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E. E DR ALFREDO REIS VIEGAS. 1º bimestre ROTEIRO PARA ATIVIDADES NÃO PRESENCIAIS

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E. E DR ALFREDO REIS VIEGAS

1º bimestre

ROTEIRO PARA ATIVIDADES NÃO PRESENCIAIS

Disciplina Língua Portuguesa Série: 3ºs anos

Professor Eliana Vilalva Semana: 18 a 22/05

Tema da aula Modernismo – Primeira geração:

Autores, obras e poemas.

Equivalente a 6 aulas

Habilidades: Identificar tema em gêneros textuais diversos (poemas); inferir informações implícitas e textos literários; reconhecer aspectos lúdicos, informativos e/ou críticos em textos (poemas e artigos); Reconhecer textos literários e o momento de sua produção, considerando contextos histórico, social e político (Modernismo).

Conteúdo: Modernismo (primeira geração), interpretação de textos, gêneros argumentativos. Atividade a ser realizada para verificação da aprendizagem: Atividades de interpretação de texto e distinção entre gêneros literários registradas no caderno do aluno.

Modernismo II

MODERNISMO BRASILEIRO

Sob o ponto de vista didático, o Modernismo Brasileiro, historicamente falando, costuma ser dividido em duas fases:

• 1920 - 1930 - Período de “destruição”. A primeira geração modernista, preocupada em difundir as novas ideias, não recua diante das polêmicas e critica de forma agressiva a literatura tradicionalista. • 1930 - 1945 - Período de “construção”. A segunda geração modernista consolida, com suas obras, o movimento renovador. Apesar de se beneficiar do clima de aceitação com o seguido pelo esforço combativa dos primeiros modernistas, essa nova geração impôs-se, principalmente, pelo talento e pela visão de mundo madura revelada em suas obras.

Inquietações modernistas antes de 1922

Enquanto nas 2 primeiras décadas do século XX ocorria no Brasil um acentuado desenvolvimento industrial e urbano, com profundas modificações na vida social causadas principalmente pela Primeira Guerra Mundial, o mesmo não acontecia no campo artístico. A nossa literatura permanecia presa aos velhos modelos acadêmicos, com uma linguagem parnasiana, refletindo a postura do século anterior.

Ainda que reconhecesse a necessidade de uma renovação da nossa literatura, nem todos viam com bons olhos as ideias radicais de revolução estética que começavam a circular entre os escritores mais jovens, promotores de encontros e articuladores de movimentos que tinham um objetivo de agitar um pouco nosso ambiente cultural.

Em 1912 o jovem escritor e jornalista Oswaldo de Andrade toma conhecimento, na Europa, das ideias futuristas que mais tarde seriam divulgadas em São Paulo. Nessa época, Manuel Bandeira, um jovem poeta, entra em contato, na Suíça, com a literatura pós-simbolista. Em 1915, outro brasileiro, Ronald de Carvalho, participa da fundação da revista Orpheu, que assinala o início da vanguarda futurista em Portugal. Em 1916, funda-se, no Brasil, a Revista do Brasil, marcada por uma linha nacionalista.

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Pouco a pouco começa a se formar grupos de escritores e artistas que, embora sem consciência clara e definida do que desejavam, sentiam que a nossa arte devia abandonar os velhos modelos tradicionais e buscar novos caminhos. Vendo na Academia Brasileira de Letras uma espécie de representação oficial do tradicionalismo literário estéril e pomposo, os jovens escritores passam a atacá-la, erguendo contra ela a bandeira da renovação e da modernidade.

O “caso Anita Malfatti”: escândalo e incompreensão

Um fato importante, devido à polêmica que despertou, foi a exposição de pintura moderna realizada por Anita Malfatti, em São Paulo, nos meses de dezembro de 1917 e janeiro de 1918. Voltando de uma viagem à Europa e aos Estados Unidos, onde entrara em contato com a arte moderna, Anita Malfatti, incentivada por alguns amigos, resolveu expor suas últimas obras. No acanhado meio artístico paulistano, a exposição provocou críticas e elogios. Entretanto, o que realmente desencadeou a polêmica, não só em torno da pintora, mas principalmente a respeito da validade da nova arte, foi um artigo escrito por Monteiro Lobato, na seção Artes e Artistas, do jornal O Estado de São Paulo, e que ficou conhecido pelo título de “Paranoia ou mistificação?”

Apesar da lucidez com que debatia certos problemas brasileiros, Monteiro Lobato, nessa questão de pintura moderna, mostrou-se totalmente passadista, criticando violentamente a nova arte, chegando a ridicularizá-la. A violência dessa crítica pode ser notada no seguinte trecho:

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotando para a concretização das emoções estéticas os processos clássicos dos grandes mestres. (...) A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, a interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento. Embora eles se deem como novos, precursores do uma arte a vir, nada é mais velha do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a mistificação. De há muito já que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios essa arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura.”

Em outro trecho, falando a respeito da arte moderna em geral: “Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura onde não havia até agora penetrado”.

A repercussão da crítica de Lobato, um nome conhecido, foi instantânea: quadros que haviam sido comprados foram devolvidos; a pintora passou por maus momentos; a arte moderna foi ridicularizada, pois contrariava frontalmente a técnica naturalista que tinha como objetivo a reprodução fotográfica da realidade. Embora houvesse no ar um desejo de renovação, para a mentalidade geral, a proposta de Anita Malfatti era avançada demais. Daí a violência da reação.

O modernismo brasileiro sofria, assim, seu primeiro ataque por parte dos conservadores, deixando perceber que a luta pela atualização de nossa arte seria dura. Mas, se por um lado a crítica de Lobato provocou profundos ressentimentos em Anita Malfatti, por outro, facilitou o seu contato com um grupo de novos artísticas que procuravam ganhar espaço para divulgar suas ideias renovadoras, como Oswaldo de Andrade, Mário de Andrade, Di Cavalcante e outros. Embora não tivessem idênticas concepções a respeito da arte moderna, todos eles possuíam em comum o desejo de libertação dos modelos acadêmicos.

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A importância do “caso Malfatti” é confirmada, anos mais tarde, por Mário de Andrade, um dos principais artífices do nosso Modernismo: “Foi ela, foram os seus quadros que nos deram uma primeira consciência de revolta e de coletividade em luta pela modernização das artes brasileiras. Pelo menos para mim”.

Coube, assim, às artes plásticas dar o primeiro passo relevante na história da modernização da mentalidade artística brasileira, dividindo, já em 1917, o campo de batalha entre os simpatizantes das ideias revolucionárias e os conservadores, que negavam a validade estética dos novos movimentos.

A “descoberta” de Brecheret

Escultor Víctor Brecheret tomou-se a segunda figura de destaque no período inicial do nosso movimento modernista.

Apesar de ter um comportamento arredio, preferindo trabalho o solitário às festivas ações públicas, Brecheret acabou sendo “descoberto” pelos modernistas num modesto ateliê. Logo se tornou o centro das atenções dos jovens artistas, deslumbrados diante de suas obras diferentes, de seu vigor, de suas concepções estéticas. Tomados por essa empolgação, elevam-no à categoria de gênio, como testemunhou Mário de Andrade: “Porque Víctor Brecheret, para nós, era, no mínimo, gênio. Este o mínimo com que podíamos nos contentar, tais os entusiasmos a que ele no sacodia”.

Apesar de todo esse entusiasmo, dividiam se as opiniões em torno da arte de Brecheret, que não chegava a agradar aos mais conservadores, embora até Monteiro Lobato, que anos antes tinha sido tão duro com o modernismo de Anita Malfatti, tivesse aderido ao coro dos admiradores do jovem escultor. Quando Brecheret vence um concurso em Paris, os modernistas exultam, pois para eles era a vitória de suas ideias inovadoras; vencer em Paris era vencer no mundo civilizado, era chamar de retrógrados os que não aceitavam a nova arte. Menotti del Picchia não contém seu entusiasmo e escreve no Correio Paulistano (10/11/1920): “Brecheret é a grande vitória do ‘futurismo’ paulistano. É a consagração do grupo novo. É a morte da velharia, do arcaísmo, dor mau gosto. É o triunfo da Mocidade de Piratininga, quem é a mais bela e mais forte de nossa querida Pátria!”.

Futurismo é o termo que designava o movimento modernista da época. A palavra modernismo ainda

não era corrente, e, embora não concordassem inteiramente com as ideias de Marinetti (o fundador do futurismo italiano no começo do século), os modernistas paulistanos aceitaram esse “rótulo” apenas para marcar sua posição a parte no cenário artístico brasileiro. Assim, ser futurista era contrário à arte acadêmica e passadista; ser futurista era ser adepto de ideias renovadoras e arrojadas; e, para os tradicionalistas, ser futurista era ser extravagante ...

Isso como se vê, foi grande a influência das artes plásticas sobre os jovens escritores da época. o próprio Mário de Andrade confessa que foi sob o impacto da obra de Brecheret que ele lançou a redação de

Paulicéia Desvairada, livro de versos que seria um dos marcos da renovação literária do modernismo.

Aumentam as polêmicas

As novas ideias começaram a circular rapidamente. Na edição de janeiro de 1921 do Correio

Paulistano, é publicado um texto de Menotti del Picchia em que são expostos os princípios do novo grupo

de escritores. Esses princípios foram assim resumidos pelo crítico Mário da Silva Brito:

a) O rompimento com o passado, ou seja, a repulsa às concepções românticas, parnasianas e realistas;

b) A independência mental brasileira, abandonando-se as sugestões europeias, mormente as portuguesas e francesas;

c) Uma nova técnica para a representação da vida já que os processos antigos ou conhecidos não apreendem mais os problemas contemporâneos;

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d) Outra expressão verbal para a criação literária, que não é mais a mera transcrição naturalista, mas recriação artística, transposição para o plano da arte das realidades vitais.

Nesse mesmo ano, Mário de Andrade pública, no Jornal Do Commércio, uma série de sete estudos sobre os mais destacados poetas do parnasianismo: Francisca Júlia, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Vicente de Carvalho. Esses estudos, intitulado “Mestres Do Passado”, constituem uma análise crítica e aguda da famosa geração parnasiana. Mário de Andrade não hesita em demonstrar as fragilidades e os vícios literários desses poetas, concluindo que realmente a hora do Parnasianismo já tinha passado e que os parnasianos não ofereciam mais nenhum interesse, nem poderiam servir de inspiração para os escritores da nova geração.

No fim de 1921 intensificam se os contatos entre os jovens artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro. O consagrado escritor Graça Aranha, que pertencia à Academia Brasileira de Letras, resolve aderir às novas ideias e começa a participar do movimento.

TEXTO PARA ANÁLISE: Esse texto de Mário de Andrade ilustra bem o clima de contestação que marcou o período inicial do movimento modernista brasileiro.

"Ode ao Burguês", de Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!

Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!

Que vivem dentro de muros sem pulos, e gemem sangue de alguns mil-réis fracos

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês

e tocam os "Printemps" com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!

Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais

o êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura!

Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal!

Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi! Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano! "— Ai, filha, que te darei pelos teus anos? — Um colar... — Conto e quinhentos!!! Más nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma! Oh! purée de batatas morais!

Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares!

Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados

Ódio aos sem desfalecimentos nem

arrependimentos,

sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha!

Todos para a Central do meu rancor inebriante! Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giolhos,

cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão!

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1) Quanto à concepção de vida, o que representa o burguês de que fala o poema? Justifique sua resposta com passagens do texto.

2) Do ponto de vista artístico, o que representa o burguês? Explique. 3) Quais sentimentos têm o poeta em relação ao burguês?

4) Compare esse poema como “Cântico negro”, de José Régio, apresentado na aula anterior, estabelecendo os pontos comuns quanto ao conteúdo e a forma de composição.

A escandalosa Semana de Arte Moderna de 1922

A ideia de realizar uma semana de arte partiu do pintor Di Cavalcanti. Inicialmente, o objetivo era Modesto: uma pequena exposição de arte moderna na livraria editora O Livro, em São Paulo. Nessa livraria, os modernistas costumavam reunir-se para palestras, declamações e mostras de trabalho. Por intermédio de Graça Aranha, Di Cavalcante conhece Paulo Prado, um homem culto, muito rico, de formação europeia e bom gosto artístico, que logo se anima com as ideias do pintor. E a intenção de chocar o público conservador já existia, como testemunha Di Cavalcante: “Eu sugeri a Paulo Prado a nossa semana, que seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana”.

A partir dessa conversa, o projeto toma corpo e amplia-se. A adesão de pessoas de destaque da alta sociedade paulistana que resolveram prestigiar o evento aumenta ainda mais o interesse da imprensa em divulgá-lo.

Escolhe-se, então, novo local para a realização da semana: o Majestoso Teatro Municipal de São Paulo, reduto artístico da aristocracia da cidade. Os preparativos se intensificam. Camarote são postos à venda. Chegava finalmente a esperada oportunidade para a manifestação coletiva das ideias e intenções do grupo modernista.

Após grande publicidade na imprensa, começam a se realizar os três espetáculos do Teatro Municipal de São Paulo, programados para os dias 13, 15 e 17 de fevereiro.

No saguão do teatro, é instalada uma exposição de artes plásticas que inclui trabalhos dos artistas Victor Brecheret, Anita Malfatti, Di Cavalcante e Vicente Rego Monteiro, entre outros.

No dia 13, Graça Aranha abre a semana com a palestra “Emoção estética na obra de arte”, em que propõe a renovação das artes e das letras. Há, em seguida, declamações de textos modernos e a apresentação de uma composição musical de Villa-Lobos, além de uma conferência de Ronald Carvalho sobre a pintura e a escultura modernas no Brasil. O programa desta noite encerra-se com a execução de peças musicais.

A noite do dia 15 é a mais agitada. Abre o espetáculo Menotti del Picchia, com a palestra “Arte moderna”, reivindicando a liberdade de renovação e provocando apartes e vaias. Alguns jovens escritores também são apresentados e declamam versos modernos, a que segue ruidosa reação dos espectadores. A pianista Guiomar Novaes encerra a primeira parte, acalmando um pouco ambiente. No intervalo, perante um público espantado pelas obras de arte expostas no saguão, Mário de Andrade faz rápida palestra sobre as artes plásticas. Referindo-se a esse episódio, 20 anos mais tarde, diria ele: “Como pude fazer uma conferência sobre artes plásticas, na escadaria do teatro, cercado de anônimos que me caçoavam e ofendiam a valer?...” A segunda parte, mais tranquila, consta da execução de peças musicais.

Na noite do dia 17 encerra-se semana com a apresentação de músicas do compositor Villa-Lobos.

A importância cultural da semana de 22

Podemos dizer que, apesar das críticas e obstáculos, a Semana De Arte Moderna de 1922 conseguiu o seu objetivo: a divulgação ampla de que existia uma nova geração de artistas lutando pela renovação da arte brasileira, rejeitando o tradicionalismo e as convenções antiquadas e contribuindo para dar um impulso decisivo à atualização da cultura no Brasil.

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Mas a semana de 22 representa apenas um dos momentos da evolução do Modernismo, já que se iniciara antes dela e prosseguiria depois, em várias direções, consolidando-se como a manifestação cultural mais fecunda de nossa história. Em um movimento tão rico, não poderia ter, como realmente não teve, um programa rígido de ideias, uma “cartilha” a ser fielmente seguida pelos seus participantes.

As figuras que se destacaram nos anos polêmicos que antecederam à realização da Semana de 22, como Oswald de Andrade, Menotti del Picchia e Mário de Andrade, divergiam profundamente quanto às características da renovação pretendida, conforme provam suas obras e a evolução posterior de cada um. O mesmo ocorreu em outras artes, como pintura, escultura e música. O que animou os jovens a unir-se em certo momento foi a consciência da necessidade de lutar contra obstáculos comuns: o espírito conservador e passadista, obscurantismo e provincialismo cultural imperantes na época.

O desejo de atualizar nossa arte, de colocá-la em dia com o que se estava fazendo na Europa, sobretudo na França, foi o que congregou os jovens modernista e deu movimento matrizes internacionais, recebendo, por parte dos conservadores, a pecha de “moda” importada. Pela primeira vez em nossa história cultural houve uma sintonia imediata com os centros de vanguarda e isso incomodou os “donos” da arte brasileira.

A influência estrangeira no movimento é visível e não há por que negá-la. Ela se distingue, porém, das outras influências ocorridas no Brasil, principalmente por ter provocado um processo de atualização que despertou o interesse pela pesquisa de uma linguagem artística brasileira adequada aos tempos modernos, tanto na literatura como nas outras artes. O esforço de renovação foi simultâneo à busca de nossas raízes culturais, gerando, anos depois, uma preocupação nacionalista e que se firmou como um dos objetivos da nova geração. Esse nacionalismo chega mesmo a ultrapassar os limites da arte para desdobrar-se na ação política.

O desejo de modernidade eclodiu inicialmente em São Paulo, porque aqui a industrialização avançava a passos largos. Tanto econômica quanto tecnicamente, São Paulo estava mais sintonizada com o resto do mundo que as outras cidades do país - mais receptiva, portanto, ao entusiasmo pela inovação, ao gosto pelo progresso, ao êxtase pela vida vibrante dos grandes aglomerados urbanos, características que marcaram o modernismo em várias partes do mundo e que encontraram na “Paulicéia desvairada” seu reduto mais propício. Oswald de Andrade assim resumiu a questão do início do movimento: “Se procurarmos a explicação do porquê o fenômeno modernista se processou em São Paulo e não em qualquer outra parte do Brasil, veremos que ele foi uma consequência de nossa mentalidade industrial. São Paulo era de há muito batido por todos os ventos da Cultura. Não só a economia cafeeira promovia os recursos, mas a indústria com a sua ansiedade do novo, a sua estimulação do progresso, fazia com que a competição invadisse todos os campos de atividade”.

A Semana De Arte Moderna de 22 foi, portanto, uma tomada de posição coletiva da nova geração contra o culto do passado, os preconceitos artísticos e a submissão às normas impostas pela tradição académica.

Mais que uma proposta teórica, esse movimento foi uma atitude de contestação, uma declaração franca e ruidosa dos direitos do artista brasileiro, uma forma de protesto contra uma retórica parnasiana esterilizante (que, de resto, já estava desacreditada), contra a obsessão pelo purismo linguístico que tinha como padrão as normas de Portugal. Foi uma reação agressiva contra o marasmo sufocante das convenções que imperavam nas diversas artes – pintura, escultura, música, literatura - e que acabou provocando uma reunião inédita entre os artistas, encorajando cada um deles a ousar mais, a pensar de modo independente e criativo, libertar-se, enfim, da camisa-de-força que os preceitos de um tradicionalismo pomposo e estéril impunham à vida cultural brasileira.

TEXTO PARA ANÁLISE

O texto transcrito a seguir tem como assunto a polêmica provocada pelas ideias modernistas. Ele foi escrito por Antônio de Alcântara Machado, um dos autores da época. Leia-o com atenção para responder as questões propostas.

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[Quem mandou não cuidar do que era seu?]

A revolta destes principiantes é justíssima. A literatura brasileira constituía um vasto domínio pertencente à meia dúzia de cavaleiros mais ou menos respeitáveis. Ninguém ousava bulir no patrimônio sagrado. Seus donos contentavam-se em plantar de vez em quando uma Rocinha de milho muito ordinária. E só. O enorme lote de terras riquíssimas continuava abandonado. Sem produzir cousa alguma. Não dava renda. Porém dava importância. Os produtos não apareciam ou eram miseráveis. Mas os cavalheiros passavam por grandes proprietários e era o que convinha.

Portanto a invasão de gente moça armada de talento e coragem, de Colt na cinta e machado na mão, guiando tratores Fordson e destruindo à dinamite veio ofender direitos adquiridos, velhas vantagens sempre respeitadas, provocando o salseiro que sabemos.

Mas quem é que mandou essa gente não cuidar do que era seu? Ficar parado bem no meio da agitação enorme em que vivemos? Sempre fanática do carro de boi? Ignorante e estúpida?

Pois essa gente que vai se queixar agora o bispo mais próximo. Enquanto a rapaziada consulta um agente de automóveis. Também o mais próximo. Que é para não perder.

Antônio de Alcântara Machado. In Antônio Cândido José Aderaldo Castelo, Presença da literatura brasileira, São Paulo, Difel, v. 3. QUESTÕES

1) A que foi comparada a situação da literatura brasileira no começo do século?

2) “Seus donos contentavam-se em plantar de vez em quando uma rocinha de milho muito ordinária” a) Quem eram esses “donos”?

b) O que era “uma rocinha de milho muito ordinária”?

3) Quem crítica faz o autor nessa passagem: “Mas os cavalheiros passavam por grandes proprietários e era o que convinha”?

4) A que movimento literário podem ser relacionados os “donos da terra”? 5) Que valor simbólico tem no texto o Colt, o machado, o trator e a dinamite? 6) Segundo o autor, que objetivos tinham os jovens?

+ ATIVIDADES

1) A seguir temos algumas afirmações. Duas delas estão erradas. Identifique-as.

a) Era ainda grande, no começo do século 20, o prestígio dos poetas parnasianos, que representavam, por assim dizer, a literatura oficial no Brasil.

b) É válido afirmar que a renovação pregada pelos modernistas se esqueceu das autênticas raízes da nossa cultura, pois recomendava imitação das obras da vanguarda artística europeia.

c) A semana de 22 serviu menos para a indicação dos rumos que a nossa arte devia trilhar do que como manifestação de um estado de espírito de insatisfação, que tomava conta das gerações mais jovens diante da situação cultural brasileira

d) A liberdade de criação e o direito à pesquisa estética foram duas das principais reivindicações dos modernistas.

e) A Semana de 22 mostrou a união dos jovens artistas brasileiros contra o tradicionalismo superado, tendo-se concentrado principalmente na pintura de Anita Malfatti.

2) Podemos afirmar que o movimento modernista: a) Tem raízes na prosa agressiva e crítica do realismo.

b) Apresenta alguns pontos em comum com o romantismo, tais como nacionalismo e a valorização estética da língua falada.

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c) Constitui, em seus objetivos gerais, uma reação contra a influência dos movimentos renovadores europeus.

3) (F. C. Chagas-São Paulo) Considerados os acontecimentos da Semana Da Arte Moderna e a atitude de seus principais integrantes, é correto dizer que o primeiro momento do modernismo brasileiro visava:

a) atualizar sua produção literária, fazendo com que reproduzisse a estética e as temáticas euramericanas, em vigência desde o início do século

b) instaurar uma literatura politicamente empenhada e combativa, inspirada no Neorrealismo e no Neonaturalismo.

c) propor um conjunto de normas e de regras literárias, pautadas nos ensinamentos clássicos, que orientassem nossa produção literária.

d) reativar nossa produção literária, que desde os fins do século XIX, com a decadência do simbolismo, escasseava.

e) combater remanescentes literários retrógrados, representados sobretudo pelo parnasianismo, a fim de renovar o curso da literatura que se fazia entre nós.

A PRIMEIRA FASE DO MODERNISMO

Características gerais

Embora seja possível elaborar um quadro das características mais frequentes das obras pertencentes a primeira fase do modernismo (1922 a 1930), é importante ressaltar que não havia um programa comum a ser seguido pelos escritores.

Sobre isso é bem esclarecedor esse trecho de Mário de Andrade escrito em 1942:

“Já um autor escreveu, como conclusão condenatória, que a ‘estética’ do Modernismo ficou indefinível ... Pois essa é a melhor razão de ser do Modernismo! Ele não era uma estética, nem da Europa e nem aqui. Era um estado de espírito revoltado e revolucionário que, se a nós nos atualizou, sistematizando como constância da Inteligência nacional o direito antiacadêmico da pesquisa estética e preparou o estado revolucionários das outras manifestações sociais do país, também fez isso mesmo no resto do mundo, profetizando essas guerras de que uma civilização nova nascerá”.

Esse aspecto, aliás, já tinha sido manifestado na própria Semana de 22, por Menotti del Picchia, que a certa altura de sua palestra afirmou:

“Demais, ao nosso individualismo estético, repugna as jaulas de uma escola. Procuramos, cada um, atuar de acordo com o nosso temperamento, dentro da mais arrojada sinceridade”.

Esse caráter revolucionário dinâmico do modernismo estimulou aparecimento de numerosos grupos de vanguarda por todo o país, como veremos adiante. Descentralizando a literatura, que, de certa forma, se concentrava no Rio de Janeiro, o movimento modernista dinamizou ainda mais a renovação literária e o experimentalismo.

Em linhas gerais, podemos apontar como características básicas da primeira fase do modernismo: • acentuada inspiração nacionalista;

• desenvolvimento da pesquisa formal dando-se grande atenção ao valor estético da linguagem; • maior aproximação entre a língua falada e escrita, valorizando-se, literariamente o nível coloquial; • conquista definitiva dos versos livres

• incorporação, pela literatura, dos aspectos marcantes da vida moderna e do progresso tecnológico; • grande liberdade de criação expressão, em que se manifestam também, humor e irreverência, contribuindo para quebrar a pretensa solenidade que envolvia a nossa literatura (processo de

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E, como não podia deixar de ser, vocês sabem o quanto eu adoro essa contextualização histórica...

Fatos históricos de 1922 a 1930

1922

• Em março é fundado o Partido Comunista do Brasil.

• Em julho ocorre a rebelião dos tenentes do Forte de Copacabana, que enfrentam forças legalistas. • Em setembro é comemorado o Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, com a Exposição

Internacional. Nessa ocasião é feita a primeira transmissão radiofônica do Brasil (22 anos depois dos EUA).

• Em novembro o presidente eleito, Artur Bernardes, toma posse em pleno estado de sítio.

1923

• Rebelião no Rio Grande do Sul contra a candidatura de Borges de Medeiros ao governo do estado.

1924

• As rebeliões militares agitam o governo de Artur Bernardes.

• Organiza-se, no Rio Grande do Sul, a coluna liderada pelo capitão Luiz Carlos Prestes, iniciando sua marcha no Brasil.

1925

• Entrou em vigor a lei que concede 15 dias de férias anuais aos empregados em estabelecimentos comerciais, industriais e bancários.

1926

• Em novembro, toma posse o novo presidente eleito, Washington Luís.

1927

• Continuando sua marcha e enfrentamento às forças legalistas, a Coluna Prestes entra em território boliviano, em fevereiro.

• O partido comunista é considerado ilegal.

• A Constituição do Rio Grande do Norte concede, pela primeira vez no país, o direito de voto às mulheres.

1928

• Getúlio Vargas assumiu o governo do Rio Grande do Sul.

1929

• Quebra da bolsa de valores de Nova Iorque (“o crack de 29”), provocando grave crise financeira Internacional.

1930

• Em março, Júlio Prestes vence as eleições presidenciais. • Em julho, é assassinado o governador da Paraíba, João Pessoa.

• Em outubro explode, no Rio Grande do Sul, a revolução liderada por Getúlio Vargas. O presidente Washington Luís é deposto e Getúlio toma posse como chefe do governo provisório. Um decreto dissolve o Congresso Nacional. Todos os governadores, exceto o de Minas Gerais, são destituídos. É criado o cargo de Interventor Federal nos estados. Tem início a chamada Segunda República. Juarez Távora assume a chefia da delegacia do Governo Provisório para os estados do Norte.

OBS: Bacana vc pesquisar esses itens sublinhados... Só acho.

Entretanto, apesar de tão sinistros acontecimentos, levanta-se a Primeira Geração do Modernismo no Brasil. Será que o cenário político vai “dizer alguma coisa”, ser influenciado ou influenciar alguma coisa? Leia os próximos textos e tire suas próprias conclusões.

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Depois de 1922, vencidos os maiores obstáculos para aceitação das ideias modernistas, surgem vários grupos de escritores, com propostas diferentes quanto a nova literatura. Esses grupos tiveram duração efêmera (=curta), mas são um sinal da inquietação cultural que marcou a época. Veremos, a seguir, os principais grupos e os resumos das suas ideias.

Movimento Pau Brasil

Lançado em 1924, por Oswald Andrade, esse movimento apresenta uma posição primitivista, buscando uma poesia ingênua de descoberta do mundo e do Brasil. Exalta o progresso e a era presente, ao mesmo tempo que combate a linguagem retórica vazia: contra o gabinetismo, a prática culta da vida. (...) A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural é neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. Desse movimento participaram também a pintora Tarsila do Amaral e Paulo Prado.

Movimento Verde-amarelo e Grupo da Anta

Como reação às ideias primitivistas do Movimento Pau-Brasil, surge o nacionalismo do Movimento

Verde-amarelo, liderado por Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia, Plínio Salgado e outros. Recusando toda

e qualquer contágio com ideias europeias, o grupo Verde-amarelo acabou caindo num nacionalismo ufanista, escolhendo como símbolo de suas ideias a anta, animal que tinha uma função mítica na cultura tupi: “Proclamando nós a procedência do índio, como ele o fez dizendo-se filho da Anta, romperemos com todos os compromissos que nos tem prendido indefinidamente aos preconceitos europeus”. Esse movimento converteu-se, em 1926, no chamado Grupo da Anta que que seguiu uma linha de orientação política nitidamente de direita, dá qual sairia, na década de 30, o Integralismo de Plínio Salgado

Movimento Antropofágico

Lançado com a publicação da Revista Antropofagia, preparada por Osvaldo de Andrade, Antônio de Alcântara Machado, Tarsila do Amaral e outros, esse movimento foi um desdobramento do primitivismo Pau Brasil e uma reação ao nacionalismo verde amarelo. “Oswald propugnava uma atitude brasileira de devoração ritual dos valores europeus, a fim de superar a civilização patriarcal e capitalista, com as suas normas rígidas no plano social e os seus recalques impostos no plano psicológico. O órgão do movimento foi a Revista Da Antropofagia (1928 – 1929), que depois de ter sido publicação independente se tornou uma página do Diário de São Paulo, obrigando a colaboração de todas as correntes internas do Modernismo. “

Nas primeiras fases do Modernismo surgiram inúmeras revistas de arte, todas, no entanto, de curta duração. As principais foram:

• klaxon (1922, São Paulo) • Estética (1924, Rio de Janeiro) • A Revista (1925, Minas Gerais)

• Madrugada (1925, Rio Grande do Sul)

• Terra roxa e Outras Terras (1926, São Paulo)

• Festa (1928, Rio de Janeiro)

As ideias modernistas espalham-se pelo Brasil

As ideias Modernistas caminharam de São Paulo e do Rio de Janeiro para o resto do país, gerando polêmicas e contribuindo para a formação de diversos grupos de vanguarda, que emprestariam novos matizes ao processo de renovação estética.

Lembremos, por exemplo, em Belo Horizonte, o grupo formado em torno da publicação de A Revista e que incluía alguns intelectuais que seriam mais tarde figuras importantes do Modernismo: Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura, João Alphonsus e Pedro Nava. No Nordeste o Manifesto Regionalista do Recife, em 1926, daria aos escritores da década de 30 a oportunidade de entrar em contato com as

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inovações estéticas dos Modernistas, o que propiciaria a elaboração de importantes obras de cunho regional, conforme veremos depois.

O IRREVERENTE E CRIATIVO OSWALD DE ANDRADE

José Osvaldo de Souza Andrade nasceu em São Paulo, em 1890, e aí morreu, em 1954. De espírito irrequieto, foi uma das figuras mais dinâmicas do movimento modernista. Nas suas viagens à Europa entrou em contato com ideias vanguardistas que depois divulgou no Brasil. Exerceu inúmeras atividades ligadas à literatura, tendo sido jornalista, poeta, romancista e autor de peças teatrais Suas principais obras em versos são:

• Poesia Pau-Brasil (1925)

• Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald Andrade (1927) • Poesias reunidas (1945)

Na prosa, merecem destaque:

• Memórias sentimentais de João Miramar (1924) • Serafim Ponte Grande (1933)

• Os condenados (1941), título geral dado a Trilogia do exílio, composta de: Os condenados (1922),

Estrela de absinto (1927) A escada (1934) Marco Zero I; a revolução melancólica (1943), Marco Zero II; chão (1945)

Escreveu ainda para o teatro as seguintes peças: • O homem e o cavalo (1934)

• A morta (1937) • O rei da vela (1937)

A poesia de Oswald de Andrade é um exemplo vigoroso da renovação da linguagem literária. Fugindo totalmente dos modelos literários da época, ele criou uma obra poética original, plena de humor e ironia. Repudiando o purismo e o artificialismo, incorporou à poesia a linguagem cotidiana, os neologismos; revoltou-se contra a poesia que se limitava a copiar certas fórmulas e padrões consagrados pelos tradicionalistas, que que ele satirizou numa passagem do Manifesto Pau-Brasil: “Só não se inventou uma máquina de fazer versos - já havia o poeta parnasiano.”

TEXTOS PARA LEITURA

Relógio As coisas são As coisas vêm As coisas vão As coisas vão e vêm As horas Vão e vêm Não em vão Soidão

À memória de meu pai Chove chuva choverando

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Que a cidade de meu bem Está-se toda se lavando Senhor

Que eu não fique nunca Como esse velho inglês Aí do lado

Que dorme numa cadeira À espera de visitas que não vêm Chove chuva choverando

Que o jardim de meu bem Está-se todo se enfeitando A chuva cai

Cai de bruços

A magnólia abre o parachuva Parassol da cidade

De Mário de Andrade A chuva cai

Escorre das goteiras do Domingo Chove chuva choverando

Que a casa de meu bem Está-se toda se molhando Anoitece sobre os jardins Jardim da luz

Jardim da Praça da República Jardins das platibandas Noite

Noite de hotel

Chove chuva choverando.

No campo da prosa, duas obras de Oswald Andrade abriram novas perspectivas para a pesquisa e o desenvolvimento da linguagem literária moderna: Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte

Grande. Rompendo com a tradição literária, essas obras apresentam a justaposição de breves capítulos, nos

quais a prosa e a poesia se fundem para criar um estilo original e vigoroso.

Memórias sentimentais de João Miramar: o estilo telegráfico e a metáfora lancinante

Nesta obra acompanhamos as recordações narradas por João Miramar, de sua educação burguesa, de suas viagens turísticas e de sua falência econômica. Os fatos não seguem uma ordem cronológica rígida e são narrados em pequenos blocos, utilizando-se diversos níveis de linguagem – infantil, poético parodístico. Veja um pequeno fragmento do livro. Leia-o com atenção e responda as questões propostas.

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TEXTO PARA ANÁLISE

Gare do infinito

Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem o carro ficava esperando no Jardim. Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma Figueira na janela.

No desabar do jantar noturna voz toda preta de uma mãe ia me buscar para a reza do anjo que carregou o meu pai.

Oswald Andrade, Memórias sentimentais de João Miramar, Rio de Janeiro, civilização brasileira

QUESTÕES

1) Iniciando suas recordações, o narrador expressa, através da linguagem, o modo infantil de ver a realidade. Destaque passagens do texto que comprovam essa afirmação.

2) Gare é uma palavra francesa que designa o local de embarque desembarque na estação de trem. No texto, que sentido simbólico ela expressa?

3) Que palavras e expressões, no último parágrafo, traduzem a ideia de morte e tristeza? Explique a sua resposta.

MANUEL BANDEIRA: UM POETA MARCADO PELA DOENÇA

“A história da minha adolescência é a história da minha doença. A adoeci aos 18 anos quando estava fazendo o curso de engenheiro-arquiteto da escola Politécnica de São Paulo. A moléstia não me chegou sorrateiramente como costuma fazer, como emagrecimento, febrinha, um pouco de tosse, não: caiu sobre mim de supetão e com toda a violência como uma machadada do Brucutu. Durante meses fiquei entre a vida e a morte. Tive de abandonar para sempre os estudos. Como consegui com os anos levantar-me deste abismo de padecimentos e tristeza é coisa que parece a mim e aos que me conheceram então um verdadeiro milagre. Aos 31 anos, ao editar o meu primeiro livro de versos, A cinza das horas, era praticamente um inválido. Publicando-o, não tinha de todo a intenção de iniciar uma carreira literária - aquilo era antes o meu testamento - o testamento da minha adolescência. Mas os estímulos que recebi fizeram-me persistir nessa atividade poética, o que eu exercia mais como um simples desabafo dos meus desgostos íntimos, da minha forçada ociosidade. Hoje vivo admirado de ver que essa minha obra de poeta menor - de poeta rigorosamente menor - tenha podido suscitar tantas simpatias.

Conto essas coisas porque a minha dura experiência implica uma lição de otimismo e confiança. Ninguém desanime por grande que seja a pedra no caminho. A do meu parecia intransponível. No entanto o saltei-a. Milagre? Pois então isso prova que ainda há milagres.”

Manuel Bandeira, poesia completa e prosa, Rio de Janeiro, Aguilar

Uma vida dedicada à literatura

Manuel Bandeira nasceu em Pernambuco, em 1886, mas cedo mudou-se para o Rio de Janeiro, onde faleceu em 1968. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, professor de literatura do Colégio Pedro II, e de literatura hispano-americana na Faculdade Nacional de Filosofia. Colaborou na imprensa foi tradutor e crítico literário.

Deixou os seguintes livros de poesia:

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• Ritmo dissoluto (1924) • Libertinagem (1930) • Estrela da manhã (1936) • Lira dos 50 anos (1940)

• Mafuá do malungo (1948) • Belo, belo (1948)

• Opus 10 (1952)

• Estrela da tarde (1960) Em prosa escreveu, entre outros:

Crônicas da província do Brasil (1937) • Itinerário de Pasárgada (1954)

• Os reis vagabundos e mais 50 crônicas (1966) • Andorinha, andorinha (1965)

Nada mal para um homem desacreditado, não?

Poeta da vida da infância do tempo e da morte

Surgidos antes da semana de 22, os dois primeiros livros de Manuel Bandeira, A cinza das horas e

Carnaval, embora mantenham um tom lírico e melancólico, que lembra o simbolismo no começo do século,

já mostravam certa liberdade formal.

Em Ritmo dissoluto (1924), cujo título deixa claro seu desejo de libertação, o poeta usou verso livre e desenvolve os temas populares numa linguagem simples e comunicativa. O tom de sua poesia, porém, continua melancólico e seus temas giram em torno do tempo que passa, da morte, das saudades da infância. São desse livro os poemas “Meninos carvoeiros”, “Na rua do sabão”, “Noite morta”.

Manuel Bandeira alcança o ponto alto como modernista no livro Libertinagem (1930), no qual desenvolve plenamente sua linguagem coloquial irônica, atingindo grande dramaticidade em poemas como o famoso “Pneumotórax”, que circunstâncias de sua vida tornaram trágico. A ânsia de libertação e ausência dolorosa de figuras familiares estão presentes em “Vou-me embora para Pasárgada “, “Poema de finados “, “Evocação de Recife”, “Profundamente”.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três.

— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . . — Respire.

...

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. “Assim eu queria o meu último poema

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente quando um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicídios que se matam sem explicação.

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Os livros que publica posteriormente trazem poemas que se tornaram famosos, como “Versos de Natal”, “Belo, belo”, “Consoada”, “Última canção do beco”. Falando sobre a saudade da infância da família, a presença da morte, fugacidade da vida do amor, sua linguagem ganha fluidez cada vez maior.

Dono de um lirismo muito pessoal, Manuel Bandeira conseguiu expressar com grande sensibilidade os momentos e as emoções que marcam a existência humana; por isso sua poesia é universal.

Poema de finados

Amanhã que é dia dos mortos Vai ao cemitério. Vai

E procura entre as sepulturas A sepultura de meu pai. Leva três rosas bem bonitas. Ajoelha e reza uma oração. Não pelo pai, mas pelo filho: O filho tem mais precisão. O que resta de mim na vida É a amargura do que sofri. Pois nada quero, nada espero. E em verdade estou morto ali. TEXTOS PARA ANÁLISE

Poética

Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador Político

Raquítico Sifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos

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O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira, poesia completa é prosa, Rio de Janeiro, Aguilar Vou-me embora para Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive

E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo É outra civilização

Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

“‘Vou-me embora para Pasárgada’ foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus 16 anos e foi um autor grego. (...) Esse nome, que significa “campo das persas”, ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias. Mais de 20 anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não havia feito na minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora para Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema e tentei realizá-lo, mas fracassei. Já nesse tempo eu não forçava a mão. Abandonei a ideia. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de invasão da vida besta. Desta vez o poema saiu sem esforço, como se já estivesse pronto dentro de mim.”

QUESTÕES

1) A criação de um espaço mágico onde a simples vontade e lei corresponde a que desejo do poeta? 2) Que relação pode haver entre esse desejo e a biografia de Manuel Bandeira?

O MÚLTIPLO MÁRIO DE ANDRADE

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Foi um grande pesquisador escreveu sobre folclore, música, pintura, literatura, tornando-se um dos mais dinâmicos batalhadores pela renovação da arte brasileira. Por seu espírito crítico e ativo, exerceu uma influência decisiva no desenvolvimento do Movimento Modernista.

Um dos escritores mais fecundos da nossa literatura, escreveu poesias contos romances ensaios. de sua produção literária destacam-se as seguintes obras:

• Poesia: Há uma gota de sangue em cada poema (1917), Paulicéia Desvairada (1922), Losango cáqui (1926), Clã do Jabuti (1927), Remate dos males (1930), Poesias (1941), Lira paulistana (1947). • Prosa: Primeiro andar (contos, 1926), Amar verbo intransitivo (romance, 1927) Macunaíma, o herói

sem nenhum caráter (rapsódia, 1928), Belas artes (contos, 1934), Contos novos (1947).

• Ensaios: “Prefácio interessantíssimo” (prefácio-ensaio, 1922), A escrava que não é Isaura (1925),

Aspectos da literatura brasileira (1943), O empalhador de passarinho (1944).

Lirismo puro + crítica + palavra = poesia

Mário de Andrade deixou uma extensa obra poética, de nível desigual e de grande variedade temática.

No seu primeiro livro de poesia - Há uma gota de sangue em cada poema - o estilo ainda não é tão original. O tema da obra gira em torno da guerra.

Em Paulicéia Desvairada começa, a bem dizer, a originalidade poética de Mário de Andrade. Sua linguagem é agressiva e seus poemas são verdadeiros ataques à burguesia paulista, às pessoas que vivem em função do dinheiro e da ostentação da riqueza, presas à hipócritas convenções sociais. Veja, por exemplo, esse poema:

Os cortejos

Monotonias das minhas retinas…

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar…

Todos os sempres das minhas visões! “Bon Giorno, caro.” Horríveis as cidades!

Vaidades e mais vaidades…

Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria! Oh! os tumultuários das ausências!

Paulicéia – a grande boca de mil dentes; e os jorros dentre a língua trissulca de pus e de mais pus de distinção… Giram homens fracos, baixos, magros…

Serpentinas de entes frementes a se desenrolar… Estes homens de São Paulo,

todos iguais e desiguais,

quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos, parecem-me uns macacos, uns macacos.

Mário de Andrade, poesias completas, São Paulo, Círculo do Livro. “O modernismo foi um tanque de alarme. Todos acordaram e viram perfeitamente aurora no ar. A aurora continha em si todas as promessas do dia, só que ainda não era o dia. Mas é uma satisfação ver que o dia está cumprindo, com grandeza e maior fecundidade, as promessas da aurora.”

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No ensaio A escrava que não é Isaura, formula sua concepção poética: lirismo puro + crítica + palavra = poesia. Isto é, a intuição pura não basta, é preciso trabalho artístico e a transformações das instituições sem palavras. Essa concepção que insiste na ideia de que a poesia é também uma construção artesanal persistirá em sua obra até o fim.

Desenvolvendo o “direito permanente à pesquisa estética “, de que foi o melhor exemplo, ressurgem em seguida Losango cáqui e Clã do Jabuti. Do primeiro, declara o poeta na “Advertência”: “É um diário de três meses que juntei uns poucos trechos de outras épocas que o completam e esclarecem. Sensações, ideias, alucinações, brincadeiras liricamente anotadas.” Em Clã dos jabutis, há um bom aproveitamento de ideias populares, extraídos, sobretudo, do folclore. Além disso, está presente também a preocupação do poeta com os destinos do homem.

Em Remate dos males, sua expressão poética se torna mais lírica e simples; predominam a preocupação com a vida e o lirismo amoroso dos Poemas da negra, e dos Poemas da amiga.

Seus últimos livros – A costela do grão cão, Livro azul, O carro da miséria e Lira paulistana – contém poemas de valor desigual, mas em que estão presentes as preocupações com problemas sociais ao lado de reflexões amarguradas sobre a vida. Veja, por exemplo, esses versos:

Eu nem sei si vale a pena Cantar São Paulo na lida, Só gente muito iludida

Limpa o gosto e assopra a avena, Esta angústia não serena,

Muita fome pouco pão, Eu só vejo na função Miséria, dolo, ferida, Isso é vida?

São glórias desta cidade Ver a arte contando história, A religião sem memória

De quem foi Cristo em verdade, Os chefes nossa amizade,

Os estudantes sem textos, Jornalismo no cabresto, Tolos cantando vitória, Isso é glória?

... Pois nada vale a verdade, Ela mesma está vendida, A honra é uma suicida, Nuvem a felicidade, E entre rosas a cidade, Muito concha e relambória, Sem paz, sem amor, sem glória, Se diz terra progredida,

Eu pergunto: Isso é vida?

Macunaíma o herói sem nenhum caráter

Chamado de rapsódia por Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, é construído a partir de uma série de lendas a que se misturam superstições provérbios e anedotas. quem tempo e espaço não obedecem a regras de verossimilhança, e o fantástico se confunde com o real durante toda a narrativa. O material de que se serviu autor, isso segundo Cavalcanti Proença, é de origem europeia, ameríndia e negra, pois Macunaíma nasce índio-negro, que fica depois de olhos azuis quando chega ao Planalto, enquanto os irmãos, do mesmo sangue, um fica índio e outra fica negro. E continuam irmãos. Macunaíma, entretanto, não adquire a alma europeia, que é branco só na pele, nos hábitos: a alma é uma mistura de tudo. O próprio nome de Macunaíma foi escolhido porque “não é só do Brasil, é da Venezuela também, e o herói não achando mais a própria consciência, usa de um hispano-americano e se dá bem do mesmo jeito.

Ausência de caráter do herói, sua preguiça, malícia, seu individualismo, tudo isso pode ser visto como resultado confuso da influência de várias culturas mal assimiladas, e nesse sentido Macunaíma passa a construir uma espécie de personificação do Brasil. O “herói” se caracteriza exatamente pelo comportamento ilógico. Aliás nas próprias palavras de Mário de Andrade: “É justo nisso que está lógica de Macunaíma: em não ter lógica”. “É uma contradição de si mesmo. O caráter que demonstra no capítulo, ele desfaz no outro.” Mas não é só no desenvolvimento do tema que essa obra se destaca; partindo de sérios estudos sobre o folclore e sobre nossa literatura oral, Mário de Andrade elaborou uma linguagem riquíssima,

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composta de regionalismo de todas as partes do Brasil, criou palavras, utilizou abundantemente provérbios, modismos e ditados populares.

A importância da obra é inegável e tem servido de referência para muitos outros. Você verá, a seguir, 3 textos que, em algum momento, fazem referência a ela. Sua tarefa será dizer a quais gêneros cada um deles pertence. Procure justificar sua resposta.

TEXTO 1 - Liberdade que queremos

Atualmente muito se fala no quanto as mulheres vem ocupando mais espaços na sociedade, no quanto elas cresceram, evoluíram. Falam o quanto ela é poderosa, capaz de trabalhar fora, cuidar da casa, dos filhos e do marido. Isso mesmo, do marido! Que evolução é essa? O que vejo aqui nada mais é do que uma adição de tarefa. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular, entre as mães do século passado, 75% acreditavam que uma pessoa só pode ser feliz se constituir família, na nova geração, esse percentual caiu para 66%. O decréscimo de 9 % é muito pouco, se considerarmos um século de mudanças. Hoje a mulher continua com as responsabilidades domésticas, e foram acrescentadas mais as financeiras. Enquanto o homem só se favoreceu com isso, pois, não foi transferido a ele nenhuma responsabilidade a mais, e de quebra, ainda foram presenteados com o auxílio feminino.

Esse pensamento machista, muitas vezes, vem da criação, onde os meninos são preparados apenas para o trabalho exterior, para ser chefe de família, e jamais são orientados quanto aos serviços domésticos. Geralmente, em um lar em que há casais de filhos, apenas a menina será encaminhada para essas tarefas, além da responsabilidade de estudar e escolher uma profissão.

O fato da mulher hoje estudar mais, conquistar espaço no mercado de trabalho é uma grande conquista, é uma superação, uma evolução, é uma grande mudança cultural, porém não se vê uma mudança proporcional na trajetória dos homens, o que acaba sobrecarregando a mulher.

Em Macunaíma, escrito por Mário de Andrade, a mulher apanha por não ter cumprido suas atividades domésticas. Quando o esposo Jiguê chega da pesca, e percebe que a companheira Sofará não havia trabalhado nada, a agride muito, e ela aguenta sem falar nada. É isso que ainda vejo atualmente, essa violência, esse excesso de responsabilidades, onde a mulher tem que fazer, tem que ser, tem que estar, “sem falar um isto,” igualmente a Sofará. E ainda há comemoração, por conquista de espaço. Vejo mais motivos para os homens comemorarem, do que para as mulheres. Isso está bem longe do que pode ser chamado de igualdade.

Acredito que não deveríamos querer conquistar um espaço a mais, deveríamos dividi-lo. Se hoje a mulher tem responsabilidades que antes eram masculinas, por que os homens não adquiriram responsabilidades que eram femininas?

TEXTO 2 - Macunaíma, o herói sem caráter

Repórteres de vários jornais, revistas e emissoras de televisão relataram, com espanto, a resposta de um secretário municipal de Murici (AL), terra do presidente do Senado, que declarou, quase textualmente: "Aqui vocês não vão achar ninguém que fale mal dos Calheiros, muito menos do Renan". Na verdade, os repórteres queriam saber como é que, de repente, o presidente do Senado, um político profissional, tinha se transformado em um "rei do gado". Pecuaristas de outras regiões mais apropriadas à pecuária afirmaram que a rentabilidade do gado de Calheiros não era encontrada nos melhores e maiores criadores de gado de corte do País.

Deparei-me ontem, no jornal O Globo, com a magnífica coluna de Míriam Leitão onde ela mostrava, embasada em dados da realidade, a permissividade que tomava conta do cidadão comum.

Tenho uma experiência pessoal de uma época em que meu irmão trabalhava no Pará, cujo donatário era Jader Barbalho. Escandalizado com a ostentação de riqueza do então governador, percebeu, com

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espanto, que não havia crítica local, a não ser de seus adversários políticos. O enriquecimento de Jader não era camuflado, mas os cidadãos comuns pareciam aprovar. Ele recebeu de um paraense a explicação de que Barbalho, realmente, era ladrão, mas que roubava no Sul e aplicava na sua terra, criando emprego e riqueza. Tenho a impressão de que a mesma atitude justifica os Calheiros. Eles, presumivelmente, roubam, mas investem em fazendas no local, valorizando a terra, criando um parque ecológico, empregos etc.

Quanto ao affair Mônica Velloso, acham que Calheiros foi e está sendo generoso. Dar R$12 mil de pensão, refletem os de lá, é uma prova de generosidade ímpar. Se o dinheiro vem de empreiteira, melhor ainda. Tudo se passa ali como se Renan Calheiros fosse o Macunaíma de Mário de Andrade: o herói sem caráter que, quando partiu para Brasília, deixou pendurada em uma árvore local sua consciência.

TEXTO 3 – “Não há dúvida de que ‘Macunaíma’ é importante para entender o Brasil atual”

Da união de diversos mitos, folclores, músicas populares e lendas de todo Brasil nasceu Macunaíma (1928) do fundo do mato-virgem. Sua potência criativa, de explicar o brasileiro a partir dessa colagem cultural, no entanto, é frequentemente minada pela dificuldade do leitor penetrar na obra por sua complexidade lexical e morfológica.

Facilitar a aproximação com o livro, um dos mais importantes representantes do modernismo brasileiro, é o objetivo da nova edição de Macunaíma, que sai pela editora FTD. O livro traz notas e posfácio da professora doutora e escritora Noemi Jaffe, além de ilustrações de Mariana Zanetti.

São 520 notas de Jaffe que cobrem praticamente todos os aspectos do romance: as expressões indígenas e arcaicas, as referências folclóricas regionalistas, os erros propositais e até as repetições que podem ter algum significado para a interpretação final da obra.

“É uma edição que estimula o ensino e a leitura de Macunaíma não de forma mais fácil, mas com mais instrumentos de análise e interpretação”, explica Jaffe. Para a escritora, as notas podem contribuir para uma leitura mais profunda e complexa da obra, que muitas vezes é reduzida a nomes, datas e escolas literárias principalmente quando estudada no Ensino Médio.

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