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CATOLICISMO POPULAR NUMA COMUNIDADE NEGRA RURAL NO SERTÃO NORTE MINEIRO.

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Academic year: 2021

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CATOLICISMO POPULAR NUMA COMUNIDADE NEGRA RURAL NO SERTÃO NORTE MINEIRO.

Francy Eide Nunes Leal

Resumo

Esse trabalho tem como objetivo apresentar a discussão sobre catolicismo popular no Brasil e promover um diálogo com a vivência religiosidade de uma Comunidade negra situada no Território negro da Jahyba, assim por meio do local compreender o global.

Introdução

Por meio da bibliografia sobre catolicismo popular no Brasil, compreender a prática religiosa desse catolicismo em uma comunidade negra rural no norte de Minas. Para compreensão desse fenômeno será necessário adentrar na literatura sobre as comunidade Quilombola no Norte de Minas.

Analise do processo sócio –antropologico vivenciado pelas comunidades rurais negras será usada como plano de fundo na compreensão da comunidade Terra Dura. Banhada pela bacia do Rio Verde Grande a comunidade rural Terra Dura situa-se no sertão Norte Mineiro e no território Negro da Jahyba.

A existência desse Território negro no vale do rio Verde Grande foi descortinado por Costa a partir de sua pesquisa junto a comunidade negra rural Brejo dos Crioulos.

Segundo esse autor, há que considerar que esse território, basicamente ocupado pelos negros, se estendia das proximidades da cidade de Montes Claros, em Minas Gerais, até cercania da cidade de Bom Jesus da Lapa no Estado da Bahia, com uma extensão aproximada de quatrocentos e cinqüenta quilômetros (Costa, 2001). Após a publicação deste artigo, durante as sessões do Grupo de Trabalho Terras de Quilombo na V Reunião de Antropólogos do Mercosul, em Florianópolis, em 2003, estudiosos baianos informaram que o mesmo território se estende até às proximidades de Xique-Xique, ampliando a extensão para um mil e seiscentos quilômetros. Nesse território as comunidades se interligam pro meio de laços de parentesco e compadrio.

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Catolicismo popular em Terra Dura

Buscarei a partir das narrativas dos meus parceiros de conversação e da observação da vivência dessa religiosidade sincrética dialogar com a bibliografia sobre o catolicismo popular no Brasil.

O catolicismo popular é um dos instrumentos que o homem do mundo rural encontra para superar as dificuldades encontradas no seu dia a dia em sua relação com o mundo celestial, mas também com o mundo dos homens (Lopes e Costa 2009).

Em Terra Dura os sujeitos professam um catolicismo popular miscigenado com a umbanda, essa vivência religiosa se dá tanto em reunião com os pares e com as comunidades vizinhas, quanto por meio de ações e ritos individuais. Isso ocorre, pois nesse território as comunidades se ligam por laços de parentesco e compadrio.

Para Queiroz (1976), no Brasil apesar de se poder distingui uma religião oficial e uma religião popular, o catolicismo brasileiro forma um conjunto integrado. Não há separação entre suas variantes. Assim, a maioria dos católicos brasileiros tem como centro de sua vida o culto ao santo. Deste modo, como na maioria do país, a região do Norte de Minas foi desassistida por membros eclesiásticos, fazendo com que a população elabore diversas alternativas para realização dos seus cultos. Uma dessas estratégias é o desenvolvimento do seu próprio agente do sagrado. Em Terra Dura dona Zefa é a agente do sagrado; possui guias espirituais Cosme e Damião, segundo ela esse dom advém do fato de ser gemia “amabasa”, ou seja, bivitelina .

Em Queroz(1976) o Culto dos santos, porém, pode tanto ser inteiramente ortodoxo em suas manifestações como surgir associado a elementos da antiga religião autóctone ,ou então aos cultos negros, ou ainda ao espiritismo que se difundiu no país a partir do século XIX. Brandão (1986) completa dizendo que o culto aos santos foi introduzido no catolicismo brasileiro a partir das bases ibéricas, não havendo, contudo, transposição com as mesmas características das verificadas aí. No Brasil, essa nova forma de devoção, centrada na figura do individuo adquire seus contornos próprios.

Aqui os devotos “aprendem a pedir aos santos sozinhos, mas querem ou precisam viver a religião em comunidade”.

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Há uma relação muito próxima e cordial entre o devoto e o santo. O santo tem um temperamento próprio, que define algumas ações dos fiéis e se as mesmas não forem cumpridas há punições que as instâncias sacras enviam aos homens como ,tempestades, secas, pestes, moléstias, entre outras desgraças. Ao passo que os fies também punem os Santos, suprindo – os de velas, colocando – os de cabeça para baixo, exilando – os.

A imagem que reina no altar concretiza realmente a pessoa do santo;

agir sobre a imagem é o mesmo que agir sobre este. O santo é a um tempo natural e sobrenatural. Natural pela imagem modelada em argila ou talhada em madeira; sobrenatural significa que os mortais podem exercer sobre ele influência (QUEIROZ, 1973).

O Santo é muito humano e sua imagem torna – o inteiramente presente ao desenrolar da existência no grupo familiar e no bairro. Assista a tudo quanto se passa, disposto a ajudar quando lhe pedem ou a castigar os devotos que lhe desagradam. Por isso, é preciso tratar o santo como se trata uma pessoa viva, mas uma pessoa muito sabida e que não se deixa enganar. (Idem).

Assim como os Santos Os guias são muito exigentes e quem os tem deve cuidar deles; geralmente devem ter uma “mesa” (local de oração, onde fica a imagem do guia), bastante enfeitada, colorida, perfumada e limpa e quem não cumprem e não obedecem seus pedidos e sinais é punido. Há uma relação recíproca entre a pessoa com o guia.

A Mãe de Santo por ter Cosme e Damião reza o terço todo dia quinze de cada mês, as pessoas da comunidade Terra dura e da vizinhança se reúnem na “igrejinha espiritiva”. Reza –se o terço estruturado da seguinte forma: o pecado, creio em Deus pai, pai nosso, Ave Maria e santa Maria , Salve Rainha, a Ladainha de Nossa senhora, três ou cinco benditos (que são cânticos), vejo como diferencial do terço da comunidade a forma de oferecimento do terço (ajoelha e oferece para os santos e faz –se pedidos) e o arrematar do terço.

Rezado o terço e o arcanjo Gabriel ou o Cosme e Damião vem recebe – lo e comunicar com a comunidade. Isso acontece, pois no processo ritual a Mãe de Santo proclama palavras mágicas e reza orações que produzem magia havendo a incorporação dos guias no aparelho. Quando a seção é forte acontece a “gira” após o terço , inicia

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com o toque do tambor e com cânticos para os guias conhecidos como “pontos dos guias”( os pontos são músicas especificas de cada guia, é como se fosse um chamado), de acordo com o ponto os guias vem e se incorporam do “aparelho” ( pessoa que tem limpeza e batizado e possui o dom de recebe – los) .

Além do terço mensalmente, a comunidade comemora a Semana Santa na igreja da dona Zefa, Cosme e Damião dia 7 de setembro na casa de rosa tem folia e festa , leilão após a reza, Dona Zefa Comemora Cosme e Damião dia 21 de setembro, Mariazinha, Dona Bernadas e Vanilda festejam Santa Luzia, o terço começa na casa de Mariazinha 12:00, depois vai para a casa de Dona Bernada e Termina na casa de Vanilda com um jantar, Eliane comemora Nossa Senhora Aparecida dia 12 outubro, em função de uma promessa. Acontece a celebração do terço também para agradecer a graças alcançadas.

As relações de compadrio na comunidade servem para fortalecer os laços internos e externos. “o batismo constitui em todo o Brasil a base de um conjunto de relações sociais fundamentais, as relações de compadrio”(Queiroz,1973) . Há quatro tipos de compadrio distintos na comunidade. o padrinho de batismo católico, o de batismo na umbanda e o compadre de fogueira e o de casamento. O padrinho de batismo católico geralmente é um parente ou amigo da família que mora nas comunidades circunvizinhas; na Semana Santa especificamente Sexta – feira da paixão os afilhados vão de encontro ao padrinho e pede a benção de joelhos; segundo Dona Zefa é a benção mais forte e o momento de pedido de perdão ao padrinho pelos pecados. O padrinho da umbanda é aquele que no momento da limpeza e do batizado está ao lado do afilhado com uma vela acessa em uma de suas mãos e a outra segura no ombro do batizando, a madrinha segura os panos que ficam na cabeça do afilhado no momento do ritual e o pré requisito para batizar uma pessoa na umbanda é que o afilhado tenha algum tipo de guia e os padrinhos já sejam batizadas e freqüentes nas rezas. O batizado de fogueira acontece no período das Festas Juninas, é uma brincadeira entre duas pessoas posicionadas uma de cada lado da fogueira que se dão a mão e simultaneamente saltam a fogueira selando assim um laço de compadrio eterno. Os padrinhos de casamento são pessoas próximos dos noivos escolhidos por laços de afinidade.

Em especial descreverei o ritual do “batizado na umbanda” que os membro da comunidade realiza, pois a meu ver apresentam um cenário diferente. Para realizar o

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batizado é necessário fazer a limpeza; a limpeza consiste em retirar os espíritos ruins e deixar os bons ; no momento da limpeza é necessário de cinco a seis panos de cores diferentes, fitas da mesma cor do pano e velas, pois os guias são sustentados pela luz. A cor dos panos e fita vão de acordo com a “paz”, ou seja, a primeira paz é a branca corresponde a Cosme e Damião, a Janaína, Crispim Crispiniano, Iemanjá, Sereia, a segunda paz é de Caboclo pode ser verde,amarela e a azul, a terceira é a paz forte retira os ruins(enxu,pomba gira,caboclo ruim), a cor é vermelha,roxa,preta, há ainda a força da mata (Sultão,Pena Branca,Caboclo da Fita Vermelha) e por fim as forças baianas (preto velho, preta Velha, Pai João, Mãe Maria), para realizar o batizado o guia de luz abre a mesa e o medium que conhece as orações para limpeza começa o ritual. Coloca - se o pano na cabeça da pessoa de acordo com a ordem descrita acima, a madrinha e o padrinho seguram as velas sobre a cabeça do afilhado, a médium expulsa os guias ruins e não se pode ficar nas portas e janelas, pois os guias incorporam em quem estiver em frente. Após isso é feito o batizado e após um mês a pessoa que foi batizada retorna ao centro para receber sua guia ( um cordão que protege) e para receber seu beneficio (sua obrigação com o guia: ex: fazer uma mesa, os dias de oração).

Em suma por meio de pesquisa bibliográfica e coleta de dados junto a uma comunidade negra rural, buscou nesse trabalho analisar e compreender a vivência de um catolicismo popular híbrido numa comunidade quilombola, sertaneja do Norte de Minas.

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Referências Bibliográficas

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A festa do Santo de preto. Rio de Janeiro:

FUNARTE;Goiânia : Universidade Federal de Goiás, 1985.

COSTA, João Batista de Almeida. Brejo dos Crioulos e a sociedade negra da Jaiba. In Pós – Revista brasiliense de pós-graduação em Ciências Sociais, Ano V, 2001, pp. 99- 122.

COSTA, João Batista de Almeida. Quilombos da Jahyba: a visibilização do negro no território branco norte mineiro. In Caminhos de História, 10 (1), 2005, pp. 9-34.

QUEIRÓZ, Maria Isaura Pereira de – O campesinato brasileiro: ensaios sobre civilização e grupos rústicos no Brasil. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1976, Cap. I , II e IV.

LOPES, C. A. S e COSTA, J. B. de A. Decifrando símbolos rituais: as bandeiras dos santos e os processos de ocupação e territorialização em Santa Rosa de Lima / MG. In Argumentos, 3 (1), dez 2009, Dossiê Desenvolvimento Social, pp. 29-52.

Referências

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