Do Mito à Filosofia
O significado das narrativas míticas
e a emergência do pensamento filosófico
O que é Mito?
• Poema
Ulisses
O mito é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus É um mito brilhante e mudo – O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou, Foi por não ser existindo. Sem existir nos bastou. Por não ter vindo foi vindo E nos criou.
Assim a lenda se escorre A entrar na realidade. E a fecundá-la decorre.
A Filosofia
• 1.ª questão:
• Quando e por quê motivo as antigas narrativas mitológicas foram substituídas ou passaram a não mais atender às exigentes necessidades de compreensão do homem?
Duas linhas de interpretação
• Orientalistas
• Os gregos herdaram a sabedoria do oriente e apenas a desenvolveram.
• Autores que defendem essa posição: Röth, Gladish.
• Ocidentalistas
• Os gregos inovaram por depurar o pensamento do mistério e da magia.
• Autores que defendem essa posição: Zeller, Hopfener.
Uma nova linha de interpretação
• A arqueologia e a mentalidade primitiva
• Os avanços das pesquisas arquelógicas no final do século XIX e o interesse pela
mentalidade arcaica deslocou o eixo da questão sobre o início da filosofia;
• O principal aspecto de sua origem histórica é compreender como se processa a passagem entre a mentalidade mito-poética e a mentalidade teorizante.
Quem vence?
• O protagonismo grego
• Os argumentos levantados em resposta à questão anterior coloca a grande maioria dos historiadores à favor da tese do protagonismo grego;
• Ou seja, a filosofia nasceu na Grécia e se caracteriza como um pensamento exigente, sistemático e crítico.
Mito ==> Filosofia
Os mitos gregos
• Aspectos que
favoreceram a difusão
• A geografia, permitindo a criação de cidades-estados autônomas;
• A fusão de lendas eólicas e jônicas expressas nas epopéias relatando as condições de vida das colônias;
• O papel dos aedos e rapsodos, poetas que declamavam e difundiam as lendas (que, em geral estavam misturadas com fatos históricos reais);
Homero, o primeiro “educador”
• Biografia
• Da vida de Homero nada se sabe com segurança, pois os dados coletados a seu respeito e a respeito das epópeias citadas são de origem oral, passados de geração para geração;
• teria nascido em Esmirna ou em alguma ilha do mar Egeu e vivido no século VIII a.C. Devido à controversa sobre sua existência, oito cidades disputam a honra de terem sido a sua terra natal;
• Para o historiador e filósofo Richard Tarnas, Homero foi "uma personificação coletiva de toda a memória grega antiga";
• a influência formativa dos seus trabalhos modelou e influenciou todo o desenvolvimento da cultura grega e por essa razão os gregos o consideravam seu instrutor.
Homero, o primeiro “educador”
• Sôma e Psyche
• A crença homérica acreditava que o homem abrigava em si um “duplo” (um outro eu) que se manifestava nos sonhos;
• Na morte a psyche (alma) se desprendia do corpo físico (sôma) e descia às sombras do Érebo;
• Por exaltar os valores da vida presente, as epopéias representam um avanço no processo de racionalização e laicização da cultura;
• Séculos mais tarde o filósofo Heráclito de Éfeso fara de Zeus um dos nomes do Logos (razão universal).
Homero, o primeiro “educador”
• A importância de seu legado
• Os gregos antigos voltavam sempre às suas epopéias para buscar modelos políticos, temas e personagens para o utilizarem como modelos de recursos argumentativos;
• Por exemplo, as aventuras de Ulisses é interpretado como um símbolo moral. As peripécias do herói que retorna à pátria após inúmeros obstáculos, perigos e tentações é símbolo dos próprios esforços que a alma humana teria que realizar para voltar para a sua natureza originária, à sua essencialidade – essa é a sua pátria.
As epopéias continentais
• Interregno
• Da Jônia surge as epopéias homéricas;
• A partir do século VI a.C. surgem as primeiras formulações filosóficas e científicas dos pensadores pré-socráticos;
• Entre esses dois momentos situa-se a obra poética de Hesíodo, da Grécia continental para acrescentar novos elementos à mentalidade surgida nas colônias da Ásia Menor.
Hesíodo
• Biografia
• O que se sabe sobre Hesíodo é narrado por ele próprio em seus poemas:
– Morava em Cumes com seu pai, que possuía uma pequena empresa de navegação;
– Após a ruína deste, atravessou o mar Egeu e retornou à Beócia onde nasceu; – Em Ascra dedicou-se às atividades
campesinas e a seus poemas. Alí viveu e morreu.
• Sua poesia é a primeira feita na Europa na qual o poeta vê a si mesmo como um tópico, um indivíduo com um papel distinto a desempenhar.
Hesíodo
• A virtude no trabalho
• Na genealogia dos deuses percebe-se o esboço de um pensamento racional sustentado pela exigência da causalidade;
• Essa características abre caminho para as posteriores cosmogonias filosóficas;
• O poema é dirigido ao irmão de Hesíodo, Perses, devido a uma querela relativa à repartição desigual da herança paterna, na qual este levara vantagem indevidamente;
• As duras condições de trabalho de sua gente sugere uma visão pessimista da humanidade na qual a
As epopéias
• Características
• Intervenção dos deuses nos assuntos dos homens geralmente manifestada por uma psicologia das ações heroicas;
• Racionalização do divino e antropomorfização dos deuses; • Possui valor de verdade por ser um registro documentado; • Procura explicar:
– As relações entre os deuses;
– As recompensas e castigos atribuídos aos homens que lhes prestam homenagens ou que os desobedecem, etc.
• Sua principal função está em afastar o medo do
desconhecido e fornecer uma explicação compreensível dos fenômenos.
Aretè
• A virtude
• Era entendida como o mais alto ideal cavalheiresco aliado a uma conduta cortesã e ao heroismo guerreiro;
• Designava a excelência humana e estava ligada às qualidades morais ou espirituais;
• Era um atributo dos nobres, os
aristoi;
• A esse ideal estavam associados às noções de honra e de dever e acreditavam-se inatos.
Aristeia
• A excelência
• As aristeias eram combates singulares em que os aristoi demonstravam seu valor;
• A mais famosa atribui-se à Diomedes, herói da guerra de Tróia e protegido de Atena; • representa o mito do herói, fulgurante,
indômito e corajoso, o mais bravo e invencível com a sua lança.
A emergência do pensamento filosófico
Precursor da ética
• O sangue pelo espírito
• A ética de Platão e Aristóteles se fundará anos mais tarde na ética aristocrática desse período;
• Os valores e as qualidades dos aristoi eram inatas, estavam no sangue;
• Na ética fundada por Platão e Aristóteles por outro lado, os valores e as qualidades do homem eram cultivados por meio da filosofia e da investigação científica.
A emergência do pensamento
filosófico
• O logos
• O discurso filosófico se distingue do discurso mítico, pois busca explicar as mesmas questões a partir de um viés racional, sem recorrer a elementos sobrenaturais.
• As questões que movem os primeiros filósofos são semelhantes àquelas que os mitos buscavam responder:
– De onde vem as coisas?
– O que faz a natureza mudar e perseverar ?
A emergência do pensamento
filosófico
• O logos
• O logos, inicialmente compreendido como a linguagem falada ou escrita, amplia seu significado passando a designar o próprio movimento de racionalização e o pensamento racional em busca da ordem.
A emergência do pensamento filosófico
• A dessacralização dos signos
• A criação da escrita alfabética e seu uso no comércio e nas relações de troca retiram dos signos conhecidos o seu caráter sagrado.
A emergência do pensamento
filosófico
• Descrença na ação do destino
• No mito, os relatos ressaltavam que o destino do homem estava determinado pela ação dos deuses, que sabiam antecipadamente o que iria acontecer;
Por que ainda existe narrativas míticas?
• Os limites da ciência e da filosofia
• Embora a ciência e a filosofia sejam narrativas exigentes para explicar a realidade e os fenômenos naturais, elas não dão conta de responder a todas as questões humanas, principalmente aquelas que dizem respeito à complexidade de nossa existência.
Referencias bibliográficas
A.A. Long (org.). Primórdios da Filosofia Grega. São Paulo: Ideias e
Letras, 2008.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires.
Filosofando: Introdução à filosofia. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2009. 479 p.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 5. ed. São Paulo: Ática,
1995. 440 p.
MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia: dos Pré-Socráticos