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Cruz Serra. marginais"

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Academic year: 2021

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(1)

Cruz

Serra

"As

Finanças

tratam

as

universidades

como

marginais"

ENTREVISTAPÁGS.4ES

(2)

rUSCIO

Oreitor da Universidade deLisboa

faz

o balanço de um ano àfrente da instituição que resultou da fusão das universidades Técnica eda Clássica. A

falta

deautonomia eadificuldade em agilizar a administração, devido à burocracia do Estado, são críticas fortes. Para ultrapassar a perda de 50% dofinanciamento a aposta énos estudantes estrangeiros

"As

Finanças

tratam

as

universidades

como

marginais"

fJOÃO

CÉUESILVA

Jornalista

É possível umagestão correta da universi-dade com esteministro daEducação? Agestão correta da universidade émuito

difícil com este ministro daEducação, mas foi com osanteriores eserá com osfuturos.

Em primeiro lugar, porque precisamos de muito mais agilidade administrativa do que a que temos. Ouseja, precisamos queseja alterada alei-quadro que garante oregime jurídico das instituições do superior. Éuma

urgência queexiste equepermitiria usar os fraquíssimos recursos que oPaís põe ao nosso dispor para ter melhores resultados.

Jáquestionou opoder sobre o atraso legal? Lamentavelmente, já tive duas promessas do primeiro -ministro para alterar oregime jurídico, juntamente com adoministro da tutela, mas claro quenãoforam cumpridas

-

foi durante operíodo de fusão das duas instituições queoriginou aUniversidade de Lisboa. Naaltura, dada a situação do País, não houve apoio financeiro para afusão

nem foram satisfeitas ascondições para

usar deforma eficiente averba que está dis-ponível.

Éumadecisão assim tão difícil?

Sehouvesse a alteração deum conjunto de regras, a gestão dauniversidade não seria

um inferno em muitas situações. Esse é o

maior problema, apar do baixo financia-mento público dauniversidade. Perdemos

cerca de 50% dofinanciamento nosúltimos oito anos eadotação do Orçamento do Estado émetade daanterior. Euma desci-da muitíssimo importante, que tem conse-quências no futuro da universidade. Considera que não ésóculpa deste

Governo. É impossível compatibilizar o en-sino superior com a governação?

Temos um grande problema que é opeso excessivo do Ministério das Finanças no Governo. Nunca ouvi um discurso, mesmo em privado, antagónico ao que são as rei-vindicações da agilidade edaautonomia. Também nunca satisfez essa necessidade? Houve momentos em que cresceu a nossa autonomia, desde logo quando o regime

ju-rídico das instituições de ensino superior foi publicado pela primeira vez. Masoque assisto éa sucessivos momentos deperda deautonomia enunca auniversidade teve

Fui

criado

num ambiente

em que os políticos

não

metem professores

na

universidade, ou

haveria

uma

degradação

(3)

tão pouca como aque tem hoje. As

medi-das tomadas desde oinício dacrise, desde que esteve cá atroika e as Finanças

au-mentaram deimportância no controlo que

têm de todos os setores do Estado, fize-ram-nos perder autonomia. As Finanças não têm capacidade de responder às soli-citações eisso traduz-se numbloqueio cons-tante ao nosso funcionamento.

Podedarumexemplo?

Hásituações ridículas, nomeadamente a obrigação deperguntar aoantigo Instituto Nacional deAdministração (INA), de cada vezque precisamos de contratar um pro-fessor, setêm algum em mobilidade ou em formação que

disponibili-zem.Éridículo enunca vai acontecer na Universidade deLisboa! Não vamos re-crutar nenhum professor catedrático que seja des-carregado apartir do

INA

sem concurso público in-ternacional emque possa-mos fazer aavaliação do seu desempenho científi-co epedagógico.

Podem tomar essa atitude de rebeldia?

Nãopodemos. Mas simplesmente não con-trataremos. OGoverno terá dealterar esta situação, pois não há maneira degeriruma

instituição assim. Ainda não seatreveram afazê-lo apesar deasregras oimporem, só

que no primeiro momento emque oINAo

disser teremos umbloqueio, enem se hou-ver 500alunos à espera de professor issovai acontecer de certeza

-

sóatravés de con-curso público internacional. Éque fui cria-do num ambiente em que ospolíticos não

metem nenhum professor na universida-de sob qualquer circunstância ou rapida-mente haveria uma degradação da quali-dade do queauniversidade faz.

É verdade queessa"conversa" com o Estado custa 4%doorçamento àuniversidade? Sim, éoque estimo que custa aburocracia a que somos sujeitos para responder à má-quina administrativa.

A relação com a atual ministra das Finanças

émais fácil do que com oanterior ministro? Nunca falei com aatual ministra.

Masfalou com Vítor Gaspar?

Sim, mas nunca teve resultados práticos do ponto devista da alteração do regime

jurí-dico das instituições de ensino superior. Quando mudou aequipa dasFinanças

re-começou todo o processo sobre a propos-tade alteração do regime jurídico. Queéum

assunto maduro epode ser fechado, com vontade política, apenas numa semana.

Pode dizer-se que este Governo não está

in-teressado nacontribuição do ensino supe-rior para asnecessidades doPaís?

Acho que não devemos fazer afirmações dessa maneira relativamente aeste Governo, a este ministro eaos anteriores. Temos um

problema dementalidade namáquina das Finanças relativamente ao ensino superior eàciência. Éum problema de

mentalida-deedegrande hostilidade relativamente à nossa autonomia eatéparece que nos en-caram como uns

margi-nais que estão aderreter osimpostos que cobram. Daíoscortes nas verbas?

Esquecem-se de que as universidades vivem com mais de 50% de receita

própria

conseguida de

forma competitiva. Há

umagrande incompreen-são sobre o nosso

funcio-namento e élamentável que oGoverno não trate

deforma diferente quem oé,porque nunca contribuímos para o au-mento da dívida pública porvia de execu-ções orçamentais descontroladas.

Lamentavelmente, não vejo medidas que façam estabilizar ascontas públicas e

ter-minar com a questão do défice.

A relação com asempresas tem melhorado nestes últimos tempos de crise?

Arelação das universidades com as

em-presas mudou radicalmente nos últimos 20 anos. Ageração dedirigentes das universi-dades équase exclusivamente constituída por gente que fezmuito trabalho de inves-tigação, andou por fora do País,tem empe-nho na transferência detecnologia e de co-nhecimento, teve relacionamento com as empresas etambém tem consciência de quehaveria menos umterço dos alunos nas universidades senão fôssemos capazes de captar receitas próprias. Oque aconteceu foi que com a crise asempresas passaram ater orçamentos mais curtos eboas des-culpas para dizer não, resultando em algu-ma diminuição dareceita relacionada com assuas encomendas.

E osestudantes estão mais sensibilizados paraopapel social a ternasociedade? Os nossos alunos estão seguramente preo-cupados com o seu futuro ecom o do País,

enão acompanho afirmações deque antes sabiam mais.

Não é mais necessário forçar osinteresses profissionais dosalunos para arealidade?

Éumainevitabilidade. Conheço muita gente daminha geração que gostava deter feito Filosofia eacabou em Direito porque achou

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mais eficaz do ponto devista da emprega-bilidade. Avida éassim, mesmo que nestes momentos de crise senote mais.

Notaqueosestudantes têmdeconciliar o futuro emprego com o curso universitário? Claro, mas não éverdade que haja um de-semprego extraordinário entre os licencia-dos eem todas as áreas. As famílias com-preendem arecompensa que existe com

uma formação superior e,como existem

áreas emquetemos défices crónicos de for-mação, énatural queosestudantes tenham alguma inclinação para essas

-

mesmo sem

terem uma vocação tão forte

-,

com

em-pregabilidade mais fácil.

Ainda não chegámos aoponto de estar a

for-marparaexportar?

Não, não estamos. As nossas escolas mais bem-sucedidas, por exemplo aEngenharia, sempre tiveram uma saída significativa de licenciados paraoexterior. Nos licenciados dos últimos cinco anosemEngenharia, 17% estavam no estrangeiro. Muitos deles vol-tam, outros não; alguns voltam como CEO de grandes multinacionais

-

éo caso do di-retor da Microsoft Portugal. Isso é

impor-tante paraque a nossa gente esteja com fun-ções demuita responsabilidade nas

multi-nacionais por esse mundo fora, situação que potência osnegócios com o País.Claro que desde que começou a crise tudo mudou

e onúmero de engenheiros quesaíam após a conclusão dalicenciatura émaior epara

países que não eram destinos frequentes.

gente desiludida com o discurso derro-tista, afinal temos de dar esperança enão pessimismo. De qualquer modo, não acho que estejamos aformar para exportar. Como estáaaposta naatração de estudan-tes estrangeiros?

Temos um número muito significativo de estudantes estrangeiros ede Erasmus: 5000.

Como oGoverno publicou uma lei do es-tudante internacional quepermite cobrar propinas apreço real aestudantes fora da

'Avaliação

de

unidades

de

investigação

destrói

parte

do sistema

científico"

Qual éasua posição relativamente à avaliação das unidades de investigação que estáemcurso?

Euviuma entrevista dopresidente da Fundação de Ciência eTecnologia emque dizia que havia uma maioria silenciosa que apoiava o processo de avaliação das unidades. Euainda não falei sobre o as-sunto, portanto farei parte damaioria si-lenciosa. Noentanto, tenho uma opinião muito crítica relativamente atudo aqui-lo que sepassou noprocesso de avalia-ção dasunidades de investigação. Porquê essa sua contestação?

Háresultados incompreensíveis relati-vamente àavaliação das unidades com equipas técnicas. Emalguns painéis éde qualidade muito baixa para oqueé exi-gido naavaliação dasunidades enão con-sigo compreender que setenha assina-doum contrato de avaliação das unida-des que estabelecia, àpartida, quesó

pas-savam àsegunda fase de avaliação me-tade das unidades de investigação exis-tentes.

Qual será o resultado?

Vai traduzir- senadestruição departe do sistema científico, pois não podemos in-troduzir descontinuidades no funciona-mento dosistema. Isto émais oumenos omesmo do que seter feito uma avalia-ção das universidades eter-se decidido que metade das universidades não iam ser financiadas.

Éumaavaliação enviesada desde o iní-cio...

Éumaavaliação que, desde o início, tem

um erro político na decisão de como é queo processo vai andar.

Lamentavelmente, foi-nos dito repeti-damente que não havia esse constrangi-mento, sóqueadisponibilização públi-ca do contrato que foi assinado com a European Science Foundation parafazer a avaliação das universidades tinhalá es-crito que só iriam ser avaliadas na se-gunda fase 162 das 322unidades de in-vestigação. Seisto não quer dizer que só

metade das unidades passavam à se-gunda fase, não compreendo quem iria fazer a avaliação das outras unidades. Podedizer-se que haviamá-fé?

Nãoestamos afalar demá-fé, estamos a falar daminha discordância profunda

sobre a decisão política de avançar por

um caminho destes. Foiumadecisão ministerial?

Éuma decisão política de alguém eébom quesesaiba aquem pertence. Quem

as-sinou o contrato foi opresidente da Fundação para aCiência eTecnologia,

por isso imagino queisto não édecidido por elesozinho.

(5)

comunidade europeia, essareceita irá exi-gir um esforço para captar um número si-gnificativo nos países delíngua portugue-saena China, por exemplo.

Os estrangeiros pagarão ovalor real da edu-cação, ou seja, mais do que osnacionais? Claro. Ovalor dapropina em Portugal está preso por razões constitucionais inalterá-veis aumvalor próximo dos mil euros/ano. O custo da formação na Universidade de Lisboa variará entre 4000e 12mil euros. Por isso, aspropinas para os estudantes inter-nacionais serão, em média, de7000euros. Estamos convencidos de que éum valor competitivo doponto devista do mercado eque recompensa o custo da formação. Seráumfinanciamento alternativo?

Sim, que tem duas vantagens: permite ter

umfinanciamento maior poraluno e torna--nos umauniversidade virada para omundo. Alongo prazo, acabaremos por teralunos deprimeira ede segunda, os quepagam mais terão maisbenefícios?

Não, oque éoferecido auns será também

oferecido aos outros.

Aofim deum primeiro ano como reitor da Universidade de Lisboa, qual éo balanço que faz desta fusão?

Emuito positivo: praticamente não houve problemas operacionais durante o proces-so,nem umúnico problema político ou des-pedimento. Afusão permitiu racionalizar recursos, trabalhar deforma mais eficien-teefazer face à sangria dequadros devido às reformas. A universidade está a cons-truir-se, mesmo que osgrandes resultados, como osda investigação, não sevejam agora. Anível de reitores, existe uma comunidade a trabalhar numsentido ou estão divididos? Osreitores têmdemonstrado grande

preo-cupação com osprincipais problemas que

afetam osistema científico eestão todos muito preocupados com oresultado da

ava-liação das unidades deinvestigação (lera

coluna àesquerda) .

Nos próximos tempos a autonomia univer-sitária vai deixar de estaremperigo?

Está sempre em perigo etemos deter uma luta permanente para amanter eaumentar. Decadavez que muda oGoverno, o minis-tro, o secretário de Estado ouopresidente da FCT,temos sempre de explicar tudo por-que onosso pessoal político não tem pre-paração eháatentação detratar as

institui-ções públicas sem perceber as peculiarida-des do ensino superior edaciência. O braço deferro entre asuniversidades e o Orçamento do Estado vaicontinuar? Emrelação aoOrçamento do Estado é claro que precisamos de aumentar adotação.

Nem compreendo que não seja uma reali-dade consensual entre os partidos

políti-cos, no seio do Governo, nos agentes do setor ena tutela. A descida da dotação do Orçamento do Estado

-

50% desde 2006

-ultrapassou tudo oque eraimaginável. 2015 é ano de eleições. A realidade vai me-lhorar no ensino superior público?

Melhora sempre em ano deeleições. Depois hámomentos de grande preocu-pação e,portanto, diria que estou para ver o que vai acontecer quer à dotação do Orçamento do Estado quer àalteração do regime jurídico das universidades

portu-guesas. A tentação édizer que sim, que ha-verá melhoria, mas no âmbito de um pro-cesso destes uma medida populista pode ser prejudicial para ofuncionamento das universidades epode terumimpacto con-trário àquele que estamos aantecipar.

(6)

PERFIL

>Nasceu em Coimbra em 1956

>Licenciado em Engenharia Eletrotécnica

naFaculdade de Engenharia da

Universidade do Porto. Concluiu

omestrado em Eng. Eletrotécnica ede

Computadores no Instituto Superior Técnico (IST), onde se doutorou

em Eng. Eletrotécnica edeComputadores

>Foi presidente doInstituto Superior

Técnico (2009

-

2012), reitor da

Universidade Técnica deLisboa (2012-2013),

sendo atuaLmente oreitor da Universidade de Lisboa

presidente doconselho de

administra-ção (não executivo) da Taguspark; membro

doConselho Científico do programa de

dou-toramento em Eng. Eletrotécnica da Univ.

Frederico IIde Nápoles; membro do

Scientific Advisory Board do Departamento

deEletrotecnia da Vrije Universiteit BrusseL.

>Autor demais de200publicações

Referências

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