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Repositório Institucional UFC: O espírito retirante de um contador de histórias que coleciona pedras nos bolsos

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Academic year: 2018

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(3)
(4)

Revist~ntrevista

CBA

E n t r e v i s t a c o m A n t ô n i o I s a í a s P a i v a D u a r t e , d i a 6 d e o u t u b r o d e 2 0 1 1 .

I g o r -

ihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

B o m , Is a ía s , e u g o s ta ria d e c o m e ç a r p e rg u n ta n d o c o m o fo i a in fâ n c ia lá n a fa z e n

-d a S e rra d a s C o c a s , n a z o n a ru ra l d e S a n ta

O u ité ria .

I s a í a s - B o m , d a m in h a in fâ n c ia , e u le m b ro m u ito p o u c o . L e m b ro q u e , a té o s 1 1 a n o s d e

id a d e , e u re a lm e n te m o re i c o m o s m e u s p a is

e m S a n ta O u ité riaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA( m u n ic í p io q u e f ic a n o S e r -t ã o C e n t r a l c e a r e n s e , a

238

quilômetros

d e

F o r t a le z a ) . C o m 1 1 a n o s , e u v im p a ra F o rta le z a .

M a s v o c ê s a b e q u e in fâ n c ia n o in te rio r n ã o é

m u ito b o m n ã o , n é ? O n d e e u m o ra v a n ã o tin h a

lu z , n ã o tin h a n a d a . A g e n te m o ra v a n o in te rio r

m e s m o . E ra , c o m o s e d iz , o n d e m o ra v a m o s

ín d io s . O u e r d iz e r, e ra u m a fa z e n d a q u e m e u s

p a is to m a v a m d e c o n ta , e a g e n te v iv ia d o q u e

p la n ta v a , d o q u e e le s c ria v a m : g a lin h a , p o rc o ,

e s s a s c o is a s . N ã o le m b ro m u ito , p o rq u e , lo g o

d e p o is d o s 1 1 a n o s , e u v im e m b o ra p ra F o

r-ta le z a . M o re i n o C o ra ç ã o d e J e s u s ( P r a ç a d o

C o r a ç ã o d e J e s u s , n o C e n t r o d e F o r t a le z a ) d u

-ra n te d o is a n o s . N ã o d ig o q u e fu i g a ro to d e ru a

d ire ta m e n te , n ã o . E u m o ra v a n a p ra ç a , p o rq u e

tra b a lh a v a a n o ite to d a v e n d e n d o p a s te l e , d u

-ra n te o d ia , e u d o rm ia n u m V e ra n e io ( a u t o m ó

-v e l d a C h e -v r o le t p r o d u z id o n o B r a s il e n t r e 1 9 6 4

e 1994, c u jo m o d e lo d is p u n h a d e q u a t r o p o r t a s e a c o m o d a v a s e is p e s s o a s ) q u e a m u lh e rz in h a

( d o n a F á t im a , c o m q u e m I s a í a s t r a b a lh o u p o r

d o is a n o s v e n d e n d o p a s t e l) q u e m e d e u o e m

-p re g o tin h a . D e p o is s a í d e lá , fu i tra b a lh a r d e

ja rd in e iro c o m a tia d a p a tro a d o s m e u s p a is

e m S a n ta O u ité ria . C o m 1 4 p a ra 1 5 a n o s , v o lte i

p a ra S a n ta O u ité ria e te n te i s e r v a q u e iro . C u

i-d a v a i-d e u m a fa z e n i-d a i-d e u m c o ro n e l lá q u e e ra

a m ig o d o m e u p a i ( P e d r o D u a r t e é o n o m e d o

p a i d e I s a í a s ) . E fiq u e i lá a té o s 1 8 a n o s . C o m

o s 1 8 , e u re to m e i a F o rta le z a . V i q u e a q u ilo n ã o

e ra o q u e e u q u e ria .

S e m p re tiv e u m s o n h o : d e s d e q u e s a í d e

S a n ta O u ité ria , c o m 1 1 a n o s , tin h a o s o n h o d e

tira r m e u s p a is d a li. Éta n to q u e a g e n te ia p a ra a ro ç a , c a p in a v a , m a s , d e n tro d e m im , d iz ia

q u e e u n ã o tin h a n a s c id o p a ra a q u ilo a li, q u e

e u q u e ria a lg o m a is . T ra b a lh a n d o a li, n ã o ia

c o n s e g u ir n u n c a d a r u m a v id a b o a a o s m e u s

p a is . D e p o is q u e e u re to rn e i a F o rta le z a , a o s

1 8 a n o s , tra b a lh e i d e s e rv e n te n u m a in d ú s

-tria c h a m a d a R o y a l. T ra b a lh e i n o C a s te lã o

( e s t á d io G o v e r n a d o r P lá c id o C a s t e lo , lo c a

-liz a d o e m F o r t a le z a e in a u g u r a d o e m 1 9 7 3 )

v e n d e n d o p ic o lé , á g u a ... D e p o is d is s o , v o lte i

a tra b a lh a r e m u m a e m p re s a c h a m a d a S B S

S e g u ra n ç a , S is te m a B ra s ile iro d e S e g u ra n

-ç a , q u e e ra a s e g u ra n -ç a d a q u e le s u p e rm e rc a

-d o L a g o a n o C e n tro , n a P a ra n g a b a ( b a ir r o d e

F o r t a le z a ) , d a q u e le s c o lé g io s C C A A ( C e n t r o d e

C u lt u r a A n g lo A m e r ic a n o ) .

J u l i a n a - M a s v a m o s v o lta r u m p o u c o p a ra a q u e s tã o d a in fâ n c ia . V o c ê é o s é tim o d e d e z

filh o s . C o m o e ra a re la ç ã o c o m o s s e u s irm ã o s ?

O q u e v o c ê s fa z ia m n o in te rio r a té q u a n d o

v o c ê fic o u lá ?

I s a í a s - A g e n te c re s c e u ... A c h o q u e , q u a n -d o a g e n te c o m e ç o u a a n d a r, m e u p a i já m a n

-d o u a g e n te p la n ta r, c a p in a r, a g u a r a s p la n ta s .

Is s o e ra o q u e a g e n te fa z ia lá . N a v e rd a d e , a té

p ra e s tu d a r n ã o tin h a o n d e . A g e n te m o ra v a

m u ito d is ta n te d a c id a d e .

J u l i a n a - E c o m o fo i q u e v o c ê a p re n d e u , e n tã o , a le r e a e s c re v e r?

I s a í a s - R a p a z , a c h o q u e tu d o n a m in h a v id a s ó D e u s p o d e e x p lic a r. F o i tu d o D e u s . A c h o

q u e e u c o m e c e i a s o le tra r, p e g a v a a s c o is a s .

A p re n d i s o z in h o . N u n c a e n tre i n u m a s a la d e

a u la p a ra s a b e r le r, s a b e r s o m a r. E u s o m o m u

i-to a s c o is a s n a c a b e ç a . E n tã o a p re n d i ... F o i o

m u n d o . O m u n d o m e e n s in o u tu d o .

I g o r - V o c ê d e ix o u b e m c la ro q u e s e u p a i s e m p re c o lo c o u , d e s d e q u e v o c ê s n a s c e ra m ,

p a ra tra b a lh a r n a ro ç a . V o c ê g o s ta v a d e re a

li-z a r e s s e tra b a lh o ?

I s a í a s - D e m a n e ira n e n h u m a . O u a n d o e ra p a ra c a p in a r, p a ra fa z e r m a s s a , p ra fa z e r tijo lo ,

e u n u n c a g o s te i.

M a r i a n a - P o r q u ê ?

I s a í a s - D e n tro d e m im d iz ia q u e e u n ã o n a s c i p a ra a q u ilo a li. E u s e m p re g o s ta v a m u ito

d e m ú s ic a . J á p e q u e n o g o s ta v a d e fo rró . A c h o

q u e o fo rró ... J á n a s c i c o m e le n a v e ia .

R a n n i e r y - M a s q u a n d o v o c ê e ra c ria n -ç a , v o c ê tin h a a lg u m s o n h o , a lg u m a p e rs

-p e c tiv a d o q u e q u e ria s e r n o fu tu ro , c o m o

p ro fis s io n a l?

I s a í a s - T in h a . E u m e im a g in a v a m u ito s e n -d o c a n to r o u te n d o u m a b a n d a d e fo rró , o u o

q u e s e ja .

J o ã o V i c t o r - C o m o e ra a re la ç ã o c o m o s s e u s p a is q u a n d o v o c ê e ra c ria n ç a ?

I s a í a s - B o m , a m in h a v id a é m e u s p a is . M e u p a i h o je é d o n o d e A lz h e im e r h á s e te a n o s , e

m in h a m ã e ( d o n a R a im u n d a ) é tu d o o q u e e u

te n h o . E h o je o s m e u s trê s filh o s . E u te n h o

u m filh o d e 1 6( E n d e r s o n ) , u m d e 1 3 ( E v e r t o n )

e o u tra filh a ( / s a b e le ) q u e e u tiv e a g o ra c o m

u m a a m ig a m in h a , q u e já v a i fa z e r trê s m e s e s .

IS A íA S C O S I3 5

o n o m e d o Is a ía s C O s fo i s u g e rid o p a ra s e r e n tre v is ta d o p e la a lu n a N a y a n a S ie b ra . N a v o ta -ç ã o , e le te v e d o is v o to s , s e n d o e le ito c o m o o p ri-m e iro n o m e n a lis ta d o s s u p le n te s , c a s o a lg u m d o s e n tre v is ta d o s e s c o -lh id o s p rim e ira m e n te n ã o d e s s e c e rto .

(5)

S e m p re q u e a e q u ip e d e p ro d u ç ã o lig a v a p a ra

A3 Entretenimento p a ra te n ta r fa la r c o m a s e c re -tá ria d o Is a ía s , A lz ira , a s a te n d e n te s in fo rm a v a m q u e e la e s ta v a e m re u -n iã o e re to rn a ria d e p o is . E la n u n c a re to rn o u .

A p ó s m u ita s te n ta -tiv a s , c o n s e g u im o s o e -m a il e o c e lu la r d a s e -c re tá ria d o Is a ía s c o m a a s s e s s o ria d e im p re n s a d a s b a n d a s d a A3. D e s d e e s s e d ia , a in d a s e p a s s o u q u a s e u m a s e m a n a p a ra q u e c o n s e g u ís s e m o s fa -z e r o p rim e iro c o n ta to .

R E V IS T A E N T R E V IS T A I3 6

S e m p re fu i m u ito a p e g a d o a o m e u p a i, p o rq u e

c o m o e u e ra u m a c o is a q u e e le fo i n o p a s s a d o ,

q u e e ra v a q u e iro , e e u e ra u m b o m v a q u e iro ...

N a v e rd a d e , e ra u m v a q u e iro m e s m o ! N ã o é

e s s e v a q u e iro d e v a q u e ja d a n o rm a l q u e a g e n

-te v a i a s s is tir, n ã o . E ra v a q u e iro d e a m a n s a r c a

-v a lo b ra b o . E n tã o , o m e u p a i fa la -v a q u e e ra u m

o rg u lh o . C o m m e u s p a is , e u s e m p re tiv e u m a

re la ç ã o m u ito b o a .

R a ís s a P o r q u e s a ir d e c a s a tã o n o v o , te n

-d o e s s a re la ç ã o b o a c o m o s p a is ?

Is a ía s - A n e c e s s id a d e . A n e c e s s id a d e le v a

a g e n te a fa z e r q u a lq u e r c o is a ...

CBA

M a r i a n a - . . .C o m o n z e a n o s v o c ê já tin h a c o n s c iê n c ia d a n e c e s s id a d e ?

Is a ía s - T in h a . P o rq u e , q u a n d o v o c ê c o n

-v i-v e m u ito c o m o s a d u lto s , v o c ê a m a d u re c e

rá p id o . É ta n to q u e a m in h a v id a s e m p re fo i

m u ito rá p id a . C o m 1 5 , 1 6 a n o s , e u já fu i p a iZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( N a v e r d a d e , I s a í a s s e e n g a n o u . H o je e le t e m

3 6 a n o s , e

o

f ilh o m a is v e lh o t e m 17.P o r t a n t o , e le f o i p a i a o s 1 9a n o s ) . C o m 1 1 a n o s , c o m o

e u c o n v iv ia m u ito c o m o s a d u lto s , q u e ria a

v id a d o s a d u lto s .

J o ã o V i c t o r - M a s o q u e é q u e fa lta v a n a -q u e la é p o c a -q u e v o c ê b u s c o u e m F o rta le z a ?

Is a ía s - T u d o ! D in h e iro , e s tu d o , a s n e c e s s

i-d a i-d e s q u e m e u s p a is p a s s a v a m . T u i-d o is s o fe z

c o m q u e e u "p e g a s s e o b e c o ".

I g o r - M a s p o r q u e v o c ê s a iu ?

Is a ía s - P o rq u e b o ta ra m n a c a b e ç a q u e

e u tin h a q u e v ir p a ra F o rta le z a , tra b a lh a r p a ra

u m a s e n h o ra d e ja rd in e iro . E n tã o , a m in h a

m ã e a c h o u re a lm e n te q u e e u d e v e ria v ir. P o

r-q u e já r-q u e e ra m d e z filh o s e q u a n to m a is fo s s e

d im in u in d o d e m e n in o n o in te rio r, p a ra q u e m

e s tá p a s s a n d o n e c e s s id a d e , s e ria m e lh o r, n é ?

D e m im m e s m o , n a v e rd a d e , a v o n ta d e fo i m

i-n h a , d e s a ir d e lá .

P e d r o - V o c ê fa lo u q u e a re la ç ã o c o m o s e u p a i e ra m u ito b o a , m a s v o c ê n ã o g o s ta v a d e

tra b a lh a r n a ro ç a c o m e le . E m a lg u m a o c a s iã o ,

h o u v e d e s e n te n d im e n to e n tre v o c ê s p o r is s o ?

Is a ía s - M u ito . O p a i d a g e n te b rig a s e m p re

q u a n d o v o c ê n ã o q u e r tra b a lh a r. A p a n h a , fa z

tu d o . P o rq u e , n a ro ç a , n ã o te m e s s e n e g ó c io

n ã o , te m q u e ir. N ã o te m e s s e n e g ó c io d e fic a r

d o rm in d o o u e s tu d a n d o , n ã o e x is te is s o . N ã o

te m m o le z a . A ro ç a é a s s im .

I g o r - N o d ia e m q u e v o c ê re s o lv e u v ir p a ra F o rta le z a , te v e a lg u m a b rig a q u e m o tiv o u , q u e

fo i a g o ta d 'á g u a ?

Is a ía s - T e v e . A c h o q u e e ra d e 1 1 p a ra 1 2

a n o s . E u ia m u ito c o m o s m e u s irm ã o s p a ra

a c id a d e ( d e S a n t a Q u it é r ia ) , q u e e ra p e rtin h o ,

fic a v a a s e te q u ilô m e tro s . N o o u tro d ia , a g e n

-te c h e g a v a ta rd e , s e m p re c o m m u ito s o n o , a í

e le ( o p a i d e I s a í a s ) e s ta v a c o m a e n x a d a n o

b ra ç o . A í m e u p a i g rito u , e u re s p o n d i e e le s a iu

c o rre n d o a trá s d e m im e jo g o u "u m b a n d o " d e

tijo lo q u e p e g o u n a m in h a p e rn a . F o i p o r c a u s a

d is s o q u e v im e m b o ra .

R o b e r t aIs a ía s , v o c ê fo i e m b o ra p e g a n d o c a -ro n a e m c a m in h ã o . C o m o fo i e s s a e x p e riê n c ia ?

Is a ía s - D a c a s a d o s m e u s p a is p a ra a p is ta

tin h a u m c a m in h ã o p a ra d o c a rre g a n d o c a rv ã o .

P e d i u m a c a ro n a e v im .

J u l i a n a - E le s n ã o e s tra n h a ra m u m a c ria n ç a d e 1 1 a n o s p e d in d o c a ro n a ?

Is a ía s - N a v e rd a d e , n a e s tra d a , v o c ê e n

-c o n tra q u a lq u e r c o is a . É u m a c o n ta g e m fe ita n o s e u d e s tin o , n ã o s e m u d a . R e a lm e n te é

m u ito irre s p o n s á v e l p e g a r u m a p e s s o a e le

-v a r ... D is s e q u e m o ra -v a e m F o rta le z a , e o c a ra

m e tro u x e . D e s c i a q u i n a "ro d o v iá ria d o s p o

-b re s " ( T e r m in a l R o d o v iá r io A n t ô n io B e z e r r a ,

n o b a ir r o h o m ô n im o , e m F o r t a le z a ) e fu i p a ra o

C o ra ç ã o d e J e s u s .

I g o r - Q u a n d o v o c ê v in h a n o c a m in h ã o p a ra F o rta le z a , q u a l e ra o s e n tim e n to ?

Is a ía s - D e c re s c e r ... D e c re s c e r, s im .

S e m p re s o n h e i. D e s d e q u e c o m e c e i a m e e n

-te n d e r n a m in h a v id a , e u v ia a v o n ta d e q u e

a m in h a m ã e tin h a d e m o ra r n a c id a d e . V i

q u e e la n u n c a fo i fe liz . E u e s c u ta v a m u ito e la

b rig a n d o c o m m e u p a i q u e a g e n te d e v e ria

m o ra r n a c id a d e . A í m e u p a i d iz ia : "P o r q u ê ?

P a s s a r fo m e ? ". E a s c ria n ç a s o u v ia m tu d o ,

a b s o rv ia m tu d o , s a b ia m tu d o . E u fic a v a p e n

-s a n d o : "P Ô , d e z filh o s ... E a m in h a m ã e a li".

S e m p re fa lo m u ito q u e a s c o is a s n a m in h a

v id a n ã o tê m e x p lic a ç ã o , é c o is a d e D e u s . É

ta n to q u e a in d a h o je n ã o c a iu a fic h a , p o rq u e

tu d o n a m in h a v id a fo i m u ito rá p id o . T u d o

(6)

_ _e s , já q u e tu d o o q u e te n h o , tu d o o q u e

s e g u i, fo i D e u s q u e m e d e u .

ia n a - Q u a n d o v o c ê v e io p a ra F o rta le

-a s -a b i-a o q u e iri-a f-a z e r?

CBA

i a s - À s v e z e s , q u a n d o a g e n te a c h a q u e u m a c o is a é ru im , p a ra v o c ê é a m e lh o r

c o is a q u e p o d e a c o n te c e r n a s u a v id a . R e a

l-m e n te , s e e u n ã o tiv e s s e to m a d o e s s a a titu

-d e

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( d e f u g ir d e c a s a ) , s e m e u p a i n ã o tiv e s s e to m a d o a q u e la ( d e jo g a r t ijo lo n o I s a í a s ) , n ã o

e s ta ria a q u i h o je . E n tã o , o q u e e u ia fa z e r?

L a v a r c a rro . C h e g u e i a p e d ir e s m o la p a ra c o

-m e r, n a Ig re ja C o ra ç ã o d e J e s u s ( lo c a liz a d a n a

P r a ç a h o m ô n im a ) . T iv e u m a s o rte m u ito g ra n

-d e -d e e s s a m u lh e r ( d o n a F á t im a ) m e d a r u m

e m p re g o . L e m b ro c o m o s e fo s s e h o je , n a p

ri-m e ira v e z e ri-m q u e e la ri-m e d e ix o u p a ra tra b a

-lh a r. D e ix o u o c a rro a c o rre n ta d o n u m p o s te ,

d e ix o u a c h o q u e 1 0 o u 1 5 re frig e ra n te s , p a s

-te iz in h o s , a s c o m id a s ... N ã o c o n fia v a . Q u a n d o

e la c h e g o u , e s ta v a tu d o b e m lim p in h o , tin h a

v e n d id o tu d o . E la já m e d e ix o u d o rm ir d e n tro

d o c a rro d e la ( o V e r a n e io o n d e I s a í a s d is s e

q u e d o r m ia ) . N e s s e n e g ó c io , e u p a s s e i d o is

a n o s . F o i q u a n d o m e u irm ã o ( J u v e n a l) m e

a c h o u , e s s e q u e já fa le c e u , m e le v o u p a ra a

A e ro lâ n d ia ( b a ir r o s it u a d o n a Z o n a L e s t e d e

F o r t a le z a ) , a í fu i m o ra r c o m e le .

J o ã o V i c t o r - Is a ía s , v o c ê fa lo u q u e o s s e u s p a is já te ria m p re p a ra d o v o c ê , q u a n d o

c ria n ç a , p a ra u m d ia v ir p a ra F o rta le z a . E n

-tã o , p a ra e le s , fo i a lg o n o rm a l?

I s a í a s - N ã o , n ã o . A ú n ic a p e s s o a c o m q u e m fiq u e i m a n te n d o m u ito c o n ta to fo i

c o m a m in h a m ã e . T o d o s á b a d o lig a v a p a ra

S a n ta Q u ité ria . S e m p re tra n q u iliz e i, s e m p re

fa le i q u e e s ta v a tu d o b e m , q u e e s ta v a tra b a

-lh a n d o . A p e s s o a q u e m e d e u o e m p re g o , a

d o n a F á tim a , c o n v e rs o u c o m e la , q u e e la n ã o

s e p re o c u p a s s e . E la p e n s o u q u e e u fo s s e e s

-tu d a r e -tu d o . L ó g ic o q u e n ã o e s tu d e i p o rq u e

n ã o tin h a c o m o , tra b a lh a v a d e n o ite e d o rm ia

d e d ia . N ã o ia c o n s e g u ir.

J u l i a n a - C o m o v o c ê c o n h e c e u m e s m o a d o n a F á tim a ? C o m o fo i o p rim e iro c o n ta to ?

I s a í a s - O p rim e iro c o n ta to fo i ... A n te s n ã o e x is tia o s u p e rm e rc a d o L a g o a ( p e r t o d a

C o r a ç ã o d e J e s u s , n o C e n t r o d e F o r t a le z a ) ,

e x is tia o X e p ã o . E u fic a v a la v a n d o o s c a rro s

e m fre n te . A tra v é s d is s o a í e u c o m e c e i. P e d ia

m e re n d a

à

e la , c o m p ra v a fia d o . C o m e ç o u a

a m iz a d e d is s o a í.

R a i a n a - E n tã o a n te s d e c o n h e c e r a d o n a F á tim a , c o m o e ra m o s s e u s d ia s n a p ra ç a C o

-ra ç ã o d e J e s u s ?

I s a í a s - D e d ia , la v a v a o s c a rro s ( e m f r e n t e a o X e p ã o ) e , d e n o ite , e u d o rm ia n u m a c a ix a

d e p a p e lã o d e g e la d e ira .

J o ã o V i c t o r - D o rm iu n a ru a ?

I s a í a s - D u ra n te u m m ê s , e u a c h o . A té a r-ra n ja r m in h a n o v a c a s a( r e f e r in d o - s e a o t e m p o

e m q u e I s a í a s p a s s o u a m o r a r n o V e r a n e io ) .

R a n n i e r y - V o c ê s e n tia s a u d a d e s d e c a s a ? I s a í a s - C h o ra v a d e m a is , A v e M a ria ! R a n n i e r y - V o c ê n ã o tin h a v o n ta d e d e v o l-ta r p a ra S a n l-ta Q u ité ria ?

I s a í a s - M a s c o m o ? C h e g a r a li é fá c il, v o l-ta r é q u e é d ifíc il. À s v e z e s e u fic o im a g in a n d o

c o m o D e u s fo i b o m p a ra m im ... M u ito b o m !

P o rq u e tin h a tu d o p ra te r m o rrid o , te r m e p e

r-d ir-d o , te r fic a r-d o lo u c o , d o id o , a lg u é m te r m a

-ta d o . N ã o é fá c il, n é ? L e m b ro q u e tin h a u m a

IS A íA S C O S I 3 7

Ig o r, d a e q u ip e d e p ro d u ç ã o , c o n s e g u iu fa -la r p e -la p rim e ira v e z c o m a s e c re tá ria p o r te le fo n e . A p re s s a d a , e la p e d iu q u e a e q u ip e e n v ia s s e u m e -m a il, e x p lic a n d o o p ro je to d a R e v is ta E n tre v is ta .

o p rim e iro c o n ta to p e s s o a l c o m A lz ira fo i re a liz a d o n o d ia 1 3 d e s e te m -b ro d e 2 0 1 1 n a s e d e d aA3

(7)

A equipe de produção esperou cerca de uma hora para ser recebida pela secretária do Isaías. O motivo da espera, se-gundo a recepcionista da A3, é que ela estava em

reunião.

Após quase uma hora de espera, fomos chama-dos para entrar na sala de Alzira. Durante a conver-sa com a equipe de pro-dução, ela recebeu várias ligações para o celular e sempre interrompia a conversa com a dupla Igor e Juliana. Numa dessas chamadas, Alzira conversou com uma mu-lher sobre ser necessário comprar fraldas para uma criança e fazer um "teste-zinho" de DNA.

boate de "veado" lá nessa praça

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(do C oração de Jesus), que era tanta confusão! Rapaz, era

tanta briga de madrugada. Você via muita coi-sa errada. Então eu tinha tudo para ser um dro-gado hoje, um "cheirador de cola", ter passado a roubar.

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

J u lia n a - Você nunca roubou, nunca chei-rou cola?

Is a ía s - Nunca. Nunca usei nenhum tipo de droga na minha vida. E, aliás, eu convivia com gente que usava droga, que cheirava aquelas latas de cola. Na verdade, hoje, se eu pudesse retribuir tudo o que aquela mulher (dona F áti-m a) fez por mim, eu faria. Só que se você me perguntar onde ela mora hoje, eu não sei. Já tentei encontrá-Ia. Na verdade, aquilo foi um anjo que Deus botou na minha vida. Se não fosse ela, não sei o que seria de mim hoje.

R a ís s a - Você disse que, dois anos depois de dormir no Veraneio de dona Fátima, seu irmão Juvenal o encontrou. Como ele conse-guiu achá-Io?

Is a ía s - Por coincidência, a dona Fátima morava na Aerolândia, numa rua pertinho de onde meu irmão morava. Aí fui morar com ele, porque ele já trabalhava em Fortaleza há mui-to tempo. Não lembro muimui-to bem. Sei que ele

(Juvenal)foi para onde eu estava.

N a y a n a - Como era a convivência com ele?

Is a ía s - Muito boa. Muito ruim (era com )

minha cunhada. Minha cunhada era ruim, muito ruim. Essa judiou comigo de verdade. Meu irmão ia trabalhar, aí ela trancava a te-levisão, leite, tudo dentro do guarda roupa. Se eu chegasse tipo dez horas (da noite), ti-nha que dormir no meio da rua. E hoje é uma pessoa que eu ajudo muito. Meu irmão fale-ceu, e a filha dela eu adotei como minha. O colégio dela, quem ajuda tudo sou eu.

R o b e r t a - Na época que você morava com o seu irmão, você trabalhava em algum lugar?

" E u e r a u m b o m

v a q u e ir o .

E r a u m

v a q u e ir o

m e s m o !

N ã o

é

e s s e v a q u e ir o

d e v a q u e ja d a

n o r m a l

q u e a g e n t e v a i

a s s is t ir . E r a v a q u e ir o

d e a m a n s a r

c a v a lo

b r a b o " .

Is a ía s - Trabalhava numa metalúrgica. Comecei num negócio desmanchando sofá e depois fui trabalhar com ele (o irm ão Juve-na/). Ele era meu gerente na empresa em que ele trabalhava, uma metalúrgica.

J u lia n a - Isaías, depois você saiu da casa do seu irmão, o Juvenal, e voltou para Santa Quitéria. Por quê? Por que deixar Fortaleza?

Is a ía s - Houve um corte na empresa que eu trabalhava, que era na metalúrgica. Fiquei muito tempo desempregado. Aí fui para San-ta Quitéria (porque) tinha um serviço para fa-zer. Aí meu pai mandou eu ficar. Fiquei acho que um ano.

J o ã o V ic t o r - Isaías, como foi voltar para Santa Quitéria, já que Fortaleza representava um ideal de crescer, de subir na vida?

Is a ía s - Quando cheguei lá (em S anta O uitérial, senti muito mais saudade daqui (de F ortaleza) do que de quando saí de lá (S an-ta O uitéria) para cá. Parece que Fortaleza me chamava de qualquer jeito: "Venha, seu futu-ro está aqui!".

P e d r o - Quando você voltou para Santa Quitéria, do que você sentia falta exatamente de Fortaleza?

Is a ía s - Acho que gostei de ter morado aqui porque, depois das dificuldades que passei quando cheguei aqui com 1 1 , 1 2 anos de idade, comecei a trabalhar na metalúrgi-ca, a trabalhar nessa empresa de sofá ... Co-mecei a ganhar dinheiro, não morava mais na rua, já tinha uma vida bem melhor do que a do interior. Por mais que você ganhe pouco numa cidade, e que dê pra você viver, mes-mo sobrando pouco, é muito melhor do que você morar no interior. Porque existe cidade de interior que você mora, mas tem confor-to. Agora, você morar no interior do interior, como eu morava ... Quando você vem para a cidade, sente o gostinho de morar na cidade e quando vai para um negócio daquele (in-terior), não quer mais ficar. Só se for amar-rado.

J o ã o V ic t o r - Isaías, você teria citado em uma entrevista que foi vaqueiro em Canindé

(m unicípio a 100 quilôm etros de F ortaleza)

ainda na sua adolescência. Como foi a expe-riência? Como chegou em Canindé?

Is a ía s - Não (foi) em Canindé, foi Santa Quitéria. Nunca fui vaqueiro em Canindé, fui vaqueiro em uma fazenda do coronel Miran-da durante uns oito ou nove meses.

J o ã o V ic t o r - Como foi a experiência de ser vaqueiro?

Is a ía s - Boa, porque minha família toda ... Meu pai era vaqueiro, meus tios eram va-queiros. Não era muito difícil porque já esta-va no sangue.

J u lia n a - Mas, se você disse ter sido mui-to bom como vaqueiro, por que deixar?

(8)

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Is a ía s -

utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Dentro de mim, acho que não era aquilo que queria. Se você me perguntar qual

a explicação para eu chegar até aqui, não sei dizer. Foi tudo muito rápido. Aconteceu.

Ig o r - Dava pra ganhar bem como vaqueiro?

Is a ía s - Não. Se ganhava por diária.

Na-quela época, (o

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salário) era três reais ou dois reais por dia. Tinha que cortar capim, dar

comida às vacas, campear, dar água. Não era fácil não.

R a ís s a - Como foi fazer esse trabalho de vaqueiro já que você comentou que não gos-tava de trabalhar com a roça?

Is a ía s - Muito ruim! Você abraçar uma touceira de capim ... Não desejo para nin-guém, não.

É

tanto que vou no interior (de S anta O uitéria) ver meus primos e dá uma pena, viu! Os coitados com os pés "tudo" ra-chados. Ave Maria!

J u lia n a - Isaías, falando sobre a vinda de vez para ficar em Fortaleza, quando você co-nheceu a mãe do seus filhos (Â ngela de C al-das), você tinha que idade?

Is a ía s - Nessa época, acho que era 17 anos.

Ig o r - Como vocês se conheceram?

Is a ía s - Numa pracinha da Aerolândia. A Aerolândia tinha uma feirinha. Aí a gente se conheceu e passou a namorar. Ela sabia que eu tinha que ir embora, que não tinha como ficar aqui (em F ortaleza). Foi quando ela teve a ideia de me apresentar à mãe dela e pedir pra eu morar na casa dela. Só eram sete mu-lheres. Aí a mãe dela "pegou" e disse: "Pron-to, a partir de hoje, você vai ser o homem da casa".

J u lia n a - Você passou a morar com ela

e com a família dela. Como foi essa nova vi-vência em Fortaleza?

Is a ía s - Ela era professora e estava de-sempregada. Eu fiquei desempregado. Co-nheci uma menina na Aerolândia, a Ritinha. Por coincidência ... Olha o meu destino, (ela era) sobrinha da Rita de Cássia (cantora e com positora de forró. T em m ais de 350 m úsi-cas com postas sem parceria que já foram to-cadas pelas m aiores bandas de forró). Maior coincidência do mundo! Olha para onde a coisa está me puxando. Ela morava em Flo-res (distrito do m unicípio de R ussas, a 180 km de F ortaleza). O pai dela foi convidado

para tomar conta de uma granja de galinha aqui do Emanuel Gurgel (dono da em presa S om Z oom S A T , produtora criada em

1991

e responsável pela criação da indústria do for-ró eletrônico). Olha só! Um dia ela me ligou dizendo que tinha chegado, que estava mo-rando em Fortaleza. Eu fui lá vê-Ia. Por coinci-dência, o Emanuel Gurgel chegou para dar a notícia de que o pai dela tinha sido preso em Alto Santo (m unicípio cearense localizado na região do B aixo Jaguaribe, a

241.1

km de F ortaleza). Ele tinha cometido uma morte lá. Foi visitar a família dele e foi preso. O Ema-nuel Gurgel olhou para mim e disse assim: "Tu está fazendo o quê da vida?" Eu disse: "Estou parado". "Pois fique aqui cuidando da Granja até o pai dessa menina vir.".

Foi aí que começou. Cheguei na granja, estava tudo muito sujo. Limpei tudo, fiz tudo bonitinho e tal. Acho que ele gostou do tra-balho que fiz lá e, depois de dois meses, o "Seu" Zé /pai da R itinha, sobrinha da R ita de

/SAíAS COS

I

39

A/zira queria marca a entrevista o mais rápido possível. Segundo e/a, quanto mais rápido fosse realizada, maior seria a chance de conseguirmos entrevistar lsaias, por ele ser muito ocupado.

(9)

No dia marcado para as pré-entrevistas com a família, a equipe de pro-dução ligou várias vezes para a secretária do Isaías para confirmar o encon-tro, e ela não atendeu a nenhuma das ligações.

Mesmo assim, Julia-na, da equipe de produ-ção, insistiu para que a dupla fosse até o aparta-mento do Isaías, uma vez

que o endereço da casa dele havia sido repassado por Alzira na semana an-terior. Juliana enviou uma mensagem para o celular no caminho para a casa dele com os seguintes di-zeres no fim: "Até já!".

"Ouando

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

v o c ê

c o n v iv e

m u it o

c o m

o s a lt o s ,

v o c ê

a m a d u r e c e

r á p id o . A m in h a

v id a s e m p r e

f o i m u it o

r á p id a .

C o m

1 1 a n o s , q u e r ia

a v id a

d o s a d u lt o s " .

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C ássia)foi solto. Fiquei vindo para cá (antiga sede da S om Z oom

e

atual sede da A 3 E n-tretenim ento, na R ua H eróis do A cre, 500, no bairro P assaré) 20 dias, todo dia, sentado nessa recepção ali, e nada dele me atender. Quando foi um dia, diz ele que olhou assim e me viu, por uma aberturazinha ... Aí me man-dou entrar. Ele disse: "Olhe, no momento, só tenho isto aqui (na S om Z oom ): você lavar os ônibus e limpar aqui. Você vai fazer serviços gerais". Aí comecei a trabalhar de zelador, neste mesmo prédio aqui (da A 3 E ntreteni-m ento). A SomZoom era aqui. Depois de três anos que eu era zelador, a menina que fazia o café para ele faltou. Ele (E m anuel G urgel)

perguntou: "Você sabe fazer café?" Eu dis-se: "'Vou tentar." Aí eu fiz ...O melhor café da

minha vida!. (R isos). No outro dia, a Lucinha

(m ulher do café) chegou, e ele (E m anuel G urgel) disse: "Lucinha, vá trabalhar com mi-nha irmã na confecção, que quem vai fazer meu café agora é o Isaías." Passei, juntando tudo, sete anos. Três anos (ficava) fazendo café para ele. Passava o dia todo atendendo muita gente, fazendo o café dele ... Ele acha-va bom demais. Era para eu chegar todo dia 5 horas da manhã. Eu morava na favela aqui pertinho, no Barroso 11(bairro de F ortaleza que fica próxim o à sede da A 3 E ntretenim en-to, no P assaré),chegava todo dia às 4h45. Ele botou um cara aqui, um gestor chamado "Seu" Odilon. Quando tiveram algumas reu-niões, meu cartão era de exemplo de funcio-nário que cumpria o horário para as pessoas que chegavam atrasadas. Era conhecido aqui como "babão". "Rapaz, se jogarem o Ema-nuel Gurgel dentro da piscina, o Isaías morre logo afogado" (R isos).Eu gostava de agradar o cara. Ele me tratava muito bem e me tra-tava do mesmo jeito que trata hoje. Mesmo jeitinho, não muda nada. Aí, no lugar de eu

ir embora às quatro (horas) da tarde, ia fazer entrega de disco na T ok Discos (em presa de venda de C D s e D V D s, que fechou a últim a loja no C entro de F ortaleza em 2008, após 33 anos de existência), na Aki Disco (loja de venda de C D s de F ortaleza que fechou por conta da pirataria).

Aqui (na S om Z oom ) vendia um milhão de CDs por mês. Aí eu ia para o aeroporto, para as transportadoras, para ganhar hora extra. Quando foi um dia ... Houve uma discussãozi-nha besta aqui. Aí mandaram "bater" midiscussãozi-nhas contas. Nunca fui de levar desaforo para casa. Em nada. Só se eu estiver errado. O Emanuel Gurgel tinha mania de não atender ninguém. Ele só tinha um defeito: se você chegasse e contasse uma história para ele, só valia aquela história. Quando outra pes-soa vinha e contava outra versão, aí ele vinha e passava a mão na barba dele, que era gran-de ... Fazia assim (lsaías estica osbraços para frente com as m ãos espalm adas e abaixa a cabeça), não deixava você falar nada. Eu já sabia, que assistia tudo lá dentro. Empurrei a porta dele, que quebrou o trinco! Ele passou a mão na barba e fez assim ...(lsaías repete o

gesto feito anteriorm ente). Fui falar a minha versão, e ele escutou. Ele chamou o Evan-dro Carneiro, que era o gerente daqui, que hoje é meu gerente, e disse: "Olha, Evandro, ele pode ter todos os defeitos, mas ele é o único que trabalha aqui. Você sabe disso." Aí ele (E vandro C arneiro) disse: "Tá bom!" Ele(E m anuel) disse: "Vou dar outra chance, mas, se ele pisar na bola, vai você e ele vai pra fora."

J u lia n a - Mas você pisou na bola? O que foi que aconteceu?

Is a ía s - Não, não tinha pisado na bola. Os discos chegavam aqui ... Não chegavam em-balados como vem o CD normal hoje ...Vinha

"De

c r e s c e r ,

s e m p r e

s o n h e i.

D e s d e

q u e

c o m e c e i

a m e e n t e n d e r

n a m in h a

v id a , v ia a

v o n t a d e

q u e a m in h a

m ã e t in h a d e m o r a r

n a

c id a d e .

V i q u e e la n u n c a f o i f e liz " .

(10)

capa, caixinha vazia e a bolacha. A gente ti-nha que colocar a bolacha, encapar tudinho

e plastificar. E

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(nisso) trabalhavam 17 mulhe-res. Uma dessas meninas, a Raquel, veio de

costas e achou que eu tinha "pinado" nela ... Ela tacou a mão na minha cara. Então, do

jei-to que ela bateu, eu revidei.

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R a ís s a - Você revidou como?

Is a ía s - Não sei se dei um tapa nela ou se empurrei. Fiz alguma coisa que ela achou ruim. Um tapa sei que levei. E grande, viu?!

(risos)

J u lia n a - Isaías, todo esse crescimento na S om Z oom e a confiança do Emanuel em você só foi possível porque você conheceu a Ritinha, sobrinha da Rita de Cássia, não foi?

Is a ía s - Foi. Falo nela direto. Étanto que o marido dela fica brigando com ela, por causa desse negócio que fico falando direto nela,

(m as) tenho que falar dela, né? (risos)

J u lia n a - Mas como foi a relação com ela?

Is a ía s - A gente namorou. Assim, eu era "junto" (com a prim eira m ulher, Â ngela) e namorava com ela. Passei com ela, acho que uns três anos. Eu mentia para ela (R itinha). Di-zia que não tinha namorada, nem a mãe dos meus filhos e tal. Ela acreditava. Na verdade, nunca amei a mãe dos meus filhos. Me juntei com ela por necessidade. Étanto que hoje, o carinho que eu tinha por ela quando era junto é o mesmo. Ela foi uma pessoa muito impor-tante na minha vida e vai ser. Por dois motivos: por ter me dado uma chance e por ter me dado meus dois filhos maravilhosos.

Ig o r - Isaías, desde que você começou a trabalhar na granja do Emanuel Gurgel, você almejava chegar ao cargo de gerência na

S om Z oom ?

Is a ía s - Não. Achava que ia passar a vida aí zelando, lavando os ônibus, sendo zelador. Mas lógico que todo mundo tem o pensamen-to de crescer na vida. Todo mundo tem. Como saí de Santa Ouitéria com um pensamento ... Eu queria ... Ajudar sempre os meus pais. Sempre pensando nisso. Étanto que o dinheiro que eu pegasse, sempre com o pouco que ganhava, mandava para a minha mãe. Sempre falo: o fi-lho que ajuda a mãe sempre recebe em dobro. Acho que tudo que eu fazia para ela recebia em dobro.

É

tanto que o primeiro dinheiro que ganhei na minha vida vendendo CDs, que foi sete mil reais, comprei a primeira casa da mi-nha mãe em Santa Ouitéria. Em seguida, com 15 dias depois, eu com o Evandro Carneiro, a gente vendeu 40 mil CDs. Ganhei três vezes mais daquele dinheiro que eu tinha comprado a casa da minha mãe.

Ig o r - E hoje, se você pudesse definir o que é Emanuel Gurgel na sua vida, o que é que ele representa?

Is a ía s - Emanuel Gurgel? Um pai, um

ami-go, um professor. Um cara em que me espe-Ihei muito nele.

J o ã o V ic t o r - O que foi que o Emanuel Gurgellhe ensinou?

Is a ía s - O Emanuel não me ensinou, não, eu aprendi com ele. De tanto eu estar ali na sala, vendo ele escolher música, atendendo o povo O forró estava todo tempo em evidên-cia ali O Emanuel Gurgel foi o responsável

"Chequei

a p e d ir

e s m o la

p a r a c o m e r .

D u r a n t e

u m m ê s ,

d e d ia la v a v a o s

c a r r o s e , d e n o it e ,

d o r m ia

n u m a c a ix a

d e p a p e lã o

d e

g e la d e ir a " .

ISAíAS COS

I

41

Ao chegar ao prédio de Isaías inseguros se daria certo a empreita-da, o porteiro informou à equipe de produção que Isaías havia ido correr na avenida Beira Mar. Ao interfonar para o aparta-mento do entrevistado, o porteiro avisou que a mãe de Isaías havia informado não saber da pré-entre-vista.

A equipe de produção esperou, cerca de 20 mi-nutos, Isaías voltar da ca-minhada. Eles ficaram no espaço entre os dois

por-tões de entrada do

(11)

Após algum tempo de espera, o Igor, da equipe de produção, avistou um carro com um grande

adesivo colado doAviões

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

d o F o rró e logo falou ao

porteiro: "Esse é o car-ro do Isaías. Avisa que a gente está aqui".

o primeiro contato pessoal com o Isaías foi feito no pátio do prédio em que ele mora. Ele cumprimentou a equipe de produção e convidou para subir ao apartamen-to dele, para realizar as pré-entrevistas.

pelo grande crescimento do forró. Esse mérito ninguém pode tirar dele, porque realmente o Emanuel Gurgel foi o cara que fez o forró ser diferente.

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

J o ã o V ic t o r - Mas o fato de você estar aqui dentro da S om Z oom S at, naquela época, era diferente de uma pessoa que ouvia forró na rádio. O que você enxergava no forró que as outras pessoas não enxergavam?

Is a ía s - Acho que de tanto conviver com aquilo ali, naqueles estúdios ... Ele ainda ficava me fazendo pergunta: "O que é que tu acha dessa música aqui?". Fui me envolvendo com aquilo e já passei a sonhar em ter banda. É tan-to que, quando saí daqui, que fui trabalhar na

A M P rom oções (A M P rom oções A rtísticas e P ublicidade, em presa do em presário A ssis M onteiro responsável por algum as rádios de F ortaleza e pela prom oção de festas ligadas ao forró), ser vendedor de disco, passei a mon-tar uma sociedade com outra banda. Passei a ser dono de uma banda chamada G aviões do F orró (B anda de forró criada em

1994,

em F ortaleza, com o nom e de F orró B aião. E m 1998, passou a se cham ar G aviões do F orró).

Na época, era F orró B aião, e transformei em Gaviões. C heiro de M enina (banda de forró criada em m eados de

1999

cujo vocalista e proprietário é o cantor V icente N ery), eraE s-trada do S om , a gente transformou em C hei-ro de M enina. Fui o responsável pelo sucesso dessas três bandas naquele tempo. Então, as-sim, aí foi onde passei a seguir os passos do Emanuel Gurgel.

Ig o r - Isaías, você foi zelador, depois o ho-mem do cafezinho. Como foi esse salto para já chegar ...?

Is a ía s - ... Bom, vamos lá. Do café, passei a ajudar o Evandro a separar os discos, a

arru-mar e a fazer as entregas. Quando foi um dia, o Evandro chamou o Emanuel e disse que não achava justo, porque eu estava ganhando pou-co pelo que eu fazia. (OE vandro perguntou ao E m anuel) por que não me tirava do café e da limpeza e colocava só lá com ele (com o E van-dro). Foi o que o Emanuel fez. Me deixou traba-lhando só nos discos, separando, arrumando. Aqui era disco demais! Aí fiquei. Separava os discos, arrumava, separava os pedidos, qua-tro horas carregava o caminhão e ia fazer as entregas nas transportadoras, nos aeroportos, nas lojas. Quando foi um certo dia, chegou o Assis Monteiro (em presário dono da A M P ro-m oções): "Evandro, preciso de um homem de confiança para vender os CDs dos B rasas do F orró (banda de forró criada em m eados de 1989 sob a liderança do sanfoneiro Ivanildo M oreira.

O

repertório é voltado para o forró

'\,

liA s v e z e s f ic o

irnaqinando

c o m o

D e u s f o i b o m

p a r a

m im .

P o r q u e t in h a

t u d o

p r a t e r m o r r id o ,

t e r m e p e r d id o ,

t e r

f ic a d o

lo u c o , d o id o ,

a lg u é m

t e r m e

m a t a d o " .

(12)

pé de serra e para o ritm o gaúcho V anerão)".

utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Aí o Evandro disse: "Está aqui o homem certo".

(F alando) comigo. Aí ele (A ssis M onteiro) per-guntou: "(V ocê) tem onde guardar os CDs?". Eu disse:

"Tem,

tem". Foi quando, como você falou, (dei) um grande salto. Fui para A ki D is-cos. Na época, não existia essa pirataria que tem hoje. A gente foi lá, e vendi sete mil CDs. Na verdade, não fui nem eu, foi o Evandro. Fui só entregar. A gente ganhava um real por CD. Então sete mil (C D s)dava dinheiro. Ele deu a minha parte. Aí chegou o Luizinho de Irauçu-ba (sanfoneiro e com positor de m úsicas de forró que nasceu na cidade de Irauçuba, na região N orte do C eará). Disse que tinha ga-nhado um patrocínio de 16 mil CDs. Aí ele (o

E vandro) disse: "C om o é que você faz isso, Luizinho, para mim?". Ele disse: "Faço para você a três reais (o C D )". Aí o Evandro ligou para a Aki Discos, para a Tok Discos, e vendeu a dez reais. Aí ele (E vandro) chegou para mim e disse: "Isaías, eu não acho justo você fazer o serviço pesado, e eu lhe dar 10% e ficar com o restante. A partir de hoje, vou lhe dar 50%". Aí liguei para um amigo meu: "Vem cá, 50% é maior que 10%?" (risos). Lembro como se fosse hoje. Nesse dia, acho que ganhei uns 34 mil reais. Passei acho que uns cinco dias sem dormir, contando esse dinheiro toda hora ...

(risos) Para saber se dava para comprar uma casa. Aí foi quando comprei a minha primeira casa. Primeiro a casa para minha mãe em San-ta Quitéria. Aí pronto: todo mundo começou a me ligar para vender os discos. Começou a se espalhar que eu era um bom vendedor. Só vim comprar uma casa para mim quando comprei uma casa para cada um dos meus irmãos. Tirei

todos do aluguel, todos.

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R o b e r t a - De onde surgiu então essa ideia

de distribuir gratuitamente os CDs?

Is a ía s - Quando eu tinha uma parceria com o Vicente Nery (vocalista e proprietário da banda de forró C heiro de M enina), eu já dava CD para fazer média com ele. E quem fez o nome "Isaías CDs" foi o Vicente Nery. Ele liga-va: "94847671: ligue para o homem dos CDs, Isaías CDs!". Isso foi pegando. Eu dava de cai-xa de CD e dizia que tinha sido o patrocinador, essas coisas. Foi assim que eu comecei. Lógi-co, naquela época, todo mundo vendia CD. No ano que acabou a sociedade com a G aviões (do F orró), que eu fiquei divulgando CD e dan-do disco, percebi que não vendia mais disco. A pirataria tomou conta de tudo! Eu disse: "Ago-ra vou dar. Pi"Ago-rateiro não vai ter vez comigo, não. Vou dar CD!".

J u lia n a - E como foi que surgiu a ideia (de distribuir C D de graça)? Viu em algum lugar?

Is a ía s - Não. É porque eu percebia que o CD é uma moeda que vai e volta. Se o cara escuta o CD e gosta da banda, esse CD vai

" D e p o is

d e tr ê s a n o s

d e z e la d o r , a m e n in a

q u e fa z ia c a fé fa lto u .

E le p e r g u n to u :

'S a b e

fa z e r c a fé 7 '. E u

d is s e : 'V o u te n ta r .'

F iz o m e lh o r c a fé d a

m in h a v id a I"

voltar na bilheteria. Arrumei muita confusão com meus sócios. Eram umas brigas gran-des porque eu dava CD, e eles não queriam. Eles achavam que, na época, o CD dava um pouquinho de lucro. Hoje não dá mais. Hoje todo mundo dá CD.

J o ã o V ic t o r - Grande parte do sucesso dos empreendimentos do Emanuel Gurgel foi por causa da venda de CDs. Mas ...

Is a ía s - ... Porque, na verdade, o Emanuel Gurgel foi o cara que lançou, realmente, o forró mais moderno e tudo. Mas o Emanuel não pegou realmente a melhor fase que ti-nha o forró. O Emanuel Gurgel plantou uma semente que nós estamos colhendo bem melhor agora ... Que hoje o forró tem outro valor .... Tem outra cara. As pessoas que achavam brega antigamente já não acham hoje. Acredito que o forró vá muito mais lon-ge ainda.

Ig o r - Isaías, como a experiência na

S om Z oom ajudou hoje no seu trabalho como empresário?

Is a ía s - Tudo. A S om Z oom foi uma escola. O que não aprendi numa escola como vocês aprenderam e tiveram a oportunidade de estu-dar aprendi tudo, como escolha de repertório, vendo o Emanuel fazer ... Aprendi tudo vendo e fui guardando aquilo para mim: trazendo o que era bom e observando o que era errado.

É

tan-to que eu achava muitan-to feio a maneira dos mú-sicos do M astruz (com Leite, banda de forró criada em novem bro de 1990 em F ortaleza pelo em presário E m anuel G urge/) sairem da-qui para ir para São Paulo: uns com as roupas de um jeito, de bermuda ... Sempre me preocu-pei muito com o visual das bandas, com a ma-neira das dançarinas entrarem no palco. Acha-va muito feio aquelas dançarinas dos B rasas (do F orró), doF orró R eal (banda de forró cria-da há 18anos e hoje pertencente à em presa S ocial M usic), (que) entravam nuas no palco e as crianças vendo aquilo. Se você analisar o

ISAíAS COSI43

A equipe de produção ficou impressionada com o tamanho do apartamen-to do Isaías. Ele mora na cobertura de um prédio luxuoso no bairro Meire-les. em Fortaleza.

(13)

Os filhos do Isaías, En-derson, 17, e Everton, 13, falaram muito bem sobre o pai. Eles demonstraram ter orgulho do sucesso que Isaías conquistou.

Dona Raimunda con-tou que o filho era muito danado quando criança. O maior desejo dela hoje é que Isaías se case, pois, se-gundo ela: "Ele não vai me ter para sempre por perto para fazer as coisas".

meu balé do

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A viões (do F orró) e do

Solteirôes

(do F orró, um a das seis bandas da A 3 E ntre-tenim ento, liderada pelos vocalistas Z é C an-tor e T aty G ir/),elas vestem tipo um shortinho. São umas roupas bem comportadas. É sensu-al, mas não vulgar. Algumas bandas adotaram esse modelo que a gente lançou, que foi com

o

A viões do F orró.

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R a ís s a - lsaías, e qual foi a sua grande sa-cada para fazer essa mudança no forró? Foi a distribuição de CD? Foi essa nova roupagem que você deu

à

banda?

Is a ía s - Deus. Porque, se não fosse Deus, ninguém não chega a lugar nenhum. Como eu tive bons professores comigo, tentei ser um bom aluno. Não posso deixar de falar num cara que peguei com muita experiência, que já vivia, que praticamente cresceu na banda, que foi o "Carlirn", Carlinhos Aristides

(C arlos A rístídes é um dos sócios do Isaías na A 3 E ntretenim ento e é filho do outro sócio da em presa, do Z equinha A ristid e si, um cara com muita experiência, com uma cabeça muito boa. E o Zequinha (E zequias A ristides, um dos três sócios da A 3 E ntretenim ento ao lado de Isaías), que já era um cara com uma experiência enorme.

R a ís s a - Mas qual foi a grande sacada?

Is a ía s - Um forró moderno. A gente ten-tou fazer uma banda diferente do que já exis-tia. Eu e o Carlim {A ristidesl, nós já viemos de festas, a gente observava muito. A gente tentou fazer uma banda que não atingisse só as pessoas mais velhas ... Os jovens, as crianças, tudo. Se você pegar o primeiro CD do A viões ...A gente sempre fala que aque-le terceiro CD é como se fosse o do C hicle-te com B anana (banda de axé m usic criada

na década de 1980. A té hoje, é considerada um as das bandas de axé de m aior sucesso).

OC hiclete com B anana vocês veem que não tem uma música nova, mas todo mundo gos-ta, né? Então, para mim, oA viões do F orró é o C hiclete com B anana. Acho que oA viões

deu outra cara ao forró.

M a r ia n a - Você tem uma relação afetiva maior com o A viões do F orró por ser a sua primeira banda?

Is a ía s - Na verdade, tenho todos como filhos. Eles gostam muito de mim. Mas o Alexandre (C onhecido com o X and, é o voca-lista da A viões do F orró) me chama de pai. A gente tem uma coisa muito forte. Entre eu e ele. É de pai para filho mesmo. A So-lange (vocalista da banda A viôes do F orró, ao lado do X and) era uma mulher muito di-fícil. Hoje posso dizer que a Solange é um anjo. Ela era muito difícil com todo mundo. Com todo respeito, ela dava "patada no pé do ouvido" de muita gente aí. Mas comigo ela sempre foi uma pessoa muito educada, muito gente boa, com um respeito enorme. Zé Cantor {vocalista da banda

Sotteirôes

do F orró, um a das agenciadas pela A 3l, nem se fala. Zé Cantor ... Não nasce mais um cantor igual a ele. Tanto como pessoa, quanto como cantor. Samira (vocalista da banda F orró dos P lays, um a das bandas agenciadas pela A 3)

foi uma mulher muito difícil. Mas hoje é urnc grande mulher. A Samira hoje conversa, an-tes não. Anan-tes só queria saber de dinheiro, de farrear. Hoje acho que isso na vida dela não existe mais.

J u lia n a - No começo daA viões do F orró.

a Solange, vocalista doA viões, era diferente do padrão que você dizia que via nos shows

(14)

110

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p r im e ir o d in h e ir o

q u e g a n h e i n a m in h a

v id a v e n d e n d o

C D s ,

q u e f o i s e t e m il r e a is ,

utsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

.

.

.

c o m p r e i a p r im e ir a

c a s a d a m in h a m ã e

e m S a n t a O u it é r ia " .

de forró: era uma mulher gordinha. Por que investir numa cantora ...?

Is a ía s - ... Eu fui muito criticado por causa disso. Era muito fã da Solange. E criei proble-mas com meus sócios, muito problema. Mas eu via, quando a Solange cantava duas

mú-sicas no

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C aviar (com R apadura, banda cria-da em

1996

pelo Z equinha A ristides, um dos

sócios de Isaías hoje na A 3.

O

nom e C aviar com R apadura significa a m istura e a união entre o rico e o pobre) ou duas na banda G

(banda em que S olange cantou antes do A vi-ões do F orró), a reação do público com ela. A voz dela era muito gostosa, ela agradava o povo. E o povo dizia: "Tu vai para onde com esses dois gordinhos feios desse jeito? Esse avião vai cair, ele vai cair!", o povo dizia. (ri-sos da turm a) Realmente eram muito gordos os dois. O Alexandre não era muito gordo, veio ficar depois. Então, foi porque tinha que ser. Tinha que ser.

Ig o r - Qual foi a grande sacada para aA vi-ões estourar no mercado?

Is a ía s - Repertório. Um bom trabalho. Porque, na verdade, a gente sempre traba-lhou para fazer daA viões do F orró uma ban-da grande mesmo. É tanto que eu trocava aqueles 200 reais e gastava 3 mil (reais) de roupa. Porque eu queria mostrar que a ban-da era grande. Acho que também a muban-dança que a gente fez, a valorização que a gente deu aos músicos. Eu ter colocado os canto-res como donos das bandas. Eles mesmos brigam pelas bandas. Antes, não. Antes, os cantores não queriam nem saber como toca-vam, se tocavam rasgado, queriam só o di-nheiro. Já agora não. Posso mandar o Xand amanhã para São Paulo com a Solange, ou pros Estados Unidos, e eles vão ter a mesma responsabilidade que eles estão tendo aqui comigo, porque eles também são donos. O próprio Emanuel (G urgel), que é um cara que respeito muito, disse que eu era um maluco quando dei 10% para a Solange e 10% para o Alexandre: "Esse homem é um maluco!".

Todas as bandas que tenho aqui na empresa

(A 3 E ntretenim ento), todos são meus sócios. Não são meus empregados, são meus par-ceiros. Acredito que por isso essas bandas dão tão certo. Porque, se não fosse isso, o Alexandre não estaria mais hoje no A viões do F orró. Nem a Solange. Eles receberam "500 mil conto" para ir para o C alcinha P reta (banda de forró eletrônico criada na cidade de A racaju, capital do E stado de S ergipe, em dezem bro de

1996.

H oje, é um a das grandes concorrentes da A viões do F orró no m ercado forrozeiro). Eles vão? Não vão. O Zé Cantor, mil bandas já chamaram ele. Samira também. Todos os cantores. Não vão porque, graças a Deus, vivem bem, ganham bem e aquilo (as bandas) também é deles.

Ig o r - Mas em que você acredita que o

A viões inovou no mercado de forró daquela época (2003)?

Is a ía s - Rapaz, começando pelos cantores. O Alexandre é um cara diferenciado. É uma

ISAíAS CDS

I

45

Durante a pre-enrre-vista com a família no apartamento do entrevis-tado, Isaías estava se ar-rumando para um evento social e apareceu só de calça jeans, descalço e sem blusa, para pergun-tar como estava a con-versa.

A entrevista com o Isaías CDs foi realizada na tarde do dia 6 de outubro de 2011 na sede da A 3

Entretenimento, empresa

(15)

No caminho para en-trevista, Juliana, da equi-pe de produção, almoçou dentro do carro do Igor, pois tinha saído do jor-nal atrasada por conta de uma pauta.

Os estudantes e o professor foram em qua-tro carros diferentes para a sede da A3, no bairro Passaré, em Fortaleza. No caminho, alguns deles se perderam.

diferença entre todos os outros cantores. O

Alexandre é um cara que, realmente, não é

só um cantor de forró. A Solange, da

mes-ma mes-maneira. E juntou o trabalho que a

gen-te fez muito bem feito: com repertório, com

conhecimento que a gente pegou ... Porque

peguei muitas pessoas boas para trabalhar

comigo, como o Cláudio NerikjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(cantor e com

-positor de forró), que é um cara já conhecido

no Brasil todo, como o Zequinha (Zequinha

A ristides, sócio), com a experiência dele. E Deus, lógico! Porque muita gente tentou

fa-zer uma banda tão grande como aA viões e

não vai. Como oC alcinha P reta, que já tentou

fazer duas bandas e não conseguiu, como o

Lim ão com M el (banda de forró pernam bu-cana criada em

1993.

A tualm ente, tam bém é um a das grandes bandas do m ercado do forró brasileiro),

o

M agníficos (B anda M agní-ficos, criada em

1995

na cidade de M onteiro, no interior do E stado da P araíba. Teve papel im portante na divulgação do forró na década de 1990). Eu tenho sete (bandas) e, graças a

Deus, (a A 3) não fica parada um dia.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

J u lia n a - AA viões do Forró foi a primeira banda de forró a tocar no carnaval de Salva-dor. Como é que surgiu a ideia? Vocês che-garam a ser recusados na primeira tentativa

de inclui-Ia na programação, vinham

tentan-do desde quantentan-do fazer com que fosse uma atração do carnaval?

.Is a ía s - A A viões - eu sempre falo que é uma coisa de Deus -, é uma coisa que não

tem explicação. Porque, com aA viões, nós

nunca pagamos para aparecer na televisão

e nunca nos oferecemos para ir em uma

televisão. Surgiu um convite do pessoal do

M ucuripe (M ucuripe C lub, boate localizada no C entro de Fortaleza) para nós fazermos o

Fortal (m icareta que ocorre há

20

anos em Fortaleza no fim do m ês de julho). A gente foi

"Liquei

p a r a u m

a m ig o

m e u :

JJVem

c á , 5 0 %

é

m a io r

q u e

1 0

%

? " .

N e s s e

d ia ,

g a n h e i

u n s 3 4 m il

r e a is . P a s s e i c in c o

d ia s s e m

d o r m ir ,

c o n t a n d o

e s s e

d in h e ir o " .

para oFortal. Os empresários do carnaval de

Salvador viram o sucesso que foi no Fortal e

convidaram a gente a comprar o espaço no

carnaval de Salvador.

J u lia n a - Isso foi em que ano?

Is a ía s - Minha filha, já faz quatro anos que

a gente toca lá, né? Acho que foi em 2006. Foi por aí. Então, com esse convite, a gente

con-seguiu um parceiro que comprou o espaço,

que foi aP icanha do O távio, que hoje é

par-ceira da casa inteira. E foi quando oA viões

co-meçou. Foi quando, no meio do ano, oA viões

"rasgou" e montamos outras bandas.

R a n n ie r y - Você passou ainda algum

tem-po agenciando aA viões do Forró sem ter

ain-da a A3 Entretenimentos ...

Is a ía s - ...

É,

pois é. Aí quando a gente

estava noP arque R ecreio (restaurante

locali-zado na A venida R ui B arbosa, em Fortaleza),

que criei o S olteirões do Forró, a gente

preci-sava de uma mãe para os filhos, né? Porque a

gente não pretendia ter só oA viões, nem só

oS olteirões. A gente via que o mercado pre-cisava de outros produtos. Até existia, agora eram muito mal cuidados. Como tem muita banda boa de forró aí que só é mal cuidada.

Todo mundo gosta de uma banda ... Forró

R eal, todo mundo gosta, mas tem coisa mais

desmantelada que o Forró R eal?

É

um

des-mantelo muito grande, não é? Se fosse uma banda bem cuidada, com certeza seria um

outro R eal, na minha opinião. Aí fiquei

pen-sando: "Meu nome é Antônio ...", A galera me diz que sou bom de nome. "Aristides" porque

tive de juntar, em um nome, pai (Zequinha

A ristides) com o filho (C arlos A ristides), por-que o pai tinha muito ciúmes do filho. "Aris-tides" pegava os dois, né? E, na época, tinha

um parceiro: André (A ndré C am urça. D esde

fevereiro de

20

t t,

não

é

m ais sócio da A 3 E n-tretenim ento). Aí foi alcunhado e fezA 3 E ntre-tenim entos.

P e d r o - Você falou bastante do diferencial

das bandas daA 3 em relação a outras bandas.

Entre A viões do Forrá, S olteirões do Forrá,

Forró do M uído eForró dos P lays, quais são as principais diferenças de uma banda para a outra, para que elas não fiquem parecidas no conceito?

Is a ía s - Se você pegar o CD doA viões, do

M uido, do

Solteirôes,

doForró dos P lays, do

B oca a B oca, doP é de O uro e do C aviar (ban-das que pertencem àA 3 E ntretenim ento) são

batidas completamente diferentes. A gente

tenta fazer um repertório completamente

di-ferente. São bandas que não tocam a mesma coisa, a pegada é uma coisa totalmente dife-rente, e os cantores cantam cada um com a sua linha. Se você for por aí, você vê quatro bandas cantando, mas é o mesmo repertório, a voz é a mesma, uns copiando os outros ...

(16)

AquikjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(nas bandas da A 3) não, aqui não tem isso. O Zé Cantor tem a sua identidade,

Ale-xandre tem a dele, Samira tem a dela. As

me-ninas do M uído (cantoras e irm ãs S im one e

S im ária M endes) têm as delas, a Solange tem

a dela. Então, são coisas bem distintas.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R a ia n a - Você falou, anteriormente, que

está num momento melhor do forró do que o Emanuel Gurgel estava. O que você fez de di-ferente em relação ao Emanuel Gurgel? Você

acha que contribuiu para o forró estar num

momento melhor agora?

Is a ía s - Na verdade, me sinto, sim, res-ponsável. Porque consegui, junto com meus

sócios, a partir da A viões do Forrá, quebrar

todas as barreiras que existiam. A gente já

tocou em muitos locais que nenhum

forro-zeiro tinha alguma vez pisado lá dentro. Acho

que o A viões valorizou o forró no geral

por-que, se você analisar, a banda hoje está, em

vários eventos que ela entra, praticamente

quebrando: como oC riança E sperança (cam

-panha que estim ula a doação de recursos para crianças e adolescentes, prom ovida pela R ede G lobo de Televisão em parceria com a U nesco - Ó rgão da O N U para a E ducação, a C iência e a C ultura), o carnaval de Salvador,

uma micareta doFortal, oM ucuripe, em que

nenhuma banda de forró tocava lá... A gente quebrou todas as barreiras e valorizou muito

o mundo do forró. Hoje, oA viões é uma

ban-da que está no mesmo patamar do C hiclete

(com B anana), em questão de cachê, de uma

A sa (de Á guia, banda de axé criada em 1987),

com quem a gente já troca parceria. Em um evento, é 50% para um e 50% para outro. Lógico que não é o mesmo que um parceiro

local, em que (a divisão) é 33% a 33%. Então,

o Aviões valorizou. Uma banda que ganhava

1 mil reais, hoje está (ganhando) R$ 10 mil.

Quem era R$ 10 mil, está (ganhando) R$ 20

mil. Quem era R$20 mil, está R$30 mil. Todo mundo foi junto nessa.

R a ia n a - Mas como você conseguiu

valo-rizar o forró e no que foi diferente em relação ao que Emanuel Gurgel trouxe?

Is a ía s - É que assim, antigamente, o forró

tinha muitas barreiras! A gente, aos poucos,

foi quebrando. Às vezes, a gente até brinca

que o A viões deixou de ser uma banda de

forró. Se eu dissesse que, a partir de hoje, a

A viões vai ser uma banda de axé, você conse-guiria fazer uma banda de axé. Até pelos dois

cantores que eu tenho. O(sucesso do) A viões

do Forró foi porque a gente valorizou a banda. Fez com que as pessoas não vissem o

Avi-ões como uma coisa pequena. Porexem plo, a

primeira coisa que fiz? Foi acabar com aquele

negócio de que só dono de casa (de forró) é

que ganhava dinheiro e não banda de forró.

Um dia fui tocar no S iqueira C lube (casa de

forró localizada no bairro S iqueira, em Forta-leza) com o dito Assis Monteiro, coloquei 16 mil pessoas, e ele me deu R$ 350. Dava para

ISAíAS COSI47

o primeiro local onde a entrevista iria ocorrer seria a sala do Isaías. Pos-teriormente, no entanto, o entrevistado sugeriu que todos mudassem para a sala de reuniões da em-presa, onde a entrevista aconteceu.

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