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Senso crítico: conciliação entre Universidade e realidade

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Academic year: 2021

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IISENSO CRITICO:

Conciliação entre Universidade

e

Realidade"

MIGUEL ANGEL GARCIA BORDAS Professor Adjunto da Faculdade de Educação da UFBa.

A tarefa que nos propomos

é

a de apresentar e discutir algumas questões referentes ao tipo de conhecimentos e o tipo de atividades que se desenvolvem na Universidade. E, por outro lado, ver o seu sentido e a sua relação com a "realidade", en-tendida aqui como conjunto de problemas e necessidades pos-síveis de se destacar em um momento dado.

A pergunta inicial poderia ser: qual é a relação entre os conhecimentos e atividades que se produzem e transmitem na Universidade, e os problemas e necessidades que a sociedade apresenta? Para poder responder, primeiramente, deveria se considerar que conhecimentos, que atividades, que problemas e necessidades estamos considerando,

a

fim de pensar em ter-mos de adequação ou inadequação.

Facilmente vemos que para responder, seria preciso esco-lher, discriminar entre conhecimentos, atividades, problemas e necessidades concretas, específicas para cada área. Atividade que, além do mais, seria pretensioso assumir uma pessoa ou grupo determinado apena.s.

Seria preciso questionar formas decis6rias, critérios para poder discriminar com bom senso ou adequadamente.

As formas decisórias, os processos de decisão, os crité-rios são aspectos explícitos de um senso crítico implícito,

pre-8

Educação em Debate, Fortaleza, 4 (1): 7-22, jan./jun. 1982

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viamente suposto. E esta

é

precisamente a perspectiva que nos estamos propondo abordar.

Senso crítico, capacidade crítica, capacidade cog nosciti-va, em suma, são condições que possibilitam o dese nvolvi-mento, a aplicaçãa....e a discriminação dos instrumentos neces-sários para enfrentar-se eficientemente as situações proble -máticas.

Aprender a pensar criticamente e desenvolver o senso crítico pode resultar mais viável quando podem analisar-se algumas das atividades envolvidas. Destacando os processos, os traços que configuram um bom "senso crítico", talvez tere -mos uma base para o desenvolvimento e o preparo do mesmo para uma ação mais eficiente.

Estudos realizados durante alguns anos permitem sugerir que os que possuem um bom desempenho, aqueles que agem adequadamente em um ambiente dado, são portadores de cer-tos traços ou habilidades comuns. A seguir, comentamos al-guns desses traços que Eugene

J.

Meehan, da Universidade

de Missouri - St. Louis (EUA), destacou em 1973, e que, talvez, ofereçam um ponto de partida, mesmo provisório, para a nossa discussão do papel do senso crítico:

SENSIBILIDADE TEMPORAL: a tarefa de organizar as

percepções implica necessariamente relações no tempo, do passado, do presente e do futuro. Portanto, a dimensão tem -poral constitui uma parte importante de senso crítico. Em par -ticular, devemos estar em condições de entender:

a) as pressões que o passado exerce sobre o presente e o futuro;

b) os efeitos prováveis das ações do presente sobre o futuro;

c) os antecedentes dos acontecimentos presentes na história; e,

d) os índices de câmbio com o tempo.

CONCEITUALlZAÇÁO E RECONCEITUALlZAÇÁO: a

cons-ciência dos processos conceituados

é

provavelmente o resul-Educaçãoem Debate.Fortaleza.4 (1): 7-22, jan.ljun. 1982

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tado mais importante do preparo metodológico: saber

concei-tuar, definir, classificar, etc. A reconceitualização é, com

fre-qüência, um pré-requisito essencial para o progresso. Os

con-ceitos com os que se enuncia um problema tem a maior

im-portância. Enunciando um problema com conceitos

inadequa-dos, pode acontecer que o problema resulte insolúvel, mas

outra forma de conceituação poderá talvez sugerir soluções e alternativas.

CONSCIENCIA DOS PADRõES E PARÁMETROS

UTILIZA-DOS: assim como as razões pelas quais alguns padrões são

aceitáveis, quando outros não o são.

CAPACIDADE ANAlíTICA E S/NT~TICA: para dividir os

conjuntos em partes e os processos em etapas.

Também é a possibilidade de:

a) descobrir regras para tornar idôneos os exemplos; b) ilustrar regras por meio de exemplo da experiência;

c) produzir regras alternativas para que se ajustem ao

mesmo conjunto de acontecimentos e;

d) abstrair ou modelar seqüências complexas de intera-ções, incluindo a retroalimentação.

CAPACIDADE DE INFERIR: como habilidade de:

a) calcular desenvolvendo as implicações obrigatórias

à

aceitação de um conjunto de premissas;

b) reconhecer as falácias básicas que se apresentam nos processos de inferência, identificando conclusões

for-çadas, de resultados compatíveis com um conjunto de

premissas.

USO DA EXPERIÊNCIA E DA PERSPECTIVA

EXPERIMEN-TAL: significa ilustrar os padrões mediante observações

dire-tas ou indiredire-tas, provar os padrões em função dessas

obser-vações e gerar padrões que se ajustem

à

experiência. A

pers-pectiva experimental evita o dogmatísmo e fomenta uma

res-posta positiva aos fracassos; uma reformulação e uma

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cação dos argumentos apresenta o principio de que todos os acontecimentos humanos são, até certo ponto, provisórios.

HABITO DE USAR A TATICA DE AFIRMAÇõES CONDI-CIONAIS E CONTRARIAS AOS FATOS: qualquer proposição da forma "se X tivesse sido distinto, então Y seria diferente", denomina-se condicional contrafatual. Na lógica, a única jus-tificação que pode oferecer-se para aceitar tais proposições é uma explicação ou uma teoria sólida. Aprender a utilizar es-sas propostções e comprová-Ias adequadamente é parte impor-tante da preparação intelectual, e portanto, da formação do senso crítico. O hábito de perguntar-se o modo em que algo teria sido diferente, se não houvesse produzido algum aconte-cimento no passado, estimula o desenvolvimento de padrões que relacionam as mudanças no tempo, entre outras

possibi-lidades.

ORIENTAÇÃO PARA A INTERVENÇÃO: o conceito de senso crítico que queremos destacar aqui requer no seu sig-nificado "um estar voltado para resolução de problemas reais", não somente de uma forma imediata, mas, também, mediata, a curto, médio ou longo prazos. A nossa pretensão não é pensar que a Universidade deve ser um centro de ciência aplicada, apenas; o que queremos destacar é a necessidade de que o estudante oriente as suas atividades teleologicamente, ou seja, que estruture objetivos vinculados e comprometidos com a rea-lidade. Sem uma finalidade, não existe modo de desenvolver e/ou comprovar instrumentos intelectuais, nem razões para ta-zê-lo.

Se considerarmos a atividade de conhecer, vemos que existe um componente intencional, discriminativo, crítico que permite destacar o que acontece do que não acontece, do que não existe. Ainda nessa consideração fenomenológica cabe pensar também naquilo que, não existindo, pode ou deve exis-tir. Aparece então a consideração da necessidade, a sua com-preensão como aquilo que está faltando em um determinado momento. Considerando a diferença percebida, o conheci-mento do que está faltando, a partir da comparação do que existe com o que poderia existir, pode surgir a atividade

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sível e necessária gerada por um impulso que tende a preen-cher lacunas.

ORIENTAÇÃO PARA CUSTOS E BENEFiCIaS DE UMA AÇÃO: o pensamento voltado para custos, para determinação de vantagens e desvantagens

é

característica de uma socie-dade com problemas e com necessidades. O estudante não pode ficar alheio às contingências, portanto, uma consciência tanto de custos, quanto de benefícios de cada alternativa, e a avaliação habitual dos mesmos, deve ser uma parte importante de uma crítica competente. Somente assim, a Universidade poderá ocupar um lugar na realidade emergente e premente.

Não conseguimos pensar na "beatitude" de uma Universidade "carente de necessidades", isolada e fragmentada. Seria uma

Universidade narcisista e parasita, o que no mundo atual não teria sentido.

Através dos traços que acabamos de comentar brevemen-te, podemos ver alguns supostos necessários de um bom senso

crítico, que permita uma atividade crítica capaz de discernir, separando umas coisas de outras. Só assim, podemos pensar que será possível conciliar a Universidade e a Realidade. Con-sideramos o processo de conciliação, dado que não conse-guimos pensar em Universidade separada da realidade, das necessidades, do contingente; uma Universidade tal não é pen-sada como novidade, nem como simples união ou relação, mas como conciliação no sentido religioso do termo, como assem-bléia, no caso de universitários que ,não discutem sobre um tema pela primeira vez, mas voltam a discutir sobre ele, numa

eterna discussão, que deveria ser uma atividade constante na Universidade. Daí a conciliação também como reconciliação quanto à restauração de unidade p-erdida, talvez outrora.

Nesse sentido, entendemos a Universidade como lugar, ponto de esclarecimento, como consciência do que falta, do que, também, precisa ser feito.

Talvez os pontos destacados até aqui possam servir para retomar a questão inicial e para ver se consideramos relevan-te o assunto, até que ponto a Unlversidade dá condições para o desenvolvimento do senso crítico. Seria interessante analisar

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os conhecimentos e as atividades desenvolvidas e poder ver

até que ponto os currículos, como conjunto das atividades of

e-recidas, possibilitam o desenvolvimento dessas capacídades.

REFERi:NCIAS BIBLlOGRAFICAS

ALFRED,A. J. - As Questões centrais da filosofia. Rio de Janeiro,

Zahar, 1975..

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Referências

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