PLASTICIDADE MUSCULAR: DO MÚSCULO SADIO AO ESPÁSTICO
RESUMO
O músculo esquelético é composto de fibras musculares e formado por uma unidade funcional chamada sarcômero. Ele possui plasticidade que remodela sua composição estrutural em resposta aos fatores fisiológicos e patológicos. Mas quando ocorrem lesões que levam à espasticidade no músculo sua plasticidade muda. A fisiopatologia subjacente sobre as alterações contribui para déficits funcionais, porém ainda não é claramente compreendida. Em detrimento das alterações, este estudo teve como objetivo esclarecer as adaptações que ocorrem na morfologia da plasticidade do músculo estriado esquelético sadio após se tornar espástico, com base na revisão de artigos e livros, ressaltando toda a sua anatomia. Foi realizada uma revisão bibliográfica durante o período de 25 de Fevereiro a 10 de Maio de 2010 com base nos dados de livros literários e artigos do “Medline”, “Lilacs”, “Scielo”, “PubMed”, Google acadêmico e de revistas no idioma português e inglês, utilizando como palavras chaves:
plasticidade muscular, muscles, plasticity, spasticity, titina, myosin heavy chain, entre outras. Os textos foram analisados durante reuniões semanais no período de 27 de Fevereiro a 10 de Maio de 2010. Com o conhecimento da anatomia, fisiologia e bioquímica dos músculos esqueléticos sadios pode-se reconhecer as várias mudanças que ocorrem da sua plasticidade enquanto espásticos.
PALAVRAS-CHAVE: Espasticidade; Músculo; Plasticidade.
MUSCLE PLASTICITY: THE MUSCLE SOUND TO SPASTIC
ABSTRACT
Skeletal muscle is composed of muscle fibers and comprising a functional unit called sarcomers. He has plasticity that allows the redevelopment of its structural composition in response to physiological and pathological factors. But when injuries occur that leads to muscle spasticity its plasticity changes. The underlying physiopathology with regard to those changes contribute to functional deficits, but is not yet clearly understood. Despite those amendments, this study had as goal to clarify the adaptations that occur in the morphology of the plasticity of healthy skeletal cooled muscle after being spastic, based on a review of articles and books, highlighting its entire anatomy. It was performed a literature review during the period from February 25 to May 10, 2010, based on data of literary books and articles of "Medline", "Lilacs", "Scielo", "PubMed”, academic Google and journals in Portuguese and English idioms, using as key-words: muscular plasticity, muscles, plasticity, spasticity, titin, myosin heavy chain, among others. The texts were analyzed during weekly meetings in the period from February 27 to May 10, 2010. With the knowledge of anatomy, physiology and biochemistry of healthy skeletal muscle it can be recognized the several changes that occur in its plasticity while spastic.
KEYWORDS: Spasticity; Muscle; Plasticity.
Out, Nov, Dez 2011, Jan, Fev, Mar 2012.
ISSN 2236‐9600
SEÇÃO: Artigos TEMA: Fisioterapia
DOI: 10.6008/ESS2236‐9600.2012.001.0003
Dalva Cruz Monte Alegre Universidade Tiradentes, Brasil dalva_cma@hotmail.com
Josefa Flávia Santos Almeida Universidade Tiradentes, Brasil
http://lattes.cnpq.br/2465908221992296 godzbain@yahoo.com.br
Tássia Virgínia de Carvalho Oliveira Universidade Tiradentes, Brasil
http://lattes.cnpq.br/2273361044731342 tassinhafisio@yahoo.com.br
Edna Aragão Farias Cândido Universidade Tiradentes, Brasil
http://lattes.cnpq.br/8385700783273687 edna_aragao1@hotmail.com
Recebido: 16/01/2012 Aprovado: 28/03/2012
Avaliado anonimamente em processo de pares cegas.
Referenciar assim:
MONTE ALEGRE, D. C.; ALMEIDA, J. F. S.;
OLIVEIRA, T. V. C.; CÂNDIDO, E. A. F..
Plasticidade muscular: do músculo sadio ao espástico. Scire Salutis, Aquidabã, v.2, n.1,
p.16‐34, 2012.
INTRODUÇÃO
O ser humano é um ser móvel e consequentemente precisa de seu sistema muscular.
Esse por sua vez é adaptado para ser funcional. A força muscular é, em grande parte, determinada pelo tamanho dos músculos e pela capacidade de ativá-los totalmente (MAUGHAN, 2007).
A unidade motora (UM) é constituída por um conjunto de fibras musculares, que contem milhares de miofibrilas, as quais são compostas por milhares de miofilamentos ou elementos contráteis que constituem os sarcômeros (TUREK, 1991). A UM é inervada por um motoneurônio e é considerada a via motora final comum voluntária ou involuntária. As estruturas que estão envolvidas em uma unidade motora são compostas de dois componentes: um muscular e um neural. O primeiro contém: músculo, sarcômero, sistema T e reticulo sarcoplasmático; e o segundo: fuso muscular e a unidade motora (BRITO, 2010).
A plasticidade do músculo sadio ocorre quando o músculo esquelético possibilita remodelação da sua composição estrutural (RASCH, 1991) e tem efeito significativo no sistema músculo-esquelético (PAVAN et al., 2010). Quando ocorrem lesões que acometem o Sistema Nervoso Central e leva à espasticidade do músculo ocasionam modificações sensório-motoras, mudando assim a plasticidade da musculatura acometida.
Para a metodologia foi realizada uma revisão bibliográfica durante o período de 25 de fevereiro à 10 de maio de 2010 com base nos dados de livros literários e artigos do Medline (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Scielo (Scientifc Eletronic Library Online), PubMed (Publicações Médicas), Google acadêmico e de revistas no idioma português e inglês, utilizando como palavras chaves: plasticidade muscular, muscles, plasticity, spasticity, titina, myosin heavy chain, entre outras. Os textos foram analisados durante reuniões semanais no período de 27 de Fevereiro à 10 de Maio de 2010 a fim de obter informações consistentes no que diz respeito a anatomia da plasticidade do músculo sadio, assim como sua contração muscular, e do músculo espático.
Este estudo teve como objetivo esclarecer as adaptações que ocorrem na morfologia da plasticidade do músculo estriado esquelético sadio após se tornar espástico, com base na revisão de artigos e livros, ressaltando toda a sua anatomia.
DISCUSSÕES TEÓRICAS
Estrutura do Músculo Esquelético
Cada músculo voluntário do corpo possui milhares de células musculares denominadas
feixes de fibras musculares (HALL et al., 2002), e ao redor de cada músculo tem uma
membranácea de tecido conjuntivo, chamada de epimísio ou fáscia (MAUGHAN et al., 2004).
Cada fibra muscular é envolvida e separada por uma camada do tecido, já citado, conhecida como endomísio e uma camada do mesmo tecido recobre cada fascículo ou feixe, chamado perimísio (TUREK, 1991; HALL et al., 2002; ASTRANT et al., 2006).
As fibras musculares contêm miofribilas, que são multinucleadas resultantes da fusão de vários mioblastos mononucleados, que são formados de filamentos protéicos arranjados em unidades denominadas sarcômeros. O sarcômero é a unidade funcional do sistema contrátil no músculo e constituído, principalmente de filamentos finos de proteínas actina e filamentos grossos formados a partir da proteína miosina (GUYTON, 1998; HALL et al., 2002; ASTRANT et al., 2006;
PIOVESAN, et al.,2009).
Debaixo do endomísio e por volta de cada fibra muscular existe uma membrana lipoprotéica fina denominada sarcolema que é composta por fina camada de material polissacarídeo contendo finas fibrilas de colágeno. Na extremidade da fibra muscular essa membrana se funde com uma fibra tendinosa, que irão formar tendões e se inserir no osso (GUYTON, 1998).
O sarcoplasma é o citoplasma da célula muscular e é constituído por um líquido que contém potássio, magnésio, fosfato, mitocôndria e um extenso retículo endoplasmático chamado de retículo sarcoplasmático, que fica paralelo às miofibrilas, todos conferem ás célula sua integridade estrutural e ajuda nas contrações musculares (GUYTON, 1998; HALL et al., 2002).
Existe também na célula muscular outro sistema que é o sistema de túbulos transverso (túbulos T), que corre mais ou menos perpendicular ao longo da miofibrila, e funciona como uma rede de micotransporte para propagar o potencial de ação da membrana externa para interna através das suas invaginações tubulares no referido músculo (HALL et al., 2002; ASTRANT et al., 2006).
Fibras musculares
Os músculos esqueléticos adultos são compostos por vários tipos de fibras sendo nomeadas quanto ao tipo de contração que podem ser: lenta (tipo I) ou vermelha, pois são altamente vasculares, aeróbicas e correspondem aos músculos posturais; rápida (tipo II) ou branca que possui menor vascularização e são anaeróbicas (FOX, 1991; GRILLO, 2003;
PIOVERSAN, 2009).
As fibras rápidas ainda se subdividem em: IIb que utiliza metabolismo glicolítico para produzir energia, mais rápida; IIa intermediaria e utiliza tanto metabolismo glicolítico quanto oxidativo e de contração rápida resistente a fadiga; e IId (x) (primeiramente IIb) que são as menos oxidativas, devido a maior extensão da glicólise e de contração rápida fatigável e de cor clara (MAUGHAN et al., 2004; ASTRANT et al., 2006; PIOVERSAN,2009).
A estrutura das fibras musculares é o sarcômero, dentro do qual é limitado pelas
chamadas linhas Z (Zwischenscheibe ou discos intermediários) e contém filamentos finos (actina)
e grossos (miosina) denominados complexo protéicos do sarcômero que permitem a contração, organização e coesão da fibra (NAVES, 2006; BOFF, 2008; PIOVERSAN, 2009).
Segundo Naves, 2006, os filamentos grossos estão localizados no centro do sarcômero, são responsáveis pelas áreas escuras do padrão estriado, as chamadas bandas A (A = Anisotrópica). E Boff (2008) diz que esses são compostos primariamente de moléculas de miosina, e proteínas (proteína C, proteína H, proteína M e miomesina), e Naves (2006) acrescenta que contém uma longa cauda constituída de meromiosina leve, e uma cabeça globular fixada à cauda composta de meromiosina pesada. Já os filamentos finos estão localizados em ambos os lados das linhas Z dentro dos sarcômeros e formam o padrão claro do estriamento do músculo esquelético, isto é, a chamada banda I (I = Isotrópica). A “espinha dorsal” dos filamentos finos é composta de dois cordões de glóbulos de actina ligados em série (Figura 1).
Figura 1: Miofibrila, unidade contrátil do músculo esquelético
1. Fonte: FOX, 1991.
A miosina é formada por duas cadeias pesadas de proteína denominadas Cadeia Pesada de Miosina (CPM) e um filamento fino constituídos de duas cadeias leves de proteína que se enrolam entre si (BOFF, 2008). Na região terminal de cada CPM termina formando estruturas globulares, cabeça, denominada região S1, que possui sitio de ligação para ATP (Trifosfato de Adenosina) e outro para ligação com a actina (BOFF, 2008; PIOVERSAN 2009).
Os filamentos finos contêm ainda tropomiosina, uma longa proteína fibrosa encontrada dentro do sulco formado pelas cadeias de actina, e troponina, composta de três subunidades:
troponina C, que contém locais para ligação do íon Ca++; troponina T, que se conecta a tropomiosina; e troponina I, que bloqueia fisicamente o local de fixação da ponte cruzada entre a
1 (A) observar que a faixa A é formada de actina e miosina e a faixa I apenas de actina. (B) filamentos de miosina que se projeta à maneira de uma ponte cruzada em direção ao filamento de actina. Zona H ausência de filamentos de actina. (C) uma ponte cruzada.