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CPC 29 – ATIVO BIOLÓGICO Uma contribuição à mensuração do valor justo do ativo biológico florestal MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUÁRIAS

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MAURO QUIRINO

CPC 29 – ATIVO BIOLÓGICO

Uma contribuição à mensuração do valor justo do ativo biológico florestal

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUÁRIAS

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

MAURO QUIRINO

CPC 29 – ATIVO BIOLÓGICO

Uma contribuição à mensuração do valor justo do ativo biológico florestal

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUÁRIAS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção de título de MESTRE em Ciências Contábeis e Atuárias, sob a orientação do Prof. Dr. Sérgio de Iudícibus.

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

QUIRINO, Mauro

CPC 29 – Ativo Biológico: Uma contribuição à mensuração do valor justo do ativo biológico florestal / Mauro Quirino – São Paulo: PUC/SP, 2011 104 f.

Orientador: Professor Doutor Sérgio de Iudícibus

Dissertação – Mestrado Bibliografia

1. Ativo Biológico florestal 2. Valor justo

(4)

Banca Examinadora:

Prof. Dr. _________________________________________________

Prof. Dr. _________________________________________________

(5)

DEDICATÓRIA

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus pela vida, inspiração, força e perseverança nos momentos difíceis.

A minha família pelo amor, carinho, apoio de sempre e por entenderem os momentos de ausência.

Ao meu orientador, Professor Doutor Sérgio de Iudícibus, uma das pessoas mais brilhantes que tive o prazer de conhecer, pelas ricas contribuições, apoio e estímulo.

Aos professores da PUC-SP, mestres admiráveis, com os quais tive o prazer de participar de suas aulas – Doutor Roberto Fernandes dos Santos, Doutor Antonio Robles Junior, Doutor Carlos Hideo Arima, Doutor José Roberto Securato, Doutor Juarez Torino Belli e Doutor Rubens Fama.

Aos membros da Banca de Qualificação, que além dos professores Doutor Sergio de Iudícibus e Doutor Roberto Fernandes dos Santos, contou com as inestimadas contribuições do Doutor Wilson Toshiro Nakamura.

(7)

“Obstáculos são aqueles perigos que você vê quando tira os olhos de seu objetivo”.

(8)

QUIRINO, Mauro. CPC 29 – Ativo Biológico: Uma contribuição à mensuração do valor justo do Ativo Biológico Florestal. 2011. 104 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis e Atuariais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.

RESUMO

É considerado como função fundamental da contabilidade, desde seus primórdios, prover os usuários dos demonstrativos financeiros com informações que os ajudarão a tomar decisões. Para que essa função seja cumprida de maneira mais eficaz, tem-se assumido que o valor justo é a melhor medida de valor para alguns ativos, entre eles, o ativo biológico. A característica fundamental desse ativo é o processo de transformação biológica que compreende o crescimento, degeneração, produção e procriação, causando mudanças qualitativas e quantitativas. Portanto, compreende-se que modelos de mensuração baseados no custo histórico não reflete o valor real do ativo e nem mede de forma eficiente a gestão desses ativos pelos administradores e que o valor justo supriria essa deficiência. Como o valor justo é determinado, preferencialmente, pelo preço do ativo em um mercado ativo, esse trabalho analisou os aspectos relacionados à existência de mercado ativo para o ativo biológico florestal e a disponibilidade da informação de preços nesse mercado. Embora existam limitações devido à abrangência da análise, não podendo considerar que essa é uma verdade absoluta, encontram-se fortes indícios de que, no atual estágio de desenvolvimento desse setor, ainda não existe disponível em nosso país mercado ativo de madeira em toras. Como alternativa para a falta de preço nesse mercado para mensuração de florestas, um modelo de fluxo de caixa descontado será apresentado de forma detalhada. A escolha do fluxo de caixa descontado, entre as demais alternativas, deve-se ao fato dessa ferramenta ser a mais utilizada pelas empresas que possuem ativos florestais.

(9)

QUIRINO, Mauro. CPC 29 – Biological Assets: A contribution to the utilization of the fair value accounting as measurement of biological asset Forest. 2011. 104 p. Master Thesis (Master’s Degree in Accounting and Actuarial Sciences). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.

ABSTRACT

It is considered as the main accounting objective, since its origin, to provide the users of financial statements with information to support them to make decisions. In order to achieve this objective in an efficient way the fair value accounting has been considered as a measurement alternative of selective assets, such as biological. The main characteristics of such asset are the biological transformation which comprises the processes of growth, degeneration, production and procreation that cause qualitative or quantitative changes. Therefore, it is understandable that measurement models based on historical cost do not reflect the real asset value and also do not measure in an efficient way the management performance on his/her role of manage the asset and the fair value could close this gap. As the quoted market price in an active market for a biological asset is the most reliable basis for determining the fair value of that asset, this paper aims to analyze the aspects related to the existence of active market for forest assets. Although there are limitations due to the limited wide of this analyze, it is not possible to say for sure that such market does not exist, but there are strong indications, on this actual stage of economic sector, that there is not active market for timber in this country. As an alternative for the lack of reliable market-basis prices for the measurement of the forest value, a discounted cash flow model will be presented in details. The choice of discounted cash flows model, out of other alternatives, is based on the fact that the majority of the forestry companies are using this tool.

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Empresas listadas na BM&FBOVESPA que divulgaram ativos Biológicos em 31.12.2010

20

Figura 2 Ativos Biológicos, produto agrícola e produtos resultantes 26

Figura 3 Espaçamento para plantio de eucalipto 30

Figura 4 Terras próprias e de terceiros, vantagens e desvantagens 31

Figura 5 Fluxograma da determinação do valor justo 60

Figura 6 Hierarquia da subjetividade da obtenção do valor justo 61

Figura 7 Companhias que aplicam o IAS 41 62

Figura 8 Impacto no resultado devido à utilização do AASB 1037 (2000-04) 63

Figura 9 Balanço de uma empresa com ativo florestal 66

Figura 10 Fluxograma do processo de inventário florestal 78

Figura 11 Crescimento florestal 79

Figura 12 Cálculo do WACC para floresta 85

Figura 13 Inputs dos dados para cálculo 87

Figura 14 Formação do preço corrente de venda da madeira 88

Figura 15 Dados do plano de colheita 89

Figura 16 Demonstrativo do gasto de manutenção e equipamentos para colheita 89

Figura 17 Demonstrativo do cálculo do Imposto de Renda 90

Figura 18 Demonstrativo do fluxo de caixa 91

Figura 19 Demonstrativo do valor presente líquido do fluxo de caixa 92 Figura 20 Demonstrativo do valor presente líquido do fluxo de caixa com

dedução do custo dos ativos contribuintes

93

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Consumo industrial de madeira no Brasil 70

(12)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Uso da terra no Brasil 28

Gráfico 2 Reserva mundial de madeira em termos de área plantada 28 Gráfico 3 Participação do consumo de madeira em toras de florestas plantadas

por segmento (2009)

70

Gráfico 4 Comportamento histórico do preço da madeira em pé (2008 a jul-2010)

(13)

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABRAF - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas ABIPA – Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira AMS – Associação Mineira de Silvicultura

APT – Arbitrary Pricing Theory

AASB – Australian Accounting Standards Board ASB – Accounting Standards Board (UK)

AUS GAAP – Generally Accepted Accounting Principles (Australia) BRGAAP – Generally Accepted Accounting Principles (Brazil) CAPM – Capital Asset Pricing Model

CMPC – Custo Médio Ponderado do Capital CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis CVM – Comissão de Valores Mobiliários

Bracelpa - Associação Brasileira de Celulose e Papel

DFAT – Australian Department of Foreign Affairs and Trade FASB – Financial Accounting Standards Board (USA) FCA – Fluxo de Caixa Alavancado

FCD – Fluxo de Caixa Descontado FCL – Fluxo de Caixa Livre

FCP – Fluxo de Caixa do Capital Próprio

FRS – Financial Reporting Standards (UK GAAP) HEM – Hipótese da eficiência de mercado

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IAS – International Accounting Standard

IASB – International Accounting Standards Board IASC – International Accounting Standards Committee ICA – Incremento Corrente Anual

IEF – Instituto Estadual de Floresta – Minas Gerais IFRS – International Financial Reporting Standard IMA – Incremento Médio Anual

IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais IR – Imposto de Renda

(14)

PWC – Price Water House Coopers

SFAS – Statement of Financial Accounting Standards SBS – Sociedade Brasileira de Silvicultura

USGAAP – Generally Accepted Accounting Principles (United States) UKGAAP – Generally Accepted Accounting Principles (United Kingdom) VPL – Valor Presente Líquido

(15)

SUMÁRIO

1.  INTRODUÇÃO ...17 

1.1. Identificação do problema ...17 

1.2. Questões da pesquisa ...20 

1.3. Justificativa e contribuições ...21 

1.4. Delimitações do estudo ...22 

1.5. Procedimentos metodológicos ...23 

1.6. Estrutura do trabalho ...24 

CAPÍTULO II ...25 

2.  ATIVOS BIOLÓGICOS, CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS ...25 

2.1. Floresta ...26 

2.1.1.  Floresta no Brasil ...26 

2.1.2.  Silvicultura ...27 

2.1.3.  As operações de plantio e manutenção da floresta ...29 

2.1.4.  A propriedade da terra ...30 

CAPÍTULO III ...33 

3.  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...33 

3.1. Processo de mensuração do ativo ...34 

3.2. Valor justo ...35 

3.2.1.  Preço e a característica do mercado ...37 

3.2.2.  Desenvolvimento do valor justo ...39 

3.2.3.  Posição dos diferentes organismos internacionais frente à relevância do valor justo para a atividade agrícola ...40 

3.2.3.1.  International Accounting Standards Board (IASB) ...40 

3.2.3.2.  Financial Accounting Standards Board (FASB) ...41 

3.2.3.3.  Accounting Standards Board (ASB) ...42 

3.2.3.4.  Australian Accounting Standards Board (AASB) ...43 

3.2.3.5.  Críticas à utilização do valor justo ...43 

3.3. Formas de obtenção do valor justo ...45 

3.3.1.  Preço do ativo em um mercado ativo ...45 

3.3.2.  Outras opções baseadas em informações de mercado ...46 

3.3.3.  Fluxo de caixa descontado ...46 

3.3.3.1.  Estimativas de fluxos de caixa ...47 

3.3.3.2.  Risco ...49 

(16)

3.3.3.4.  Nominal e real ...54 

3.3.3.4.1.  Taxas reais e nominais ...54 

3.3.3.4.2.  Moedas reais e nominais ...55 

3.3.3.4.3.  Inflação, depreciação, exaustão e valor ...56 

3.3.3.5.  Taxas de juros no Brasil ...58 

3.4. A subjetividade dos métodos de avaliação ...59 

3.5. Opções reais e Árvore de decisão ...64 

3.6. Ativos contribuintes ...65 

CAPÍTULO IV ...69 

4.  PREÇO DE MERCADO E MERCADO ATIVO DE ATIVOS BIOLÓGICOS FLORESTAIS ...69 

4.1. O mercado da Madeira no Brasil ...69 

4.2. O modelo da oferta e demanda na formação do preço da madeira ...71 

4.3. A determinação do preço em relação à concorrência pela utilização da terra ...72 

4.4. A característica do ativo como determinante do preço e do mercado ativo ...74 

CAPÍTULO V ...76 

5.  MODELO DE FLUXO DE CAIXA APLICADO A FLORESTA ...76 

5.1. Valor Presente Líquido (VPL) para floresta ...76 

5.1.1.  Determinação do período do Fluxo de Caixa ...76 

5.1.2.  Determinação das entradas de caixa – plano de colheita e volume de produção ...77 

5.1.3.  Preço da madeira ...80 

5.1.4.  Determinação das saídas de caixa – custo da floresta ...82 

5.1.5.  Outros custos florestais ...83 

5.1.6.  Taxa de desconto ...85 

5.1.7.  Valor justo utilizando o Valor Presente dos fluxos de caixa descontado ...87 

5.2. Fluxo de caixa descontado e outras formas de avaliação ...94 

CAPÍTULO VI ...96 

6.  CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ...96 

(17)

1. INTRODUÇÃO

1.1.Identificação do problema

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiu em agosto de 2009 o CPC 29:

Ativo Biológico e Produto Agrícola, que é uma tradução do IAS 41 emitido pelo International

Accounting Standards Committee (IASC) em dezembro de 2000. O IAS 41 foi adotado pelo

sucessor do IASC como emissor de normas internacionais de Contabilidade, o International

Accounting Standards Board (IASB), em abril de 2001 com data para vigência a partir de 1º de janeiro de 2003, portanto, sendo adotado em diversas partes da Europa desde então.

O Objetivo do Pronunciamento é abordar o tratamento contábil e respectivas divulgações relacionados aos ativos biológicos e aos produtos agrícolas. Para cumprir esse objetivo o pronunciamento adota a definição que um ativo biológico deverá ser mensurado pelo valor justo, menos o custo para vender.

A definição de mensurar os ativos biológicos pelo valor justo é uma mudança em relação à forma como os ativos eram avaliados e divulgados até 2009, pois a principal prática adotada era mensurar pelo custo histórico de formação ou produção, visando principalmente

atender a legislação tributária conforme descrevem Santos et al (2009, p. 30, grifo do autor)

“Pela Lei das Sociedades por Ações, depois de subtrair as deduções, chegando-se a Receita Líquida, subtraem-se os Custos dos Produtos Vendidos (no caso de Empresa Rural e Indústria) [...]”.

O pronunciamento traz a seguinte definição de valor justo:

Valor justo é o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um passivo liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória (CPC 29, item 8, p. 5).

(18)

promovem tais rateios”. Já o pronunciamento CPC 29 estabelece a seguinte hierarquia para a determinação do valor justo:

 O preço do ativo em um mercado ativo;

 Uma referência de preço obtida em uma transação recente caso não haja mercado

ativo;

 Preços de mercado para ativos similares, ajustados para refletir as diferenças;

Benchmarks;

 Valor presente dos fluxos de caixa futuro que se espera obter do ativo.

A identificação do preço do ativo em um mercado ativo nem sempre é possível, como menciona Azevedo, um dos argumentos contrários à utilização do valor justo é que:

Podem não existir mercados ativos para alguns ativos biológicos em alguns países. Em tais casos, o valor justo não pode ser confiavelmente mensurado, especialmente durante o período de crescimento, no caso de um ativo biológico que tenha um período de crescimento longo (AZEVEDO, 2005, p. 87).

Nesse caso, não existindo mercado ativo para o ativo específico, a alternativa pode ser

a utilização do preço de um ativo similar ou benchmarks. No entanto, se nem sempre existe

mercado ativo para determinado ativo biológico, a utilização de referências e benchmarks

podem também distorcer o valor justo. Além disso, alguns ativos biológicos possuem determinadas características que dificultam ou não permitem a sua comercialização, por exemplo, eventualmente não existe mercado ativo onde se comercialize algumas plantas, mas sim o produto agrícola resultante, tais como: algodão, cana colhida, café, frutas etc. Também pode não existir mercado ativo para arbustos, mas sim para o seu produto em folhas.

Nesse sentido, a empresa Rasip Agro Pastoril S.A, esclarece em suas notas explicativas das demonstrações financeiras de 2010 e 2009 que:

A companhia utiliza o preço de mercado, menos custos de venda, para calcular o valor justo das frutas e do leite. Os semoventes estão registrados ao valor de custo por não possuírem cotação de preço e mercado ativo confiável. Já os pomares, estão registrados pelo valor mensurado através do método do fluxo de caixa descontado (RASIP, 2011, nota 2.7, p. 5, grifo do autor) 1.

       1

(19)

Podemos encontrar outros exemplos na pecuária, tais como: mercado de matrizes reprodutoras (vacas, ovelhas, etc.), pois embora exista um mercado ativo de compra e venda, o preço é determinado pela qualidade de cada ativo, sendo seu valor mensurado pela produção futura esperada daquela qualidade de material genético, ou conforme menciona Brito em seu trabalho sobre a utilização do valor justo na pecuária bovina:

Embora na pecuária exista mercado ativo para os animais em várias idades, existem alguns momentos durante o ciclo que a negociação é menos intensa, como acontece com o bezerro na idade compreendida entre o nascimento e a desmama. O bezerro não pode ser comercializado isoladamente, e para o conjunto de ativos, “vaca com bezerro no pé”, a empresa não encontra cotação de mercado (BRITO, 2010, p. 93-94).

Como alternativa para esses problemas de aplicação das opções de mensuração ao valor justo com informações de mercado, os preparadores de avaliação utilizam a última opção, que é o emprego do valor presente dos Fluxos de Caixa Descontado (FCD) que se espera obter do ativo. Essa é a técnica mais adotada para mensuração de ativos biológicos como floresta, conforme constatou a PWC (2009) em sua pesquisa sobre a aplicação do valor justo por empresas florestais que adotam IFRS e KPMG (2008) analisando as práticas adotadas por empresas europeias. Da mesma forma, analisando as demonstrações financeiras de 31 de dezembro de 2010 divulgadas na BM&FBOVESPA por algumas empresas brasileiras que possuem ativos biológicos florestais, identifica-se que o FCD é o método de avaliação mais utilizado (figura 1).

Assim como as demais técnicas a utilização do fluxo de caixa descontado envolve uma série de fatores que podem afetar o valor do ativo biológico. Esses fatores são as premissas

utilizadas na elaboração do fluxo de caixa, tais como: taxa de desconto, produção e

crescimento do ativo biológico, gastos com manutenção e outros custos necessários para deixar o ativo pronto para colheita.

Seja qual for o método, podem-se encontrar diferenças significativas no valor do ativo biológico quando comparado com o valor de mensuração anterior, principalmente considerando que antes da utilização do valor justo utilizava-se o custo histórico.

(20)

formação como valor da floresta e que o valor do ativo aumentou quando da adoção do valor justo, medido pelo FCD. Embora não se encontre nas notas explicativas a justificativa desse aumento, pode-se supor que é normal que o valor apurado atualmente (de realização) seja maior que o valor incorrido no passado para formar a floresta (custo histórico sem atualização).

Figura 1 – Empresas listadas na BM&FBOVESPA que divulgaram ativos biológicos em 31.12.2010 Fonte: BM&FBOVESPA

1.2.Questões da pesquisa

As empresas que possuem ativos biológicos são obrigadas a fazer a mensuração utilizando as regras trazidas pelo Pronunciamento 29 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis.

Conforme já comentado, para aplicação das regras de mensuração do ativo biológico seguindo o prescrito na norma, é necessária a existência de um mercado ativo, de onde seja possível obter os preços para utilizar na valorização. A questão que surge é: existe no Brasil mercado ativo para o ativo biológico florestal?

O mercado interno brasileiro encontra-se em pleno desenvolvimento e amadurecimento. Portanto, nesse estágio de desenvolvimento de nossa economia poderá ser difícil encontrar mercado ativo para a maioria dos ativos biológicos. Pode-se sugerir isso tomando como base o fato de regiões como da Europa não existirem preços disponíveis para mensurar o valor do ativo biológico florestal com segurança, conforme demonstrado pela

KPMG (2008) e PWC (2009). Da mesma forma, a utilização de referencias e benchmarks

pode ser igualmente difícil, restando então como alternativa à utilização do valor presente dos fluxos de caixa futuro para mensuração do valor justo desse ativo.

Empresa Segmento Ativo biológico

Celulose Irani Papel e Celulose Floresta de Pinus

Fibria Papel e Celulose Floresta de Eucalipto

Klabin Papel e Celulose Floresta de Eucalipto

Suzano Papel e Celulose Floresta de Eucalipto

Duratex Madeira Floresta de Eucalipto

(21)

Nesse sentido, no presente trabalho procurou-se contribuir demonstrando através de um caso prático como utilizar o fluxo de caixa descontado para valorização dos ativos biológicos florestais, apresentando um modelo utilizado por uma empresa multinacional com investimentos florestais no Brasil.

Dessa forma, para atingir o objetivo principal do trabalho que é uma contribuição a mensuração do valor justo do ativo biológico florestal, procurou-se analisar a existência ou não de mercado ativo e como utilizar o fluxo de caixa descontado para valorização desse ativo quando não existir informações no mercado.

1.3.Justificativa e contribuições

Ativo biológico representa uma parte importante do produto interno bruto (PIB) brasileiro, seja pelas extensas áreas de agricultura e florestas plantadas (reflorestamento) ou pelos numerosos rebanhos dos mais diversos animais destinados a produção de carne, leite e outros produtos.

A madeira é um dos ativos biológicos que se destaca em nosso país. Segundo a Consufor (2009) estima-se que todo o setor gera aproximadamente 700 mil empregos formais, 2% do total de empregos em nosso país em 2007. Em 2008 respondeu por 5% das exportações, 30% do saldo da balança comercial e aproximadamente 4% do PIB.

Uma vez que esses ativos que até então vinham sendo avaliados, na maioria das vezes, pelo valor de aquisição ou produção (custo histórico), sejam avaliados pelo valor justo, poderá haver mudanças significativas nos balanços e resultados das entidades que possuem tais ativos.

Devido à obrigação de aplicação do valor justo ser um assunto novo no contexto brasileiro, constata-se a quase não existência de trabalhos científicos em nosso país sobre mensuração do valor desses ativos utilizando esse conceito. Portanto, através de uma análise preliminar da existência ou não do mercado ativo e a criação de um modelo de fluxo de caixa descontado como alternativa à eventual não existência desse mercado, espera-se prestar as seguintes contribuições:

(22)

que trabalhos acadêmicos futuros sejam elaborados, explorando mais profundamente os diversos aspectos relacionados à matéria;

Para o segmento agropecuário: disponibilizar um modelo de avaliação prático,

com a aplicação do fluxo de caixa descontado, contribuindo para que as empresas possam comparar ou mesmo implantar o modelo de mensuração utilizando essa técnica;

Para a classe profissional: apresentar os aspectos relacionados à mensuração do ativo biológico, disponibilizando material para consulta e eventualmente formação dos profissionais que atuam ou desejarem atuar nessa área;

Para usuários em geral: auxiliar no entendimento dos aspectos relacionados à

mensuração do valor justo do ativo biológico.

Está-se apenas no início de um processo de construção do conhecimento, onde se deixará de registrar esses ativos pelo valor histórico de compra ou produção, para inferir seu valor justo. Trata-se de uma grande mudança conceitual e pretende-se que esse trabalho seja uma pequena fonte de novas ideias para estudos futuros que ajudarão na construção do conhecimento nessa área.

1.4.Delimitações do estudo

O Brasil é um país com vastas áreas de plantações e possui as mais diversas criações de rebanhos. Eco (2010, p. 10) afirma que “quanto mais se restringe o campo, melhor e com mais segurança se trabalha”. Nesse sentido, o presente trabalho analisará os aspectos referentes à existência ou não de mercado ativo apenas do ativo biológico florestal, assim como será apresentado um modelo de fluxo de caixa aplicado para mensuração do valor desse ativo.

Segundo a ABRAF (2010) o Brasil possui 6.8 milhões de hectares de florestas plantadas, destinadas ao consumo na siderurgia; produção de madeira serrada para as mais diversas finalidades; celulose e pastas, principalmente para produção de papel.

(23)

maioria das empresas utiliza o fluxo de caixa descontado para mensuração do valor justo

(KPMG, 2008; PWC, 2009; BM&FBOVESPA, 20102).

1.5.Procedimentos metodológicos

A base lógica de investigação será o método dedutivo onde, por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, da análise do geral para o particular, espera-se chegar a algumas constatações.

Severino (2008, p. 123) explica que a pesquisa exploratória “busca levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto”. Ainda segundo esse autor “a explicativa, além de registrar e analisar os fenômenos estudados busca identificar suas causas [...]”. Nesse sentido a abordagem do problema pode ser considerada como pesquisa exploratória e explicativa, pois serão analisados os aspectos relacionados à existência do mercado ativo onde existam preços disponíveis para o ativo biológico florestal.

Também será apresentado um estudo de caso demonstrando a utilização do fluxo de caixa descontado como alternativa às demais formas de mensuração do ativo biológico. Severino (2008, p. 121) explica que “o caso escolhido para a pesquisa deve ser significativo e bem representativo, de modo a ser apto a fundamentar uma generalização para situações análogas, autorizando inferências”. Nesse sentido, o estudo de caso compreenderá a aplicação do FCD para mensuração do valor de uma floresta, que, com algumas adaptações à particularidade do problema, poderá ser utilizado para os demais ativos biológicos.

Com relação à literatura a ser utilizada, como a utilização do CPC 29 foi obrigatória no Brasil pela primeira vez a partir de 2010, espera-se a quase inexistência de trabalhos científicos em nosso país que tratem desse assunto. Portanto, a alternativa será buscar trabalhos acadêmicos em países como a Austrália, que foi pioneira na utilização do valor justo

para avaliação dos ativos biológicos, emitindo o AASB (Australian Accouting Standards

Board) 1037, sendo aplicado a partir de 2000, e em países da União Europeia, onde foram obrigados a adotar o IAS 41 para mensuração do valor justo dos ativos biológicos a partir de 2005.

       2

(24)

Também serão utilizados livros e artigos acadêmicos referentes à teoria contábil e de finanças de autores nacionais e internacionais para os assuntos que envolvam o cálculo do fluxo de caixa descontado e demais conceitos aplicados nesse trabalho.

Além disso, serão consideradas as implicações trazidas pelas alterações na Lei 6.404/76 das Sociedades Anônimas através das Leis 11.638/07 e 11.942/09, os CPC’s, o IAS 41 e os estudos e regulamentações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Banco Central e outras entidades.

1.6.Estrutura do trabalho

A organização do trabalho de pesquisa visou utilizar um raciocínio dedutivo capaz de fundamentar o entendimento do mercado florestal brasileiro e a forma de elaboração de um modelo prático de fluxo de caixa descontado para mensuração do ativo florestal.

As etapas do trabalho incluem:

Capítulo I. Que se acaba de apresentar, trazendo uma introdução ao trabalho. Capítulo II. Aborda as questões referentes ao ativo biológico florestal no país.

Capítulo III. Referencial teórico, abordando os aspectos relacionados à mensuração

do valor justo e todos os aspectos técnicos e conceituais do fluxo de caixa descontado.

Capítulo IV. Aborda conceitualmente os aspectos de mercado ativo, preço de

mercado e o mercado da madeira.

Capítulo V. Apresenta um modelo de fluxo de caixa descontado aplicado à mensuração do valor justo da floresta.

(25)

CAPÍTULO II  

 

2. ATIVOS BIOLÓGICOS, CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

O CPC 29 é aplicado para contabilizar os eventos relacionados às atividades agropecuárias e à produção agrícola no momento da colheita. A atividade agropecuária compreende uma gama de atividades, como cultivo de plantas temporárias e perenes, florestas, criação de animais para produção e corte. Dessas atividades extraem-se produtos agrícolas: frutos, grãos, leite, ovos, carne, etc.

A transformação biológica é o fator que distingue a agropecuária das outras atividades produtivas. Esta transformação resulta de mudanças nos ativos decorrentes de crescimento, degeneração e procriação. O pronunciamento explica que dentro da série de diversidade da atividade agrícola, existem certas características comuns:

(a) capacidade de mudança. Animais e plantas vivos são capazes de transformações biológicas;

(b) gerenciamento de mudança. O gerenciamento facilita a transformação biológica, promovendo, ou pelo menos estabilizando, as condições necessárias para que o processo ocorra (por exemplo, nível de nutrientes, umidade, temperatura, fertilidade, luz). Tal gerenciamento é que distingue as atividades agrícolas de outras atividades. Por exemplo, colher de fontes não gerenciadas, tais como pesca no oceano ou desflorestamento, não é atividade agrícola; e,

(c) mensuração da mudança. A mudança na qualidade (por exemplo, mérito genético, densidade, amadurecimento, nível de gordura, conteúdo proteico e resistência da fibra) ou quantidade (por exemplo, descendência, peso, metros cúbicos, comprimento e/ou diâmetro da fibra e a quantidade de brotos) causada pela transformação biológica ou colheita é mensurada e monitorada como uma função rotineira de gerenciamento. (CPC 29, item 6, p. 4).

O CPC 29 conceitua um ativo biológico como um animal e/ou uma planta, vivos, sujeitos a crescimento natural, degradação, produção e procriação. Essa transformação é uma das principais causas das mudanças quantitativas e qualitativas nos ativos biológicos.

O CPC esclarece ainda que:

(26)

aplicado. Portanto, este Pronunciamento não trata do processamento dos produtos agrícolas após a colheita, como, por exemplo, o processamento de uvas para a transformação em vinho por vinícola, mesmo que ela tenha cultivado e colhido a uva. Tais itens são excluídos deste Pronunciamento, mesmo que seu processamento, após a colheita, possa ser extensão lógica e natural da atividade agrícola, e os eventos possam ter similaridades (CPC 29, item 3, p. 2).

A figura 2 fornece exemplos de ativos biológicos, produto agrícola e produtos resultantes do processo depois da colheita. O produto agrícola resultante da atividade de exploração do ativo biológico, conforme esclarecimento contido no CPC 29 será tratado pelas regras do CPC 16 – Estoques, embora o produto estocado já tenha sido reconhecido anteriormente pelo valor justo, e consequentemente, esse será o valor “estocado”.

Ativos biológicos Produto agrícola Produtos resultantes do processamento após a colheita

Carneiros Lã Fio, tapete

Árvores de uma

plantação Madeira Madeira serrada

Plantas - Algodão- Cana colhida - Fio de algodão, vestimentas- Açucar

Gado de leite Leite Queijo

Porcos Carcaça Salsichas, presunto

Arbustos Folhas Chá, tabaco

Videiras Uvas Vinho

Árvores frutiferas Frutas colhidas Frutas processadas

IAS 41 - Brasil

Figura 2 - Ativos Biológicos, produto agrícola e produtos resultantes Fonte: CPC 29

2.1.Floresta

2.1.1. Floresta no Brasil

(27)

Além da importância econômica, a madeira possui notável importância ao meio ambiente, tal como o sequestro de CO2, que conforme a Bracelpa (2009) é estimado em 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano.

A madeira é uma matéria prima importante para uma grande quantidade de indústrias em todo o Brasil e no mundo. Consequentemente, também é um importante componente da estrutura de custo das empresas que a utilizam como sua fonte principal de matéria prima.

Inicialmente no Brasil os grandes projetos de reflorestamento faziam parte

exclusivamente de um investimento verticalizado3, onde o investidor na floresta também

detinha a indústria que transformava a madeira em um produto industrializado. Esse modelo ainda não mudou totalmente, pois os grandes proprietários das reservas florestais também são os proprietários das indústrias.

No entanto, tem-se percebido mudança nesse cenário com o crescente aumento do investimento exclusivo em floresta, principalmente pelos fundos de pensão americanos e canadenses. Segundo levantamento da Consufor (2009), os investimentos de fundos de pensão estrangeiros em florestas plantadas no Brasil ultrapassaram a marca de R$ 1,9 bilhão em 2008 e estima-se que para os próximos 10 anos seja investido aproximadamente R$ 1 bilhão em novos projetos.

Ainda segundo a Consufor o Brasil reúne várias características que o torna alvo desses investimentos, tais como: alta produtividade das florestas, tecnologia de ponta, mão de obra qualificada, custos de produção mais competitivos, um mercado fortemente estabelecido em todas as áreas industriais do setor e terras disponíveis para expansão de plantios existentes.

2.1.2. Silvicultura

Segundo o manual de Silvicultura, da Sociedade Brasileira de Silvicultura (2002), a palavra Silvicultura provém do Latim, Silva (floresta) e Cultura (cultivo de árvores), e tem sido definida de várias formas. Entre elas:

A silvicultura é a ciência dedicada aos estudos dos métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar os povoamentos florestais com vistas a satisfazer as necessidades do mercado e, ao mesmo tempo, é a aplicação desse estudo para a manutenção, o aproveitamento e o uso racional das florestas (LOUMAN et al, 2001, apud SBS, 2001, p. 1).

       3

(28)

Embora a silvicultura seja uma atividade em expansão no Brasil, ainda existe muito espaço para crescimento. O gráfico 1 mostra que apenas 0,7% do solo brasileiro é coberto por florestas plantadas.

Gráfico 1 – Uso da terra no Brasil Fonte: Consufor – Advisory & Research

Em termos de reserva mundial, conforme gráfico 2, o Brasil está em sétimo lugar no ranking mundial dos países com as maiores reservas de floresta, mas diferentemente da maioria dos demais países, possui espaço para expansão.

Gráfico 2 – Reserva mundial de madeira em termos de área plantada Fonte: Consufor – Advisory & Research

Florestas  Nativas; 63,0% Pecuária; 20,8%

Agricutura;  6,5% Florestas  Plantadas; 0,7%

(29)

As principais espécies utilizadas para reflorestamento no Brasil são o eucalipto e o pinus. Enquanto no Brasil o eucalipto é colhido com aproximadamente 07 anos e o pinus, dependendo da finalidade do consumo, com até 20, em países frios, tal como a Rússia, a idade de corte pode chegar a 100 anos.

2.1.3. As operações de plantio e manutenção da floresta

O IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais descreve as etapas básicas para implantação e manutenção florestal:

1. Combate a formiga: as formigas cortadeiras são apontadas como uma das

principais pragas florestais. O combate as formigas é realizado com a aplicação de formicidas e deve ser realizado desde antes do plantio e durante todo o tempo de crescimento e maturação da floresta;

2. Capina: a mato competição é um dos fatores limitantes ao estabelecimento de

florestas no Brasil, afetando o desenvolvimento das culturas florestais através da competição por água, luz e nutrientes. O combate pode ser realizado de várias maneiras: roçadas manuais, mecânicas e químicas;

3. Preparo do solo: atualmente o preparo do solo é realizado com base no conceito de

cultivo mínimo que consiste em revolvê-lo o mínimo necessário, mantendo os resíduos vegetais (da cultura e de plantas invasoras) sobre o solo como cobertura morta. Essa operação é realizada com máquinas e equipamentos florestais;

4. Adubação: a adubação é uma prática que visa suprir as demandas nutricionais das

plantas, na busca por maior produção. No Brasil, as maiores limitações

nutricionais têm sido observadas quanto ao pH4;

5. Plantio: é feito com mudas, podendo ser manual ou semi-mecanizado. O

espaçamento das mudas dependerá da finalidade pretendida com a madeira. Na figura 3, podem-se observar exemplos de espaçamentos de plantio;

6. Irrigação: é realizada quando necessário, principalmente em períodos de seca. Por

ser uma prática silvicultural cara, surgiram algumas alternativas como a aplicação de hidrogel;

       4

(30)

7. Replantio: O replantio é normalmente realizado quando o índice de mortalidade das mudas ultrapassar 5 %.

Esses gastos ocorrem nos primeiros anos da floresta (ano 01 e ano 02) e alguns avaliadores assumem que esse é o valor que mais se aproxima do valor justo da floresta, conforme podemos observar na nota explicativa da Duratex S.A.:

As reservas florestais são reconhecidas ao seu valor justo, deduzidos dos custos estimados de venda no momento da colheita [...]. Para plantações imaturas (até dois anos de vida), considera-se que o custo se aproxima ao seu valor justo (DURATEX, 20115, grifo do autor).

As fases seguintes são manutenções diversas, tais como estradas, cercas e outras que permitirão o crescimento da floresta. Por volta dos 07 anos o eucalipto é colhido e um novo processo se inicia. É possível também fazer a condução, sem um novo plantio, deixando nesse caso que a árvore rebrote.

O pinus que é colhido entre 15 e 20 anos pode sofrer cortes em determinados anos chamados desbaste, o que consiste em colher parte das árvores plantadas, deixando mais espaços para as demais desenvolverem-se.

Figura 3 – Espaçamento para plantio de eucalipto Fonte: IPEF

2.1.4. A propriedade da terra

Para a STCP (2011) um dos determinantes do sucesso ou fracasso de um empreendimento florestal é a captação da terra. Podem-se destacar quatro modelos básicos para a captação da terra visando à atividade de silvicultura, a saber: (1) aquisição da terra para

       5

Duratex S.A - Demonstrações Financeiras Padronizadas - 31/12/2010 - V2, disponível em:

(31)

plantio para consumo próprio ou venda a terceiros; (2) arrendamento; (3) parcerias e (4) fomento.

Aquisição: a principal característica desse modelo é a necessidade de elevados desembolsos nos primeiros anos de operação.

Arrendamento: segundo STCP, o arrendamento rural corresponde a um aluguel pelo uso da terra. O proprietário cede a terra e recebe um pagamento pré-fixado pelo seu uso, em dinheiro ou em produtos. Independente do resultado do empreendimento, o arrendatário é obrigado a pagar um valor fixo ao arrendador. A legislação prevê, inclusive, o penhor dos bens do arrendatário caso os compromissos não sejam cumpridos.

Parceria: a STCP define parceria como o investimento em conjunto entre o proprietário da terra e um terceiro responsável pela implantação, manutenção e gestão do empreendimento florestal, dividindo os riscos e os resultados da associação na proporção combinada.

Uma forma de parceria é o Fomento Florestal, que segundo o IEF – Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (2011) é um incentivo à produção de madeira que normalmente consiste no fornecimento de mudas, assistência técnica e insumos a produtores rurais cadastrados. Os projetos são executados pelos próprios produtores em suas terras utilizando mão-de-obra própria. Quando a madeira atingir o ponto de colheita o produtor pode vender parte ou todo o volume para a empresa que promoveu o fomento.

Na figura 4, podemos observar um resumo das vantagens e desvantagens de cada modelo de captação de terras segundo a STCP. Em relação ao tratamento contábil e de mensuração, a contabilização e os impactos são diferentes para cada modelo de captação da terra.

Figura 4 – Terras próprias e de terceiros, vantagens e desvantagens Fonte: Informativo STCP 2010/2011, p. 13.

VANTAGENS DESVANTAGENS

■ Segurança patrimonial e de suprimento;

■ Potencial de valorização.

■ Desembolso inicial elevado;

■ Baixa liquidez.

■ Maior liquidez;

■ Contribui para a imagem (aspecto social);

■ Menor risco de problemas fundiários;

■ Não imobiliza grandes volumes de capital.

■ Auto custo de gestão (contratos, equipes etc);

■ Melhorias e benfeitorias são custos/despesas.

TERRAS PRÓPRIAS

(32)

No entanto, o CPC 29 não estabelece nenhuma regra específica de tratamento contábil para terras agrícolas, sendo aplicado para esse ativo o CPC 27 – Ativo Imobilizado, que especifica que as terras podem ser mensuradas:

 Pelo seu custo;

 A valor justo, em caso de permuta;

 Ajustado a valor presente, quando o prazo de pagamentos excede os prazos

normais de crédito (CPC 12 – Ajuste a Valor Presente);

 Por reavaliação, se assim a legislação permitir, embora a reavaliação deva refletir o

seu valor justo;

 Pelo seu valor recuperável, conforme CPC 01;

 Outros tratamentos em caso de ativo mantido por arrendatário (CPC 06) e

subvenções governamentais (CPC 07).

Azevedo (2005) comenta que existem algumas discussões a respeito de aplicar o IAS 16 Property Plant and Equipment (correspondente ao CPC 27) para mensuração do valor das terras agrícolas. A autora explica que existem vários defensores dessa aplicação, embora estes tenham consciência de que existem muitas situações onde é difícil separar o valor das terras do valor dos ativos biológicos.

Por outro lado, a autora também comenta que existem outros que defendem que o valor das terras deve ser mensurado ao valor justo, em conjunto com o ativo biológico.

(33)

CAPÍTULO III  

 

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Iudícibus (2009, p. 123) afirma que “é tão importante o estudo do ativo que poderíamos dizer que é o capítulo fundamental da Contabilidade, porque à sua definição e mensuração está ligada a multiplicidade de relacionamentos contábeis que envolvem receitas e despesas”.

Iudícibus alerta ainda da grande importância de conceituar bem o ativo para que sejam evitados problemas futuros com a apreciação desse ou daquele elemento específico do ativo, desse ou daquele grupo.

Gassen e Schwedler (2008), em sua pesquisa com investidores e consultores europeus, constataram que para esses profissionais, as informações financeiras e contábeis são as mais importantes fontes de dados quando fornecem consultoria ou tomam decisão de investimento.

Os mesmos autores sugerem com base nas suas pesquisas que seja considerada uma

diferenciação na determinação de valor utilizando preços de mercado (Mark-to-market) e

outras formas de avaliação (Mark-to-model) na determinação do valor justo quando se tratar

de informação útil para a tomada de decisão.

Although this distinction is not easy to draw, especially with respect to financial assets, for most non-financial assets it is obvious whether a fair value was determined on a sufficiently liquid market or whether it is based on assumptions which are at least in part subject to management’s expectations. Also, the decision-usefulness of different measurement concepts should be evaluated separately for different asset and liability groups (GASSEN e SCHWEDLER, 2008, p. 2).

(34)

3.1.Processo de mensuração do ativo

Hendriksen e Van Breda (1999) resumem que os ativos podem ser mensurados por medidas de entrada, medidas de saída e medidas de custo ou mercado. Eles ainda explicam que:

Medidas de entrada: representam o custo de aquisição de ativos em mercados organizados. Podem ser extraídos de mercados passados, correntes ou futuros;

Medidas de saída: representam os valores de venda de ativos em mercados

organizados. Podem ser extraídas de mercados passados, correntes ou futuros;

Medidas de custo ou mercado, o menor: a regra de mensuração a custo ou mercado,

o que for menor, não cria medidas de entrada ou saída, mas possui uma longa história, o que, presumivelmente, indica que possui utilidade para os usuários.

Iudícibus também conceitua a avaliação de ativos em valores de mercado, de saídas e entradas. Afirma ainda que:

Todo ativo, seja um imobilizado, seja um direito a receber determinada proteção por certo tempo, decorrente de um pagamento já realizado, ou um gasto ativado para amortização futura para despesa, tem características gerais comuns, independentemente de seu tipo especifico. A característica fundamental é sua capacidade de prestar serviços futuros à entidade que os controla individual ou conjuntamente com outros ativos e fatores líquidos de entradas capazes de transformar, direta ou indiretamente, em fluxos líquidos de entradas de caixa (IUDÍCIBUS, 2009, p. 138).

Um aspecto que merece destaque na afirmação do autor é o fato de que a característica fundamental dos ativos é o potencial de individualmente ou em conjunto com outros ativos gerarem fluxos de caixa futuro.

(35)

3.2.Valor justo

O IAS 41 (item 8) definiu valor justo como a quantia pela qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras e dispostas a isso, numa

transação em que nenhum relacionamento exista entre elas6.

O CPC também definiu valor justo de forma similar ao IAS 41:

Valor justo é o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um passivo liquidado entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória (CPC 02, item 8, p. 4).

Iudícibus e Marion (2001, p. 91) definem valor justo como a “importância pela qual um ativo poderia ser transacionado entre um comprador disposto e conhecedor do assunto e um vendedor também disposto e conhecedor do assunto em uma transação sem favorecimento”.

Ronen (2008) explica que o valor justo tem dois objetivos primários nas demonstrações financeiras, assim propostos pelo IASB e FASB no arcabouço que estão desenvolvendo conjuntamente: (1) informação: prover os investidores de capital com provisões, mensuração e comparação de montantes, tempo e incertezas dos fluxos de caixa futuros; (2) responsabilidade: avaliar o quanto eficientes e efetivos os administradores tem gerenciado o capital dos acionistas.

Song et al (2009) afirmam que o USGAAP, apesar de utilizar o valor justo para

reportar ativos e passivos, antes do FAS 157, “Fair Value Measurements” não tinha uma

definição coerente ou um guia para aplicação do valor justo. O FAS 157 define que o valor justo deve ser mensurado em três níveis:

1) Preço de mercado em um mercado ativo;

2) Preço de mercado obtido indiretamente, observando itens similares em mercados

ativos, itens idênticos quando não existir mercado ativo ou outra informação de mercado;

3) Modelos de avaliação com informações internas da organização (exemplo: o

FCD).

       6

(36)

Para Demaria e Dufour (2008) valor justo é mais que um método de mensuração, é uma prática contábil, pois representa a forma econômica de mensurar o capital, compreendendo o princípio da substância econômica sobre a forma jurídica, que significa a

apresentação contábil do fenômeno econômico real7.

Substância sobre a forma da preferência a primazia da característica econômica sobre a forma jurídica. Sendo assim, orientado para a divulgação de informações aos investidores, independente das implicações tributárias. Demaria e Defour afirmam ainda que os investidores procuram uma visão econômica das empresas e nesse sentido o valor justo parece ser a melhor forma de atingir esse objetivo.

Zijl e Whittington (2008) argumentam que o valor justo pode ser utilizado com um conjunto de diferentes métodos tradicionais de mensuração, como por exemplo, o custo histórico, que deve ser restrito a aqueles itens que o valor justo não pode ser medido de forma confiável e realista, que possuem alto custo para mensurar ou é considerado como não

informativo. Um exemplo da aplicação desse mix de métodos é a mensuração do valor justo

da floresta utilizando para árvores em formação os fluxos de caixa descontado e para as áreas recém-plantadas o custo da implantação da floresta.

O IASC8 (1997) definiu o valor justo como preço de venda e não como preço de

compra. Sendo assim, valor justo refere-se a valores de saída e não a valores de entrada ou reposição. Nesse sentido, “se existir mercado ativo para um ativo biológico ou produto agrícola, considerando sua localização e condições atuais, o preço cotado naquele mercado é a base apropriada para determinar o seu valor justo” (CPC 29, item 17, p. 6). A existência de mercado ativo pressupõe que os preços são conhecidos por todos e determinados exclusivamente pelas forças do mercado. Dessa forma, Foster e Upton (2001b) em seus esclarecimentos sobre a interpretação do FASB referente a valor justo, esclarecem que o FASB assume que não há “significante assimetria de informação” no mercado dos ativos biológicos.

O valor justo parece ser a melhor forma de medida para ativos biológicos que possuem longos ciclos de maturação. Esse é o caso dos ativos biológicos florestais, que levam longos anos para estarem prontos para a colheita. Assim como a maioria dos demais ativos, antes da adoção do valor justo no Brasil, esses ativos também eram mensurados pelo custo histórico de formação, sem correção, visando atender a legislação tributária. É de se esperar que o valor       

7

Esse conceito também pode ser encontrado no FASB: “Faithful representation of real-word economic phenomena is an essential qualitative characteristic, which includes capturing the substance of those economic phenomena”(FASB, 2004b).

8

(37)

apresentado anteriormente nas demonstrações financeiras não refletia o real valor do ativo, não servindo adequadamente como um bom instrumento de informação.

3.2.1. Preço e a característica do mercado

O valor de mercado é a primeira alternativa para avaliação de um ativo a valor justo e

a condição sine qua non é que esse preço seja obtido em um mercado ativo para o item a ser

avaliado nas condições em que se encontra.

Assim, podemos analisar dois conceitos de mercado onde possivelmente sejam encontradas as características de mercado ativo: hipótese da eficiência de mercado e concorrência perfeita.

Hipótese da eficiência de mercado (HEM): Camargos e Barbosa (2003) explicam

que a origem da HEM remota aos estudos realizados em 1900, quando a ideia do comportamento aleatório dos preços passou a ser desenvolvida e sua avaliação empírica e teórica ocorreu no decorrer desse século. Em meados dos anos 60, foi formalizada matematicamente e traduzida em modelos econômicos. A partir daí, os economistas desenvolveram a ideia de que não havia nenhum padrão nos preços históricos, ou seja, esses não eram úteis para prever mudanças futuras.

Fama (1970) definiu que segundo a HEM um mercado no qual os preços sempre refletem completamente as informações disponíveis é chamado de eficiente.

Para Ross et al (2008) quando um mercado é eficiente em termos de informação, os

preços contêm essa informação.

Brealey e Myers (1998, p. 290) explicam que quando os economistas afirmam que o mercado é eficiente, “referem-se ao fato de a informação ser amplamente acessível e barata [...] e, no caso de ser relevante e suscetível de averiguação, se refletir imediatamente sobre os preços [...]”.

Brealey et al (2008, p. 295) explicam também que “os economistas definem, muitas

vezes, três níveis de eficiência para o mercado, que se distinguem pelo grau de informação refletido nos preços [...]”. Ainda segundo os autores, esses três níveis são:

1) Forma fraca: nessa forma, os preços refletem a informação contida no histórico;

2) Forma semiforte: além dos preços refletirem o seu comportamento passado, requer

(38)

se ajustarão pela informação pública, como um relatório trimestral de lucros, uma nova emissão de ações, uma proposta de fusão de duas empresas etc.;

3) Forma forte: nessa forma, os preços não refletem apenas as informações públicas,

mas toda a informação que possa ser obtida, com base em uma análise apurada da empresa e da economia. Nesse tipo de mercado, encontraríamos investidores com

sorte e sem sorte, mas nunca “supergestores” de investimentos que conseguissem

vencer consistentemente o mercado.

Concorrência perfeita: Miller (2006) afirma que a característica fundamental de um

mercado competitivo é que os compradores e produtores são considerados tomadores de preços. Ou seja, os atuantes individuais podem comprar ou vender o quanto eles quiserem ao preço de mercado, mas nenhum pode tomar decisão unilateral que afete o preço.

Segundo Rossetti (1991) uma estrutura de mercado sob concorrência perfeita deve preencher as seguintes condições:

 Um número elevado de empresas produtoras e de compradores, agindo

independentemente, de tal forma que, pela pequena importância de cada um, nenhum possa reunir condições efetivas ou poder suficiente para modificar os padrões e os níveis da oferta e da procura e, consequentemente, o preço de equilíbrio prevalecente;

 Inexistência de quaisquer diferenças entre os produtos ofertados pelas empresas

produtoras, o produto de “A” deve ser considerado pelos compradores como substituto perfeito dos produtos das empresas B,..., K,..., N;

 Perfeita permeabilidade de tal forma que não existam quaisquer barreiras para o

ingresso de novas empresas que dele não participem;

 Devido à padronização dos produtos e ainda ao grande número de vendedores e

compradores, não há qualquer possibilidade de que atitudes ou manobras isoladas possam alterar as condições vigentes.

Para o CPC 29 mercado ativo é aquele onde existam todas as seguintes condições: os itens negociados dentro do mercado são homogêneos; compradores e vendedores dispostos à negociação podem ser normalmente encontrados, a qualquer momento; e os preços estão disponíveis ao público.

(39)

(HEM)” com “os preços estão disponíveis ao público (CPC 29)”. Do mesmo modo, os conceitos de “mercados homogêneos”, “compradores e vendedores normalmente encontrados” do CPC 29, são encontrados nas condições necessárias para a existência de mercado de concorrência perfeita apontada por Rossetti.

Dado a característica aparente do mercado de madeira brasileiro, onde ainda identifica-se grande grau de verticalização, parece não ser possível afirmar que exista um mercado eficiente desse produto, tão pouco que existe uma concorrência e consequentemente, essas duas teorias podem não contribuir para a determinação do preço do ativo em estudo.

3.2.2. Desenvolvimento do valor justo

Iudícibus e Martins afirmam que a conceituação de valor justo é bastante antiga. Os

autores mencionam que “em 1939, Kenneth MacNeal, em seu pioneiro trabalho, Truth in

Accounting, já definia a expressão, de forma brilhante; na verdade, falava em fair and true, atribuindo às valorações, sempre, um significado econômico” (IUDÍCIBUS e MARTINS, 2007 p. 9).

Mais recentemente, o valor justo tem ganhado ainda mais posição e aceitabilidade entre os critérios de mensuração que, como defende Allatt (2001), tem uma clara transparência, viabilidade e razoabilidade, obviamente considerando que depende da perspectiva de valor e da fonte de informação.

O ativo biológico possui uma característica fundamental que é a sua transformação ao longo de sua vida útil. De uma fase para outra o ativo biológico muda de forma, cresce e sofre outras transformações que podem interferir no seu valor. Portanto, uma das características únicas da atividade agrícola é a gestão da transformação biológica. Dessa forma, o custo histórico pode medir apenas o custo incorrido para formar o ativo, mas não demonstrar corretamente o valor desse ativo.

Azevedo (2005) comenta que o fato de algumas atividades da agropecuária levar vários anos desde o momento da plantação e criação até a colheita, as variações provenientes das alterações de valor podem ser mais relevantes para a obtenção de informações sobre o desempenho de uma empresa do que o custo histórico.

Nesse sentido, o IASB requer a valorização ao valor justo para ativos biológicos

(40)

chairman of IASC’s Steering Committee on Agriculture, refere que as demonstrações financeiras das empresas com atividade agrícola devem refletir os efeitos da transformação biológica, os quais são representados pelas alterações do valor justo dos ativos biológicos. Refere ainda que o modelo do custo histórico não reflete os efeitos da transformação biológica devido à diferença temporal que a medeia entre a fase inicial e a fase de colheita.

3.2.3. Posição dos diferentes organismos internacionais frente à relevância do valor justo para a atividade agrícola

Azevedo (2005) afirma que a crescente internacionalização originou uma forte pressão sobre as diferentes formas de regulamentação das atividades econômicas das empresas. Ainda segundo a autora, a necessidade das informações relativas à atividade agrícola serem regidas pelas mesmas normas contábeis levou o IASC / IASB a estudar e criar uma norma internacional de contabilidade sobre agricultura – o IAS 41.

3.2.3.1. International Accounting Standards Board (IASB)

A utilização do valor justo para avaliar ativos está presente em vários IFRS’s, e segundo o próprio IASB, isso nem sempre é consistente. O IASB também reconhece que

ainda hoje o atual “guidance” está incompleto, não fornecendo um objetivo claro e nem uma

regra robusta de avaliação. Devido a isso, o IASB criou um projeto chamado “Fair Value

Measurement”, com os seguintes objetivos9:

 Estabelecer uma única fonte de orientação para a utilização da avaliação pelo valor

justo;

 Esclarecer a definição de valor justo;

 Propiciar melhoraria na divulgação sobre avaliação pelo valor justo; e,

 Aumentar a convergência entre IFRS e US GAAP.

Esse é um projeto em conjunto com o FASB e em maio de 2010 o IASB publicou um “Exposure Draft and comment letters”. Em junho de 2010 o IASB publicou novamente o

       9

Work plan for IFRS – Fair Value Measurement project – disponível em:

(41)

documento com algumas atualizações e este “Exposure Draft” ficou para comentário público até 7 de setembro de 2010, e trazia a seguinte definição de valor justo:

This IFRS defines fair value as the price that would be received to sell an asset or paid to transfer a liability in an orderly transaction between market participants at the measurement date (an exit price). The definition of fair value retains the exchange price notion in the definition of fair value used previously (i.e. the amount for which an asset could be exchanged, a liability settled, or an equity instrument granted could be exchanged, between knowledgeable, willing parties in an arm’s length transaction) (IFRS, 2010).

Trata-se de um conceito geral para ser aplicado a todos os pronunciamentos do IFRS, inclusive para ativo biológico, o qual Azevedo (2005) descreve o seu desenvolvimento acelerado, com as seguintes etapas mais significativas e respectivos documentos produzidos:

 Em 1996: Draft Statment of Principles (DSOP): onde foram enunciados os

assuntos a normatizar, os métodos e as alternativas para tal normatização;

 Em 1999: Exposure Draft E65, com a denominação “Agricultura”, sendo

publicado em julho de 1999 e submetido à apreciação dos usuários das informações financeiras até 31 de janeiro de 2000;

 Em 2000: International Accounting Standard n° 41 “Agriculture”, aprovada em

dezembro de 2000 e com entrada em vigor para as demonstrações financeiras elaboradas a partir de 1º de janeiro de 2003.

3.2.3.2. Financial Accounting Standards Board (FASB)

O FASB não publicou até a data nenhuma norma que trate da valorização dos ativos biológicos utilizando o valor justo. No entanto, embora não para ativos biológicos, o FASB

definiu valor justo no SFAS 140 da seguinte forma: “The fair value of an asset (or liability) is

the amount at which that asset (or liability) could be bought (or incurred) or sold (or settled) in a current transaction between willing parties, that is, other than in a forced or liquidation sale” (SFAS 140, § 68).

Já em 1991, no SFAS 107 “Disclousures of about Fair Value of Financial

Instruments”, o FASB definiu valor justo referindo-se a instrumentos financeiros, mas não a ativos e passivos.

(42)

mercado em um mercado ativo, o FASB determina no parágrafo 69 do SFAS 140 que o valor justo deve ser determinado utilizando a melhor informação disponível, entre elas o preço de um ativo ou passivo similar e outras técnicas de avaliação, incluindo o valor presente de fluxos de caixa futuro.

Conforme já mencionado, o IASB e o FASB estão trabalhando em conjunto em um projeto de convergência internacional. Assim como o IASB, o FASB também já emitiu um “Exposure Draft” referente ao “Fair Value Measurements and Disclosures” o qual estaria disponível para comentários público até 07 de setembro de 2010.

3.2.3.3. Accounting Standards Board (ASB)

O ASB (UK GAAP), assim como o FASB, também não publicou até a data, qualquer norma sobre o reconhecimento, valorização, apresentação e registro ao valor justo dos ativos biológicos.

O ASB (1994b), no seu “Financial Report Standard – FRS 7 “Fair Value in

Acquisition Accounting”, refere-se ao valor justo de ativos e passivos identificáveis como o valor pelo qual um ativo ou um passivo pode ser trocado ou vendido em uma transação entre partes interessadas.

O ASB (2002b), no seu “Financial Exposure Draft” – FRED 30 “Financial

Instruments: Disclousure and Presentation; Recognition and Measurement” também se refere ao valor justo para ativos e passivos financeiros como sendo o valor pelo qual um ativo pode ser trocado ou um passivo liquidado, entre partes interessadas. No entanto, assim como no FASB, essa norma é exclusiva para instrumentos financeiros, não fazendo qualquer referência a ativo biológico.

Em agosto de 2009 o ASB publicou a “Policy Proposal: The future of UK GAAP”,

(43)

3.2.3.4. Australian Accounting Standards Board (AASB)

A Austrália foi um dos primeiros países a emitir normas específicas para a agricultura. Essa necessidade surgiu devido ao peso que a atividade agrícola tinha no Produto Nacional Bruto Australiano (DFAT, 1999).

Em março de 1998 emitiu o Accounting Standards AASB 1019 “Inventários” e em

agosto do mesmo ano a AASB 1037 “Ativos Auto-Generativos e Regenerativos”. Em julho de 1999 publicou uma alteração ao AASB 1037 através do AASB 1037ª.

Em julho de 2004, foi publicado o AASB 141 Agriculture, com efeitos nas

demonstrações financeiras a partir de janeiro de 2005. O AASB 141 sofreu várias atualizações, sendo a última em outubro de 2009 e essa norma está de acordo com o IAS 41, principalmente para empresas com fins lucrativos. Empresas sem fins lucrativos seguem outras especificidades do AUS GAAP podendo não ser semelhantes ao IAS 41.

3.2.3.5. Críticas à utilização do valor justo

Embora o valor justo seja utilizado e defendido por várias entidades emissoras de normas contábeis conforme visto anteriormente, e da mesma forma, utilizado por vários usuários que concordam que seja útil para a divulgação das informações, existem também críticas quanto a sua aplicação, algumas das quais listadas a seguir.

Abdel-Khali (2009) comenta que os críticos do valor justo demonstram preocupação com: (a) veracidade e variabilidade, principalmente na utilização de premissas de valorização (Mark-to-model); (b) no reconhecimento das grandes perdas durante quedas de preço dos ativos. Ainda segundo o autor, as preocupações dos críticos fundamentam-se nos seguintes impactos que a aplicação do valor justo pode causar:

 O potencial de distribuição de capital em dividendos quando a distribuição em

caixa de dividendos supera os lucros realizados;

 Possível divulgação de resultados imprecisos, uma vez que aumenta o uso da

subjetividade na elaboração das demonstrações financeiras;

 Possibilidade de aumento da assimetria da informação, divulgação de ganhos não

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Song et al (2009) afirmam que os oponentes da Contabilidade a valor justo argumentam que a mensuração ao valor justo é menos confiável, principalmente quando não existe mercado ativo. Nessa situação, os administradores utilizam técnicas subjetivas de avaliação. Afirmam ainda que, como os administradores possuem informações privilegiadas sobre as suposições “apropriadas” a serem utilizadas nos modelos de mensuração, eles podem utilizar as informações privilegiadas de forma oportunista.

Casta (2004) observa que uma das críticas ao valor justo é o injustificável aumento da volatilidade dos resultados e do patrimônio líquido como uma consequência do abandono do

princípio (ou postulado) da continuidade (going concern).

Penman (2007), por sua vez, conclui que o valor justo é positivo do ponto de vista conceitual, pois o valor do patrimônio líquido estará pronto no balanço, sem a necessidade de análises e considerações adicionais. O problema consiste na determinação do valor justo com preços de saídas, pois os ativos geram valor da execução do plano de negócio da empresa e não das flutuações dos preços de mercado, mesmo quando existe mercado ativo.

Gassen e Schwedler (2008) em sua pesquisa com investidores e consultores de investimento na Europa, identificaram que esses profissionais não veem a mensuração a valor justo como o conceito de mensuração geralmente mais utilizado e nem mesmo consideram esse como um conceito de mensuração homogêneo. No entanto, os pesquisadores não apontam as razões dessas descobertas.

Herbohn e Herbohn (2006) analisaram o impacto na mensuração de florestas australianas utilizando o valor justo e identificaram que os ganhos e perdas registrados no resultado do período oriundo da mudança do valor justo das árvores plantadas afetaram consideravelmente esses resultados, introduzindo uma grande volatilidade nos relatórios financeiros.

Laux e Leuz (2009) também apontam fragilidades na utilização do valor justo, entre elas, a introdução da volatilidade nas demonstrações financeiras em “períodos normais” e que a utilização total do valor justo pode aumentar contagiosamente os efeitos danosos em períodos de crises. Os mesmos autores afirmam ainda que apesar dos problemas existentes na aplicação do valor justo, o retorno da utilização do custo histórico é improvável.

Imagem

Figura 1 – Empresas listadas na BM&FBOVESPA que divulgaram ativos biológicos em 31.12.2010  Fonte: BM&FBOVESPA
Figura 2 - Ativos Biológicos, produto agrícola e produtos resultantes  Fonte: CPC 29
Gráfico 1 – Uso da terra no Brasil  Fonte: Consufor – Advisory & Research
Figura 3 – Espaçamento para plantio de eucalipto  Fonte: IPEF
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Referências

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