Prof essor hoje aposent ado pela
Universidade de Brasília, Julio Cezar M elat t i part icipou dos cursos de especialização que deram origem ao Programa
de Pós-Graduação em Ant ropologia Social do M useu Nacional e dos projet os de pesquisa pioneiros ali desenvolvidos na década de 60, a saber, o Projet o Áreas de Fricção Int erét nica, coordenado por Robert o Cardoso de Oliveira, e aquele que veio a ser conhecido como Projet o Harvard-Brasil Cent ral, realizado at ravés de convênio do M useu Nacional com a Universidade de Harvard, coordenado por David M aybury-Lew is e Robert o Cardoso de Oliveira. Em 21 de junho de 2001, est eve no M useu Nacional para prof erir est a conf erência, f alando-nos da pesquisa que realizou ent re os índios Krahó no cont ext o dest es projet os e dos debat es que animaram aquele período.
É u m a g ra n d e sa tisfa çã o e sta r a q u i, e s-p e cia lm e n te s-p e lo fa to d e e sse con vite m e p rop orcion a r a op ortu n id a d e d e re -m e -m ora r os a n os 60, é p oca e -m q u e te ve in ício o p roje to con ju n to e n tre os p e s-q u isa d ore s d e H a rva rd e os d o M u se u N a cion a l. De fa to, h a via orig in a lm e n te trê s p roje tos: o H arv ard Ce n tral-Braz il
Re se arch Proje ct, coord e n a d o p or Da vid
M a yb u ry-Le w is, ch a m a d o m a is a m iú d e
H arv ard -M u se u N acion al p or Rob e rto
C a rd oso d e O live ira ; o Estu d o Com p
ara-tiv o d as S ocie d ad e s In d íg e n as d o Brasil,
d e 1961; e o Proje to Á re as d e Fricção In
-te ré tn ica, d e 1962, a m b os coord e n a d os
p or Rob e rto C a rd oso d e O live ira . C a d a u m a d a s p e sq u isa s e sp e cífica s se in se ria e m u m ou m a is d e sse s p roje tos. A sob re os Kra h ó, p or e xe m p lo, fig u ra va n os trê s p roje tos sim u lta n e a m e n te . A com os Ti-k u n a , já in icia d a , fa zia p a rte d o Proje to d e Fricçã o In te ré tn ica e d o Estu d o C om -parativo, do mesmo modo que a pesquisa g a viã o, n o Pa rá , com Rob e rto Da M a tta . A p e sq u isa su ru í, d e Roq u e La ra ia , p a r-ticip a va som e n te d o Estu d o C om p a ra tivo. As p e sq u isa s k rin k a ti, a p in a yé , k a -ya p ó e xa va n te som e n te d o p roje to H
ar-v ard . H a ar-via a in d a ou tra s in ar-ve stig a çõe s,
como entre os Nambiquara e os Bororo, e n e m tod a s com e ça ra m a o m e sm o te m p o. Vou foca liza r e sp e cia lm e n te o p ro-je to H a rva rd -M u se u N a cion a l, a p a rtir d e m in h a p e sq u isa e n tre os Kra h ó, m a s p a ra q u e você s se loca lize m m e lh or p re -ciso fa la r u m p ou co sob re os cu rsos q u e se re a liza va m n a é p oca a q u i n o M u se u N a cion a l. Tu d o com e çou com os cu rsos d e e sp e cia liza çã o e m An trop olog ia C u l-tu ra l m in istra d os p or Da rcy Rib e iro n a se g u n d a m e ta d e d os a n os 50, d ois d e le s n o M u se u d o Ín d io. In sp ira d o n e sse s cu rsos, Rob e rto C a rd oso d e O live ira , q u e d e le s h a via p a rticip a d o com o p rofe ssor a u xilia r, org a n izou n o M u se u N a cion a l o p rim e iro “ C u rso d e Te oria e Pe sq u isa e m An trop olog ia Socia l” , e m 1960, d o q u a l fora m a lu n os, Rob e rto Da M a tta , Roq u e La ra ia , Alcid a Ra m os, Ed son Soa -re s Din iz, e n t-re ou tros.
Era u m cu rso d e u m a n o, com p osto d e d u a s e ta p a s: u m p e ríod o d e a u la s
C O N FERÊN C IA
DIÁLOGOS JÊ: A PESQUISA KRAHÓ
E O PROJETO HARVARD-MUSEU N ACION AL
a q u i n o M u se u e u m tre in a m e n to e m p e sq u isa , q u a n d o o a lu n o p a rtia p a ra o ca m p o a com p a n h a n d o u m p e sq u isa d or m a is ve lh o, m a is e xp e rim e n ta d o. A se -g u n d a tu rm a , d e 1961, d a q u a l p a rticip e i com o a lu n o, te ve d ois p rofe ssore s: Rob e rto C a rd oso e Lu iz d e C a stro Fa ria , ca d a q u a l m in istra n d o u m a a u la p or se m a n a . N o q u e d iz re sp e ito a o tre in a m e n -to p a ra p e sq u isa d e ca m p o, re a lize i o m e u com u m p e sq u isa d or m a is e xp e -rie n te , isto é , q u e h a via fe ito o cu rso n o a n o a n te rior: Rob e rto Da M a tta . Fom os ju n tos p a ra os ín d ios G a viõe s, e lá fica -m os a p roxi-m a d a -m e n te trê s -m e se s, d e se te m b ro a n ove m b ro d e 1961. N o d ia e m q u e ch e g a m os à a ld e ia só h a via se is p e ssoa s. Pa ssa m os u m m ê s com e la s. De p ois ch e g a ra m os ou tros, p e rfa ze n d o u m tota l d e 25 ín d ios. Ele s e ra m a p e n a s u m a p a rce la d os G a viõe s e xiste n te s, re -m a n e sce n te s d e u -m g ru p o d e ce rca d e n ove n ta p e ssoa s, d a s q u a is g ra n d e p a r-te h a via m orrid o.
En tre ou tra s coisa s, te n ta m os a ve ri-g u a r se h a via m e ta d e s m a trilin e a re s lá . E u m b e lo d ia Rob e rto Da M a tta d e scob riu q u e a lg u n s G a viõe s d izia m se r Pa n e (Ara ra ) e ou tros H ok (G a viã o). Esta ría m os d ia n te d a s m e ta d e s? En tã o p e -g a m os a -g e n e a lo-g ia e com e ça m os a p e r-g u n ta r: fu la n o é Pa n e ou H ok , cicra n o, Pa n e ou H ok ? E a ssim fize m os com tod a a a ld e ia . Ao e xa m in a rm os o re su lta d o, n ã o con se g u im os e vid e n cia r n e n h u m p rin cíp io org a n iza d or, fosse m a trilin e a r ou p a trilin e a r. Existia m ca sa m e n tos e xo-g â m icos, m a s ta m b é m e n d oxo-g â m icos. N ã o h a via crité rio n e n h u m visíve l a li. En tã o, Rob e rto Da M a tta d isse : e stã o n os e n g a n a n d o, va m os p e rg u n ta r d e n ovo. E n o d ia se g u in te p e rg u n ta m os d e n ovo. E n ã o só se re p e tiu o m e sm o d e se n con -tro, com o a se g u n d a lista n ã o b a tia com a d o d ia a n te rior. Va m os p e rg u n ta r u m a te rce ira ve z. M e sm o re su lta d o. En tã o, m a is ou m e n os n o q u a rto d ia , q u a n d o
a cord a m os, ou vim os u m ín d io g rita r e m n ossa d ire çã o: Pa n e -H ok , Pa n e -H ok , Pa n e -H ok ! Ach a m os p or b e m q u e n ã o d e ve ría m os m a is in sistir...
N o ú ltim o d ia d o cu rso, e m 28 d e fe ve re iro d e 1962, a p re se n te i, com o tra -b a lh o fin a l, u m a n te p roje to d e p e sq u isa p a ra os Kra h ó, q u e e sta va m in clu íd os n o p roje to d o C a rd oso. Ba se e i-m e n a e xp e riê n cia com os G a viõe s n o a n o a n te -rior, n a le itu ra d o Th e Easte rn Tim b ira e d o Th e A p in ay é , e scritos p or N im u e n d a -jú , e n o le va n ta m e n to d a te rm in olog ia d e p a re n te sco k ra h ó e fe tu a d o p or e le e m 1930, q u e e n con tre i n os a rq u ivos d o M u se u N a cion a l. De fa to, o p roje to e ra m a is ou m e n os u m a te n ta tiva d e a d ivin h a r o q u e e ivin coivin tra ria ivin os Kra h ó. Re a -lize i ta m b é m u m le va n ta m e n to d os cro-n ista s, p a ra a p a rte d a p e sq u isa re la cio-n a d a a o p roje to d e Fricçã o Icio-n te ré tcio-n ica .
C h e g u e i a os Kra h ó p or volta d e se -te m b ro d e 1962. Da M a tta , n e ssa é p oca , e sta va in d o p a ra os Ap in a yé , p or con ta ta m b é m d o p roje to d e H a rva rd . Pe g a -m os u -m a viã o d a FAB e via ja -m os ju n tos a té ce rto p on to. N e ssa p rim e ira e ta p a d e ca m p o, fu i con h e ce r a s a ld e ia s k ra h ó, n a é p oca se is, e n tre g ra n d e s e p e -q u e n a s. A p op u la çã o n ã o ch e g a va a 600 p e ssoa s. H oje e le s tê m ce rca d e 21 a l-d e ia s e u m a p op u la çã o l-d e 2.000 p e s-soa s. Fiz o re ce n se a m e n to, visite i a s a ld e ia s, tom e i a s g e n e a log ia s, te n te i cole -ta r te rm os d e p a re n te sco. Q u e ria ve r se a s ch a m a d a s m e ta d e s tim b ira e sta va m re la cion a d a s a o m a trim ôn io ou n ã o, p ois N im u e n d a jú d izia q u e os C a n e la tin h a m u m p a r d e m e ta d e s ch a m a d a s Koyk a te ye e H a rã k a te ye , q u e e n g lob a -va m a s cla sse s d e id a d e e n ã o e sta -va m re la cion a d a s a o ca sa m e n to, m a s tin h a m ta m b é m u m ou tro p a r d e m e ta d e s, ig u a l-m e n te Koyk a te ye e H a rã k a te ye , q u e se ria m m e ta d e s m a trim on ia is.
-d os u m à s e sta çõe s -d o a n o, ou tro à s cla s-se s d e id a d e , u m te rce iro a os g ru p os d a p ra ça d o Ke tu a yê , e ou tros a in d a a ou -tros ritos. Se te , oito p a re s d e m e ta d e s d ife re n te s, m a s n e n h u m a ssocia d o a o m a -trim ôn io. A p e sq u isa com os Ap in a yé ta m b é m m ostra q u e a s m e ta d e s n ã o e s-ta va m re la cion a d a s a o m a trim ôn io, e q u e N im u e n d a jú e sta va e n g a n a d o so-b re os q u a tro k iy é , g ru p os q u e ca sa ria m e m círcu lo, d e m od o q u e os h om e n s d o p rim e iro ca sa va m com a s m u lh e re s d o se g u n d o, os h om e n s d o se g u n d o com a s m u lh e re s d o te rce iro, e a ssim p or d ia n te , a té fe ch a r o círcu lo. Vou le r u m tre -ch o d e u m a ca rta q u e Rob e rto Da M a tta m e m a n d ou e m 25 d e ou tu b ro d e 1962, e m re sp osta a u m a ca rta q u e e u lh e h a via e n via d o q u a n d o e stá va m os e m ca m p o. Ela m e foi tra zid a p or u m ín d io Kra -h ó q u e tin -h a visita d o os Ap in a yé .
“ Você n ã o p od e ca lcu la r a sa tisfa çã o com q u e C e le ste e e u [e le e sta va com a C e le ste lá ] re ce b e m os a su a ca rta . Fica m os fe lize s ta n to e m sa b e r d o se u e xce -le n te e sta d o d e e sp írito, com o e m tom a r con h e cim e n to d e q u e você ‘virou ’ u m ve rd a d e iro C u rt N im u e n d a jú e e stá a r-re b e n ta n d o com a org a n iza çã o socia l d os Kra h ós. N ote q u e a p a la vra a rre -b e n ta r va i n o se u se n tid o p op u la r. G os-te i im e n sa m e n os-te d os p rob le m a s q u e você e stá le va n ta n d o e te m con se g u id o re solve r. Esp e cia lm e n te d a con fu sã o a p a -re n te d os siste m a s d e m e ta d e , q u e você e stá con se g u in d o d e slin d a r com su ce s-so. Eu im a g in o a s coisa s com o d e ve m se r con fu sa s p or a í, p ois a q u i e u só te -n h o u m siste m a d e m e ta d e s (Kolti e Kolre ) e à s ve ze s m e m e to e m ca d a u m a tKolre m e n d a m e n te com p lica d a . Vou re sp on -d e r su a ca rta , e xa ta m e n te com o você e s-cre ve u p a ra m im , isto é , m ostra n d o os p rob le m a s q u e te n h o e n con tra d o, u m d e ca d a ve z. Em p rim e iro lu g a r a s m e ta d e s. En con tre i o siste m a d e m e ta d e s e xa ta
E va i p or a í, con ta n d o o q u e e le e sta -va e n con tra n d o e n tre os Ap in a yé . N e s-sa p rim e ira e ta p a , ta n to Rob e rto Da M a tta q u a n to e u e stá va m os a p re n d e n -d o o b á sico -d a org a n iza çã o socia l -d e s-se s g ru p os. De ssa p rim e ira p e sq u isa d e ca m p o, o q u e e u trou xe d e m a is con cre -to fora m d a d os sob re xa m a n ism o, a p rove ita d os e m u m a com u n ica çã o à VI Re u -n iã o d e A-n trop olog ia , e m Sã o Pa u lo, e m 1963, “ O M ito e o Xa m ã ” .
Re torn e i d o ca m p o e m ja n e iro d e 1963, e e m se te m b ro d o m e sm o a n o p a r-ti p a ra u m a se g u n d a e ta p a , q u e d u rou a té ja n e iro d e 1964, p re ocu p a d o sob re -tu d o e m cole ta r d a d os p a ra o p roje to d e Fricçã o In te ré tn ica , m a s se m d e scu id a r d a p a rte d e org a n iza çã o socia l. De i u m a g ra n d e volta p e la te rra d os Kra h ó, e vi-site i tod a s a s a ld e ia s. N e ssa se g u n d a e ta p a ob tive , p or a ca so, u m d a d o in e s-p e ra d o: a d e scob e rta d e u m m ovim e n to m e ssiâ n ico. Eu tin h a re ce b id o, já n a ve z a n te rior, u m n om e k ra h ó, e e n tã o os Kra h ó com e ça ra m a m e d ize r: “ O se u tio é m a lu co” . M e u tio e ra o q u e tin h a m e d a d o n om e . – “ Por q u e q u e e le é m a lu co?” – “ Porq u e u m a ve z m a n d ou a m a rra r o focin h o d e tod os os ca ch oros” . – “ E você s a m a rra ra m ?” – “ Am a r-ra m os” . – “ Por q u e ?” – “ Porq u e e le e s-ta va con ve rsa n d o com C h u va ” . En tã o, a ssim p or a ca so, e m e rg ira m tod os a q u e -le s d a d os re fe re n te s a o m e ssia n ism o, q u e a p rove ite i m a is ta rd e p a ra e scre ve r o livrin h o O M e ssian ism o Kraô.
Da vid M a yb u ry-Le w is, n e ssa é p oca (1964), re fle tin d o sob re p rob le m a s re fe -re n te s a o se u p roje to, e n viou a os p a rti-cip a n te s u m a ca rta -circu la r. Prop u n h a q u e e sta fosse a p rim e ira d e m u ita s cir-cu la re s, a se re m e scrita s n ã o só p or e le , m a s ta m b é m p or n ós, e m q u e troca ría m os id é ia s, d iscu tiría m os p rob le m a s e n -con tra d os n o ca m p o e tc. Até on d e e u se i, e ssa foi a ú n ica circu la r; n in g u é m ja m a is e scre ve u ou tra .
Su a p re ocu p a çã o ce n tra l, n o ca so, e ra com a org a n iza çã o d u a lista : se ria e sta n oçã o re a lm e n te tã o im p orsta n te ? Se -g u n d o e le , Te re n ce Tu rn e r, a p a rtir d os d a d os k a ya p ó, e sta va coloca n d o isso e m d ú vid a , e a trib u i a J e a n C a rte r e a m im re se rva s se m e lh a n te s q u a n to a o p od e r e xp lica tivo d a n oçã o p a ra a s so-cie d a d e s q u e e stu d á va m os – le m b ro-m e d e te rro-m os con ve rsa d o sob re isso e ro-m u m a d a s su a s visita s a o Bra sil, e m b ora n ã o re cord e b e m o con te ú d o d a s con -ve rsa s. M a yb u ry-Le w is con tin u a su a a rg u m e n ta çã o op on d o orrg a n iza çã o d u a lista a fa ccion a lism o. Ele já h a via d e fe n -d i-d o o se u -d ou tora m e n to e m O xfor-d , m a s a in d a n ã o p u b lica ra o livro, A S
o-cie d ad e X av an te , q u e só sa i e m 1967.
N e ssa circu la r, d iz q u e os Xa va n te O ci-d e n ta is in siste m q u e tê m m e ta ci-d e s e xó-g a m a s, o q u e con firm a ria a u tilid a d e d o m od e lo d a org a n iza çã o d u a lista , m a s e n fa tiza q u e a d ivisã o e n tre p a re n te s e a fin s é in su ficie n te p a ra e xp lica r tod a a org a n iza çã o socia l xa va n te . O fa ccion a -lism o, p or e xe m p lo, n ã o se e n q u a d ra n e ssa d ivisã o. Ele d iz e n tã o:
“ Su g iro, p orta n to, q u e a q u e stã o q u e d e ve ría m os coloca r n ã o é : ‘ta l ou q u a l socie d a d e tê m u m a org a n iza çã o d u a lista ?’ Este é u m fa lso ca m in h o, a o q u a l n os le vou Lé viStra u ss. An te s, d e -ve ría m os te n ta r -ve r o q u a n to a id é ia d e org a n iza çã o d u a lista n os a ju d a a e n te n -d e r ce rtos con ju n tos -d e -d a -d os e , ig u a lm e n te ilm p orta n te , q u a is sã o os con ju n -tos d e d a d os p a ra os q u a is u m a a n á lise e m te rm os d e org a n iza çã o d u a lista se torn a irre le va n te .
a n títe se s a n á log a s’, p a ra u sa r a e xp re s-sã o d e N e e d h a m ). Em ta l socie d a d e o p rin cíp io d e org a n iza çã o d u a lista re ce -b e ria 100% d e e xp re ssã o. É a lta m e n te im p rová ve l q u e ta l socie d a d e e xista . De fa to, a q u e stã o d e se e la e xiste ou n ã o se torn a irre le va n te . Alte rn a tiva m e n te , n ossa a te n çã o foca liza -se e m u m con tí-n u o. Em u m e xtre m o, e stã o socie d a d e s on d e u m a g ra n d e p rop orçã o d e id é ia s e in stitu içõe s sã o ord e n a d a s d e ssa m a n e ira – os Xa va n te , p or e xe m p lo, fica -ria m p róxim os d e sse e xtre m o – e d e p ois ou tra s socie d a d e s se loca liza ria m m a is e m a is d ista n te s d e sse p ólo a té a lca n -ça rm os a q u e la s e m q u e o p a p e l d e a n tí-te se s sim b ólica s e socia is se ria trivia l. De sse m od o, e vita ría m os o e rro d e u m Fra ze r ou u m Lé viStra u ss q u e p od e -ria m sim p le sm e n te cla ssifica r ju n ta s to-d a s e ssa s socie to-d a to-d e s com to-d ía to-d e s.”
O p rob le m a q u e lh e in te re ssa va e ra a com p a ra çã o e n tre os fa ccion a lism os xa va n te , xe re n te e k a ya p ó. N os Tim b i-ra , o fa ccion a lism o n ã o e i-ra tã o im p or-ta n te . Q u a l se ria o p orq u ê d isso? Eis u m a ou tra p e rg u n ta a se r e xp lora d a p e los d e m a is p a rticip a n te s d o p roje to. H a -via u m a h ip óte se q u e a ssocia va a m a ior in cid ê n cia d o fa ccion a lism o à p re se n ça d e “ va riá ve is con com ita n te s” , com o ca -sa -d os-h om e n s e ritu a is d e a g re ssã o (a m u lh e re s e n ã o-in icia d os). Ele su g e re e n tã o q u e
“ Pod e se r q u e isso e ste ja re la cion a d o a o ou tro fa tor d iscu tid o e m n osso se -m in á rio, a a -m b ig ü id a d e d a p osiçã o socia l d o h om e m e n tre os Ka ya p ó, Xa va n -te e Xe re n -te . O s Ka ya p ó e n fa tiza m a s fu n çõe s corp ora d a s d a p a re n te la , m a s fa ze m tod o e sforço p a ra se p a ra r o m e -n i-n o d e sta (e sp e cia lm e -n te d e se u p a i) e p a ra d e se n volve r u m a le a ld a d e , con flita n te p a ra e le , com su a ‘tu rm a ’ e ca sa -d os-h om e n s. O s Xa va n te / Xe re n te ta n to
e n fa tiza m a im p ortâ n cia d e g ru p os d e d e sce n d ê n cia a g n á tica q u a n to se p a ra m o h om e m d e su a p a trilin h a g e m p e lo ca -sa m e n to u xoriloca l. Possive lm e n te , e sa d e sa rm on ia e n tre g ru p o d e p a re n te s-co e re g ra d e re sid ê n cia te m a lg o a ve r com o com p le xo: te n sã o n o p a p e l m a s-cu lin o – b e licosid a d e in stitu cion a liza d a –, a lta in cid ê n cia d e fa ccion a lism o.”
Ele ob se rva ta m b é m q u e os Xa va n te n ã o sa b ia m a lin h a rse a u tom a tica m e n te e m u m a a ld e ia d e scon h e cid a b a -se a d os sim p le sm e n te n a te rm in olog ia d e p a re n te sco – va le n ota r q u e e le e vi-ta va o te rm o “ p a re n te sco” e fa la e m te rm in olog ia d e re la çõe s, ca te g oria s d e re -la çõe s. Ele con ta com o con h e ce ra u m a a ld e ia Xa va n te e m u m a p rim e ira visita e , e m u m a visita m a is re ce n te , tin h a vis-to e sse s Xa va n te s, d e vid o a u m con flivis-to, re fu g ia d os e m u m a ou tra a ld e ia , q u e e le s n ã o con h e cia m b e m . E a li e le s ti-n h a m q u e vive r ta te a ti-n d o, p orq u e ti-n ã o sa b ia m a in d a se re la cion a r. Ele s tin h a m q u e a p re n d e r a situ a çã o fa ccion a l loca l p a ra p od e r e n tã o se in te g ra r n a q u e la a ld e ia , e ch a m a r a s p e ssoa s p e los te rm os a d e q u a d os.
Volta n d o à p e sq u isa k ra h ó. En tre d e ze m b ro d e 1964 e ja n e iro d e 1965, fiz u m b re ve e stá g io d e ca m p o, já q u e d e -ve ria a ssu m ir com o p rofe ssor n o in te rior d e Sã o Pa u lo, e m M a rília , n o a n o se -g u in te . Lá e m M a rília e u tin h a m a n ia d e fica r fa ze n d o a n ota çõe s d e n oite , in s-p ira d o n a s re com e n d a çõe s d e A Im ag
i-n ação S ociológ ica d e Wrig th M ills. Foi
q u a n d o te n te i a p lica r a os Kra h ó a a n á -lise com p on e n cia l q u e Rob e rto C a rd oso h a via fe ito e m O Ín d io e o M u n d o d os
Bran cos. O p rob le m a e ra e n con tra r os
g e ra çõe s? N ã o. Afin a l, o q u e os p a re n te s k ra h ó a g ru p a d os e m u m a m e sm a ca te -g oria tin h a m e m com u m ? O q u e tin h a m e m com u m os k e ti [a vô, tio m a te rn o]? Da r n om e . E a s tïy , q u e é o fe m in in o d e
k e ti? Dã o n om e s ta m b é m , os n om e s fe
-m in in os. A n o-m in a çã o su rg ia co-m o u -m p rin cíp io org a n iza d or im p orta n te . M a s e os ou tros p a re n te s, q u e n ã o d a va m n om e s? Be m , e le s tin h a m u m a re la çã o b iológ ica com se u s filh os, d ife re n te d o q u e con ce b e m os com o re la çã o b iológ i-ca , m a s q u e p e rd u ra p or tod a a vid a , d e m od o q u e u m a p e ssoa p od e a fe ta r a ou -tra fisica m e n te , e sp e cia lm e n te e m m m e n tos d e crise , com o n a scim e n to, d o-e n ça s, p ica d a s d o-e cob ra o-e tc. E d a í co-m e çou a su rg ir a id é ia d e d istin g u ir os n om in a d ore s d os g e n itore s.
Eu e scre vi p a ra Rob e rto Da M a tta , e e le re sp on d e u -m e u m a ca rta d e 20 d e ou tu b ro d e 1965, n a q u a l n ã o d a va m u i-ta im p ortâ n cia p a ra e sse p on to, a ch o q u e p e lo fa to d e m in h a ca rta m istu ra r d u a s id é ia s d ife re n te s. A ou tra id é ia , q u e a ca b e i n ã o d e se n volve n d o, foi p ro-p osta d a se g u in te form a : a s a ld e ia s, a s ca sa s, sã o m a triloca is; q u a n d o u m a ca sa se d ivid e , se u s m ora d ore s con stroe m u m a ou tra a o la d o, form a n d o a ssim q u a -se q u e com o u m a lin h a g e m loca liza d a . As m u lh e re s m a n tê m -se n a ca sa , os h o-m e n s sa e o-m . E u o-m h oo-m e o-m ch a o-m a d e “ e s-p osa ” a m u lh e r d a q u e le q u e lh e d e u n om e (u m “ tio m a te rn o” ). Eu e n tã o m e p e rg u n ta va : se rá q u e o ca sa m e n to p re -fe re n cia l é se m p re e n tre n om e s? Q u e r d ize r, se m e u tio, q u e m e n om e ou , se ca -sou com d e te rm in a d a m u lh e r, se rá q u e e u te n h o q u e m e ca sa r com a m u lh e r a q u e m a m u lh e r d e le d e u o n om e ? E e u fa zia e sq u e m a s. Ach o q u e e ssa id é ia a tra p a lh ou a ou tra , e e m su a ca rta Da M a tta d iscu te m a is e ssa q u e stã o d a re -la çã o e n tre n om in a çã o e ca sa m e n to d o q u e a d ivisã o e n tre n om in a d ore s e g e -n itore s. Ve ja m os.
“ Prim e iro, a lg u n s com e n tá rios m a is g e ra is. A d ificu ld a d e m a is g e ra l d e su a a n á lise , é q u e e la é m e sm o a n a lítica . De ixe m e e xp lica r a a p a re n te re d u n -d â n cia : você tom a o siste m a , -d ivi-d e o m e sm o e m lin h a g e n s m a trim on ia is, m a s m e n cion a q u e ‘n ã o lh e sã o ofe re cid a s p e los ín d ios’. O ra , isto é , p a ra m im , a p ri-m e ira d ificu ld a d e . Assiri-m você p od e ria d ivid ir o g ru p o e m lin h a g e n s p a trilin e a -re s e com isto b u sca r a lg u m a ord e m , você d ivid iu os Kra h ó e m lin h a g e n s m a -trilin e a re s. Tu d o é a n a lítico, q u a n d o o m a is im p orta n te , a m e u ve r, é e xa m in a r com o os p róp rios Kra h ó vê e m o siste m a e m fu n cion a m e n to.
A su a ord e n a çã o d o siste m a te rm i-n ológ ico e m lii-n h a g e i-n s é , se m d ú vid a a l-g u m a , in te re ssa n te , com e xce çã o d e u m p on to m u ito im p orta n te : p a ra q u e e le g a n h a sse m a ior con sistê n cia , e ra p re ciso sa b e r com tod a a ce rte za com o os Kra -h ó c-h a m a m tod os os m e m b ros d e ca d a lin h a g e m . Em a lg u m a s, você a p e n a s d e -d u ziu o siste m a , e isso é b oa m u n içã o p a ra u m crítico colocá -lo d e q u a re n te n a . Em ou tros te rm os, a g e n te fa ria o se g u in te ra ciocín io: os Kra ôs con cre ta m e n -te n ã o tê m lin h a g e n s. M a s p ossu e m u m siste m a te rm in ológ ico q u e p od e se r e x-p lica d o ou ord e n a d o e m te rm os d e li-n h a g e li-n s m a trilili-n e a re s. O corre q u e e m a lg u m a s lin h a g e n s, os m e u s d a d os n ã o sã o se g u ros, m a s e u p osso d e d u zir d a ‘lóg ica ’ d o siste m a q u e e le s se rã o ta is e ta is. O ra , isso m e p a re ce frá g il e vou te n -ta r d ize r p or q u e n a se g u n d a p a rte .
a rg u m e n ta çã o d e tip o Ra d cliffe -Brow n , e p od e se r a cu sa d o d e e sta r força n d o os d a d os u m p ou co.
Um ou tro a rg u m e n to q u e p od e se r u sa d o é o se g u in te : você d iz q u e os Kra -h ó p od e m d ivid ir os m e m b ros d a su a p róp ria g e ra çã o e os d a s g e ra çõe s a s-ce n d e n te s e m d ois g ru p os: os q u e p o-d e m g e rá -lo b iolog ica m e n te e os q u e p od e m g e rá -lo socia lm e n te . M u ito b om . Pod e -se e n tã o a d m itir q u e a ch a m a d a ‘g e ra çã o sociológ ica ’ é e xtre m a m e n te im p orta n te , p orq u e é e la q u e m d á a s coisa s a Eg o. A ou tra é a p e n a s u m p ro-d u to ro-d e la ços g e n e tica m e n te ro-d e te rm i-n a d os, m a s a se g u i-n d a é a q u e la q u e ‘ve s-te ’ o su je ito. M u ito b om . O ra , p od e -se e n tã o d ize r q u e a n om in a çã o é a lg o m u ito im p orta n te e b á sico p a ra o in d iví-d u o n a socie iví-d a iví-d e Kra h ó. Ag ora , p e n se n a s lin h a g e n s e n o q u a d ro d os n om e s. Você ve rá q u e os n om e s p od e m se r d a -d os p or m e m b ros -d e to-d a s a s lin h a g e n s lig a d a s a Eg o, e xce to a lin h a g e m d e se u p a i. Ag ora ve ja b e m : e u a ch o q u e é a ce i-tá ve l a su a d ivisã o e m ‘h om e n s q u e e s-tã o lig a d os a m im socia lm e n te ’ e h o-m e n s q u e e stã o lig a d os a o-m io-m b iolog i-ca m e n te . Isto p a re ce se r a fon te d e p re ocu p a çã o d o siste m a d e p a re n te sco. Assim , tod o h om e m p rocu ra rá se m p re e sta r lig a d o a a lg u é m . E ve ja com o o siste m a ficou org a n iza d o: se e le n ã o p re -cisa d os h om e n s com os q u a is p od e e s-ta r lig a d o p or sa n g u e (lin h a g e m d o p a i), e le p rocu ra p or tod os os m e ios a b rir p ossib ilid a d e s p a ra se lig a r com os ou -tros h om e n s d e tod a s a s lin h a g e n s. As-sim , tod os os h om e n s lig a d os a Eg o p o-d e m se r se u s Ke tis e o-d a r n om e s a os m e s-m os. M a s se você olh a p a ra os q u a d ros d os n om e s, a p e rg u n ta q u e se im p õe é a se g u in te : p or q u e a s lin h a g e n s? Por q u e u m g ru p o va i se org a n iza r e m li-n h a g e li-n s se e le s p rocu ra m p or tod os os m e ios n ã o e sta b e le ce r lim ite s n a s p a -re n te la s, cria n d o u m m e ca n ism o tã o e
ficie n te e im p orta n te q u a n to a n om in a -çã o? De sse m od o, e u a ch o q u e é a in d a p ossíve l solu cion a r sociolog ica m e n te o siste m a Kra h ó se m a p e la r p a ra a s lin h a -g e n s. Isto p orq u e se o siste m a fu n cio-n a sse com o você coloca cio-n os d ia g ra m a s, e le se ria d e u m a rig id e z q u e d ificu lta -ria e n orm e m e n te a su a op e ra çã o. Tod o m u n d o se ria p a re n te , isso e m p rim e iro lu g a r. Porq u e se m p re se ria p ossíve l u sa r a ta l lóg ica d o siste m a e id e n tifica r a lg u é m d e n tro d o siste m a d e p a re n te s-co s-com o u m g e ra d or socia l ou b iológ i-co. M a s n a m e d id a e m q u e e le s a b re m p ossib ilid a d e s com a n om in a çã o, e le s ta m b é m a b re m p ossib ilid a d e s p a ra a e xclu sã o d e ce rtos p a re n te s d o círcu lo coloca d o p e la lóg ica d a te rm in olog ia .”
E se g u e p or a í. Essa d iscu ssã o va i p e rd u ra r p or m u ito te m p o n a p e sq u i-sa . N o a n o se g u in te , e m m a io d e 1966, a con te ce u e m H a rva rd a p rim e ira re u -n iã o d o Proje to. Tod os os p a rticip a -n te s q u e a o fim p rod u zira m a lg u m a coisa e s-ta va m lá , m a s a d iscu ssã o foi a in d a m u i-to p re lim in a r. É cu rioso le m b ra r q u e , n o con vite p a ra e ssa p rim e ira re u n iã o, d a -ta d o d e 25 d e fe ve re iro d e 1966, M a y-b u ry-Le w is te n h a e scrito: “ Esp e ra m os, d u ra n te e ste p e ríod o, p re p a ra r p e lo m e -n os trê s sim p ósios, q u e e u e d ita re i -n o ve rã o d e ste a n o e q u e d e ve rã o a p a re ce r e m livro e m 1967” . Ele se re fe ria a
Di-ale tical S ocie tie s, q u e só foi p u b lica d o,
d e fa to, e m 1979.
-via u m a te rm in olog ia C row e u m a tra n s-m issã o p re fe re n cia l d e n os-m e s d e tio m a te rn o p a ra sob rin h o, coe re n te com e la . M a s h a via ta m b é m a tra n sm issã o d e n om e s fe m in in os d e tia p a te rn a p a ra so-b rin h a , q u e im p lica ria u m a te rm in olog ia sim é trica e in ve rsa , d e tip o O m a h a . O q u e fa ze r com isso? H a via re sid ê n cia m a triloca l, e q u a n d o e ssa s ca sa s se cin -d ia m a s ca sa s re su lta n te s fica va m u m a a o la d o d a ou tra ; q u a n d o u m a d e ssa s fa m ília s m u d a va d e a ld e ia , ia se coloca r e xa ta m e n te n a m e sm a p osiçã o, e m re -la çã o a os p on tos ca rd e a is, d e su a ca sa d e orig e m . Essa s coisa s le m b ra va m lin h a g e n s, m a s n ã o e ra m p rop ria m e n te lin h a -g e n s. C om o re solve r? É o q u e Rob e rto Da M a tta d iscu te e m u m a d e su a s ca rta s:
“ O se u p on to sob re fa m ília e xte n sa p a re ce se r corre to. Eu e n con tro m a is ou m e n os os m e sm os p a d rõe s d e a ju d a e co-n ôm ica a q u i e co-n tre os Ap ico-n a yé . M a s a fa m ília n a ta l con tin u a se n d o b á sica e a s obrigações que um homem tem para com se u p a i, m ã e , irm ã o sã o m a is ou m e n os ca te g órica s. En tre os Ap in a yé o b á sico n a orie n ta çã o d e Eg o n ã o é a fa m ília d e fin id a com o u m corp o d e re g ra s ju rí-d ica s e socia is, m a s a casa. É a com u n i-d a i-d e i-d a ca sa q u e e stru tu ra , re form u la e a lim e n ta a s re la çõe s socia is m a is im p or-ta n te s d a vid a d e u m h om e m ou d e u m a m u lh e r” (Toca n tin óp olis, 19/ 3/ 1967).
Em se g u id a e le va i fa la r d e n ovo n a s ch a m a d a s lin h a g e n s, rótu lo q u e e le n ã o a ce ita .
“ Em re la çã o à e xistê n cia d e m a trili-n h a g e trili-n s, os m e u s d a d os cotrili-n firm a m os se u s e m u m p on to, a o m e n os. As ca sa s a p in a yé d e ve m se r loca liza d a s se m p re n o m e sm o lu g a r, m e sm o q u e a a ld e ia m u d e . Por ou tro la d o, é a e xistê n cia d e u m a m u lh e r q u e fica n a ca sa a re sp on sá ve l p e la con tin u id a d e socia l d o g ru
p o. Assim se n d o, o g ru p o te m u m a m a -n ife sta te -n d ê -n cia m a tri, a i-n d a q u e e u a in d a n ã o ou se fa la r e m lin h a g e n s, p or-q u e sã o ‘lin h a g e n s’ or-q u e op e ra m d e m o-d o su b ve rsivo e o-d e p e n o-d e m m u ito m a is d o e sp a ço socia l (a rra n jo d a s ca sa s n o círcu lo d a a ld e ia ) d o q u e d o te m p o. E is-so te m m u ita s im p lica çõe s q u e e u n ã o vou d e se n volve r a q u i, d e ixa n d o p a ra u m b a te -p a p o” (Toca n tin óp olis, 19/ 3/ 1967).
Ta lve z a p a rte m a is im p orta n te d e ssa ca rta se ja a q u e se re fe re à cla ssifica -çã o d os p a re n te s, q u e e le re tom a rá e m se u livro:
“ O ca sa m e n to com p a re n te s é a n o-ta b á sica d o siste m a Ap in a yé . Ele s tê m u m te rm o g e ra l p a ra p a re n te s id k w óy a, m a s e ssa cla sse te m su b d ivisõe s: id k w
ó-y a k aog (fa lsos, ile g ítim os, d e m e n tira )
e e m id k w óy a k u n re n d y (ve rd a d e iros, re a is, le g ítim os). O s Ap in a yé s tra d u ze m e sse s d ois te rm os, fre q ü e n te m e n te , p or ‘p a re n te s d e p e rto’ e ‘d e lon g e ’. A b a se d a d istin çã o é m a is ou m e n os ob scu ra e d e p e n d e d a d istâ n cia g e n e a lóg ica d o p a re n te d os p a is e Eg o. Assim , tod o o ca m p o d e p a re n te sco q u e form a o k in
d re d é p a re n te k u n re n d y . O s q u e se re
-la cion a m a e sse s sã o con sid e ra d os k aog e com e le s se p od e ca sa r. Te m os a ssim o m e sm o fe n ôm e n o q u e você ob se rva e n tre os Kra h ó. Um p a re n te k aog p od e p a ssa r a a fim , ou a in d a u m p a re n te k u n
-re n d y se tra n sform a e m k aog . A b a se d a
d istin çã o é a in d a a se g u in te : p a ra os p ri-m e iros a g e n te d á a s coisa s se ri-m q u e e le s p e ça m . Pa ra os se g u n d os, a g e n te e sp e -ra e le s p e d ire m . E d o m e sm o m od o q u e os Kra h ós, e sse s p a re n te s p od e m p a ssa r d e u m a cla sse à ou tra , d e p e n d e n d o d a s sim p a tia s p e ssoa is. Assim , u m irm ã o
k u n re n d y p od e p a ssa r a se r con sid e ra
li-g a p a ra o irm ã o ou b rili-g a com e le . O m e sm o ocorre com o ca sa m e n to” (To-ca n tin óp olis, 19/ 3/ 1967).
Este é u m d a d o-ch a ve d o p a re n te s-co d os Tim b ira , p a ra o q u a l Da M a tta e ste ve m a is a te n to d o q u e e u . Em b ora os m e u s d a d os p u d e sse m m e con d u zir à m e sm a coisa , a ch o q u e fu i m u ito orie n ta d o p e los ritos d os Kra h ó, on d e a d istin çã o e n tre p a re n te s e a fin s é m a is ra d ica l. Esse p a re n te sco d ista n te ficou à m a rg e m d o m e u te xto, e isso é u m a d a s fra q u e za s d os re su lta d os d a m in h a p e sq u isa .
Volte i a os Kra h ó n o m e sm o a n o d e 1967, e n tre ju lh o e a g osto. Em 1968, n a s vé sp e ra s d a se g u n d a re u n iã o d o Proje -to H a rva rd , q u e ocorre u e m O xford , M a yb u ry-Le w is e n viou -m e u m a ca rta com com e n tá rios sob re u m p rim e iro e sb oço d o a rtig o sosb re o p a re n te sco k ra -h ó. Ele d iz a ssim :
“ Este é u m p ap e r m u ito in te re ssa n te q u e le va n ta a lg u m a s q u e stõe s fu n d a -m e n ta is sob re os Kra h ó – q u e stõe s q u e tê m (ou p od e m vir a te r) g ra n d e re le -vâ n cia p a ra os e stu d os com p a ra tivos J ê . En tre ta n to, o p ap e r n ã o é su ficie n te m e n te p re ciso e m re la çã o a ce rtos p on -tos té cn icos:
1) A lista d os te rm os: a coisa m a is im -p orta n te q u e se d e ve con h e ce r sob re u m siste m a d e p a re n te sco sã o os se u s lim
i-te s. A q u e ca i-te g oria e le se re fe re e
com o e sta é d e licom ita d a ? Esse a sp e cto cru -cia l d os lim ite s d e ca d a te rm o e stá ob s-cu ro. Por e xe m p lo, o te rm o i(n )n ’ts’u (n )
é d e fin id o com o re fe re n te a tod os os h o-m e n s q u e p od e o-m te r re la çõe s se xu a is com a s m u lh e re s q u e Eg o ch a m a d e ‘m ã e ’, isto é , i(n )n ’tsé . Este ú ltim o te rm o
é sim ila rm e n te d e fin id o e m te rm os d o p rim e iro. M a s o le itor p re cisa sa b e r co-m o u co-m d a d o Kra h ó a trib u i con sa n g ü í-n e os a a m b a s a s cla sse s. Pa re ce , a p a
r-tir d a s ca ra cte rística s g e ra is d a te rm in o-log ia , q u e o te rm o no1 se re fe re a tod os
os con sa n g ü ín e os m a scu lin os d a g e ra -çã o +1, e xce to o M B e com a a d i-çã o d o FZS (in clu íd o p orq u e e le é u m re cíp rco d o M BS). Está cla ro q u e q u a lq u e r h o-m e o-m d a g e ra çã o +1 p od e g e ra r (ou te r g e ra d o) Eg o fisica m e n te . C om o Eg o e n -tã o d e cid e q u a is d e sse s h om e n s d e ve m se r cla ssifica d os com o i(n )n ’ts’u (n )?
2) Pa re n te la s [k in d re d s]: p a ra q u a l-q u e r d a d o Eg o, p ote n cia lm e n te , tod os os ou tros Kra h ó sã o p a re n te s [re lativ e s]. Ele s d e ve m se r p a re n te s [k in sm e n ] ou a fin s. M a s q u e m sã o se u s p a re n te s? N ã o é b a sta n te d ize r q u e e le s sã o a q u e -le s q u e ofe re ce m a lim e n to se m e sp e ra r re trib u içã o, q u e d e ve m a ju d á lo e m con -flitos e tc. Essa s sã o a çõe s e sp e ra d a s d e p a re n te s, m a s e la s n ã o n os d ize m com o o Kra h ó sa b e com q u e m a g ir d a m a n e i-ra a p rop ria d a . Ta m p ou co é su ficie n te d ize r q u e u m a p a re n te la con siste d e to-d os a q u e le s q u e sã o re con h e cito-d os p or Eg o com o con sa n g ü ín e os [con san g u
in e s]. Isto é , p rova ve lm e in te , u m a ve rd a
-d e u n ive rsa l, p or -d e fin içã o. N ós n ã o p o-d e m os e n te n o-d e r o p a re n te sco Kra h ó a té q u e sa ib a m os com o u m Kra h ó d e cid e q u a is p a re n te s con sa n g ü ín e os p ote n -cia is [p ote n tial con san g u in e s] e le d e ve tra ta r com o con sa n g ü ín e os.
3) In ce sto: o p a rá g ra fo a cim a le va n ta o p rob le m a d o in ce sto. Q u a is sã o os g ra u s d e re la cion a m e n to p roib id os p a ra 1) re la çõe s se xu a is 2) ca sa m e n to? Se a a fin id a d e é sob re p osta à con sa n g ü in id a id e , com o con se q ü e n te re orid e n a m e n -to d a s re la çõe s, q u a is sã o a s re la çõe s con sa n g ü ín e a s q u e n ã o p od e m se r re or-d e n a or-d a s or-d e ssa m a n e ira ?
4) G ru p os: d o m e sm o m od o, h á u m p rob le m a d e form a çã o d e g ru p o q u e n ã o é re solvid o n o te xto. As p a re n te la s [k in
d re d s] Kra h ó cla ra m e n te n ã o sã o g ru
-p os. M a s a a n á lise d os se g m e n tos m
i-to q u e e le s n ã o sã o n om e a d os n e m a tu a m com o g ru p os corp ora d os. Só se p od e d istin g u i-los p orq u e a su a p osiçã o n o círcu lo d a a ld e ia é con sta n te e e le s sã o e xog â m icos. M a s os Kra h ó n ã o d i-ze m q u e e le s sã o e xog â m icos. Ag ora , já q u e os g ru p os p od e m se r e n con tra d os e m m a is d e u m a a ld e ia , é d ifícil ve r co-m o e le s co-m a n tê co-m su a e xog a co-m ia , se e le s n ã o sã o n om e a d os, n ã o a tu a m com o g ru p os, e se u ca rá te r e xog â m ico é su b con scie n te (ou a o m e n os n ã o ve rb a liza -d o). C om o e le s sã o re cru ta -d os? C om o se u s lim ite s sã o d e fin id os? A m a triloca -lid a d e – o ú n ico p rin cíp io q u e g ove rn a a su a form a çã o a p re se n ta d o n o te xto – é u m a con d içã o n e ce ssá ria m a s n ã o su -ficie n te p a ra a su a p e rp e tu a çã o. Essa p a rte d a a n á lise p re cisa se r e xp a n d id a . 5) M a triloca lid a d e : a te n d ê n cia d e a s a g lom e ra çõe s m a trilin e a re s se m a n -te re m ju n ta s com o u m a con se q ü ê n cia d a re sid ê n cia u xoriloca l p ós-m a rita l é a va n ça d a com o u m a e xp lica çã o p a ra os tra ços crow d a te rm in olog ia Kra h ó. En -tre ta n to, a m a trilin e a rid a d e [m atrilin y ] d a socie d a d e Kra h ó p a re ce se r u m p rin -cíp io e xce ssiva m e n te fra co. Alé m d isso é , a té ce rto p on to, con tra b a la n ça d o p or ou tros p rin cíp ios (p or e xe m p lo, a te n -d ê n cia p a tri [p atrilin y ] n a n om in a çã o d a s m e n in a s). A n ã o se r q u e se p ossa m ostra r q u e a su a op e ra çã o n a socie d a d e Kra h ó é m a is d e te rm in a n te [in flu e n
tial] d o q u e foi a q u i e sta b e le cid o, tra ta
-se d e u m a “ e xp lica çã o” fra ca p a ra u m siste m a crow.
6) Te rm os d e a fin id a d e : tod a a d is-cu ssã o sob re tom a d ore s d e e sp osa e d oa d ore s d e e sp osa é im p ossíve l d e se r a com p a n h a d a se m u m a e xp osiçã o a n -te rior e com p le ta d os a rra n jos m a trim o-n ia is e o-n tre os Kra h ó. Q u e m d á côo-n ju g e s, q u e m re ce b e e e m q u e circu n stâ n cia s? De ou tra m a n e ira , a d iscu ssã o e m te r-m os d e d a r e re ce b e r côn ju g e s d iz a o le itor tã o-som e n te q u e u m côn ju g e é
p a ssa d o e n tre Eg o e ca d a u m d e se u s a fin s – a lg o q u e sa b e m os p or d e fin içã o” (14/ 7/ 1968).
Essa s e ra m a s crítica s d e Da vid M a yb u ry-Le w is sob re e sse p rim e iro e s-b oço d e m e u a rtig o. Ach o q u e o te xto n ã o m e lh orou m u ito d e p ois… Foi p u b li-ca d o m a is ou m e n os com o e sta va , com a lg u n s re toq u e s. En fim , Da M a tta e M a y-b u ry-Le w is coy-b ra va m -m e , p rin cip a l-m e n te , l-m a is d a d os sob re a s re la çõe s d e p a re n te sco, os ca sa m e n tos e tc.: com o o siste m a fu n cion a , a fin a l? Isso e stá n a ca rta q u e Da M a tta m e e scre ve u d e p ois d e le r a m in h a te se a in d a n ã o d e fe n d i-d a , m a s e n tre g u e :
“ Q u a n to à su a te se , li o tra b a lh o cu i-d a i-d osa m e n te e a q u i se g u e m a s m in h a s crítica s:
1) Ach e i o tra b a lh o m u ito b om , u m a e tn og ra fia p rim orosa , a in d a q u e u m ta n to q u a n to p e sa d a . Você n ã o p re cisa d e -ta lh a r -ta n to e ci-ta r -ta n tos ca sos p a ra com p rova r ce rta s a firm a çõe s.
2) C re io q u e a d ivisã o e a p re se n ta -çã o d o m a te ria l p od e m se r m od ifica d a s. Ach e i a d ivisã o m e io g e rm â n ica e m u ito e sta n q u e : n ã o se se n te a s re la çõe s d e u m a coisa com a ou tra .
3) C re io ta m b é m q u e você p od e ‘ou -sa r’ m u ito m a is d o p on to d e vista te óri-co, in d ica n d o a o le itor on d e a d e scriçã o d os Kra h ó p od e se rvir p a ra re força r, re -form u la r ou re je ita r ce rta s te oria s cor-re n te s sob cor-re e stru tu ra lism o.
Tod os e sse s trê s p on tos sã o g e ra is e se p re n d e m a e stilo. Ele s a ssim p od e m se r m a n tid os n a te se , e m b ora e u a ch e q u e p a ra o livro você p ossa m od ifica r a lg u m a coisa .
m u ito cla ro a e sp e cificid a d e d o ca so Kra h ó e m re la çã o a os ou tros J ê . Isso a p a re ce d e m od o n ítid o n a s su a s con -clu sõe s, q u a n d o você a p re se n ta os 33 p rin cíp ios q u e ‘g ove rn a ria m ’ o siste m a socia l Kra h ó. C on fe sso, fra n ca m e n te , q u e n ã o g oste i n a d a d e ssa p a rte . Pri-m e iro, p orq u e a lg u n s d e sse s p rin cíp ios sã o ‘p la titu d e s’, sã o a ca cia n os. Se g u n -d o, p orq u e – e isso é m u ito m a is g ra ve – os 33 se a p lica m ig u a lm e n te a os Ap in a -yé , Krik a ti e C a n e la . Em su m a , su g iro q u e você fa ça a s su a s con clu sõe s u sa n d o m a is d a d os sob re a s ou tra s socie d a -d e s J ê e m ostra n -d o q u a l o lu g a r -d os Kra h ó n e sse q u a d ro e tn og rá fico. En tã o, é m u ito m a is e le g a n te e m a is fá cil p a ra você isola r o q u e é e sp e cífico d os Kra -h ó, e m op osiçã o a os ou tros J ê . Isso é o q u e e u p osso d ize r n e ste in sta n te . C a so você te n h a a lg u m com e n tá rio, e scre va .
A g ora, M e latti, n ote b e m . [...] isso
n ã o sig n ifica q u e o se u tra b a lh o n ã o e s-te ja b om . N a ve rd a d e , com o fa le i d e sa íd a , e le é ótim o. M a s se a g e n te su g e -re , é p a ra m e lh ora r e ta m b é m p a ra d i-ze r q u e a g e n te fa ria d e ou tro je ito” (6/ 5/ 1970).
C om o se vê , a s crítica s a o m e u tra b a lh o vã o se m p re b a te n d o m a is ou m e -n os -n os m e sm os p o-n tos. Em ou tu b ro d e 1970, q u a n d o e u já h a via d e fe n d id o a te se e o Da M a tta e sta va p a ra d e fe n d e r a d e le e m H a rva rd , e le m e e scre ve u u m a ou tra ca rta , q u e tra ta n ova m e n te d a q u e stã o d a a u sê n cia , e m m e u tra b a -lh o, d e u m a g ra d a çã o e n tre con sa n g ü í-n e os e a fií-n s.
“ Se u s com e n tá rios tod os fa ze m se n -tid o. Ta lve z u m d os p rob le m a s se ja a d ificu ld a d e com a d e fin içã o d e con sa n g ü ín e os, e m op osiçã o a a fin s. O e xe m -p lo d isso n a ca rta (e n a te se ) é com o coloca r a q u e la s re la çõe s q u e tê m u m p ou -co d os d ois. C e rto? Ta lve z u m m od o u m
p ou co m a is p rove itoso d e a b ord a r e ssa q u e stã o se ja d e fin ir a s re la çõe s e m te r-m os d e u r-m e ixo, u r-m con tin u u r-m , q u e é m a rca d o d e u m la d o p or re la çõe s d e su b stâ n cia , d e ou tro p or re la çõe s d e tro-ca . O s ritos n ã o se ria m e xp re ssõe s d a s re la çõe s, m a s ca ta lisa d ore s q u e m
arca-riam m e lh or os p on tos on d e o con
tin u u m p od e ria se r te m p ora ria m e tin te rom -p id o. Isto é , os -p on tos on d e u m a d e s-con tin u id a d e p od e ria se r ob tid a n u m fe ixe d e re la çõe s in te g ra d a s e a p e n a s p ola riza d a s e m torn o d e ce rta s id e olog ia s. C om isso, você e vita ria o p rob le -m a d a s re la çõe s d e co-m p a d rio (e re sol-ve ria ta m b é m o p rob le m a d os ‘a m ig os form a is’ e n tre os Kra h ó), e n ã o e sta ria com e te n d o o q u e se m e a fig u ra com o u m e rro te rríve l n os e stu d os d e p a re n -te sco, a sa b e r: a re ifica çã o d o p a re n -te s-co; su a coisifica çã o a p on to d e se fa la r e m p a re n te sco com o ca u sa d or d e id e o-log ia s, re la çõe s e con ôm ica s, m itos e tc. Essa p osiçã o, con vé m a in d a le m b ra r, foi d e n u n cia d a p or Le a ch , com o e xa g e ro q u e o ca ra cte riza , n o livro Pu l Ely ia, q u e va le a p e n a le r. É d e sse m od o q u e a b or-d e i o p rob le m a n a m in h a te se , e é a ssim q u e e stou orie n ta n d o o m e u e stu d o (ou re e stu d o) d o siste m a d e re la çõe s Ap i-n a yé a g ora , com re su lta d os re a lm e i-n te sa tisfa tórios” .
Fin a lm e n te , h á u m a ca rta d o M a yb u ryLe w is q u e , p or e sp e cia l con sid e ra -çã o, e sta va e le p róp rio tra d u zin d o o m e u a rtig o d o Diale tical S ocie tie s p a ra o in -g lê s. N ã o se i se e sta va tota lm e n te sa tis-fe ito com o re su lta d o fin a l, m a s e u m e le m b ro q u e e le m u d ou o títu lo, troca n -d o p a re n te sco p or siste m a -d e re la çõe s.
s-tõe s e d itoria is e n via re i a você u m a có-p ia . Eu e scó-p e ro q u e você fiq u e sa tisfe ito. Eu tra d u zi d e m a n e ira ra zoa ve lm e n te livre , m a s d e m od o a d a r u m sa b or in g lê s à lin g u a g e m […] m a s p e n so q u e e u n ã o tom e i q u a lq u e r lib e rd a d e com se u te x-to, q u e e u p rocu re i tra d u zir d o m od o m a is le a l p ossíve l.
Eu e stou m a is u m a ve z im p re ssion a -d o com su a e tn og ra fia e p e la n a tu re za p rovoca tiva d e se u s d a d os e a n á lise . O se u p ap e r é d ifícil m a s ta m b é m fa sci-n a sci-n te .”
O e log io a q u i é p re p a ra çã o p a ra o q u e ve m d e p ois.
“ Eu g oste i p a rticu la rm e n te d a su a con clu sã o, on d e você a p on ta q u e a tra n sm issã o d e n om e s Kra h ó p a re ce con tra b a la n ça r a u xoriloca lid a d e e m e s-m o a p roib içã o d e in ce sto e n tre irs-m ã o e irm ã . Eu e stou se g u ro q u e você e stá ce rto e q u e e sta é a ch a ve d e rtod o o siste m a , e sp e cifica m e n te , q u e e le s e stã o re -solve n d o d e ssa m a n e ira su til a s vá ria s p e rm u ta çõe s e d ificu ld a d e s d a s re la çõe s e / ou op osiçõe s e n tre h om e m / m u lh e r [m ale / fe m ale ], irm ã o/ irm ã e m a rid o/ e s-p osa . De fa to a d ivisã o d o in d ivíd u o e m su b stâ n cia física e p e rson a socia l é u m a m a n e ira m a g n ifica m e n te sofistica d a d e lid a r com tod o o p rob le m a . […]
Um ou tro d a d o p rovoca tivo q u e m e in trig a é o se p u lta m e n to d os m ortos n a p e rife ria , e m b ora a lg u n s m ortos se ja m se p u lta d os n o ce n tro. Pod e ría m os d ize r q u e os Kra h ó con ce b e m u m a e sp é cie d e con tin u u m d a n a tu re za (n a p e rife ria ) e m d ire çã o a o ce n tro, a tra vé s d a s m u lh e re s e d os m e n in os n ã oin icia d os, p a -ra a e ssê n cia d a cu ltu -ra / socie d a d e , isto é , os h om e n s in icia d os? E e n tã o a d ire -çã o é in ve rtid a . Som e n te os h om e n s m a is n otá ve is p e rm a n e ce m n e sse p ólo socia l/ sa g ra d o. O s re sta n te s in icia m u m a jorn a d a p a ra trá s e m d ire çã o à n a tu re za ,
d o m e sm o m od o q u e a s a lm a s d os m or-tos ta m b é m via ja m a tra vé s d o m u n d o a n im a l p a ra trá s, p a ra o m u n d o ve g e ta l e e ve n tu a lm e n te p a ra o n a d a .
Isso m e con d u z a u m a d e m in h a s re -se rva s. Eu m e sin to in com od a d o com su a d iscu ssã o d a s op osiçõe s e n tre op osiçõe s. Ela s n ã o d e ve ria m se r in te rp re ta -d a s a n te s com o e n fa tiza n -d o a op osiçã o p re d om in a n te , d o q u e com o p ostu la d os sim b ólicos q u e b u sca m ca n ce la r-se u n s a os ou tros? Alé m d e tu d o, in ve rsõe s sim b ólica s ou re ve rsõe s [re v e rsals] e x-ce p cion a is g e ra lm e n te tê m a fu n çã o d e ch a m a r a a te n çã o p a ra a ord e m n orm a l e n ã o d e con tra d izê -la .
Um a ou tra re striçã o sé ria q u e e u te -n h o a o se u p ap e r, é q u e você -n ã o d e ixa cla ro se e stá lid a n d o com re g ra s k ra h ó ou se e stá d e d u zin d o re g u la rid a d e s a p a rtir d o com p orta m e n to k ra h ó. M a is d e u m a ve z você e scre ve com o se e sti-ve sse d e d u zin d o e sse s siste m a s a p a rtir d o com p orta m e n to, e m b ora e u su sp e ite e su p on h a q u e você e stá n os d a n d o a con ce itu a liza çã o k ra h ó d o siste m a , e e n -tã o d iscu tin d o o com p orta m e n to e m te r-m os d e sse r-m od e lo con ce itu a l. Você p o-d e e scla re ce r isso?” (15/ 7/ 1973).
E a ssim con tin u a . En fim , h á u m a crítica se m p re re p e tid a , q u e re cla m a u m u so m a ior d os d a d os con cre tos.
Ta m p ou co d e i a d e vid a a te n çã o à s p re sta çõe s d e b e n s m a te ria is q u e a com -p a n h a m o ca sa m e n to, e q u e e lu cid a m d e a lg u m m od o a id e n tid a d e d a q u e le s q u e p a rticip a m d a s tra n sa çõe s m a trim o-n ia is. Fiq u e i à p rocu ra d e g ru p os q u e troca sse m m u lh e re s, m a s ta is g ru p os n ã o e xiste m . Existe m p e ssoa s.
Ta lve z te n h a fa lta d o e m m e u s tra -b a lh os so-b re p a re n te sco d a d os so-b re e sse s p roce d im e n tos, sob re os p re se n te s q u e e ra m d e vid os e q u e só e ra m p a -g os q u a n d o o ca sa m e n to se d e sfa zia ou q u a n d o h a via d e flora m e n to d e u m a m u -lh e r. De fa to, a ú n ica situ a çã o e m q u e os p a is b a tia m n os filh os e ra se a m oça se re cu sa sse a d ize r q u e m a tin h a d e flo-ra d o. Isso p orq u e p re cisa va m cob flo-ra r d o cu lp a d o u m a e sp in g a rd a . A m e u ve r, e u d e ve ria te r d a d o u m a a te n çã o m a ior a e ssa s p re sta çõe s re la cion a d a s com o ca -sa m e n to, q u e tin h a m u m a im p ortâ n cia m u ito g ra n d e , e q u e e xp lica va m m u ita s d a s via g e n s d os Kra h ó à s cid a d e s, on d e e le s ia m b u sca r e sp in g a rd a s, p a n e la s d e fe rro, e n xa d a s, fa cõe s e tc. E q u a n d o ch e g a va m com e sse s b e n s n a a ld e ia , e le s e ra m q u a se q u e im e d ia ta m e n te to-m a d os p e los p a re n te s d a e sp osa .