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Da Produção Tradicional à Agricultura Científica: O algodão colorido na Cidade de Campina Grande-PB.

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Academic year: 2021

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Da Produção Tradicional à Agricultura Científica: O algodão colorido na Cidade de Campina Grande-PB.

Rafaela Fernandes e Silva Email: silva.rafageo@gmail.com Universidade Federal da Paraíba Doralice Sátyro Maia Email: doralicemaia@hotmail.com Universidade Federal da Paraíba Rogério Silva Bezerra Email: rogeriocubano@yahoo.com.br Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba

Introdução

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décadas do século XX, a cultura do algodão, associada à pecuária bovina constituem as duas principais produções que incrementaram a dinâmica econômica do município e, por conseguinte, da cidade. Assim, é fato que em todo o processo de urbanização de Campina Grande, os maiores incrementos se deram nos ápices da economia algodoeira.

Mais recentemente as novas relações entre a cidade e o campo são desencadeadas pelas necessidades do consumo produtivo agrícola, que tem crescido mais rapidamente do que o consumo consumptivo. Tal crescimento vem ocorrendo devido ao desenvolvimento de uma atividade agrícola baseada na tecnologia, na ciência e na informação, sofrendo assim, os reflexos do avanço, no campo, do meio técnico-científico-informacional (SANTOS 2001). A partir de então, com a constituição deste meio, surge o que se denomina hoje por agricultura científica, que oferece novas possibilidades para a acumulação ampliada do capital, sendo guiada pela economia de mercado, em função das demandas urbanas e industriais.

Tomando como base essa discussão, pretende-se analisar a permanência do processo e das relações tradicionais da agropecuária e a implementação de uma agricultura científica, particularmente a partir do cultivo do algodão colorido. Desta forma, no presente artigo serão correlacionados alguns resultados referentes à produção agropecuária tradicional na cidade de Campina Grande com a produção atual do algodão colorido, que traduz a inserção da cientificidade desenvolvida na região.

A agropecuária em Campina Grande

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Andrade (1980) na sua clássica obra “A Terra e o Homem no Nordeste” afirma que o algodão foi a atividade que estabeleceu o nexo da dinâmica social e econômica para praticamente todo o semi-árido nordestino, transformando-o de área de produção de gêneros acessórios direcionada ao suporte das zonas canavieiras – produzindo bens salários ou insumos produtivos - à zona de produção primária para a indústria têxtil nacional e internacional.

A cultura do algodão era realizada não apenas por grandes proprietários rurais, mas também por pequenos agricultores, que associavam esta cultura ao milho, ao feijão, à fava, ao gado bovino, dentre outros de ciclo vegetativo curto e que pudessem ser aproveitados para o abastecimento familiar.

As atividades ligadas à produção agropecuária de/em Campina Grande e sua área de influência, no que diz respeito ao seu quadro atual quando comparadas às décadas anteriores, podem ser analisadas a partir, por um lado, da desagregação e quase desaparecimento do cultivo algodoeiro e, por outro lado, da manutenção em grande parte do caráter que possui as relações de produção agrícolas e do papel de hinterlândia exercido pela cidade supracitada.

Sem dar os devidos 'saltos' tecnológicos e de produtividade, a atividade cotonicultora interiorana foi rapidamente superada pela produção realizada em outras áreas do território nacional ou do espaço internacional. Da desagregação do sistema produtivo policultor-algodoeiro manteve-se parcela significativa da população ligada apenas à policultura nos mesmos moldes, só que dessa vez feita com menor intensidade de ligação com o mercado, mas ao mesmo tempo convertendo outros elementos de sua pauta produtiva para a comercialização e/ou estabelecendo outras formas de consórcio entre a policultura e as culturas comerciais dentre as quais o tomate, o frango, a mineração, etc. Mesmo com a derrocada da produção algodoeira, a cidade mantém sua hinterlândia agrícola, mantendo-se como espaço privilegiado das relações de centralização e circulação da produção policultora regional.

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tabela 1 mostra a quantidade produzida e a área plantada de cada produto da lavoura temporária.

TABELA 1 - Produtos produzidos em Campina Grande segundo o IBGE – lavoura temporária

Descrição Quantidade produzida (toneladas)

Área plantada (ha) Algodão herbáceo (em

caroço)

12 12

Batata-doce 5 5

Fava (em grão) 40 100

Feijão (em grão) 1035 2160

Mandioca 500 50

Milho 1188 1980

Tomate 400 10

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal 2007; Malha municipal digital do Brasil: situação em 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

De acordo com a tabela 1, o produto que mais se destaca na lavoura temporária do município é o milho, apresentando o maior volume produzido, 1188 toneladas, enquanto o feijão está em segundo lugar, 1035 toneladas, ocupando a maior área de produção, 2160 hectares.

Desde a ascensão da produção algodoeira início século XIX, Campina Grande cumpre o papel de fornecedor de insumos para todo um largo espectro de atividades produtivas de micro e pequeno porte. Nisso se fundamenta o sentido da participação de Campina no circuito mais geral de reprodução social.

Em trabalho de campo foram levantados os estabelecimentos comerciais especializados na venda de produtos agropecuários. Foram identificados e localizados 31 (trinta e um) estabelecimentos comerciais de produtos agropecuários. Destes, 3 (três) são lojas de máquinas agrícolas, como por exemplo, tratores. Há predominância de estabelecimentos especializados em vendas de rações e outros produtos destinados à pecuária, o que denota a permanência da atividade pecuária na região, como se pode ver na tabela 3.

TABELA 3 – Estabelecimentos de produtos agropecuários. NOME DO ESTABELECIMENT O PRODUTOS COMERCIALIZADO S DESTINO DOS PRODUTOS

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Pernambuco algumas cidades: São José do Egito, Sertanea, Caruaru, Areial, Tabira, Tuparetana.

CASA DO AGRICULTOR

Ferramentas elétricas Estados vizinhos e Paraíba

FLORESTA MÁQUINAS

Principais: moto serra, produtos no geral não destinado a agropecuária

Cidades vizinhas

CAMPO VERDE Implementos agrícola, semente, ferramentas

Campina grande e cidades vizinhas

AGROFERRAGENS Máquinas agrícolas Brejo (areia), curimataú, alagoa nova

AGROFLORA Sementes, fertilizantes, defensivos agrícolas

Local Fonte: Trabalho de campo 2009.

O trabalho empírico possibilita afirmar a existência de estabelecimentos comerciais agropecuários tradicionais situados no centro e na zona periférica do centro da cidade. Tal localização também é uma característica desse tipo de ramo comercial. A existência desses estabelecimentos comerciais especializados em máquinas e produtos de irrigação denota a presença de atividades agrícolas e/ou pecuárias que se utilizam de equipamentos modernos, bem como de técnicas especializadas, por sua vez de agricultura científica e tecnológica. Contudo, como não existem (pelo menos até o momento) grandes áreas agrícolas ou de produção pecuária avançada no município, há sim estabelecimentos com pecuária extensiva sem incrementos científicos ou tecnológicos.

A inserção da cientificidade na cultura do algodão

Sabe-se que as novas dinâmicas dos espaços agrícolas ocorreram a partir de uma flexibilização do campo, que atingiu tanto a base técnica quanto a econômica e social do referido setor, acelerando, assim, um processo de reorganização e adquirindo capacidade de propagação dos capitais industriais e financeiros.

Como bem explica Elias (2006):

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ocorrem processos freqüentes de fusão com capitais de setores industriais, comerciais e de serviços (p. 222).

Ocorre, assim, uma significativa mudança quanto à produção agrícola, que passa a ter uma referencia planetária, recebendo influência das mesmas leis que regem os outros aspectos da produção econômica (SANTOS, 2006, p.88).

Em relação às novas dinâmicas produtivas no setor agropecuário, na cidade de Campina Grande, vale destacar a atuação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que tem a designação de Embrapa Algodão. Nesta, funciona o Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (CNPA), que nos dias atuais está direcionado, além de cultivares de algodão e sistemas de produção, ao desenvolvimento de pesquisas nas áreas de controle biológico, biotecnologia, mecanização agrícola e qualidade de fibras e fios de algodão. De acordo com a análise do IV Plano Diretor da Embrapa Algodão, o sistema de produção de algodoeiro apresenta como principais tecnologias: colheita mecanizada; controle de plantas invasoras; manejo de água e irrigação; manejo integrado de pragas e doenças; controle biológico de pragas; manejo, conservação do solo e adubação; semeadura, espaçamento e configuração de plantio.

Em 1985, houve uma grande mudança na produção da agricultura regional devido à disseminação de uma praga conhecida como bicudo nas lavouras do algodão arbóreo. Para se ter uma dimensão dos danos causados, durante as décadas de1990 e 2000, a redução da área plantada com algodão correspondeu a 99,8% na mesorregião do Sertão Paraibano e 97,6% na mesorregião da Borborema. Com a infestação das lavouras pelo bicudo, a Embrapa voltou-se para a pesquisa para o combate da praga, mas também iniciou estudos sobre cultivos de novas espécies de algodão precoce, e também acrescentou às suas investigações diferentes alternativas de cultura, como o amendoim, a mamona, o gergelim e o sisal. Tais produtos são trabalhados em diversos locais do Brasil e sua produção varia de acordo com a demanda. Esses avanços são possibilitados graças ao desenvolvimento de pesquisas que adaptam os cultivos às mais diversas condições climáticas.

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comprimento e a uniformidade do algodão, além da inovação de cores e objetiva propiciar um alto rendimento médio dessa cultura para a agricultura familiar. Assim, muitos pesquisadores apostam ser esse tipo de produção do algodão uma boa alternativa de renda onde predomina a agricultura familiar.

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Sob o ponto de vista da comercialização e do aproveitamento industrial, o representante da Embrapa, em entrevista, afirmou que o algodão colorido é um nicho de mercado altamente lucrativo, porém não desperta o interesse do grande capital. Isto, associado ao fato de que a produção em geral é feita por pequenos agricultores que atuam de forma bastante desarticulada, não dispondo de cooperativas, são aspectos que, na percepção do entrevistado, implicam em enormes dificuldades para a consolidação de uma economia algodoeira neste segmento. Além disso, as cooperativas existentes estão direcionadas ao artesanato.

É assim que a Embrapa Algodão, através da ampliação de suas áreas de pesquisa (incluindo entre os novos projetos o controle biológico e a biotecnologia, a mecanização agrícola, a qualidade de fibras e fios de algodão, a tecnologia de alimentos e a produção de biodiesel de mamona) e da disponibilização de diversos serviços (consultoria, assessoria, treinamento e análises laboratoriais) contribui para o desenvolvimento de regiões como o semi-árido, cujo potencial produtivo acaba, muitas vezes, encoberto por falta de investimentos.

Conclusão

A pesquisa verificou que mesmo havendo a introdução da agricultura científica ou de atividades agropecuárias que compõem o circuito superior da economia, ainda é muito forte, especialmente nos municípios vizinhos, região de influência de Campina Grande, a pequena produção, a agropecuária de forma bastante tradicional. E ainda é bastante perceptível durante a exposição agropecuária realizada na cidade o predomínio da exposição de animais bovinos e caprinos.

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científicos. Na verdade, a cidade de Campina Grande revela a grande contradição entre o tradicional e o moderno, por conseguinte entre as permanências e as transformações.

Referências bibliográficas

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CARDOSO, Carlos Augusto Amorim. A cidade e a Festa. Cultura e Identidade na Festa da Micarande na cidade de Campina Grande-PB. 2000. Tese (Doutorado em Geografia Humana). Universidade de São Paulo, São Paulo.

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ELIAS, Denise. Redes Agroindustriais e Produção do Espaço Urbano no Brasil Agrícola. In: Panorama da Geografia Brasileira. São Paulo: Annablume, 2006.

GOMES, E. T. A. Petrolina: Emergências de uma Cidade Média, a tecnologia auxiliando na (re) produção do espaço urbano. In: Cidades Médias: espaços em transição. Maria Encarnação Beltrão Sposito (org). São Paulo: Expressão Popular, 2007.

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SOARES, B. R. As Novas Espacialidades das cidades médias para o século XXI. In: O Brasil, a América e o Mundo: espacialidades contemporâneas (II). Rio de Janeiro: Lamparina: Faperj, Anpege 2008.

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