• Nenhum resultado encontrado

Repositório Institucional UFC: A saga do guerreiro caririense

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Repositório Institucional UFC: A saga do guerreiro caririense"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

R osem berg C ariry se reconhece com o u m b o ém io convicto , incorrigível e cíclico, que alterna os m o m e n to s de boém ia com os de criação.

E n tre v is ta com o c in e a s ta

R o s e m b e rg C a r ir y . dia

1 5 /0 7 /9 2 . P r o d u ç á o ,

e d iç ã o e te x to fin a l: C a r m e n B r a s il, Is a b e la M a r t in e R o g é r io N o r õ e s . P a rtic ip a ç ã o : L u c ie n e U c h ô a , R o g é r io N o r õ e s , F e r n a n d a d a E s c ó s s ia , C la y ls o n M a r tin s , C a r m e n B r a s il, C h r is tia n e V ia n a , L y c ia R ib e ir o , Is a b e la M a r tin , E d g a r d P a tr íc io , A n g é lic a R a m o s , R o b e r to H ip ó lito , H e n r iq u e S ilv e s tr e e L e ô n ia V ie ira . F o to : J a rb a s O liv e ira .

m w

o c a n c io n e iro n o rd e s tin o te m um a

m ú sic a, m u ito p o p u la r, q u e diz assim : “ Só

d e ix o o m e u C a r ir i/n o ú ltim o p a u -d e -

a r a r a /m a s só d eixo o m e u C a r ir i/n o ú ltim o

p a u -d e -a r a r a ” . A in sistên c ia v erb al re a fir­

m a o a p eg o de u m p o v o à su a te rra , a p esa r

d a seca, d a p o b re z a , d a fo m e ...

P o d e p a re c e r c o n tra d itó rio , m as o c e a ­

rense R o se m b e rg , de s o b re n o m e (a rtístic o )

C a riry , n ã o e n c o n tro u n e n h u m a re sistê n cia

“ n o s a n g u e ’’ q u a n d o re so lveu d e ix a r o ser­

tã o . Ele g a n h o u as e stra d a s p a ra M in as G e ­

ra is a in d a m e n in o te , d e p o is v o lto u p a ra o

C e a rá , m as n ã o se c o n fo rm o u co m o in te ­

rio r p o r m u ito te m p o . L o g o , logo foi m o ­

ra r n a “ c a p itá ” , F o rta le z a .

A s a n d a n ç a s p e lo m u n d o fiz e ra m de R o ­

se m b e rg um p o e ta /c o m p o s ito r /c in e a s ta .

N a v e rd a d e , o ú n ic o h o m e m de c in e m a do

E s ta d o com alg u m d e sta q u e . O tra ç o m a r­

c a n te de su a o b ra é a c u ltu ra p o p u la r n o r­

d e stin a , q u e a flo ra a g re ste , c o n flitu o s a ,

s u b m issa e q u e s tio n a d o ra . T u d o a rru m a d o

p a ra m o s tra r u m a g e n te ru d e , c a p a z a té de

r e in v e n ta r c o n c e ito s e n o r m a s p ré -

e sta b e le c id a s.

A sim bio se co m o p o v o n ã o é c a su a l. R o ­

sem be rg é filho de u m p e q u e n o c o m e rc ia n ­

te d a c id a d e z in h a de F a ria s B rito . D ev id o

a o clim a d o s e rtã o , o g a ro to C a riry foi

o b rig a d o a tr o c a r de c id a d e um p a r de ve­

zes: A n o c h o v ia d e m a is, tin h a en ch e n te ;

a n o c h o v ia de m e n o s, h a ja seca. M esm o a s­

sim , b o a p a rte d a in fâ n c ia e d a a d o le sc ê n ­

cia viveu n a p e rife ria d o C ra to , n o m e io de

e m b o la d o re s , c a n ta d o re s e p o e ta s , q u e h a ­

b ita v a m o b a lc ã o e as m esa s d a m e rc e a ria

d o seu p a i.

C h e g o u em F o rta le z a p o r v o lta de 75.

A q u i, e n g a jo u -se n o m o v im e n to e s tu d a n til-

c u ltu ra l-b o ê m io , lu ta n d o c o n tra p re c o n c e i­

to s e c o n tra o a b s u rd o d a d ita d u ra m ilita r.

E n fim , c o n tin u o u a fa z e r “ c o n fu s ã o ” c u l­

tu ra l, c o m o n o s te m p o s d a F a c u ld a d e de

F ilo so fia d o C r a to , q u a n d o ele e u m g ru p o

de a m ig o s fa z ia m p e rfo rm a n c e s a b s u rd a s :

b o rrifa v a m p ro fe s so re s c o m b o m b a s de

m a ta r m o s q u ito , ch eias d ’á g u a , etc.

A a n g ú stia , a m e m ó ria , a ru p tu r a , to d a s

as faces d o m o saico d a c u ltu ra p o p u la r

a p a re c e m n o tra b a lh o de R o se m b e rg C a ­

riry . “ O q u e eu ve jo é o p o v o em m o v im e n ­

t o ” . M esm o se d iz e n d o a n tic le ric a l, ele re ­

c o n h e c e ta m b é m a in flu ê n c ia c o n tra d itó ria

d a c u ltu ra p o p u la r, fo rm a d a e n tre o c a ri­

n h o d a a v ó q u e c o n ta v a “ c a u s o s ” m ístic o s

e a re p re ssã o d o s sem in ário s d o C a riri.

D a n d o u n id a d e a o m o sa ic o , um d e sa fio :

c ria r um n o v o p a d rã o e sté tic o , u tiliz a n d o

c o m o p o n to de p a rtid a o s re fe re n c ia is da

c u ltu ra p o p u la r.

A in d a c ria n ç a viu um film e p r o je ta d o na

p a re d e de u m a ig re ja . F ico u a b ism a d o com

a q u e le te lã o , im e n so . A g o ra , fa z e r c in em a

m e sm o , só em 75. A fita se c h a m a v a “ A

P r o fa n a C o m é d ia ” , film a d a em su p e r 8.

D e p o is, p o r v o lta de 85, veio “ O C a ld e i­

r ã o ” . E ste tra b a lh o a b riu as p o rta s p a ra o

jo v e m R o se m b e rg . E le g a n h o u p ré m io s n a ­

c io n a is e e stra n g e iro s, fic a n d o c o n h e c id o

n o e x te rio r.

N a c o n tra m ã o d a c rise, a c a b a de film ar

“ A S a g a d o G u e rre iro A lu m io s o ” . U m a

g ra n d e p ro d u ç ã o , fe ita n o in te rio r do N o r­

d e ste , q u e já c o n su m iu c erca de 400 m il d ó ­

la re s. C o m o film e, o C e a rá se c o lo c a na

v a n g u a rd a d o c in e m a n a c io n a l, p ois em 92

o B rasil só tev e fô le g o p a ra p ro d u z ir três

lo n g a s-m e tra g e n s.

R o se m b e rg diz q u e é u m b o é m io c o n v ic ­

to , in co rrig ív el e cíclico, q u e a lte rn a os m o ­

m e n to s de b o é m ia c o m os d e c ria ç ã o . F u m a

o te m p o in te iro , fa la sem p a r a r e sem p e r­

d e r os tês e dês m o le n g o s d a fa la d a R egião

d o C a riri. À s vezes se p re o c u p a co m a s a ú ­

de — “ c o m o j á disse, e sto u m e n o s su ici­

d a ” . R o se m b e rg j á c o n se g u iu s u p e ra r a

é p o c a d as d ific u ld a d e s fin a n c e ira s e s o b re ­

vive d a re n d a de s u a p r o d u to r a , a C a riry

P ro d u ç õ e s .

(2)

R o s e m b e r g C a r i r y s e p r e o c u p o c o m o s a ú d e , m a s e m d u a s h o r a s e m e i a d e e n t r e v i s t a , p e r d e u - s e a c o n ta d o n ú ­ m e r o d e c ig a r r o s q u e f u ­ m o u .

U m a d a s p r im e ir a s in v e s ­ tid a s d e R o s e m b e r g na á r e a d e c i n e m a a c o n te ­ c e u q u a n d o e le fe z o r o ­ t e ir o d e " A P r o fo n a C o ­ m é d i a " .

N o in íc io d e s t e a n o , R o ­ s e m b e r g film o u ” A S a g a d o G u e r r e ir o A l u m i o s o " , u m d o s t r ô s f ilm e s p r o d u ­ z id o s n o B r a s il e m 1 9 9 2 .

2 4

Laboratório de JornalismoVo­ cê assumiu esse sobrenome, Ca­ riry, que é um nom e artístico, p o r­ que você ainda cultua as origens, a terra que você nasceu?

Rosemberg Cariry — E xiste um a paixão m uito im ensa p o r aquela região. O C ariri é um tem a que me fascina p ro fu n d a m e n te , ta n to pe­ lo seu aspecto paisagístico com o pela sua geografia h u m a n a , pela im po rtância d a cu ltura p o p u la r e dos m onu m entos da região. C he­ guei em F ortaleza em 75. A ntes,

•io C ariri, a gente fazia poesia e publicava revista de lite ratu ra , fa­ zia tea tro , as prim eiras experiên­ cias de cinem a. A m inha re ferê n ­ cia do C ariri e ra um a coisa m uito

fo rte , e n tã o o pessoal m e cham ava de R osem berg C ariry.

“ O C a riri é um te m a

q u e m e fa sc in a

p ro fu n d a m e n te , p ela

im p o rtâ n c ia d a

c u ltu ra p o p u la r, pela

su a g e o g ra fia

h u m a n a e

m o n u m e n to s ”

L JC om o f o i a saída do inte­ rior? Foi difícil deixar o Cariri? R C — N ão. N ão.

L JCaririense é desgarrado? R C — C om o to d o bom cearense. M as ao m esm o tem po m antém aque la paixão pela terra. N ão foi urna coisa difícil. Na verdade, te­ n h o a m inha vida um ta n to q u a n ­ to itinerante, sobre alguns aspec­ tos. Na seca de 58 (ele tin h a 5 anos), meu pai teve que a rrib a r de F arias B rito (sua terra natal). P a ­ pai era pequ en o negociante, e fo­ m os m orar em C edro, on d e tinha p arte da fam ília dele. N o início da d écada de 60, houve um a en ch en­ te im ensa e saím os de iá e fom os p a r a o C r a to . M in h a p re - adolescência inteira foi no C rato. O nd e conheci grandes nom es da cu ltura p o p u la r. Essa coisa do p o ­ pu lar me m arc ou p ro fu nd am en te . M eu pai tinha um a bodega, então to d o s aqueles cantad o res de feira, violeiros, o p ró p rio P atativ a do A ssaré (fam oso p o e ta po p u lar norde stino, conhecido a té na E u ­ ropa ) freq uen tav a a bodega, ia al­ m oçar lá em casa. Vem daí esse a m o r, essa relação com a cu ltura po p u la r. P o u co tem po depois fui estu d ar nos sem inários (“ São F ranc isco ” , em Ju azeiro do N o r­ te, e “ S agrad a F am ília” , no C ra ­ to). Q u a n do saí desses sem inários,

“ M eu p ai tin h a u m a

b o d e g a . O s

c a n ta d o re s d e feiras

v io leiro s

fre q u e n ta v a m a

b o d e g a . É d a í m eu

a m o r p ela c u ltu ra

p o p u la r ”

era po r volta de 68. T ava explo­ dindo o m un do e o P aís. E n co n ­ trei tu d o em alvoroço. Nessa ép o ­ ca passei a ter os prim eiros c o n ta ­ tos com m ilitantes de esquerda, com en co ntros clandestinos até no sem inário. D epois, em 71, fui es­ tu d a r em O u ro P re to , M inas G e­ rais. Essa foi um a das experiências m ais m arcantes. U m a época de in­ tensa atividade, q u an d o descobri que existia o m odernism o. P ouco te m p o depois a rreb e n to u o A .1-5. E n tão , eu vivi essa efervescência política e cultural de form a in te n ­ sa. O certo é que po r dificuldades financeiras, term inei v o ltand o p a ­ ra o C rato . Aí, a gente desenvol­ veu um m ovim ento artístico c h a ­ m ado grupo de arte “ P o r E xem ­ p lo ” . A gente fazia te a tro , cin e­ m a, m úsica. D epois, me casei. Em 75, vim para F ortaleza.

‘‘D ep o is d o

se m in á rio fui m o ra r

n o C ra to . F oi lá q u e

com ec ei a to m a r

c a c h a ç a , n a m o ra r e

fui lev ad o pela

p rim e ira vez ao

c a b a r é ”

L JComo f o i sua convivência com os dogmas da religião (no se­ minário)?

R C — M inha convivência m ais di­ fícil foi com o sem inário francis- can o. U m a coisa m edieval, m es­ m o. A gente assistia a 3 missas por dia, vestia b a tin a. E ram castigos terríveis. P assáv am o s de 3 meses em silêncio, sem pod er se co m u n i­ car com os o u tro s. As vezes se fa ­ zia bilhetinhos. Um m edo terrível perm eava aquele am biente.

L JO seu pensamento questio-nador surgiu no seminário?

R C — N ão. H ouve um a experiên­ cia a n te rio r (O uro P reto). A gora, isso com eçou a efervescer d u ra n te o sem inário. M inha prim eira g ra n ­ de in qu ietação foi de ntro do p ró ­ prio sem inário. D epois, term inei saindo. E stava ficando um a pri­ são p ra m im, pra ticam ente a d o e ­ ci.

L JVocê f o i expulso do sem iná­ rio?

R C — C hegaram a um consenso, meu pai e o clero (risos).

L JComo f o i provar da liberda­ de, depois desse tempo?

R C — E u m orava na periferia do C ra to . Esse lance de periferia me colocou em co n ta to com um a série de artistas po pulares, de figuras populares. Foi a época que com

e-“ C in e m a é u m a

p a ix ã o a n tig a . A

g ra n d e e p rim e ira

co isa q u e m e

im p re ssio n o u foi

u m a tela de cin em a

n o “ o itã o ” d a

ig re ja ”

cei a to m ar cachaça, nam ora r bas­ ta n te , fui levado pela prim eira vez ao cabaré. No o u tro sem inário, q u e fui depois (“ S agrada F am í­ lia” , dos padres alem ães), e n c o n­ trei um am biente totalm en te d ife ­ rente, m uito m ais a b e rto . A gem e pod ia conviver com a sociedade. A prim eira vez que fumei m aco­ n h a foi nesse sem inário, por aí vo­ cê tira.

L JE o cinema, hein Rosem ­ berg?

(3)

pa-triarca do se rtã o ” , com centena de ato res, grandes fotóg rafos, grandes técnicos. U m a pro dução cara. O Jé fe rso n Jú n io r, na ép o ­ ca, assistente de pro d u ç ão , me convidou para a ju d a r no filme, fazer um a po n ta . D epois que a c a­ bou a p ro d u ç ã o , a prim eira coisa que a gente pensou foi fazer um film e. A i, escrevi um roteiro ch a­ m ado “ A P ro fa n a C o m éd ia ” , um a revisita a D ante, c o n ta d a sob a perspectiva da cu ltura po p u la r, do cordel. Esse foi m eu prim eiro tra ba lh o.

L JQuando começou a entrar dinheiro? Nessa época parecia m uito idealista.

R C — A inda é m uito idealista. Você im agina um talento com o A rn aldo Ja b o r sobreviver escre­ vendo pa ra a F olha de S ão P a u lo , o u um talento da ordem de Nelson P ereira dos S antos, que há vários anos não film a. Neste P ais, um P aís que praticam ente em d ua s dé­ cadas conseguiu prod uz ir 3 obras- p rim a s do c in e m a m u n d ia l ( “ Vidas S ecas” , Deus e o D iabo na te rra do so l” , “ Os F uzis” ). Você tem a cinem a tog rafia com o a am ericana, a m aior indústria em atividade do m un do , q ua n tas obras-prim as produ ziu ? N ão tem

1 5 .

L JQual a receptividade dos seus trabalhos?

“ T ín h a m o s u m a

re la ç ã o

e s q u iz o fré n ic a com o

p ú b lic o . Q u e ría m o s

q u e b ra r c o n c e ito s.

T ín h a m o s a

p re te n s ã o de ser

v a n g u a rd a ” .

R C — A gente tin h a um a relação ba sta nte esquizofrénica com o p ú ­ blico. Foi um a época que q u ería­ m os q ue b rar determ ina dos concei­ tos. T ín ha m os a pretensão de ser v ang ua rda. P o r exem plo, invadía­ m os a F aculdade de F ilosofia do C ra to com bom b as de “ d e te fo n ” , com água d en tro . C hegávam os na P ra ç a da Sé e arm ávam os um a pro cissão. A relação com o p ú b li­ co era m uito louca. A sociedade caririense, principalm ente a cra- tense, com aquela coisa de aristo ­ cracia rural dec adente, era um a coisa pro fu n d a m e n te con se rvado ­ ra. N ós pagávam os um preço.

L JFoi caro?

R C — N ós pagam os o preço da m arginalização. T a n to que algu­ m as pessoas desse gru p o consegui­ ram se afirm a r, o u tra s en lo uqu e­

ceram , o u tra s p iraram com lance de dro ga s. U m a coisa só possível de acontecer naquele tem po em plena d itad u ra m ilitar.

L JQual a relação do grupo com a religiosidade ali do Cari ri, Juazeiro, Padre Cícero?

R C — A o m esm o tem po que se desenvolveu um a coisa p ro fu n d a- m ente anticlerical, p o r c o n ta , ta l­ vez, da m inha vivência no sem iná­ rio, eu tenho um a p ro fu n d a adm i­ ração p o r São F rancisco de Assis. Essa coisa me co n flito u bastan te . O certo é que me to rnei anticleri­ cal.

“ T o rn e i-m e

a n tic le ric a l, talv ez

p ela vivência no

se m in á rio . M as

te n h o p ro fu n d a

a d m ira ç ã o p o r S ão

F ra n c isc o de A ssis”

L JA religiosidade está bastan­ te presente na sua obra?

R C — M uito m ais a religiosidade po p u la r. O C rato sem pre teve um a posição m uito elitista, cienti- ficista da religiosidade d o C ariri. P a ra o C ra to , tu do aq u ilo era um bando dc fanáticos, pob res e anal­ fabetos. Sem pre tentei enxergar naquele m ovim ento o u tra coisa que n ão fosse aque la visão sim ­ plista.

L J — O que você enxergava? R C — Via um povo em m ovim en­ to. N a ten tativ a de criação de um a religiosidade diferenciada d a igre­ ja oficial. Via um a coisa ao m es­ m o tem po subm issão p o rqu e h a ­ via to d a um a c ultu ra de subm issão im p osta pela ideologia do m in an te da Igreja, ao m esm o tem po aquilo era um a possibilidade de ru p tu ra . Um processo in ac a b ad o, um a “ C a n u d o s” estendida n o tem po.

L J — Qual é a estética que você tenta trabalhar?

R C — U m a coisa que m e deixa in ­ dignado é o que está acontecendo com os grandes m estres d a cultura p o p u la r do C eará. O m estre C hico do C edro, d a B anda C abaçal, m orreu de fom e. Zé G ado, um dos m aiores m estres d o povo, m orreu de fom e. D on a C ícera do B arro C ru , que tem o bra s na E u ­ ropa, no M useu do L ouvre, em P aris, m o rre u de fom e. Fico me perg un tan do : “ Q ue sociedade é essa?” . É um a sociedade que tem tal desprezo p o r si m esm a, um a coisa única. N unca vi um povo p a ­ ra ter ta n to desprezo p o r si m esm o com o o cearense. C ab eria um se­ m inário sob re isso.

L JA população que sofre a m i­ séria consegue se vê na mensagem que você tenta passar?

R C — R apaz, ach o que sim . A gente term ina am ad urece nd o mais um pou co, e aque la coisa m eio suicida da ju ven tu de vai to m and o o u tro s aspectos. P o r exem plo, o “ C ald eirã o ” é um filme m ad u ro e se com u nica m uito bem p o p u la r­ m ente. O gran de cam inho desse film e foi as organizações p o p u la ­ res. D iversas organizações de as­ sentam en tos de re fo rm a ag rária se espelhavam na experiência coleti­ vista d o C ald eirão . E n tã o , esse fil­ me deu um a contrib uição m uito grande na área acadêm ica. P ela prim eira vez se ab o rd o u a questão através da arte. É depois d o filme que surgem as prim eiras teses so­ bre o C aldeirão. M as a im p o rtâ n ­ cia m aior foi a receptividade p o ­ pu lar que o filme teve. Ele fez um a coisa fan tá stic a, as pessoas que viam “ O C ald eirã o ” , os re­ m anescentes, que viviam escondi­ dos e enverg onh ados, ta m a n h o foi o m assacre, ta m a n h a foi a perse­ guição e a p ro p a g a n d a , q u e aquilo tin h a sido algo m o n stru o so . H oje eles já falam , se orgu lh am de ter partic ipa do da h istó ria do nosso povo.

L JVocê aceitaria um trabalho p o r encomenda, mesmo que você não se identifique com o traba­ lho?

R C — A ceito, e deixo m eu telefo­ ne.

L JA h , Rosemberg. Então não é mais tão idealisa assim, não. R C — C laro que n ão . É com o eu falei, não m ais suicida. M as ao m esm o tem po idealista, p o rq u e há paixões que são únicas n a vida.

“ O s g ra n d e s m estre s

d a c u ltu ra p o p u la r

d o C e a rá m o rre ra m

de fo m e . Isto m e

d eix a in d ig n a d o . Q u e

so c ie d a d e é e s s a ? ”

E n tã o , essas paixões devem ser vi­ vidas com to d a a intensidade e com to d o o preço que se deva p a ­ gar p o r isso. “ O C ald eirã o ” , só p ra você te r um a idéia, n a época eu tra b a lh av a n a Im prensa O ficial (IO C E ), ganhava o co rresp o n d en ­ te a 2 salários e so nh an d o fazer ci­ nem a. O u seja, é im possível, é um a lo ucura. M as me decidi a fa­ zer o film e. C onsegui u m a disposi­ ção. C onheci um cara cham ado

R onaldo N unes, que disse que ti­ nha um a câm era. C onsegui m uito

C a r ir y Já f o i m ilit a n t e d o P C d o B e a c h a q u e d e ­ p o is d a d e r r o c a d a d o L e s ­ te E u r o p e u , o s p a r tid o s d e e s q u e r d a d e v e m f a ­ z e m r e fle x O e s .

C a r ir y 6 c a s a d o c o m a a t r iz T e ta M a ia , te m t r ô s f ilh o s . P e tr u s C a r ir y e s ­ c r e v e r o t e ir o s c o m i n ­ f lu e n c ia m a r c a d a m e n t e a m e r ic a n a .

R o s e m b e r g C a r ir y é u m a m a n te d a b o a c a c h a ç a . B e b e p o r q u e g o s ta , p a r a a |u d a r n a In s p ir a ç ã o e p a ­ r a fa la r a lin g u a g e m d o 'b e b o '.

(4)

R e s e m b e r g d e c i d iu f ilm a r " 0 C a l d e i r ã o " c o m a c a r a e a c o r a g e m . N a Ô p o c a e le t r a b a lh a v a n a IO C E e g a n h a v a d o is s a lá r io s m í­ n im o s .

A p e s a r d o e x c e s s o d e á l­ c o o l e f u m o , R o s e m b e r g C a r ir y d iz q u e n â o te m im p u ls o s u ic id a , m a s u m a a n g ú s tia m u it o in t e n s a .

R o s e m b e r g 6 d o n o d a p r o d u t o r a C a r ir y v íd e o . E le d iz q u e a c e it a q u a l­ q u e r t r a b a lh o q u e n õ o a tin ja a d ig n id a d e e d i r e i ­ to s h u m a n o s .

2 6

negativo vencido, p o n ta de negati­ vo. Foi u m a verdadeira lou cura, um m u tirã o , que reuniu m uitos am igos e passam os quase 2 anos fazendo esse film e. U m a coisa louca, dispendiosa. E ra dinheiro d o m eu bolso , dinheiro de am igos. C hegou num p o n to tal, que eu fa­ lei com um d e p u ta d o ch am ad o R aim undo B ezerra. Escrevi um a c a rta e ele levou p a ra o G onzaga M o ta (en tão g o ve rn ad o r do E sta­ do ). P ela prim eira vez o G onzaga liberou um a g ra n a. O M arcondes R osa (P ró -re ito r da U F C ) conse­ guiu 10 latas de negativo. Aí des- lanchei o film e. C onclui as e n tre ­ vistas. N aquela época a E m brafil- m e tin h a um co n c urso , você m an ­ dava seu ro te iro e consegui a fina­ lização.

L JCorno está a relação com o poder cultural estabelecido? M e­

lhorou? Piorou?

R C — E u ten ho um p ro je to que sonh ava h á m uito tem po , ch a m a­ d o “ A Saga d o G uerreiro A lum io- s o ” . A r r a n je i a lg u m a s c o - pro du ç õ es, alguns apoio s in te rn a ­ cionais p ara a realização do filme. P assou um a n o e eu pen sa nd o co­ m o fazer esse p ro je to . Resolvi es­ crever um a c a rta p a ra o go verna­ d o r (C iro G om es), dizend o o se­ guinte: “ E stou com um film e. Vai custar 400 mil dólares e considero fu nd a m e n ta l. Pedi 50 mil dólares. O certo é que o E stado p artic ipo u. A ch o que fez um bom negócio, p o rq u e no P aís este an o só foram p ro du z id os 3 film es. O C eará está sendo o cabeça da van g u a rd a do c i n e m a b r a s i l e i r o , l a t i n o - am ericano , com 1 film e.

“ P ro c u ro n u n c a

fa z e r q u a lq u e r co isa

q u e a tin ja a

d ig n id a d e d o

h o m e m . N u n c a fiz

n a d a c o n tra n e g ro ,

m in o ria s ou

h o m o s s e x u a is ’’

L JA sua produtora (Cariry Ví­ deo) p o d e ter restrição ideológica a algum trabalho?

R C — R apaz, tem . P ro c u ro nu nca fazer q u a lq u e r coisa q ue a tin ja a dignidade do ho m em , a alguns di­ reitos. O u seja, n un ca fiz nada c o n tra negro, m inorias ou h o m os­ sexual. N unc a trab alhei p a ra lati­ fund iários.

L JSe tiver uma proposta, va­ m os dizer, do governo do Estado

para Jazer uma campanha para prefeito. Você fa z ?

R C— Faço.

L JQual a diferença de traba­ lhar para o Assis e para o Collor? R C — Você qu eira ou não qu eira, é um a coisa inegável: a e n tra d a do Sr. T asso Jereissati trouxe tra n s­ form ações p a ra o E stado . Você querer jo g a r o T asso e o C ollor no m esm o saco, n ão sei... (tom de

de-“ S o u um b o é m io

in co rrig ív el e cíclico.

Q u a n d o e sto u

a n g u s tia d o , c ria n d o ,

b e b o c a c h a ç a . A

c a c h a ç a é u m d a d o

c u ltu ra l c o m u m ’’

saprova ção). É a m esm a coisa que dizer que o Ju raci (M agalhães, p refeito de F ortaleza) não está fa­ zendo um a adm in istração boa. Ele tá. A gora, se você perg u n tar pelos interesses das em preiteiras, ai a gente en tra em o u tra discus­ são. C om relação ao T asso, não houve ne n hu m a revolução, longe disso. C o ntin u a m mil vícios.

L JO P C do B (ele já f o i mili­ tante deste partido) está no cami­ nho certo?

R C — T o d o s os p artid o s de es­ q u erd a têm q u e repensar algum as questões depois d a d erro ca d a da b u ro cracia d ita socialista do Leste E u ro p e u. H avia, p o r exem plo, a q u estão do stalinism o, a censura. U m a série de coisas que sem pre foi um a briga in te rn a m uito forte. A m aioria dos artista s que m ilita­ vam no P C d o B sem pre foi c o n ­ trá ria a algum as leituras, algum as posições m ais sectárias. O artista geralm ente tem que ser m ais a b e r­ to , h u m an itário .

L JVocê é boém io?

R C — Sou incorrigível (risos) e cí­ clico tam bém .

L J — Cíclico, p o r quê?

R C — G eralm en te, q u an d o estou an g u stiad o , cria n d o o u coisa p a re ­ cida, bebo cachaça. A cachaç a é um dad o cultu ral-com um . N a d é ­ ca d a de 70, principa lm ente lá em O u ro P re to , essa coisa virou um a coisa quase d o en tia. E ra aquela ép o ca da repressão, do m edo. E O u ro P re to é um a cidade m uito triste, fria, cheia de névoa, cem ité­ rio, igrejas barrocas, m órbidas. E n tã o se bebia m uito nessa época.

L JSe bebia pra quê?

R C — N ão sei. E ra p ara brincar, co n v e rsa r, o u v ir m úsica. P ra q u alq u er coisa. D eixa só dizer p o rq u e cíclico. P o rq u e às vezes es­

to u assim e tal, d á um a vontad e louca de beber e fa la r a linguagem d o “ b e b o ” ’ (com voz sim ulando em briaguez), d á vontad e de co n­ versar, discutir, c o n ta r vantagens. O u seja, coisa no rm al.

L J — Você fa la em angústia e criação, tem alguma relação? R C — T á p ro fu n d a m e n te ligado. É um a m istura m uito louca. C om relação ao filme que acabei de fa ­ zer (“ A Saga do G uerreiro Alu- m io so ” ). Você vinh a de um a im ­ potência , do saber fazer, do ter cria d o e não pod er realizar. Im a ­ gina você ser casad o com um a m u ­ lher b o n ita, que você am a e ser im po tente . Q u a nd o você pode, são ta n ta s as frustrações ac u m u la ­ das, ta n ta s as responsabilidades, tan ta s as em oções. È com o se fos­ se um bio d ram a . Você tra b a lh a o tem po inteiro no fio d a navalha. Você arrisca.

L JQuando é que o Rosemberg passou a ter 300 desaforos na p o n ­ ta da língua? Era pra quem ? R C — Esse livro ( “ In a ro n, na p o n ta d a língua trago 300 mil de­ sa fo ro s” ) é típico da década de 70, da m inha vivência histórica dessa época da rebeldia. Um livro

“ À s vezes d á u m a

v o n ta d e de b e b e r e

fa la r a lin g u ag em d o

“ b e b o ” , de

c o n v e rs a r, d isc u tir,

c o n ta r v a n ta g e m . O u

se ja , co isa n o r m a l”

que está p ro fu n d am en te m arcado pela m ilitância m arxista. N a ver­ da d e são sextilhas, que dizem as­ sim: “ Sou berisco do T e ix e ira / F uro p a u , furo tijo lo / M ando a m ão, já vejo a q u e d a / M ando o pé, já vejo o ro lo / N a p o n ta da língua trago 300 mil de sa fo ro s” . È um a c a rta d esa fo ra d a que queria m a n d a r ao m u nd o. U m a coisa m uito pretenciosa. U m testem u­ nho sob re o q u e eu vivia. H o je , re­ lendo, n ão conseguiria m ais escre­ ver um livro daqueles. N ão teria o m esm o ím peto. H istoricam ente n ão estou vivendo a m esm a situ a ­ ção. H oje seria trad uz id a de um a fo rm a estética d iferente, m enos raivosa. E stou resg atan do o liris­ m o que tin h a esquecido.

L JComo é o Rosem berg mari­ do?

(5)

L JComo é o relacionamento com seus filh o s?

R C — A do ro crianças. T enho um relacionam ento com os filhos (3) m uito bom . T enho um filho a d o ­ lescente (P etrus C ariry). Ele é um cara m u ito ligado n a questão d a im agem , escreve roteiros. M as a influência dele é m arcadam ente am ericana. Ele tá m ais pra

Spiel-“ A n g ú stia e c ria ç ã o

e stã o lig ad as.

Im a g in a vo cê ser

c a s a d o e im p o te n te .

Q u a n d o você p o d e ,

são ta n ta s

fru stra ç õ e s

a c u m u la d a s ’’

berg do que pra R osem berg C a­ riry. A gora estam os passa ndo po r um processo de ru p tu ra s, norm al nessa idade.

L JO Petrus está com 14 anos,

anda com os próprios colegas, to­ mando decisões. A questão da droga te preocupa?

R C — P reo cu pa. M as n ào é que eu vá reprim ir. Na m inha adoles­ cência e ju v en tu d e andei p o r esse cam inho, sei d o que se tra ia . N ào são cam inhos fáceis. V ocê pode chegar num c e n o grau de m atu ri­ dade. de estabilidade em ocional, que se po d e a té fazer uso d a droga com um c e n o c o n fo n o . V am os dizer, o fum o, p ara ag u ç ar a tu a sensibilidade, fazer um a m úsica. M as isso depende de cad a pessoa. A g ora , p o r trá s disso (droga) você tem um a verdadeira m áfia, p ro ­ fund am e nte cruel. E um filho é um a coisa que você a m a tan to , que você n ão tá a fim de jo g ar com o fu tu ro dele.

L JQue tipo de droga você utili­ zou, Rosemberg?

R C — R apaz, na época, fum ava m aconha. Teve a época da viagem com cogum elo. U m a coisa m ais li­ gada às experiências m etafísicas. Cheguei a ch eirar pó. LSD , não .

L J — O Petrus sabe disso ? R C — (risos) Você vai m o strar a entrevista p ra ele?

L JVocê fu m a e bebe. A tua saúde te preocupa?

R C — O lh a, p re ocu pa. F um o há m uito tem po . B ebo h á m uito tem ­ po. Ê possível que com 39 an o s a m áq uin a com ece a cansar. T enho p ro c u ra d o ler sobre álcool, cigar­ ro e tal. De vez em q u a n d o dou um as p arad as no cigarro. M as é um a dependência psicológica in­

crível. O álcool, não . É um a coisa q u e entorpece. É a p ró p ria

nicoti-“ N ã o so u m ais

su ic id a , m as a in d a

id e a lista p o rq u e h á

p aix õ es. E elas

d ev em ser vividas

a p e s a r d o p re ç o q u e

se p a g u e p o r is s o ’’

R o s e m b e r g C a r ir y s o fr e u d a s d o r e s d o ff p ic o n o r ­ d e s t in o . P o r c a a s a d o in ­ v e r n o f o r t e o u d a s e c o , t r o c o u d e c id a d e s v á r ia s v e z e s .

na. A dose de nicotina diária que m eu corp o pede. Se n ão fum ar, n ão consigo escrever, fico irre­ qu ieto, irritadiço, brig u en to , im ­ paciente. U m a dificuld ade louca.

L JTá com m edo de morrer? R C — N ã o. M as estou pensando em conciliar as coisas, me p o u p a r um p o uco . O u seja, a tendência suicida que tem nessas coisas (á lc o o l/fu m o ) pode ser co n tro la ­ da.

L JVocê tem instintos suicidas? R C — B icho, te n h o. N ão diria im ­ pulso suicida, m as u m a angústia

m u ito intensa. R o s e m b e r g C a r ir y p a s s o u t o d a a p r é - a d o le s c ê n c ia n o C r a fo . F o i Jú o n d e c o ­ n h e c e u g r a n d e s n o m e s d a c u lu r a p o p u la r .

A c o m u n i c a ç ã o é fu n d a m e n ta l

p a r a q u e m p r e t e n d e

c r e s c e r e a p a r e c e r .

U m a b o a a sse sso ria d e

c o m u n i c a ç ã o é o

c o m e ç o d e tu d o .

J o rn a is , re le a s e s , re v is ta s ,

fo ld e rs e c a r ta z e s s ã o v e íc u lo s

d e s s a c o m u n ic a ç ã o .

É im p o r ta n t e p e n s a r nisso.

A fin a l, a l a . Im p re s s ã o

é a q u e fic a !

A v e n id a d a U n iv e r s id a d e , 24 4 6 B e n fic a F o n e : 2215897

Referências

Documentos relacionados

A parcela do valor da operação de alienação de participação societária passível de determinação em razão do implemento de condição suspensiva integra o preço de

Garantia provisória no emprego decorrente da aplicação das medidas de redução e suspensão do contrato de trabalho, inclusive quanto ao início da garantia para empregadas gestantes,

– Eletrobrás, limitada a 39% das obrigações decorrentes da Emissão; (ii) fiança prestada pela Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, limitada a 10%

De acordo com os atletas da Universidade Católica de Brasília, os suplementos nutricionais que mais aparecem são: Maltodextrina com 55%, no qual eles visam maior fonte de

Cartografia do grafite carioca : transgressão, cooptação e mercado na Zona Sul do Rio de Janeiro / Hely Geraldo Costa Júnior ; orientadora: Denise Berruezo Portinari.. Rio

Você não deve tomar BISOLTUSSIN se tiver alergia à substância ativa ou a outros componentes da fórmula; em tratamento concomitante ou tratamento nas 2 semanas anteriores com

Não deve ser classificado como tóxico para órgãos-alvo específicos (exposição única). Não deve ser classificado como tóxico para órgãos-alvo específicos

A respeito da possibilidade da incidência do imposto de renda sobre valores de natureza indenizatória a doutrina diverge. Para uma corrente, o simples fato de uma verba