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TÍTULO: A FIGURA PATERNA ENCARCERADA: RELATOS DE DIFICULDADES EXPERIENCIADAS NO AMBIENTE FAMILIAR

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Academic year: 2021

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Realização: IES parceiras:

TÍTULO: A FIGURA PATERNA ENCARCERADA: RELATOS DE DIFICULDADES EXPERIENCIADAS NO AMBIENTE FAMILIAR

CATEGORIA: CONCLUÍDO

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: Psicologia

INSTITUIÇÃO: FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS - FIFE

AUTOR(ES): LUCIANE CIRILLO MERLIN, LARISSA FRANCIELE DE LIMA PEREIRA, ROGÉRIO ALVES GOUVEA

ORIENTADOR(ES): EDUARDO HIDETO KAWAHARA FILHO

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1 RESUMO

Um ambiente familiar seguro é importante para o crescimento saudável dos seus membros, porém o contexto e os estigmas promovidos pelo sistema penal e prisional brasileiro podem interferir neste desenvolvimento, proporcionando desvantagens econômicas, educacionais, funcionais e de saúde. Assim, a pesquisa objetivou a verificação das dificuldades e desafios de mulheres com parceiros encarcerados e seus filhos. O estudo comparativo de casos por conveniência contou com duas mulheres entrevistadas que relataram suas histórias de vidas, a relação com o parceiro encarcerado e os sentimentos e pensamentos sobre este familiar ausente. Os resultados demonstraram o impacto da ausência da figura paterna nas questões afetivas e socioeconômicas, como a disseminação dos estigmas do encarcerado à sua família, a manifestação de saudade, isolamento e aproximação do vínculo de apego com a mãe. Com isso, a atenção para as pessoas em situação de cárcere e sua família permite evidenciar as consequências da cultura da discriminação.

2 INTRODUÇÃO

A presença de um membro apenado na família acarreta na necessidade de reorganização do núcleo familiar (CABRAL & MEDEIROS, 2015). Este núcleo enfrentará, principalmente, as consequências da ausência do familiar e do estigma que está envolto ao fato da institucionalização penal, permeando todo o decorrer do desenvolvimento social, cognitivo e afetivo dos envolvidos.

O possível estresse emocional, a tensão parental, o conflito entre trabalho e família, as dificuldades financeiras e o estigma social enfrentados pela mãe ou outros cuidadores, devido ao encarceramento do parceiro, podem resultar em pobreza, modelo de parentalidade frágil, declínio da saúde na família e o início de mudanças no comportamento da criança (ROSENBERG, 2009). Mesmo as mulheres tendo conquistado autonomia e liberdade pela independência econômica, as mães sem maridos e com filhos pequenos se deparam com dificuldades para sustentar e cuidar dos filhos ao mesmo tempo (BOWLBY, 2002). Assim sendo, o filho do encarcerado poderá presenciar desvantagens econômicas, problemas de saúde e de educação e agregação de papel auxiliador às tarefas domésticas.

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O contato da família com o sujeito apenado é importante para a manutenção dos vínculos e das necessidades dos envolvidos. Porém, mesmo com o direito à visita social e íntima ainda existem barreiras para este contato, como as condições específicas de cada presídio e o comportamento do detento (FERRARI, 2011). Tanto o enquadramento dos comportamentos quanto o processo de visitação, que engloba a revista íntima, provocam marcas psicológicas graves, gerando constrangimento e vergonha (ibid.).

As consequências do contexto prisional para a família com membro privado de liberdade produzem, portanto, sofrimento bilateral: tanto o filho sofre com a ausência da figura parental e os preconceitos entornos da situação, quanto os pais sofrem com o distanciamento do desenvolvimento dos filhos, enfraquecimento conjugal e possível separação e os estigmas relacionados (CABRAL & MEDEIROS, 2015).

Valida-se assim, o olhar da Psicologia para ir além da reincidência e “[...]

reinserir esse indivíduo na família, combater o preconceito no que tange oportunidades de emprego. Dessa forma, há que se trabalhar laços familiares, indivíduo e comunidade” (MEDEIROS & SILVA, 2015, p. 107).

3 OBJETIVOS

O presente estudo tem por objetivo geral verificar as dificuldades e desafios na relação mães-filhos com pais encarcerados. Os objetivos específicos são: investigar a visão das mães perante o parceiro encarcerado e sobre a relação com seus filhos e relatar os ambientes e contextos familiares.

4 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo comparativo de casos selecionados por conveniência e coletados através de entrevistas, com enfoque nos momentos da história de vida relacionados ao assunto da pesquisa. Segundo Gil (2008), o método comparativo investiga os pontos comuns e diferentes nos casos; corroborando, assim, os objetivos da pesquisa.

Assegurando o sigilo das informações, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido entregue às participantes evidenciou os possíveis riscos psicológicos de vergonha, desconforto e constrangimento nas entrevistas. Alguns dos benefícios da

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entrevista podem incluir maior flexibilidade de esclarecimento das perguntas e permitir um maior número de dados sobre os aspectos sociais (ibid.).

Os critérios de inclusão foram: mães como responsáveis legais por filhos com até 17 anos e 11 meses de idade com o pai privado de liberdade a um ou mais meses, tendo assinado e concordado com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os critérios de exclusão foram: mães com filhos maiores de 18 anos de idade, filhos que não tenham pais privados de liberdade a um ou mais meses e, mães que não aceitaram participar do estudo.

5 DESENVOLVIMENTO

As entrevistas abrangeram duas mulheres com parceiros em situação de cárcere. O contato com as entrevistadas foi feito por conhecimento da situação perante os pesquisadores. As entrevistas foram realizadas na casa das entrevistadas, por elas concedidas, e abordaram temas, como: sentimentos e pensamentos sobre o parceiro encarcerado e o filho e os aspectos sociais relacionados.

O caso 1 apresenta uma mulher negra de 31 anos de idade com três filhos do marido encarcerado há um mês, que já foi preso outras duas vezes. O caso 2 apresenta uma mulher negra de 25 anos de idade com dois filhos do ex-parceiro que já está preso há 5 anos, tendo um atual parceiro também encarcerado.

6 RESULTADOS

Considerando os temas abordados, pode-se elaborar três tópicos sobre os casos:

6.1 Caracterização das relações interpessoais

A entrevistada do caso 1 disse que seu filho de 3 anos de idade é “meu grudinho” (sic), sendo choroso com a falta do pai e quando vê a viatura policial. O filho de 12 anos de idade é mais “fechado” (sic) e mais apegado ao pai. O filho de 14 anos de idade trabalhava com o pai, ela disse que ele está passando por atendimento psiquiátrico e que o considera “parceiro” (sic) com as tarefas de casa. Com a prisão do pai, os filhos mais velhos brigavam na escola.

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A entrevistada do caso 2 disse que seu filho de 2 anos de idade é “mais apegado a mim e o mais velho à avó” (sic). O filho de 5 anos de idade não gosta do padrasto devido ter apanhado dele e gosta mais do pai biológico – o qual já visitara no presídio. O filho mais novo não teve contato com o pai biológico e considera o padrasto como figura paterna.

Em ambos os casos, as entrevistadas sentem a ausência dos pais biológicos na educação dos filhos e os veem, assim como os filhos mais velhos, como figuras de autoridade.

Segundo Perucchi e Beirão (2007), mulheres chefes de família apresentaram um modelo patriarcal em suas relações familiares, evidenciando as funções sociais de gênero, como o pai sendo relacionado à força e autoridade e a mãe à sensibilidade e cuidado. Essa pesquisa também releva a importância da participação do pai na educação dos filhos.

6.2 Questões socioeconômicas

Em ambos os casos, as entrevistadas estão desempregadas e exercem suas funções maternais e de cuidados com a casa.

No caso 1, o marido é o provedor da casa, devido ao seu serviço autônomo e a aposentadoria por invalidez. A família do marido também os ajudou nos momentos em que o marido estava preso.

No caso 2, todos os residentes da casa são sustentados pela mãe da entrevistada. Os filhos não recebem auxílio-reclusão, pois o pai deles não possuía qualidade de segurado na data da prisão.

Conforme Cúnico, Quaini e Strey (2017, p. 5), famílias com “[...] histórico de encarceramento estão mais propensas a passarem por dificuldades financeiras”.

Logo, a perda da função de provedor financeiro fragiliza a família do homem encarcerado.

6.3 Preconceitos e estigmas

No caso 1, a entrevistada relatou “horror à cadeia” (sic), constrangimento na revista íntima do presídio e que sentiu vergonha por medo de julgamento.

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No caso 2, na época de sua primeira gravidez, a entrevistada relatou ser julgada pela família por ter um parceiro presidiário. Ela falou sobre as questões burocráticas que delongam tempo e que já havia se adaptado a situação, enquanto mencionou que outros familiares não queriam entrar no presídio por não gostarem do contexto. Na escola do filho mais velho, a entrevistada disse que sentiu tom discriminatório devido a ausência do pai nas festividades escolares.

Goffman (2008) conceitua o termo ‘estigma de cortesia’ como uma propagação do estigma de um indivíduo para suas relações mais próximas, considerando ambos como apenas um só. Sendo assim, os estigmas intrínsecos ao encarcerado são disseminados para sua família, tornando-os estereótipos como ‘mulher de preso’ e

‘filho de presidiário’ e reforçando expressões populares como ‘farinha do mesmo saco’

e ‘filho de peixe, peixinho é’.

Conforme uma pesquisa organizada por Galdeano et al. (2018), crianças e adolescentes com familiares encarcerados sentiram-se discriminados com maior frequência na escola, na vizinhança e na família, respectivamente. Demonstrando assim que, a escola reflete os preconceitos da sociedade quanto ao descrédito da paternidade encarcerada.

A análise e discussão dos resultados mostraram como a família anseia pelo retorno do membro encarcerado, como cada filho reage e simboliza de forma única frente à situação, como a sociedade funde o preconceito do encarcerado aos membros de sua família e, sobretudo, como esta família se reorganiza estruturalmente e se ajusta emocionalmente.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma pessoa em contato com as condições do sistema penal e prisional brasileiro poderá ter seu desenvolvimento pessoal e social prejudicado. Esses sistemas apresentam complicações e agravamentos organizacionais reforçados por uma cultura de preconceitos que fragilizam o apenado e, consequentemente, sua família. Logo, os estigmas do encarcerado recaem às pessoas que possuem relação com ele, como sua família.

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A ausência da figura paterna fragilizou a relação pai-filho dos casos relatados, provocando nos filhos: saudade, isolamento, aproximação do vínculo de apego com a mãe e culminando até na destituição da figura paterna em um dos casos.

O auxílio financeiro ofertado pela família, nos casos descritos, mostra como a união e a solidariedade estão mais presentes nos laços familiares do que nos compromissos e na atenção do Estado para com a família com um membro apenado.

O preconceito sobre o encarcerado e os estigmas fundidos à família são sustentados por uma cultura de discriminação e a educação é um dos principais pilares capazes de mudar esse paradigma.

Conforme as dificuldades encontradas para a coleta de dados, ressalta-se a importância de serem contadas mais histórias de famílias com membros encarcerados, expressando, assim, maior fidedignidade perante as condições por qual passam.

8 REFERÊNCIAS

BOWLBY, J. Cuidados maternos e saúde mental. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

CABRAL, Y. T.; MEDEIROS, B. A. A família do preso: efeitos da punição sobre a unidade familiar. Revista Transgressões, v. 2, p. 50-71, 2015.

CÚNICO, S. D.; QUAINI, R. P.; STREY, M. N. Paternidades encarceradas: revisão sistemática sobre a paternidade no contexto do cárcere. Psicologia e Sociedade:

Belo Horizonte, v. 29, e168770, 2017.

FERRARI, I. P. A prisão e as consequências na vida dos familiares. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia de Gestão pública) - Faculdade Meridional (IMED), Passo Fundo, 2011. Disponível em: <http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_

menu=196>. Acessado em 12 de setembro de 2020.

GALDEANO, A. P. et al. Crianças e adolescentes com familiares encarcerados:

levantamento de impactos sociais, econômicos e afetivos. 1. ed. São Paulo: CEBRAP, 2018. Disponível em: <http://cebrap.org.br/wp-content/uploads/2018/10/Crian%C3%A 7as-e-adolescentes-com-familiares-encarcerados_2018.pdf>. Acessado em 12 de setembro de 2020.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas S. A., 2008.

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GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed.

Rio de Janeiro: LTC, 2008.

MEDEIROS, A. C. A.; SILVA, M. C. S. A atuação do psicólogo no sistema prisional:

analisando e propondo novas diretrizes. Revista Transgressões, v. 2, p. 100-111, 2015.

PERUCCHI, J.; BEIRÃO, A. M. Novos arranjos familiares: paternidade, parentalidade e relações de gênero sob o olhar de mulheres chefes de família. Psicologia clínica, v. 19, n. 2, p. 57-69. dez. 2007.

ROSENBERG, J. Children need dads too: children with fathers in prison. Genebra:

Quaker United Nations Office (QUNO), 2009. Disponível em: <https://quno.org/resourc es/Children-of-Prisoners>. Acessado em 12 de setembro de 2020.

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