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A MONSTRUOSIDADE E SUAS FACES EM NOTRE-DAME DE PARIS. A obra Notre-Dame de Paris de Victor Hugo tornou-se uma fonte de matéria-prima

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A MONSTRUOSIDADE E SUAS FACES EM NOTRE-DAME DE PARIS

Maria Conceição Lima Santos (UFS/DLE)

I. INTRODUÇÃO

A obra “Notre-Dame de Paris” de Victor Hugo tornou-se uma fonte de matéria-prima que vem contribuindo para o estudo da Literatura. Nela podem ser encontrados diversos temas, inclusive o da monstruosidade que será o eixo temático que direcionará esta pesquisa.

A intenção de estudar a monstruosidade pela perspectiva literária, tenta conduzir o leitor deste trabalho a uma reflexão sobre as questões sociais que envolvem o sujeito na ficção e o sujeito na vida real. “(...) No encontro com a literatura (ou com a arte em geral) os homens têm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida...”. (COELHO,1997).

A Monstruosidade, cujo nome significa aquilo que é monstruoso, abominável e assombroso, será estudada em duas nuances: a monstruosidade física e a monstruosidade mental ou de caráter. A primeira tratará do aspecto exterior e será ilustrada através da personagem de Quasímodo – O Corcunda, cuja deformidade enquadra-o na categoria de monstro. Já a segunda envolve as ações torpes, de padrão dissimulado, cujo objetivo encobre muitos crimes e pecados, e poderá ser identificada na personagem do padre Claude Frollo.

A realidade do mundo atual encontra-se bem retratada na obra de Notre-Dame de Paris, mesmo sendo este um romance histórico (1831) da época do Romantismo Francês. Este romance cumpre fielmente o papel da literatura, que é representar a vida de forma verossímil

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nas suas problemáticas, tensões, reflexões e comportamentos. Desse modo, o presente trabalho pretende apresentar considerações que enfatizem a importância da temática a ser estudada como uma forma de entender o comportamento do ser humano.

II. A MONSTRUOSIDADE NA LITERATURA

O monstruoso é algo que incomoda, mesmo na sociedade atual. A beleza vem sendo usada como uma espécie de máscara que encobre a verdadeira face das pessoas. Desse modo, a monstruosidade torna-se a representação da feiúra externa e interna e pode ser retratada na literatura através de personagens que são verdadeiros monstros ou que praticam atos de crueldade.

Victor Hugo procurou externar essa visão de feiúra através da criação de Quasímodo, um corcunda considerado um monstro, não por praticar a maldade, mas por ser feio e deformado. Essa personagem retrata a monstruosidade física. O autor também criou a personagem do padre Claude Frollo, um religioso que se fazia praticante da bondade e, no entanto, escondia em sua mente a culpa de crimes pecaminosos. Essa outra personagem retrata a monstruosidade mental ou de caráter.

Em suma, a personagem de Quasímodo mostra que a face grotesca de um homem devido a suas deformidades físicas, eleva-o a propriedade de um ser monstruoso. E a personagem de Claude Frollo mostra que a face espectra do mal em um homem, devido a suas deformidades mentais, eleva-o também a mesma propriedade de um ser monstruoso.

A leitura de um romance, ou qualquer obra literária, pode revelar ou confirmar fatos e características de um determinado lugar em uma determinada época. Notre-Dame de Paris publicado em 1831 traz em seu conteúdo uma crítica à sociedade da época. Nele Victor Hugo

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mostra que a beleza e a riqueza eram fatores que definiam os valores morais formadores do caráter humano, ou seja, o que definiria o caráter de uma pessoa seria o prestígio que esta tinha na sociedade, e não apenas as boas ações.

O ato de pré-julgamento é natural da fraqueza humana. Por ser sujeito ao erro, o homem acostumou-se a fazer julgamentos prévios sem antes conhecer o próximo. Julgamentos baseados na aparência física e social. Essa visão pode ser reforçada através de um dos fragmentos dos pensamentos de Blaise Pascal. Este filósofo francês dizia que “(...) o homem não é senão um sujeito cheio de erro, natural e indelével (...)”.1

É comum encontrar personagens feias fisicamente e boas interiormente, assim como também, personagens sem caráter, capazes de qualquer ato para se darem bem. Estas características podem ser visualizadas na vida real. Pessoas são estereotipadas de feias por não terem atributos físicos que as enquadre nos padrões de beleza impostos pela sociedade do mundo pós-moderno. Porém esses homens e mulheres são capazes de atos de bondade.

Existem também pessoas que trazem o mal em seus corações. São seres ambiciosos e egoístas; capazes de qualquer coisa para se darem bem, até mesmo de matar. Este desejo de tentar adquirir o que não tem, acontece devido a perda da razão. De acordo com Rousseau quando o homem perde a razão o seu instinto leva-o a cometer atos cruéis e sanguinários. Rousseau (1985, p.91) dizia que: “Isso acontece porque o homem civil é limitado pelo instinto e pela razão que o protege do mal que o ameaça. E assim ele é impedido pela piedade de fazer mal a alguém.”

Nos primeiros capítulos de Notre-Dame de Paris o narrador descreve acontecimentos específicos da época situando o leitor no tempo e no espaço. Essa descrição expõe o modo

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como Quasímodo (o sineiro da catedral de Notre-Dame - um homem corcunda, coxo, caolho e surdo) era tratado pela sociedade. Ele era ridicularizado, menosprezado e associado a um ciclope2.

Nos capítulos seguintes são apresentadas outras personagens, como por exemplo, a cigana Esmeralda, uma moça bonita que vivia dançando na praça e que tornou-se o objeto de desejo do Padre Frollo. O Padre pertencia a uma família burguesa; era um homem sombrio e triste; criou e educou Quasimodo adotando-o quando este ainda era criança. Porém sua verdadeira natureza abrigava uma paixão obsessiva pela cigana. Este sentimento leva-o a cometer crimes pecaminosos. O livro termina com a morte de Esmeralda, de Claude Frollo e do corcunda.

A obra estudada é um drama, e a escolha por esse tipo de gênero deve-se ao fato de Victor Hugo acreditar que o drama era a pintura total da realidade dos seres e através dele era possível retratar a vida nas suas diversidades.

Não apenas Victor Hugo, mas outros autores literários criaram personagens monstruosas como uma forma de criticar valores morais incutidos na alma humana. É o caso de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (Madame Beaumont) autora da obra “A bela e a fera”.

A personagem da Fera, um homem com cara e instintos animalescos, foi criada para mostrar o julgamento do homem diante daquilo que não conhece. Julgamentos precipitados com base no estereótipo de beleza, os quais causam preconceitos, ou mesmo a exclusão social. A criação da imagem do monstro na cabeça das pessoas pode ser uma forma de abordar aquilo que ainda não conhece e que causa medo. Assim, a imagem de monstro pode

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ser qualquer coisa que provoque nojo, repulsa, desespero... Eis então, a preocupação da Literatura em retratar tais sentimentos humanos.

Nós contemplamos com prazer as imagens mais exatas daquelas mesmas coisas que olhamos com repugnância, por exemplo, as representações de animais ferozes e cadáveres. Causa é que aprender não só muito apraz aos filósofos, mas também aos demais homens, se bem que menos participem dele. Efetivamente, tal é o motivo por que se deleitam perante imagens: olhando-as, aprendem e discorrem sobre o que seja cada uma delas, e dirão por exemplo, esse é tal. (ARISTÓTELES, 1966, p 71)

Por julgar o que verdadeiramente desconhece, as pessoas acabam sendo preconceituosas e egoístas, pois acreditam serem certas as verdades incutidas em suas mentes, mesmo que estas verdades acabem por machucar ao próximo. Aqueles que sofrem a exclusão social terminam por isolar-se com medo da rejeição. Foi o que aconteceu com Quasímodo, ao ser marginalizado pelas pessoas ele isolou-se na catedral, tornando-se amigo dos sinos, pois acreditava que estes não lhe fariam mal. E na vida real quantas pessoas se isolam por causa dessa marginalização? Mais uma vez pode ser verificado o papel da literatura ao retratar o homem em seu convívio social.

Dessa maneira, pode-se concluir que a preocupação em observar e reproduzir cenas da vida real faz da literatura, a arte de representar os fenômenos humanos, um meio de ajudar o leitor a identificar temas como a monstruosidade e relacioná-los a momentos vividos na vida cotidiana.

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Após análise de referências acerca do assunto em pauta, inerente as facetas que a monstruosidade possui e a forma como elas podem ser percebidas em personagens literárias, esta análise deixa claro que este estudo só tornou-se possível pela propriedade que a literatura tem em retratar a realidade de forma verossímil e fiel.

Constatou-se também que esta preocupação em retratar o real acontece porque o autor da obra é um ser humano e como tal, ele também está sujeito a emoções, a erros e a pecados. Assim, quando escolhe um tema para narrar ou para poetizar o autor busca neles ou em outros homens material que lhe sirva de objeto de estudo.

A temática que este artigo se propôs trabalhar reforça a visão da relação das obras literárias com o mundo externo e interno dos seus autores. Ao observar os homens o escritor literário verifica até que ponto alguém pode chegar para externar seus medos, suas alegrias, enfim suas emoções. Assim, a arte literária é para refletir, e não se podem desconsiderar o universo contextual do autor e o tipo de reprodução que ele realiza para que se trilhem horizontes de transformações pessoais e sociais.

Ao verificar a importância que a literatura vem assumindo na sociedade, este trabalho visa dar contribuições ao estudo acadêmico de sobremaneira, que o ensino literário venha ser cada vez mais prazeroso.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Poética. Trad. por Eudoro de Souza. Porto Alegre: Edições Globo, 1966. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise e didática. 6.ed. São Paulo:

Editora Ática,1997.

HUGO, Victor. Notre-Dame de Paris. Paris: Librairie Hachette, 1950.

_________O corcunda de Notre-Dame. Trad. por Jean Melville. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.

PASCAL, B. Pensamentos (Pensées). Trad. de Sérgio Milliet (Trad. e org.) et CH. M. Des

Granges (introdução e notas). Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica S.A, 1966.

ROUSSEAU, Jean- Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade

entre os homens. Trad. por Iracema Gomes Soares e Maria Cristina Roveri Nagle. Brasília: Editora Universidade Federal de Brasília, 1985.

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