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Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total responsabilidade de seu(s) autor(es).

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Academic year: 2021

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PERCEPÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA POR UM GRUPO DE IDOSOS USUÁRIOS DA REDE BÁSICA DE SAÚDE

Ádala Nayana de Sousa Mata; Camomila Lira Ferreira; Pollyanna Ferreira Santana; Eulália Maria Chaves Maia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil. Resumo

O envelhecimento populacional, consequência dos fenômenos da transição demográfica e da transição epidemiológica, faz emergir a necessidade de ações e políticas públicas que possam atender às demandas do crescimento do número de idosos, a fim de proporcionar uma velhice com bem-estar e qualidade de vida. Desta maneira, objetivou-se compreender como os idosos, usuários do Sistema Único de Saúde, percebem e avaliam sua qualidade de vida nessa etapa do desenvolvimento. A pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada com um grupo de 16 idosos usuários do Centro de Atenção à Saúde do Idoso, no município de Natal/RN. Os idosos foram convidados a responder um questionário com questões sóciodemográficas e relativas aos hábitos de saúde, além da questão indutora: O que é qualidade de vida? Os dados foram analisados através da Análise de Conteúdo de Bardin. O grupo apresentou uma idade média de 70 anos, sendo a maioria (43,7%) viúvos e vivendo em ambiente multigeracional (62,5%). Sobre os aspectos de saúde, 60% dos idosos referiram-se a presença de 3 a 5 patologias e 80% deles avaliaram a saúde negativamente. A análise de conteúdo proporcionou o agrupamento de três categorias sobre a percepção de qualidade de vida: alimentação, relacionamentos interpessoais e saúde. Os dados mostram que o grupo percebe a qualidade de vida como um fator multideterminado, sendo importante elaborar estratégias de saúde que considerem o contexto ambiental e a realidade familiar dos idosos, a fim de proporcionar qualidade aos anos vividos. Palavras-Chave: Qualidade de Vida; Idosos; Saúde; Integralidade.

O envelhecimento populacional tem aumentado nas últimas décadas como conseqüência de melhorias nos âmbitos de saúde e de avanços tecnológicos, bem como da diminuição das taxas de fecundidade e natalidade, os quais proporcionaram mudanças no perfil epidemiológico e demográfico da população. Contudo, esta não é

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mais uma realidade apenas dos países ricos, uma vez que tal processo tem ocorrido de forma radical e bastante acelerada no Brasil, de maneira que as projeções apontam que, em 2020, será o sexto país do mundo em número de idosos, com população superior a 30 milhões de pessoas (Veras, 2009).

Estas transformações acarretam em aumento da procura por serviços de saúde devido às doenças crônicas e múltiplas que podem estar presentes no processo de envelhecer. No entanto, é imprescindível enfatizar que tais doenças não são conseqüências diretas do envelhecimento. A partir destas informações, nota-se a necessidade de ações e políticas públicas, cujos recursos e intervenções devem dirigir-se ao bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos que envelhecem (Lima, 2008).

A expressão qualidade de vida, por sua vez, tem várias vertentes, que vão desde uma conceituação popular até seu emprego no contexto científico, utilizado principalmente pelas áreas relacionadas à saúde. E ainda neste contexto existem diversos significados relacionados ao termo em discussão, como condição de saúde ou funcionamento social (Pereira et al, 2006; Seidl e Zannon, 2004; Vecchia, Ruiz, Bocchi e Corrente, 2005).

A Organização Mundial de Saúde utiliza-se da amplitude deste conceito, afirmando que a “qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (Pereira et al, 2006). Este conceito demonstra a multidimensionalidade e subjetividade da qualidade de vida, em que as condições físicas, psicológicas, ambientais e os relacionamentos sociais são domínios relevantes para a percepção que o indivíduo fará de sua qualidade de vida (Seidl e Zannon, 2004)

No idoso, a percepção da qualidade de vida dependerá da forma como ele vivencia sua velhice e quais os significados que atribui aos seus eventos de vida, de forma que o conhecimento das características da população em estudo torna-se importante. Deste modo, objetivou-se compreender como os idosos, usuários do Sistema Único de Saúde, percebem e avaliam sua qualidade de vida nessa etapa do desenvolvimento.

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Este estudo, de caráter essencialmente qualitativo, foi realizado com 16 idosos usuários do Centro Especializado na Atenção à Saúde do Idoso (CEASI), em Natal/RN, Brasil. Foram incluídos idosos voluntários, com idade a partir de 60 anos, que tinham suas funções mentais preservadas e que verbalizassem o consentimento em responder aos protocolos da pesquisa.

A presente investigação atendeu a todas as exigências do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tendo sido aprovada de acordo com a Resolução nº 196/96 para pesquisa com seres humanos.

Para a coleta de dados foi utilizada a técnica da questão aberta, a partir da pergunta indutora “O que é qualidade de vida para o(a) Sr(a)? Esta técnica favorece a compreensão pelos idosos das relações que estabelecem com as várias dimensões que compõem a qualidade de vida. Foi aplicado, ainda, um questionários estruturado, com questões sóciodemográficas, como idade, sexo, estado civil e renda familiar, e questões relacionadas aos hábitos de saúde, investigando a presença de patologias, a auto-avaliação da saúde, dentre outras.

A análise da questão aberta foi realizada através da Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2008). As palavras foram organizadas através de um processo de agrupamento por classificação, reunindo as palavras a nível semântico (palavras idênticas ou sinônimas). Em seguida, foram submetidas a uma classificação por aproximação de sentido, com o objetivo de estabelecer categorias de análise, realizadas por três juízes que trabalharam de maneira independente. Os dados dos questionários foram analisados com a Estatística Descritiva, através do Programa Excel, sendo calculados a frequência de respostas e as medidas de tendência central.

A média de idade dos 16 entrevistados foi de 70 anos (DP=4,4), com ampla maioria (93,75%) do sexo feminino. Com relação ao estado civil, 43,7% são viúvos, 25% são casados ou vivem em união estável, 25% declaram ser separados e 6,3% solteiros. Residem, em sua maioria em família multigeracional (62,5%). Quanto à escolaridade, 56,2% não concluíram o ensino fundamental e 31,2% nunca estudou. A maioria dos idosos (87,5%) recebe aposentadoria ou pensão, e 93,7% possui renda entre 1 e 3 salários-mínimos.

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Em relação aos hábitos de saúde, 80% dos idosos avaliaram sua saúde de forma negativa, havendo uma referência, de cada idoso, a uma média de 3 condições crônicas de saúde. Todos os sujeitos da pesquisa realizam o controle de suas patologias com medicação, fazendo uso de uma média de 3 (DP=2) medicamentos.

A análise de conteúdo proporcionou o agrupamento de três categorias sobre a percepção de qualidade de vida: alimentação, relacionamentos interpessoais e saúde, transmitindo uma visão multideterminada da qualidade de vida, uma vez os idosos incorporam ao conceito diferentes significados.

A preocupação com a alimentação esteve fortemente presente no discurso dos idosos, que deixaram transparecer a preocupação com a satisfação das necessidades, conforme o relato a seguir: “a gente precisa de sucos fortes, tomar muito chá... comer muitas frutas e verduras para viver melhor e deixar os ossos fortes...” (I06).

Uma outra categoria que os idosos relacionaram com a qualidade de vida, foi denominada de relacionamentos interpessoais, pois os participantes consideravam o construto a partir da maneira como se relacionavam com seus familiares e amigos. Essa categoria pode ser ilustrada pela seguinte fala: “quando a gente tem o amor dos filhos e dos netos, a gente tem tudo... saúde, felicidade, qualidade de vida” (I15).

A categoria saúde foi relacionada à ausência de doenças e a avaliação que os idosos faziam dos serviços que recebiam no CEASI, pois afirmavam “ter qualidade de vida é ter saúde, fazer tudo, não ficar deitado em cima de uma cama esperando a vida passar” (I02). A idéia é complementada com o pensamento: “quando a gente é bem atendido no serviço, os médicos atendem a gente bem... porque cuidar da saúde é mais importante pra ter uma vida boa” (I11).

Os dados da análise de conteúdo refletem características biopsicossocias decorrentes do processo de envelhecimento, pois esta etapa do desenvolvimento pode oferecer riscos à manutenção da qualidade de vida, uma vez que as perdas desta etapa são significativas, exigindo atenção dos profissionais, das políticas e dos serviços de saúde (Khoury e Günther, 2006; Sousa, Galante e Figueiredo, 2003).

A mudança dos hábitos de saúde tornou os indivíduos mais expostos a um padrão alimentar inadequado, que aliado ao sedentarismo e ao consumo de álcool e tabaco pode levar ao aumento no número de condições crônicas (Ministério da Saúde,

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2004). Estas condições, por sua vez, tendem a provocar complicações e seqüelas que dificultam a independência e a autonomia das pessoas, interferindo nas suas aspirações, estilo de vida e realização de atividades (Menéndez, Guevara, Arcia, Díaz, Maríne e Alfonso, 2005). Elas produzem no indivíduo uma quebra na sua dinâmica de desenvolvimento, exigindo uma reestruturação da sua vida, para que possa viver com qualidade, mesmo com as limitações e perdas impostas pela enfermidade (Sebastiani e Santos, 2001).

Sendo assim, a qualidade de vida está relacionada à saúde, ao nível de independência, ao estilo de vida, às relações sociais, à capacidade funcional, à satisfação com a vida, dentre outros fatores (Vecchia, Ruiz, Bocchi e Corrente, 2005). Emerge, então, a necessidade de criar alternativas de intervenção e propor ações e políticas que visem o bem-estar dos idosos, através da prevenção e do tratamento das complicações que prejudicam a autonomia, a independência e a qualidade de vida dos idosos (Fleck, Chachamovich e Trentini, 2003).

Bibliografia

BARDIN, Laurence (2008) Análise de Conteúdo. Ed. Edições 70, Lisboa, Portugal. FLECK, Marcelo Pio de Almeida; CHACHAMOVICH, Eduardo; TRENTINI, Clarissa Marceli (2003) Projeto WHOQOL-OLD: método e resultados de grupos focais no Brasil. Revista de Saúde Pública, 37(6):793-7999.

KHOURY, Hilma Tereza Tôrres; GÜNTHER Isolda de Araújo (2006) Percepção de Controle, Qualidade de Vida e Velhice Bem-Sucedida. In: Falcão DVS, Dias CMSB, organizadores. Maturidade e Velhice, v.II: pesquisas e intervenções psicológicas. Ed. Casa do Psicólogo, SP.

LIMA, Ângela Maria Machado; SILVA, Henrique Salmazo; GALHARDONI, Ricardo (2008) Envelhecimento bem-sucedido: trajetórias de um constructo e novas fronteiras. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 12(27): 795-807.

MENÉNDEZ, Jesús; GUEVARA, Adialys; ARCIA, Néstor; DÍAZ, Esther María Léon, MARÍN, Clara; ALFONSO, Juan C. (2005). Enfermedades Crónicas y Limitación Funcional en Adultos Mayores: estudio comparativo en siete ciudades de

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América Latina y el Caribe. Revista Panamericana de Salud Publica / Pan American Journal Public Health, 17(5/6).

MINISTÉRIO DA SAÚDE (2004) Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis: Brasil, 15 Capitais e Distrito Federal, 2002-2003. Ed. INCA, Rio de Janeiro.

PEREIRA, Renata Junqueira; COTTA, Rosângela Minardi Mitre; FRANCESCHINI, Sylvia do Carmo Castro; RIBEIRO, Rita de Cássia Lanes; SAMPAIO, Rosana Ferreira; PRIORE, Silvia Eloiza; CECON, Paulo Roberto (2006) Contribuição dos domínios físico, social, psicológico e ambiental para a qualidade de vida global de idosos. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 28(1).

SEBASTIANI, Ricardo Werner; SANTOS, Claudia Tavares (2001) Acompanhamento Psicológico à Pessoa Portadora de Doença Crônica. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.

SEIDL, Eliane Maria Fleury; ZANNON, Célia Maria Lana da Costa (2004) Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Cadernos de Saúde Pública, 20(2).

SOUSA Liliane; GALANTE Helena; FIGUEIREDO Daniela. Qualidade de Vida e Bem-Estar dos Idosos: um estudo exploratório na população portuguesa. Revista de Saúde Pública, 37(23):364-371.

VECCHIA, Roberta Dalla; RUIZ, Tania; BOCCHI, Silvia Cristina Mangini; CORRENTE, José Eduardo (2005) Qualidade de vida na terceira idade: um conceito subjetivo. Revista Brasileira de Epidemiologia, 8(3).

VERAS, Renato (2009) Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Revista de Saúde Pública, 43(3).

Mini Currículo dos Autores e Endereço Eletrônico

Ádala Nayana de Sousa Mata - Psicóloga; Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSa) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Pesquisadora Voluntária do Grupo de Estudos: Psicologia e Saúde (GEPS) na UFRN. E-mail: adalamata@gmail.com

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Camomila Lira Ferreira - Psicóloga; Mestranda pelo PPGCSa da UFRN; Pesquisadora Voluntária do GEPS na UFRN. E-mail: camomilapsi@yahoo.com.br

Pollyanna Ferreira Santana - Graduanda do Curso de Psicologia da UFRN; Bolsista Voluntária do GEPS na UFRN. E-mail: polly-anna@hotmail.com

Eulália Maria Chaves Maia - Professora Doutora do Curso de Psicologia da UFRN; Orientadora de Mestrado e Doutorado pelo PPGCSa da UFRN e pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN; Coordenadora do GEPS na UFRN. E-mail: eulalia.maia@yahoo.com.br

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