A EFICÁCIA DA ESTIMULAÇÃO PRECOCE EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA – UMA REVISÃO DE LITERATURA
Aline Borges Rabelo
1Thereza Cristina Rodrigues Abdalla Veríssimo
2INTRODUÇÃO: A microcefalia pode ser conceituada como a ocorrência de crânio pequeno congênito. Seu quadro clínico é evidenciado por atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo. O tratamento deve ser realizado por uma equipe multiprofissional e a intervenção precoce apresenta bons resultados. Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia da estimulação precoce em crianças com microcefalia. MÉTODOS:Esta revisão bibliográfica foi realizada através da busca em livros e artigos indexados nas bases de dados: PubMed, Lilacs, Periódicos Capes utilizando por referência publicações realizadas 1998 e 2016.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:A maioria dos estudos encontrados relacionados ao tema concordam que a estimulação precoce apresenta bons resultados em crianças com microcefalia.CONCLUSÃO: O estudo em questão constatou que crianças com atraso no desenvolvimento se beneficiam de um programa de estimulação precoce. Porém não foram encontrados estudos específicos sobre estimulação precoce em crianças com microcefalia.
Sugere-se então novos estudos com amostras mais específicas e homogêneas.
Palavras-chave:microcefalia, estimulação precoce, fisioterapia.
Aline Borges Rabelo¹ Fisioterapeuta. Especialista em Análise e Terapêutica do Movimento Humano pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), Fisioterapeuta do Instituto Ortopédico de Goiânia(IOG) e do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER) e Pós-graduanda em Fisioterapia Pediátrica pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás),
Email: alinebrgyn@yahoo.com.br
Thereza Cristina Rodrigues Abdalla Veríssimo² Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Neurológica pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Professora Orientadora no CEAFI Pós Graduação e Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER)
Introdução
Define-se microcefalia em um nascido vivo como a ocorrência de crânio pequeno congênito. Apesar da definição de microcefalia não ser padronizada, há consenso quanto a ocorrência de um perímetro cefálico(PC) abaixo do padrão das curvas apropriadas para idade e sexo. Um PC baixo indica, de modo geral, um cérebro pequeno. Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental, exceto as de origem familiar que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal.
1Definições de limites para microcefalia variam de acordo com a finalidade do que se quer avaliar, na medida em que se estabelecem parâmetros de classificação mais sensíveis ou específicos para uma determinada ação. Observa-se que, a definição da anomalia apenas pelo PC é incompleta, sendo necessários exames de neuroimagem para afastar o diagnóstico de malformação primária do Sistema Nervoso Central(SNC).
1Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a microcefalia é caracterizada pela medida do crânio realizada, pelo menos, 24 horas após o nascimento e dentro da primeira semana de vida (até seis dias e 23 horas), por meio de técnica e equipamentos padronizados, em que o PC apresente medida menor que menos dois (- 2) desvios-padrões abaixo da média específica para o sexo e idade gestacional. Além disso, a OMS considera que a medida menor que menos três (-3) desvios-padrões é definida como microcefalia grave. Considera-se que a criança com microcefalia, em alguns casos, pode apresentar alteração na estrutura do cérebro e problemas de desenvolvimento.
2Microcefalia é um sinal e não um diagnóstico e pode ser classificada de várias formas:
I. Tempo de início:
a. Microcefalia congênita: está presente ao nascimento, às vezes é chamada de
“microcefalia primária”, porém esse termo se refere a um fenótipo em particular de microcefalia, portanto, nesses casos, preferencialmente se usa mesmo a
“microcefalia congênita”.
b. Microcefalia pós-natal: refere-se a falha de crescimento normal, ou seja, um cérebro normal ao nascimento, também chamada de “microcefalia secundária”.
II. Etiologia:
a. Genética: podem ocorrer diversas síndromes, entre outras causas, como a :
Síndrome de Cornélia de Lange; Síndrome Cri-du-chat (síndrome do “miado do
gato”); Síndrome de Down ( Trissomia 21); Síndrome de Rubinstein-Taybi;
Síndrome de Seckel; Síndrome Smith-Lemli-Opitz; Síndrome de Edwards (Trissoimia 18);
b. Ambiental ou externa: as causas mais comuns são: insulto hipóxico-isquêmico;
alterações vasculares; desordens sistêmicas e metabólicas; exposição a drogas, álcool e certos produtos químicos na gravidez, desnutrição grave na gestação (desnutrição intraútero), fenilcetonúria materna, infecções do SNC no período pré- natal, perinatal e pós-natal (ex. rubéola congênita na gravidez, toxoplasmose congênita na gravidez, infecção congênita por citomegalovírus).
III. Em relação aos outros padrões de crescimento:
a. Proporcional, quando os demais parâmetros, peso, comprimento, também estão proporcionalmente abaixo da média e;
b. Desproporcional, quando os demais parâmetros estão dentro da normalidade e o crânio apresenta-se fora do padrão.
IV. Em relação à presença de outras anormalidades: isolada ou sindrômica (complexa)
1.No ano de 2015, foi identificado no Brasil um aumento da prevalência de microcefalia em vinte vezes. Esta malformação foi associada pelo Ministério da Saúde à transmissão vertical do Zika vírus.
3A criança diagnosticada com microcefaliaapresenta atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e um grau de atraso mental. Como é uma problemática do foro neurológico geralmente está associada a alguma perturbação/transtorno. As perturbações a que está vulgarmente associada podem ser diagnosticadas através de exames específicos, ou exigir um estudo mais aprofundado que será realizado pelo Instituto de Genética Médica.
4A maneira como a criança se recupera de agressões ao sistema nervoso central,
evidencia a plasticidade. A plasticidade pode ser entendida como a capacidade de um
organismo em desenvolvimento achar seu caminho circundando a deficiência que o
originou.A época para iniciar a intervenção é fundamental para que o bebê tenha maior
possibilidade de superar suas deficiências, além de reforçar uma autoimagem positiva desde o
início de sua vida extrauterina, e motivá-lo para que possa recuperar-se ou atingir a melhor
função.
5Programas de orientaçãoque atinjam pais ansiosos e/ou de luto devem ser elaborados, uma vez que a presença dos pais durante a avaliação e nas terapias facilita o entendimento das forças e fraquezas de seus filhos, melhorando a interação.
5A intervenção precoce poderá facilitar a aquisição de um nível funcional mais adequado se os estímulos forem elaborados e apropriados de acordo com o desenvolvimento normal, compatíveis com as necessidades individuais de cada bebê e dirigidas com objetivos e significados;
6de forma que se possa intervir em uma fase em que ainda não existam padrões patológicos instalados e em que a plasticidade cerebralainda é grande, tornado os resultados mais rápidos e efetivos.
7A intervenção precoce pode ser definida como uma estimulação adequada e contínua que leva em conta todas as áreas sensoriais (visual, auditiva, olfativa, tátil, sinestésica, proprioceptiva e vestibular), sem forçar o sentido lógico da maturação do SNC e que permita que a criança possa desenvolver ao máximo, seu potencial neuropsicomotor. A intervenção precisa ser precoce para atingir, o mais rápido possível, um cérebro ainda imaturo e em desenvolvimento, capaz de receber sensações normais e de responder a elas adequadamente, integrando-as ao seu crescimento desde o início da vida.
6Segundo Mattos e Bellaniaestimulação precoce pode causar modificações significativas no desenvolvimento global de crianças, principalmente se a intervenção terapêutica é associada ao comprometimento/ participação familiar.
8Ao se falar em estimulação precoce, assume-se a sua complexidade enquanto metodologia de intervenção que se preocupa não apenas com crianças vulneráveis, mas também com suas famílias, o que o torna o processo de estimulação complexo pelas inúmeras informações e ações que devem ser geridas.
4Em decorrência da constatação da elevada prevalência de microcefalia no Brasil de maneira abrupta, justifica-se a importância deste estudo como forma de auxiliar um maior número de crianças e suas famílias a minimizar os comprometimentos advindos com a microcefalia. O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia da estimulação/intervenção precoce na microcefalia.
Metodologia
Trata-se de uma revisão bibliográfica, realizada através da busca em livros, artigos e
dissertações indexados nas bases de dados: PubMed, Lilacs, Periódicos Capes e Google
Acadêmico utilizando por referência publicações realizadas entre 1998 e 2016. Houve a
necessidade de inclusão de referências antigas entre (1998 - 2005) relacionadas ao tema, sendo imprescindíveis para o contexto estudado.
Palavras-chave: Microcefalia, Estimulação Precoce e Fisioterapia e as similares em inglês. Foram considerados critérios de inclusão artigos originais nos idiomas português e inglês e dissertações. Foram excluídos artigos de revisão de literatura, bem como artigos que não apresentaram clareza quanto aos métodos utilizados e resultados obtidos.
Resultados e Discussão
Os estudos revisados neste trabalho são todos afirmativos em citar a importância da intervenção precoce para estimular o desenvolvimento, não apenas motor como também global de crianças que apresentam atraso no desenvolvimento; fato esse que também se apresenta nas crianças portadoras de microcefalia.
O estudo de Hallalet al
9, realizado com nove cuidadores de crianças com idade entre zero e três anos comatraso no desenvolvimento atendidas no programa de estimulação precoce do Centro deEstudos da Educação e da Saúde, avaliou as áreas de autocuidado, mobilidade e função social, segundo a percepção do Cuidador . Este estudo constatou que a maioria das crianças apresentou evolução na área de mobilidade após se submeterem a programa de estimulação precoce, apesar de algumas manterem ou regredirem seus escores nestas áreas. E explicam isso através do fato de que habilidades motoras específicas podem ser limitadas em virtude de quadro clínico mais grave. O resultado desse estudo fornece subsídios para afirmar que a intervenção precoce pode ser eficaz na potencialização do desenvolvimento de crianças com atraso no desenvolvimento.
Rodrigues
10em seu estudo composto por quatro famílias ( pai, mãe e bebê), onde os bebês eram avaliados mensalmente e seus pais orientados quanto a forma de estimulação de maneira a otimizar seu desempenho nas habilidades que estivessem em defasagem. Verificou inicialmente que os bebês de risco apresentaram desempenho abaixo do esperado para sua idade cronológica e que houve uma melhora em 80% destes bebês a partir do terceiro mês de idade, bem como houve melhora em 90% destes mesmos bebês a partir do quarto mês de idade. Por mais que os dados desse estudo sejam parciais, é possível concluir que as orientações dadas aos pais sobre como estimular seus filhos, ou como interagir com eles, podem otimizar o desenvolvimento dos bebês de risco.
Ribeiro, Formiga e David
11em seu estudo notaram que crianças pré-termo que
participaram de um programa de intervenção precoce para aprimorar suas habilidades,
apresentaram níveis satisfatórios de coordenação, e que não houve diferença de coordenação entre as crianças pré-termo e as a termo; sugerindo que a facilidade do desenvolvimento infantil foi promovida pelo programa de intervenção precoce.
No estudo de Formiga, Pedrazzani e Tudella
12, as autoras avaliaram oito bebês em dois grupos de crianças prematuras que receberam estimulação precoce e foram avaliadas pela Alberta Infant Motor Scaledurante quatro meses. O primeiro grupo (grupo experimental) além de submeter às crianças a estimulação, seus pais também foram orientados e treinados; já no segundo grupo (grupo controle) as crianças foram estimuladas, mas os pais não foram nem orientados e/ou treinados.Perceberam em seu estudo que ambos os grupos apresentaram evolução (principalmente nas subescalasprona e supina), mas que o grupo experimental adquiriu maior número de comportamentos motores no mesmo período que o grupo controle, especificamente nas subescalas sentada e de pé.
As autoras acreditam que esse resultado se deve a participação/orientação dos pais em estimularem seus filhos a adotar as posturas sentada e de pé durante as atividades de rotina e durante as brincadeiras da criança. Ressaltam ainda que a intervenção aplicada de maneira apropriada e em período específico tende a facilitar o desenvolvimento em estágios posteriores, e se a isso se somar a participação dos pais em todo o processo, os resultados são mais favoráveis e garantem a continuidade do tratamento em casa.
Este resultado vai de encontro ao resultado encontrado por Formiga e colaboradores
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