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Dinorah Anselmo Nasoni, aos 79 anos tem disposição de dar inveja a muita gente jovem

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Academic year: 2021

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Entrevista

Dinorah Anselmo Nasoni,

aos 79 anos tem disposição de dar inveja a muita gente jovem

Trabalha desde os 13 anos e não pensa tão cedo em se aposentar.

Fotos e texto: Alessandra Anselmi Fotos: arquivo pessoal

nquanto corria a entrevista, Dinorah corria de outro modo: ela ia ao encontro dos clientes no estacionamento em que trabalha, a fim de anotar a placa do carro, pegar as chaves, fazer o pagamento, com agilidade e simpatia que a diferenciam desde a época em que tinha banca de jornal. Ela é assim: pequena, dinâmica, alegre e falante. Natural de Santo André – ABC Paulista, a caçula de dez irmãos: “Lourenço, Maria, Belmira, Adelina, Dorino, Orlando (registrado por engano como Rolando), Olga, Valter, Claudionor e eu”. Apenas ela e Claudionor estão vivos.

Portal – Seu nome completo, idade e cidade onde nasceu, por favor.

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Dinorah - Meu nome é Dinorah – assim com “h” no final, é o charme do nome. Dinorah Anselmo Nasoni – o correto mesmo é Anselmi, mas não se sabe o motivo, alguém errou na hora do registro e ficou assim. Sou descendente de italianos, meu pai era italiano e minha mãe, filha de italiano. Nasci em 7 de abril de 1933, no centro de Santo André.

Portal – A senhora cresceu e estudou em Santo André? Dinorah - Sim, fiz o primário, desde o jardim da infância até a quarta série no Instituto Coração de Jesus, em Santo André – que antigamente era Externato Padre Luiz Capra. Logo depois comecei a trabalhar na Padaria Central, que era dos meus pais e se localizava na avenida Coronel Fernando Prestes. Costumava ficar no balcão, atendendo às pessoas. Trabalhava das 5h30 até 19h. Sem erro, 5h30 da manhã...

Portal – Quantos anos tinha?

Dinorah - Ah, eu tinha 13 anos. Naquele tempo se começava a trabalhar cedo. Era por volta de 1944, já no final da Segunda Guerra Mundial. Naquela época havia o racionamento de vários itens alimentícios, entre eles o pão sem farinha de trigo, mais pesado. Cada família tinha o seu cartão, com direito a 200 gramas de pão por pessoa. Era muito difícil, sabe, a gente ter que vender assim com limite de consumo. Eu ia todos os dias para a Padaria Central, de modo que meus deveres de casa foram todos feitos atrás do balcão. Às vezes, para não ser incomodada, dependendo da dificuldade da lição, chamava a irmã Olga para atender o cliente. Depois casou-se e daí fiquei mais no balcão. Fiquei nessa vida até me casar, em 1953. Meu marido, José Nasoni, já falecido, em 1972, era motorista, mecânico, e foi com ele que tive meus dois filhos, Carlos Roberto Nasoni, 58, e Celso Ricardo Nasoni, 55.

Portal – Tem netos?

Dinorah - Sim, tenho duas netas, Andréa, 32, filha do Roberto, e Maira Fernanda, 19, filha do Ricardo. Maira Fernanda, aliás, é essa moça bonita – mostra a neta (foto) com orgulho -, que vem nos dar uma força nos finais de semana aqui no estacionamento.

Portal – A senhora mora sozinha?

Dinorah - Não, não. Resido com o meu filho Ricardo por toda a vida. Sempre moramos juntos. Temos uma ótima convivência.

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Portal – Como surgiu a ideia de trabalhar em uma banca de jornal?

Dinorah - Bem, meu marido já estava doente - teve câncer na língua -, todos os dias eu o acompanhava ao exame de radioterapia, em São Paulo. Numa dessas viagens que fazíamos juntos, eu disse a ele: vamos abrir uma banca de jornal? Ele se entusiasmou com a ideia, sabe? Perto de onde morávamos havia um espaço que ficamos imaginando que poderia ser a nossa banca. Na época não tínhamos dinheiro para comprar a banca, e fiz um empréstimo com minha mãe e meu sobrinho. Como sempre gostei de ler e de conhecer pessoas, achei que seria interessante trabalhar na banca, e assim começamos em junho de 1971. Meu marido convenceu-me de que eu deveria tirar carta. Compramos um Fusquinha para pegar as publicações na distribuidora. Antes eu ia buscar de ônibus, e tinha que acordar muito cedo. Oito meses depois, meu marido faleceu, e então tive que tocar a vida, pagar as dívidas, da banca, do Fusca, dois filhos para criar. Graças a Deus, deu tudo certo. Naquele tempo ter banca de jornal era um bom negócio, estava bem localizada, perto de um ponto de ônibus. E foi indo, fiquei quase 17 anos no mesmo lugar, e quando o terreno foi vendido, fui para a rua Albuquerque Lins, onde está até hoje. Fui para lá em 1988 e fiquei até 2011, que foi quando vendemos lá.

Portal - O marido morreu cedo, não pensou em se casar de novo?

Dinorah – Houve pretendentes, sem dúvida. Mas sempre pensava nos meus filhos. Ficava imaginando: “e se o sujeito quiser interferir na educação dos meninos?”. Isso não iria admitir e não ia dar certo. Então, achei melhor ficar sozinha, e fiquei muito bem assim.

Portal – Frequentemente a senhora sai nas publicações do ABC. Isso se dá por conta da importância da sua família, os imigrantes Anselmi na região, ou pelo seu trabalho como empreendedora?

Dinorah - Acho que ambos. A família Anselmi, assim como outras famílias de imigrantes da região, era de comerciantes, e os comerciantes tinham muita importância naquela época, porque é o comércio que faz as cidades crescerem. Então os imigrantes italianos foram figuras importantes nessa época. Por

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outro lado, eu era mulher e jovem - hoje em dia não é mais assim, porque há muitas mulheres no comércio em geral, mas na época em que comecei não havia jornaleiras, só jornaleiros, e normalmente eram pessoas de muita idade que se aposentavam e abriam uma banca. Para a época acredito que não tinha ninguém, pelo menos no centro da cidade não tinha mulheres não. Por esses motivos frequentemente dou entrevistas aos jornais, revistas.

Portal – E o estacionamento, como surgiu em sua vida?

Dinorah - Quando meu filho decidiu que queria vender a banca disse a ele que só aceitaria se ele arrumasse outra coisa para eu fazer. Quando ele então comprou o estacionamento, e eu vim para cá.

Portal - Não queria descansar, se aposentar?

Dinorah - Nem pensar. Não ficaria em casa sem fazer nada porque isso me deixaria deprimida. Estou acostumada a lidar com as pessoas, a conversar, teve época que minha banca mais parecia uma sala de bate-papo do que qualquer outra coisa. Em 40 anos fiz muitas amizades. Daí, quando ele comprou aqui, vim para cá, estou desde abril. Claro que aqui é mais corrido, na banca de jornal dava para bordar, fazia até encomendas para fora - havia tempo para isso, mas agora não dá mais. Sinto falta de bordar, pois gosto muito. De vez em quando, aos domingos, eu bordo um pouquinho. Aqui mesmo não dá para bordar, tem que prestar muita atenção, tem os pontos-cruz, e aqui o movimento não para, você já reparou, não é?

Portal – E o que senhora faz fora daqui?

Dinorah - Olha, atualmente não faço nada. Fazia faculdade da terceira idade quando tinha a banca de jornal, isso foi entre os anos de 2004 a 2008, lá no Coração de Jesus. Depois eles mudaram as coisas por lá e justo nessa época, em 2005, eu fiz uma cirurgia, coloquei ponte de safena e mamária, mas continuei por um tempo ainda na faculdade. Fazia aulas de ginástica, dança, teatro, coral, artesanato, adorava as aulas de história da arte com irmã Iracema – já falecida. Era fascinante aprender sobre todos aqueles pintores, escritores, ela era muito boa, fez cinematografia na Itália. Foi uma época boa. Agora não tenho mais tempo, antes saía da banca de jornal e ia direto para a faculdade, até 22h. Hoje, saio daqui normalmente depois das 20h. Chegando em casa vou fazer a janta para mim e o Ricardo, e sempre vou dormir por volta da meia-noite, e, às seis da manhã estou de pé. Não me sobra muito tempo para fazer algo. Não sou muito de TV, ainda mais com a programação tão chula de hoje em dia, então só vejo praticamente filmes, mas ainda assim sempre fico fazendo alguma coisa enquanto “escuto” a programação – por isso tem que ser filmes dublados. Leio jornal, recebo todos os dias o Diário Regional, jornal diário do ABC, gosto de fazer palavras cruzadas, essas coisas. Acho que meu lazer mesmo é meu trabalho. Aqui eu conheço pessoas, divirto-me com elas, bato papo com todo mundo, brinco muito com as crianças, gosto muito de fazer amizades, tem antigos clientes da banca que encontro por acaso, outros que passaram a ser clientes daqui também.

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Portal – Vendo a senhora assim correndo para lá e para cá, com essa disposição toda... Qual é o segredo?

Dinorah - Acho que é gostar do que faço. Não pratico nada nem tenho mais tempo para isso. Apenas não sou de comer muito, normalmente trago lanche, às vezes almoço só frutas. Mas evito comida gordurosa. Acho que a gente muda o paladar com o tempo, você não acha?! Por exemplo, gostava tanto de lasanha, mas hoje não gosto mais. Não faço questão de frango também, tem muita coisa que eu gostava, não gosto mais. Agora, doces... É uma coisa que eu adoro. Todo dia tenho que comer algo doce, não muito, mas um pedacinho. Depois da cirurgia vou ao hospital de ano em ano, tomo os remédios da pressão, colesterol, está tudo controlado, então eu me permito um pouco com os doces. Entrei aqui estava com 54 quilos, agora estou com 49. Ando bastante aqui.

Portal - Como é envelhecer?

Dinorah - Acho que a gente não percebe o processo, sabe?! Eu olho às vezes para o espelho e falo para mim mesma: “Meu Deus, não acredito que estou com essa idade, como pode?!”. Nem senti o tempo passar. Nunca pensei: quando eu chegar a tal idade. Não deu tempo, simplesmente cheguei. Às vezes eu brinco, digo: “Mais dez anos está de bom tamanho”. Não sinto dor em nada, nunca tive gripe, não sei o que é dor de cabeça. Então, se for para viver ainda mais alguns anos assim, sem dar trabalho, ótimo!

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Dinorah - Continuar trabalhando. Ah, e quero morrer de morte morrida. Assim, naturalmente, sabe? Dormindo. Acho que é uma bênção de Deus morrer assim. Morrer de forma repentina é doloroso para quem fica, mas para quem vai acho que deve ser uma bênção. Não ter que ficar em uma cama, sofrendo, dando trabalho. Queria que fosse algo natural, não tenho medo da morte. Quando tem que acontecer, acontece, só gostaria que fosse assim. E quero continuar com essa mesma disposição que estou agora, sem dar trabalho, nem mesmo quando operei dei trabalho a ninguém, porque nem na cama ficava, quero continuar assim.

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Alessandra Anselmi - Profissional de Comunicação e Marketing formada em Relações Públicas pela Metodista em 1996 e em Marketing e Vendas pela Anhembi Morumbi em 2012. Mais de dez anos de experiência em Comunicação, Marketing e Eventos, atuando também com Locução e Fotografia. Atualmente trabalha como repórter fotográfico para o Portal do Envelhecimento e é responsável também pela Comunicação e Marketing da Ong OLHE - Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento. E-mail: a.alesp11@gmail.com

Referências

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