• Nenhum resultado encontrado

Salários e desenvolvimento

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Salários e desenvolvimento"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Salários e desenvolvimento

Luiz Carlos Bresser-Pereira, Nelson Marconi e José Luís Oreiro

Capítulo  2  de  Structuralist  Development   Macroeconimics,  Londres:  Routledge,  a  ser   publicado.  

O desenvolvimento econômico só faz sentido se implica elevação dos salários reais e melhoria dos padrões de vida. No curto prazo os salários flutuam de acordo com a oferta e demanda de mão-de-obra e de acordo com a capacidade de barganha dos trabalhadores. Esta, por sua vez, depende da taxa de desemprego e de fatores institucionais que influem sobre as relações de trabalho. No longo prazo, os salários são determinados em um primeiro momento pelo custo de reprodução da força de trabalho enquanto existe oferta ilimitada de mão-de-obra , o qual, por seu turno, era determinado pelas condições sócio-históricas prevalecentes no país, sendo, em larga medida, uma convenção, e não por fatores meramente biológicos.. Foi isto que permitiu que os economistas clássicos, em sua teoria da distribuição, considerassem os salários, dados, e os lucros, o resíduo – o que sobrava depois do pagamento do salário de subsistência. E também lhes permitiu formular a hipótese da tendência à queda da taxa de lucro e à estagnação econômica no longo prazo, não obstante a produtividade do trabalho continuasse a aumentar no seu tempo. Para Ricardo, a estagnação seria causada pela redução da produtividade da terra devido à ocupação de terrenos cada vez menos férteis, e para Marx, devido à redução da produtividade do capital, isto é, da relação produto-capital, causada por um processo de trabalho mais intensivo em capital acompanhado

(2)

Mas   não   foi   isto   que   se   verificou   historicamente.   Não   houve   redução   da   produtividade  nem  da  terra  nem  do  capital.  Segundo,  a  partir  do  momento  em   que   a   condição   de   oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra   desaparece   em   cada   país,   verificou-­‐se  que  os  salários  passaram  a  crescer  com  o  aumento  da  produtividade   do  trabalho.  Terceiro,  a  taxa  de  lucro  não  caiu;  continuou  a  flutuar  no  ciclo,  mas   revelou-­‐se  constante  no  longo  prazo.  Estes  fatos  levaram  Bresser-­‐Pereira  (1986)   a   propor   uma   nova   teoria   de   distribuição   que   envolveu   a   inversão   da   teoria   clássica.   Ao   invés   de   serem   os   salários,   é   a   taxa   de   lucro   que   se   mantém   constante,   enquanto   os   salários   crescem   com   o   aumento   da   produtividade.   Tal   taxa   flutua   fortemente   durante   os   ciclos   econômicos,   mas   no   longo   prazo   se   mantém   em   um   nível   satisfatório   para   os   empresários   investirem,   porque   o   progresso   técnico   deixou   de   ser   dispendioso   de   capital   –   deixou   de   implicar   principalmente   a   substituição   de   trabalho   por   capital,   para   se   tornar   neutro   (relação   produto-­‐capital   constante)   ou   mesmo   economizador   de   capital,   na   medida  em  que  o  progresso  técnico  dominante  deixa  ser  aquele  que  decorre  da   “mecanização”   (da   substituição   de   trabalho   por   capital)   para   ser   o   progresso   técnico   poupador   de   capital,   que   provém   da   substituição   de   máquinas   antigas,   menos  eficientes,  por  maquinas  mais  eficientes.  

Os   salários   crescem   na   proporção   do   aumento   da   produtividade   do   trabalho   quando  o  progresso  técnico  é  neutro.  Se  o  progresso  técnico  for  dispendioso  de   capital,   mantida   a   taxa   de   lucro,   os   salários   aumentarão   menos   que   a   produtividade.  Como,  no  tempo  da  teoria  econômica  clássica,  os  salários  estavam   no  nível  de  subsistência,  não  havia  como  baixá-­‐los  em  termos  reais.  Por  isso  os   economistas   clássicos   previram   a   estagnação.   Já   quando   o   progresso   técnico   torna-­‐se  poupador  de  capital,  os  salários  podem  crescer  a  uma  taxa  superior  à  do   crescimento  da  produtividade  sem  que  a  margem  de  lucro  razoável,  satisfatória   para  as  empresas  investirem,  seja  afetada.  Era  o  que  parecia  estar  acontecendo   nos  países  ricos,  depois  da  Segunda  Guerra  Mundial,  quando  pela  primeira  vez   na  história  do  capitalismo  os  índices  de  desigualdade  caem  de  forma  consistente   por   duas   ou   três   décadas.   Entretanto,   a   partir   de   meados   dos   anos   1970   os   salários  reais  nesses  países  passaram  a  crescer  menos  que  a  produtividade  e  a   renda   volta   a   concentrar-­‐se,   não   obstante   o   progresso   técnico   não   se  

(3)

caracterizasse   mais   pela   “mecanização”   (substituição   de   trabalho   por   capital)   que   é   dispendiosa   de   capital,   mas   de   máquinas   menos   eficientes   por   mais   eficientes,  que  caracteriza  o  progresso  técnico  poupador  de  capital.ii  A  principal   explicação   para   esse   fato   é   exógena   aos   sistemas   econômicos   desses   países.   O   aumento   dos   salários   abaixo   da   produtividade   deve-­‐se   à   pressão   sobre   eles   causada,   primeiro,   pela   nova   competição   proveniente   dos   países   em   desenvolvimento,   que,   nessa   década,   passam   a   exportar   bens   manufaturados;   segundo,  pela  imigração  para  os  países  ricos.    

Neste   capítulo   nosso   tema   é   o   da   relação   entre   salários,   desenvolvimento   e   industrialização  nos  países  em  desenvolvimento.  Começaremos  analisando  a  fase   inicial  de  construção  de  uma  base  de  capital  para  o  país,  geralmente  através  da   exportação   de   commodities   que   se   aproveitam   de   rendas   ricardianas   e,   em   seguida   a   industrialização   substitutiva   de   importações,   que   já   se   beneficia   da   existência   de   uma   oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra.   Mas   essa   estratégia   é   necessariamente  limitada,  e,  uma  vez  esgotada,  mantida  a  depressão  dos  salários   devido  ao  excesso  de  oferta  de  mão-­‐de-­‐obra,  surge  o  problema  da  demanda.  Que   os   países   mais   bem   sucedidos   resolveram   através   da   exportação   de   manufaturados  e  da  concentração  da  renda  da  classe  média  para  cima,  mantido  o   crescimento   dos   salários   abaixo   do   crescimento   da   produtividade.     Finalmente   demonstramos   como,   no   processo   de   industrialização,   se   determinam   os   salários.   Estes   crescem   na   medida   em   que,   de   um   lado,   a   mão-­‐de-­‐obra   se   qualifica  tecnicamente,  e,  de  outro,  que  se  transfere  mão-­‐de-­‐obra  de  setores  com   baixo  para  setores  de  alto  valor  adicionado  per  capita.  Afirmamos,  então,  que  a   teria   clássica   do   valor   nos   ajuda   a   compreender   o   aumento   dos   salários   e   o   desenvolvimento   econômico   na   medida   em   que   os   setores   econômicos   com   maior  valor  adicionado  per  capita  são  setores  tecnologicamente  sofisticados,  que   exigem   mão-­‐de-­‐obra   educada   no   plano   técnico   e   administrativo,   mão-­‐de-­‐obra   essa   cujo   custo   de   reprodução   socialmente   convencionado   torna-­‐se   cada   vez   maior.  

(4)

Fase  inicial  do  desenvolvimento    

Nos  séculos  XVIII  e  XIX,  os  economistas  clássicos  tinham  como  principal  objeto   de   análise   os   países   que   primeiro   realizaram   sua   revolução   industrial   e   capitalista   (principalmente   Inglaterra   e   França).   Viam   uma   taxa   de   salários   constante   no   nível   de   subsistência,   e   tinham   uma   explicação   geral   para   isso:   a   oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra.   De   fato,   nesses   países,   a   indústria   manufatureira  que  então  surgia  contava  com  um  grande  reservatório  de  força  de   trabalho  na  agricultura  de  subsistência  que  caracterizava  esses  países.  Mas,  por   volta   dos   anos   1870,   esse   reservatório   de   mão-­‐de-­‐obra   se   esgotou;   para   controlar   o   nível   de   salários   sobrou   o   desemprego   cíclico   moderno.   Que   continuou  a  pressionar  os  salários  para  baixo,  mas  que  não  logrou  impedir  que   os   salários   aumentassem   na   proporção   da   produtividade,   porque   isto   não   impedia  que  a  taxa  de  lucro  se  mantivesse  satisfatória,  e  porque  os  trabalhadores   se   organizaram   em   termos   sindicais   e   político-­‐partidários   para   defender   seus   interesses.    

Os  países  em  desenvolvimento  tendem  a  passar  pelos  mesmos  estágios  por  que   passaram   os   países   ricos,   mas   o   estágio   de   evolução   dos   salário   em   nível   semelhante  ou  superior  ao  da  produtividade  pode  terminar  não  ocorrendo  eles   têm   que   enfrentar   o   imperialismo   industrial   dos   países   que   se   desenvolveram   originalmente,   o   qual,   em   relação   aos   países   menos   dependentes,   pode   se   expressar  pelo  exercício  da  força  e,  em  relação  aos  países  mais  dependentes,  se   limita   às   pressões   e   recomendações   de   políticas   econômicas   liberais   que   eles   próprios  não  utilizaram  na  mesma  fase  de  crescimento.    

Na   verdade,   o   processo   histórico   do   desenvolvimento   econômico   ocorre   de   forma  desigual  e  apenas  parcialmente  repetitiva,  porque  os  países  iniciam  suas   revoluções   capitalistas   ou   seu   desenvolvimento   industrial   em   momentos   históricos   diferentes.   Mas   isto   não   impediu   que   também   em   relação   aos   países   em  desenvolvimento  –  e  talvez  com  maior  intensidade  –  tenha  se  manifestado  o   problema   da   oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra.   Os   países   pobres   e   os   pré-­‐ industriais   possuem   uma   estrutura   produtiva   em   que   setores   atrasados   convivem   com   outros   mais   modernos.   São   sociedades   duais,   nas   quais   existem  

(5)

setores  atrasados,  geralmente  concentrados  na  agricultura  de  subsistência  e  nos   serviços,  e  setores  mais  avançados  que  se  concentram  no  setor  industrial.  E,  em   consequência,   Arthur   Lewis   (1954)   identificou   neles   a   existência   de   oferta   ilimitada  de  mão  de  obra  –  uma  oferta  de  trabalhadores  do  setor  atrasado  que   pode  ser  alocada  no    moderno  que  será  tanto  maior  quanto  mais  pobre  for  o  país.   Nestas  economias,  a  produtividade  dos  setores  atrasados  é  muito  inferior  à  dos   setores  modernos;  um  percentual  significativo  dos  empregados  está  alocada  nos   primeiros,   ou   seja,   nos   setores   agrícola   de   subsistência   e   de   serviços   que   não   utilizam   tecnologias   avançadas.   Além   de   a   produtividade   ser   reduzida   e   a   disponibilidade   de   mão-­‐de-­‐obra   ser   significativa,   os   bens   ali   produzidos   requerem  pouca  qualificação  por  parte  dos  trabalhadores;  portanto,  os  salários   ali  também  são  baixos.    

O   desenvolvimento   econômico   geralmente   acontece   nesses   países   quando   empresários   locais   ou   estrangeiros   no   setor   agrícola   ou   no   de   mineração   aproveitam  a  disponibilidade  de  recursos  naturais  abundantes  e  baratos  –  e  as   rendas   ricardianas   que   eles   proporcionam   –   para   produzir   uma   commodity   de   acordo   com   os   padrões   internacionais   e   exportá-­‐la.   Entretanto,   os   salários   médios   que   esse   setor   paga   são   muito   baixos   e   não   aumentam   na   mesma   proporção   da   produtividade,   porque   os   empresários   se   aproveitam   da   oferta   ilimitada  de  mão-­‐de-­‐obra  do  setor  atrasado.  

Através  da  produção  de  commodities  que  se  beneficiam  de  rendas  ricardianas  o   país  realiza  sua  acumulação  de  capital  primitiva  –  aquela  que  é  necessária  para   que,   em   seguida,   possa   haver   o   desenvolvimento   econômico   com   base   no   investimento   realizado   por   capitalistas   industriais.   O   Estado,   através   de   impostos  sobre  a  exportação  dessas  commodities  e  de  investimentos  que  realiza   na   infraestrutura   do   país,   participa   também   da   formação   dessa   acumulação   original.    

A   partir   de   determinado   momento,   o   país   passa   a   ter   condições   para   se   industrializar,   porque,   graças   à   exportação   de   commodities,   já   construiu   uma   razoável   infraestrutura   de   energia,   transportes   e   comunicações,   e   porque   já   começou   a   estruturar   seu   mercado   interno.   A   revolução   industrial   então   se  

(6)

desencadeia,  comandada  por  uma  combinação  de  investimentos  do  Estado  e  dos   empresários   industriais.     Em   uma   primeira   fase,   o   problema   da   demanda   é   resolvido  pela  estratégia  de  substituição  de  importações,  ao  mesmo  tempo  que   se   concentra   a   renda,   pois   a   indústria   que   se   instala   tem,   muitas   vezes,   um   processo  produtivo  adaptado  aos  padrões  internacionais  (pois  os  bens  de  capital   são  importados  neste  estágio  do  processo  de  desenvolvimento),  e  portanto  mais   intensiva   em   capital,   como   sugere   Furtado   (1966),   o   que   não   elimina   a   oferta   ilimitada  de  mão-­‐de-­‐obra.  Mas  essa  fase  de  substituição  de  importações  deve  ser   curta,   porque   implica   redução   da   eficiência   produtiva   na   medida   em   que   um   número  cada  vez  maior  de  setores  –  especialmente  os  maior  economias  de  escala   –  são  protegidos.  Essa  estratégia  implica  a  definição  de  barreiras  alfandegárias   elevadas  para  os  bens  manufaturados,  e  a  contínua  diminuição  do  coeficiente  de   importações.  Assim,  a    nova  indústria  manufatureira  que  surge  se  beneficiará,  do   lado   da   oferta,   da   mesma   oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra   que   se   beneficiara   o   setor  exportador  de  commodities.    

Surge  o  problema  da  demanda  

Mas   a   industrialização   substitutiva   de   importações   é,   por   definição,   limitada,   dadas  as  economias  de  escala  que  deixam  de  ser  aproveitadas.  Limitadíssima  em   países   pequenos,   e   ainda   muito   limitada   nos   países   maiores.   Na   Coreia   do   Sul,   que   desencadeou   sua   industrialização   nos   anos   1950,   durou   pouco   mais   de   10   anos;   no   Brasil,   país   maior   que   iniciou   sua   industrialização   nos   anos   1930,   no   início  dos  anos  1960  já  havia  esgotado  suas  possibilidades.    

Esgotada   a   industrialização   substitutiva   de   importações,   surge   o   problema   da   insuficiência   de   demanda.   Os   empresários   podem   ter   lucros   elevados   porque   pagam   salários   baixos,   mas   não   têm   para   quem   vender.   Para   que   haja   crescimento,  é  necessário  que  haja  demanda  interna,  mas  essa  tende  a  se  manter   rebaixada  na  medida  em  que  permanece  existindo  uma  oferta  ilimitada  de  mão-­‐ de-­‐obra  e,  também  e  por  consequência,  os  salários  crescem  a  uma  taxa  inferior  à   da  produtividade.  Na  fase  inicial  da  industrialização  esse  problema  não  é  sentido   com  tanta  força,  porque,  dadas  as  expectativas  de  lucro  elevadas,  os  empresários  

(7)

industriais   tendem   a   investir   fortemente,   e   os   investimentos   acabam   por   criar   demanda  interna  –  uma  demanda  que  provém  não  tanto  da  classe  trabalhadora,   mas  da  classe  média  profissional  que  surge  com  a  industrialização.    

Assim,  há  outra  parcela  da  força  de  trabalho  a  considerar:  a  dos  profissionais  que   estão   surgindo   em   torno   da   industrialização   e   do   surgimento   de   grandes   organizações   empresariais.   A   oferta   de   trabalho   técnico   e   administrativo   que   a   classe  profissional  detém  não  é  ilimitada;  pelo  contrário,  é  fortemente  limitada,   de  forma  que  seus  ordenados  (salaries)  crescem  compensando  do  ponto  de  vista   da  demanda  o  crescimento  insuficiente  dos  salários  (wages).  A  fonte  de  demanda   interna   passa   para   as   classes   médias   atendidas   pela   produção   de   consumo   de   luxo,  principalmente  automóveis  e  outros  bens  duráveis.  Mas  essa  estratégia  tem   também   vida   curta,   pois   requer   concentração   ainda   maior   da   renda,   o   que   é   garantida  pela  contínua  adoção  de  um  processo  produtivo  baseado  em  padrões   internacionais   intensivos   em   capital.   Por   outro   lado,   a   capacidade   da   classe   média,   e   mesmo   da   mais   alta   de   absorver   toda   a   produção   que   resultaria   da   utilização  de  toda  a  capacidade  produtiva,  ou  da  parcela  que  seria  suficiente  para     gerar   uma   receita   satisfatória   aos   empresários,   é   limitada.   O   problema   da   insuficiência  de  demanda  permanece,  agora  agravado  pelo  excesso  de  oferta  (ou   melhor,  pela  capacidade  produtiva  ociosa).  

A  partir  desse  ponto,  o  problema  de  demanda  criado  pela  tendência  dos  salários   crescerem  menos  do  que  a  produtividade  se  manifesta  com  toda  a  clareza.  E  se   constitui   em   um   obstáculo   maior   à   continuidade   do   crescimento.   As   taxas   de   crescimento   caem,   a   diversificação   produtiva   perde   força.   Neste   cenário   as   margens  de  lucro  são  elevadas,  mas  o  reduzido  patamar  da  demanda  agregada  é   insuficiente  para  estimular  os  empresários  a  investirem  em  uma  magnitude  que   viabilize   a   absorção   rápida   do   excedente   de   mão-­‐de-­‐obra.   Para   continuar   a   crescer  e  a  se  industrializar,  o  país  não  pode  mais  contar  apenas  com  a  demanda   interna   protegida.     Não   tem   outra   alternativa   senão   exportar   os   bens   manufaturados   cuja   tecnologia   domine.   Foi   novamente   o   que   ocorreu   nos   dois   países   acima   citados,   o   Brasil   e   a   Coreia   do   Sul,   a   partir   dos   anos   1960.   Além   disso,  o  país  pode  adotar  uma  política  de  aumento  de  salários  reais  para  garantir   a   demanda   interna,   principalmente   de   salário   mínimo,   mas   essa   política   é  

(8)

limitada   pela   taxa   de   lucro   dos   empresários.   E   pode   aumentar   seus   investimentos  e  seus  gastos  sociais,  que  implicam  aumento  indireto  dos  salários.   É   uma   forma   eficiente   de   melhorar   a   qualidade   de   vida   das   pessoas   e   criar   demanda  –  mais  eficiente  que  o  aumento  dos  salários.    

Quando   o   país   logra   êxito   nessa   segunda   fase   de   sua   industrialização,   agora   também   exportando   bens   manufaturados,   o   país   completa   sua   revolução   industrial  e  capitalista  e  se  torna  um  país  de  renda  média.  Durante  algum  tempo   sua   competitividade   internacional   continua   a   ser   beneficiada   pela   oferta   ilimitada  de  mão-­‐de-­‐obra  que  continua  a  rebaixar  os  salários.    A  China  e  a  Índia   são,  por  exemplo,  países  nessas  condições.  Mas,  em  decorrência  do  processo  de   industrialização,  ocorre  a  urbanização  e  a  queda  da  taxa  de  natalidade,  junto  com   a  melhoria  dos  indicadores  de  expectativa  de  vida  decorrentes  do  progresso  e  do   aumento   do   gasto   social.   Quando,   quinze   a   vinte   anos   depois,   essa   queda   repercute   na   oferta   de   mão-­‐de-­‐obra,   reduzindo-­‐a,   o   país   estará   chegando   ao   “ponto  de  Lewis”  –  ao  ponto  em  que  se  esgota  a  oferta  ilimitada  de  mão-­‐de-­‐obra,   e  o  crescimento  insuficiente  da  demanda  interna  devido  à  tendência  dos  salários   crescerem   menos     que   a   produtividade   deixa   de   ser   um   obstáculo   ao   desenvolvimento.  Foi  o  que  aconteceu  no  Brasil  nos  anos  2000.  A  partir  de  então   os  salários  passam  a  crescer  com  a  produtividade,  e  o  mercado  interno  volta  a  ter   um  papel  decisivo  no  desenvolvimento  econômico.  Entretanto  isto  não  significa   que  possa  voltar  ao  modelo  de  substituição  de  importações.  A  continuidade  do   processo   de   crescimento   dependerá   de   o   país   continuar   a   exportar   manufaturados,  porque  continuará  inviável  do  ponto  de  vista  econômico  reduzir   o  coeficiente  de  importações.  O  investimento  também  terá  de  ser  elevado  para   garantir  um  aumento  da  produtividade  em  sintonia  com  o  dos  salários  causado   pelo   esgotamento   da   oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra,   e   assim   manter   consistente   o   fortalecimento   do   mercado   interno   e   garantir   a   taxa   de   lucro   necessária  aos  empresários.  

Determinação  dos  salários  e  industrialização    

(9)

identifica  com  a  industrialização,  ou  a  mudança  na  estrutura  produtiva,  e  que  os   salários   serão   tanto   maiores   quanto   mais   o   país   se   industrializar.   Isto   se   deve,   essencialmente,  ao  fato  de  que,  de  um  lado,  a  indústria,  além  de  criar  demanda   para  mão-­‐de-­‐obra,  geralmente  apresenta  maior  valor  adicionado  per  capita    que   os   demais   setores   da   economia   –   o   setor   de   produção   de   bens   primários   ou   commodities   e   o   de   serviços   não   sofisticados   tecnologicamente.   É   claro   que   se   decidirmos   pensar   em   termos   puramente   abstratos   ao   invés   de   em   termos   históricos,  não  poderíamos  fazer  afirmação.  Mas  ainda  teríamos  que  dizer  que  o   desenvolvimento   econômico   do   lado   da   oferta   ou   o   aumento   da   produtividade   depende   da   transferência   de   mão-­‐de-­‐obra   para   setores   com   maior   valor   adicionado  per  capita.  Alguns  setores  de  serviços,  como  o  de  serviços  financeiros   e   os   de   entretenimento,   tem   um   valor   adicionado   per   capita   muito   elevado.   Quando,   portanto,   falarmos   em   industrialização,   estamos   incluindo   no   conceito   também   setores   desse   tipo,   mas   sua   consolidação   também   depende   das   inovações  industriais.  

O   argumento   clássico   a   favor   da   industrialização   foi   o   de   Prebisch,   relativo   à   tendência   à   deterioração   do   termos   de   troca   dos   países   exportadores   de   commodities.  Dado  que  a  produtividade  tende  a  aumentar  mais  rapidamente  na   indústria   que   no   setor   primário,   deveria   haver,   de   acordo   com   a   teoria   convencional,   uma   melhoria   das   relações   de   troca   em   favor   dos   países   produtores  e  exportadores  de  bens  primários.  Mas,  ao  contrário  do  que  afirma   essa   teoria,   quando,   nos   países   ricos,   aumenta   a   produtividade   na   indústria,   o   preço   dos   bens   produzidos   não   cai   proporcionalmente,   mas   é   em   parte   transformado   em   aumento   de   salários.   Dessa   forma,   os   termos   de   troca   não   melhoram,  mas  apresentam  uma  tendência  secular  à  queda  ou,  pelo  menos,  não   apresentam  tendência  de  alta.  

Uma  outra  forma  de  ver  o  problema  é  considerar  que  o  aumento  dos  salários  e  o   desenvolvimento  econômico  estão  associados  ao  aumento  da  produtividade  que   é  logrado  não  tanto  através  do  progresso  técnico  no  mesmo  setor  e  a  melhoria  da   qualidade  dos  trabalhadores  nesse  setor,  mas  através  da  transferência  de  mão-­‐ de-­‐obra   de   setores   com   menos   para   setores   com   mais   valor   adicionado   per   capita.  Este  é  o  argumento  básico  a  favor  da  industrialização  entendida  esta  em  

(10)

sentido  amplo.    

Mas,   por   que   alguns   setores   econômicos   apresentam   um   valor   adicionado   per   capita   maior     que   outros?   Por   que   a   indústria   manufatureira   geralmente   apresenta  uma  produtividade  maior  do  que  a  produção  primária  e  terciária?  O   argumento  definitivo  a  respeito  é  simples,  e  nos  leva  de  volta  à  teoria  do  valor-­‐ trabalho  e  à  teoria  clássica  dos  salários.    Já  vimos  que  quando  se  esgota  a  oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra,   os   salários   tendem   a   crescer   de   acordo   com   a   produtividade,  dado  um  progresso  técnico  neutro  e  uma  taxa  de  lucro  constante   em  um  nível  satisfatório  para  os  empresários  investirem.  Se  entendermos  esse   conceito   de   forma   restrita,   esse   crescimento   conflita   com   a   teoria   clássica   dos   salários,  segundo  a  qual  estes  correspondem  ao  custo  de  reprodução  da  mão-­‐de-­‐ obra.   Entretanto,   se   dermos   a   essa   expressão   um   sentido   mais   amplo,   entendendo-­‐se  por  custo  de  reprodução  o  custo  socialmente  convencionado  de   se   formar   e   manter   um   trabalhador,   não   há   conflito   entre   as   duas   teorias.   Podemos   entender   que   neste   montante   estão   incluídas   as   despesas   que   garantam   sua   subsistência,   boa   saúde,   educação,     qualificação   técnica   inclusive   superior,  e  a  satisfação  de  necessidades  de  consumo  correspondentes  –  despesas   que  crescem  com  o  desenvolvimento  econômico.    

Podemos,  por  outro  lado,  inverter  a  relação,  e  entender  que  as  mudanças  sociais   e   culturais   que   acompanham   o   crescimento,   contribuem,   indiretamente,   para   elevar   a   produtividade   do   trabalho.   A   maior   complexidade   no   processo   produtivo   demanda   trabalhadores   mais   qualificados.   Respondendo   a   essa   demanda,   os   trabalhadores   e   as   classes   médias   profissionais   investem   em   sua   educação,   saúde,   cultura,   o   que   aumenta   a   produtividade   do   seu   trabalho.   E,   assim,  o  custo  de  reprodução  da  força  de  trabalho  também  se  eleva  à  medida  que   a   economia   capitalista   e   a   sociedade   se   desenvolvem.   Trabalhadores   mais   produtivos,   demandados   pelas   empresas   em   um   cenário   de   crescimento   econômico,  possuem  um  custo  de  reprodução  da  força  de  trabalho  mais  elevado,   o  que  também  contribui  para  explicar  a  evolução  da  produtividade  em  sintonia   com  a  observada  para  a  dos  salários.    

(11)

diferenciados,  para  os  quais  existe  demanda,  e  desta  forma  o  mercado  possibilita   a   prática   de   preços   mais   elevados   e   a   manutenção   da   taxa   de   lucro   em   um   patamar   satisfatório,   a   diferença   sendo   recebida   por   agentes   de   todo   tipo   envolvidos  na  valorização  do  produto  no  mercado.  No  processo  de  diferenciação   do  produto  vemos  bem  esse  processo.  O  aumento  do  valor  adicionado  per  capita   e   dos   salários   ocorre   em   relação   a   bens   e   serviços   que   tecnicamente   não   apresentam  melhoria  (improvement),  mas  que,  devido  a  estratégia  de  marketing,   podem  ser  vendido  a  preços  mais  elevados.  Esse  é  o  caso  de  todas  as  grifes.  Por   exemplo,  para  a  produção  de  um  Rolex  e  de  um  relógio  da  mesma  qualidade  sem   marca  conhecida  e  preço  muito  menor,  os  trabalhadores  e  técnicos  necessários   são   da   mesma   qualidade.   Mas   em   termos   monetários,   quando   levamos   em   consideração   todos   os   administradores,   publicitários,   artistas   patrocinados,   modelos,  etc.,  cujo  custo  de  reprodução  social  é  muito  mais  elevado,  quantidade   produzida   por   trabalhador   ou   produtividade   é   mais   elevada,   de   forma   que   a   transferência   de   mão-­‐de-­‐obra   para   a   produção   desses   bens   e   serviços   implica   desenvolvimento  econômico.  

A   partir   dessas   ideias   simples,   podemos   ver   como   acontece   o   aumento   da   produtividade  e  o  desenvolvimento  econômico.  A  indústria  manufatureira  é,  em   geral,   sofisticada   do   ponto   de   vista   tecnológico   e   administrativo;   emprega,   portanto,   trabalhadores   e   profissionais   com   nível   de   educação   maior.   Ou,   em   outras   palavras,   emprega   força   de   trabalho   cujo   custo   de   reprodução   é   mais     elevado.   Assim,   na   medida   em   que   um   país   transfere   sua   mão-­‐de-­‐obra   para   setores   cada   vez   mais   sofisticados   tecnológica   e   administrativamente,   ele   está   empregando   o   pessoal   qualificado   que   ele   preparou   em   suas   escolas   e   universidades   –   pessoal   que   recebe   maiores   salários   e,   por   isso,   são   mais   produtivos.  São  mais  produtivos  não  em  termos  de  quantidade,  mas  em  termos   de  valor.  

É   claro   que   a   relação   direta   entre   aumento   de   produtividade   e   aumento   de   salários   nem   sempre   ocorre.   Essa   proporcionalidade   supõe   taxa   de   lucro   constante  em  nível  satisfatório  para  os  empresários  investirem.  Mas  os  lucros  ou   as   rendas   capitalistas   sob   a   forma   de   juros   e   aluguéis   podem   aumentar   em   prejuízo   dos   salários.   Isto   ocorria   no   período   inicial   do   desenvolvimento  

(12)

econômico,   durante   a   revolução   industrial   de   cada   país,   porque   havia   oferta   ilimitada   de   mão-­‐de-­‐obra.   E   pode   não   ocorrer   em   determinados   momentos   históricos,  como  foram  os  anos  neoliberais  do  capitalismo,  quando  o  avanço  dos   salários  é  limitado  por  mudanças  institucionais  no  mercado  de  trabalho  e  pelos   movimentos   migratórios.   Mas   o   alcance   do   “ponto   de   Lewis”,   conjugado   à   demanda  por  mão-­‐de-­‐obra  mais  qualificada  resultante  da  industrialização,  torna   a  elevação  dos  salários  no  mesmo  passo  da  produtividade,  uma  tendência  que  só   é  revertida  se  a  taxa  de  lucro  começar  a  ser  comprimida.  

Há   ainda   um   último   argumento   relacionando   industrialização   com   desenvolvimento   econômico   e   salários.   Nos   serviços   altamente   sofisticados,   relacionados   com   a   revolução   da   tecnologia   da   informação   e   de   comunicação,   ocorrem   retornos   crescentes,   devido   à   presença   de   economias   estáticas   e   dinâmicas  de  escala,  como,  por  exemplo,  o  learning-­‐by-­‐doing  e  as  externalidades   positivas.   No   setor   primário,   contudo,   os   retornos   são   decrescentes   devido   ao   fato   de   que   a   terra   é   escassa.   Os   ganhos   de   produtividade   que   ocorrem   nesse   setor  são  oriundos  da  difusão  de  novos  produtos  e  novos  processos  produtivos  a   partir  da  indústria.  Isto  ajuda  a  explicar  porque  os  salários  médios  na  indústria   são  maiores  e  crescem  mais  rapidamente  do  que  no  setor  primário.  

O   aumento   da   renda   per   capita   resultante   do   alcance   dos   estágios   mais   adiantados   do   processo   de   desenvolvimento   modifica   o   perfil   da   demanda   dos   consumidores,  que  desejam  bens  e  serviços  mais  sofisticados.  Assim,  a  partir  de   um   determinado   estágio   de   desenvolvimento,   tende   a   ocorrer   a   desindustrialização  -­‐  a  redução  da  participação  da  indústria  no  valor  adicionado   e  no  emprego,  com  correspondente  elevação  da  participação  dos  serviços.  Esse   fenômeno  é,  em  parte,  inevitável,  dada  a  mudança  do  perfil  da  demanda,  mas  é   preciso  que  não  nos  enganemos  a  respeito  do  problema:  este  processo  decorre   do   alcance   de   um   estágio   de   desenvolvimento   avançado,   no   qual   a   renda   per   capita   é   suficientemente   elevada   para   determinar   a   mudança   no   perfil   da   demanda   na   direção   de   serviços   sofisticados.   É   distinto   de   um   processo   de   desindustrialização   precoce   que   pode   ocorrer   quando   o   país   ainda   possui   um   nível   de   renda   baixo   ou   médio   e   não   completou   o   seu   processo   de   industrialização,   ou   ainda   não   atingiu,   mesmo   que   industrializado,   o   ponto   de  

(13)

Lewis   ou   os   estágios   de   crescimento   que   Rostow   (   1960)   chamou   de   caminho   para   a   maturidade   e   fase   do   consumo   de   massa.   Mesmo   a   desindustrialização   que   decorre   do   alcance   deste   último   estágio   de   desenvolvimento,   deve   ser   controlada  pelo  Estado  de  forma  a  evitar  uma  queda  acentuada  da  participação   da  indústria;  o  setor  que  produz  serviços  mais  sofisticados  não  possui  a  mesma   capacidade   de   absorção   de   mão-­‐de-­‐obra   que   a   indústria,   o   que   pode   levar   à   retomada   da   tendência   de   os   salários   serem   corrigidos   em   variações   menores   que  a  observada  para  a  produtividade,  e  de  qualquer  forma,  frisando  novamente,   a  maior  parte  da  tecnologia  e  do  progresso  técnico  que  será  utilizado  nos  setores   de  serviços  mais  sofisticados  é  gerado  na  manufatura.  

Portanto,   a   elevação   dos   salários   está   associada   à   mudança   na   estrutura   produtiva   da   economia,   mais   especificamente   à   industrialização,   que   demanda   maior  quantidade  de  mão-­‐de-­‐obra  e  também  mais  qualificada.  É  importante  que   as  mudanças  estruturais  que  ocorrem  nos  estágios  mais  avançados  do  processo   produtivo   não   prejudiquem   demasiadamente   a   participação   da   manufatura   no   valor  adicionado.  As  políticas  públicas,  de  investimento  direto  e  de  incentivo  ao   investimento  privado,  devem  atentar  para  esta  questão.  

i Entendemos   como   progresso   técnico   o   aumento   da   produtidade   do   trabalho.   Ele   ser  

dispendioso   de   capital,   neutro,   ou   poupador   de   capital,   conforme   implique   a   a   diminuição,  

constância  ou  aumento  da  relação  produto-­‐capital  ou  produtividade  do  capital.  Em países como

a Inglaterra e a França, que geralmente servem de parâmetro para análises de longo prazo, o progresso técnico foi neutro entre meados do século XIX e meados do século XX. Surpreendentemente, na segunda parte do século XX o progresso técnico tendeu a se tornar dispendioso de capital, não obstante não fosse mais a substituição de trabalho por máquinas (que caracteriza o progresso dispendioso), mas a substituição de máquinas velhas por máquinas novas, mais eficientes (que caracteriza o progresso poupador de mão-de-obra) deva ter prevalecido.

Referências

Documentos relacionados

Fibroblastos foram observados e pela reação histoquímica da coloração Picrosírius foi evidenciada uma matriz colágena classificada como leve (Figs.

Neste sentido, surge o terceiro setor como meio eficaz de preenchimento da lacuna deixada pelo Estado, tanto no aspecto da educação política quanto no combate à corrupção,

Fonte: elaborado pelo autor, 2018. Cultura de acumulação de recursos “, o especialista E3 enfatizou que “no Brasil, não é cultural guardar dinheiro”. Ainda segundo E3,..

Considerando a amplitude da rede mundial de computadores (internet) e a dificuldade em controlar as informações prestadas e transmitidas pelos usuários, surge o grande desafio da

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Declaro meu voto contrário ao Parecer referente à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresentado pelos Conselheiros Relatores da Comissão Bicameral da BNCC,

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

A solução, inicialmente vermelha tornou-se gradativamente marrom, e o sólido marrom escuro obtido foi filtrado, lavado várias vezes com etanol, éter etílico anidro e