Minho. Outras afirmações da Linguística Cognitiva em Portugal fazem-se através de encontros e congressos. Até ao momento, realizaram-se três grandes reuniões científicas de nível internacional, a saber: 1º Encontro Internacional de Linguística Cognitiva, em 1998; Encontro sobre Linguagem e Cognição: a perspectiva da Linguística Cognitiva, que se realizou em 2000; a última teve a dimensão de um congresso internacional: Linguagem, Cultura e Cognição:

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Congresso Internacional de Linguística Cognitiva. O congresso contou com a presença dos três fundadores da Linguística Cognitiva (Ronald Langacker, George Lakoff e Leonard Talmy), para além de outras figuras representativas e reuniu, em Braga, 250 congressistas. O congresso de Braga foi, no plano internacional, dos primeiros a explorar as relações entre linguagem, cultura e cognição na perspectiva da Linguística Cognitiva.

Os trabalhos de investigação estritamente inscritos no quadro da Linguística Cognitiva que se desenvolveram em Portugal pertencem a quatro domínios: 1) Semântica Cognitiva (é nesta área que se tem o maior número de estudos, na sua maioria, são estudos de semântica lexical e de lexicologia. Os temas e fenômenos analisados são os seguintes: significado lexical e a polissemia; Teoria do Protótipo: características da categorização linguística, natureza dos protótipos e efeitos de prototipicidade na estrutura e no uso das categorias linguísticas, conceptualização e expressão linguística de relações espaciais; metáfora e metonímia conceptuais, sobretudo no quadro da Teoria da Metáfora Conceptual; mesclagem conceptual; conceptualização e verbalização de emoções; expressões idiomáticas; verbos causativos e dinâmica de forças; semântica morfológica; mudança semântica; variação lexical: projeto de sociolexicologia quantitativa sobre Convergência e Divergência no Léxico do Português, dirigido por Augusto Soares da Silva, que pretende saber se nos últimos 50 anos o Português Europeu e o Português Brasileiro estão envolvidos num processo de convergência ou divergência lexical e, ao mesmo tempo, comparar a estratificação lexical de cada uma das variedades nacionais); 2) Gramática Cognitiva (este é um domínio que ainda conta com poucos estudos. Os trabalhos existentes seguem principalmente o modelo gramatical de Langacker. Os temas estudados da Gramática do Português são os seguintes: transitividade e construções transitivas; causação e construções causativas; construções perceptivas; infinitivo flexionado; subordinação adverbial; construções possessivas e existenciais; construções impessoais; processos de interação entre o significado do verbo e do significado da construção, no quadro da Gramática de Construções; projeto Gramática e Cognição); 3) Gramaticalização e Discurso (estudos diacrônicos e sincrônicos; discurso narrativo; discurso publicitário e jornalístico) e 4) estudos interdisciplinares (estudos psicolinguísticos; estudos neurolinguísticos; estudos de poética cognitiva; estudos computacionais e de Inteligência Artificial).

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Considerando a situação da LC em solo brasileiro, Silva informa que, tal como em Portugal, também no Brasil a Linguística Cognitiva tem uma expressão ainda minoritária. Todavia, desde 2003 realizam-se anualmente congressos nacionais sobre “Linguística e Cognição”, promovidos pelo Grupo de Trabalho de Linguística e Cognição da ANPOLL reunindo algumas dezenas de investigadores de diferentes formações. Em agosto de 2007, realiza-se a “IV Conferência de Linguística e Cognição”, e foi fundada a Associação Brasileira de Linguística Cognitiva, presidida por Maria Margarida Salomão, pioneira nos estudos de Linguística Cognitiva no Brasil. Hoje, a Linguística Cognitiva no Brasil constitui-se em 13 grupos de investigação. As referências aos trabalhos de lingüistas brasileiros restringem-se a livros individuais ou coletivos. Ainda conforme Silva, fora do espaço lusófono, existe alguns trabalhos de investigação e programas de pós-graduação sobre o Português desenvolvidos e orientados por lingüistas estrangeiros e por lingüistas portugueses e brasileiros. Embora em número ainda relativamente reduzido, abrangem vários programas de investigação em Linguística Cognitiva e centram-se no estudo da língua portuguesa em várias das suas áreas (léxico gramática e discurso). O seu principal contributo tem sido em nível da Semântica, mas também há a exploração da interface conceptual entre léxico2 e gramática, semântica e sintaxe, semântica e discurso, entre fatores conceptuais, discursivos e variacionais e, como característica geral, a assunção da centralidade do significado na arquitetura da língua portuguesa. Tem sido promovido, de igual modo, o diálogo intradisciplinar, sobretudo com a Linguística Funcionalista e com as ciências cognitivas e as ciências sociais para a exploração das relações entre linguagem, cognição e cultura. O autor assinala que o recente desenvolvimento da Linguística de Corpus do Português garante a opção metodológica pela análise gramatical baseada no uso. Mas, é importante que se desenvolva um programa sócio cognitivo que inclua a análise variacionista e a correlação entre fatores conceptuais, discursivos e variacionais e com ele a Sociolinguística Cognitiva, incipiente entre nós, brasileiros e portugueses. Finalmente, conforme Silva (2007, p. 66):

[...] o esperado desenvolvimento da Linguística Cognitiva do Português passa necessariamente pelo trabalho conjunto de lingüistas portugueses e brasileiros, e pelo intercâmbio com linguistas cognitivos de outros países, sobretudo no contexto dos congressos bianuais da Associação Internacional de Linguística Cognitiva, na qual todos esperam que a Associação Brasileira venha a filiar-se tão breve quanto possível.

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No panorama geral, é possível assegurar que a LC, como paradigma científico, surgiu há pouco mais de 15 anos, embora os primeiros estudos tenham surgidos nos anos 80, nos EUA e em alguns países da Europa. Os seus fundadores são os linguistas norte-americanos Ronald Langacker, George Lakoff e Leonard Talmy. De acordo com Silva (2007, p. 52):

[...] não há um único fundador nem um único território claramente delimitado, mas um conglomerado de centros de investigação mais ou menos extensos espalhados pelos EUA, pela Europa e mais recentemente pela Ásia, que partilham de uma perspectiva geral comum e desenvolvem distintos programas e teorias linguísticas (ainda) não redutíveis a uma única e uniforme teoria da linguagem.

A LC considera o significado como centro, além de reintroduzir o léxico na gramática, restabelecer a ligação da gramática a desempenho (ao discurso e à interação) e o interesse na construção sociocultural do significado e da linguagem. As principais linhas de investigação em Linguística Cognitiva são: Semântica Cognitiva, Gramática Cognitiva, e Gramática de Construções, Teoria do Protótipo, e os modelos de rede radial, e rede esquemática, Teoria da Metáfora Conceptual, da Metonímia Conceptual e dos esquemas imagéticos, Teoria dos Quadros Conceptuais, Frame Semantics, Teoria dos Espaços Mentais, Teoria da Integração (ou Mesclagem3) Conceptual, Teoria dos Modelos Culturais e o desenvolvimento da Linguística Cultural, Teoria da Gramaticalização, Teoria Neural da Linguagem, entre outras. Quer dizer, quando se fala sobre significado e cognição, deve-se falar na cognição humana, que é um todo complexo. O significado, para ser interpretado, depende da interpretação que o homem faz do mundo, ligado ao seu conhecimento sobre o mundo. Por exemplo, a noção de frente não é igual para todas as línguas. Em contraposição, o que antes, como ideal

3A integração conceptual dá-se entre espaços mentais. Procura explicar a construção do processo

metafórico no processo discursivo. Defende que o domínio alvo e o domínio fonte são projetados em um espaço de integração, que não deriva apenas desses domínios. Essa teoria não contradiz a TMC, pretende ser complementar. Quer dizer, são três “is” no processo de cognição humana: identificação, integração, imaginação. O processo metafórico participa, por isso, desta arquitetura. Um exemplo clássico é “Este cirurgião é um carniceiro”. Quer dizer, a metáfora não é apenas o que há de comum entre dois domínios. É toda estrutura conceitual que funciona. A negatividade e a positividade da fonte é importante.

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científico, era a objetividade, com a teoria de Gestalt4 , a realidade que se vê não é a que existe, é apenas uma realidade projetada, corporificada. A cognição e a percepção não são tão objetivas. Depende de processos que ocorrem na interação corpo/ambiente/mente e da qual (interação) resultam conteúdos mentais. Implica vertente física e mental, pensamento e língua. O significado é através do corporificado (ingl. Embodied). Quer dizer, se na trajetória da Linguística Estruturalista, a partir do século XX, através das funções da linguagem propostas por Jakobson, por exemplo, percebia-se a língua como referencial: denotação e conotação, uma teoria que partia da ideia de que há um mundo real, objetivável, o mundo tal como ele é. Com os estudos da Linguística Cognitiva, a percepção humana é condição sine

quo non para a construção do significado, que passa a ser perspectivista, quer dizer, há

muitas perspectivas a depender do ponto de vista de cada um, funciona conforme e dependente daquilo que os seres humanos são.

Quando se fala de significado é algo muito genérico. O significado no fenômeno linguístico, gramatical, só significa dentro da gramática; o significado referencial; o significado lógico; o significado pragmático, o cognitivo. Como é que as palavras funcionam na mente? Há formas de analisar o significado. O significado na língua não é independente das dimensões cognitivas, referencial, lógica, pragmática, morfemática, lexical... Cabe aqui uma pergunta: há arquidualismo quanto ao que se vier a perguntar como é que as palavras significam?

Não há uma resposta somente na composicionalidade, mas, sobretudo, na categorização. Do realismo bíblico, ingênuo (o nome são as coisas, há tantas coisas como palavras), as palavras são os nomes das coisas; das teorias das condições necessárias e suficientes, em que cada unidade é analisável em um conjunto finito de traços semânticos, os traços são comuns, há igualdade de estatuto, considerando que o significado de X corresponde ao conceito de X ou à categoria X, a metáfora do léxico como mosaico (como escreveram os discípulos de Saussure sobre a obra do mestre genebrino, a ideia do léxico como estrutura, cada palavra possui traços que se opõem. Tudo forma um sistema. Um grupo de coisas tem coisas em comum), aos estudos sobre

4 A Gestalt é um modo de configurar partes individuais em um todo, destacando, a cada momento, uma

delas como figura. É o todo e são selecionados a cada momento elementos presentes nesse todo, que sobressaem, enquanto os outros ficam em segundo plano.

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a categorização, principiados pela psicolinguista Eleonor Rosch, revelam que não há nada em comum entre as línguas. Há aqui uma alteração do paradigma tradicional. As categorias acontecem por processo de encadeamento. A esse respeito, deve-se retomar Lakoff, a partir dos estudos de Dizem, em uma obra baseada em antropologia, que explica como as categorias revelam acerca da mente. É também conhecida pela obra

Women, fire, and dangerous things. Tal qual o problema que aparece do ornitorrinco,

no século XVIII, na Europa. Quer dizer, era ovíporo, como os reptéis; tinha bico como as aves, daí ornitho= „ave? + rhynchus = „bico? Tinha muitas características dos mamíferos. Quer dizer, contra argumentos não valem os fatos. Assim, em Women, fire,

and dangerous things, são analisadas como as categorias de Dyirbal, uma tribo

aborígene da Austrália, representam as categorias não por apresentarem traços em comum, mas pelas relações entre um e outro membros, por uma questão de encadeamento. Uma das categorias, Balan, por exemplo, representa: 1- o princípio das crenças; 2- o do domínio experienciável e 3- o do princípio da propriedade importante. Exemplificando: Mulheres – elemento central; água, sol, fogo – coisas perigosas. Além do mais, pode haver uma categoria sem propriedades específicas: o sistema conceitual pode ter uma categoria que englobe todo o resto que as outras categorias não abarcam. As relações entre as categorias mentais são de muitos tipos. Não se trata de organizar a realidade em módulos, em blocos. Compreende-se porque a categorização é a base da ciência cognitiva. Construir um conceito implica sempre generalização (abstração) e distinção (discriminação). Esse fenômeno, se aplicado ao mundo das crianças, recebe o nome de supercategorização. Por exemplo, boneca e gato seriam da mesma categoria.

As categorias são flexíveis, podem ser alteradas. A categorização é um processo mental de classificação das entidades que são concebidas como parte da realidade na qual nos inserimos. Cada categoria possui membros centrais à volta dos quais se organiza a própria categorização. Exemplo há pássaros que possuem mais características de pássaros do que outros, porque pássaro é uma categoria. Nessa perspectiva, pode haver a inexistência de propriedades comuns: uma categoria não é formada obrigatoriamente por propriedades ou características comuns a todos os membros que a compõem. O conceito é organizado por protótipo e por outros elementos cuja categoria tem limites difusos. As propriedades são compostas por encadeamentos. A estruturação é imprevisível. Os princípios da categorização não podem prever como é que uma língua se organiza categorial mente. Existem domínios de experiências

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básicos que podem não ser universais, mas organizados culturalmente. Por exemplo, a importância dos universos de crença: os mitos e os universos de crença da comunidade podem justificar associações e pertenças de um elemento a uma categoria. A título de esclarecimento, lua pode ser masculino ou feminino; o pôr do sol, o nascer do sol; o sol já percorreu. Nessas expressões, o universo de crença justificativo é que o sol move-se ao redor da terra.

A organização cognitiva e a apreensão linguística implicam várias dimensões na gênese e no estudo do significado: Antropologia, Filosofia da Linguagem, Inteligência Artificial, Psicologia, Neurolinguística, entre outras áreas. O significado linguístico e a cognição humana passam a ser centrais dentro das ciências cognitivas. Deparando-se com a ontologia do significado cognitivo, é possível também tecer o seguinte questionamento: que implicações a perspectiva cognitiva tem para os estudos da linguagem? Os elementos são todos encadeados, e não formados de condições necessárias e suficientes. A Linguística Cognitiva (LC) configura-se, então, nem como uma teoria, nem uma corrente. É o encontro de várias ciências. Para a LC, a língua não é autônoma. E passa a inaugurar um novo paradigma: o experiencialismo. Parafraseando Damásio, qualquer ato mental tenta imediatamente transformar-se em linguagem verbal. Pensamos com o corpo, daí o “Erro de Descartes” que separava corpo e alma, consciência e percepção. Com isso, foram apontadas algumas diferenças entre a concepção objetivista do pensamento e a experiencialista. Por exemplo, enquanto na primeira, o pensamento é uma manipulação mecânica de símbolos abstratos, o significado é atomístico; na segunda, o pensamento surge das experiências corpóreas, o pensamento é gestáltico, a nossa percepção vem de elementos globais; a estrutura conceptual só pode entender-se a partir de modelos cognitivos, os modelos mentais, e não de modelos matemáticos de “verdadeiro” e “falso”.

Considerações

As seguintes conclusões podem ser assinaladas: o significado não é igual para todos; ou pode ser aplicado a várias formas; pode referir-se a várias realidades; depende dos conceitos construídos pela mente; resulta de operações mentais complexas. Para os cognitivistas, toda a linguagem se fundamenta no significado que, por sua natureza, é flexível, perspectivista, enciclopédico, corporizado.

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Referências Bibliográficas

SILVA, Augusto Soares da. Os estudos de linguística cognitiva do português. Revista Portuguesa de Humanidades Estudos Linguísticos, 11-1 (2007), p. 51-83.

TEIXEIRA, José. A verbalização do espaço: modelos mentais de frente/trás. 2001. 527 (f.) Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho (Colecção Poliedro), Braga, 2001; Cognitive semantics: meaning and cognition, de Jens Allwood e Peter Gardenfors.

Referências

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