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Envelhecendo em um país mais velho

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Academic year: 2021

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Envelhecendo em um país mais velho

Maria Amélia Ximenes

nvelhecendo em um país mais velho é o título do mais recente documento requisitado e financiado pela Diretoria do Banco Mundial para o Brasil, com o propósito de aprofundar o conhecimento sobre questões estratégicas na formação de seu capital humano, tais como o envelhecimento populacional, o desenvolvimento infantil, a qualidade da educação e de emprego.

O envelhecimento populacional é tema de muitos discursos, poucos debates e ações no Brasil, pois, ao mesmo tempo em que preocupa (ainda é sustentado pela cultura de velhice inútil), é foco central de mudança, em um momento ímpar em que o país vive um processo de desenvolvimento que atinge índices sociais e demográficos de primeiro mundo.

Esse relatório busca justamente diminuir essa lacuna e incentivar o debate sobre o envelhecimento populacional e as opções de políticas públicas neste campo relativamente novo para o Brasil.

O relatório chama atenção para o fato de que o Brasil passa por um curto período - o chamado “bônus demográfico” - único na história de cada nação, quando a força de trabalho é muito maior do que a população dependente. Porém, este é um ponto de inflexão que no Brasil deve durar apenas até 2020, mas cujos impactos durarão indefinidamente.

(2)

Segundo o Diretor para o Brasil, Makhtar Diop, o momento é de se fazer escolhas adequadas no âmbito da educação, saúde e previdência, pois elas determinarão a capacidade do País para investir adequadamente nos seus jovens, dar uma vida digna e longa aos seus idosos, e continuar crescendo, oferecendo serviços de qualidade cada vez maior à população, e competindo internacionalmente – em suma, assumindo cada vez mais a condição de país desenvolvido.

Para tal realidade, tendo em mente o envelhecimento populacional, nos chama a atenção os números da Previdência Social que, através de seu Anuário Estatístico (AEPS)1, informa que 94,8% dos idosos com mais de 65 anos são seus beneficiários, ou seja, dos 14,1 milhões de pessoas nesta faixa etária, 13,4 milhões são beneficiárias do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Considerando os idosos com mais de 60 anos, a proteção social atinge 83,6% das 20,6 milhões de pessoas com idade superior ou igual a 60, sendo que essa cobertura atinge 84,2% das mulheres e 81,9% dos homens. Isso torna o Brasil2, entre os países da América Latina, um daqueles que tem maior nível de proteção social de seus idosos.

Com certeza isso só não basta para que uma população envelhecida ou envelhescente viva com qualidade e dignidade. O relatório do Banco Mundial explica que o Brasil, em um contexto demográfico jovem, favoreceu as transferências públicas para os idosos em relação às crianças. Isso foi eficaz para reduzir a pobreza e a desigualdade, porém levou a gastos semelhantes aos de países da OCDE3, embora a estrutura etária do Brasil ainda seja relativamente jovem. O resultado dessa ação foi um baixo investimento para os mais jovens e benefícios médios muito maiores para os idosos (66,5% da média salarial no Brasil vs. 30,4% da média salarial na OCDE).

Assim, ao ingressar num contexto demográfico cada vez mais maduro, o panorama, segundo o documento, será de um País forçado a tomar decisões difíceis, com consequências para a pobreza entre grupos vulneráveis e para a perspectiva de crescimento.

1

Documento baseado em dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística)

2 Segundo o diretor do departamento do Regime Geral de Previdência Social, Rogério Nagamine. Fonte Governo Federal.

3 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional e intergovernamental que agrupa os países mais industrializados da economia do mercado. Tem sua sede em Paris, França. Na OCDE, os representantes dos países membros se reúnem para trocar informações e definir políticas com o objetivo de maximizar o crescimento econômico e o desenvolvimento dos países membros.

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No entanto, a sugestão dada para que isso possa se reverter seria aproveitar a oportunidade atual vivida pelo País, para se preparar para as mudanças estruturais que irá encontrar nas próximas décadas. Coloca como exemplo, o mercado de trabalho criando oportunidades suficientes para a população em idade ativa no curto prazo, como também estimular a participação das mulheres na economia, para sustentar o crescimento da produtividade. Além disso, estabelecer políticas para financiar os gastos fiscais induzidos pelo aumento da idade da população, e estimular o crescimento da poupança e do desenvolvimento. Acreditam que, dessa forma, o envelhecimento populacional pode levar a um grande acúmulo de capital e aumentos de renda, riqueza e bem-estar ao longo da vida.

Ao que tudo indica, o Brasil está engatinhando no que se refere à criação de oportunidades para a população em idade ativa no curto prazo. Porém, a grande surpresa é a participação dos idosos dentro dessa população ativa. Pesquisas mostraram que os mais jovens e os mais idosos foram os profissionais mais procurados para trabalhar no ano de 2010, conforme a Rais – Relação Anual de Informações Sociais.

No caso dos jovens4, a expansão do nível de emprego foi de 19,06% em 2010

em relação aos estoques do trabalho remunerado verificados em 2009. O percentual é mais do que o dobro do crescimento médio do período, de 6,94%. De forma semelhante, os assalariados com mais de 65 anos e de 50 a 64 anos apresentaram um aumento de 12,77% e 10, 28%, respectivamente no período em relação aos estoques de 20095.

Segundo dados levantados pelo Pnad6 do IBGE (2010) a quantidade de maiores de 60 anos com carteira assinada no Brasil é de 1,2 milhão de pessoas. Buscar emprego após aposentaria tem sido cada vez mais frequente para os idosos. Isso tem acontecido em decorrência da perda do poder de compra, provocado pela diferença entre o reajuste do salário mínimo e o dos benefícios acima do piso, esclarecem os economistas.

Porém, a inclusão dos idosos no meio da população em idade ativa se deve ao bom momento da economia brasileira, com significativa oferta de emprego somado a valorização pelas empresas da experiência profissional. Conhecimento é um bem que jamais se torna obsoleto. A própria evolução do mercado saberá aproveitar os mais longevos, diz a mídia. Outro motivo de contratação é de ordem moral e social, pois não são poucos os lares chefiados por pessoas idosas7.

O documento do Banco Mundial para o Brasil sugere que um dos fatos a considerar, em um país envelhescente, são programas de treinamento específicos eficazes para suavizar ou anular o declínio associado à idade na

4

O Programa Jovem Aprendiz do Governo Federal estabelece facilidades para as empresas

contratarem adolescentes.

5 Informação retirada do JORNAL DE BRASÍLIA/DF de 12/05/11.

6

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

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habilidade de aprender novas técnicas, pois, até o momento, todas as evidências indicam que o acesso a treinamentos diminui significativamente ao longo da vida de trabalho do indivíduo. No futuro, as firmas não terão escolha a não ser expandir os programas de treinamento, para investir nos trabalhadores mais velhos e reorientar os programas para atender às necessidades desses trabalhadores.

Reabilitação Profissional

A Reabilitação Profissional do INSS8 já está atendendo segurados aposentados com o objetivo da volta ao trabalho. No geral são pessoas que se aposentaram, continuaram trabalhando, porém estão com algum déficit de desempenho ocupacional, mas querem continuar a produzir. O INSS, através da perícia médica encaminha esse segurado para a Reabilitação Profissional que providencia a troca de função através da adequação de atividades de acordo com o quadro clínico do segurado.

O fato é que a cada ano há um aumento significativo no número de pessoas com mais de 60 anos, em atividades profissionais remuneradas. Em se tratando de um país envelhescente esse é um ponto positivo, pois pode indicar o nascimento de uma cultura com olhar para uma velhice não só “ativa”, consumista, mas economicamente ativa e sem a perda de identidade profissional.

Outro ponto a considerar é que já não se é tão velho, quanto se era na antiguidade9, assim continuar trabalhando após a aposentadoria é fala de muitos idosos na atualidade por não se sentirem velhos e por acreditarem que ainda podem contribuir com sua força de trabalho.

Será que essa nova cultura nos ditará que a aposentadoria é um bônus (salário fixo) pelo tempo trabalhado, dando direito a uma diminuição/flexibilidade no tempo de trabalho diário?

O que o mundo do trabalho remunerado está reservando para a maioria idosa? De forma ainda sutil o Brasil vai se moldando para que envelheçamos num País cada vez mais longevo.

8 É a assistência educativa ou reeducativa e de adaptação ou readaptação profissional instituída sob a denominação genérica de habilitação e reabilitação profissional visando a proporcionar aos beneficiários incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho, em caráter obrigatório, independente de carência, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios indicados para proporcionar o reingresso no mercado de trabalho e no contexto em que vivem. (art. 136, do Decreto nº 3.048/99).

9

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Referências

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Ministério da Previdência Social, Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social – Brasília: MPS/DATAPREV, 2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/censo2010/>. Acesso em 27 mar. 2012.

ENVELHECENDO EM UM PAÍS MAIS VELHO: Implicações do envelhecimento populacional sobre o crescimento econômico, redução da pobreza, finanças públicas e prestação de serviços. Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento / BANCO MUNDIAL, Washington, D.C., 2011.

__________________________

Data de recebimento: 05/04/2012; Data de aceite: 20/04/2012.

Maria Amélia Ximenes - Terapeuta Ocupacional. Mestre em Gerontologia. Doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP. Docente da Universidade do Sagrado Coração/Bauru. Pesquisadora do grupo de Pesquisa Longevidade, Envelhecimento e Comunicação, certificado pelo CNPq e membro do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento – OLHE. E-mail:

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