Processo nº: 163/2018 PARECER. Recorrentes: Procuradoria do TJD/RS SC Internacional. Grêmio F. Porto Alegrense TJD/RS

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PARECER

Recorrentes: Procuradoria do TJD/RS SC Internacional

Recorrido: SC Internacional

Grêmio F. Porto Alegrense TJD/RS

A PROCURADORIA DA JUSTIÇA DESPORTIVA, por seu representante abaixo assinado, no uso de suas atribuições, com fundamento nos arts. 21 e 22 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, vem, com o devido respeito, apresentar seu parecer, nos termos abaixo:

RELATÓRIO:

A PROCURADORIA DE JUSTIÇA DESPORTIVA DO RIO GRANDE DO SUL e o SPORT CLUBE INTERNACIONAL interpuseram recurso voluntário contra acordão do Pleno do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul, que, por maioria, reformou o acórdão da 6ª Comissão Disciplinar do TJD/RS, apenando o clube recorrente em R$ 10.000,00, pela infração ao art. 213,I, §1º, do CBJD.

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O INTERNACIONAL/RS e o GRÊMIO/RS foram denunciados, inicialmente, pela Procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul devido à ocorrência de uma série infrações disciplinares na partida entre realizada elas, no dia 11/03/2018, pelo Campeonato Gaúcho.

Na referida partida, para o que importa no âmbito deste recurso, segundo consta nas provas acostadas aos autos, foi possível constatar (a) lançamentos de artefatos explosivos (“rojões”) por parte das torcidas de ambas as equipes; (b) arremesso de cadeiras e (c) brigas generalizadas entre torcedores.

Diante dessa série de ocorrências, a e. 6ª Comissão Disciplinar do TJD/RS, por maioria dos votos, acordou em (I) condenar o INTERNACIONAL/RS ao pagamento de multa no montante de R$ 20.000,00, por violação ao art. 213, I do CBJD e (II) condenar o GRÊMIO/RS ao pagamento de multa no montante de R$ 20.000,00, por violação ao art. 213, I do CBJD (fls. 287/289 e 300/302).

Ambas as equipes condenadas apresentaram recurso voluntário, pedindo a reforma do acórdão, de modo que fossem absolvidas das penas aplicadas.

Os recursos foram conhecidos e julgados pelo Pleno do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná que, conforme acórdão de fls. 371/375, assim decidiu:

“a) Por maioria deram parcial provimento ao recurso do SC Internacional

para julgar procedente, em parte, a denúncia para condená-lo, por infração ao art. 2163,I, §1º do CBJD, ao pagamento da multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais); e,

b) por maioria, dar provimento ao recurso do Grêmio FBPA para absolver esta Entidade da imputação constante da denúncia.” (fls. 375)

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Contra o acórdão do Pleno do TJD-PR, que majorou as penas da condenação imposta pela 3ª Comissão Disciplinar do TJD- PR, foi interposto o recurso voluntário pela PROCURADORIA DE JUSTIÇA DESPORTIVA DO RIO GRANDE DO SUL e pelo INTERNACIONAL/RS.

FUNDAMENTAÇÃO:

Merece ser dado provimento ao recurso da PROCURADORIA e negado provimento ao recurso do INTERNACIONAL/RS.

CONDUTA DO INTERNACIONAL/RS

Por meio do recurso de fls. 384/397, no que diz respeito às condutas praticadas pela equipe do INTERNACIONAL/RS, a PROCURADORIA pleiteia a reforma do acórdão do pleno do TJD/RS para que seja majorada a multa para R$ 20.000,00. Em seus fundamentos, sustenta que “ficou demonstrado que o clube não tomou as medidas preventivas, pois além de não impedir que torcedores das duas equipes ingressassem com bombas para dentro do estádio, permitiu que uma de suas torcidas organizadas permanecessem abaixo da torcida visitante” (fls. 389v).

Por sua vez, o INTERNACIONAL, no recurso voluntário de fls. 408/428, pede a sua absolvição, para que seja excluída a multa de R$ 10.000,00 aplicada pelo pleno do TJD/RS, ou, alternativamente, que essa multa seja reduzida. Para isso, afirma que “adotou todas as providências necessárias à prevenção de atos de violência e desordem em seu estádio”, que se encontraria “traduzida no altíssimo nível de investimentos nos mais modernos equipamentos e técnicas de segurança,

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aparelhamento e especialização do material humano empregado neste mister, e, ainda, no constante diálogo e interação com os quadros da segurança pública envolvidos no combate à violência nos estádios” (fls. 419/420).

Não merece prosperar o recurso do INTERNACIONAL/RS, ao passo que possui razão a PROCURADORIA.

Diante de todos os fatos constatados nos autos, que são incontroversos, já é possível afastar o argumento do INTERNACIONAL/RS de que “todas as providências” foram adotadas.

Afinal, em que pese as terem sido adotas medidas para prevenir esse tipo de situação, é evidente que estas não se mostraram suficientes, o que se concluir pela simples ocorrência dos graves fatos narrados na denúncia.

A título de exemplo, veja-se que torcedores, de ambas as equipes, entraram com explosivos dentro do estádio, demonstrando uma clara falha de fiscalização por parte do INTERNACIONAL.

Ainda constatou-se o arremesso contra a torcida adversária, além diversas confusões desordens por parte dos torcedores.

Inclusive, como muito bem ressaltou a PROCURADORIA em seu recurso, o INTERNACIONAL sequer seguiu as instruções de seguranças recomendadas:

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“Ressalta-se que a conduta adotada pelo Internacional está em total desacordo com o Laudo de Segurança, especialmente ao mencionado na fl. 79 dos autos.

No checklist do Laudo de segurança, especificamente no item 4.7.2 pergunta se o espaço reservado para a torcida organizada local é distante do local destinado a torcida organizada visitante. O laudo apresentava resposta positiva, mas as provas dos autos (fl. 195) e os vídeos demonstram este descumprimento ao laudo de segurança.” (fls. 389v)

Ora, a responsabilidade do INTERNACIONAL/RS é objetiva, no que se refere às condutas dos torcedores praticadas dentro de seu estádio, não sendo possível, após constatados tantos fatos graves, absolvê-lo da aplicação das penas previstas no art. 213 do CBJD.

Ademais, a pena aplicada pelo TJD/RS não se mostra adequada, ante a gravidade das condutas verificadas, razão pela qual a majoração se mostra necessária.

Por isso, esta PROCURADORIA opina pelo desprovimento do recurso do INTERNACIONAL, bem como pelo provimento do recurso da PROCURADORIA DE JUSTIÇA DESPORTIVA DO RIO GRANDE DO SUL, para majorar a pena aplicada ao INTERNACIONAL/RS.

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Com relação ao GRÊMIO/RS, no recurso de fls. 384/397 a PROCURADORIA pleiteia a reforma do acórdão do pleno do TJD/RS para que seja aplicada multa de R$ 20.000,00 e a pena de perda de 2 mandos de campo.

Com todas as vênias, o TJD/RS absolveu a equipe do GRÊMIO sob o fundamento de que, na qualidade de visitante, não teria responsabilidade pela conduta de seus torcedores:

“Ao recurso do Grêmio FBPA voo pelo seu integral provimento atento à redação do tipo em que o fato é enquadrado na denúncia, que tem a seguinte redação:

§2º Caso a desordem, invasão ou lançamento de objeto seja feito pela torcida da entidade adversária, tanto a entidade mandante como a entidade adversária serão puníveis, mas somente quando comprovado que também contribuíram para o fato (grifo acrescido)

Pelo verbo constata-se que a exigência de comprovação para a incidência da regra dirige-se, não à ‘torcida da entidade adversária’ mas sim às Entidades, mandante e adversária, como em seu arrazoado bem sustenta o procurador do Grêmio FBPA.” (fls. 374)

A responsabilidade da entidade mandante é latente e indiscutível. No entanto, ao contrário do que restou decidido, é inquestionável, também, a responsabilidade da entidade visitante para com seus torcedores.

Afinal, o art. 213 do CBJD, cuja interpretação embasou a absolvição do Grêmio, nos termos acima transcritos, é balizada pelo art. 67 do Código Disciplinar da Fifa, que assim dispõe:

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“67 – Responsabilidade por conduta de espectador

1. O clube ou associação mandante é responsável pela conduta imprópria do seu próprio grupo de espectadores, independentemente de culpa, e, dependendo da situação, pode ser multado.

2. A associação ou o clube visitante é responsável pela conduta imprópria do seu próprio grupo de espectadores, independente de culpa, e, dependendo da situação, pode ser multado. Novas sanções podem ser impostas, no caso de graves perturbações. Os espectadores nas arquibancadas reservadas para os visitantes são vistos como torcedores da associação visitante, salvo prova em contrário.

3. Conduta imprópria inclui violência contra pessoas ou objetos, uso de objetos ou dispositivos inflamáveis, arremesso de objetos, exibição de slogans insultuosos ou políticos, sob qualquer forma, proferindo palavras insultuosas ou sons, ou invasão do campo.

4. A responsabilidade descrita nos parágrafos 1 e 2 também inclui jogos disputados em terreno neutro, principalmente durante as competições finais.” (destacou-se e sublinhou-se)

Dessa forma, resta demonstrada a inconteste responsabilidade da entidade pelos seus apoiadores, ainda que como visitantes.

Superada a responsabilidade evidente, necessário ressaltar também a gravidade das condutas dos torcedores do GRÊMIO, como se pode ver do relatório da própria Polícia:

“No espaço da torcida do Grêmio, cadeiras foram arrancadas e algumas arremessadas para o anel inferior, onde estavam os torcedores do Internacional. Também verificou-se o arremesso de rojões de ambas as torcidas.” (fls. 66)

Ora, diante desses fatos, a pena a ser aplicada deve ter um caráter pedagógico, a fim de evitar que essas condutas ocorram novamente, aplicando-se no presente caso a pena de multa e de perda de mando de campo, na forma pedida pela PROCURADORIA DE JUSTIÇA DESPORTIVA DO RIO GRANDE DO SUL.

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CONCLUSÃO:

Pelo exposto, esta Procuradoria opina pelo PROVIMENTO do Recurso Voluntário de fls. 384v/397, bem como pelo NÃO PROVIMENTO do Recurso Voluntário de fls. 375/428, reformando-se o acórdão do e. Pleno do Tribunal da Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul, pelos fundamentos acima expostos.

Rio de Janeiro, 4 de junho de 2018.

Rafael Mocarzel Procurador do STJD