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O ciclo de Carnot é um ciclo ideal

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Academic year: 2021

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O ciclo de Carnot é um ciclo ideal

O ciclo de Carnot constitui uma abstração teórica já que, na prática, um tal ciclo não pode ser concretizado. Os motores e as máquinas frigoríficas reais fazem uso de outros ciclos.

Algumas idealizações implícitas no ciclo de Carnot O ciclo de Carnot incorpora várias idealizações:

• Todos os processos envolvidos no ciclo de Carnot são quase estáticos: em qualquer instante, o sistema está em equilíbrio com a sua vizinhança. Isto só é possível se os processos decorrerem muito lentamente (em rigor, se demorarem um tempo infinito). Na prática, tal significa que a potência do ciclo é praticamente nula. • Todos os processos envolvidos no ciclo de Carnot são

reversíveis: é possível, no final de cada processo, regressar à situação inicial, tanto do sistema como da sua vizinhança.

• A fonte e o sumidouro usados no ciclo de Carnot como vizinhança desempenham o papel de reservatórios térmicos: fornecem ou absorvem qualquer quantidade de calor sem que isso faça variar a sua temperatura. Na prática, consegue-se um reservatório térmico

1. usando uma substância que se encontra na sua temperatura de transformação (mudança de fase); ou 2. usando um corpo muito grande (o oceano e a atmosfera são dois exemplos possíveis), ou seja, um corpo com uma capacidade térmica infinita

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Porque é que o ciclo de Carnot é especial?

O ciclo de Carnot tem duas caraterísticas que o tornam verdadeiramente especial:

1. Os processos de aquecimento e arrefecimento são feitos adiabaticamente (ou seja, com o sistema termicamente isolado); desta forma a temperatura do sistema varia sem que ocorram trocas de calor

2. A fonte e o sumidouro são usados durante processos isotérmicos; desta forma as entradas e saídas de calor não provocam variações de temperatura no sistema

Estas duas caraterísticas permitem que o ciclo de Carnot seja percorrido exatamente da mesma maneira em ambos os sentidos (no motor térmico, sentido horário; na máquina frigorífica, sentido anti-horário). Assim, o ciclo é reversível. Reformulando, o ciclo de Carnot é especial por duas razões:

• Funciona entre uma fonte e um sumidouro que atuam

como reservatórios térmicos

• É reversível

Na verdade, é o único ciclo que satisfaz simultaneamente estas duas condições.

Qualquer outro ciclo

a) se quisermos que funcione apenas entre uma fonte e um sumidouro, será irreversível;

b) se quisermos que seja reversível, precisará de um conjunto ilimitado de fontes e de sumidouros

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Teorema de Carnot

Do conjunto de todos os motores térmicos que funcionam entre uma fonte e um sumidouro, o motor térmico mais

eficiente é o motor de Carnot  ≤ 

Demonstração (por redução ao absurdo): suponhamos que existe um motor térmico (M), a funcionar entre uma fonte e um sumidouro, cuja eficiência é superior à de um motor de Carnot (C) a funcionar entre a mesma fonte e o mesmo sumidouro:  >  . Ajustemos os dois motores de forma a realizarem a mesma quantidade de trabalho, (ver figura)

Primeira lei da termodinâmica aplicada aos dois motores: || =  − || || =  − | |    − | | =  − || e portanto  −  = || − ||

Da definição de eficiência de um motor térmico, temos  >   ||| | > || ||   >  −  > 0 W Qq Qf FONTE (CORPO QUENTE) SUMIDOURO (CORPO FRIO) MOTOR M W Qq Qf FONTE (CORPO QUENTE) SUMIDOURO (CORPO FRIO) MOTOR C

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Juntando as duas expressões anteriores, conclui-se que || ≡  − 

 = || − || > 0

Como o motor de Carnot é reversível, podemos invertê-lo, transformando-o numa máquina frigorífica. Resulta

Se agora combinarmos o motor M e a máquina frigorífica C numa única máquina, resulta a máquina combinada M + C:

Mas esta máquina combinada é proibida pela segunda lei da termodinâmica (enunciado de Clausius)! Como esta contradição (absurdo) é uma consequência da suposição feita inicialmente de que existia um motor térmico mais eficiente do que um motor de Carnot, conclui-se que tal motor não pode existir, pois ele violaria a segunda lei.

W Qq Qf FONTE (CORPO QUENTE) SUMIDOURO (CORPO FRIO) MOTOR M W Qq Qf FONTE (CORPO QUENTE) SUMIDOURO (CORPO FRIO) MAQUINA FRIGORIFICA C FONTE (CORPO QUENTE) SUMIDOURO (CORPO FRIO) MAQUINA COMBINADA M + C Q Q

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Corolário do teorema de Carnot

Todos os motores térmicos de Carnot que funcionem entre uma certa fonte e um certo sumidouro têm a mesma eficiência, independentemente do sistema ou da substância

com que esses motores trabalhem

Demonstração (sugerida): considera dois motores de Carnot, C e C. Transforma C em C mediante inversão e constrói a máquina C + C. Usa essa máquina para provar que   ≤  . Transforma depois C em C mediante inversão e constrói a máquina C + C. Usa essa máquina para provar que   ≤  . Conclui depois que   =  . Exercício 1: Mostra que, do conjunto de todas as máquinas frigoríficas que funcionam entre uma fonte e um sumidouro, a máquina frigorífica de maiores coeficientes de rendimento é a máquina frigorífica de Carnot: CDR ≤ CDR Exercício 2: Mostra que todas as máquinas frigoríficas de Carnot que funcionem entre uma certa fonte e um certo sumidouro têm os mesmos coeficientes de rendimento, independentemente do sistema ou substância de trabalho

Escala termodinâmica (ou absoluta) de temperaturas Como a eficiência de um motor de Carnot a funcionar entre uma fonte e um sumidouro não depende do sistema ou substância com que se trabalhe, a eficiência do motor só pode depender das temperaturas da fonte e do sumidouro. Podemos usar este facto para definir uma escala absoluta de temperaturas: a escala termodinâmica de temperaturas.

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Designemos as temperaturas desta escala por ℸ. Sejam ℸ e ℸ as temperaturas absolutas da fonte e do sumidouro, respetivamente. Tendo em conta que a eficiência do motor só pode depender de ℸ e de ℸ, e lembrando a expressão da eficiência  = 1 − |"#|

|"$| , conclui-se que |"#|

|"$| só pode

depender de ℸ e de ℸ. Assim, resulta natural escrever ||

|| = ℸℸ

Escolhamos agora um ponto fixo (PF) conveniente; seja ℸ%& a temperatura que desejamos atribuir a esse ponto fixo. Usemos como corpo frio um corpo à temperatura ℸ%&, e implementemos um motor de Carnot entre esse corpo frio e outro corpo quente qualquer. A temperatura absoluta ℸ desse corpo quente pode então ser calculada:

||

|| = ℸ%&ℸ  ℸ = ℸ%& ||| 'ℸ > ℸ| %&( Agora usemos como corpo quente um corpo à temperatura ℸ%&, e implementemos um motor de Carnot entre esse corpo quente e outro corpo frio qualquer. A temperatura absoluta ℸ desse corpo frio pode então ser calculada:

|| || = ℸ ℸ%&  ℸ = ℸ%& || || 'ℸ < ℸ%&(

Desta forma podemos obter a temperatura absoluta (ou temperatura termodinâmica) de qualquer corpo. É fácil provar que esta definição é auto-consistente.

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A escala absoluta e a escala Kelvin coincidem

A definição da escala termodinâmica baseou-se na relação ||

|| = ℸℸ

Sendo absoluta, esta escala não depende da substância usada no motor de Carnot. Lembremos agora a análise que fizemos do motor de Carnot quando a substância de trabalho usada era um gás perfeito; tínhamos obtido que

||

|| = **

onde * era a temperatura da escala Kelvin, definida usando termómetros de gás a volume constante. Comparando estas duas expressões vemos que

 ℸ =

* *

o que significa que a escala absoluta e a escala Kelvin são proporcionais. No entanto, como já sabíamos que, no ponto triplo da água (pt), todos os termómetros de gás a volume constante dão o mesmo valor (273,16 K), chega-se à conclusão final de que a constante de proporcionalidade é 1, de modo que a escala absoluta (definida através de um motor de Carnot) e a escala Kelvin (definida através de um termómetro de gás a volume constante) são, afinal, a mesma escala. A designação absoluta resulta de esta escala termodinâmica não depender de nenhuma substância. Não se trata agora de qualquer gás, mas de qualquer substância.

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De regresso ao ciclo de Carnot

Sabemos agora que, tanto no motor de Carnot como na máquina frigorífica de Carnot, verifica-se a relação

||

|| = **

sendo * a temperatura absoluta ou temperatura Kelvin. No motor de Carnot, temos  > 0 e  < 0; na máquina frigorífica de Carnot, temos  < 0 e  > 0. Em ambos os casos o quociente "#

"$ < 0, pelo que podemos escrever

  = * *  −  * =  *   * +  * = 0

Surge então a pergunta: será esta expressão válida para qualquer ciclo? A resposta é dada pelo seguinte resultado.

Desigualdade de Clausius

Considera um sistema que, no decurso de um ciclo, troca calor com um número finito + de reservatórios (fontes e sumidouros). Seja , o calor trocado com o reservatório -, e seja *,. a temperatura desse reservatório. Então

/*,

,. ≤ 0 0

,1

'num ciclo( Se o número de reservatórios for infinito,

9

:"

;<

≤ 0

.

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Observação 1: embora as temperaturas sejam as dos reservatórios, os sinais dos calores , são tomados do ponto de vista do sistema. Assim, , > 0 quando o sistema recebe calor, e , < 0 quando o sistema rejeita calor.

Observação 2: Quando o ciclo é reversível, não é preciso fazer a distinção entre a temperatura dos reservatórios e a temperatura do sistema. Temos então

/*,

, = 0

0 ,1

ou =>* = 0 'ciclo reversível(

Alguns casos especiais:

• + = 1. Neste caso resulta simplesmente  ≤ 0. Como num ciclo ∆E = 0, temos ≥ 0. Ignorando o caso trivial da igualdade, o que temos é uma conversão total de trabalho em calor. Tal conversão seria um processo irreversível, o que significa que a conversão total de calor em trabalho não é possível, de acordo com a segunda lei da termodinâmica.

• + = 2. Neste caso temos ";

 +

"

; ≤ 0. A igualdade

associada ao ciclo reversível reproduz o resultado obtido para o ciclo de Carnot (único ciclo reversível com dois reservatórios). Para qualquer outro ciclo será



* + * < 0 .

Exercício: Aplica esta última desigualdade a um motor térmico irreversível e mostra que ela é equivalente a  <  : a eficiência do motor de Carnot é maior.

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Entropia

Sejam I e J dois estados termodinâmicos de um sistema. Imagina um processo reversível (1) que leve o sistema do estado I ao estado J, e outro processo reversível (2) que leve o sistema do estado J ao estado I. Juntando os dois processos obtém-se o ciclo reversível I



K J K I (figura). 

Apliquemos a igualdade de Clausius a este ciclo. Temos =>* = 0  L >* 'por 1( + LN>* 'por 2( = 0 O O N  L >* 'por 1( = − LN>* 'por 2( O O N  L >* 'por 1( = LO >* 'por 2( N O N Assim, o integral P :" ; O

N não depende do percurso usado

para ir de I até J. Como os pontos I e J são arbitrários, isto significa que a função integrando é uma diferencial exata. Define-se a função entropia Q da seguinte forma:

dQ ≡ >*  ∆Q,S ≡ QS − Q, = L >* S , A B 1 2

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Nota 1: esta definição mostra que o cálculo de qualquer variação de entropia deve envolver um processo reversível. Nota 2: como a temperatura absoluta * > 0, quando num processo reversível o sistema só recebe calor (> > 0), a sua entropia aumenta; se, pelo contrário, o sistema só liberta calor (> < 0), a sua entropia diminui.

Nota 3: O fator 1/* é um fator integrante.

Alguns cálculos simples de variações de entropia

• Processos adiabáticos reversíveis: nestes processos, por definição, > = 0; logo, ∆Q = 0  Q = constante. Por isso, os processos adiabáticos reversíveis recebem também o nome de processos isentrópicos.

• Processos isotérmicos reversíveis: nestes processos, por definição, * = constante; então

∆Q = L>* = * L > =1 * '* constante( Um caso especial importante são os processos de transformação (mudança de fase), já que nestes processos a temperatura não varia.

• Reservatórios térmicos: como, por definição, um reservatório é um corpo que absorve ou rejeita calor sem que a sua temperatura varie, a expressão obtida para os processos isotérmicos pode também ser usada num reservatório 'R(: ∆Q. = "<

;< = − "

;< , já que o calor

absorvido (rejeitado) pelo reservatório é simétrico do calor rejeitado (absorvido) pelo sistema.

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• Processos isobáricos reversíveis: nestes processos, em que W = constante, temos >X = YX d*, sendo YX a capacidade térmica a pressão constante. Então

∆Q = LY* d* X 'W constante(

No caso especial em que YX seja constante, resulta ∆Q,S = YX L Z** = YX ln [**S

,\ ;]

;^ 'W constante(

Naturalmente, YX pode ser escrito como _`X ou a`X, em termos das capacidades térmicas mássicas ou molares a pressão constante.

• Processos isocóricos reversíveis: nestes processos, em que b = constante, temos >c = Yc d*, sendo Yc a capacidade térmica a volume constante. Então

∆Q = LY* d* c 'b constante(

No caso especial em que Yc seja constante, resulta ∆Q,S = Yc L Z** = Yc ln [**S

,\ ;]

;^ 'b constante(

Naturalmente, Yc pode ser escrito como _`c ou a`c, em termos das capacidades térmicas mássicas ou molares a volume constante.

Esta expressão pode ser aplicada em processos que envolvam sistemas incompressíveis, nomeadamente líquidos e sólidos em condições moderadas de pressão e temperatura.

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Diagramas de (entropia – temperatura)

Os diagramas de Clapeyron bW (volume – pressão) são muito úteis porque permitem visualizar como uma área o trabalho associado a um processo quase estático qualquer. Esta interpretação resulta da expressão

> = −W db ou = − L W db Tínhamos visto que

• quando o volume aumenta (processos da esquerda para a direita), o sistema realiza trabalho ( < 0)

• quando o volume diminui (processos da direita para a esquerda), realiza-se trabalho sobre o sistema ( > 0) • o trabalho total associado a um ciclo é a área encerrada pelo ciclo, com sinal + se o ciclo for percorrido no sentido anti-horário e sinal – se o ciclo for percorrido no sentido horário.

Lembrando agora a definição de entropia, temos

dQ = >* f > = * dQ ou  = L * dQ Comparando as expressões de e de , vemos que é possível também visualizar como uma área o calor  associado a um processo quase estático qualquer. Basta representar esse processo num outro diagrama: o diagrama Q* (entropia – temperatura). Tal diagrama é possível pois, à semelhança do volume e da pressão, a entropia e a temperatura podem ser usadas como variáveis de estado. Num diagrama Q*, o eixo horizontal corresponde à entropia e o eixo vertical corresponde à temperatura.

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Neste diagrama, qualquer segmento de reta horizontal representa um processo isotérmico (* constante) enquanto que qualquer segmento de reta vertical representa um processo isentrópico (Q constante), que, como já vimos, é simplesmente um processo adiabático reversível.

É fácil deduzir, a partir deste diagrama, que

• Quando a entropia aumenta (processos da esquerda para a direita) o sistema recebe calor ( > 0)

• Quando a entropia diminui (processos da direita para a esquerda), o sistema liberta calor ( < 0)

• O calor total associado a um ciclo é a área encerrada pelo ciclo, com sinal + se o ciclo for percorrido no sentido horário e sinal – se o ciclo for percorrido no sentido anti-horário.

Em particular, um ciclo de Carnot fica representado, num diagrama Q*, por um retângulo.

S T S T Tf Tq S1 S2

Referências

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