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Sumário. Texto Integral. Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 02B2415

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 02B2415

Relator: ARAÚJO BARROS Sessão: 17 Outubro 2002 Número: SJ200210170024157 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA.

Sumário

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

"A" deduziu oposição por meio de embargos à execução para prestação de facto, sob a forma ordinária que, em 16/09/98, no Tribunal da comarca de Cascais, lhe moveram B e C.

Invocou a excepção dilatória da litispendência e a inexequibilidade do título por falta de delimitação, definição e/ou quantificação do facto a prestar,

acrescentando que, quando assim se não entenda, deve ser-lhe concedido um prazo de 180 dias para a demolição pretendida.

Os embargados contestaram defendendo que a obrigação é certa e líquida e que inexiste litispendência.

Foi proferido despacho saneador, em que se julgou improcedente a excepção da litispendência, tendo os embargos sido também julgados improcedentes.

Da sentença apelou o embargante, sem êxito embora, já que o Tribunal da Relação de Lisboa, por acórdão de 13 de Dezembro de 2001, negou

provimento ao recurso confirmando a decisão recorrida.

Interpôs, então, o embargante recurso de revista, pugnando pela revogação do acórdão recorrido, com as legais consequências.

Não foram deduzidas contra-alegações.

Verificados os pressupostos de validade e de regularidade da instância, colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Concluiu o recorrente as suas alegações de recurso da seguinte forma (sendo, em princípio, pelo teor dessas conclusões que se delimitam as questões a apreciar - arts. 690º, nº 1 e 684º, nº 3, do C.Proc.Civil):

1. Carecem de resposta concreta as duas questões que constituem o cerne de

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todo este caso, ou seja, a) onde está o terreno dos ora recorridos, autores na acção principal?; b) o que terá nele de ser objecto de demolição?

2. Quanto a nós a resposta mantém-se: o terreno dos recorridos carece de rigorosa demarcação e a demolição da identificação do objecto.

3. O título que serve a presente execução não é, sem mais, exequível por falta de rigorosa delimitação do objecto isto é, "por incerteza ou iliquidez da

obrigação exequenda" (cfr. o disposto nos arts. 802º e 813º, al. e), do C.P.C.) que nem a sentença exequenda, nem o acórdão recorrido desfazem.

4. Será necessário apurar quantos metros quadrados tem, actualmente, o prédio inscrito sob o nº 10720 na 2ª Secção da Conservatória do Registo Predial de Cascais? Quantos m2 ainda constam dos registos prediais e, sobretudo, das inscrições matriciais das Finanças competentes? - Porque nestas já todo o prédio terá averbados outros donos, que pagam as

contribuições, ainda que em alguns casos só possuam os contratos-promessa do tipo referido no ponto 9. do presente.

5. Será igualmente necessário apurar quantos m2 tem tal prédio disponíveis, na realidade, depois de descontados os arruamentos e os excessos de áreas ocupados por outros adquirentes.

6. Onde está tal prédio? Quem garante que o ora recorrido construiu dentro dessa área sobejante?

7. É absolutamente essencial proceder-se à demarcação do prédio dos ora recorridos, sob pena de se violarem outros direitos que são pertença não só do recorrente mas ainda de terceiros (e que nem sequer fazem parte do litígio).

8. Verifica-se, pois, que face à sentença exequenda e ao acórdão estamos perante uma obrigação ilíquida na medida em que se revela indeterminada quanto à quantidade, quanto à qualidade e quanto à sua natureza e espécie.

9. É necessário saber-se o que é que o recorrente tem exactamente de demolir.

Se só a moradia? A moradia e (segundo o acórdão) a carpintaria bastante maior do que a moradia? Ou também o prédio de vários andares e várias fracções e a estância de madeiras, que comprou a outros que compraram aos recorrentes?

10. Acresce ainda que, em relação à moradia, outra questão fica ainda por resolver: onde está ela? E, desde logo, várias são as hipóteses que se nos oferecem sobre uma possível localização: No Lote 23 ? Nos 4.901 m2 do prédio (ainda inscrito) a favor dos recorridos? Gozarão estes da presunção de que ainda possuem esses 4000 e tal m2? Mas então onde ficam?

11. Ora, só quando se encontrar perfeitamente delimitado o local onde se situa o pretenso prédio dos ora recorridos é que se poderá observar, com pormenor e com segurança, o que realmente nele se passa e qual a construção ou

construções que o executado tem que demolir.

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Está definitivamente assente a seguinte matéria de facto:

a) - por sentença de 25/11/92, declarou-se que C, B e Cl, são proprietários do prédio denominado Barro do Mato da Torre, descrito na Conservatória do Registo Predial de Cascais sob o nº 10720, fls.61 do Livro B-32, na proporção de 2.934/3.451 e condenou-se A a reconhecer esse direito e a restituí-lo

àqueles, livre e desocupado da construção nele implantada - uma moradia com cave, r/c e 1º andar para habitação e instalação de oficina e carpintaria,

demolindo-o para o efeito;

b) - a sentença referida transitou em julgado no dia 23/09/97;

c) - o embargante não procedeu à demolição nem à entrega referida em a), no qual tem implantada uma moradia composta por cave, rés-do-chão e 1º andar, na qual tem instalada a sua habitação e uma oficina de carpintaria e

marcenaria;

d) - a entrega mencionada só é possível depois de efectuada a demolição aí referida;

e) - os embargados intentaram contra o embargante, com base na sentença referida em a), no dia 16/09/98, acção executiva para prestação de facto, pedindo a demolição por outrem da construção referida em a) e,

preliminarmente, a fixação de prazo para aquela.

A única questão de que importa conhecer - aliás suscitada já no recurso de apelação - é a de saber se a execução não pode prosseguir sem prévia delimitação do terreno dos recorridos, bem como da determinação das construções a demolir, por ser incerta e ilíquida a obrigação exequenda.

O título de que os recorridos se serviram para instaurar a execução é uma sentença condenatória, transitada em julgado (art. 46º, al. a), do C.Proc.Civil (1), na qual o recorrente foi condenado a demolir a construção - uma moradia com cave, rés-do-chão e 1º andar, para habitação e instalação de oficina e carpintaria - implantada no prédio Barro do Mato da Torre, descrito na

Conservatória do Registo Predial de Cascais, sob o nº 10.720, fls. 61 do Livro B-32, na proporção de 2.934/3.451 e a restituir o aludido prédio, livre e

desocupado, aos embargados. (2)

É tal execução, quanto ao fim visado pelo exequente, uma execução para

prestação de facto positivo (art. 45º), facto este fungível já que, "para o credor, é jurídica e economicamente irrelevante se ele é realizado pelo devedor ou por um terceiro". (3)

Haverá, no entanto, certeza e liquidez na obrigação de prestação de facto que o embargante foi condenado a satisfazer ?

Situação esta que tem que se averiguar, uma vez que do disposto na al. e) do art. 813º, aplicável por força dos arts. 928º, nº 2 e 924º, resulta que a

oposição à execução fundada em sentença pode ter por fundamento a

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incerteza e a iliquidez da obrigação exequenda, não supridas na fase introdutória da execução.

Pode dizer-se que a obrigação exequenda é incerta quando a respectiva prestação se não apresenta determinada ou individualizada (nem é determinável ou individualizável mediante os elementos fornecidos pelo próprio título).

Por isso, a incerteza "acontece nos casos de obrigação alternativa (em que o devedor está obrigado a efectuar uma de duas ou mais prestações, segundo escolha a efectuar: art.543º CC) e nos de obrigação genérica (art. 539º CC) de objecto qualitativamente indeterminado (o devedor está obrigado a prestar determinada quantidade dum género que contém duas ou mais espécies diferentes). (4)

Doutro passo, a obrigação exequenda é ilíquida se tem por objecto uma prestação cujo quantitativo ou objecto se encontra por apurar, salvo se a sua determinação depender exclusivamente de cálculo aritmético.

Posto isto, parece óbvia a conclusão - aliás adequadamente justificada já, quer pela sentença da 1ª instância, quer pelo acórdão recorrido - de que a sentença que constitui o título executivo desta execução não sofre de qualquer

incerteza, indeterminação ou iliquidez no respeitante às obrigações nela impostas aos ali réus, ora recorrentes.

Com efeito, e independentemente de ter reconhecido que os ali autores são proprietários do prédio Barro do Mato da Torre, descrito na Conservatória do Registo Predial de Cascais sob o nº 10720, fls. 61 do Livro B-32, na proporção de 2.934/3.451, aquela decisão condenou os réus a restituírem aos autores esse direito, livre e desocupado da construção nele implantada (moradia com cave,

rés-do-chão e 1º andar para habitação e instalação de oficina de carpintaria).

E, como consequência, foi-lhes, também determinado que procedessem à demolição de tal construção.

Claramente se infere do conteúdo dessa decisão - sobretudo quando a

comparamos com a matéria de facto supra descrita sob as alíneas c) e d) - que o facto a prestar pelos ali réus, executados, é a demolição das construções que se encontram implantadas no prédio: a moradia e a oficina de carpintaria.

Porque, naturalmente, o direito dos autores (na proporção de 2.943/3.451) se consubstancia no terreno onde tais construções estão implantadas e a

respectiva restituição depende, necessariamente, da prévia demolição ordenada pela sentença dada à execução.

Daí, não só a clareza da decisão exequenda, mas ainda a certeza e liquidez da obrigação de prestação de facto do executado.

Não colhem, pois, as razões aduzidas pelo recorrente, pelo que o recurso tem

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que improceder.

Pelo exposto, decide-se:

a) - julgar improcedente o recurso de revista interposto pelo embargante A;

b) - confirmar inteiramente o acórdão recorrido;

c) - condenar o recorrente nas custas da revista.

Lisboa ,17 de Outubro de 2002 Araújo Barros

Oliveira Barros Diogo Fernandes ---

(1) Diploma a que pertencem todas as disposições adiante indicadas sem outra referência.

(2) Deve ter-se em consideração que, como aliás se refere na sentença da 1ª instância, por força do trânsito em julgado da sentença exequenda, não pode discutir-se aqui o seu bom ou mau fundamento, nem o acertado ou

desacertado da decisão nela contida.

(3) Miguel Teixeira de Sousa, in "Acção Executiva Singular", Lisboa, 1998, pág. 53.

(4) Lebre de Freitas, in "A Acção Executiva", Coimbra, 1993, pág. 66.

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