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A intervenção do Serviço Social na discussão do Estatuto da Criança e do Adolescente nos centros de educação infantil do município de Palhoça, Santa Catarina

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MÔNICA ELI MARTINS NATIVIDADE

A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA DISCUSSÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NOS CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO

MUNICÍPIO DE PALHOÇA, SANTA CATARINA

Palhoça 2009

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MÔNICA ELI MARTINS NATIVIDADE

A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA DISCUSSÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NOS CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO

MUNICÍPIO DE PALHOÇA, SANTA CATARINA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof.a M.Sc. Janice Merigo.

Palhoça 2009

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MÔNICA ELI MARTINS NATIVIDADE

A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA DISCUSSÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NOS CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO

MUNICÍPIO DE PALHOÇA, SANTA CATARINA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social e aprovado em sua forma final pelo curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 22 de junho de 2009.

Prof.a M.Sc. e orientadora Janice Merigo

Psicóloga Dr.a Priscilla Puerta Carioni

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço à minha família, por apoiar minha escolha e acreditar em meu potencial. Em especial, à minha avó, senhora Eli C. Martins, pela dedicação e amor incondicional.

À minha orientadora, Janice Merigo, pelo incentivo, confiança e ajuda. Para mim, a Janice foi fundamental neste Trabalho de Conclusão de Curso.

A toda a equipe de professores da Rede municipal de Palhoça que participaram dos encontros realizados no Escritório Modelo de Advocacia (EMA), pela oportunidade de estagiar nesse local, que contribuiu para a realização do trabalho final.

Enfim, agradeço a todos os meus amigos, à minha família, aos professores que cruzaram o meu caminho.

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“as crianças podem ser menores que os adultos em tamanho, porém, os seus direitos devem ser tão importantes quanto os deles” (Sandra Regina Menna Barreto, psicóloga infantil).

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NATIVIDADE, Mônica Eli Martins. A intervenção do Serviço Social na discussão do

Estatuto da Criança e do Adolescente nos centros de educação infantil do município de Palhoça, Santa Catarina. 2009. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em

Serviço Social) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, 2009.

RESUMO

O presente trabalho é resultado da experiência de estágio obrigatório desenvolvido no Escritório Modelo de Advocacia (EMA) na Ponte de Imaruí, em Palhoça/SC. Ele apresenta a trajetória histórica das políticas de atenção à infância e juventude brasileiras, seus limites e avanços. Destaca ainda a intervenção do Serviço Social na prática com as creches/escolas do município de Palhoça, por meio de capacitações de professores da Rede municipal de educação sobre o conhecimento da Lei n. 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), desempenhando o importante papel de educador político na socialização de leis que amparam a criança e o adolescente. Com o resultado deste trabalho, foi possível perceber que as capacitações sobre os temas relacionados ao ECA são de grande importância para os profissionais que atuam nessa área, implicando na forma de promover a aplicabilidade das ações e, consequentemente, na ampliação das garantias dos direitos das crianças e dos adolescentes. É necessário, portanto, que o Poder Público invista nas capacitações dos profissionais da área da infância e juventude, tanto para divulgar suas ações quanto para tornar públicos e esclarecer os princípios inseridos no ECA.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 − Capacitação sobre Conselho Tutelar ... 40

Figura 2 − Capacitação sobre a violência e a negligência em geral ... 41

Figura 3 − Fechamento das capacitações na Unisul ... 41

Gráfico 1 – Objetivo da capacitação... 42

Gráfico 2 – Conhecimento sobre o tema ... 43

Gráfico 3 – Carga horária total da capacitação... 43

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...8

2 CONTEXTUALIZANDO A UNISUL, O ESCRITÓRIO MODELO DE ADVOCACIA E A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO EMA ... 10

2.1 UNISUL E O ESCRITÓRIO MODELO DE ADVOCACIA ... 10

2.2 A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO ESCRITÓRIO MODELO DE ADVOCACIA ... 15

3 A HISTÓRIA DA INFÂNCIA E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO UM MARCO DE GARANTIA DOS DIREITOS ... 23

3.1 HISTÓRIA DO ATENDIMENTO SOCIAL DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA BRASILEIRAS ... 23

3.2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO UMA NOVA VISÃO POLÍTICA ... 29

4 O ESPAÇO ESCOLAR NA PROTEÇÃO INTEGRAL E O RELATO DA EXPERIÊNCIA COM OS PROFESSORES DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA ... 35

4.1 O ESPAÇO ESCOLAR COMO PROTEÇÃO INTEGRAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 35

4.2 A CONTRIBUIÇÃO DA INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA DISCUSSÃO DO ECA COM OS PROFESSORES DOS CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA ... 37

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 45

REFERÊNCIAS ... 47

APÊNDICE ... 50

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1 INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi construído a partir da experiência da execução do projeto de intervenção realizado no Escritório Modelo de Advocacia (EMA), que teve por objetivo discutir com os professores sobre a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), visando à sua aplicabilidade e facilitando, dessa forma, o acesso à rede de garantia em decorrência de questões relacionadas aos direitos da criança e do adolescente.

No contexto histórico brasileiro, primeiramente a atenção voltada à infância e juventude se caracterizava como atribuição da Igreja, porém, as ações de benemerência praticadas por essa instituição tiveram funções divulgadoras da doutrina religiosa. Durante alguns anos, até a Primeira República, as crianças e os adolescentes foram vistos como uma ameaça à sociedade, em que por um lado o Estado se apresentava como repressor, em nome do controle e da defesa social, e, por outro, as entidades promoviam a caridade aos “abandonados, órfãos e desvalidos”.

A trajetória da Legislação brasileira da infância e adolescência teve seu início em 1927, com o Código de Menores, que tinha como propósito determinar medidas a serem adotadas em relação às crianças e aos adolescentes que se encontravam em “situação irregular”, ou seja, àqueles que de alguma forma poderiam ser uma “ameaça” à população.

Em 1990, foi elaborado e aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente, que expressa claramente que todas as crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, independente da sua condição econômica.

Os direitos das crianças e dos adolescentes são frutos de uma longa caminhada da sociedade brasileira. A trajetória da luta para a garantia dos direitos desses sujeitos se configura em um processo histórico de limites e possibilidades, sendo a correlação de forças para a materialização de leis em prol do atendimento especial a essa população explícita nos debates cotidianos. As alterações reais no contexto das políticas públicas e da garantia de direitos para a infância e juventude aconteceram somente com a redemocratização política do país, quando surge uma legislação tornando esses indivíduos cidadãos sujeitos de direitos exigíveis.

No entanto, a aplicabilidade do ECA depende de um trabalho integrado entre setores que fazem parte da rede de proteção, potencializando uma atuação mais abrangente e multiprofissional, por meio de um conjunto de atores de diversas instituições, os quais têm o mesmo foco temático na consecução da política de atendimento.

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Nesse sentido, a escola, por assumir atualmente um papel muito mais ativo e propositivo como agente mediador entre várias instituições sociais e situações vivenciadas pelo educando, apresenta grande importância na proteção e na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes.

Para desenvolver esse estudo, definiu-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, na qual se buscam fontes de literaturas e autores que discutem o Serviço Social no espaço escolar e a política de atendimento à criança e ao adolescente, bem como o aprofundamento do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente e sua aplicabilidade, que é de grande importância para toda a população, principalmente para professores que estão diretamente nas salas de aula vivenciando todos os dias as situações apresentadas pelas crianças e pelos adolescentes. A escola é espaço de grande importância no processo de inclusão social e, juntamente com outras organizações da sociedade civil, é responsável pela construção ou pela manutenção de significados. A lei do silêncio diante da constatação de violência contra crianças e adolescentes deve ser rompida, e isso deve se dar com atitudes de repúdio e denúncia, acionadas de forma individual ou coletiva (BRASIL, 2004). Além da pesquisa bibliográfica, este trabalho foi construído a partir da execução do projeto de intervenção com os professores do município da Palhoça sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Este trabalho está dividido em quatro capítulos. Neste primeiro abordamos brevemente o objetivo do trabalho e sua estruturação. No segundo capítulo, apresentamos a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) como instituição de ensino, pesquisa e extensão, sendo esta de natureza filantrópica e que presta serviços à comunidade, um dos quais a assistência jurídica e gratuita oferecida à população no Escritório Modelo de Advocacia. Para concluirmos o primeiro capítulo, é abordada a inserção do Serviço Social nessa instituição.

No terceiro capítulo, contextualizamos a história do atendimento social da infância e adolescência brasileiras, suas mudanças significativas através dos tempos e o Estatuto da Criança e do Adolescente como uma nova visão política de frutos dos movimentos sociais em prol da infância e adolescência brasileiras. No quarto e último capítulos, apresentamos o espaço escolar como proteção integral das crianças e dos adolescentes, finalizando com o relato das experiências e das capacitações realizadas com os(as) professores(as) dos centros de educação infantil do município de Palhoça/SC.

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2 CONTEXTUALIZANDO A UNISUL, O ESCRITÓRIO MODELO DE ADVOCACIA E A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO EMA

Neste capítulo será contextualizada a inserção do Escritório Modelo de Advocacia (EMA) no âmbito sociojurídico. A Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) como entidade de ensino, pesquisa e extensão possibilita aos acadêmicos de Serviço Social a realização do estágio curricular obrigatório, o qual visa proporcionar conhecimentos teóricos e práticos e contribuir com o rompimento das barreiras ao acesso à justiça, viabilizando a integração entre universidade e comunidade na busca de uma forma ágil e justa para os atendimentos às pessoas de baixa renda e vulnerabilidade social. Trata-se de um espaço cada vez maior onde os acadêmicos podem realizar as suas capacitações com a comunidade em geral.

2.1 UNISUL E O ESCRITÓRIO MODELO DE ADVOCACIA

Segundo Tose e Parise (2008), para contextualizarmos o Escritório Modelo de Advocacia, é necessário apresentar a Universidade do Sul de Santa Catarina, entidade concedente de ensino, pesquisa e extensão na qual se insere o EMA. Em razão de a Unisul constituir-se em uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, sendo uma universidade comunitária, são desenvolvidos projetos extensionistas e atividades em laboratórios de ensino.

A Unisul foi criada em 1964, em Tubarão, como Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina (FESSC), transformando-se em universidade no ano de 1989. Possui, hoje, quatro campi, instalados nos municípios de Tubarão, Araranguá, Palhoça e Florianópolis.

O trabalho ora apresentado foi desenvolvido no município de Florianópolis, onde a Unisul foi instalada em 2003.

De acordo com Zatonelli (2006, p. 3), a Unisul tem como missão:

A educação e gestão inovadoras e criativas no processo do ensino, da pesquisa e da extensão, para formar integralmente, ao longo da vida, cidadãos capazes de contribuir na construção de uma sociedade humanizada, em permanente sintonia com os avanços da ciência e da tecnologia.

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O autor (2006, p. 4) também destaca os valores e a visão da universidade, que apresenta como meta o reconhecimento da instituição pela excelência de suas ações e serviços até 2013:

Que o Aluno constitui seu valor essencial e, nesta condição, tem o direito de participar de seu próprio processo educativo, constituindo-se, em conseqüência, no foco da dedicação de professores, funcionários e dirigentes; que o Professor é o promotor, guia, orientador e facilitador por excelência desse processo, capacitando-se para assumir e praticar esta atitude no dia-a-dia de sua atividade; que o processo educativo prepare o aluno para o mercado e para a vida, envolvendo o conjunto de funções que irá desempenhar na sociedade complexa, global e mutante; que os relacionamentos acadêmicos e de gestão primam pela humanização e pela transparência; que a prática da humanização e da transparência envolve o exercício permanente da participação, da solidariedade, da cooperação, da integração, do compartilhamento e da responsabilidade; que o respeito à dignidade humana se expressa pelo direito ao crescimento contínuo e integral das pessoas e da coletividade em suas múltiplas potencialidades, respeitando o pensamento holístico, a pluralidade de idéias e a diversidade cultural. [...]

Em relação ao Ensino, que consolide a posição de liderança em graduação entre as universidades catarinenses e também a posição de liderança em educação a distância e educação continuada, em nível nacional, alcançando a sua inserção plena no mundo virtual e globalizado, como provedora de ciência e tecnologia. Alcance posição de liderança entre as melhores universidades catarinenses no segmento de pós-graduação.

Em relação à Pesquisa, que consolide a pesquisa científica como essencial à Universidade e parte integrante e indissociável do processo de ensino e aprendizagem e promova áreas de pesquisa avançada reconhecida pela comunidade científica nacional.

Em relação à Extensão, que consolide a extensão como mecanismo integrado e indissociável do processo de ensino e aprendizagem e transforme a extensão em instrumento gerador de iniciativas comunitárias auto-sustentáveis e da educação continuada. Em relação à Gestão, a intenção é internalizar práticas e processos modernos de gestão, adequados à dimensão da Universidade, e coerentes com sua Missão, seus Valores e sua Visão.

Assim, a Unisul, tendo por base sua missão, visão e valores, e inserida num contexto filantrópico, com o foco na extensão, instituiu o Escritório Modelo de Advocacia, atendendo inicialmente a uma necessidade do curso de Direito.

De acordo com Zatonelli (2006), com relação à estrutura curricular, o curso de Direito possui um núcleo de base com carga horária de 2.565 horas/aula, composto de disciplinas que envolvem conhecimentos fundamentais para a formação básica do profissional de Direito, buscando fornecer conhecimentos basilares para a atuação dos futuros operadores de Direito.

Zatonelli (2006) ainda destaca que as atividades acadêmicas adicionadas são um meio de ampliar conhecimentos e complementar a formação do acadêmico, com atividades desenvolvidas além da sala de aula e mesmo além da universidade, durante o período de

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vinculação ao curso, que conta com o estágio supervisionado, com carga horária de 300 horas/aula, realizado no EMA.

Com relação às atividades complementares, formas de cumprir a carga horária dessas atividades e horas de estágio obrigatório, Zatonelli (2006, p. 9) discorre que:

As atividades complementares foram instituídas pela Portaria MEC nº 1.886/1994 como componente curricular obrigatório dos cursos jurídicos. Embora a portaria mencionada tenha sido revogada pela Resolução de nº 9, de 29/09/2004, entende-se necessária a manutenção dessa regra ante aos benefícios trazidos pela mesma ao aprendizado do acadêmico. Na Unisul, as atividades complementares integram, com carga horária de 200 (duzentas) horas, do currículo de Direito e devem ser cumpridas pelos alunos em seminários, simpósios, conferências, congressos, cursos, monitoria, iniciação científica, estágios extracurriculares e disciplinas não previstas no currículo pleno do Curso, sem prejuízo de outros tipos de atividades e eventos, conforme estabelecido na resolução de Curso. As horas de estágio obrigatório e as horas de atividades complementares não se confundem. Estas últimas podem realizar-se fora da Universidade. Já as primeiras são efetivadas no EMA, dentro de seus critérios e regulamentos.

O curso de Direito tem por missão específica, como dispõe Zatonelli (2006, p. 5):

a) Realizar o Projeto Pedagógico global fundamentado em sua missão e nos valores professados;

b) Desenvolver pesquisas e atividades de extensão voltadas para a educação, priorizando a melhoria da qualidade dos cursos;

c) Desenvolver um plano especial de ações para conquistar novos estudantes em todos os níveis de ensino;

d) Promover política de marketing através da qualidade de vida intra-organizacional e pela excelência dos serviços oferecidos aos alunos e outros destinatários, divulgando-os através dos meios de comunicação;

e) Buscar e fortalecer parcerias e alianças consolidando e ampliando, sobretudo, a política multi-campi, programas especiais com os governos federal, estadual e municipais, organizações não-governamentais e entidades do Mercosul;

f) Gerir a Unisul de forma democrática, estimulando a cooperação entre os colaboradores garantindo a unidade global das ações;

g) Promover o corpo de colaboradores através de programas de pós-graduação, treinamentos específicos para desenvolver habilidades e cursos para construir novos conhecimentos;

h) Criar cultura de prestação de serviços;

i) Implementar a informatização com base em plano global de informática;

j) Equacionar a estrutura administrativa para atividades-meio visando ao fortalecimento das atividades-fim;

k) Assegurar solidez econômico-financeira otimizando o uso de recursos, racionalizando a oferta de serviços e diversificando as fontes de receita;

l) Sistematizar o fornecimento de informações através de indicadores básicos de gestão;

m) Adequar crescentemente a estrutura física dos prédios e dos ambientes de convivência a seu projeto educacional.

Para que a universidade e o curso de Direito alcancem os seus propósitos na amplitude do trabalho pedagógico, torna-se necessário que favoreçam o acesso ao saber

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partilhado, possibilitando aos alunos revelar suas qualidades e colocá-las a serviço da sociedade, como o que se realiza na prática do Escritório Modelo de Advocacia (ZATONELLI, 2006).

O Escritório Modelo de Advocacia foi criado em 1990, funcionando inicialmente no prédio da sede da Unisul, em Tubarão, sendo a orientação realizada por advogados habilitados do município. O estágio obrigatório era realizado no décimo semestre e tinha duração de 60 horas/aula. As ações eram ingressadas no Fórum Municipal.

Na data de 20/12/1993 foi criada, por convênio entre TJ/SC (Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina) e a Unisul, a Unidade Jurisdicional de Exceção, concebida com o escopo exclusivo de dar razão aos processos deflagrados pelo EMA. Posteriormente, houve a criação da Casa da Cidadania de Tubarão – através de processo diferenciado. Com a desocupação do prédio onde funcionava o Fórum local, pessoas engajadas em um forte trabalho social, como professores doutores Lédio Rosa de Andrade e Fabian Martins de Castro, dentre outras, conceberam a destinação para o prédio como um local para o exercício da cidadania (ZATONELLI, 2006, p. 9-10).

Em relação à regulação e forma de ocupação do prédio onde iria se localizar a Casa da Cidadania, Zatonelli (2006) relata que foi firmado o convênio entre município (proprietário do prédio), Unisul, Tribunal de Justiça e Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Santa Catarina (OAB/SC), que regulava a destinação e a forma de ocupação do prédio.

Com a vigência do convênio, diversos órgãos deslocaram-se para o prédio, dentre eles o Juizado Especial Cível e Criminal, a Fundação de Proteção de Defesa do Consumidor (PROCON), a Associação de Consumidores e Donas de Casa de Tubarão (ADOCON), a Junta Militar, o Conselho Tutelar, a OAB/SC e o EMA da Unisul. Nascia aí, em 29 de março de 1999, a Casa da Cidadania.

O EMA de Tubarão reúne várias formas de prestação de serviços à comunidade, e acadêmicos, no atendimento aos direitos do cidadão, servindo de campo de estágio para os acadêmicos dos cursos de Direito, Serviço Social e Psicologia.

Após os primeiros anos de funcionamento do EMA, sentiu-se a necessidade de regulamentar a prática do exercício das atividades, para melhor definir sua estrutura, com vistas a obter melhores resultados para o alcance dos objetivos. Para tanto, elaborou-se um Regulamento Interno, que, entre outras propostas, dispõe sobre as condições econômicas previstas para o atendimento judiciário gratuito. Como ressalta Zatonelli (2006, p. 11-12), o art. 14 do Regulamento do EMA dispõe:

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Art. 14. O Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito prestará serviços às pessoas que atenderem aos seguintes requisitos:

I – comprovadamente residirem na área geográfica da circunscrição onde funciona cada Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito, de acordo com os critérios de organização judiciária, respeitando-se as ressalvas constantes nas disposições dos respectivos convênios;

II – não terem renda muito superior a 03 (três) salários mínimos, respeitados os critérios da Lei Nº 1.060, de 05 de fevereiro de 1950;

III – não possuírem amplo patrimônio, ainda que sob litígio.

Parágrafo único. Não haverá óbice ao atendimento de parentes de funcionários da Fundação Universidade do Sul de Santa Catarina ou estagiários desde que atendidos os requisitos do caput deste artigo.

Segundo Wensing (apud ZATONELLI, 2006, p. 11), constitui-se missão do EMA:

[...] objetiva aliar a reflexão jurídica à prática, transplantando o conhecimento teórico e acadêmico ou, ainda, hipotético-normativo adquirido no decorrer do Curso de Direito à realidade operacional, através de participação social e técnica de resolução de conflitos, envolvendo integrantes do estrato social carente.

Dando sequência ao histórico do EMA, faz-se necessário apresentar, ainda, seu conceito e objetivos, sendo esse um espaço onde se dará a prática de um referencial teórico apreendido no decorrer do curso. Seguindo esse conceito, Zatonelli (2006, p. 11) discorre sobre o art. 1º do Regulamento, que apresenta os objetivos do EMA:

I – proporcionar oportunidade de estágio jurídico obrigatório para os acadêmicos do Curso de Direito;

II – Prestar serviços de natureza jurídica à comunidade comprovadamente carente, da circunscrição onde funciona o Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito, conforme disposições constantes dos convênios firmados entre órgãos vinculados à administração da Justiça (Poder Judiciário, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil, Defensoria Pública, etc.) e a Unisul;

§1º Em cada Campus haverá, em princípio, um Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito, de acordo com a disponibilidade de recursos materiais e humanos, visando a atender ao número de acadêmicos do respectivo Campus.

§2º Em razão da proximidade de dois ou mais Campi, poderá haver Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito que seja instalado para atender à demanda dos acadêmicos dos dois ou mais Campi, simultaneamente ou em horários específicos para cada Campus, separadamente.

§3º A circunscrição do Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito poderá compreender a circunscrição judiciária de uma ou mais comarcas, de conformidade com as disposições constantes dos respectivos convênios.

A partir da experiência de Tubarão, o EMA estendeu-se para os campi da Unisul de Florianópolis e Palhoça. O EMA, que funciona na Unidade da Ponte do Imarium, no município da Palhoça, foi implementado em agosto de 1999 e conta com 287 estagiários do curso de Direito, os quais realizam estágio curricular obrigatório orientados por 12

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professores. Cada grupo de estudantes de Direito é formado por três estagiários, que atendem à população, sob orientação de um professor. Já no curso de Serviço Social, são dois estagiários, orientados por um Assistente Social, também professor do curso de Serviço Social da Unisul.

Na Unidade da Ponte do Imaruí, em 2008, o quadro de funcionários era composto de seis pessoas, ou seja, dois funcionários e quatro estagiários, que realizam estágio não obrigatório. Hoje, são 2 estagiários de Serviço Social tanto na Ponte de Imaruí quanto na Unidade da Trajano.

O EMA de Florianópolis, localizado na Unidade Ilha/Centro, na Rua Trajano, foi implementado em janeiro de 2007 e conta com 206 estagiários do curso de Direito, que realizam estágio curricular obrigatório orientados por sete professores. Já no curso de Serviço Social, são dois estagiários, orientados por uma Assistente Social, professora do curso de Serviço Social. O quadro de funcionários é composto de um funcionário e um estagiário, que realiza estágio não obrigatório.

2.2 A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO ESCRITÓRIO MODELO DE ADVOCACIA

Em 1967, quando a FESSC já se encontrava consolidada como entidade de ensino superior, e o professor Osvaldo Della Giustina preconizava e defendia a criação do curso de Serviço Social.

Devido às necessidades de reconstrução das comunidades mais precárias por causa da enchente de 1974 em Tubarão, Santa Catarina, firmou-se um convênio com o ministro do Interior com o apoio da Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul (SUDESUL). Por meio desse projeto, constituíram-se duas equipes de trabalho com diferentes profissionais que desenvolveram trabalhos de base, além das comissões comunitárias, dos conselhos comunitários, entre outras.

Ficou evidenciada a urgência para dar respostas às demandas sociais identificadas. Segundo o professor Silvestre Herdt, ele queria um curso que fosse necessário para a região que vinha enfrentando uma série de problemas sociais. O curso foi criado visando colaborar na formação de recursos humanos. O Parecer n. 297/79, de 18 de dezembro

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de 1975, e o Decreto n. 77.147, de 12 de fevereiro de 1976, autorizaram o funcionamento do curso.

O curso iniciou-se em 1976, com 40 alunos, sendo a orientação curricular deste primeiro momento do curso voltada para dar respostas imediatas às ações pedagógicas. O primeiro currículo, implantado em 1976, totalizava 3.435 horas, divididas em oito semestres escolares, com várias disciplinas de compreensão da realidade.

No início dos anos 1990, começou a ocorrer uma profunda reflexão sobre o currículo em vigência, e esse processo envolveu alunos, professores e supervisores de estágios na revisão dos conteúdos das disciplinas, do fluxo curricular e da política de estágio.

Em 1991, a equipe de profissionais do curso de Serviço Social apresentou a terceira proposta curricular, que foi submetida à aprovação da Câmara de Ensino, sendo aprovada em 18 de dezembro de 1991, sustentada por três eixos: a) a construção teórico-metodológica do Serviço Social; b) a compreensão das políticas sociais; e c) a pesquisa em Serviço Social por meio da qual os conhecimentos se organizam para a produção do saber. Em 20 de dezembro de 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei n. 9.394 –, tornando oportuno o processo de definição e normatização das diretrizes gerais para os cursos de Serviço Social coerente com a nova lei. A Unisul propõe, então, em 1994 o processo de revisão dos projetos pedagógicos dos cursos. A congregação do curso de Serviço Social manifestou esforços para rever o seu projeto de formação, tendo como parâmetro as diretrizes curriculares construídas pela categoria profissional e adequadas ao modelo do MEC.

Com vistas aos desafios da contemporaneidade, à atualização do referencial teórico e ao debate presente nas Ciências Sociais, vinculado a uma perspectiva teórica, investindo na pesquisa e na extensão como possibilidades formadoras de uma postura científica e na realidade social local e regional, para uma visão mais humanizadora e sua efetivação, considerou-se a garantia de alguns aspectos:

9 atualização dos agentes envolvidos por meio da participação no debate nacional, da criação e da manutenção de espaços de debate local a partir de projetos pessoais da capacitação; e

9 construção de uma questão pautada na visão de planejamento estratégico-participativo, entre outros.

Em Florianópolis, o curso tem funcionamento no município de Palhoça, na Unidade Pedra Branca.

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Em 1997, em novo processo eleitoral na universidade, elegem-se, para a gestão do curso, a professora Elivete de Andrade (coordenação) e a professora Darlene de Moraes Silveira (vice-coordenação).

O curso inicia um processo de revisão consciente de que a proposta em vigência já havia sintonizado o projeto de formação com as diretrizes e que estaria aperfeiçoando a proposta com essa nova revisão.

Em 2002, sob a coordenação da professora Darlene de Moraes Silveira, o curso na Grande Florianópolis passa a ter um calendário especial, na Unidade da Pedra Branca, em Palhoça, Santa Catarina.

Em 2003, quem assume a coordenação do curso em Florianópolis é a professora Regina Panceri, que deu continuidade ao projeto pedagógico.

Em 2006, pelo fato de o projeto político-pedagógico constituir-se em um processo contínuo de atualização, nova revisão foi realizada, tendo-se como princípio a participação de professores, estudantes e assistentes pedagógicos. Com a revisão do projeto, o calendário especial passou a ser adotado nos campi de Florianópolis e Tubarão, sendo ministradas quatro disciplinas presenciais e uma a distância em cada semestre do curso. As exigências desafiam as instituições de ensino a repensarem as suas propostas, objetivando a formação do indivíduo para que ele seja capaz de suprir respostas às novas demandas da sociedade.

É necessário organizar uma estrutura de formação mais rápida e que ultrapasse os aspectos limitadores de inclusão ao ensino superior (custo e tempo), aproveitando os recursos tecnológicos e agregando o ensino presencial e a distância.

O curso de Serviço Social tem como objetivos a percepção crítica, inovadora e propositiva para atuar nas expressões da questão social, a capacidade de investigação, a análise e interpretação da realidade e dos indicadores socioeconômicos, ambientais, políticos e culturais, e a viabilização do acesso aos direitos.

Com o intuito de contribuir com o rompimento das barreiras dos acessos à justiça, atender à população em vulnerabilidade econômica e social, proporcionar estágio curricular aos acadêmicos de Serviço Social, bem como buscar a integração entre universidade e comunidade e construir um espaço interdisciplinar entre o curso de Direito e o de Serviço Social, inseriu-se no EMA o Serviço Social.

Precisamente em 23 de agosto de 2007, a partir de contatos previamente realizados com a coordenadora de Serviço Social, a professora Dr.a Regina Panceri, realizou-se a parceria entre o curso de Direito e o de Serviço Social da Unisul, para a efetivação do

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campo de estágio para os acadêmicos de Serviço Social no Escritório Modelo de Advocacia (MERIGO, 2007, p. 1).

O objetivo geral do trabalho, destaca Merigo (2007), é de prestar atendimento na área de Serviço Social aos usuários do Escritório Modelo de Advocacia da Unisul, no município de Palhoça e de Florianópolis/SC, e integrar as áreas profissionais de Direito e Serviço Social. Considera-se que o Serviço Social intervém na realidade social por meio de uma abordagem educativa que vai além dos limites assistencialistas e paliativos das situações apresentadas, buscando garantir sempre os direitos de dignidade e equidade social do cidadão.

Para que seja discutida a inserção do profissional do Serviço Social no Poder Judiciário, ou melhor, no âmbito sociojurídico, é essencial que seja retomado, mesmo que brevemente, um pouco do histórico dessa profissão no Brasil.

O Serviço Social surge como profissão no Brasil na década de 1930. Aparece por meio de uma grande turbulência na estrutura política, econômica e social do país, que está sendo afetado em decorrência do avanço e do fortalecimento do capitalismo. De acordo com Fávero et al. (2005), a profissão emerge nesse cenário com a finalidade de intervir nas sequelas da questão social, tal como se apresentavam naquele contexto histórico. Surge pela iniciativa de movimentos leigos da classe dominante, com vínculos da Igreja Católica, sendo baseada no modelo europeu.

O Serviço Social desenvolveu-se, segundo a autora, em bases conservadoras, como um tipo de especialização do trabalho coletivo, tendo como finalidade atender às necessidades sociais derivadas da prática das relações sociais. Portanto, a primeira instituição destinada à formação de profissionais voltados para a prática social surge em São Paulo, denominada Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), sendo no ano de 1936 transformada na primeira Escola de Serviço Social.

Para Iamamoto (apud FÁVERO et al., 2005), o Serviço Social brasileiro, desde seu surgimento, vem se renovando criticamente, o que faz com que essa profissão afirme o compromisso profissional com os interesses dos usuários e com a qualidade dos serviços prestados, pensando e realizando o trabalho profissional de uma nova forma. Essas mudanças entram em contraposição com a herança conservadora. A profissão apresenta uma fase renovada, voltada à defesa dos direitos de cidadania e dos valores democráticos, na perspectiva da liberdade, da equidade e da justiça social.

Os Assistentes Sociais passam a demonstrar um compromisso efetivo com os interesses públicos, atuando na defesa e na viabilização dos direitos sociais junto aos segmentos majoritários da população. O Serviço Social encontra como base de fundação a

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questão social, que, segundo Iamamoto (1998, p. 27), “é apreendida como um conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista”.

De acordo com a referida autora, o Serviço Social é regulamentado como uma profissão liberal que dispõe de estatutos legais e éticos, os quais atribuem uma autonomia teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa à condução do exercício profissional. Além disso, a atuação desse profissional realiza-se mediante um contrato com organismos empregadores, públicos ou privados, em que o Assistente Social figura como trabalhador assalariado, subordinado hierarquicamente aos seus superiores.

No entanto, acredita-se que realmente exista essa relação de hierarquia e relativa autonomia. Iamamoto (1998) relaciona o trabalho do Assistente Social com o dos agentes internos: a) o do Assistente Social corresponde às suas habilidades e competências; e b) o dos agentes externos correspondem às relações de poder institucional, recursos, políticas sociais, entre outras. Porém, é necessário ter clareza de que, se o profissional se posicionar diante dos agentes externos, ele conseguirá ter maior autonomia e conquistar mais espaço. Segundo o Código de Ética, o Assistente Social tem direito de “dispor de condições de trabalho condignas, seja em entidade pública ou privada de forma a garantir a qualidade do exercício profissional” (art. 7o, alínea a).

Em relação ao Serviço Social no Poder Judiciário, pode-se afirmar que teve sua inserção na década de 1940. De acordo com Fávero et al. (2005), os Assistentes Sociais iniciam suas atividades, nesse período, em instituições públicas, a exemplo do Juizado de Menores em São Paulo, inicialmente como voluntários. Ressalta-se que foi somente com a promulgação do ECA que o termo “menor” foi substituído por “criança e adolescente”. Dessa forma, no presente trabalho o termo “menor” será utilizado apenas no histórico anterior à Lei.

A partir da inserção inicial do Serviço Social no Poder Judiciário é que se verificou a intervenção também do Serviço Social no âmbito sociojurídico, que são os espaços de atendimento social e jurídico, além do Poder Judiciário, ou seja, escritórios modelos de advocacia, penitenciária, programas de atendimento das medidas socioeducativas, abrigos, entre outros.

O Escritório Modelo de Advocacia da Unisul é um desses espaços de atuação do Serviço Social. A população atendida pelo EMA é constituída por famílias em vulnerabilidade econômica e social, como destaca Borges (apud FÁVERO et al., 2005). As questões jurídicas e sociais influenciam as relações familiares, seja em nível de separação conjugal, de relacionamento entre pais e filhos nos processos de separação, adoção, investigação de

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paternidade, por exemplo, entre inúmeras situações conflituosas decorrentes da própria organização familiar.

Merigo (2007) descreve o EMA como um espaço onde é possível articular ensino, pesquisa e extensão por meio do trabalho interdisciplinar com as áreas do Serviço Social e do Direito.

As questões que se apresentam, tais como divórcio, adoção, inventário, guarda e responsabilidade, execução de alimentos, reconhecimento de paternidade, entre outras, são atendidas no EMA. Não são atendidas causas com previsão de retorno financeiro, como indenizações, causas trabalhistas, previdenciárias, contra o Governo nas esferas municipal, estadual e federal, causas criminais e agressão física. Para se beneficiar dos serviços é preciso ter renda mensal de até três salários mínimos.

O trabalho do Serviço Social é desenvolvido no espaço físico do EMA, vinculado à Unisul. O EMA possui duas unidades, uma no Centro de Florianópolis e outra em Palhoça, como já citado anteriormente. Na Unidade da Trajano, o trabalho teve início com duas estagiárias, hoje é desenvolvido nas terças e quintas-feiras à tarde. Já na Unidade da Ponte do Imaruí, o trabalho é desenvolvido em diversos dias e horários, considerando a disponibilidade do turno da noite e do número de estagiários. A cada semestre os horários são definidos em conjunto com os acadêmicos.

De 2007 a 2008, o trabalho foi coordenado pela Assistente Social e docente Janice Merigo. A carga horária disponível, para coordenação e trabalho junto ao EMA, é de oito horas, sendo quatro na Unidade da Trajano e quatro na Unidade da Ponte do Imaruí.

Como consta da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, art. 5º: “O Estado prestará assistência jurídica e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Baseado no enunciado acima, a Lei n. 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, que disciplinou a concessão da assistência judiciária aos necessitados, traz, também, a definição de “pessoa necessitada” como aquela cuja situação econômica não permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.

No art. 18 da referida Lei, é possível fundamentar a gratuidade dos serviços jurídicos oferecidos pelas faculdades de Direito, ou seja, os escritórios modelo de advocacia, os núcleos de práticas jurídicas e afins, existentes nas faculdades, são extensões que se baseiam nesse artigo: “Os acadêmicos de Direito, a partir da 4º série poderão ser indicados pela assistência judiciária ou nomeados pelo juiz para auxiliar o patrocínio das causas dos necessitados, ficando as mesmas obrigações impostas pela Lei 1.060 aos advogados”.

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Para que o usuário tenha acesso à assistência jurídica e gratuita, é necessário passar por um processo de seletividade, aqui identificado como triagem, no qual será realizado o seu estudo socioeconômico.

Sabe-se que o Direito denomina seu público de “cliente”, no entanto, para o Serviço Social, é “usuário”. Segundo Quadrado (2008), ainda há equívoco em relação à denominação do público-alvo do Serviço Social, chamando-o de paciente ou cliente, que são terminologias, respectivamente, da área da saúde e da área empresarial.

O público/pessoa/sujeito/indivíduo é denominado de usuário, pois é usuário de serviços, e não cliente ou paciente de serviços. Não há contrapartida na prestação de serviços entre o profissional e o usuário (QUADRADO, 2008).

Com a inserção do Serviço Social no EMA, os estudos socioeconômicos passaram a ser realizados pelas estagiárias do Serviço Social, com a supervisão direta do Assistente Social. Para tanto, é utilizado um formulário socioeconômico no qual constam: a) o motivo de procura pelo serviço; b) os dados de identificação do usuário; c) a composição familiar; d) as condições de moradia; e e) ao final um breve histórico pertinente à realidade do usuário. Esse formulário é inicialmente preenchido pelas estagiárias de Serviço Social e utilizado pelos estagiários de Direito no dia do atendimento, quando é verificado se o cliente/usuário preencheu os requisitos básicos da instituição, que são: a) renda mensal de até três salários mínimos; b) ser residente do município de Palhoça; e c) estar munido de documentação necessária (carteira de identidade, CPF, comprovante de renda e de residência).

Além desse formulário geral, que trata das situações que requerem procedimentos jurídicos, tais como pensão alimentícia, separações, investigação de paternidade, divórcio, entre outros, existe o prontuário específico do Serviço Social, que é preenchido quando identificadas demandas para o Serviço Social, como crianças fora da escola, violência familiar, dependência química, entre outras expressões da questão social.

A partir do estudo socioeconômico é que são identificadas as demandas sociais. Dessa forma, havendo necessidade, os usuários são encaminhados para a rede de serviços. Os encaminhamentos realizados com maior frequência são pertinentes à área de educação, saúde e assistência social. É importante ressaltar que o estudo socioeconômico é de competência regulamentada ao Serviço Social, porém não é atribuição privativa dessa categoria profissional.

Segundo Chuairi (2001), o atendimento do Serviço Social é realizado por meio das atividades de plantão/triagem, orientação social, encaminhamentos a recursos

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comunitários diversos e outros procedimentos técnicos, visando atender às demandas e necessidades da população subalterna, que busca e utiliza esses serviços.

Devemos lembrar que o trabalho do Assistente Social deve ser sempre pautado em seu Código de Ética – Lei n. 8.662/93 –, preservando o compromisso da qualidade dos serviços prestados aos indivíduos que recorrem a esses profissionais.

Dessa forma, encontramos em Chuairi (2001) o respaldo de que os trabalhos técnicos realizados devem ser baseados em premissas éticas, considerando a complexidade da vida desses indivíduos, respeitando-os como sujeitos de direitos, não os reduzindo a uma mera medida jurídica, colaborando, com isso, para o reencontro de sua dignidade e de sua cidadania.

Afinal, falar em sujeito de direitos é pensar num sujeito social que se apropria e ressignifica seus direitos. O Serviço Social tem essa particularidade das expressões da questão social, visando contribuir para um melhor atendimento e ao indivíduo como um ser biopsicossocial.

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3 A HISTÓRIA DA INFÂNCIA E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO UM MARCO DE GARANTIA DOS DIREITOS

Neste capítulo retrata-se a configuração histórica da infância e juventude brasileiras, seus avanços, limites e conquistas. O código de menores veio alterar e substituir concepções obsoletas, como as de discernimento, culpabilidade, penalidade, responsabilidade, pátrio poder, passando a assumir a assistência ao menor de idade, sob a perspectiva educacional.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma das conquistas em favor das crianças e dos adolescentes expressas na Constituição Federal, veio promover um importante avanço na Legislação brasileira e conceber a criança e o adolescente como sujeitos de direitos exigíveis com base na Lei.

3.1 HISTÓRIA DO ATENDIMENTO SOCIAL DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA BRASILEIRAS

No transcurso dos séculos, as considerações acerca da infância sofreram substanciais modificações. Entretanto, essa mesma infância se reveste de alguns significados que permanecem imutáveis através dos tempos. Um desses significados diz respeito à continuidade física. Ao sobreviver a seus pais, a criança assegura a sobrevivência biológica da raça humana. Outro significado importante da criança é o seu valor econômico como propriedade e como bem produtivo. A prova dessa assertiva reside na existência de numerosos códigos de propriedade legal e de herança que se referem às crianças, refletindo, de certa forma, a preocupação de diferentes sociedades com a inversão representada pelos cuidados e pela educação de uma criança (AZEVEDO; GUERRA, 1985).

Durante os quatro primeiros séculos de nossa evolução histórica, a questão da infância e adolescência brasileiras foi assumida pela igreja por meio das confrarias, irmandades e casas de misericórdias, que cuidavam de órfãos e abandonados, pois nesse período não existiam instituições que atendessem à chamada, na época, “infância desvalida”.

Segundo o caderno do Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência (CBIA), intitulado “Trabalhando Abrigos” (1993, p. 13), o Estado brasileiro assumiu muito

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tardiamente o atendimento nessa área e o fez inicialmente para cuidar dos chamados delinquentes, criando, assim, reformatórios ou institutos correcionais, como eram chamados. Tais instituições visavam corrigir, disciplinar e reformar um contingente de adolescentes que não se enquadravam nos padrões de conduta da época. O Estado deixava, dessa forma, para as entidades filantrópicas o encargo de cuidar e assistir os carentes e abandonados.

Em 1902, a reformulação das leis que regiam o serviço de Polícia do Distrito Federal passou a obrigar o recolhimento às colônias correcionais, além de infratores, de viciados e vagabundos, os de menores abandonados por orfandade, enfermidade ou negligência dos pais (WEBER, 2004).

De acordo com os mesmos autores, foi a partir da década de 1920 que a questão da proteção à infância no Brasil passou ao domínio do Estado; tornou-se dever do Estado proporcionar condições de vida digna às crianças do país.

Em 1921, uma modificação do Código Civil foi realizada por meio da promulgação da Lei n. 4.242, que já tratava de maneira legal a questão da criança abandonada, inclusive na tentativa de definir quem era essa criança e em que circunstância poderia haver suspensão ou perda do pátrio poder dos pais ou a destituição da tutela (WEBER apud RUSSO, 1999).

De acordo com Veronese (1997), a Lei n. 4.242, que tratou do orçamento da Despesa Geral da República, trazia disposições que seriam típicas de um código de menores, como a definição de abandono, a suspensão ou mesmo a perda do pátrio poder, e determinava, para esses casos, processos especiais.

Em 1927, foi aprovado o primeiro código de menores do Brasil – Decreto n. 17.943-a, de outubro de 1927 –, criado pelo então primeiro juiz de menores da América Latina, José Cândido Albuquerque de Mello Mattos. Esse foi também o primeiro código de menores da América Latina.

Segundo Costa (apud VERONESE, 1997), Mello Mattos entendia que a assistência, prestada simplesmente sob o aspecto judicial, não teria nenhum efeito real se não fossem criados novos institutos de amparo à criança e ampliados os já existentes. Ele acreditava que, com a criação de novas e mais modernas instituições, sobretudo se fossem adotados os modelos europeus, o problema da criança abandonada e da delinquência resolver-se-ia em curto prazo.

Veronese (1997) entendeu que o Código de Menores institucionalizou o dever do Estado em assistir os menores, que, diante do estado de carência de suas famílias, tornavam-se dependentes da ajuda ou mesmo da proteção pública para terem condições de se

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desenvolverem ou, no mínimo, subsistirem, no caso de viverem em situações de pauperização absoluta.

Disse o autor: “A tônica predominante desta legislação menorista era corretiva, isto é, fazia-se necessário educar, disciplinar, física, moral e civilmente as crianças oriundas de famílias desajustadas ou da orfandade” (1996, p. 31).

A partir da década seguinte, criaram-se grandes internatos, cuja ação era considerada benéfica tanto para a sociedade quanto para o “menor”,1 uma vez que ele, depois da passagem pela instituição, retornaria ao convívio social devidamente “recuperado e adaptado”.

A matriz do trabalho desses internatos era baseada numa dupla perspectiva: proteger os menores de um mundo hostil e proteger a sociedade da convivência com esses menores.

Depois de muitas críticas a esse modelo, criado com o respaldo do Código de Menores, originou-se em 1964 outro tipo de organização para atendimento às crianças e aos adolescentes, denominada Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), que, de acordo com o caderno do CBIA, “Trabalhando Abrigos” (1993, p. 13), tinha por objetivo principal uma política nacional de atendimento a crianças e adolescentes desajustados, como também uma coordenação central e uma fiscalização sobre as entidades executoras do trabalho com o “menor”.2

Os primeiros anos da FUNABEM resultaram na expansão das estruturas burocráticas para a implementação do sistema nos estados, repelindo qualquer iniciativa mais ousada ou de diferente solução. Mesmo com os novos princípios e discursos, a internação continuou sendo a medida mais empregada para enfrentar o então chamado “problema do menor”.

O termo “internato” era utilizado para todas as instituições de acolhimento provisório ou permanente e tinha uma conotação de isolamento e fechamento. Os internatos eram descritos como “prisões”, em que a infância, como fase fundamental de experimentação, prazer e descobertas, não aconteceria jamais. Em síntese, as crianças e os adolescentes, internos em sua identidade, não tinham clara noção de propriedade e autoridade, e sua sociabilidade estava prejudicada.

1 Aqui a expressão “menor” ainda é empregada para se referir a crianças e adolescentes. Essa expressão foi extinta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

2 Novamente aqui a expressão “menor” é empregada para se referir a crianças e adolescentes. Essa expressão foi extinta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

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A FUNABEM assumiu na prática uma postura setorial e comprometida com a situação vigente, mas suas propostas foram paliativas. Ao fechar os olhos para a realidade nacional, não considerou as verdadeiras necessidades da infância e juventude brasileiras, inserindo-as num só contexto, de carências que atingiam não somente a si, mas a toda a família e classe de origem (VERONESE, 1997).

Foi a partir do final dos anos 1970, entretanto, que a situação da infância e adolescência pobres, a chamada “questão do menor” ou do “menino de rua”, já se havia tornado um problema social grave e complexo. As crianças e os adolescentes sofreram duramente o impacto do processo de modernização, com elevadas taxas de mortalidade infantil, queda da expectativa de vida, ingresso prematuro no mercado de trabalho, evasão escolar e presença crescente de meninos e meninas perambulando ou trabalhando pelas ruas.

Naquele período, existiam basicamente dois enfoques e práticas de trabalho: um deles tendo o Estado como o seu principal executor, assistencialista, repressivo e centrado na institucionalização, que retirava crianças e adolescentes do meio em que viviam para colocá-los em instituições fechadas; e o outro enfoque, adotado por grupos e entidades comunitárias, que criava condições para que meninos e meninas se formassem no próprio contexto em que estavam inseridos.

Embora forças conservadoras se esforçassem para manter estruturas que sustentavam o modelo de instituição fechada do tipo assistencial e repressiva, movimentos de mudança (de agentes sociais, comunidade e movimentos sociais) passaram a exigir modificações desse sistema de atendimento.

Já a década de 1980 chegou trazendo consigo algumas modificações. Mesmo sendo considerada a “década perdida” em termos de desenvolvimento econômico, por meio de mobilizações populares, como o movimento “Diretas Já”, o país elegeu um presidente civil e elaborou uma nova carta constitucional, com ampla participação democrática dos mais diversos setores da sociedade.

No que diz respeito à situação da infância e adolescência, iniciou-se um período de maior criatividade e reflexão. As crianças e os adolescentes marginalizados passaram a ser vistos dentro de um contexto de discriminação, exclusão e exploração a que foram submetidos. A doutrina da situação irregular que rotulava de “menores” começou a ser censurada, e passou-se a pensar em novas alternativas.

Podemos dizer que a década de 1980 fermentou e consolidou um novo olhar sobre a criança e o adolescente, olhar esse exigente na alteração do status quo. É nessa década que os movimentos sociais pela criança se tornam instituintes. No bojo deles, muitas das entidades

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não governamentais prestadoras de atendimento se articulam e se somam ao processo instituinte (COSTA; SEDA, 1990).

Foi implantado em 1982 o Projeto Alternativas de Atendimento a Meninos de Rua, com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Secretaria da Ação Social (SAS) do Ministério da Previdência e Assistência Social e da Fundação Nacional do Bem-estar do Menor (FUNABEM). Nasceram nessa época os primeiros grupos locais de reivindicação dos direitos da criança e do adolescente com o propósito de integrar pessoas e recursos sociais do município e da região para enfrentarem os desafios da questão dos meninos e das meninas de rua.

Em junho de 1985, realizou-se, em Brasília, o Encontro Nacional de Grupos Locais, que se tornou uma verdadeira assembleia de constituição do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) naquela oportunidade, batizado de Movimento Nacional de Alternativas Comunitárias de Atendimento a Meninos de Rua. Nascia então o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua,3 que promoveu o I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, em 1986, em Brasília. Participaram desse encontro crianças e adolescentes de todo o país, mas foi somente no mês de agosto do mesmo ano, ainda em Brasília, quando aconteceu a II Assembleia Nacional do Movimento e que o movimento foi oficialmente constituído, sendo então denominado Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Esse movimento, por sua vez, estabeleceu-se como uma organização de luta pelos direitos de crianças e adolescentes, prioritariamente dos meninos e das meninas de rua.

A partir do segundo semestre do mesmo ano, em alguns estados, grupos de MNMMR começaram a participar da comissão “Criança constituinte”, que nasceu naquela época como uma comissão interministerial, depois passou a ser composta de organizações da sociedade civil e a criar comissões regionais nas cinco regiões do país, as quais desenvolveram atividades de educação social e formação de educadores.

O MNMMR participou do processo constituinte federal, com propostas elaboradas por suas comissões e apoiando propostas patrocinadas por outras organizações. Em 1988, participou também da criação do Fórum Nacional Permanente de Entidades Não Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (DCA), ao promover o encontro das diversas organizações de defesa dos direitos da criança realizado em Brasília. Esse encontro foi a virtual assembleia de criação de Fórum DCA; por meio dele, participou de

3 O material sobre a história deste movimento foi fornecido pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA).

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forma mais sistemática do processo de elaboração da Constituição Federal e da elaboração do anteprojeto do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Cabe ressaltar que, com a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, tivemos uma grande vitória. Ela enfocou, em seu art. 227, a substância básica da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, destacando que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

No ano em que precedeu a aprovação do ECA, o movimento participou ativamente dos processos constituintes estaduais, lutando pela inclusão dos direitos das crianças dos adolescentes nas constituições dos estados.

Em 1989, com o lema “Vamos garantir Nossos Direitos: Criança Prioridade Nacional”, aconteceu o II Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Dele participaram cerca de 700 crianças e adolescentes de todo o país e de outras 11 nações latino-americanas. O evento foi marcado por dois acontecimentos bastante significativos: o lançamento do dossiê “Crianças e adolescentes: vidas silenciadas”, um levantamento sobre mortes violentas no Brasil; e a votação simbólica do anteprojeto do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Foi em 1990 que finalmente o Senado aprovou, no dia 25 de maio, e a Câmara dos Deputados, em 28 de junho, a Lei n. 9.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. Foi homologado pelo Senado no dia 29 de junho e sancionado pelo Presidente da República no dia 13 de junho, entrando em vigor no dia 14 de outubro do mesmo ano. Implantou-se, assim, uma política específica de direito da criança e do adolescente que regulamenta o art. 227 da Constituição Federal brasileira, mencionado anteriormente. Implantou-se uma legislação em defesa dos direitos da infância e da juventude brasileiras.

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3.2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO UMA NOVA VISÃO POLÍTICA

Como já mencionado anteriormente, o Estatuto da Criança e do Adolescente é fruto de muitos movimentos sociais em prol da infância e adolescência brasileiras. A nova interpretação dada ao universo infanto-juvenil veio acompanhada de várias modificações nos conceitos de família, educação, socialização, trabalho educativo, menor infrator, saúde, entre outros. Da mesma forma, ocorreram modificações na percepção do que seriam os deveres e os direitos das crianças, dos seus responsáveis, do Poder Público e da sociedade em geral.

Na verdade, o ECA substituiu o antigo Código de Menores, que regulamentava os assuntos ligados à infância e adolescência, introduzindo, dessa forma, mudanças profundas e amplas nas políticas dirigidas à infância e adolescência brasileiras, gerando, inclusive, um reordenamento institucional. A diferença entre eles é que, enquanto o velho Código era um apanhado de leis mais punitivas do que educativas que limitavam os direitos dos chamados “menores”, o Estatuto trata a criança e o adolescente como pessoas que, em fase de formação e desenvolvimento, têm suas peculiaridades; por isso, com suas leis criam-se condições e oportunidades para que eles possam se desenvolver como cidadãos.

São algumas inovações do ECA a abolição das categorias ideológicas “menor” e “situação de risco”; a apresentação das crianças e dos adolescentes como pessoas em desenvolvimento físico, moral cognitivo e cultural; a priorização obrigatória da questão em todos os níveis da sociedade e do Estado; e a proteção à vida e à saúde da criança e do adolescente.

De acordo com Costa e Seda (1990, p. 9):

[...] a nova lei rompeu de modo visceral com os métodos e processos de elaboração legislativa que vigoraram há séculos em nosso país. Segundo o autor, não é nenhum exagero dizer que, literalmente, trata-se de uma lei pensada por milhões de cabeças e escrita por milhares de mãos.

Com a aprovação do ECA, foram reafirmados os direitos de cidadania das crianças e dos adolescentes, ou seja, o direito de estarem na escola, de morarem, de se alimentarem, de se divertirem e de participarem da vida social da localidade onde residissem. Esses direitos geram demandas e necessidades que precisam ser atendidas tanto pelo Poder Público quanto pela sociedade, e estão relacionados ao direito à vida e à saúde; à liberdade, ao

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respeito e à dignidade; à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer; e à profissionalização e à proteção do trabalho.

O ECA trouxe, ainda, três novidades, bem como três avanços fundamentais para as crianças e os adolescentes, quando os considera como sujeitos de direitos, pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e prioridade absoluta.

As crianças e os adolescentes no Brasil tornaram-se sujeitos de direitos, equiparando-se aos adultos, conquistando o mesmo status de qualquer pessoa no que diz respeito a terem assegurado o exercício dos seus direitos fundamentais constitucionalmente consagrados. Outra mudança importante está relacionada ao tratamento dado como pessoa, em condição peculiar de desenvolvimento. Dessa forma, entende-se a criança como ser em formação, seja biológica, sociocultural ou psicológica. E por último, há a prioridade absoluta que delimitou o conceito de precedência da criança no que diz respeito à proteção e ao socorro, em quaisquer circunstâncias tem prioridade no atendimento pelos órgãos públicos. A criança, ainda, situa-se em posição privilegiada quanto à destinação de recursos públicos e como alvo primeiro da formulação de políticas públicas (BARREIRA, 2006).

Para Costa e Seda (1990, p. 8):

De fato a concepção sustentadora do Estatuto é a chamada Doutrina de Proteção Integral defendida pela ONU com base na declaração Universal dos Direitos da Criança. Esta doutrina afirma o valor intrínseco da criança como ser humano; a necessidade de especial respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento; o valor prospecto da infância e da juventude, como portadoras da continuidade do seu povo e da sua espécie e o reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes merecedores de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado, o qual deverá atuar através de políticas específicas para promoção e defesa de seus direitos.

De maneira geral, a sociedade passou a ser corresponsável pelo desenvolvimento pleno das crianças e dos adolescentes. Como prevê o Estatuto, sua participação deve se dar em larga escala, desde o planejamento das ações que visam ao bem-estar infantil, até a implementação dessas ações e sua fiscalização. A efetivação do planejamento deve ocorrer principalmente por meio da criação dos Conselhos Municipais de Direito e dos Conselhos Tutelares, como está previsto no ECA, em seus art.os 88 e 131.

Aos Conselhos são determinadas algumas responsabilidades, tais como o dever de zelar, em nível municipal, pelo cumprimento de todos os direitos da criança e do adolescente, principalmente quando esses direitos estiverem sendo ameaçados e violados.

Aos Conselhos de Direitos compete deliberar as ações e as políticas municipais

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partidária (a metade do total dos conselheiros pertence a entidades não governamentais). Assim, fica assegurada a participação popular, por intermédio de organizações representativas atuando em três frentes: político-administrativa, socioadministrativa e jurídica. Tais Conselhos, por sua natureza, são órgãos normativo, deliberativo e controlador da política de promoção, atendimento e defesa dos direitos da criança e do adolescente. O Conselho deverá ser criado por lei em cada esfera do governo.

Os Conselhos Tutelares são considerados órgãos permanentes e autônomos, não

jurisdicionais, encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente e fiscalizar as entidades de atendimento. Seus membros serão eleitos pelos cidadãos locais, para mandato de três anos. Suas atribuições são, portanto, eminentemente sociais. Suas decisões poderão ser revistas pela autoridade judiciária, a pedido de quem tenha legítimo interesse nisso (COSTA; SEDA, 1990).

A Lei também estabelece que em cada município deva haver no mínimo um Conselho Tutelar, o qual será composto de cinco membros, permitindo sua recondução. No art. 136 do ECA, estão previstas as atribuições do Conselho Tutelar:

I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

II – atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;

III – promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações.

IV – encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;

V – encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI – providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;

VII – expedir notificações;

VIII – requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário;

IX – assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X – representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;

XI – representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda ou suspensão do pátrio poder.

No que se refere ao Poder Público, temos, na Constituição brasileira de 1988, o art. 204, que define a descentralização político-administrativa como uma das diretrizes para a realização das ações governamentais na área da assistência social:

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Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:

I – descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social;

II – participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis.

O ECA também faz referência a esse primeiro princípio como norteador das políticas que preconiza. De acordo com o ECA, portanto, o município tem uma posição de destaque na condução de suas ações, por meio de seus dirigentes, entidades, órgãos e habitantes.

O município é reconhecidamente a instância mais visível e próxima da população, lugar onde as relações políticas se dão com maior intensidade. Além de ter suas funções regidas pelo interesse público, a proximidade da comunidade lhe confere maior capacidade de captar e processar seus anseios e traduzi-los como objetivos expressos em ações efetivas e coerentes.

Cabe salientarmos que, com relação à função da família, no que diz respeito ao direito da criança e do adolescente, ela se concentra claramente expressa na Lei. O Estatuto da Criança e do Adolescente reafirma o direito à convivência familiar e comunitária, como já relatamos no art. 227 da Constituição Federal. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos e, para isso, precisam ter acesso, junto com a comunidade, à formulação das políticas básicas. Vale lembrar que está previsto no Estatuto que a pobreza não lhes retira os direitos nem os deveres, pelo contrário, as famílias têm direito à proteção, quando necessitarem.4

De acordo com Silva (2004), a família é a principal responsável pelo bem-estar físico e emocional das crianças e dos adolescentes, necessitando de infraestrutura econômica e social para cobrir demandas. É preciso, portanto, desenvolver ações que visem à melhoria das condições de vida da família para que ela possa arcar com suas responsabilidades, garantindo moradia, alimentação, educação, saúde e lazer para suas crianças e seus adolescentes.

O ECA, em seu art. 19, faz referência à situação econômica da convivência familiar:

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

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Nesse sentido, também foram alteradas as práticas de atuação destinadas aos adolescentes em situação de risco pessoal e social. Ao procurar solução para esses casos no seio da própria família, responsabilizando-a por eles, foge-se da solução fácil dos internatos, buscando outra forma de apoio, como a família substituta. A internação continua prevista, entretanto, depende de decisão judicial e é destinada apenas aos jovens que cometeram atos infracionais muito graves (SILVA, 2004).

O Estatuto da Criança e do Adolescente traz, ainda, considerações sobre a definição de família natural e família substituta. Família natural é a comunidade formada pelos pais ou por qualquer um deles e seus descendentes. Como se pode notar, não mais se distingue a família em razão da “oficialização” do casamento. Já sobre a família substituta, o ECA faz referência no que diz respeito à integração da criança nela, o que se dará mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou do adolescente (ECA, art. 28).

O ECA trata de algumas situações específicas, ou seja, dá um passo adiante ao prever as situações de proteção especial e de garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, atendidos pela oferta de serviços especiais. São elas:

9 proteção especial: acontece por meio de ação social especializada, dirigida às pessoas e aos grupos que se encontram em circunstância especialmente difíceis, ou seja, em condições de vulnerabilidade tal que as coloquem em situação de risco social e pessoal; e

9 garantia dos direitos: mecanismos sociais e jurídicos asseguram o cumprimento dos direitos humanos fundamentais e também as conquistas em favor dos mais jovens.

Ainda segundo o ECA, dentro dessa filosofia, estão estabelecidas diretrizes básicas da política de atendimento de direitos da criança e do adolescente e as linhas de ação correspondentes, dispostas abaixo.

Diretrizes básicas da política de atendimento: municipalização do atendimento;

criação dos conselhos (municipais, estaduais e nacional); criação e manutenção de programas específicos, obedecendo ao princípio da descentralização político-administrativa; manutenção dos fundos (municipais, estaduais e nacional) vinculados aos respectivos conselhos; integração operacional dos órgãos envolvidos no atendimento de adolescentes, a quem se atribui autoria de infração; funcionamento de preferência em um mesmo local; e mobilização

Referências

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