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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

MOBILIDADE SOCIAL: PARDOS NAS FORÇAS MILITARES DA CAPITANIA DE SÃO PAULO

(FINAL DO SÉCULO XVIII – INICIO DO SÉCULO XIX)

Curitiba

2007

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WALDEMAR MARTINS DA SILVA

MOBILIDADE SOCIAL:

PARDOS NAS FORÇAS MILITARES DA CAPITANIA DE SÃO PAULO ( FINAL DO SÉCULO XVII - INÍCIO DO SÉCULO XIX )

Monografia elaborada para obtenção de graduação em História no curso de História da Universidade Federal do Paraná – UFPR, Setor de Ciências Humanas Letras e Artes - Departamento de História. Orientação do Professor Doutor Carlos Alberto Medeiros Lima.

Curitiba 2007

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Sumário

Introdução...5

Livres de cor: dificuldades de integração social...11

Instituições militares: forças de defesa e controle social...15

Distribuição das tropas militares na capitania de São Paulo...28

Pardos nas forças militares...35

Conclusão...47

Fontes e Bibliografia...49

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Resumo:

Este trabalho pretende analisar a mobilidade social das pessoas de cor no Brasil colônia, no final do século XVIII e início do século XIX na capitania de São Paulo, através da sua inserção nas forças militares, inserção esta que poderia ser feita de diferentes maneiras: recrutamentos compulsórios ou então por alistamentos voluntários. Trata também da discriminação sofrida por essas pessoas e das tensões e conflitos geradas pelo recrutamento.

Palavras chaves: mobilidade social; forças militares; homens de cor.

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Introdução

O objetivo deste trabalho é analisar as estratégias utilizadas pelos homens livres de cor nas suas pretensões de se integrar à sociedade colonial e, para autores como Herbert S. Klein uma dessas estratégias seria o ingresso nas forças militares. As forças militares, segundo Klein, representariam para esses homens como que uma

“importante avenida de mobilidade social” onde “soldados de cor capacitados, poderiam chegar a oficiais e, sendo-lhes concedidos os direitos correspondentes, exercer papel eficaz no governo colonial” 1.

Este trabalho também se baseia no modelo teórico de “San Giminiano” de Lawrence Stone, modelo este que autores já adaptaram nos estudos que realizaram a respeito do Brasil colonial. Este modelo teórico diz que:

“- De uma grande base populacional da qual se erguem como torres uma série de hierarquias econômicas e sociais mais ou menos independentes, fundamentadas na terra, Igreja, lei, comércio e governo, descreve a sociedade da época no Brasil. Entretanto, essas múltiplas hierarquias eram jurídica e teoricamente concebidas nos limites e gradações da sociedade por ordens, com sua divisão fundamental entre nobres e plebeus. O individuo poderia ascender em uma dessas torres, mas ao alcançar determinada altura haveria uma forte tendência a conciliar sua posição e legitimar o status mais elevado com outros atributos tradicionais e o estilo de vida da nobreza, são cruciais para a compreensão do caráter do Brasil colonial, um lugar onde uma pessoa de posses e origens das mais modestas dá-se ares de fidalgo”.2

Partindo desta teoria haveria diversas maneiras de ascensão na sociedade para a população da colônia; uma delas poderia se dar através da inclusão destes homens livres de cor nas forças militares, onde, dependendo de suas qualidades pessoais poderiam galgar postos na hierarquia e a partir daí conquistar melhores posições na sociedade através das promoções a postos mais elevados nas forças armadas da capitania.

A possibilidade para esta inclusão estaria aberta com a constituição de companhias e regimentos de homens de cor criadas pelos administradores portugueses para fazerem parte das forças militares, com vistas à defesa armada da colônia contra a

1 KLEIN, Herbert S. Os homens livres de cor na sociedade escravista Brasileira. Revista DADOS.

Instituto Universitário de Pesquisas do RJ. 1978. Pág 04.

2 SCWARTZ, Stuart B. Segredos Internos. Engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. Trad.

Laura Teixeira Motta. Ed. Cia. das Letras. 1988. São Paulo. SP. Pág. 211.

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possibilidade, sempre presente nessa época, de uma agressão por parte dos espanhóis e também no combate a quilombos, índios hostis e na captura de escravos fugidos.

A presença dos homens de cor nas forças militares nem sempre estava ligada a tropas específicas, essas pessoas podiam prestar serviço em qualquer tipo de tropa das existentes na colônia, pois, dependendo da necessidade eram incorporados até nas tropas de brancos.

Essas pessoas livres de cor na maioria das vezes eram tratadas como “pardos”, termo este que representava, segundo Sheila Siqueira de Castro Faria3, uma espécie de condição social, os forros sempre foram referidos como tal, assim como seus filhos, designados, geralmente, de pardos livres. Paulatinamente, no decorrer da segunda metade do século XIX, passou a indicar uma cor, resultado da mestiçagem. Entre escravos, no século XVIII, pardo era a terceira geração de africanos. Pais “pretos”, indicativo de origem africana, tinham filhos “crioulos”, que se tornavam por sua vez, pais de “pardos”.

Quando libertos, africanos, designados “pretos forros” tinham filhos (nascidos livres) indicados já como “pardos”, muitas vezes seguido de “forro”, apesar destes filhos nunca terem sido escravos. Praticamente não havia indicação de “preto livre”;

“preto” estava, pois, reservado ao mundo dos escravos, independente da cor do indivíduo.

No final do século XVIII e inicio do século XIX os classificados como “pardos”

representavam em São Paulo um terço da população total e também um terço dos livres;

os identificados como negros perfaziam um quinto dos habitantes, pela sua significativa participação como escravos, porém, sua participação na população livre era muito pequena. No litoral ocorria a menor participação dos brancos, pela alta proporção de africanos e seus descendentes entre os livres e o expressivo peso dos escravos na população. Em Santos apenas metade dos livres eram brancos e como o percentual de escravos atingia quase metade dos habitantes, ampliava-se o peso das pessoas com ascendência africanas para aproximadamente dois terços da população. No vale do Paraíba ocorria a maior proporção de brancos, tanto entre os livres como na população total. Os resultados das demais regiões situam-se entre os dois extremos. Na cidade de São Paulo e em Curitiba, os brancos representavam aproximadamente dois terços dos

3 FARIA, Sheila Siqueira de Castro. A Colônia em Movimento: fortuna e família no cotidiano colonial (Sudeste, século XVIII) Tese apresentada para obtenção ao grau de Doutor na UFF. Niterói. 1994. Pág 288

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livres. Como na capital havia maior proporção de escravos, o peso dos brancos na população mostrava-se inferior ao observado em Curitiba; nesta última vila, os brancos superavam metade da população total. 4 A população da Vila de Castro também não fugia muito dos padrões da própria vila de Curitiba.

Para Carlos Alberto Lima5 essa grande população de livres pobres que se formou na colônia buscava com freqüência a fronteira agrícola como uma maneira de estabelecimento autônomo através do campesinato, ao que ele denomina de

“campesinato negro” e sugere também que a formação dos terços de pardos poderia ser resultado da grande difusão desse campesinato. Ainda segundo ele o alistamento mostraria, inclusive, que esse processo de formação do “campesinato negro” era tão difuso e considerado natural que o estado metropolitano chegou a encontrar uma utilidade política e militar para ele.

Outro trabalho que também faz referência à formação destas unidades de homens pardos é o que foi desenvolvido por Francis Albert Cotta, doutorando em História pela FAFIDH/UFMG; neste trabalho sobre os Terços de Minas Gerais ele trata da organização dos referidos Terços, bem como a tendência do governo português de homogeneizar a multiplicidade de indivíduos e coloca-los sob um mesmo rótulo onde o homem branco, o negro, o liberto, o cabra e o gentio eram denominados vadios. Trata também da intenção do governo português de transformar: “o peso inútil da terra em elemento útil ao Estado”6.

Hendrick Kray em um artigo publicado na Revista Brasileira de História também faz referências às vantagens encontradas não só pelos homens livres de cor, mas também por escravos; neste artigo ele fala a respeito do recrutamento de escravos para as guerras de Independência da Bahia e dos ministros do governo que ordenaram a autoridades locais que fosse aceita a “justa recompensa e libertarem os seus escravos;

um destes, Manoel Rufino Gomes, era sargento em 1935”7. Segundo ele, no caso dos escravos o alistamento a essas forças poderia representar até a liberdade.

4 LUNA, Francisco Vidal&KEIN, Herbert S. Características da população em São Paulo no inicio do século XIX. População e Família. USP-FFLCH. São Paulo. 2000.

5 LIMA, Carlos A. M. Trabalho, Negócios e Escravidão. Artífices na cidade do Rio de Janeiro ( c. 1790 – c. 1808) Dissertação de Mestrado apresentada na UFRJ. 1993.

6 COTTA, Francis Albert. Os Terços de homens Pardos e Pretos Libertos: mobilidade social via postos militares na Minas do século XVIII. MNEME – Revista Humanidades – UFRN – CERES. Pág 01

7 Revista Brasileira de História. Número 22, Vol. 43. São Paulo, 2002. Pág 01.

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Alguns estudiosos clássicos afirmam que não existia mobilidade social na colônia e isso fica claro na descrição que Caio Prado Júnior faz da administração militar; segundo ele:

“o recrutamento para as tropas durante a fase colonial e ainda durante o império constituiu um grande espantalho para a população, pois, não havia nenhum critério que norteasse esse procedimento, que era conduzido de acordo com as necessidades do momento e do arbítrio das autoridades, o que explicaria a fuga da população ao menor sinal de recrutamento”8.

Quando eram fixadas as necessidades os recrutadores saiam em busca das pessoas para preencherem estes quadros e ninguém estava livre de ser recrutado, aquele que fosse considerado apto era levado sem maiores explicações.

Roberto Guedes Ferreira, nos estudos que realizou a respeito da população livre de cor na Vila de Porto Feliz entende que a mobilidade social entre as pessoas livres de cor se dava por outros caminhos, que não a via militar, uma vez que aqueles que já estavam estabelecidos em outro ofício lançavam mão de todos os meios possíveis para se livrar desse recrutamento, recorrendo às autoridades, usando suas relações pessoais, enfim, de todos os meios a seu alcance na tentativa de convence-las de que seriam mais úteis para a sociedade desenvolvendo seus ofícios, do que engajados nas tropas.

Em contrapartida, Francis Albert Cotta vê no seu trabalho sobre os pardos nas Minas Gerais do século XVIII, essa possibilidade, e o que prova isso, segundo ele, é que se encontram no Rol dos Confessos de São José, por exemplo, diversas referências a oficiais pardos compondo as forças militares dessa capitania.

Esta possibilidade aparece também em documentos que tratam das tropas militares da colônia, sediadas na capitania de São Pedro, na correspondência trocada pelo Comandante das tropas com o Governador falando sobre a conduta dos oficiais sob o seu comando e de quais as virtudes se esperavam deles. Nesta correspondência se percebe que dependendo do desempenho desses militares, os mesmos poderiam ascender a postos mais elevados, o que caracterizaria, a meu ver, um tipo de ascensão social, pois, mesmo sendo inserido nos postos subalternos, conforme seu desempenho pessoal os militares poderiam ser recomendados a promoções aos postos mais elevados da hierarquia; é claro que além desses aspectos também havia outros que se levavam em

8 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 12ª Edição. Ed. Brasiliense. São Paulo, 1972. pág 311.

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conta: suas posses e suas relações sociais também tinham influência no momento da proposta de promoção. Quando o candidato à promoção era alguém de boa condição financeira a cor da sua pele não era considerada com o mesmo cuidado de quando se tratava de pessoa que não possuía muitos bens.

Para a coroa havia interesse de que os homens de boas condições financeiras ocupassem postos mais elevados nas forças militares, mesmo porque alguns deles, para usufruir dos privilégios concedidos pelo Estado português aos oficiais milicianos chegavam a mobilizar companhias inteiras com seus próprios recursos.

Nestes documentos constam as referências à pessoa do Tenente Silvério de Souza Prátis, integrante das tropas coloniais prestando serviço na capitania de São Pedro, onde se declaravam suas qualidades, não só de âmbito militar como suas virtudes civis:

“Cazado – 14 anos e um mês e 21 dias de serviço – Tenente – 4º Tenente do Regimento – sérvio na campanha de 1801 de Serro Largo. Tem desembaraço e préstimo para qualquer servissos das Praça, de Companhia e de Esquadroens. He civil, obediente e tem natureza para governar a Tropa. Tem mostrado ter economia, he aciado, verdadeiro e cumpri com as obrigações da Religiam.

Julgo hábil para continuar com utilidade do servisso tanto no posto como em outro qualquer que se lhe confira.”9

Este tipo de observação com que os militares eram avaliados para uma possível promoção nos remete a pensar que milícias e auxiliares parecem ser instituições patrimoniais em virtude do tipo de atributos que se consideravam como “cumprir com as obrigações da religião” e “ter economia”.

Outros autores que também estarão presentes neste trabalho de pesquisa são Antonio Manuel de Mello Castro e Mendonça que é uma das fontes utilizadas, e Nanci Leonzo de onde vou me basear par obter dados mais gerais a respeito das tropas militares da época colonial, pois estes autores também trataram da organização militar da capitania de São Paulo na época abrangida pela pesquisa.

A documentação que pretendo utilizar nesta pesquisa que tem como objetivo os Terços de Pardos na capitania de São Paulo nas décadas finais do século XVIII e

9 REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO DO Rio Grande do Sul. Oficinas Gráficas “A Federação”, Porto Alegre. 1921, Pág. 53

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iniciais do século XIX encontra-se na correspondência oficial do governo da capitania de São Paulo desse período.

Essa correspondência está publicada nos “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo; Edições do Arquivo do Estado de São Paulo e Mendonça, Antonio Manuel de Mello e Castro e. Memória econômico-política da capitania de São Paulo, in Anais do Museu Paulista. Tomo XV, 1961. Esta obra foi escrita durante o governo de Antonio Manuel de Mello Castro e Mendonça no período que vai de 1797 a 1802 e trata da administração da capitania em todas as áreas com ênfase na questão econômica

As informações contidas nesta correspondência se encontram estruturadas de diversas maneiras, principalmente ofícios dos governadores da capitania a autoridades a ele subordinadas; carta; registros, avisos, portarias, ordens das mais variadas, transcrições de ofícios recebidos e Cartas Régias; pretendo usar também informações fragmentárias retiradas de listas nominativas de habitantes dos anos de 1804, 1808, 1812, 1816, 1820, 1824 e 1829 da Vila de Castro que se encontram em cópias microfilmadas pertencentes ao DHEIS/UFPR.

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Livres de Cor: dificuldade de integração social

A integração dos libertos de origem africana no Brasil colônia e a sua ascensão social sempre foram dificultadas pela coroa portuguesa através de políticas discriminatórias com relação aos libertos e descendentes de escravos de origem africana; o que não acontecia de maneira tão radical com ameríndios e seus descendentes e também eventuais filhos de ameríndios com brancos que eram objeto de alguma proteção da coroa portuguesa através de numerosas leis e memorandos editados pela Corte; em contrapartida negros e mulatos sempre foram objeto de discriminação ficando sujeitos aos mais diversos atos discriminatórios tanto visíveis como dissimulados por parte tanto das leis como de particulares.

Numa situação destas eram visíveis às dificuldades que negros e libertos enfrentavam para se inserir na sociedade colonial, limitando seu papel na formação social da América portuguesa e, segundo Russel-Wood “só duas pessoas de origem racial mestiça ocuparam cargos elevados no governo ou numa das ordens religiosas.

Foram o líder guerrilheiro João Fernandes Vieira (morto em 1861) e o jesuíta Antonio Vieira(1608-97)”10.

A discriminação ficava evidente em leis e regulamentos que na maioria das vezes não distinguiam com clareza escravos de libertos; essa descriminação ficava clara nos regulamentos relativos ao uso de armas, onde negros, mulatos, índios carijós ou mestiços, escravos ou livres eram proibidos “de portar espadas ou arma de fogo, sob pena de açoitamento público no pelourinho”11. Essa lei só não se aplicava a soldados de cor quando no cumprimento dos seus deveres e eram passíveis de relaxamento quando se estivesse vivendo circunstâncias especiais; segundo reclamações de alguns senhores esta lei era responsável pela impunidade desfrutada por negros fugidos e quilombolas porque ela impedia que capitães-do-mato e seus bandos, que na maioria das vezes eram pessoas de cor, pudessem andar armados.

Também a negros e mulatos era vedado o uso de certos tipos de roupa: existia a proibição do uso de tecidos como a seda, veludo e ouro nas suas vestes de uso pessoal;

existia a alegação de que os usos luxuosos dos costumes angolanos tinham uma influência perniciosa na colônia e foram objeto de censura em um “decreto com força de

10 A. J. R. Russell-Wood. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro. 2005. Pág 115.

11 Idem pág. 107

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lei de 5 de outubro de 1742, que reduzia severamente o uso de seda, veludo, ouro e prata em roupas pessoais e em ocasiões como funerais”.12

Outra lei de 1749 pretendia não só restringir a ostentação das vestimentas, limitando o uso da prata e do ouro no mobiliário, na decoração e nas carruagens como continha uma cláusula que tratava especificamente ao uso da roupa por negros e mulatos, na tentativa de evitar que eles se vestissem como gente branca; aqueles que descumprissem a lei poderiam ter confiscado o artigo proibido, ser multado ou açoitado se não pudesse pagar a multa e numa segunda transgressão corriam o risco de serem mandados para o exílio.

Negros e mulatos também eram discriminados na aplicação da justiça onde se observavam as mais variadas arbitrariedades promovidas pelas autoridades encarregadas da sua aplicação, havia conjuntos de leis que se aplicavam aos brancos e outras que só atingiam as pessoas de cor, isto é, por um mesmo crime havia punições diferentes dependendo se o infrator fosse branco ou de ascendência africana. Era freqüente que os juízes e funcionários do governo responsáveis pelo cumprimento das leis nem sequer exigirem provas para condenar alguém que tivesse descendência africana.

Os serviços públicos na colônia independentemente se fossem da municipalidade, do judiciário, os serviços da Igreja e as ordens religiosas eram fechados a qualquer negro ou mulato; as pessoas livres de cor eram as mais afetadas por estas regras do que os escravos porque estes não poderiam mesmo aspirar a nenhum cargo.

Para que se pudesse concorrer a qualquer cargo público na colônia era exigida uma declaração de pureza de sangue aos candidatos o que demandava diversas investigações e testemunhos, não só na colônia como, às vezes, até em Portugal; se o candidato fosse casado sua esposa também era investigada.

A partir de 1642 o Conselho Ultramarinho de Lisboa formulou todas as leis para o Brasil, África e Ásia; porém, os conselheiros na maioria das vezes não conheciam os trópicos e os governadores tinham que modificar e interpretar a letra das leis para adaptá-las a situação local. No Brasil colônia a escassez de brancos, principalmente nas regiões interioranas, obrigava com que os governadores fizessem vista grossa às características das origens negras de alguns candidatos a cargos públicos, contanto que essas características não fossem muito acentuadas, principalmente a cor da pele. Naturalmente que esta intolerância variava de lugar para lugar, dependendo das

12 A. J. R. Russell-Wood. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 2005. Pág 108

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circunstâncias e da importância do cargo a ser ocupado. Em algumas vilas de Minas Gerais a falta de brancos fez com que fossem nomeados para o cargo de vereador diversos mulatos, como foi o caso de Mariana, depois da concessão do título municipal aos antigos acampamentos de mineração aos quais a coroa concedeu essa condição.

Essas concessões locais também se estendiam aos cargos militares e em 1801 a nomeação do cadete Felippe Carneiro de Bourbon que havia sido recomendada pelo governador da Bahia, D. Fernando José Portugal, foi sugerida pelo secretário de Estado que fosse revogada depois que se descobriu que o referido cadete era filho de um ex- alfaiate pardo; isto somente não foi possível porque a opinião do príncipe regente era que já era tarde demais para que a promoção fosse revogada, porém, este caso deveria servir de exemplo para que as investigações fossem mais aprofundadas no futuro, aos próximos candidatos a postos militares.

Em 1806, o conde da Ponte queixou-se de que, se houvesse o cumprimento de que a exigência de que os regimentos de infantaria da tropa de linha fossem formados por brancos, seria impossível manter seu efetivo total por causa da escassez de potenciais soldados brancos. O governador informou ao príncipe regente que no passado fora dada maior prioridade à preparação militar que à origem étnica dos futuros infantes, e por isso tinham sido alistados como soldados indivíduos de “qualidades escuras” e esse desleixo também se aplicavam aos regimentos das milícias.

Esta questão das nomeações para cargos públicos e do papel do negro e do mulato livres no serviço público foi resumida por Gomes Freire de Andrade (governador do Rio de Janeiro de 1733 a 1763 e de Minas Gerais de 1735 a 1763) e Henry Koster na sua visita ao Brasil no início do século XIX onde o primeiro observou que “a riqueza, em vez da cor, era o principal critério para os cargos públicos municipais. O segundo contou que perguntara a um mulato se o capitão-mor do local era também mulato e recebeu como resposta: ‘ele era, mas não é mais’. Ao lhe pedir explicações, o informante acrescentou: ‘E pode lá um capitão-mor ser mulato’?” 13 Pelo que se pode observar as pessoas de cor no Brasil colônia sofreram toda a sorte de discriminação e nas forças militares isso não era diferente: a discriminação partia tanto das próprias autoridades militares quanto dos seus próprios pares, militares brancos, que se recusavam a conviver com militares de cor, servindo nas mesmas

13A. J. R. Russell-Wood. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 2005. Pág 114

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unidades. Não admitiam a atribuição de prestígio a essas pessoas e a conseqüente ascensão delas aos postos mais elevados da hierarquia dentro das instituições militares.

Apesar de toda a discriminação a que estavam submetidos, registros encontrados indicam que algumas dessas pessoas de cor conseguiram atingir postos mais elevados na hierarquia militar, seja pela sua competência, suas posses ou seus contatos pessoais na sociedade.

Os próprios registros de ordens discriminatórias emanadas das autoridades são as provas de que essas pessoas estavam alcançando sucesso nas suas pretensões, pois, se assim não fosse, não haveria necessidade de ordens procurando tentando impedi-las de conseguir seus intentos.

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Instituições militares: forças de defesa e controle social

Portugal sempre recorreu à organização de instituições militares gratuitas no período colonial com a intenção de diminuir as despesas com a manutenção de corpos militares regulares e também com o propósito de integrar o povoador nos seus desígnios orientados para questões de natureza administrativas, dando a estes, as funções fiscais, policiais e defensivas quando houvesse necessidade; pois, Milícias e Ordenanças eram auxiliares das tropas de primeira linha. Suas funções policiais estavam ligadas à manutenção da ordem pública, atuando na repressão aos quilombos, aos índios desordeiros como os carijós, aos vadios e facínoras.

No Brasil colônia a administração era basicamente militar onde todos os homens na idade entre dezesseis e sessenta anos estavam incluídos nas tropas de Linha, nas Milícias ou nas Ordenanças. Para este propósito se destacavam as Milícias onde todos os moradores eram alistados “sem exceção de nobres, plebeus, brancos, mestiços, pretos, ingênuos e libertos” 14.

Com as reformas levadas a efeito pelo Marques de Pombal e a conseqüente expulsão dos padres jesuítas dos domínios portugueses, até então os grandes responsáveis pela instrução e educação dos coloniais, o papel das instituições militares ganhou nova impulsão, pois, essas instituições passaram a ser o instrumento principal da metrópole para o controle social da população.

A estrutura da organização militar no Brasil colônia reflete, inicialmente, a transposição do modelo ibérico para a América Portuguesa. O modelo organizacional militar luso-brasileiro seria formado pelo tripé: Tropa Regular, Regimentos Auxiliares ou Milícias e Ordenanças. No período pombalino, a política defensiva visava estabelecer um sistema militar que articulasse harmonicamente esses três tipos de tropas. A partir da década de 1760, o Rio de Janeiro passou a ser o centro de gravidade do dispositivo militar colonial. A filosofia administrativa que presidiu as ações dos vice- reis e governadores estaria pautada na segurança e defesa das capitanias, na racionalização administrativa e num eficiente sistema militar que prevenisse ataques externos.

A Tropa Paga, Regular ou de Primeira Linha, recebia soldo, fardamento, armamento, farinha, azeite, capim, cavalos e assistência hospitalar. As tropas auxiliares formavam uma segunda instancia. Teoricamente tinham como missão atuar no caso de

14 LEONZO, Nanci. Nova História da Expansão Portuguesa – O Império Luso-brasileiro 1750-1822. Ed.

Estampa. 1986. Vol III. Pág. 325.

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invasões externas, mas na prática realizavam diversas diligências no âmbito da capitania. Tais tropas eram compostas pelos Regimentos Auxiliares, que poderiam ser Regimentos de Cavalaria de Nobreza e Regimento de Cavalaria Comum. Nos regimentos de cavalaria era considerado idôneo para o alistamento todo o homem branco ou tido como tal, que possuísse cavalo do seu andar, e um escravo que lhe tratasse do sustento. No caso de comprovado o empobrecimento do militar de cavalaria procedia-se, imediatamente, a sua transferência para a infantaria. Por sua vez, os Regimentos de Infantaria congregavam em corpos separados, homens brancos, pardos e negros libertos. Posteriormente, os Auxiliares foram transformados em Milícias ou Regimentos Milicianos.

Formalmente, a idade dos soldados poderia variar entre 16 e 60 anos. Os auxiliares não recebiam soldo, com exceção do Sargento Mor e do Ajudante, equipamentos ou armamentos. No caso dos regimentos de Infantaria ou Cavalaria, o posto mais alto era o de Coronel, seguido do Tenente Coronel, do Sargento-mor, do Ajudante, dos Capitães, dos Tenentes e dos Alferes. Somente estes oficiais recebiam Carta Patente. Os demais (sargento, furriel, cabo-de-esquadra, anspessada e soldado) não eram considerados oficiais. As promoções eram obtidas em virtude da conjugação dos serviços prestados à Coroa e da inserção dos futuros patenteados em redes clientelares.15

Além dos oficiais do quadro ordinário, havia postos extraordinários: Oficiais Agregados e Oficiais Graduados. O posto de Oficial Agregado era obtido por patente comprada e era puramente “honorífica”, pois o oficial não exercia nenhum cargo. Da mesma forma, o Oficial Graduado era aquele pertencente ao quadro ordinário que recebia uma promoção “honorífica”, sem maiores efeitos práticos, já que continuava ocupando os mesmos cargos e, possivelmente, recebendo o mesmo soldo.

Em resumo, a diferença principal entre as tropas é que as tropas de “primeira linha” se destinavam defender o território contra inimigos externos e podiam ser deslocadas para o exterior, em caso de guerra; a tropa de “segunda linha” tinha a missão de garantir a segurança interna do território e em princípio funcionavam como reserva da primeira linha, quando mobilizadas para a guerra. As tropas de “terceira linha” eram responsáveis pela segurança local e não deviam ser deslocadas para fora de sua jurisdição.

15COTTA, Francis Albert. Os Terços de Homens Pardos, Pretos e Libertos: mobilidade social via postos militares na Minas do século XVIII. MNEME – Revista Humanidades –UFRN – CERES. Pag 02

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Na América Portuguesa esta separação entre os diversos tipos de tropas militares nunca ficou bem claro e, a respeito dessa situação pode se ter uma idéia através da seguinte transcrição:

“Desde a creação dos ditos corpos auxiliares, não se havia mais ouvido fallar em ordenanças, porque os capitaens more, que então existião, havião sido substituídos pelos mestres de campo; porem de 1795 em diante pouco mais ou menos appareccêo no Maranhão Manoel Jozé Avelino, irmão do secretario do governo, provido nesse posto por S.A.R. e com farda do regimento de linha, e algumas vezes nos dias públicos, com farda de coronel da primeira plana da corte. Sahindo a regulação da tropa, pouco tempo antes da retirada do mesmo Senhor, para a sua nova corte, que determinava as devizas para cada patente; e sendo os capitanes mores igualados aos tenentes coronéis, mudou o dito capitão mor seu uniforme para o do regimento de linha desta capitania, para cujo destricto era a sua patente.” 16

O contingente das Milícias sempre foi superior aos efetivos das forças regulares ou de linha e um dos principais motivos para que isto acontecesse era que as tropas regulares ou pagas deveriam se integradas somente por homens brancos, robustos e de boa aparência, solteiros, sem compromissos nenhum, na flor da idade e de bom talhe, acostumados aos trabalhos do campo; deveriam ter também propósitos de honra, não serem efeminados e nem possuir vícios, o que por si só já era suficiente para reduzir o universo de onde seriam recrutados, considerando-se que na época a população de brancos na colônia era reduzida.

Um oficio do governador da capitania Jozé Antonio da Franca Horta a um militar responsável pelo recrutamento esclarece a posição que as autoridades tinham a respeito do recrutamento para as tropas de linha:

“Para a Tente. Corel. Je. Pedro Galvão de Moura: - Sendo-me prezente, q.’ as recrutas q.’ lhe enviou o Cap. Mor da Villa de Concom. São quazi negros, q.’ Vmce pr. isso se acha perplexo sobre assentar-lhes praça ou não, sou a dizer-lhe q.’ se forem taes q.’ não devão servir em hum regimto. de homens brancos, Vmce os torne a remetterao do. Cap mor, fazendo-lhe ver da minha parte q.’ Eu mando recrutar pa.

16 GAIOSO, Raimundo José de Sousa. Compêndio Histórico-político dos Princípios da Lavoura do Maranhão. Ed. Livros do Mundo Inteiro. Rio de Janeiro. RJ. Pág 157-158.

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a tropa de linha, q.’ se compõem de homês brancos, e qdo muito de alguns pardos vistas as atuaes percizoens, e q.’ assim mande recrutas de homens brancos...”17

A instrução militar dada por Martinho de Melo e Castro, em 14 de Janeiro de 1775, ao Capitão-General Martim Lopes de Saldanha, explicitava a posição e as funções dessas tropas:

“Essas forças, porém, devendo consistir em tropas regulares e auxiliares; não é permitido às circunstâncias de cada Capitania que haja das primeiras mais do que o número proporcionado à capacidade e situação dela; porque de outra sorte seria converter um país que só deve constar de colonos e cultivadores: é por conseqüência indispensavelmente necessário que as segundas, isto é, os corpos auxiliares formem a principal defesa das mesmas Capitanias; porque os habitantes, de que se compõem os mesmos corpos são os que em tempo de paz cultivam as terras, criam os gados e enriquecem o país com o seu trabalho e indústria, e em tempo de guerra são os que com as armas na mão defendem os seus bens, as suas casas e as suas famílias das hostilidades e invasões inimigas.”18

Para uma maior eficácia no controle social os postos mais elevados das Milícias eram entregues às pessoas mais ricas e, entre outros, o motivo principal era por que a elas interessava sobremaneira a sobrevivência do regime colonial. Estes oficiais milicianos desfrutavam de diversos privilégios dados por especial concessão regia concedida por volta de 1765 que não eram desfrutados pelos seus iguais de armas estabelecidos em Portugal. Tendo em vista os inúmeros privilégios, imunidades e prestígio social, estes cargos foram sempre preenchidos com facilidade pela coroa portuguesa; outro fato que se deve destacar é que o miliciano deveria, por seus próprios meios arcar com as despesas para prover o seu armamento pessoal, sendo que esta era outra razão que excluía grande parte da população de ocupar estes postos.

Para a ocupação destes postos, além do que foi dito acima, contava também as contribuições e donativos feitos por estas pessoas para obras da coroa como se vê nas promoções constantes do Avizo de 04 de novembro de 1779, do governador da capitania:

17 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edições do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Vol. 58 Pág. 43.

18 WESTPHALEN, Cecília Maria. A Milícia na Comarca de Paranaguá e Curitiba. Revista do SBPH. Nº 16. 1999.

(19)

-“promovi por commissão em Postos Aggregados aos differentes Corpos Melicianos desta Capitania os Officiaes constantes da Proposta que acompanha este officio os quaes alem de terem as circunstancias necessárias para servirem dignamente os mesmos postos, e se lhes conferir a honra delles ainda augmentarão o seu merecimento com as contribuições, e voluntários donativos pª a continuação da importante obra do Hospital Militar e Jardim Botânico desta cidade...”19

Gozando de todos estes privilégios e protegidos por cargos administrativos que lhes davam prestígio e autoridade, diversos foram os casos de abuso de poder perpetrados por oficiais milicianos contra o resto da população. As Companhias de Ordenanças funcionavam como fonte de recrutamento para suprimento das fileiras das tropas milicianas e sendo assim aqueles que, depois de cumprirem seu tempo de serviço nas tropas regulares e retornarem aos seus próprios domicílios deveriam ser alistados nas tropas milicianas; devendo ser também estes, auxiliares na instrução das pessoas residentes no seu distrito “que por falta de meios não o podiam conseguir d’outra sorte”20.

Em razão disso era recomendado que na escolha das pessoas para preenchimento dos postos de oficiais das tropas milicianas fosse dada a preferência aqueles que já haviam servido nas tropas regulares por algum tempo em virtude da experiência militar adquirida durante o tempo que haviam permanecido no serviço dessas tropas; outro detalhe que vale ressaltar é que para o preenchimento dos postos de oficiais superiores das Milícias só concorriam os portugueses.

Em meados século XVIII, sob a influência das reformas militares do Conde de Lippe e dos conflitos contra os espanhóis no sul da América Portuguesa, os corpos auxiliares foram reorganizados e a Carta Régia que tratava do assunto esclarecia que

“todos os vassalos militares dos corpos auxiliares possuíssem, a sua custa, espadas e armas de um mesmo calibre.”21

Esta reestruturação das forças militares ocorridas em 1766 foi um dos grandes marcos das milícias formadas por negros e pardos na América Portuguesa e elas surgiram da necessidade de reforçar os efetivos militares da colônia em função da

19 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edições do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Vol 30. Pág 199

20 LEONZO, Nanci. As Companhias de Ordenança na Capitania de São Paulo. Coleção Museu Paulista.

Série de História . Vol 6. Ed. Fundo de Pesquisa do Museu Paulista- USP. São Paulo, 1997. pág 146

21 COTTA, Francis Albert. Fragmentos da História Militar de Minas Gerais: História e Historiografia.

UFMG. Pág 35

(20)

ameaça espanhola que se verificava principalmente nas capitanias situadas mais ao sul.

A partir desta reestruturação das forças militares a reunião das companhias auxiliares de infantaria de homens pardos e pretos libertos receberia a designação de “terço” 22 e o seu comando seria do mestre-de-campo; quando uma destas companhias, por especificidade da missão a desempenhar ou pela distância em que se encontrava, não pudesse ser reunida ao terço, receberia a denominação de companhia franca.

O comando das diversas companhias de homens pardos ou de pretos libertos era exercido por um capitão-mor, homem branco, poderoso e de considerável cabedal econômico. Em cada companhia haveria um capitão e um alferes, responsáveis pela disciplina e organização do corpo militar; se a milícia fosse composta por soldados e cabos negros, os seus oficiais seriam negros; no caso de serem pardos, seus capitães e alferes também seriam pardos.

As principais missões dadas a essas forças militares estavam normalmente relacionadas ao combate aos quilombolas e aos índios bravios que por vezes tomavam de assalto aos moradores da colônia. Eram respeitados pela sua capacidade de combate em terrenos difíceis por que “entravam nos matos, descendo córregos por despenhadeiros impraticáveis”23, e pela sua experiência adquiridas nessas incursões eram sempre requisitados como guias nas expedições militares sempre que havia necessidade.

No ano de 1772, o Sargento Mor da Vila de Jundiaí recebeu do governador da capitania a seguinte ordem:

- “Porquanto hé conveniente ao servº de Sua Mag. q’ nos corpos de ordenanças desta capitania se formem differentes companhias de todas as qualidades de homens de q’

se compõem às referidas ordenanças: Ordeno ao Sgtº Mor da Vª de Judiay, q’ no destrº da mesma Vª forme logo huma compª de mulatos, bastardos e carijós, escolhendo entre todos os q’ forem mais capazes e que se me devem propor pª officiaes da compª de que logo me remeterá uma lista formal, executando esta diligencia com toda a brevidade e com assistência do Cap. Jozé Gomes Gouvêa q’

parao mesmo effeito tenho particularmente instruído. São Paulo 11 de novembro de 1772. – Com a Rubrica de S. Exª D. Luiz Antonio de Souza.”24

22 COTTA, Francis Albert. Os Terços de Homens Pardos, Pretos e Libertos: mobilidade social via postos militares na Minas do século XVIII. MNEME – Revista Humanidades –UFRN – CERES. Pag 04

23 COTTA, Francis Albert. Fragmentos da História Policial e Militar de Minas Gerais: História e Historiografia. UFMG. Pág 38

24 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público do Estado. Vol 33. Pág. 60.

(21)

Também se observa na ordem acima recebida pelo capitão-mor que essa companhia não era específica para negros ou pardos, ela congregava a mestiçagem existente na colônia como o “mulato” que provavelmente significava descendente de liberto e o “bastardo” que é o mestiço de índio e o próprio indígena; com este tipo de medida ao mesmo tempo em que separavam as pessoas de cor dos brancos evitava-se também a separação de grupos raciais congregando-as num mesmo grupo.

Esta prática de formar companhias de homens de cor continuou a ser utilizada nos anos subseqüentes pelo governador da capitania de São Paulo, pois, três anos depois, no ano de 1775, existe o registro na correspondência do governo de uma ordem semelhante expedida por essa autoridade:

“Por serviço de S. Mag. ordeno ao Cap mor das ordenanças Manoel de Olivrª.

Cardozo q’. logo, sem demora alguma faça erigir nesta Cidade e seo Destricto hua companhia de mulatos forros, dos quaes faça uma lista geral, que me aprezentará com os mesmos no prefixo termo de quinze dias, precedentes a data desta, declarando-me com toda a individualização os mais capazes, em q.’ devo escolher os Officaes, para logo lhes mandar pasar as suas Patentes ou Numbramentºs e ficara a dita companhia completa no pé em que determino por sua formatura. Assim o executará e para executar o dº Cap mor promptamente como deve porq.’ Assim convém ao Real Serviço. S. Paulo a 4 de Janeiro de 1775. Com a rubrica de S. Exª.25

Cabe ressaltar que este recrutamento refere-se a uma companhia de mulatos forros das Ordenanças e, ao solicitar a indicação dos mais capazes para ocupar os postos de oficiais esta ordem também confirma que esses homens de cor poderiam ocupar os postos de maior hierarquia dentro dessas companhias. Uma vez que ocupavam esses postos gozavam os mesmos direitos e privilégios previstos para os demais oficiais das forças militares da colônia; o que também nos remete a pensar que aqueles “soldados de cor capacitados” poderiam chegar a oficiais, como diz Herbert Klein, e percorrer essa

“avenida de mobilidade social”, quando trata das pessoas de cor nas forças militares na colônia portuguesa.

A respeito de promoções a homens pardos a postos de oficiais já no ano de 1765 aparece na correspondência remetida por D. Luis Antonio de Souza ao Vice-rei uma referência à promoção de um pardo na Vila de Santos:

25 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público do Estado. Vol. 33 Pág. 180

(22)

“Ilmo. e Exmº. Sr. – O Capitão da Companhia de homens pardos forros da Vila de Santos, Caetano Francisco Santiago, de que dey conta a V. Exª. em carta de 2 de Agosto do prezente ano de 1765 já acrescentou e formou sua companhia, porem não a pode fazer maior do que sessenta homens, por não se descubrirem outros capazes de servirem nesta Vila e suas vizinhanças. Sem embargo de eu lhe prometer Patente de Capitão de Auxiliares pardos, com graduação de Tenente de Infantaria paga;

considerando que isto não poderia ser do agrado de S. Mag. que Dos Guarde e que não devia fazer sem primeiro lhe dar conta passei somente o dito Caetano Francisco Santiago huma Patente sem o declarar Capitão dos Auxiliares pardos, nem lhe dar a graduação de Tenente somente a fiz expedir na forma da Cópia que a V. Exª. Remeto, que he a mesma que se costuma passar no Rio de Janeiro aos Capitães do homens pardos forros que há naquella cidade.”26

Outra possibilidade de inserção a essas forças militares pelas pessoas de cor acredito que fosse a formação das companhias de Aventureiros que era uma das práticas usadas pelas autoridades para a formação de forças militares quando da necessidade de fazer frente a ameaças estrangeiras e também na exploração do território da colônia com o intuito tanto de expandir as fronteiras como na busca de metais preciosos ou então assegurar a posse de locais que já estavam sob o controle da coroa.

Ás pessoas que se alistavam nessas companhias, quando a finalidade não era combater invasores, mas exploração ou posse de algum território, era permitido levarem suas famílias para que se estabelecessem como povoadores:

“...se lhes daram gratuitamente nan só terras, em q’. possam plantar suas roças mas além d’isto seram attendidos na forma que mandam as Reaes Ordens pª. se lhes perdoarem crimes que não forem de primrª. cabeça, e gozarem o Privilégio de não serem executados por dívidas, nem puxados pª. Serviço algum militar excepto naquellas urgentes que forem para a sua prompta defeza como em toda parte se praticava com os colonos...Sam Paulo a 16 de julho de 1774. Com a rubrica de S.

Exª.”27

Esta tentativa de convencer a população a acompanhar as tropas para se estabelecerem como povoadores refere-se, provavelmente se refere a tentativa do

26 Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público do Estado. Vol 72. Pág. 51

27 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público do Estado. Vol 8. Pág 90.

(23)

governador de assegurar a posse do território que fazia fronteira com a território espanhol na margem do rio Yguatemi.

O governador da capitania de São Paulo, D. Luis Antonio de Souza também reconhecia não serem essas tropas de Aventureiros o tipo de milícia ideal para o serviço regular, porém, acreditava que esses homens eram:

“a tropa mais útil e mais própria que pode haver para as campanhas do Rio Grande, adonde se se abrir a guerra, são indispensavelmente necessárias pela qualidade de ataques e estratagemas com que ofendem o inimigo, por isso se fazem mais temidos”28

A correspondência entre diversos capitães-generais do ultimo quartel do século XVIII destacava a técnica usada no combate por tropas formadas por negros, pardos e índios; em suas ações utilizavam as emboscadas, caiam de surpresa sobre os inimigos, exploravam em seu favor os acidentes do terreno, conheciam as matas as montanhas e os rios e o que era muito importante para a época: sabiam tirar da natureza o seu alimento o que lhes permitiam permanecerem muito tempo embrenhados nas matas, nas suas ações utilizavam táticas de guerrilha, o que assustava muito seus adversários.

No século XVIII, segundo Herbert S. Klein, o número e o tamanho dessas unidades de homens livres de cor cresceram de tal modo que passaram a ser designadas para funções militares especializadas. Ao mesmo tempo, manifestava-se um processo de diferenciação das unidades de combate com base em sua composição negra ou mulata.

Essas tropas se propagaram por quase todas as áreas da colônia e sua presença é constantemente assinalada desde os primeiros recenseamentos militares datados de meados e fins do século XVIII. Como exemplo Klein cita a capitania de Pernambuco que em 1759

“de um total de 18.026 homens de tropa, regulares e voluntários, 2.723 (15%) eram milicianos livres. Havia um Terço de Henriques formado por quinze companhias totalizando 1.323 homens, além de um regimento de mulatos livres constituído de 1.400 homens” 29.

28 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público do Estado. Vol 72. Pág. 49.

29 KLEIN, Herbert S. Os homens livres de cor na sociedade escravista Brasileira. Revista DADOS.

Instituto Universitário de Pesquisas do RJ. 1978. Pág 04

(24)

O recrutamento para essas milícias não obedeciam a nenhuma regra e causavam na maioria das vezes grande consternação na vida da colônia e, na visão de Caio Prado Júnior,

“o recrutamento para as tropas durante a fase colonial e ainda durante o império constituiu um grande espantalho para a população, pois, não havia nenhum critério que norteasse esse procedimento; que era conduzido de acordo com as necessidades do momento e do arbítrio das autoridades, o que explicaria a fuga da população ao menor sinal do recrutamento”30.

A resistência a essas atitudes levaram a população a não mais aceitarem participar das amostras militares que aconteciam de nas diversas localidades colônia que o governador foi obrigado a despachar uma carta circulara com a ordem aos Capitães Mores para que não se fizessem recrutamento durante essas amostras:

“Por me constar que em toda esta capitania geralmt. se receyam os Povos de aparecer nas mostras geraes, com temor de lhe serem prezos os filhos e remetidos violentamente p.ª o serviço das tropas de S. Mag., quando he certo q.’

voluntariamente devem obedecer todos p.ª quanto se oferecer do seu Real serviço sem q.’ seja necessrº. constrange-los por força, nem chama-los com engano pª. as referidas mostras, a q.’ todos devem aparecer sem receyo algum, como fiéis vassalos.

Ordeno e mando a todos os Capitaens mores da dependência deste governo, Sargentos mores e Capitaens das ordenanças q.’ de hoje em diante por nenhuma forma possam prender pª. Soldados, nem pª. Outras diligencias ao Real Serviço a pessoa algua nas referidas mostras...”31

Este recrutamento não era privilégio dos momentos de conflitos externos, era sim uma estratégia da Coroa. Nas tropas eram aproveitados os homens pobres, frequentemente miseráveis e os desocupados, uma camada considerada desclassificada;

com a Ordem de 28 de abril de 1741, os negros forros e os mulatos que não tivessem oficio ou fazenda em que trabalhar deveriam ser feitos soldados, embora alguns dos governadores achassem que esses homens não tinham capacidade para realizar missões de natureza militar.

30 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 12ª Edição. Ed. Brasiliense. São Paulo, 1972. Pág 311.

31 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público do Estado. Vol. 33. Pág 59.

(25)

Quando eram fixadas as necessidades os recrutadores saiam em busca das pessoas para preencherem estes quadros e ninguém estava livre de ser recrutado, aquele que fosse considerado apto era levado sem maiores explicações para o posto. Esta situação fica clara quando observamos a ordem do governador de São Paulo ao Capitão José Gomes de Gouveia para que seja organizada uma bandeira para combater os Caiapós que dificultam a navegação em trechos do rio Tietê com a recomendação que:

“bem entendido que todos aquelles q’ forem alistados, e se não se apromptarem como devem para a mesma diligencia, serão castigados como dezobedientes e inúteis ao serviço de S. Mag.; e do mesmo modo mandarei proceder contra as famílias dos que se ausentarem, fazendo-as vir debaixo de prisão para esta cidade até elles aparecerem, o q’ tudo fielmente executará o dito Capitão...) 32

Roberto Guedes Ferreira33 em estudos realizados a respeito da população livre de cor na Vila de Porto Feliz nos dá a entender que aqueles que já estavam estabelecidos em outro ofício qualquer, ao tentarem se livrar desses recrutamentos, apelavam para as autoridades procurando provar que eram mais úteis para a sociedade desenvolvendo seus ofícios do que engajadas às tropas; além do prejuízo que este recrutamento causava a economia quando retirava trabalhadores das mais diversas atividades produtivas ainda causava um grande transtorno para as famílias quando o recrutado era um homem casado que ao ser incorporado às tropas deixava, às vezes, mulher e filhos ao desamparo.

Esta correspondência foi encaminhada às autoridades pelo Capitão Mor da Vila de Porto Feliz tentando liberar moradores de sua jurisdição das forças militares –

“Vejo-me na urgente necessidade de representar a V. Exa. o seguinte: Antonio Pedroso de Campos é soldado Miliciano do Regimento de Sorocaba, aquartelado nesta vila de Porto Feliz, em quem concorre o atributo de bom carpinteiro, e hábil mestre de engenhos, o que se faz muito necessário a esta vila.

Assim tão bem Inácio Máximo de Faria e Jesuíno Francisco de Paula, ambos músicos e bons oficiais de alfaiate, que trabalham com tenda aberta; os que pela sua arte têm servido pronta e gratuitamente todas as funções reais e eclesiásticas, fazendo-se por isso, e por seus ofícios, dignos de todo o acolhimento e conservação e utilidade ao

32 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público de São Paulo. Vol VII. Pág 137.

33 FERREIRA, Roberto Guedes. Trabalho, Família, Aliança e Mobilidade Social: Estratégias de Forros e seus descendentes – Vila de Porto Feliz – São Paulo. Séc. XIX. In V Congresso Brasileiro de História Econômica e 6ª Conferência Internacional de Empresas. Caxambu. MG. 07 a 10 Set de 2003.

(26)

País,como verão V. Exa. dos documentos juntos; pois é verdade que os ditos, há muitos anos, que têm servido constantemente em praça de soldados do regimento.

Motivos estes, que me movem a recorrer a muita sábia proteção de V. Exa., para que, atendendo ao exposto, se digne mandar que se lhes dê a sua baixa, providenciando, outrossim, que jamais se assente praça a músicos desta vila pela grande falta e necessidade que deles há.

Deus guarde a V. Exa. por longos anos para amparo deste povo.

Quartel de Porto Feliz, 3 de novembro de 1822 Antonio Silva Leite, capitão mor”.34

O quadro abaixo dá uma dimensão da grande diferenciação que existia entre as próprias pessoas livres de cor na capitania e ao se observar os dados econômicos dessa população se observa a grande estratificação social que existia entre elas.

“Cabedais” de libertos, negros e pardos livres em São Paulo no ano de 1765.

Faixas de “cabedais” Nº. de domicílios %

Sem informação 60 82,1

Até 49$000 1 1,4

50$000 a 99$000 4 5,5

100$000 a 499$000 7 9,6

500$000 ou mais 1 1,4

Total 73 100

Obs: Foram considerados tanto os tratados como forros quanto os que só tinham uma cor atribuída a eles.

Fontes: Documentos Interessantes para a História e costumes de São Paulo. v. LXII, 1937 (“Recenseamentos [1765-1767]”).

Isto não implica necessariamente que esta solicitação de isenção da incorporação se destinasse aos regimentos de pardos uma vez que essa população livre de cor podia ser incorporada em qualquer força militar, pois, a bem da verdade, muitas autoridades eram contrarias a formação de regimentos exclusivos para homens de cor e preferiam que estes fossem incorporados nas unidades militares onde não havia esta separação, alegavam eles que assim o controle e a disciplina da tropa era facilitado.

As forças militares, as Milícias em especial, eram o “braço” das autoridades que chegavam a todos os lugares da colônia e através delas tinha o governo o controle da sociedade em todos os aspectos da vida social; desde o número de habitantes até os ofícios que porventura esse habitantes desempenhavam. Vale também salientar que essas forças eram as que executavam tanto as funções administrativas como as funções

34 FERREIRA, Roberto Guedes. Trabalho, Família, Aliança e Mobilidade Social: Estratégias de Forros e seus descendentes – Vila de Porto Feliz – São Paulo. Séc. XIX. In V Congresso Brasileiro de História Econômica e 6ª Conferência Internacional de Empresas. Caxambu. MG. 07 a 10 Set de 2003.

(27)

policiais, na atuando na manutenção da ordem e do sossego público. Essas forças militares seriam “a espinha dorsal da colônia, elemento de ordem e disciplina”, como diz Raimundo Faoro.35

Vale ressaltar também os diversos fins a que atendiam os recrutamentos das pessoas de cor, visto que esses recrutamentos não aconteciam somente com fins de formar tropas para o combate, havia recrutamentos para conseguir homens para exploração de territórios, povoamentos de pontos que já haviam sido explorados e necessitava de gente para sua povoação e com isso garantir definitivamente a posse.

35 FAORO, Raimundo. Os donos do Poder. Formação do Patronato Brasileiro. Vol. I, pág. 186.

(28)

Distribuição das tropas militares na Capitania de São Paulo

Depois da reorganização militar levada a efeito pelo Governador da capitania. D.

Luis Antonio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de Matheus, no ano de 1767, a capitania contava com um corpo de tropa regular que estava constituído por seis companhias de Infantaria destacada na cidade de Santos e estava encarregada de fiscalizar as fortalezas e controlar os registros e passagens da capitania.

Além destas tropas contava, agora, com as novas tropas auxiliares que estavam agrupadas em seis regimentos irregulares, dois de Cavalaria e quatro de Infantaria, constituídos com o número de homens que se pudera arregimentar em todas as vilas:

- O Primeiro Corpo de Dragões de São Paulo e Vilas do Sul de Serra Acima com doze companhias de Cavalaria e setecentos e sessenta e oito praças;

- O Segundo Corpo de Ligeiros de Guaratinguetá e Vilas do Norte de Serra Acima com seis companhias de cavalaria e trezentos e oitenta e quatro praças;

- O Terceiro Corpo de Infantaria de São Paulo e Vilas de Serra Acima com quinze companhias e novecentas e setenta e cinco praças;

- O Quarto Corpo de Infantaria de Guaratinguetá e Vilas de Serra Acima com seis companhias e trezentos e noventa praças;

- O Quinto Corpo de Infantaria da Marinha de Santos e Vilas do Norte com oito companhias e quintos e vinte praças e;

- O Sexto Corpo de Infantaria da Marinha de Paranaguá e Vilas do Sul com onze companhias e setecentos e quinze praças.

Na Comarca de Paranaguá os Regimentos de Milícias têm sua origem no Aviso Régio de 22 de Março de 1766, dirigido a D. Luiz Antonio ordenando que, nos distritos da sua Capitania, fizesse alistar toda a gente, sem exceção, nobres, brancos, mestiços, indígenas e libertos.

A fim de dar execução a esta ordem régia a Câmara Municipal de Paranaguá

“publicou o Bando, de 23 de Abril de 1766”36 para o chamamento dos conscritos. Em toda a Comarca de Paranaguá, litoral e planalto, alistaram-se onze companhias de Infantaria e três de Cavalaria, estas últimas de moradores da Vila de Curitiba.

Todas essas companhias passaram a compor o efetivo de um Regimento de Auxiliares, o 6º Corpo de Infantaria da Marinha de Paranaguá e Vilas do Sul, com o

36 WESTPHALEN, Cecília Maria. A Milícia na Comarca de Paranaguá e Curitiba. Pág 32

(29)

efetivo de setecentos e quinze homens no litoral e duzentos e cinqüenta e dois em Curitiba; para o comando deste Regimento de Auxiliares, o governador da capitania expediu patente de Sargento-Mor em favor de Francisco José de Monteiro e Castro, e de Ajudante em favor de Manuel da Cunha Gamito em 05 de setembro de 1767, ambos da tropa de primeira linha.

Estas três Companhias de Cavalaria Ligeira que haviam sido formadas em Curitiba também eram denominadas “uzares” 37, e contavam com um efetivo de oitenta elementos em cada companhia e um total de duzentos e cinqüenta e dois homens, incluindo neste número os oficiais. Todos os regimentos de auxiliares estavam denominados seguindo um critério de localização geográfica com a intenção de facilitar a reunião das diversas companhias para os exercícios militares e para alguma outra necessidade, principalmente defesa, que exigisse a sua convocação imediata.

A capitania de São Paulo estava dividida em duas grandes áreas geográficas:

Vilas do Norte

Santos São Vicente São Sebastião

Conceição de Itanhaem Ubatuba

Marinha

Vilas do Sul

Paranaguá Curitiba Iguape Cananéia

Vilas do Norte

Pindamonhangaba Taubaté

Guaratinguetá Jacareí

Mogi Serra Acima

Vilas do Sul

São Paulo Itu

Sorocaba

37LEONZO, Nanci. As Companhias de Ordenança na Capitania de São Paulo. Coleção Museu Paulista.

Série de História . Vol 6. Ed Fundo de Pesquisa do Museu Paulista- USP. São Paulo, 1997. pág 191.

(30)

Serra Acima Vilas do Sul

Jundiaí Parnaíba

As tropas militares ocupavam toda a capitania de São Paulo e totalizavam vinte e uma companhias de cavalaria, com um total de 1.404 cavaleiros incluindo os oficiais e quarenta companhias de infantaria reunindo, também com os oficiais, 2.600 pedestres38. A correspondência que o governador da capitania dirigiu nesta época ao Conde de Oyeras havia referências às companhias de mulatos onde informava que estes estavam alistados em destacamentos especiais, havendo um excelente em Santos, outro em São Vicente, um incompleto em São Sebastião e outros dois respectivamente em Taubaté e Pindamonhangaba, esclarecia também que na Marinha todos os pretos e mulatos usavam como armamento apenas lanças compridas. Isto deixa claro a intensa militarização que estava sendo desenvolvida na capitania; cabe registrar que já na primeira metade do século XVIII a Metrópole havia recomendado que não fossem formados corpos de infantaria somente com pardos e bastardos, pois isto poderia vir

“em grande prejuízo desse Estado, e muito contra a quietação, e sossego desses povos”.39 Estas recomendações se deviam, talvez, ao medo que as autoridades metropolitanas tinham de que essas tropas pudessem se amotinar colocando em perigo a paz na colônia, pois há que se considerar que a grande maioria da população, na época, era formada por homens de cor.

Quando assumiu o governo da capitania, em 1797, D. Antonio Manoel de Mello Castro e Mendonça reorganizou as forças militares existentes criando alguns regimentos em conformidade ainda com a Carta Régia de 22 de Março de 1766 dirigida a D. Luiz Antonio de Souza, então governador da capitania que dizia que o número das tropas auxiliares deveriam ser proporcional ao número de habitantes:

“...atenta a situação local della, e fronteiras que offerece ao ataque de qualquer Potência inimiga, julguei que devia formar mais Corpos Auxiliares ou Milicianos, por

38 LEONZO, Nanci. As Companhias de Ordenança na Capitania de São Paulo. Coleção Museu Paulista.

Série de História . Vol. 6. Ed Fundo de Pesquisa do Museu Paulista- USP. São Paulo, 1997. pág 192.

39 “Documentos Interessantes” para a História e Costumes de São Paulo. Edição do Arquivo Público do Estado. Vol 24 Pag. 43-44

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