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Processo 1881/05.7TBVIS.C1 Data do documento 27 de fevereiro de 2007 Relator Ferreira De Barros

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE COIMBRA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Acção de apreciação negativa > Servidão de passagem > Usucapião > Facto constitutivo > Provas > Litigância de má fé

SUMÁRIO

1. Nas acções negatórias de servidão predial recai sobre o réu o ónus de prova dos factos constitutivos da existência de servidão que se arroga.

2. Não sendo cumprido tal ónus a acção procede, caso contrário improcede a acção.

3. Não carece o réu de deduzir pedido reconvencional visando a condenação do autor a reconhecer o direito de servidão que se arroga.

4. Na improcedência da acção de simples apreciação negativa vai implícito o reconhecimento da existência do direito que o réu se arroga que fica definitivamente estabelecida entre as partes.

TEXTO INTEGRAL

ACORDAM NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE COIMBRA:

I)- RELAtÓRIO

A... e marido B..., intentaram, no Tribunal Judicial de Viseu, acção de apreciação negativa, sob a forma de processo sumário, contra C... e marido D..., E... e mulher F..., pedindo a condenação dos RR. a

- “respeitar o pleno e ilimitado direito de propriedade dos Autores, sobre todo o prédio” identificado no artigo 1° da petição inicial;

- “reconhecer que, sobre o prédio dos Autores, não existe qualquer direito de passagem, ou de servidão, nem pé, nem de carro, nem de tractor, a favor do prédio dos Réus”;

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- e, finalmente, pagar aos Autores, a quantia de 148,80 € por danos causados.

Para tanto, alegaram os AA., em síntese, o seguinte:

-São proprietários de um prédio composto com palheiro e eira, sita à Ribada, limite de Bodiosa-a-Velha, inscrito na respectiva matriz rústica sob o artigo 264 e que o seu direito de propriedade é pleno e ilimitado, inexistindo qualquer servidão de passagem a favor de um prédio dos Réus, identificado como uma terra de pousio com palheiro e eira sito também na Ribada, limite dito de Bodiosa a Velha, inscrito na matriz Rústica, sob o artigo 265.

-Que só por mera tolerância, antigamente, os anteriores donos e possuidores do prédio dos RR. passavam pelo prédio dos AA., e há mais de 15 ou 20 anos que os RR. por lá não passam;

-Só há cerca de dois anos é que os RR. têm vindo a passar pelo seu prédio, o que não têm direito de fazer; -Para evitar tal passagem, os AA. construíram um muro no lado nascente, mas os RR. derrubaram-no, assim, causando um prejuízo de 148,80€.

Contestaram os RR. impugnando a versão dos Autores e, ao contrário destes, alegando que existe, há mais de 20, 30 ou 40 anos servidão de passagem de pé e carro a favor do prédio de que são proprietários, facto que os Autores não ignoram como, aliás alegaram na acção 4157/03.0 TBVIS do 4.º Juízo Cível, onde pediram a sua extinção de tal servidão por desnecessidade. Concluíram pela improcedência da acção e a condenação dos Autores como litigantes de má-fé em multa e indemnização não inferior a 1.342,50€.

À contestação responderam os Autores dizendo que sempre litigaram de boa-fé e que o seu comportamento processual nos presentes autos é coerente com a sua versão dos factos e com o alegado na acção 4157/03.0 TBVIS, ao invés do que fazem, no seu entender, os RR. que devem ser condenados como litigantes de má fé, em multa e indemnização no montante de 2.500,00 €, sem prejuízo do que se apurar em execução de sentença.

Prosseguiram os autos os seus regulares termos, e no decurso da acção faleceu o Réu E..., tendo sido habilitados os herdeiros. Por fim, foi proferida sentença a julgar a acção improcedente e não provada e a condenar os AA. como litigantes de má fé na multa de 10 Ucs e em indemnização a favor dos RR., no montante de € 1.342,50.

Inconformados, apelaram os AA. pugnando pela revogação da sentença, e extraindo da sua alegação as seguintes conclusões:

1ª- A decisão recorrida é de conteúdo nulo; não resolve o presente litígio, por abstenção de julgamento, nos termos do art. 8º, n.º1 do CC, sendo, pois, juridicamente inexistente;

2ª-Os recorridos não provaram a existência dos factos constitutivos do direito de que se arrogavam, como se lhes impunha, nos termos do art. 343º, n.º1 do CC;

3ª-A usucapião, como prescrição aquisitiva, não opera automaticamente, nos termos dos arts. 1287º, 1288º e 303º, todos do CC;

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4ª-Assim, teria de ser feito o pedido ao Tribunal, para declaração de inexistência de tal servidão, em reconvenção, funcionando esta como acção constitutiva, nos termos do art. 4º, n.º1, alínea c) do CPC; 5ª-A decisão recorrida é nula nos termos do art. 668º, n.º1, alínea c) do CPC, porquanto os fundamentos estão em oposição com a decisão, ou, pelo menos, há erro de julgamento;

6ª-A condenação dos Recorrentes em multa e indemnização, como litigantes de má fé, não tem qualquer suporte fáctico, ou jurídico, nos termos do art. 456º do CPC;

7ª- Foram violados os arts. 8º, n.º1, 343º, n.º1, 1287º, 1288º e 303º, todos do CC; e arts. 4º, n.º1, alínea c) e 456º do CPC.

Os RR. contra-alegaram em defesa do julgado.

Colhidos os vistos, cumpre apreciar e decidir.

II)- OS FACTOS

Na sentença da 1ª instância foi dada por assente a seguinte factualidade:

A) -Na 2.ª Conservatória do Registo Predial de Viseu encontra-se registado e descrito sob o n.º. 00033, a favor da Autora, pela inscrição G-3, um prédio composto de terra de pousio, com palheiro e eira, sita à Ribada, Bodiosa a Velha, freguesia de Bodiosa, que confronta do norte e nascente com o caminho público, do sul com herdeiros de Vasco Magalhães Soeiro, e do poente com Mariana Gonçalves Pereira e irmão. B) -Está inscrito na respectiva matriz rústica sob o artigo 264.

C) -Por escritura de doação, lavrada em Bodiosa – a – Velha, no dia 4 de Junho de 1987, Cassiana Alexandre De Pinho, viúva, declarou que fazia doação pura e simples do prédio referido em A) à Autora, sua neta, e por força da sua quota disponível.

D) -Os Autores, por si e seus antecessores, estão na posse de tal prédio.

E) -O que fazem há mais de 20 anos, na convicção de que tal prédio é, única e de forma exclusiva seu, continuada e de forma ininterrupta, dia após dia, ano após ano, pacificamente, à vista de toda a gente, e com acatamento geral, sem oposição de quaisquer, e com exclusão de quaisquer outrem.

F) -Tal posse tem-se consubstanciado na utilização do palheiro, para recolha de palhas e fenos, em estender espigas fenos e palhas na eira, no corte o estrume e no pousio e isto, há mais de 20 anos.

G) -Os Réus dizem-se donos de uma terra de pousio, com palheiro e eira, também sito à Ribada, com a área de 297 m 2, a confrontar do norte com o caminho público, do nascente com o prédio dos ora Autores, do sul com Vasco José Magalhães Soeiro e do poente com a Estrada Nacional.

H) -Este prédio está inscrito na matriz rústica, sob o artigo 265.

I) -O acesso de pé e carro para o prédio dos Réus sempre foi feito através e pelo prédio dos Autores. J) -O qual se projecta no sentido nascente/poente.

K) -Com início no caminho público, a nascente (estrada romana).

L) -Com início no caminho público a nascente e no sentido nascente poente, existe uma faixa de terreno, com cerca de dois metros de largura, por onde se passa a pé e com carros de bois ou tractor e até à porta

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do palheiro, existente do lado direito (Norte), de quem entra. A partir desse ponto, circula-se também a pé, de carro de bois ou de tractor, livremente e sem traçado definido no solo, ora seguindo em frente (para poente) para a eira existente no local, ora flectindo à esquerda (para Sul), para o palheiro referido em G) da matéria assente.

M) -Desde há mais de 20, 30, 40 anos, que os Réus e ante possuidores do seu prédio fazem a utilização da faixa de terreno referida em L) e circulam a pé, de carro de bois e de tractor, nos termos também descritos em L).

N) -De forma contínua.

O) -À vista de toda a gente e sem oposição de quem quer que fosse.

P) Na convicção de exercerem um direito próprio de servidão de passagem sobre o prédio dos Autores, e em proveito do prédio deles.

Q) -E sem ofensa de quaisquer direitos de terceiros.

R) - Os Autores, em Outubro do ano findo de 2004, vedaram o seu prédio, do lado nascente, com um muro de blocos de cimento, areia e ferro?

S) -Com o que despenderam, em material e mão-de-obra, a quantia de 148,80€.

T) -Em 11 de Novembro de 2003, os Autores instauraram neste Tribunal contra os Réus uma acção judicial de ‘’condenação (extinção de servidão), com processo sumário”, a qual correu termos pelo 4° Juízo Cível, sob o n.º 4157/03.0 TBVIS

U) -Em tal acção os Autores alegaram nos art. 1.º a 6° exactamente os mesmos factos que na presente acção constam, também, dos art. 1.º a 6.º, com excepção, no artigo 4.º da contestação destes autos, dos dizeres “e 30 anos”, que constam da contestação dos autos 4157/03.0 TBVIS.

V) -No art. 7.º da Petição Inicial apresentada nos autos. N.º 4157/03.0 TBVIS, os Autores descrevem o mesmo prédio identificado em 7.º da petição inicial destes autos.

W) -No art. 9.º da Petição Inicial apresentada nos autos. N.º 4157/03.0 TBVIS os Autores alegam “os Réus, tanto para entrarem, para o seu palheiro, como para entrarem, para seu terreno, têm passado, pelo prédio dos Autores, no sentido nascente – poente”.

X) - Nos autos. N.º 4157/03.0 TBVIS os Autores pediram: que fosse “declarada extinta, por desnecessidade, a servidão, pelo prédio dos Autores, tanto para o palheiro, como para o terreno, do prédio dos Réus”; que “os Réus fossem condenados ser condenados a reconhecer que o prédio dos Autores referido e identificado, no artigo 1° desta petição inicial, não é mais, doravante, prédio serviente do prédio dos Réus, referido e identificado no artigo 7.º desta mesma petição, devendo, por tal, ser considerado um prédio livre de tal ónus, isto é, um direito de propriedade pleno e ilimitado, obviamente, dentro dos limites da Lei, dos Autores, sobre tal prédio”.

Y) -Nos autos. N.º 4157/03.0 TBVIS os Autores a desistiram da instância.

III)- O DIREITO

Delimitado que é, em princípio, o objecto do recurso pelas conclusões da alegação (arts. 690º, n.º1 e 684º, n.º3, ambos do CPC), colocam os AA. a julgamento deste Tribunal as seguintes questões:

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2ª-Definir se os RR. provaram os factos constitutivos do direito que se arrogaram;

3ª- Esclarecer se os RR., para além da prova dos factos constitutivos do direito que se arrogaram, estavam obrigados a deduzir pedido reconvencional visando a condenação dos AA. a reconhecer tal direito;

4ª- Saber se é justificada a condenação dos AA. como litigantes de má fé.

III-1)- Vejamos a 1ª questão.

a)-Alegam os Recorrentes que a sentença é inexistente porque não resolve o litígio, por abstenção de julgamento, chamando à colação o disposto no art. 8º do CC. Ao argumentar deste jeito, e salvo o devido respeito, laboram os Recorrentes numa enorme confusão, prescrevendo o n.º1 daquele normativo que “o tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos factos do litígio”. Como é por demais evidente, nada disto acontece na hipótese ajuizada, tendo a ver tal norma com a chamada “denegação de justiça”, porque o tribunal tem sempre a obrigação de julgar obedecendo à Constituição e à lei. E o tribunal não deixou de resolver o conflito de interesses que a lide pressupõe, alegando falta ou obscuridade da lei, dúvida insanável acerca dos factos ou non liquet probatório. Só por invocação desses fundamentos estaríamos face a uma denegação de justiça por parte do Julgador, pois que a omissão de pronúncia sobre questões que o Julgador devesse julgar acarreta simples nulidade da sentença (n.º 1, alínea d) do art. 668º do CPC). Aliás, uma sentença só é de qualificar inexistente quando nem sequer aparentemente se verifica o “corpus” ou a materialidade correspondente a tal acto processual.

b)-Ainda os Recorrentes reputam ferida de nulidade a sentença por alegadamente os fundamentos estarem em oposição com a decisão. Também, como é por demais sabido, a nulidade da sentença é de ordem formal e não se confunde com o erro de julgamento, de ordem substancial. E a dita nulidade, prevista na alínea c) do n.º1 do art. 668º do CPC, pressupõe uma contradição lógica entre os fundamentos e a decisão, já que a sentença se reconduz a um silogismo judiciário. E bem vistas as coisas, nenhuma contradição lógica, afinal, apontam ou concretizam os Recorrentes entre os fundamentos e a decisão absolutória do pedido, limitando-se a dizer que não existem factos que levem à constituição da pretendida servidão por usucapião. A contradição lógica ocorreria, sim, se apurados factos que apontassem para a inexistência do direito de servidão.

Improcede, pois, a 5ª conclusão.

III-2)- Examinemos a 2ª questão.

Como se acima se relatou, os AA./Recorrentes intentaram, na essência, uma acção de simples apreciação negativa, porquanto tem por finalidade fazer negar um direito real de servidão sobre o seu prédio por parte ou na titularidade dos RR. Assim configurada a lide, ex vi do n.º1 do art. 343º do CC compete aos RR. a prova dos factos constitutivos do direito que se arrogam. Isto é, não provando os RR. tais factos constitutivos, a acção procede.

E resultou apurada a alegada aquisição por usucapião da servidão de passagem a pé e carro sobre o prédio dos Recorrentes?

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Com interesse à resposta a esta matéria, releva a realidade vertida nas letras I) a Q), inclusive, do quadro fáctico apurado. E sobre a objecção dos Recorrentes importa averiguar se a servidão de pé e carro é uma servidão aparente, porque só as servidões aparentes podem ser constituídas por usucapião n.º1 do art. 1548º do CC), sendo certo que as servidões aparentes são as que se revelam por sinais visíveis e permanentes ( n.º2 do citado artigo).

A este respeito ficou provado que “o acesso de pé e carro para o prédio dos Réus sempre foi feito através e pelo prédio dos Autores, o qual se projecta no sentido nascente/poente, com início no caminho público, a nascente (estrada romana), existindo uma faixa de terreno, com cerca de dois metros de largura, por onde se passa a pé e com carros de bois ou tractor e até à porta do palheiro, existente do lado direito (Norte), de quem entra. A partir desse ponto, circula-se também a pé, de carro de bois ou de tractor, livremente e sem traçado definido no solo, ora seguindo em frente (para Poente) para a eira existente no local, ora flectindo à esquerda (para Sul) para o palheiro referido em G) da matéria de facto assente.”

Face a este quadro é evidente que a servidão em causa é aparente, denunciada por uma faixa de terreno com cerca de dois metros de largura, e a partir de um palheiro o acesso ao prédio dos RR. continua em frente para uma eira, aí localizada, ora deriva para Sul para um palheiro. Veja-se que o prédio dos RR. tem a área de 292 m2, com palheiro e eira. A circunstância de o acesso ao prédio dos RR., a partir de um certo ponto, ser feito livremente, sem um traçado definido, não descaracteriza a aparência da servidão, bem definida desde o início por uma faixa de terreno com cerca de dois metros de largura. E se o traçado não se revela na parte final, só pode resultar da natureza do solo e da circunstância de o acesso, a partir de um certo ponto, ora seguir em frente (para a eira) ora flectir para a esquerda (para o palheiro). Seria inconcebível uma servidão que se estendesse apenas até ao termo da faixa de terreno existente, com cerca de 2 metros de largura, porque corresponderia, afinal, a negar o apurado acesso ao prédio dos RR. sempre realizado através e pelo prédio dos AA.

Assim sendo, a servidão, porque aparente, pode ser adquirida por usucapião (art. 1287º do CC).

E como ressalta da sentença sob exame, para que se remete neste âmbito, verificam-se todos os requisitos da posse conducente à aquisição por usucapião deste direito real de gozo, como seja

-a detenção material da coisa usucapida, com o exercício dos poderes de facto sobre ela, com a intenção de exercer o direito real correspondente à servidão, em nome e interesse próprios (art. 1251º do CC); -sem oposição ou pacificamente (arts. 1261º CC);

-continuadamente (art. 1263º, alínea a) do CC); -pública ou conhecida pelos interessados (art. 1262º);

-e o decurso do prazo de 20 anos, supondo a má fé (art. 1296º do CC) Improcede, pois, a 2ª conclusão.

III-3)- Atentemos na 3ª questão.

Alegam os Recorrentes que a usucapião não opera automaticamente, pelo que os RR. deveriam ter pedido, em reconvenção, a declaração de aquisição do direito de servidão por usucapião. Ou seja, aos RR. não bastava invocar os factos constitutivos do direito de servidão que se arrogam, não bastando à eficácia da

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usucapião a mera invocação, sendo imperiosa a dedução de pedido que a declare.

É óbvio que tal tese não encontra qualquer respaldo legal, prescrevendo o n.º1 do art. 343º do CC que “nas acções de simples apreciação ou declaração negativa, compete ao réu a prova dos factos constitutivos do direito que se arroga”.

Como vimos, a lide instaurada configura uma acção de simples apreciação negativa (negatória de servidão), e como tal visa unicamente a declaração da inexistência de um direito ou de um facto (alínea a) do n.º2 do art. 4º do CPC). As acções de simples apreciação esgotam por si os efeitos pretendidos pelo autor, estabelecendo a certeza jurídica almejada, operando-se com o trânsito em julgado a finalidade própria da acção, porque não associada qualquer eficácia executiva. Como acertadamente vem defendido no acórdão do STJ publicado na CJ 2003, 1º, p. 68, a improcedência da acção de simples apreciação negativa envolve o reconhecimento da existência do direito que o réu se arroga, que fica definitivamente estabelecida em face da parte contrária. Não pressupõem essas acções qualquer facto ilícito, mas apenas situações de dúvida e incerteza que poderão vir a ocasionar prejuízos. Pondo termo a situações de dúvida ou incerteza contribuem para prevenir litígios e nesta medida tutelam bens jurídicos, garantindo a certeza do direito e das relações jurídicas. Com o trânsito em julgado, nessas acções, fica definitivamente decidido inter partes se o direito ou facto existe ou não. Na lição de Antunes Varela, citada no dito acórdão, e publicada na RLJ 121/14, “na contestação das acções de mera apreciação negativa não tem, em princípio, cabimento defesa por excepção (material ou peremptória), nem a dedução de reconvenção, mas apenas a alegação dos factos constitutivos do direito que o réu se arroga ou dos sinais demonstrativos do facto”. Improcede, nesta conformidade, a 4ª conclusão.

III-4)- Curemos, por fim, da 4ª e última questão.

Foram os Recorrentes condenados na multa de 10 Ucs e na indemnização de e 1.342,50, como litigantes de má fé.

Na petição alegaram um direito de propriedade pleno e ilimitado sobre o seu prédio, livre de qualquer servidão em benefício do prédio dos RR.

Porém, foi apurada factualidade que contraria claramente o alegado nos arts. 11º e 12º da petição, onde se refere que “antigamente, por mera tolerância dos anteriores donos do prédio dos Autores, os antecessores dos Réus e os próprios Réus, uma vez por outra, embora raramente, até passavam, ora por um lado, ora por outro” e “há mais de 15 e até 20 anos, que os Réus ali, pelo prédio dos Autores, não têm passado”. Ficou, ainda, assente, ter os AA. movido anterior acção contra os RR. visando a extinção, por desnecessidade, da servidão a que alude esta lide (cfr. factualidade apurada sob as letras T) a Y), acção que findou por desistência da instância. Aí reconhecem, pois, os AA. existência da servidão que, agora, negam nesta acção.

A conduta processual dos AA., mostra-se, sem dúvida, reprovável, deduzindo conscientemente uma pretensão cuja falta de fundamento não deviam ignorar e alterando a verdade dos factos (alíneas a) e b) do n.º2 do art. 456º do CPC). Justificada, assim, a condenação dos AA. como litigantes de má fé.

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Nos termos e pelos fundamentos expostos, acorda-se em: 1-Negar provimento ao recurso.

2-Confirmar a sentença impugnada.

3-Condenar os Apelantes nas custas do recurso.

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