Rogério Aparecido dos Santos
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de PósGraduação no Curso de Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física.
Orientador:
Prof. Dr. Luiz Telmo da Silva Auler
Volta Redonda, RJ Dezembro de 2015
S586p Santos, Rogério Aparecido dos Mapas Conceituais como Instrumento de Promoção e Avaliação da Aprendizagem de Cosmologia / Rogério Aparecido dos Santos Volta Redonda: UFF / Icex, 2015. xi, 119 f.: il.;30cm. Orientador: Luiz Telmo da Silva Auler Dissertação (mestrado) – UFF / Instituto de Ciências Exatas / Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física, 2015. Referências Bibliográficas: f. 122 - 126. 1. Ensino de Física. 2. Mapas Conceituais. 3. Cosmologia. I. Auler, Luiz Telmo da Silva. II. Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Exatas, Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física. III. Mapas Conceituais como Instrumento de Promoção e Avaliação da Aprendizagem de Cosmologia.
possam enxergar um exemplo deixado pelo velho pai...
isso, cada viagem foi curtida com imensa alegria e satisfação pois foram feitas para buscar a única coisa que comigo ficará por toda minha existência como espírito imortal: o Conhecimento. Essa busca constante e infinita vem me tornando uma pessoa cada vez melhor, porquanto me ajuda a evoluir intelecto e moralmente, e assim pretendo retornar ao mundo espiritual, um dia, melhor do que quando aqui renasci há mais de 30 anos.
No ano de 2013, “em cima da hora”, fiz minha inscrição para o Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física MNPEF e, ainda sem ter completa noção disso, estava iniciando uma das mais emocionantes etapas da minha vida, ao final da qual, sairia Mestre em Ensino de Física, além de ter conquistado a amizade de pessoas tão interessantes e interessadas na mesma busca em que eu me empenhava. Essas pessoas são os meus novos e eternos amigos que constituíram comigo a minha inesquecível TURMA 2013 do PÓLO 15 UFF/VR. Agradeço a cada um que com sua amizade, companhia, companheirismo ou simplesmente presença estiveram comigo nesta empreitada.
Em especial gostaria de agradecer:
Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Telmo da Silva Auler que com sua paciência e tolerância soube, de uma maneira com que ninguém mais poderia, me orientar na execução deste relevante trabalho. A ele devo meu reconhecimento e consideração por ter me compreendido em minhas deficiências e dificuldades sendo tolerante, ativo e amigo no trabalho de me orientar na execução desta tarefa tão importante para mim.
Aos meus amigos carinhosamente chamados de “Pessoal do Hotel” com os quais tive a grata satisfação de confabular sobre os mais diversos assuntos naquelas noites de sextafeira, primeiro em Volta Redonda e depois em Barra Mansa. Isso me tornou uma pessoa mais sábia por aprender um pouco mais com cada um deles que comigo compartilhou generosamente sua sabedoria. Com eles pude, também, dividir os angustiantes momentos de dificuldades enfrentados nesse curso e aprender a ter a coragem necessária para seguir em frente sem esmorecer.
Aos amigos e colegas de curso, Manoel Coelho, Ricardo Monteiro, Alan Reis e Robson Macedo, com os quais constituí o grupo de pesquisa e apresentação de trabalhos ao longo do Mestrado, pela amizade e colaboração.
Aos meus pais Maria Irene e Sebastião Aparecido, meus irmãos Marcelo, Cristina, Rafael e João Paulo que sempre me entenderam, me apoiaram e me auxiliaram nessa minha grande e insopitável paixão que é estudar; e aos meus sobrinhos e sobrinhas que me proporcionavam os momentos de descontração e brincadeiras de que precisava para aliviar o estresse.
À minha Companheira Alcione e aos meus filhos Miguel e Maria Júlia, esta veio ao mundo quando eu já iniciara os estudos do mestrado dandome ainda mais força para seguir em frente, por entenderem minha ausência e momentos de clausura para me dedicar aos estudos deste curso e redação desta dissertação.
Ao Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) e aos Espíritos Superiores por não terem desistido do colossal trabalho de codificação da Doutrina Espírita com a qual, dentro de minhas limitações, procuro compreender minha existência.
À todos os professores do MNPEF PÓLO 15UFF/VR que sempre estiveram ao nosso lado contribuindo com seus saberes e experiência para o engrandecimento dos nossos.
À Jesus, o Homem que aceitou a penosa missão de ser o modelo e guia da humanidade deixando preciosos ensinamentos que me servem de diretriz nesta vida.
À Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, por ter me agraciado com a oportunidade de existir e para o qual devo me aproximar um dia quando estiver com a inteligência e moral plenamente desenvolvidas.
It's gonna be a bright (bright) bright (bright) sunshiny day. It's gonna be a bright (bright) bright (bright) sunshiny day. Jimmy Cliff
APRENDIZAGEM DE COSMOLOGIA Rogério Aparecido dos Santos
Orientador:
Prof. Dr. Luiz Telmo da Silva Auler
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de PósGraduação no Curso de Mestrado Nacional Profissional de Ensino de Física (MNPEF), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física
A Cosmologia faz parte dos conteúdos de Física Moderna e contemporânea do nível médio, cuja abordagem já está presente no Currículo Minimo de Física do Estado do Rio de Janeiro. Este novo currículo propõe proposta curricular um ensino de Física menos matematizado, mais próximo da alfabetização científica, onde o indivíduo apropriase dos debates científicos, reconhecendo a ciência e a tecnologia como interdependentes, de caráter evolutivo, e capazes de moldar a sociedade contemporânea. O presente trabalho, em consonância com esse novo paradigma educacional, apresenta como produto uma sequência didática baseada em mapas conceituais para ensino de Cosmologia em turmas do primeiro ano do Ensino Médio. A técnicados mapas conceituais foi escolhida porque tratase de uma ferramenta de grande utilidade, tanto para facilitar, como para avaliar o processo de ensinoaprendizagem, em especial para mostrar indícios da ocorrência de Aprendizagem Significativa. Nesta dissertação apresentamos como são construídos e analisados mapas conceituais, bem como as bases que fundamentam o uso de tais mapas para estudos da ocorrência de Aprendizagem Significativa. A sequência didática proposta como produto contêm os roteiros de aulas completos para que o professor possa trabalhar a Cosmologia com seus alunos utilizando mapas conceituais. Nossa proposta privilegia a confecção cooperativa dos mapas para propiciar a negociação dos conceitos entre os alunos. Apresentamos a análise dos resultados obtidos da aplicação do produto em uma turma de Ensino Médio da rede pública estadual (RJ). Junto com o produto, apresentamos um guia para que o professor possa analisar os mapas conceituais produzidos por sua turma, buscando indícios do tipo de aprendizagem que seus alunos estão tendo.
PalavrasChave: Ensino de Física, Mapas Conceituais, Cosmologia
Volta Redonda, RJ Dezembro de 2015
COSMOLOGY
Rogério Aparecido dos Santos Supervisor:
Prof. Dr. Luiz Telmo da Silva Auler
Abstract of master’s thesis submitted to Programa de PósGraduação no Curso de Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF), in partial fulfillment of the requirements for the degree Mestre em Ensino de Física.
The Cosmology is part of modern and contemporary physics content of the high level curriculum, whose approach is already present in Minimum Curriculum of Physics of the State of Rio de Janeiro. This new curriculum proposes a less mathematized physics teaching, closer to scientific literacy, where the individual appropriates the scientific debates, recognizing the science and technology as interdependent, having also an evolutionary character. The main purpose is to develop in the student the ability to explain and discuss science and technology in the contemporary society. This work, aligned with this new educational paradigm, proposes as the educational product a didactic sequence based on conceptual maps for teaching cosmology in the first year of high school. The methodology of the conceptual maps was chosen because it is a very useful tool, both to facilitate, and to evaluate the process of teaching and learning, especially to show evidence of the occurrence of meaningful learning. In this thesis we present how those conceptual maps are constructed and analyzed, as well as the bases underlying the use of such maps to study the occurrence of meaningful learning. The didactic sequence proposed as a product contains the scripts of full classes so that the teacher can work cosmology with their students using concept maps. Our proposal focuses on cooperative preparation of maps to facilitate the negotiation of concepts among students. The analysis of the results of applying the product in a high school class of a public school is presented. Along with the product we also present a guide to analysis of the concept maps produced by the students, seeking evidence of the kind of learning that their students are having.
Keywords: Physics Teaching, Concept Maps, Cosmology
Volta Redonda, RJ December , 2015
Figura 6.1 Exemplo dos desenhos elaborados……….55 Figura 6.2 Mapa conceitual do tipo fluxograma sobre o modelo geocêntrico.………....58 Figura 6.3 Mapa conceitual do tipo hierárquico sobre o modelo geocêntrico………..61 Figura 6.4 Mapa conceitual do tipo hierárquico sobre o modelo heliocêntrico………....62 Figura 6.5 Mapa conceitual sobre a transição entre modelos de sistema solar………..63 Figura 6.6 Mapa conceitual sobre o movimento planetário e a Lei da Gravitação Universal………....64 Figura 6.7 Mapa conceitual do tipo centrado sobre o modelo heliocêntrico………....66 Figura 6.8 Mapa Conceitual do tipo hierárquico produzido pelo mesmo grupo que fez o mapa da figura 6.7 sobre o tema modelo geocêntrico……….……..68 Figura 6.9 Mapa conceitual sem estrutura definida: circular……….…..69 Figura 6.10 Mapa conceitual sem estrutura definida: fragmentado………..70 Figura 6.11 Captura de tela do aplicativo “Phet” chamado Laboratório de Força Gravítica….77 Figura 6.12 Captura de tela do aplicativo “Phet” chamado Gravidade e Órbitas………...78 Figura A1 Página contendo o “texto 4” a ser trabalhado com os alunos………...….117
Estado do Rio de Janeiro………33 Tabela 4.2 Unidades temáticas………...35 Tabela 6.1 Resultados da análise dos desenhos……….53 Tabela 6.2 Mapas conceituais produzidos durante a sequência de aulas………...57 Tabela A1 Modelo para classificação dos desenhos e determinação do nível de conhecimento dos alunos sobre o sistema solar………..87 Tabela A2 Modelo para classificar os mapas conceituais………...104 Tabela A3 Modelo para identificar indícios de aprendizagem significativa nos mapas conceituais………..106
LDB Leis de Diretrizes e Bases
CMF RJ Currículo Mínimo de Física do Rio de Janeiro NEJA Nova Educação de Jovens e Adultos
Introdução……….………….….…...….1
Capítulo 2 Referencial teórico………...3
2.1 A teoria da Aprendizagem Significativa……….………...………..…....3
2.1.1 Conhecimentos Prévios………....……....………....4
2.1.2 Organizadores Prévios……….……...…………...8
2.2 Pesquisa-ação……….………...………….….10
Capítulo 3 Mapas conceituais……….………...………....…14
3.1 Definição e origem………...………....…..14
3.2 Estrutura e construção……….………...………..…..15
3.3 Mapas conceituais e Aprendizagem Significativa………..…..………...18
3.4 Aplicações no ensino………...………..…..19
3.4.1 Promoção e avaliação da aprendizagem……….……....19
3.4.2 Relações conceituais………...………...23
Capítulo 4 Cosmologia no Ensino Médio……….………...…...…...26
4.1 A legislação brasileira de ensino………...….26
4.2 O ensino de Física e os PCN’s……….….………...…..26
4.3 O currículo mínimo do estado do Rio de Janeiro………...……...30
4.4 A cosmologia em sala de aula……….……...………..…..32
Capítulo 5 Metodologia………..………..………..…...37
5.1 O contexto……….………...37
5.1.1 O grupo de estudo………...……….…………..….37
5.1.2 Cosmologia no currículo mínimo do estado do Rio de Janeiro……...38
5.2 O método da pesquisa……….……….……....…....38
5.2.1 A pesquisa-ação na realidade da sala de aula………....…...38
5.2.2 Um pouco da pesquisa qualitativa aplicada na dissertação…………..…..39
5.3 Os princípios do planejamento didático………...…..41
5.3.1 Das aulas………...………...…...41
5.3.2 Da sequência didática………...…………...…...42
5.4 Aplicação do produto……….………...…....43
Capítulo 6 Resultados e discussão………..……...….50
6.1 A análise de conteúdo na pesquisa qualitativa………..….50
6.2 Os conhecimentos prévios à partir dos desenhos………...….52
6.3 Sobre os mapas conceituais………...….…55
6.3.1 Categorização dos mapas conceituais……….….…..56
6.3.2 Análise dos mapas conceituais por categoria………...58
6.4 Sobre o questionário final………....…..71
6.5 Uma visão crítica do produto educacional………...….….79
Capítulo 7 Considerações Finais………....…...82
Apêndice A Produto Educacional………..………...……..86
Apêndice B Esquema de Apoio………...………...…...121
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) convidam os professores de Física e, de certo modo, a todos aqueles que estão responsabilizados pelo ensino dessa disciplina no Brasil, à uma reflexão quanto ao currículo de Física que é atualmente adotado nas escolas de Ensino Médio. Sua proposta básica é oferecer uma abordagem dos conteúdos tratados por essa disciplina de modo a propiciar a formação de um cidadão participativo no contexto científico e tecnológico da sociedade contemporânea. Isso só será possível abandonandose o carácter essencialmente teórico e abstrato tal como os conteúdos de Física são tradicionalmente ensinados nas salas de aula do Ensino Médio. Devese promover, em seu lugar, uma aprendizagem na qual o aluno consiga dar significados ao conhecimento novo que a ele é apresentado, partindose de conteúdos que fazem parte de seu contexto vivencial. Neste ponto, os PCN’s apontam para um ensino de Física pautado pela abordagem de conteúdos da Física Moderna e contemporânea.
No estado do Rio de Janeiro, desde o ano de 2012, os professores de Física que lecionam em escolas estaduais devem se orientar pelo Currículo Mínimo elaborado especificamente para essa disciplina. Nesse documento, em consonância com as ideias trazida pelos PCN’s em relação à reformulação do ensino de Física, a abordagem de assuntos de Física Moderna e contemporânea é distribuída ao longo dos três anos do Ensino Médio. Desta forma, o grande tema Mecânica começa a ser abordado no currículo mínimo à partir da Cosmologia, ministrada como conteúdo inicial do primeiro ano do Ensino Médio, e não como um tópico de final de curso, como normalmente tais conteúdos eram encontrados.
A sequência didática que foi elaborada como produto educacional desta dissertação oferece uma opção de ensino dos conteúdos de Cosmologia utilizando os mapas conceituais de Novak como instrumentos de promoção e avaliação da aprendizagem. Respaldada nos trabalhos do professor Marco Antônio Moreira no campo do ensino de Física a presente proposta foi fundamentada na teoria da Aprendizagem Significativa.
O produto educacional aqui desenvolvido envolveu três etapas: a primeira consistiu em um levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes à partir da solicitação para que
um questionário final para verificação se houvera evolução e/ou substituição dos conceitos previamente presentes na estrutura cognitiva dos estudantes.
Para apresentação do produto, sua fundamentação e os resultados de sua aplicação, esta dissertação foi organizada da seguinte forma:
● No capítulo 2 é apresentado o referencial teórico no qual o trabalho foi fundamentado. Tratase de uma apresentação da teoria da Aprendizagem Significativa, do norteamericano David Paul Ausubel. Este capitulo é finalizado com uma apresentação da concepção de pesquisa adotada ao longo da elaboração dos trabalhos, que foi a pesquisaação.
● Os mapas conceituais são apresentados no Capítulo 3, iniciando pela definição e origem, passando pelos princípios de sua elaboração e avaliação. Encerrando este capítulo é discutida a relação destes mapas com a Aprendizagem Significativa e suas aplicações no campo do ensino.
● O Capítulo 4 apresenta uma discussão de como o ensino de Cosmologia é proposto no nível médio. Para tanto, é analisada a sua abordagem pelos documentos oficiais que consubstanciam o ensino de Física nas salas de aulas.
● A metodologia de pesquisa que foi utilizada neste trabalho é apresentada no capítulo 5, juntamente com uma breve descrição do grupo de alunos e da escola onde o produto foi aplicado. O capítulo finaliza com uma apresentação dos procedimentos que nortearam a elaboração do produto bem como a obtenção dos dados gerados pela pesquisa.
● Os resultados obtidos são discutidos no capítulo 6 através da utilização da análise de conteúdo na pesquisa qualitativa. Neste capítulo também é discutido de que maneira o levantamento de conhecimentos prévios e a elaboração de mapas conceituais influenciaram nas respostas obtidas pelo questionário final. O capítulo se encerra com uma discussão da consolidação do produto após sua aplicação teste.
● Por fim, no Capítulo 7 são feitas as considerações finais do trabalho, enquanto que o produto em si, ou seja, a sequência didática, é apresentada nos Apêndice A e B.
Neste capítulo apresentamos a teoria da Aprendizagem Significativa do norteamericano David Paul Ausubel, que usaremos como referencial teórico para elaborar e analisar nosso produto. Os princípios da pesquisaação são apresentados ao final do capítulo, pois norteiam a postura do professor enquanto pequisador em sala de aula.
2.1 A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel
Uma das teorias da aprendizagem mais difundidas atualmente é a chamada Teoria da
Aprendizagem Significativa, que desenvolveuse a partir dos trabalhos do psicólogo e psiquiatra norteamericano David Paul Ausubel (19182008). Segundo seu autor, o conteúdo novo apresentado ao estudante se insere na sua estrutura cognitiva interagindo com o que ele já sabe anteriormente. Isto é, para que um indivíduo aprenda é necessário que o novo conhecimento com o qual ele toma contato interaja de maneira substantiva e nãoarbitrária com os conhecimentos que ele já possui. Portanto, tal teoria trata de uma forma de aprendizagem nãoisolada, pelo contrário, dinâmica e interativa ,evidenciando que o aluno, para aprender, precisa relacionar todo conhecimento acumulado ao longo de sua trajetória escolar de maneira clara e coerente. Em outras palavras, todo o conhecimento acumulado em um indivíduo, para que se configure plenamente estabelecido, deve estar associado de maneira lógica e substancial, à semelhança de uma corrente que para constituirse em sua total integridade precisa ter seus elos interligados entre si. Assim, é o conhecimento anterior que permite um novo conhecimento ter significado.
Segundo Moreira (1997):
“A essência do processo da Aprendizagem Significativa está, portanto, no relacionamento nãoarbitrário e substantivo de ideias simbolicamente expressas a algum aspecto relevante da estrutura de conhecimento do sujeito, isto é, a algum conceito ou proposição que já lhe é significativo e
forma nãoarbitrária e substantiva (nãoliteral) com os elementos relacionados e já presentes no cabedal cognitivo do estudante. Quando se fala de uma aquisição nãoarbitrária de conhecimento queremos dizer que o novo conteúdo deve ser significativo para o aluno, isto é, ele precisa ser capaz de fazer associações com ele, de relacionar o novo com o velho conhecimento. Nesse processo, aquilo que o professor propõe como conhecimento a ser adquirido incorporase à estrutura cognitiva do indivíduo tomando seu devido lugar e provocando as mudanças necessárias para a sua total assimilação. Importante ressaltar ainda que essa associação não se dá de qualquer forma, ela acontece quando o sujeito associa o novo conhecimento com conteúdo específico já presente. E quando se fala de uma aprendizagem substantiva propõese aquela aprendizagem na qual não se deve fixar em palavras meramente, mas nos conceitos trazidos pelo conjunto de palavra, ou seja, como as idéias estão encadeadas dentro de um contexto lógico e coerente de conteúdo.
Concluindo, considerandose as ideias da teoria da Aprendizagem Significativa, tornase fundamental que os professores, de alguma forma, busquem, em primeiro lugar, maneiras de se sondar os conhecimentos prévios de seus alunos antes de apresentarlhes um conhecimento novo.
2.1.1 Conhecimentos prévios
A Aprendizagem Significativa está calcada, como já vimos no item anterior, na aquisição de conteúdo mediante sua interação substantiva e nãoarbitrária com aquilo que o indivíduo já sabe. Ausubel se referia a esses elementos essenciais da aprendizagem, os conhecimentos prévios, chamandoos de subsunçores. Os subsuncçores funcionam dentro da estrutura cognitiva do indivíduo como âncoras que direcionam a assimilação de novos conhecimentos. A palavra subsunçor é utilizada em substituição à palavra inglesa “subsumer”. O subsunçor, por sua vez, tanto pode ser um símbolo já significativo, um conceito, uma proposição, um modelo mental ou mesmo uma imagem.
Os conhecimentos prévios do sujeito possuem um carácter específico para cada assunto com o qual ele se depara por recepção ou mesmo por descobrimento. Isto quer dizer que o sujeito ao se deparar com um novo conceito através de uma aula, de um vídeo ou simplesmente de uma leitura, automática e inconscientemente acessa seu cabedal de conhecimentos prévios, ou subsunçores, na busca instintiva de informações que possam auxiliálo no processo de dar um significado ao novo conhecimento, para que este figure como um novo conceito adquirido. Esse processo se dá de maneira dinâmica e interativa, pois quando o novo conceito é adquirido ele acaba, devido a uma relação de mão dupla, modificando o subsunçor que lhe serviu de âncora e provocando neste mudanças que o tornam mais geral e abrangente ou corroborando conhecimentos já presentes.
Moreira (2012) usa como exemplo para esclarecer a interação subsunçorconceito novo o caso da Conservação da Energia Mecânica. Salienta que quando um estudante é instigado a resolver problemas de energia cinética e potencial está, apenas corroborando as idéias que já possui. Entretanto, se lhe for apresentada a 1ª Lei da Termodinâmica como um novo caso de conservação de energia, porém, em fenômenos térmicos, o subsunçor inicial ganhará novos significados e ficará mais abrangente pois terá, para o aprendiz, aplicação não somente na Mecânica mas na Termodinâmica também. À medida que novos conceitos vão sendo apresentados e interagindo de forma significativa, como a conservação do momento linear, angular e da carga elétrica, estes vão se associando ao subsunçor conservação da energia enriquecendoo e tornandoo cada vez mais abrangente e estável. O aprendiz nesse processo, de recepção ou descoberta de novos conceitos pouco a pouco, estará elevando o subsunçor inicial, conservação da energia, ao patamar de uma lei geral da Física. Conforme Moreira (2012)
“Esta forma de Aprendizagem Significativa , na qual uma nova idéia, um novo conceito, uma nova proposição, mais abrangente, passa a subordinar conhecimentos prévios é chamada de Aprendizagem Significativa superordenada. Não é muito comum; a maneira mais típica de aprender significativamente é a Aprendizagem Significativa subordinada, na qual um novo conhecimento adquire significado na ancoragem interativa com algum conhecimento prévio especificamente
relevante.” [MOREIRA, 2012, p.3]
Interessante notar que um subsunçor, potencialmente rico e estável, à medida que não é utilizado, passa por um processo de obliteração. Perde a clareza e consistência de seus significados. Dizemos, então, que o subsunçor foi esquecido pelo indivíduo. Entretanto, esse processo é normal e uma reaprendizagem desses conceitos se processa de forma relativamente fácil quando a aprendizagem é significativa. Disso percebemos, então, que a Aprendizagem Significativa não é aquela que nunca se esquece mas sim aquela que, uma vez tendo sido realizada, permite a reaprendizagem rápida dos conteúdos quando o sujeito julgar necessário. O mais importante, portanto, é que os significados não ser perdem nesse processo de assimilação obliteradora. E isto é justamente o que diferencia a Aprendizagem Significativa daquela chamada de aprendizagem mecânica, pois, nesta, a reaprendizagem não é possível, haja vista, que os conteúdos, em momento algum, chegaram a ser aprendidos de fato [MOREIRA, 2012].
De certa forma podemos dizer que em nossa estrutura cognitiva há vários subsunsores e estes estão em diversas fases de desenvolvimento. Alguns estão menos avançados, outros mais avançados e há inclusive os que estão involuindo. Essas constatações contribuem para nos mostrar que a estrutura de subsunçores à qual damos guarida em nosso campo cognitivo é uma estrutura dinâmica e bastante versátil.
Entretanto, é importante considerar ainda que os conhecimentos prévios que o sujeito possui, embora sejam considerados por Ausubel como os elementos mais importantes na facilitação da Aprendizagem Significativa, nem sempre cumprem esse papel. Há conhecimentos prévios que dificultam a Aprendizagem Significativa de determinados conceitos. São os que chamamos de concepções alternativas as quais atualmente vêm sendo pesquisadas, principalmente, no Ensino de Ciências. Outro fato é que uma Aprendizagem Significativa nem sempre equivale a dizer uma aprendizagem correta. As próprias concepções alternativas citadas anteriormente são resultado de aprendizagens significativas em desacordo com o conhecimento cientificamente aceitável.
Encontramos, na literatura, basicamente duas condições que devem ser respeitadas para considerarmos a Aprendizagem Significativa que são o uso de material potencialmente significativo e estudantes predispostos a aprender. De acordo com Pelizzari (et al, 2002):
“Para haver Aprendizagem Significativa são necessárias duas condições. Em primeiro lugar, o aluno precisa ter uma disposição para aprender: se o indivíduo quiser memorizar o conteúdo arbitrária e literalmente, então a aprendizagem será mecânica. Em segundo, o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo, ou seja, ele tem que ser lógica e psicologicamente significativo: o significado lógico depende somente da natureza do conteúdo, e o significado psicológico é uma experiência que cada indivíduo tem. Cada aprendiz faz uma filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio.” [PELIZZARI et al, 2002, p.38]
Normalmente, em sala de aula, os recursosdisponíveis para que os professores possam trabalhar os conteúdos de suas disciplinas são o livro didático e suas próprias aulas. Considerandose ainda que em alguns casos, os professores se utilizam de softwares de computadores e aplicativos de smartphones e tablets . Seja o que for que o professor vá usar, tais recursos precisam apresentar um certo nível de lógica e coerência aos estudantes para que estes possam atribuir um significado ao material, por isso dizemos que tais materiais podem, no máximo, ser considerados potencialmente significativos ou não significativos. Em outras palavras, para ser significativo o material utilizado precisa ser relacionável à estrutura cognitiva do estudante, isto é, deve encontrar conhecimentos prévios que lhe confiram logicidade para o aprendizado. Moreira (2012) salienta que:
“É importante enfatizar aqui que o material só pode ser potencialmente significativo, não significativo: não existe livro significativo, nem aula significativa, nem problema significativo, pois o significado está nas pessoas, não nos materiais.” [MOREIRA, 2012, p.8]
Por outro lado, estarem os estudantes, predispostos a aprender parece ser a condição mais difícil de ser atingida. E isso não se relaciona com o gostar ou não de tal disciplina. O indivíduo precisa estar predisposto a diferenciar e integrar o novo conhecimento que a ele é apresentado. Por algum motivo ele percebe que precisa fazer isso. Pode ser, por exemplo, pela consciência de
que se não conseguir o entendimento do assunto não conseguirá a aprovação nos exames.
A realidade em que, na maioria dos casos, o professor se depara na realização de seu
trabalho é aquela em que os estudantes chegam em sala de aula com extrema dificuldade para relacionar os novos conhecimentos com seus conhecimentos prévios. Isso se dá, principalmente, pela ausência parcial ou até mesmo total de tais conhecimentos. Portanto, para alcançar a Aprendizagem Significativa de conteúdos, o trabalho do professor deve começar pela investigação da existência ou não desses conhecimentos pois, os novos conhecimentos necessitam de uma estrutura conceitual de apoio na qual possam se fixar e ganhar sentido. Entretanto, como é comum ocorrer que os estudantes não tenham os conhecimentos prévios necessários para a sequência dos estudos, uma possibilidade de contornar esse problema seria pela inserção e uso de organizadores prévios na elaboração das estratégias de ensino e aprendizagem.
2.1.2 Organizadores prévios
O problema da falta de domínio de um conteúdo por parte dos alunos é recorrente em nossas redes de ensino. Não raro, ao entrar em sala de aula, o professor se depara com uma realidade alarmante. Ao iniciar uma matéria de ensino com seus alunos, logo percebe, que neles falta o conhecimento necessário para acompanhar o conteúdo que deseja ministrar ou esses mesmos estudantes não conseguem perceber a relação entre o que eles já estudaram e o novo conteúdo apresentado. Isto é, os estudantes não possuem os subsunçores, ou não conseguem perceber os vínculos entre os conteúdos que estudam, com os quais darão significado ao novo conhecimento que o professor abordará em suas aulas.
Em casos como esse, o próprio Ausubel, recomenda o uso de o rganizadores prévios . Estes se constituem em um recurso que propiciará aos estudantes a facilitação da Aprendizagem Significativa de um novo conteúdo. Entretanto, este recurso instrucional deve ser bem compreendido para não ser confundido com um simples resumo, sumário ou visão geral por que estes estão no mesmo nível de abstração do material que deve ser aprendido. O requisito fundamental para que determinado material possa ser considerado um organizador prévio é a sua
abrangência, abstração e inclusividade. Assim:
“Os organizadores prévios podem tanto fornecer “ideias âncora” relevantes para a Aprendizagem Significativa do novo material, quanto estabelecer relações entre ideias, proposições e conceitos já existentes na estrutura cognitiva e aqueles contidos no material de aprendizagem, ou seja, para explicitar a relacionabilidade entre os novos conhecimentos e aqueles que o aprendiz já tem mas não percebe que são relacionáveis aos novos.” [Moreira, 2012, p.2]
Podem funcionar como organizadores prévios uma pergunta, uma situaçãoproblema,
um enunciado, um filme, uma leitura introdutória, uma simulação ou até mesmo uma aula que anteceda um conjunto de outras aulas que tratarão de determinado assunto. Um organizador prévio bem escolhido funcionará como um facilitador da Aprendizagem Significativa na medida em que participe do processo como uma ponte entre os conhecimentos prévios dos estudantes e os novos conhecimentos com os quais passam a ter contato. Essa é justamente a verdadeira função de um organizador prévio, ser uma “ponte cognitiva”, segundo Ausubel, sem, no entanto, desconsiderar uma outra possibilidade dos organizadores prévios, que é a introdução de subsunçores na estrutura cognitiva dos estudantes.
Podese, na prática, trabalhar com dois tipos de organizadores prévios em função do conteúdo que deve ser ensinado. Se os novos conhecimentos são familiares aos estudantes, podese utilizar o organizador do tipo comparativo que funcionará como a ponte entre o conhecimento similar já existente na estrutura cognitiva do estudante e o novo conhecimento apresentado. Tal organizador propiciará a integração e a diferenciação entre novos e velhos conceitos. Em contrapartida, se o novo conhecimento não for familiar aos estudantes o melhor é optar por um organizador do tipo expositivo. Este é estruturado em cima daquilo que os estudantes já conhecem de outras áreas de estudo e funciona como “ancoradouro inicial provisório” aos novos conceitos, ideias ou proposições apresentados aos aprendizes.
2.2 PesquisaAção
A pesquisaação é uma forma de se confrontar um problema sendo parte integrante do contexto onde ele é gerado, não evidentemente, como o seu causador, mas, sobretudo, como aquele que o observou e deseja encontrar soluções possíveis de se pôr em prática. A pesquisaação opõese à pesquisa tradicional pelo seu modus operandi , na verdade, ela tem características próprias, pois ela não se baseia em uma única maneira de agir, rígida, padronizada como a pesquisa tradicional é realizada nos meios científicos, pois suas etapas de realizações dependerão do contexto em que a pesquisa estiver sendo desenvolvida e dos indivíduos dela participantes. Esse tipo de pesquisa tem por objetivo principal, tirar o pesquisador de sua imobilidade. Ela visa trazer o pesquisador para o ambiente pesquisado por meio de sua participação atuante. Desse modo, ela toma por objetivo superar o problema inicialmente identificado, e muito criticado por diversos pesquisadores, que é a falta de sintonia entre a teoria empregada pelo pesquisador e sua prática profissional.
“A pesquisaação surgiu da necessidade de superar a lacuna entre teoria e prática. Uma das características deste tipo de pesquisa é que através dela se procura intervir na prática de modo inovador já no decorrer do próprio processo de pesquisa e não apenas como possível conseqüência de uma recomendação na etapa final do projeto.” [ENGEL, 2000, p.182]
Quando se diz que a pesquisaação, em seu contexto, almeja tirar o pesquisador de sua imobilidade (neutralidade), temse a intenção de dizer que, nesse tipo de pesquisa, o pesquisador deve mudar a concepção tradicional que tem de si mesmo e de seu papel ao longo do processo. Ele deve se aproximar ativamente do contexto em que trabalha sem, no entanto, perder o contato com o objeto de pesquisa. Todas as suas ações devem estar voltadas para o entendimento de como o problema se encaixa no ambiente em que a pesquisa se desenvolve, de que maneira, esse problema, influencia o comportamento dos indivíduos envolvidos e quais os procedimentos que devem ser tomados ao longo do processo, e não somente à criação de uma proposta de resolução em uma etapa final.
Segundo Naiditch (2010) a pesquisaação é uma:
“Forma de pesquisa interativa que visa compreender as causas de uma situação e produzir mudanças. O foco está em resolver algum problema encontrado por indivíduos ou por grupos, sejam eles instituições, escolas, ou organizações comunitárias. A pesquisaação se desenvolve na medida em que pesquisadores investigam um problema e sugerem possíveis soluções, visando melhorar sua prática profissional, as estratégias por eles utilizadas em sua forma de trabalho e ampliar o conhecimento acerca de questões que afetam diretamente a produtividade ou a qualidade do trabalho desenvolvido por um grupo ou por uma instituição.”
[NAIDITCH, 2010, p.1]
Assim, notase que ao se optar pela realização de uma pesquisaação, o pesquisador nunca a realiza sozinho, pois ele é parte integrante de um grupo que percebe e assume que um problema existe e cuja solução passa a ser buscada pela atuação do profissional que o lidera. A contrapartida desse processo acaba sendo uma melhoria no agir do próprio pesquisador, pois ele se desenvolve como profissional na medida em que problemas são resolvidos, que o conhecimento para implementação de possíveis soluções aumenta ou quando ele consegue acrescentar melhorias em suas estratégias de atuação.
Segundo diversas fontes, Engel (2000); Franco (2005); Naiditch (2010) a pesquisaação iniciouse com os trabalhos do psicólogo alemão Kurt Lewin (1890–1947). Esses trabalhos se desenvolveram à partir de 1946, em um contexto caracterizado pelo período do pósguerra. Suas atividades experimentais, de campo, ocorreram quando ele trabalhava em conjunto com o governo norteamericano. Seus objetivos iniciais eram a mudança de hábitos alimentares da população e a postura frente a grupos minoritários. Além disso,
“Pautavase por um conjunto de valores como: a construção de relações democráticas; a participação dos sujeitos; o reconhecimento de direitos individuais, culturais e étnicos das minorias; a tolerância a opiniões divergentes; e ainda a consideração de que os sujeitos mudam mais
facilmente quando impelidos por decisões grupais. Suas pesquisas caminhavam paralelamente a seus estudos sobre a dinâmica e o funcionamento dos grupos. Sua forma de trabalhar a pesquisaação teve grande desenvolvimento nas empresas em atividades ligadas ao desenvolvimento organizacional.” [FRANCO, 2005, p. 485]
À partir daí, na década de 60, a pesquisaação se desenvolveu bastante na área da Sociologia preconizando que o pesquisador saísse de seu isolamento e assumisse as consequências de sua pesquisa. Foi o primeiro passo para surgirem pesquisadores mais participativos ao longo de todo o processo investigativo.
O próximo campo de aplicação da pesquisaação foi, então, o próprio campo do ensino, em que o professor passou a ser um professorpesquisador fazendo de sua própria sala de aula seu objeto de pesquisa. Isso contrasta fundamentalmente com a atuação do professor até então. Pois este se resumia em um reprodutor de “soluções” para os problemas identificados em sala de aula, vindos de fora, isto é, de outros profissionais que propunham soluções para os problemas encontrados durante as aulas sem, no entanto, participar do ambiente escolar.
O principal problema enfrentado, quando do surgimento da pesquisaação nas escolas, era a disparidade entre a teoria educacional que o professor aprendia nas cadeiras universitárias para lhe servir de base no processo de ensino e aprendizagem e sua verdadeira realidade na prática profissional e não seria exagero admitir que atualmente esse ainda é um grande problema presente nas escolas de todo o país, principalmente por falta de formação adequada por parte do professor que deixa as universidades, do âmbito de seus cursos de graduação, sem terem essa lacuna devidamente preenchida. Pois como afirma Santos (2010) :
“A construção da formação do professor iniciase no processo de efetivação da formação inicial e posteriormente continuada. O modelo delineado atualmente sobre a formação dos profissionais da educação apresentase com a inexistência de um sistema articulado no processo de formação inicial e continuada. Tal fato ocasionou a falta de coordenação e organização das agências formadoras, resultando em ineficácia no
desenvolvimento dos cursos de formação inicial, incorrendo em práticas compensatórias de formação continuada.” [SANTOS, 2010, p.31]
A tentativa de resolução desse problema exigia uma maneira prática e eficaz de atuação do profissional professor, nesse ínterim, é que a pesquisaação toma a sua parte do processo e passa a auxiliar o trabalho investigativo do professor com o intuito de lhe descortinar as verdadeiras mazelas do ensino em suas salas de aula a fim de superálas.
A pesquisaação promove o professor em sua função profissional ao conferirlhe autonomia para refletir e modificar sua própria prática. Isso se refletirá no surgimento de um profissional diferente, engajado em sua realidade de trabalho, encorajado a promover as mudanças necessárias para melhorar sua prática e consciente das mudanças que pode alcançar.
Desse modo, tendo a pesquisaação papel tão importante para o desenvolvimento profissional do professor é necessário que ele apropriese dos conceitos e das técnicas pertinentes ao desenvolvimento desse tipo de pesquisa. Pois há um consenso no meio profissional de que o professor não sai da universidade “pronto”, seria necessário complementar sua formação com atividades que engajassem o profissional em um trabalho que lhe confira maior confiança e desenvoltura no desempenho de sua profissão. Para isso, o professor precisaria dominar os mecanismos adequados para que ao mesmo tempo em que melhore técnica e profissionalmente compreenda melhor a realidade em que ele se faz presente e atuante.
Concluindo essa fundamentação teórica, podemos afirmar que a pesquisa e o trabalho desenvolvido nesta dissertação, assim como o de todo professor participante deste programa de mestrado profissional em ensino, é uma pesquisaação. Mais do que simplesmente constatar isso, entendemos como parte essencial deste trabalho a tomada de consciência deste novo papel. Ressaltamos que não se trata de um papel temporário, mas da transformação de um profissional que se via professor apenas, em um profissional que pautará doravante sua atividade de ensino na pesquisa, no aprimoramento de suas práticas e na pesquisaação.
Capítulo3
Mapas conceituais
Neste capítulo introduzimos os mapas conceituais explicando sua estrutura e como se constrói um. Em seguida, mostramos o interesse de tais mapas para o ensino, em particular sua utilização no processo de ensino e aprendizagem. Por fim, discutiremos alguns exemplos de pesquisas acadêmicas que aplicaram tais mapas para estudar a ocorrência de Aprendizagem Significativa.
3.1 Definição e origem
De uma forma bem simples podemos definir um mapa conceitual ou mapa de conceitos como aquela estrutura geométrica que traz em seu bojo a representação de como conceitos ou palavras que representam esses conceitos se relacionam numa grade de conhecimentos. Tais mapas apresentam certas particularidades e qualidades que os tornam bastante propícios para o uso em atividades de ensino e aprendizagem. Portanto, a abordagem para o ensino de Cosmologia, proposta neste trabalho, ocorre por meio da utilização de mapas conceituais, os quais, como nos diz Moreira e Rosa (1986) ,
“(...) podem ser vistos como diagramas hierárquicos que procuram refletir a organização conceitual de uma disciplina ou parte dela, ou seja, derivam sua existência da estrutura conceitual de uma área de conhecimento.” [MOREIRA;ROSA,1986, p.17]
Os mapas conceituais podem ser utilizados com uma ampla gama de possibilidades: na organização estrutural de um conteúdo, na avaliação da aprendizagem e também na própria atividade de ensino. Neste último caso, mostram a estrutura hierárquica daquilo que está sendo ensinado evitando um ensino mecânico e meramente baseado em decorar o que o professor transmite, facilitando, nesse sentido, que ocorra uma Aprendizagem Significativa. Em outras palavras, os mapas conceituais facilitam ao estudante associar a simbologia criada/apresentada
para ele de forma nãoliteral, com aquilo que ele já sabe especificamente sobre o conteúdo que estiver sendo ensinado.
Neste trabalho, aplicaremos a técnica dos mapas conceituais, desenvolvida por Joseph Novak e seus colaboradores da Universidade de Cornell, na década de setenta. Naquela ocasião, Novak tentou verificar a aprendizagem de novos conhecimentos de ciências em crianças, apenas entrevistandoas, entretanto, esse método se mostrou bastante complexo e ineficiente, por isso ele teve a necessidade de buscar outra forma de verificação dessa aprendizagem, optando então por sistemas gráficos que expressassem a estrutura cognitiva das crianças, isto é, a estrutura de seu conhecimento adquirido. Esse método, que também se baseou na Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, recebeu o nome de mapas conceituais e, à partir de então, pôde ser aplicado em diversas situações dentro e fora do ensino [NOVAK; CAÑAS, 2008].
3.2 Estrutura e construção
Primeiramente devese ter em conta que um mapa conceitual, embora apresente linhas e setas, estas, não representam direcionalidade, sequência ou temporalidade. Não visa classificar os conceitos nele inseridos mas pode trazer certa hierarquização entre esses mesmos conceitos. Também diferem dos mapas mentais na medida em que estes não visam estabelecer relações próprias entre aquilo que representam. Portanto, o fundamental em um mapa conceitual é a representação da relação hierárquica ou não, existente entre os conceitos nele estabelecidos evidenciando a estrutura que se forma ao longo do processo de ensino e aprendizagem.
Quando observamos o mapa conceitual construído por alguém, percebemos que ele é um diagrama que apresenta diversas formas geométricas com inscrições (conceitos), as mais comuns sendo retângulos, círculos e elipses. Na verdade, porém, essas figuras geométricas não são relevantes para o que o mapa conceitual se propõe. O mais importante a ser apresentado são as relações entre os conceitos. Notase também que o mapa conceitual apresenta conceitos ligados por linhas, a esse conjunto dáse o nome de proposição [MOREIRA, 2012]. Essas linhas, realmente, são importantes por que evidenciam que há uma relação entre aqueles conceitos que elas ligam. Lembrando ainda que, apesar da importância dessas linhas, sua forma e comprimento não devem influenciar no entendimento do mapa conceitual.
Um modelo comum, mas não obrigatório de mapa conceitual é aquele que apresenta conceitos mais inclusivos e abrangentes no topo e outros mais específicos e menos abrangentes na base. Mas, rassaltase, esse constitui apenas um exemplo, não havendo uma regra fixa que obrigue a construção de um mapa conceitual que siga esse modelo ou outros. Entretanto, um bom procedimento na construção de um mapa conceitual é acrescentar, na linha que une dois conceitos, uma ou algumas poucas palavraschave, compondo uma proposição, como ilustra a Figura 3.1. Esse procedimento contribui para mostrar clareza na relação entre os dois conceitos ligados na medida em que evidencia o foco da relação. E esperase que com isso o autor do mapa conceitual possa explicar a relação entre tais conceitos da maneira como ele a concebeu.
Uma característica importante do mapa conceitual é o fato dele não ser autoexplicativo, devendo, portanto, ser explicado por quem o produziu em um processo que é chamado de externalização de significados. Moreira (2012) afirma que os mapas conceituais são bastante adequados para esse processo e, além disso, propõe um roteiro de como produzir mapas conceituais sem, no entanto, estabelecêlo como uma receita única para sua elaboração. Figura 3.1 Dois conceitos relacionados através de uma linha contendo palavras chaves, constitui o que se chama uma proposição.
Ao construirse um primeiro mapa conceitual, é aconselhável que a pessoa comece por uma área de conhecimento que lhe é familiar e, como a estrutura de um mapa dessa natureza depende do contexto em que está inserido, identificálo com clareza contribuirá sobremaneira para a execução da tarefa. Podese começar identificando um segmento de texto, aula de laboratório, de campo ou um problema/questão que se deseja compreender. Novak e Cañas, em seus trabalhos, também orientavam para se delimitar um domínio de conteúdo reduzido para os primeiros mapas conceituais que o indivíduo viesse a fazer [NOVAK;CAÑAS, 2008]. A Figura 3.2 apresenta uma sequência de passos que podem ser seguidos para a elaboração de um mapa conceitual (MOREIRA, 2012).
3.3 Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa
Vários autores se referem a técnica de utilização dos mapas conceituais em processos de ensino e aprendizagem com vários objetivos, mostrando a grande versatilidade desses instrumentos para auxiliar professores em suas tarefas cotidianas e na identificação da ocorrência da Aprendizagem Significativa. Diz Moreira (1980):
“Assim, a utilização de um mapa conceitual como um método avaliativo, tratase de uma técnica não tradicional e qualitativa, que busca observar como o aluno estrutura, organiza, hierarquiza, integra e relaciona conceitos de certa unidade de estudo, procurando obter evidências de
Aprendizagem Significativa . Deve ser utilizado preferivelmente quando os alunos já possuem certa familiaridade com o conteúdo. Assim, os mapas de conceitos são bons instrumentos para representar a estrutura cognitiva do aluno, averiguando além dos subsunçores já existentes, as mudanças que ocorrem na estrutura cognitiva durante a instrução.”
[MOREIRA, 1980, p. 474]
Mapas conceituais relacionam conceitos através de palavaschave, oferecendo estímulos aos estudantes para organizar sistematicamente os conteúdos aprendidos. Portanto, os mapas conceituais podem ser utilizados como excelentes instrumentos que auxiliam os professores para a promoção de uma Aprendizagem Significativa [FARIA, 1985].
Embora a proposta da utilização dos mapas conceituais como instrumentos facilitadores do processo de ensino aprendizagem já exista há certo tempo [NOVAK e GOWIN, 1996] apud
Moreira (1986), ela ainda é pouco difundida. Acreditamos então, que é oportuno avançar nesse campo propondo uma abordagem empregando mapas conceituais no ensino de conteúdos de Cosmologia no nível do Ensino Médio.
3.4 Aplicações no ensino
Nesta seção analisamos alguns trabalhos da literatura que seguem a mesma linha dessa dissertação, referentes ao uso dos mapas conceituais para finalidades aplicadas ao campo do ensino de Física e de outras disciplinas do currículo de estudantes do Ensino Médio e Superior. A finalidade das pesquisas foi predominantemente a de promoção e/ou avaliação da aprendizagem, mas também há um trabalho voltado para a análise da construção das relações entre os conceitos. Deste modo, nas subseções a seguir, são discutidos os trabalhos de duas dissertações e dois artigos de periódicos brasileiros, com vistas a demonstrar a ampla utilização dos mapas conceituais em diferentes níveis de ensino, com variados objetivos educacionais e acadêmicos.
3.4.1 Promoção e avaliação da aprendizagem
Maffra (2011), em sua dissertação de mestrado, faz um estudo em que visa demonstrar a aplicabilidade dos mapas conceituais como uma estratégia adicional em um processo didáticopedagógico, ou seja, a qual o professor pode lançar mão em suas atividades de ensino.
Aplicandose esta técnica aos alunos do curso de graduação em Biologia do CEDERJ , 1 pólo de Volta Redonda, Maffra (2011) destaca a relativa facilidade de elaboração de mapas conceituais pelos estudantes, pois estes precisariam apenas de materiais simples como lápis/caneta e papel. Diante dessa facilidade a autora evidencia que essa técnicanão é mais amplamente utilizada pela falta de material que possa ser utilizado como orientação teórica e metodológica para a aplicação dessa técnica nas salas de aula. Ela buscou então:
“(...] aplicar, analisar e desenvolver estratégias diferenciadas de aplicabilidade dos mapas conceituais (...) capazes de possibilitar sua
utilização como uma ferramenta pedagógica geradora da Aprendizagem Significativa.” [MAFFRA, 2011, p.11].
A pesquisa conduzida por Maffra (2011) procurou verificar se ocorriam mudanças significativas no conhecimento adquirido pelos estudantes ao mesmo tempo em que a técnica dos mapas conceituais era estudada como estratégia motivadora. A coleta de dados dessa pesquisa transcorreu com a execução de várias tarefas de construção de mapas conceituais e aplicação de questionários que, posteriormente, foram analisados em um enfoque qualiquantitativo.
Maffra (2011) conclui que os mapas conceituais podem funcionar como mobilizadores e promotores de habilidades que permitam aos estudantes maior desenvoltura em processos de leitura, escrita, e interpretação. Adicionalmente, foi possível constatar que a estratégia dos mapas conceituais em um grupo de estudantes constituise numa atividade motivadora à aprendizagem, na medida em que facilita a interação e as discussões em torno da negociação dos significados dos conceitos adquiridos.
Silva (2007), também em uma dissertação de mestrado, fez um estudo sobre a viabilidade da utilização dos mapas conceituais como estratégia de promoção e avaliação da Aprendizagem Significativa de conceitos de calorimetria nos estudos do Ensino Médio.
Partindo da premissa de que a avaliação não é, ou não deve, ser um procedimento final após um período de estudos, mas sim um meio pelo qual a aprendizagem é proporcionada, Silva (2007) propõe os mapas conceituais como um material auxiliar que permita ao professor avaliar a aprendizagem de seus alunos de modo mais consistente com a realidade. Observando que os estudantes, embora obtenham notas satisfatórias em testes e provas, não conseguem formular respostas aceitáveis para a explicação de determinados fenômenos sobre os quais são indagados, Silva (2007) propõe as seguintes reflexões:
“(...] para que avaliar ou por quê avaliar, se o julgamento que faço de supostas aprendizagens não se reflete na forma de pensar e/ou interpretar do aluno ? Estou avaliando corretamente ? Os alunos realmente aprendem o que ensinamos em nossas aulas ? Então, levando em conta o
contexto, as condições e abordagens nas quais o ensino é desenvolvido (…), que procedimento seria capaz de promover e avaliar a aprendizagem dos alunos ?” [SILVA, 2007, p. 13]
Silva (2007) realizou sua pesquisa em duas turmas do 2º ano do Ensino Médio de uma escola pública de Planaltina DF, numa das quais foi aplicada a metodologia com a utilização dos mapas conceituais de acordo com a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel (turma experimental) e na outra não (turma de controle). As aulas em ambas as turmas foram dos tipos expositiva e experimental sendo que a técnica dos mapas conceituais foi aplicada apenas na turma “experimental”.
A coleta de dados nesse trabalho envolveu a aplicação de testes prévios, póstestes, construção de mapas conceituais pelo grupo experimental, aplicação de provas, preenchimento de um “diário de bordo” e o preenchimento de um questionário de opinião dos alunos do grupo experimental.
Nas suas conclusões Silva (2007) comenta os resultados efetivamente alcançados em relação à aprendizagem dos estudantes. Embora mencione que essa aprendizagem tenha ficado aquèm do esperado, apontando como possível causa para isso o pouco tempo de aplicação da técnica, os estudantes conseguiram montar mapas conceituais com boa diferenciação progressiva e integração reconciliativa de conceitos, o que mostrou que havia a ocorrência da Aprendizagem Significativa.
A partir do trabalho desenvolvido por Silva (2007) constatamos que os mapas conceituais podem ser instrumentos úteis tanto na promoção quanto na avaliação da Aprendizagem Significativa. Por meio da análise das respostas dos questionários, Silva (2007) também mostrou que alguns alunos começaram a desenvolver o processo de metaaprendizagem quando os mesmos avaliaram seu desempenho, associando sua evolução à construção destes mapas. A Aprendizagem Significativa, segundo o autor, não se mostrou tão evidente em todos os mapas produzidos, mas foi possível notar uma melhor estruturação e interrelação de conceitos desenvolvidos ao longo das aulas, que só não foram melhores devido a falta de maturidade, natural dos estudantes, para trabalhar com essa técnica.
Almeida e Moreira (2008) pesquisaram as dificuldades dos estudantes de graduação em Física na assimilação de conceitos de óptica Física. Nesse trabalho os autores consideraram a influência das concepções alternativas dos estudantes em seu processo cognitivo e o uso dos mapas conceituais como facilitadores da aprendizagem desse conteúdo. Para tanto foi comparado o tipo de aprendizagem demonstrada por dois grupos de alunos no estudo de Óptica Física: um grupo, denominado experimental, com o qual utilizouse de mapas conceituais para o estudo desse assunto, e outro grupo, denominado de comparação, com o qual foi utilizada uma metodologia de ensino tradicional.
A pesquisa envolveu, inicialmente, 125 estudantes dos quais 61 eram graduandos do curso de Física, que constituiu o grupo experimental, e 64 eram graduandos do curso de engenharia, que constituiu o grupo de comparação. Ambos os grupos já haviam se submetido aos estudos de óptica Física anteriormente. A primeira coleta de dados foi feita no início do período, à título de teste prévio, e consistiu na aplicação de um questionário do tipo “papel e lápis” com 20 questões conceituais. O mesmo questionário, porém com alteração na disposição das questões e dos ítens de resposta, foi novamente aplicado no final do semestre, com o objetivo de fazer uma nova coleta de dados para que fosse possível comparar as evolução do desempenho dos dois grupos analisados.
Somente o grupo experimental foi submetido à elaboração dos mapas conceituais. Para construir seus mapas, os estudantes tinham como critério único utilizar o conteúdo trabalhado nas aulas anteriores. Na aula seguinte à construção dos mapas conceituais, os estudantes ficavam incumbidos de apresentálos, momento no qual também se fazia a discussão dos conceitos que constituíam as proposições. Após as apresentações era permitido que os estudantes modificassem seus mapas. A construção de cada mapa conceitual permitiu saber quais os conceitos que os estudantes foram capazes de construir sem intervenções especiais.
Tanto na análise quantitativa como na qualitativa dos dados obtidos com os pré e póstestes, Almeida e Moreira (2008) concluem que o melhor desempenho do grupo experimental pode ser atribuído ao fato deste ter utilizado como estratégia de ensino a técnica do mapeamento conceitual.
O objetivo principal da pesquisa de Almeida e Moreira (2008) foi investigar se os mapas conceituais poderiam funcionar como instrumentos facilitadores da Aprendizagem Significativa de conceitos relacionados ao tema óptica Física, bem como identificar a mudança conceitual em relação às concepções alternativas dos estudantes sobre o comportamento ondulatório da luz. Com base nos resultados obtidos, os autores concluem que o mapas conceituais são potencialmente eficazes no processo de Aprendizagem Significativa dos conteúdos de óptica Física, assim como podem funcionar também como facilitadores da identificação das dificuldades que prejudicam os estudantes na aprendizagem desses conceitos. Os autores concluem também que, embora o fator mais importante para a aprendizagem seja que o conhecimento prévio do aluno interaja com os conhecimentos novos, para que ocorra mudança conceitual e Aprendizagem Significativa é essencial que o aluno se engage de forma ativa no processo de ensino aprendizagem.
3.4.2 Relações Conceituais
Nesta subseção apresentamos um estudo realizado por Cicuto e Correia (2012) sobre as relações conceituais presentes nos mapas conceituais, a qual eles chamaram de “análise de vizinhança”. De fato, os mapas conceituais podem revelar inúmeras informações sobre a compreensão dos estudantes em relação ao tema mapeado em um nível latente, isto é, além do que parece ser óbvio quando se observa o mapa conceitual pelas suas características visuais como as proposições que os compõem e as palavras ou expressões que as ligam e dão sentido a elas.
A técnica de avaliação proposta por Cicuto e Correia (2012) visa ir além da análise estrutural ou proposicional como normalmente são avaliados os mapas conceituais. Entretanto, para que essa técnica seja efetivada, a construção dos mapas conceituais deve ser planejada com base em uma pergunta focal e um conceito obrigatório, designado criteriosamente pelo professor. À partir dessas considerações iniciais e após os mapas prontos, os autores analisaram como os estudantes conseguiram estabelecer as relações conceituais agregando “conceitos vizinhos” (CV) ao “conceito obrigatório” (CO).
Um critério básico para a aplicação da técnica da análise de vizinhança na avaliação da aprendizagem por meio da construção dos mapas conceituais é exigir do mapeador o uso do “conceito obrigatório”, um conceito privilegiado, estabelecido pelo professor pois, sob essa circunstância, “o esforço cognitivo imposto aos alunos é mais sofisticado do que aquele que é usualmente necessário para obter bom desempenho em provas tradicionais [CICUTO;CORREIA, 2012].” A maneira como o mapeador utiliza e dispõe o conceito obrigatório e a ele relaciona conceitos vizinhos pode demonstrar com que importância o conceito obrigatório é trabalhado ao longo da construção do mapa conceitual e, por conseguinte, qual foi a importância cognitiva que esse conceito recebeu. Além disso, a relevância que esse conceito apresenta no mapa pode facilitar a presença da diferenciação progressiva e/ou da integração reconciliativa.
A coleta de dados realizada por Cicuto e Correia (2012) se baseou na produção de 69 mapas conceituais construídos individualmente durante a aula da disciplina Ciências da Natureza. O conceito obrigatório selecionado pelo professor, um dos autores deste artigo, foi “dispersão” sendo utilizado em associação à questão focal: “Como o desenvolvimento científicotecnológico se relaciona com as mudanças climáticas?”. As aulas da disciplina ocorreram ao longo de um semestre letivo e contaram também com um período de preparação e treinamento para a construção de mapas conceituais. O material potencialmente significativo utilizado nas aulas foram notícias da mídia, animações, imagens de satélite e vídeosdocumentários.
Na análise dos mapas conceituais Cicuto e Correia (2012) levaram em consideração quatro deles com o objetivo de evidenciar de que maneira o conceito obrigatório (“dispersão”) foi relacionado com os conceitos vizinhos, demonstrando os padrões típicos encontrados com a análise de vizinhança. Dessa análise os autores constataram nos mapas selecionados dois grupos padrões principais: um com grande número de proposições e outro com número reduzido de proposições que fazem relação direta com o conceito “dispersão”. Com essa análise foi possível observar que os mapas conceituais com maior número de proposições relacionando conceitos vizinhos diretamente ao conceito obrigatório não são necessariamente bons mapas, pois as associações realizadas não guardavam relação com construções aceitáveis dos conceitos dentro