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A terra da permissão

Autor(es):

Brasil, Luiz Antonio de Assis

Publicado por:

Associação Internacional de Lusitanistas

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/34427

Accessed :

12-Apr-2021 23:48:43

digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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VEREDAS5 (Porto Alegre. 2002) 145-150

A

terra

da permissao

Lmz

ANTONIO DE AsSIS BRASIL

Pontificia Universidade Cat6licadoRio GrandedoSul,Brasil

Daniel de Sa e urn dos escritores acorianos mais ativos, e sua perspectiva estettca simboliza e stgntflca 0 atual modo acorlano de

enxergar 0 mundo: sem sair emocionalmente da terra, e profunda-mente ltgado a ela, sabe-se integrante de uma realidade maior, que, sendo portuguesa, e europeia e, por consequencia, universal. .Ja comecam a ficar distantes, na literatura praticada nos Acores, as representacoes meramente folclorlcas e turisttcas, que, por auto-centradas, sao limitantes e, em geral, realizadas com dlscutivel

arte. A geracao de escritores pos-25 de Abril sabe que 0 vies crittco

e 0 unico habil a ser 0 mais tnsttgante e, ate, mais verdadeiro; assim, se ainda transparecem certas atitudes benevolentes e com-preensivets acerca da cultura regional, tambern ha urn evidente distanciamento do intelectual Idoneo, que procura compreender essa cultura como algo in fieri, capaz de gerar multiplas possibili-dades para a escrita - possibilipossibili-dades nao contraditortas, mas com-plementares.

Daniel de Sa e urn destes escritores que se encontram nel mez-zo del camin, herdeiros de urn acervo Iiterarto em que pontiflca 0

nome de Vitorino Nemeslo, mas que possuem olhos para novos vis-lumbres tematicos e outras tnterpretacoes da realidade. Sua obra abrange varios generos: conto, teatro, romance, ensaio. Nao sendo possivel a referencta a todos, estaremos a referir a apenas tres

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li-146 Lutz Antonio de Assis Brasil vros, que, por suas Intencoes de conteudo e suas realizacoes lin-giiisticas, mostram,

a

perfetcao, 0 universo de preocupacoes de Da-niel de sa.'

Em primeiro lugar, ha 0 para sempre antologtco Iliu: grande fe-chada, romance de 1992.2

Trata-se de uma hist6ria que, usando como recurso estrutural os dias de peregrtnacao de urn romeiro da Quares-rna, em Sao Miguel, a personagem .Joao vat recuperando 0 seu passa-do e antevenpassa-do seu futuro de emigrante no Canada.

E

nesse livro que encontramos a frase basilar, que agora

e

repetida em toda a parte em que

ha

estudos acortanos: "Sair da ilha

e

a pior maneira de ficar nela". Essa frase e uma summa de tudo que 0 livro diz, mas tambem

e

0 Leitmotiv de toda uma literatura recente, partilhada por outros escritores.

.Ja Cronicado despovoamento das Iihas, de 1995, sao textos que

"nao saem da Ilha", se me faco entender. 0 narrador, ancorado neste

seculo, lanca seu olhar - olhar do intelectual de hoje - sobre os se-culos preteritos dos Acores, Contando com uma singular e invejavel facilidade de retomar recursos esquecidos do idioma, Daniel de Sa obtem a proeza de escrever para nos, mas numa dtccaoque lembra 0 passado, todas as dificuldades e agruras (e tambem os momentos feli-zes) por que passaram os ilheus.

EmAs duas cruzesdoImperio - mem6rias da lnquisicao, romance de 1999, vemos como a Inquisicao, essa anomalia cultural e teologtca, encontra par somente em nosso tempo de desencontros e, por que

nao, tempo de perversidades. Os espacos sao multiplos, compreen-dendo inclusive 0 Brasil; todos sao lugares em que a longa mao do Santo Oficio nao deixava descansar os homens. Percebemos ai, mais uma vez, contemplada a habilidade do autor em recriar antigas formas de falar, 0 que faz de modocategortcoetrnpecavel no ficticio sermao do Padre Ant6nio Vieira na Se de Angra,

Esse conjunto de obras, a que nos atreveriamos de chamar de

Trilogia da terrae da partido; em que 0 epicentro e a terra acortana -e na qual 0 homem e urn ser dividido e em fuga (da Ilha, de si mes-mo, da sociedade) -, viria a desempenhar urn papel decisivo na con-solidacao da obra do autor sob exame.

1Todos os tres romances, assim como0 ora analisado, foram editados pela

Salaman-dra, na sua emblemattca colecao Garajau.

2 Objeto de Dtssertacao de Mestrado, sob nossa onentacao, defendida e aprovada em

Maio de 2003, por Maria Julia Santa Rosa. Vanin, na Ponttficta Universidade Cat6lica do Rio Grande do SuI, Brasil.

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A terra da permissao 147

o

romanceA terra permiiida'

e,

relativamente a essa preliminar trtlogta, urn espaco de recuperacao da memoria recente, em que pos-siveis indictos de vivenctas pessoais do autor - a proposito, qual livro nao os possui? - perpassam uma hist6ria feita das lembrancas dos tipos humanos que, de tao pr6ximos no afeto, tornam-se elementos-chaves para entender-se 0 quotidiano de uma pequena freguesia da Ilha de Sao Miguel. Ainda comparando com os anteriores livros cita-dos e deles apartando-se, esta narrativa condensa-se num universo claustrof6bico e, por isso, altamente potencializador dos conflitos.

De inicio,

e

de destacar-se a linguagem, 'um jogo de esconde-esconde em que 0 narrador onisciente intruso - para utilizarmos a eficaz tipologta de Norman Frtedman" - metamorfoseia-se de enti-dade supra-dlegettca dotada de urn quadro axiologtco bern definido, que incorpora valores da comunidade como se seus fossem. Nao serao os valores do autor, pois este, homem de nossa era,

e

que esta a recuperar 0 que ja foi, 0 ja acontecido; mas e 0 autor, que,

travestido de narrador, faz com que passem esses juizos como sen-do dessa entidade algo demiurgtca, algo estranha, mas palpavel: abundam as frases petreas, os ditos populares ou nem tanto, as sentencas bibltcas e todo urn combate "textual capaz de dar veros-similhanca social ao narrado. Com esse recurso tecntco, elabora-se uma voz que nos conta os epis6dios e que os julga ao mesmo tem-po. Nao sabemos quem

e,

mas e a mais presente voz em todo 0 ro-mance. Ao flm a ao cabo, sao virtudes de autor experiente, que sabe jogar com essas zonas de sombra e fascinto.

No plano estrutural, temos uma hist6ria linear como, alias, costumam ser as obras de Daniel de Sa; essa linearidade da-nos uma linha condutora dos epis6dios - no caso, e a hist6ria de Anto-nio, urn protagonista complexo. As outras personagens,

a

excecao talvez de Helena, transitam pelo discurso como ancilares da trama.

It uma solucao plausivel e vallda para evidenciar que numa novela - dtgamos que 0 seja, dada nao apenas a sua dimensao, mas a uni-cidade do conflito - toda economia narrativae bem-vinda, para nao amenizar sua forca dramatica.

3Lisboa: Salamandra, 2003.ColecaoGarajau.

4 FRIEDMAN. N. The point of view in fiction. In: STEVICK. (Org.). The theory of the

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148 LutzAntoniode Assts Brasil

Falamos em conflito, e ja e 0 caso de perguntar: que conflito e este? A resposta nao e univoca nem cabal. Ha de ser considerada a circunstancta da existencta de dois planos narrativos e conflituais: urn refere-se ao coletivo, e outro, ao individual e intimo.

No plano coletivo ha a esperavel reacao social contra 0 casa-mento de Antonio com a menina cega, e pior, filha de mae pecami-nosa. Essa reacao nao chega preponderantemente pela voz de al-guem externo ao pequeno nucleo familiar, mas vern atraves dele. Assim, as principais antagonistas individuais

a

historta de amor sao a propria Helena (a namorada, a que nao quer ver a infelicidade de seu amado) e a futura sogra, Elvira (que deseja proteger tanto Antonio como sua filha de urn casamento infeliz). Ao redor ha, sim, vozes discordantes ao pretendido enlace, mas que agem como 0 cora classlco da tragedta grega, a anunciar nao apenas os males futuros advindos do enlace, mas tambem a revelar a expiacao - a cegueira da fllha - a que foi submetida Elvira por seus anttgos pe-cados. Os componentes tragtcos estao assim delineados, e pouco podemos esperar de felicidades ao jovem par. A morte pela peste, com seu carater de hecatombe publica, cat sobre os dois assim co-mo cai sobre toda a freguesia, numa especte de puntcao.

Ainda nesse vies publico, vemos 0 repassar de alguns momen-tos capitais da vida acoriana, ou ainda melhor, micaelense, e no centro de tudo, a celebre visita de D. Carlos e D. Maria Amelia. Atraves desse periplo real, catalisam-se todas as emocoes monar-quicas e, ao mesmo tempo, mostra como republicanos e livres-pensadores eram execrados nao so pelas tnstitutcoes do Poder, mas tambem pela arraia-mtuda nas canadas. A negacao de Antonio aver o rei stgntftca mats do que uma simples Insubmtssao juvenil, mas 0

marco definidor de uma personalidade que pouco a pouco mostra-se excentrica - para utilizarmos 0 pensamento de Linda Hutcheon" -, isto e, "fora de eixo" relativamente a seus concidadaos. E esse des-centramento e que 0 vitaliza enquanto pessoa e enquanto persona-gem ficcional.

No plano intimo temos uma personagem unica, Antonio, desti-nado a levar por diante uma extstencia que, desde seus inicios, reve-la-se desastrada e pouco favoravel a augurar bons caminhos.

Trata-5HUTCHEON, L.Poeticadopos-modernismo: hist6ria, teoria eftccao. Rio de Janeiro: Imago, 1991.

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A terra da permissao 149

se de urn ser desajustado, que encontra na menina Helena uma alma

gemeaem suacapitis diminutio: se ele eanalfabeto e pobre, ela parti-lha dessas mesmas condtcoes, mas acrescenta-lhe uma: a ceguetra

de nascenca, Essa deflciencia

e,

por paradoxo, 0 que vai abrir os 0-lhos de Antonio, fazendo-o urn observador critico da vida. Na mesma medida em que ensina a Helena as cores - num dos mais belos mo-mentos do romance -, ele proprio sente-se chamado a assumir suas aptidoes artisttcas, que se revelam fortes a ponto de dar-lhe urn oficio e urn meio de sustento pessoal e de sua familia. Claro, tudo se pro-cessa nos limites de uma fechada comunidade insular, mas ali e tu-do

e

grande e decisivo. Ea cegueira de Helena que faz Antonio enca-rar de frente sua rebeldia, a qual 0 leva a desastres tais como a uma excomunhao, Por si so, Antonio nao seria nada, destina~oa vegetar uma vida amarga e anonima: e0 casamento com a cega que 0 projeta publicamente, dando-lhe urn espaco existencial e justiflcando-lhe 0 fato de estar vivo. De entalhador de leitos passa a construtor de es-quifes, numa clara e triste alegortade sua vida.

Curioso

e

constatar como se processa a tentativa (frustrada) de autoconhecimento - e de reconhecimento - da populacao: eurn dos seus proprios membros, talvez urn dos ultimos da Indtgente escala social, que se encarrega de ser 0 espelho em que se duplicam as mazelas escondidas por detras das portas.

E

a atitude provocadora que leva, sim,

a

excornunhao de Antonio, mas eatraves da excomu-nhao que 0 Bispo, 0 proprio autor do interdito, conhece uma fe mais ingenua e absolutamente sincera.

Ha, deste modo, urn olhar complementar ao olhar do narrador:

e

0 olhar da sociedade que, por nao possuir a capacidade de

abstra-cao e de reflexao, mira-se num espelho que ve embaciado e que le-vara, por certo,

a

repeticao das anttgas praticas.

Em texto anterior, referlmo-nos a uma certa estetica da

per-manencia" que estaria presente em alguns autores acorianos, e que

6ASSIS BRASIL, L. A. de. A tdeta de permanencia na obra de Jose Martins Garcia. In: XIV Encontro de Professores Untversttartos Brasileiros de Literatura Portuguesa: Literaturas de Lingua Portuguesa e a Renovacaodo DiscursoLtterarto. 1994, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994. Posterionnente, 0 conceito foi ampliado por RIBEIRO, L. H. M. A questao da identidade da terra e a tdeta de permanencta em "Contrabando original". Lisboa: Salamandra, 1999. Colecao Garajau, e em sua Tese de Doutorado, por n6s orientada, 0 conceito de acortantdade na narrativa acortana p6s-25 de abril, defendida e aprovada em janeiro de 2002, na Pontificia Universidade Cat6lica do Rio Grande do SuI, Brasil.

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150 LutzAntoniode Assts Brasil

se consubstancia na representacao de urn mundo "em que nada acontece", isto

e,

urn mundo em que a prattcas tendem ao imobi-lismo dos mesmos habttos, e que encontra sua expressao mais evi-dente nas festas peri6dicas e na vertflcacao de urn universo endo-geno e circular.

EmA terra permitida, tais pratlcas autorais estao presentes em toda sua forca, e do mesmo modo esta nitida uma consciencia que discute esse microcosmo de pessoas, nao no sentido de rejeita-Io, mas de entende-lo como a expressao de uma tendencia

a

estabili-dade social e, quanta ao individuo, de uma busca da necessaria paz de espirito. Para chegar

a

compreensao de tudo isso, para organizar tudo isso, enecessaria a mao do artista habil que, melhor do que 0 narrador assumido em A terra permitida - 0 qual estara sempre sob a suspeita do leitor -, sabe refletir sem destruir; julgar sem conde-nar; amar sem imunizar-se

a

critica.

Referências

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