• Nenhum resultado encontrado

A voz do instrumental

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A voz do instrumental"

Copied!
46
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

VINÍCIUS ALMEIDA CARDOSO DE OLIVEIRA ARNAUT

SALVADOR:

A VOZ DO INSTRUMENTAL

Salvador

2017.1

(2)

VINÍCIUS ALMEIDA CARDOSO DE OLIVEIRA ARNAUT

SALVADOR:

A VOZ DO INSTRUMENTAL

Memória do trabalho de conclusão de curso de graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Orientação: Prof. Fernando Costa da Conceição

Salvador

2017.1

(3)

Agradecimentos:

À minha mãe Marly,

Pela compreensão, incentivo diário e por ser minha amiga

Ao meu pai César,

Pelo pai sempre carinhoso e ser um exemplo de homem digno

Ao meu irmão Victor,

Por ser meu companheiro em momentos bons e difíceis

Á minha avó Sônia,

Pela sua preocupação e carinho comigo

À minha avó Dita

Pela sua energia alegre e contagiante

A todos meus familiares,

Tenho sorte de ter uma boa família, e me sinto grato por isso

Aos poucos amigos,

Pessoas com quem me alegro e divirto

Ao Centro Espírita Paulo Estevão,

Pelos ensinamentos científicos que poderei um dia compartilhar

A sobretudo Deus, Jesus e todos os Anjos de luz, Por me mostrarem o sentido da vida

(4)

RESUMO

Este memorial descreve o processo de produção do documentário Salvador: A Voz do

Instrumental, que trata do lado instrumental da música na cidade de Salvador. O

produto foi realizado com o objetivo de expor reflexões que possam contribuir de alguma maneira com a transformação do cenário da música instrumental da capital baiana, nos sentidos artísticos, mercadológicos, sociais, econômicos, etc. A percussividade de influência afro também é retratada no documentário como um dos aspectos proporcionadores de um reconhecimento da musicalidade baiana em qualquer lugar do mundo, e é caracterizada neste memorial como uma das experiências negras possíveis.

Palavras Chaves: Documentário,Salvador, música instrumental, percussividade, reflexão.

(5)

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO/INTRODUÇÃO...7

1.1 Salvador: A Voz do Instrumental...7

1.2 Formato do produto...8

1.3 Experiência individual...8

2. Vídeo documentário...11

2.1 Breve Histórico do documentário...11

2.2 Modo Expositivo do documentário...12

2.3 Filmografia...13

2.4 Breves apontamentos sobre teoria musical e música instrumental...15

2.5 Referencial teórico complementar...17

3. Metodologia...20

3.1 Pré-produção...20

3.2 Escolha das personagens, período de filmagens, estratégias de gravação e entrevistas...21

3.2.1 Julio Caldas (multi-instrumentista de cordas)...22

3.2.2 André Liberato (guitarrista e organizador da Segunda Plugada)...22

3.2.3 Felipe Guedes ( multi-instrumentista e promessa da música instrumental)...23

3.2.4 Ivan Huol (organizador da Jam no Mam e agitador cultural)...24

3.2.5 Mou Brasil (guitarrista renomado do jazz internacional)...25

3.2.6 Maestro Fred Dantas...25

3.2.7 Mário Ulloa ( violonista erudito de nacionalidade costa riquenha)...26

3.2.8 Armandinho Macêdo (guitarrista e bandolinista)...26

3.2.9 Joatan Nascimento (Trompetista e integrante da Osba)...27

3.2.10 Anderson Souza, Gabriel Batatinha e SerainaGratwohl...27

3.2.11 Bira Reis (Ex- Saxofonista do Olodum)...28

3.2.12 Kombinação Musical (na praia de Buracão, Rio Vermelho)...29

3.2.13 Rafael Lima...30

3.3 Edição e finalização...30

(6)

4. Considerações finais...33

5. Anexos...35

5.1 Projeto do documentário... 35 5.1.1 Introdução do projeto...35 5.1.2 Justificativa do projeto...36 5.1.3 Objetivos do projeto...37

5.1.3.1 Objetivo geral do projeto...37

5.1.3.2 Objetivos específicos do projeto...37

5.1.4 Metodologia do projeto...38

5.1.5 Cronograma no projeto...39

5.1.6 Referências Bibliográficas do projeto...39

5.2 Roteiro do documentário...39

5.2.1 Introdução do roteiro...40

5.2.2 Objetivos do Documentário no roteiro...40

5.2.3 Documentário e seu público alvo descritos no roteiro...41

5.2.4 Estilo do documentário, descrito no roteiro...42

5.2.5 Estética do documentário, descrito no roteiro...42

5.2.6 Lista de questionamentos, descritos no roteiro...42

5.3 Créditos do documentário...43

(7)

1. Apresentação/Introdução

Este é o memorial do documentário Salvador: A Voz do Instrumental, dirigido por mim, Vinícius Arnaut, como produto final do trabalho de conclusão do curso de Comunicação: ênfase em Jornalismo, sendo ele dividido em 6 partes. A primeira parte é a apresentação introdutória do que é o documentário produzido, qual o seu formato e minhas experiências individuais relacionadas à composição do produto. A segunda parte é um aprofundamento do vídeo, trazendo seu breve histórico, como ele começou a ser idealizado, qual modo de documentário eu optei em fazer, os filmes que me inspiraram a esta realização, um aprofundamento breve em teoria musical e conceito de música instrumental e um referencial teórico complementar fundamental para a idealização do produto. Em seguida temos a metodologia utilizada por mim, descrevendo desde o período de pré-produção do documentário, período de filmagens, estratégias de gravação, escolhas das personagens para o filme, realização das entrevistas, equipamentos utilizados, a equipe que formei para as filmagens, até a edição e finalização do vídeo. Na quarta parte faço minhas considerações finais, a respeito das minhas experiências na realização do meu primeiro documentário, o que eu aspiro para o futuro. A quinta parte possui os anexos, com meu projeto do documentário na integra, além do roteiro do filme, e os créditos finais. Por fim, as referências bibliográficas estão à disposição para consulta, seguindo as normas da Abnt.

1.1 Salvador: A Voz do Instrumental

O documentário dirigido por mim é um recorte do cenário musical de Salvador, sobre

música instrumental da cidade, a respeito de sua percussividade, aspectos artísticos,

mercadológicos, sociais, econômicos, filosóficos etc. O termo música instrumental é designado para distinguir toda música realizada por instrumentos musicais, mas não necessariamente ela é desprovida do canto, sendo que a voz também pode ser utilizada como instrumento. Também não é somente analisado no produto como gênero musical comercial e artístico, sendo acrescentado a lógica de características de todo o lado instrumental que há na música soteropolitana, seja ela instrumental ou não. O filme é uma introdução para quem deseja se aprofundar no assunto, e visa atingir principalmente pessoas ligadas a arte.

(8)

1.2 Formato do Produto

Apesar de cursar Jornalismo, sou músico profissional desde a infância. Entretanto, no meu ponto de vista, a música é uma profissão bastante incerta, e por isso optei em seguir também uma trajetória acadêmica. Confesso a minha dificuldade existencial contemporânea a respeito da conciliação da carreira jornalística com a musical, e resolvi ampliar meus caminhos profissionais, ao trabalhar na área audiovisual, como um “embrião” de diretor cinematográfico.

Desejei, em todo processo de realização do documentário, exercitar minha capacidade no Jornalismo, na comunicação e criação. Tenho uma certa dificuldade em realizar um Jornalismo padrão, comum em redações de grandes organizações, e desde sempre me atrai por algo mais híbrido, não engessado, com comportamento filosófico. Sobretudo, vi no trabalho de conclusão de curso uma oportunidade de exercitar estes quesitos. É difícil delinear o traço de Jornalismo existente no documentário em questão, que se sobressai na sua classificação cinematográfica. Mas a experiência de observação jornalística, presente inclusive na formulação das questões inseridas no produto, foi essencial no desenvolvimento do filme, principalmente na relação entre o diretor e os entrevistados. Portanto, posso considerar que este documentário possui uma vertente jornalística, mesmo não sendo o traço mais marcante em termos de gênero classificatório.

Sendo assim, decidi ao final da edição que a duração do produto teria aproximadamente 20 minutos, ao invés de 30 ou 60, devido ao fato do meu pensamento em prender o espectador, com um filme dinâmico, e que na minha opinião não poderia ser cansativo, se tratando de um documentário com poucos recursos utilizados. A minha intenção é que o trabalho seja um “aperitivo” para introduzir o público sobre o tema música

instrumental em Salvador, com o objetivo de tornar em evidência a complexidade do

assunto e as suas diversas ramificações que ainda podem ser exploradas em outros projetos. Sendo assim, exclui a opção de produzir, até o momento, um longa-metragem sobre o tema em questão, apesar de que não há a possibilidade de contempla-lo em apenas um produto.

(9)

Salvador; A Voz do Instrumental, nasce de reflexões minhas, a partir da Unesco ter

elegido Salvador como “Cidade da música”, no ano de 2016. Antes disto, a minha idéiade produzir produtos audiovisuais já havia nascido quando fui diretor do programa

Violão em Prosa, vinculado à Rádio Facom, que é coordenada pelo professor Maurício

Tavares. Neste programa que foi ao ar nos anos de 2014 e 2015, eu entrevistava ao lado do meu colega WelldonJorbert, também aluno de Jornalismo da Facom (Faculdade de Comunicação da UFBA), vários músicos da cidade, que tratavam de assuntos a respeito de suas carreiras, processos de composição, e cenário musical no contexto em que eles estão inseridos. O programa, também veiculado no Youtube, serviu de ótima experiência para ampliar as concepções sobre a música em geral e especificamente em Salvador. Dele saiu a roteirização de questionamentos que serviriam mais tarde para o direcionamento da produção do documentário realizado por mim no trabalho de conclusão de curso.

Resolvi fazer um recorte do cenário musical da cidade e tratar do tema música instrumental. Conheço alguns instrumentistas que possuem vontade de produzir trabalhos nesta área, mas não se engajam em seus projetos pelas dificuldades de consolidação de público e falta de apoio. A minha primeira dedução na verdade é uma indagação: por que é tão difícil atuar no campo da música instrumental, na cidade de Salvador, que é tão rica musicalmente?

Ao longo da produção do documentário, ainda não tenho respostas exatas para este e outros questionamentos. Entrevistar os instrumentistas foi para mim uma expansão dos meus olhares para o cenário musical em geral, além de suas questões sociais e econômicas. A cada filme, acredito que o documentarista pode sair com sua visão de mundo ampliada, e por vezes com maiores questionamentos, já que ele lida com diferentes pontos de vistas que em determinadas circunstâncias não podem ser julgados como equivocados.

Além disto, estou no grupo de pesquisa Etnomídia, coordenado pelo professor e meu orientador Fernando Costa da Conceição, que trata de questões raciais e culturais, especialmente relacionadas a população negra soteropolitana. Ao longo das filmagens, percebi que o tema tratado no documentário possui forte ligação com os assuntos trabalhados no grupo de pesquisa em que eu estou inserido. Não dá para falar de música instrumental em Salvador sem citar a sua forte influência afro, que existe na percussividade da sua música. Talvez este seja o elemento que mais distingue esta

(10)

localidade das outras, e como essa marca interfere de algum modo na cultura negra local, no quesito artístico, social e econômico.

Sinto-me satisfeito, ao final desta primeira realização fílmica e produção de seu memorial, com a lições obtidas acerca do tema, com as diversas possibilidades e caminhos que podemos enxergar os diversos cenários musicais, e por encontrar o meu campo de atuação jornalística, de documentarista aliado à uma responsabilidade social.

(11)

2.Video documentário

2.1 Breve histórico do documentário

Seguindo muitas reflexões sobre o cenário musical de Salvador, resolvi fazer um recorte: optei por documentar instrumentistas e suas visões sobre a música instrumental na cidade, o que gera discussões amplas sobre conceito de arte, indústria cultural e mercadológica, além da efetividade de políticas públicas e educacionais. Todas estas questões de ordem filosófica embutidas na análise da música instrumental, em que a capital do estado da Bahia serve como ponto de referência, foram pensadas por mim, primeiramente através de minha vivência como músico/instrumentista, e depois no meu processo de formação acadêmica e jornalística, nos cursos de Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades e Comunicação: ênfase em Jornalismo, ambos na Universidade Federal da Bahia.

Desde quando fui um observador do cenário musical de Salvador, conheci muitos músicos, através de entrevistas e conversas, e sempre me atentei para as dificuldades existentes no meio musical. Em verdade, sempre tive muitas incertezas em torno de diversas questões artísticas, dúvidas estas que me levaram a produzir um documentário que tem como objetivo procurar meios de transformação dos cenários artísticos que vigoram atualmente. São necessárias formas para conceber a relação do mercado, da cultura, das políticas públicas e dos meios de comunicação, sendo que todos esses fatores interferem diretamente nas produções, e devem atuar em equilíbrio entre si, seguindo uma lógica que promova a integração dos artistas e instrumentistas, e não a exclusão.

Todavia, quando se pensa em música instrumental, costuma-se pensar os instrumentistas como vítimas da falta de público, falta de apoio do Governo e empresários. No roteiro escrito para o documentário, procuro entender, mesmo que de maneira indireta, até que ponto o músico é realmente vítima do seu “insucesso” e falta de oportunidades. Esta é uma questão muito mal resolvida, já que as relações de poder em todos os campos de produção e trabalho se fazem presentes e marcantes.

Ao longo da produção do vídeo documentário, percebi que abordar o tema música

(12)

impossível contemplar tudo. Cada músico tem uma visão diferente, atua de maneira distinta, fora as atuações que ocorrem no anonimato, os qual não temos acesso.

2.2 Modo Expositivo do documentário

No livro Introdução ao Documentário (NICHOLS, 2007), o autor explicita diversos modos que caracterizam os documentários. O produto deste memorial pode se enquadrar no modo expositivo, conforme Nichols conceitua:

Esse modo agrupa fragmentos do mundo histórico numa estrutura mais retórica ao argumentativo do que estética ou poética. O modo expositivo dirige-se ao espectador diretamente, com legendas ou vozes que propõem uma perspectiva, expõem um argumento ou recontam a história. (..) Os documentários expositivos dependem de uma lógica informativa transmitida verbalmente (NICHOLS, 2007, p.142 -143) Para ficar mais claro, o enquadramento dado por mim foi uma reunião de falas dos entrevistados, que abordam diversos pontos de vistas, que ao mesmo tempo em que os conceitos são profundos, são transmitidos e organizados na produção fílmica de modo a abrir espaço para a reflexão do espectador, e promover uma compreensão da sua parte, mesmo que superficial e introdutória a respeito do assunto. De certa forma, o documentário não possui respostas prontas.

Os filmes caracterizados no modo expositivo geralmente adotam a Voz de Deus, ou também chamado de voz over, um tipo de linguagem oral que descreve as imagens ou argumentam sobre o tema. Apesar de meu documentário não possuir voz over, isto não compromete a classificação do filme como expositivo.

A voz presente no documentário é a reunião de vozes dos entrevistados e seus pontos de vista sobre o tema música instrumental, e por isso alusão poética presente no título do filme. Salvador: A Voz do Instrumental quer dizer que a vozda música instrumental da cidade presente no documento não é necessariamente a música, mas sim a consciência dos instrumentistas que estão sendo expostos, seja nas suas argumentações das entrevistas, como também em suas improvisações musicais que foram registradas. Essa voz (que é um conjunto de vozes) pretende dizer, ao ser dirigida por mim, de forma rasa que existem diversos modos de se realizar música instrumental em Salvador, sendo este um conceito geral para a música de qualquer local, e não especifico da cidade. Outro apontamento é sobre a musicalidade “baiana’ (ou melhor dizendo,

(13)

soteropolitana), reconhecida fora de Salvador e do Brasil pelo seu aspecto percussivo e de influência afro, presente em grande parte do lado instrumental da produção artística, seja ela pelo gênero conhecido como música instrumental ou não. Dessa forma, a percussividade pode ser considerada o elemento mais evidente do que se caracterizaria como “música baiana”, além de fazer parte da cultura popular, tornando a faceta

instrumental acessível para o público soteropolitano.

As questões sobre mercado musical em contraposição ao trabalho autoral dos músicos também são discutidas pelos entrevistados. Até que ponto o mercado da música e a visão de profissionalismo pode prejudicar a capacidade artística e de divulgação de trabalhos autorais de instrumentistas? De que forma o instrumentista pode apresentar seu trabalho autoral, de modo que ele reflita a sua identidade e atraia público? É possível sobreviver fazendo música instrumental em Salvador? São questionamentos em que as respostas serão relativas, e não absolutas, participando de possíveis assertivas que os espectadores poderão construir com base de uma análise de identidade musical. A crítica engajada também faz parte do enquadramento das falas dos entrevistados, a respeito das políticas públicas que devem ser direcionadas para a fomentação dos trabalhos autorais e formação de novos instrumentistas. A corrupção dos editais, restrita a pequenos grupos que prejudicam a música instrumental e a cultura baiana, monopolizando as oportunidades de aparições em público, é denunciada, sem apontar possíveis envolvidos em tráfico de influência, requerendo a órgãos superiores como ministério público a investigação dos crimes relatados de uma maneira geral.

2.3 Filmografia

Ao longo de minha vida, sempre gostei de assistir muitos documentários com conteúdo musical, o que faz parte da área do meu interesse. Alguns filmes serviram de base para que eu pensasse em Salvador: A Voz do Instrumental, no seu quesito estético e condução de entrevistas.

Assisti antes de começar a produzir meu produto de trabalho de conclusão de curso o filme Amy, dirigido por AsifKapadia, vencedor do Oscar de “Melhor Documentário”, em 2016. É um filme, que atualmente está na Netflix, com muitas imagens de arquivo, sem voz over, com as vozes dos entrevistados e falas da cantora Amy Winehouse, da

(14)

qual o filme retrata a sua carreira. Percebi, através desse filme, que realizar um documentário sem voz over ficaria mais interessante, mais artístico. Um documentário com voz over, na minha opinião, pode ser bastante agradável e de fácil compreensão para assistir, mas me remete a produtos televisivos, sendo que o meu objetivo era expor as falas dos entrevistados de forma que o conteúdo não fosse deixado perfeitamente claro, e sujeito a reflexões diversas.

Dirigido por Henrique Dantas, Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano, do ano de 2009, disponível no Youtube, foi outro filme, muito influente para meu TCC, já que ele também não usa voz over, e utiliza muitas entrevistas. O filme conta a história do grupo musical Novos Baianos e expõe a visão de algumas pessoas que tinham relação com o conjunto.

Michael Jackson'sJourneyFromMotownto Off the Wall (2016), dirigido por Spike Lee, é

também um filme sem voz over, mais descritivo, sobre a carreira de Michael Jackson antes da produção do álbum Off The Wall,em 1979. O documentário faz uma montagem de raras imagens de arquivo, como gravações de estúdio e entrevistas. No meu filme, não utilizei tantas imagens de arquivo, mas o documentário de Spike Lee me chama atenção pela dinâmica e velocidade com que as falas dos entrevistados são montadas.

Michael Jackson'sJourneyFromMotownto Off the Wall não se assemelha em quase nada

com o documentário Salvador: A Voz do Instrumental, mas ao meu ponto de vista é um dos produtos que servem de referência a respeito de padrão de qualidade.

Outro grande filme que assisti foi Tropicália (2012), com direção de Marcelo Machado, é um filme importante para que me inspirasse na hora da montagem das falas, de modo que eu conectasse as entrevistas, umas com as outras, e produzir sentidos para o documentário. É um tipo de filme que eu desejaria realizar, caso eu tivesse recursos, pois ele usa de muitos efeitos e tratamento de imagens, inclusive em arquivos antigos. Concluindo, é um filme extremamente rico, em entrevistas e conteúdo informativo/reflexivo.

Assistindo estes filmes, comecei a pensar meu documentário, de forma que ele correspondesse a minha logística e fosse dinâmico. Essa era a minha principal preocupação: queria fazer um filme artístico e dinâmico, de forma que não cansasse o espectador. Acredito que o dinamismo está presente nestes quatro filmes citados, e foi isso que busquei extrair deles. Estes documentários conseguem prender a atenção do

(15)

espectador e trazer informações que promovem reflexões, ao mesmo tempo que não possuem um viés de previsibilidade. Ao extrair essa idéia, comecei a produzir o roteiro, sendo que o meu principal objetivo era produzir as imagens por intuição, me adequando aos espaços de gravação, ou seja, realizando experimentações. A estética fílmica só foi idealizada de fato, no momento em que eu tinha as entrevistas em mãos, e passei para a parte de decupagem.

2.4 Breves apontamentos sobre teoria musical e música instrumental

O conceito de música instrumental é amplamente complexo, pois pode ganhar significações diversas, a depender a circunstâncias onde pode ser colocado. No documentário, o termo é empregado em dois sentidos. O primeiro refere-se a gênero musical, como música realizada em que os instrumentos possuem mais ênfase em relação à voz, ou a voz é utilizada como instrumento, ou seja, quando a técnica musical se sobressai. O segundo apontamento para o termo música instrumental remete às características da composição de instrumentos que é executada na música, técnica ou culturalmente falando, dentro da música de gênero dito instrumental ou não.

Para uma compreensão mais exata, devemos entender um pouco de teoria musical e a acepção do que seja um instrumento e técnica musical. BohumilMed em Teoria da

Música, define música como:

(...) arte de combinar sons. (...) A música escrita pelo compositor, para ser percebida pelo ouvinte, necessita de um intermediário, ou melhor, de um intérprete. A música não é apenas uma arte, mas também uma ciência. Por isso, os músicos (compositores ou interprétes) precisam, além de talento, uma técnica específica, bem apurada; e esta se aprende durante longos anos de estudo. Para alcançar um nível profissional competitivo, o músico precisa ter talento, força de vontade e perseverança. Alguns instrumentistas limitam-se a dominar a técnica de seu instrumento. Estes nunca irão atingir a perfeição, pois, além da habilidade mecânica, o músico precisa ter o domínio de toda ciência musical, (...). (MED, 1996, p. 9-12)

Ou seja, a música é a arte de combinar os sons simultânea e sucessivamente, com ordem, equilíbrio, e proporção dentro do tempo. A música é constituída por: melodia (conjunto de sons dispostos em ordem sucessiva); harmonia (conjunto de sons dispostos em ordem simultânea); contraponto (conjunto de melodias dispostas em ordem simultânea); e ritmo (ordem e proporção em que estão dispostos os sons que constituem a melodia e a harmonia). BohumilMed ainda cita:

(16)

Som é a sensação produzida no ouvido pelas vibrações de corpos elásticos. Uma vibração põe em movimento o ar na forma de ondas sonoras que se propagam em todas as direções simultaneamente. Estas atingem a membrana do tímpano fazendo-a vibrar. Transformadas em impulsos nervosos, as vibrações são transmitidas ao cérebro que as identifica como tipos diferentes de sons. Consequentemente, o som só é decodificado através do cérebro. (MED, 1996, p. 11)

Há dois tipos de vibração: a vibração regular (produz sons de altura definida, chamamos de sons musicais ou notas musicais, a exemplo do som do piano, violino, etc); e vibração irregular, que produz sons de altura indefinida, chamamos de barulhos. Por exemplo, som de avião, automóvel, explosão, instrumentos de percussão, etc.

Na música há os sons regulares ( instrumentos musicais harmônicos com notas definidas), como também sons irregulares (instrumentos de percussão, efeitos sonoros como ruído, etc). Os sons podem ser caracterizados por elementos, como a altura, que determinada pela frequência das vibrações, isto é, quanto maior for a velocidade da vibração, mais agudo será o som; duração, ou seja, a extensão do som, determinada pelo tempo de emissão das vibrações; intensidade, que é a amplitude das vibrações, determinada pela força ou pelo volume do agente que as produz, sendo grau de volume sonoro; e timbre, que é a combinação de vibrações determinadas pela espécie do agente que as produz. O timbre é a "cor" do som de cada instrumento ou voz, derivado da intensidade dos sons harmônicos que acompanham os sons principais.

O instrumento musical é todo e qualquer objeto que seja útil para se produzir música, seja de som regular ou irregular, O indivíduo pode ter percepção musical, mas é preciso que ele expresse sua musicalidade através da técnica que terá em relação ao seu instrumento de uso, e para isso é necessário estudo. A música instrumental é uma oportunidade de expressão técnica, expressão de ideias subjetivas, seja qual for o gênero musical executado. Talvez, por haver uma determinada erudição musical em quem prática música instrumental, mesmo não oriundo de ambiente acadêmico, este gênero de música não seja tão acessível no geral, pois para escuta-lo é necessária atenção, que muitas vezes o público não está disposto a dar. Entendendo os conceitos básicos de música, percebemos que não é somente por parte do instrumentista a necessidade exercitar a percepção musical, já que ela está estritamente ligada às leis físicas. O espectador também deve adquirir a percepção musical, ao voltar suas atenções, exercitar a escuta, e compreender a complexidade da música. De antemão, podemos perceber ao que parece, música instrumental não é tão simples e banal, por isso ela pode ser

(17)

incentivada através de apoio cultural ou político, já que ela tem conexões precisas com o desenvolvimento educacional e intelectual de um povo.

2.5 Referencial teórico complementar

É importante salientar que todo filme é um documentário, conta sua história, mas as narrativas se dão de diversas maneiras, a depender do gênero cinematográfico. O produto deste memorial pode ser considerado um Documentário de representação social, o que chamamos de não-ficção. Segundo Cristina Melo:

O gênero documentário não pode ser definido a partir da presença de determinados enunciados estereotipados ou de tipos textuais fixos (narração, descrição, injunção, dissertação). No entanto, não temos dúvidas de que o documentário é um gênero com características particulares, e que são essas características que nos fazem apreendê-lo como tal. (...) Uma diferença marcante entre o documentário e o cinema de ficção é aquele não poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este último; o percurso para a produção do documentário supõe uma liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gênero. Um documentário é construído ao longo do processo de sua produção. Mesmo existindo um roteiro, o formato final somente se define com as filmagens, a edição e a montagem. (MELO, 2002, p. 24 – 26)

Salvador: A Voz do Instrumental expressa compreensões da música instrumental na capital baiana, do que seu cenário é, em certa parte, e do que poderá vir a ser. No caso específico do produto expresso neste memorial, fica a cargo do espectador avaliar os argumentos, afirmações, reivindicações, explanadas no filme, e se eles merecem o nosso crédito. Percebi que oferecer de alguma forma uma representação reconhecível do mundo, um recorte da realidade, sendo necessário utilizar uma linguagem cinematográfica simples. Todos os entrevistados são tratados como “atores sociais” na presença da câmera, independente do grau de reconhecimento que recebem pelos seus trabalhos. Seus comportamentos e personalidades serviram às minhas necessidades na composição e enquadramento.

O documentario pode se converter numa fonte de “memória popular”, dando a sensação vivida de como alguma coisa aconteceu num determinado tempo e lugar. Além disso, os espectadores se servem do que já viram para interpretar o que estão vendo, o que pode proporcionar, ao meu ver, um choque de reflexões, mais discussões e debates, ou seja, a propagação do filme.

O termo música instrumental, sob uma perspectiva semiológica, pode ser entendido e utilizado em diversos sentidos, a depender da circunstância em que o emissor está

(18)

inserido, ou da sua intenção em determinado contexto. No caso do documentário, eu quis emitir o termo música instrumental como um significante, agrupado principalmente a dois significados, e, portanto, formulando dois signos. Segundo os conceitos de Roland Barthes (1978), pude focar em dois enquadramentos. Para entender essas cadeias de signos e significados, tomamos, no documentário, a cidade de Salvador como ponto de referência local, para entender conceitos globais. Tomando a capital baiana como exemplo, nós ampliamos nosso entendimento sobre música instrumental e sua relação com políticas públicas, educacionais e culturais, que valem de aprendizado para a atuação transformadora em qualquer lugar do globo. Outro ponto relevante para o enquadramento do documentário, especificamente a respeito da percussividade de influência africana que é evidenciada, foram minhas reflexões a respeito do pensamento do autor Stuart Hall, que nos revela as diversas experiências negras. Apesar de o filme não focar em questões raciais, podemos refletir que pela música podemos ter experiências negras, independentes da cor da pele, ou da árvore genealógica pertencente ao indivíduo:

No momento em que o significante "negro" é arrancado de seu encaixe histórico, cultural e político, e é alojado em uma categoria racial biologicamente constituída, valorizamos, pela inversão a própria base do racismo que estamos tentando desconstruir. (...) E uma vez que ele é fixado, somos tentados a usar "negro" como algo suficiente em si mesmo, para garantir o caráter progressista da política pela qual lutamos sob essa bandeira - como se não tivéssemos nenhuma outra política para discutir, exceto a de que algo é negro ou não é. (HALL, 2003 p. 345)

Fica implícito no documentário, através das reflexões no grupo de pesquisa do Etnomídia, é o fato de como as experiências negras no lado instrumental da música podem ser renegadas do cenário da música instrumental. Todavia, essas próprias experiências podem ser ricas, tanto artisticamente, quanto mercadologicamente, a exemplo da Jam no Mam, que usa do poder de penetração do jazz conjuntamente com as influências percussivas locais, latinas e africanas.

Podemos ainda refletir que essas experiências locais negras, a respeito da percussividade como cultura popular na música instrumental, podem ser diluídas pelo mercado, sendo transformadas em cultura de massa. É possível analisar ainda este fato sob duas óticas, dois movimentos, sendo um prejudicial à cultura popular e o outro a favor dela, conforme Milton Santos diz:

(19)

(...)Um primeiro movimento é resultado do empenho vertical unificador, homogeneizador, conduzido por um mercado cego, indiferente às heranças e às realidades atuais dos lugares e das sociedades. Sem dúvida, o mercado vai impondo, com maior ou menor força, aqui e ali, elementos maciços da cultura de massa, indispensável, como ela é, ao reino do mercado, e a expansão paralela das formas de globalização econômica, financeira, técnica e cultural. Essa conquista, mais ou menos eficaz segundo os lugares e as sociedades, jamais é completa, pois encontra a resistência da cultura preexistente. Constituem-se, assim, formas mistas sincréticas, dentre as quais, oferecida como espetáculo uma cultura popular domesticada associando um fundo genuíno a formas exóticas que incluem novas técnicas. (...) Mas há também - e felizmente - a possibilidade, cada vez mais frequente, de uma revanche da cultura popular sobre a cultura de massa, quando, por exemplo, ela se difunde mediante o uso dos instrumentos que na origem são próprios da cultura de massas. (SANTOS,2001, p.143 e 144).

Por um lado, a cultura popular quando diluída pelo mercado pode perder elementos que a identificam. Por outro, ela pode se servir com a aparência mercadológica para se disseminar, se tornar mais popular e perdurar no tempo. Tudo isto dependerá das circunstâncias.

Sobretudo, se partimos de uma perspectiva Frankfurtiana, na análise sobre indústria cultural, podemos refletir em cima da fala de Mou Brasil, a respeito do profissionalismo, que segundo o guitarrista, pode ser bom no sentido produtivo e disciplinar, mas negativo quando em excesso compromete a capacidade criativa do instrumentista. Sendo assim, a Indústria Cultural quer produção, e instrumentistas que sejam capazes de reproduzir tecnicamente o que é vendável, renegando muitas vezes a capacidade artística. Podemos conceber que a música instrumental como gênero musical não está fora dessa lógica.

Em relação a crítica de alguns entrevistados sobre o fato de a música instrumental ser restrita a grupos que possuem influência política e mercadológica, corrompendo até editais públicos, podemos fazer uma associação com o livro Microfísica do Poder (FOCAUT, 1979), em que o autor resume as relações de poder em todas as relações humanas, e não somente no sentido de cima para baixo. Portanto, o cenário da música

instrumental não está longe das desigualdades e do uso de poder que oprime a

(20)

3.Metodologia

3.1 Pré- produção

A minha idéia inicial era fazer um documentário sobre música instrumental em Salvador, mas de inicio não tinha experiência alguma com documentário. O meu desejo era produzir de forma livre e experimental a entrevistas e filmagens, mas com planos básicos.

Ainda sem orientador para a disciplina Com 117 (Desenvolvimento Orientado de Projeto), em conversa com o professor Guilherme Maia, ao qual faço devidos agradecimentos nos créditos, ele me indicou informalmente o livro Introdução ao

documentário, de Bill Nichols, para que eu estudasse e tivesse uma noção básica antes

de

começar as produções.

No período de matrícula da disciplina Com 117, o professor Guilherme Maia não pode ser meu orientador, devido a quantidade de orientandos que ele possuía na época. Ocasionalmente, nos últimos dias de matrícula, encontrei o professor Fernando Conceição, que aceitou o convite para ser meu orientador, e me socorreu devido a urgência no período de matrícula, e mesmo sem ser especialista na área de documentário.

Na disciplina Com 117, o professor Fernando pediu para que eu escrevesse o projeto do documentário e o roteiro. A meu pedido, Fernando não me exigiu tanto com relação ás questões burocráticas de protocolo acadêmico, e me deixou livre para exercer a minha capacidade artística. Entreguei o projeto e um roteiro bem sucintos. Após a entrega, o professor Fernando me deu carta branca para que eu começasse as filmagens. Na época, eu tinha poucos recursos para produzir o documentário. Foi então que tive a ajuda de Vitória Régia Sampaio, que me acompanhou durante as filmagens, e já tinha uma larga experiência em produções audiovisuais com sua produtora

(21)

Ao me reunir com Vitória Régia, e mostrar o roteiro, ela aceitou de imediato fazer parte do projeto. Realizei então um mapeamento dos entrevistados, fiz os contatos e parti para a realização das filmagens.

3.2 Escolha das Personagens, período de filmagens, estratégias de gravação e entrevistas

As filmagens começaram no dia 01 de novembro de 2016, e duraram até 13 de junho de 2017. Durante este período, não me matriculei imediatamente na disciplina do TCC, optando por prolongar a realização das imagens. Antes de filmar, eu havia feito um mapeamento de nomes da música instrumental, que a meu ver fossem acessíveis para mim, dentro dos limites de minha logística, e que também fossem relevantes no cenário. Em conjunto com Vítoria Régia Sampaio, fiz a produção do documentário, realizando os contatos e marcando as entrevistas, pelas redes sociais ou pessoalmente.

Eu realizei 13 entrevistas, sendo que no processo de edição, inclui apenas 11 dos entrevistados. Todos os entrevistados são músicos que na minha opinião possuem relevância como instrumentistas, são reconhecidos nos diversos cenários musicais, e detém de credibilidade para argumentar sobre o tema, seja pela atuação como movimentadores da música instrumental, seja pela qualidade técnica dos seus trabalhos. As duas entrevistas excluídas, com Leitieres Leite e Lula Nascimento, não se enquadraram na montagem do documentário. Apesar da importância de Leitires Leite, líder da OrkestraRumpilezz, no cenário da música instrumental de Salvador, a entrevista realizada com ele não foi boa no sentido técnico, pois houve muitos ruídos no ambiente, já que não tivemos tempo de selecionar um local apropriado para gravação, devido ao pouco tempo do instrumentista. Já Lula Nascimento foi excluído do documentário por causa do seu falecimento, no início do ano de 2017, e achei apropriado guardar o material de sua entrevista para um outro produto a ser realizado, que dê ênfase para o artista

Devido a uma questão de logística, as estratégias de gravação se adequavam de acordo com os cenários que encontrávamos, além do tempo disponibilizado pelos entrevistados, que eram curtos, devido a seus afazeres pessoais. Por isso as imagens forma produzidas de forma muito improvisadas, experimentais, de forma que eu me permitisse aprender com a prática e encontrar um estilo para o documentário ao longo do processo de produção. Desta forma, desde o início optei por não incluir no roteiro a formação de

(22)

planos nem estratégias de gravação, porque sabia dos poucos recursos existentes, como falta de equipamentos para iluminação, equipamento de som limitado como microfone de lapela, e que as filmagens se dariam de maneira imprevisível. Com a falta de recursos, o que restaria seria escolher as melhores imagens, que tivessem o mínimo de imperfeições, e foi isso que fiz ao longo da decupagem.

Após ter realizado as entrevistas do documentário, eu tinha em mente de que não queria utilizar trilha sonora de nenhuma gravação de algum artista, devido a questões de direito autoral, muito atentadas nas aulas da disciplina Temas Especiais em Cinema, no semestre 2016.2, ministrada pelo professor José Serafim. Decidi que a Trilha do documentário se restringiriam às improvisações dos artistas, registradas por mim e minha equipe, ou gravações autorais minhas.

Os entrevistados filmados, e as participações nas gravações foram:

3.2.1 Julio Caldas (Multi Instrumentista de cordas)

O primeiro entrevistado foi Julio Caldas, multi-instrumentista de cordas que possui diversos trabalhos autorais instrumentais, no dia 01 de novembro de 2016. Entrei em contato com ele através de um grupo de Whatsapp, denominado Guitarristas de

Salvador, do qual faço parte e é composto por músicos instrumentistas. Conversei

diretamente com Julio pela rede social, e marcamos a entrevista no Camarim do Espaço Xisto Bahia, antes de uma passagem de som de uma de suas apresentações.

Pedi para que Julio falasse a respeito de música instrumental e seus trabalhos produzidos, sendo que ele nos deu referências atuais da música instrumental na cidade. Percebi, desde a sua entrevista, que não seria interessante realizar um trabalho semelhante a uma reportagem, no sentido informativo, em mostrar de maneira direta quais trabalhos, autorais ou não, de música instrumental, são produzidos em Salvador. Cheguei à conclusão que o mais importante para o documentário seria uma discussão reflexiva e filosófica, e não a realização de um mapeamento de músicos e bandas, por mais importância que elas tivessem no cenário.

As imagens foram produzidas por Vitória Régia Sampaio, enquanto eu realizava as perguntas a Julio Caldas, que optou por ficar sentado, com a sua guitarra nos braços, e

(23)

explorei primeiros planos e planos americanos. Realizei imagens de Julio fazendo algumas improvisações na guitarra, se aquecendo tecnicamente no instrumento.

3.2.2 André Liberato (guitarrista e organizador da Segunda Plugada)

No dia 04 de novembro de 2016, ao lado de Vitória Régia, entrevistei André Liberato, guitarrista da cantora de Axé Music, Alinne Rosa, foi entrevistado, em sua casa, no bairro da Pituba. André Liberato é o administrador do grupo do Whatsapp, do

Guitarristas de Salvador, além de ser organizador da Segunda Plugada, um evento que

apresenta guitarristas, na casa noturna B-23, que fica no Boulevard 161, no bairro do Itaigara, que ocorre sempre às segundas, uma vez ao mês.

André, por estar inserido tanto no cenário da música instrumental, quanto no mercado da Axé Music, mostrou um ponto de vista mercadológico e musical importantíssimo para uma reflexão de como os músicos podem realizar um trabalho acessível para a população, além de ter tecido críticas em relação aos públicos, que não possuem, na sua concepção, “cultura” para contemplar música instrumental. A visão de André é suscetível a debates sobre mercado e comunicação, especialmente no segmento de Indústria Cultural.

Eu e Vitória Régia optamos por filmar André em seu estúdio de gravação, sendo que ele fez algumas improvisações de guitarra, que mais tarde não inclui na finalização, porque a meu ver os temas executados por André não se enquadravam no meu documentário, pois quis explorar a percussividade. Para dinamizar, decidi mudar André de cenário, utilizando o plano americano na varanda de sua casa, e fazer as perguntas que restavam.

3.2.3 Felipe Guedes (multi-instrumentista e promessa da música instrumental) O multi-instrumentista Felipe Guedes dos escolhidos por mim, pois não somente a meu ver, mas na concepção de diversos pessoas presentes no cenário musical de Salvador, Felipe é um destaque como jovem promissor pela sua experiência vasta aos 26 anos de idade, e possui um grande potencial para realizar um trabalho instrumental autoral que seja reconhecido na Bahia e no mundo inteiro. Felipe Guedes é uma pessoa acessível, e entrei em contato com ele pessoalmente, em vários encontros que tivemos no bairro do Rio Vermelho, nos finais de semana. Em conversas informais, expliquei a Felipe que

(24)

seria importante incluir no documentário alguém jovem que tivesse potencial elevado na música, sendo que ele aceitou prontamente o convite.

A filmagem foi realizada no largo da mariquita, no dia 08 de novembro de 2016, com Felipe sentado no banco da praça com seu violão, sendo que aproveitei a atmosfera urbana da cidade. Escolhemos o Rio Vermelho pois Felipe em seguida teria um ensaio no bairro, ou seja, a localização ficou mais fácil para nos encontrarmos, já que o músico possui pouco tempo para entrevistas. Fiz a imagem em plano americano. Pedi para que o músico fizesse uma pequena improvisação no seu violão, com o objetivo de compor a trilha sonora.

Felipe revelou a possiblidade que qualquer artista pode ter em se comunicar com seu público, mostrando a sua identidade em um trabalho autoral, apesar de o mercado cada vez mais diluir a música, oprimindo os trabalhos mais elaborados.

3.2.4 Ivan Huol (organizador da Jam no Mam e agitador cultural)

O baterista, organizador e idealizador da Jam no Mam(evento localizado no Museu de

Arte Moderna, na Avenida Contorno de Salvador, que reúne um grande público

comparado a eventos da Europa, no gênero de música instrumental, e que ocorre todos os sábados, a partir das 17:30), Ivan Huol, foi escolhido por mim para integrar o documentário nas entrevistas por ser uma pessoa acessível e um dos maiores agitadores da música baiana, seja em eventos políticos, carnaval ou de música instrumental. Sou um frequentador assíduo da Jam no Mam, e pessoalmente combinei a entrevista com Ivan Huol, confirmando a entrevista por telefone. A filmagem da entrevista ocorreu na casa do produtor, pela tarde, no dia 10 de novembro de 2016. Vitória Régia mais uma vez fez as imagens, em plano americano, sendo que Ivan estava sentado na mesa, enquanto eu realizava as perguntas.

No dia da entrevista Ivan Huol relatou a importância da percussividade de influência africana na música baiana, inclusive na música dita instrumental, além de apontar que todo músico profissional deve olhar para as produções populares da cidade, especialmente as realizadas nas ruas.

Como complemento de imagens, decidi filmar Ivan Huol, na própria na Jam no Mam, meses depois da sua entrevista, no dia 13 de junho de 2017, desta vez ao lado de

(25)

Rodrigo Veloso, que foi dirigido por mim, durante o evento. Fizemos trechos de improvisações do baterista em questão, além de pegar imagens como o letreiro da Jam

no Mam; o público do evento em plano conjunto; imagens de percussões; e imagens dos

pés meus e de Rodrigo, dançando, com o objetivo de integrar as imagens que foram colocadas em uma sequência dinâmica.

3.2.5 Mou Brasil (guitarrista renomado do jazz internacional)

O guitarrista reconhecido internacionalmente, Mou Brasil, é conhecido por possuir opiniões pessoais engajadas que tendem ao enfrentamento. Meu primeiro contato com Mou foi no Rio Vermelho. Ele estava com sua esposa, e WelldonJorbert, um dos colaboradores do documentário, reconheceu e falou diretamente com o artista. Expliquei rapidamente do que se tratava o convite para a entrevista, e Mou Brasil aceitou de imediato, concedendo seu contato de Whatsapp. Marcamos a entrevista para o dia 23 de novembro de 2016, e fizemos no playground do seu prédio, em uma conversa espontânea, em que ele demonstrou total indignação em relação ao mercado e aos grupos que monopolizam o cenário musical em Salvador, além de expressar seu olhar sobre a importância espiritual e social da música instrumental.

3.2.6 Maestro Fred Dantas

Fiz contato com o orquestrador Fred Dantas, através do Facebook. Fred Dantas concedeu seu número do Whatsapp, e imediatamente marcamos a entrevista. Já presenciei inúmeras apresentações de Fred Dantas, sendo que eu o considero o maior orquestrador da Bahia, pois ele faz um trabalho instrumental erudito, extremamente afinado, que é acessível à população baiana, se encaixando perfeitamente nos carnavais e festas de largo de Salvador.

No dia 29 de novembro de 2016, eu e Vitória Régia fomos à casa de Fred e realizamos a entrevista. Fred que tinha compromisso, foi muito hospitaleiro, e sentou-se no sofá da sala de sua casa, local onde havia mais iluminação. Fizemos as imagens em primeiro plano e em plano americano, sendo que eu realizava as perguntas.

Fred fez um apanhado histórico da música instrumental de Salvador e da Axé Music. Disse o que é necessário a respeito de políticas públicas para fomentar a música instrumental; relatou sobre a corrupção dos editais, que impede uma maior

(26)

democratização de oportunidades no cenário artístico; e reforçou a influência percussiva africana na música baiana, o que torna a sua localidade mais ampla, versátil e que direciona caminhos diversos a serem seguidos.

O maestro ainda disponibilizou dois CDs instrumentais de sua autoria para a composição da trilha do documentário, que optei por não usar, devido ao enquadramento que utilizei, e pediu para que, com o termino da produção do documentário, eu entregasse os materiais para a Facom, como forma de servir aos estudantes para pesquisas futuras.

3.2.7 Mário Ulloa (Violonista erudito de nacionalidade costa riquenha)

Entrei em contato com Mario Ulloa através do Facebook, que pediu para que eu o encontrasse na Escola de Música da UFBA. Escolhi Mario Ulloa para entrevista pois além dele ser um violonista reconhecido internacionalmente, é nascido na Costa Rica, mas mora em Salvador há anos, sendo reconhecido no Brasil inteiro, com a técnica do violão erudito.

O músico nos atendeu na escola de música da UFBA, no dia 30 de novembro de 2016, à tarde, e em um bate papo, numa sala de aula com seus alunos presentes, questionou porque os programas de televisão locais não abrem espaço para músicos que possuem trabalhos no cenário da música instrumental, da mesma forma como concedem para bandas que possuem apoio de empresários. Mário Ulloa deixa esse questionamento no ar, sendo que esse foi o argumento selecionado para compor o documentário.

Optei por não integrar no filme as imagens dos alunos, por não ter adquirido os termos de autorização de imagem dos presentes, com exceção do violonista e professor em questão. As imagens foram feitas por Vitória Régia Sampaio, e eu decidi que não poderíamos utilizar o microfone de lapela em Mário, pois estávamos na sala de aula, com diversos alunos. As filmagens foram realizadas de modo descontraído, em uma espécie de bate papo.

(27)

Ao começar o mapeamento dos entrevistados, pensei imediatamente em Armandinho Macêdo, conhecido por ser um dos expoentes da guitarra baiana e por seus trabalhos reconhecidos no Trio Elétrico Dodô e Osmar e A Cor do Som. Sabia que seria difícil chegar até ele, mas fui surpreendido quando ao mandar recado para o Facebook de Armandinho Macêdo – Assessoria, fui muito bem recepcionado, e logo marcamos a entrevista, para o dia 06 de dezembro de 2016, no final da tarde, no playground de seu prédio.

Realizei inúmeras perguntas a Armandinho, que preferiu se sentar. As imagens foram captadas em plano americano. Para o instrumentista, música instrumental baiana é a realizada por baianos, independente se o gênero musical não é exclusivo da Bahia. Entretanto, existe uma característica peculiar, segundo Armandinho, que é a influência afro na música de Salvador, distinguindo-a das culturas musicais de outras regiões. Além disso, Armandinho compara o público soteropolitano com outras cidades do Brasil, tecendo a crítica em relação ao público de Salvador, que segundo ele, é pouco receptivo à música instrumental. Ainda segundo o instrumentista, ele não realizaria um trabalho exclusivamente autoral, sendo necessário mesclar composições instrumentais próprias com canções já conhecidas. Por fim, Armandinho relata que a música

instrumental está restrita a pequenos grupos, e possui pouco apoio dos veículos

midiáticos.

Depois de todas as perguntas feitas, muito gentilmente Armandinho atendeu os pedidos meu e de Vitória Régia, que estava realizando as imagens, para pegar o seu bandolim. A pedidos, Armandinho, realizou uma improvisação da música Na Baixa do Sapateiro, composta por Ary Barroso, um tema especifico que lembra, obviamente, a cidade e cultura soteropolitana.

3.2.9 Joatan Nascimento (Trompetista e integrante da Osba)

Por sugestão de WelldonJorbert, quando estávamos presentes na Jam no Mam, resolvi entrevistar o trompetista Joatan Nascimento, também professor renomado, que nos recebeu na escola de música da UFBA, no dia 14 de dezembro de 2016, após termos combinado a entrevista, quando encontramos o músico na Jam no Mam. Ao lado de Vitória Régia, que fez as imagens em primeiro plano em uma sala de aula vazia, além de um take em plano médio de Joatan saindo da Escola de Música, entrevistamos o

(28)

músico que falou sobre a impossibilidade, na sua visão, de viver somente de música instrumental em Salvador, pois para ele não há retorno financeiro para o artista, além das dificuldades mercadológicas e falta de um público consumidor. Joatan Nascimento que é nascido em Maceió, possuiu uma longa trajetória no mercado da Axé Music, optou pela carreira acadêmica, e integra a Orquestra Sinfônica da Bahia.

3.2.10 Anderson Souza, Gabriel Batatinha e SerainaGratwohl

No dia 10 de janeiro de 2017, foram feitas imagens no Pelourinho e visitei, no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, o filho do famoso Neguinho do Samba, o percussionista Anderson Souza, sugerido por Vitória Régia. Anderson falou sobre a importância da influência afro na percussão e música instrumental baiana; sobre suas experiências no exterior; falou sobre a relevância de se dar oportunidades para a formação de novos instrumentistas, através de, por exemplo, festivais; e falou que a música instrumental não pode ficar restrita a pequenos grupos.

Após a entrevista, Anderson fez algumas improvisações com pandeiro, transpondo para o instrumento o ritmo dos blocos afro, incluindo o Samba Reggae. Em seguida, nos apresentou Gabriel Batatinha, neto do sambista Batatinha, e a violinista suíça SerainaGratwohl. Nós conversamos, e sugeri que os três fizessem uma improvisação musical, para registro. Em um dado momento, Anderson assumiu o pandeiro, Gabriel o violão e Seraina tocou o violino. Depois, Anderson e Gabriel tocaram ritmos de candomblé, através de atabaques, acompanhados por Seraina no violino, que conseguiu reunir a percussividade afro no pequeno instrumento harmônico.

Realizei as imagens, mas as condições de acústica sonora do local não eram adequadas. Por isso gravei uma sequência de uma improvisação dos três músicos, e fiz, ao lado de Vitória Régia, diversas imagens, inclusive de objetos de do bairro do Santo Antônio Além do Carmo que compilamos na edição junto com o som.

3.2.11 Bira Reis (Ex-Saxofonista do Olodum)

Vitória Régia sugeriu que eu fizesse entrevista com Bira Reis. Fomos diversas vezes, com equipamentos, para realizar a entrevista com o artista no Pelorinho, na sua loja denominada Oficina de Investigação Musical, que vende instrumentos musicais e onde

(29)

é realizado oficinas para estudo de improvisações criativas. Na primeira ida, levamos o equipamento pois poderíamos dar a sorte de conseguir a entrevista de cara. Bira Reis não se encontrava, mas conseguimos o seu número do celular, com a recepcionista de sua loja, que nos avisou que Bira não costumava atender ligações, devido a sua desatenção com redes sociais e telefônicas. Em determinado dia, eu e Vítoria o encontramos, e falamos sobre o documentário. Muito gentilmente Bira nos atendeu e resolveu marcar a entrevista para outro dia.

No dia 24 de janeiro fizemos a entrevista com ele pela tarde. Bira explicou detalhadamente o que é música instrumental, as suas diversas funções (a exemplo de trilha sonora de cinema, e musicoterapia), além da possibilidade da voz ser utilizada como instrumento e ser incluída no que chamamos de instrumental. Bira Reis ainda falou sobre sua experiência no grupo Olodum, onde considera que fez música instrumental, tocando Saxofone ao lado das percussões, e por isso vê inúmeras possibilidades de sobreviver do gênero no mercado, que para ele é amplo. A rentabilidade pode não ser necessariamente financeira, mas artística. O artista ainda salienta a importância do estudo do instrumento para a formação de bons músicos; a liberdade necessária para o desenvolvimento da criatividade do instrumentista em formação; além de correlacionar a música instrumental com o investimento na educação de jovens, que pode surtir efeitos na economia e na sociedade. No final das contas, percebi que foi muito proveitoso tentar tantas visitas a um músico que particularmente eu não havia mapeado, e que foi sugerido por minha colega de produção, sendo que a participação do artista fez diferença positivamente e fundamental para o enquadramento filosófico do documentário.

Pedi para que Vitória filmasse Bira tocando instrumentos artesanais, além a paisagem do fundo do estabelecimento, de onde dá para enxergar o bairro do Comércio. Também filmamos alguns objetos, e algumas artes pláticas, incluindo a caricatura de Bira feita em grafite.

3.2.12 Kombinação Musical (na praia de Buracão, Rio Vermelho)

Nos meus finais de semana, nos momentos de lazer na praia de buracão, localizada no Rio Vermelho, sempre me deparava com o grupo Kombinação Musical, que fazia apresentações públicas na praia, com performances percussivas. Fiz contato com Paulo

(30)

Giron, que organiza e lidera o grupo, e marcamos a entrevista, na mesma praia de Buracão, no dia 01 de junho de 2017. Paulo trouxe seus amigos, integrantes da Kombinação Musical, e sugeriu que eu fizesse alguns takes da chegada do grupo, que vinham em um carro conhecido como Kombi. Dirigi Vitoria Régia e Rodrigo veloso, tanto nas filmagens da chegada do grupo, quanto na apresentação musical dele dá força a conotação proposta por mim, sobre formação de músicos, além da necessidade de união para a fomentação da música instrumental na cidade, pois com a aglomeração de músicos podem surtir efeitos positivos de ordem econômica, artística e social.

Também fizemos vários planos conjuntos do grupo ensaiando, além de movimentos de rotação de câmera, dando ênfase nas execução técnica dos instrumentistas em seus instrumentos.

A Kombinação Musical reflete a união de jovens, a formação de instrumentistas borbulhando na cidade, além da mescla do popular, da arte feita na rua, incluindo o ritmo local e de periferia chamado Groove arrastado (também conhecido como Pagode Baiano, que tem influências de samba de recôncavo e música cubana, através de percussões como torpedo e conga) com a cultura erudita, integrando o violino como signo da erudição. Todos os músicos presentes na performance são inteiramente dedicados aos seus instrumentos, e possuem uma erudição não necessariamente acadêmica.

Rodrigo Veloso ainda fez as fotografias dos músicos, e Vitória Régia Sampaio ficou na produção, equipe de som e câmera.

3.2.13 Rafael Lima

Rafael Lima aparece nos primeiros minutos com a blusa do Esporte Clube Bahia, propositalmente para localizar o espectador do filme a respeito de que o documentário se trata de Salvador- Bahia. Na realidade, Rafael, que trabalha na Barraca do Mickey (propriedade de sua família), cujo letreiro está exposto em cena, costuma estudar música, enquanto também atende seus clientes, sempre nos minutos vagos. Com esta cena inicial, quis mostrar que há músicos por toda parte na cidade, com vontade de estudar e se aprimorarem na música, que é um elemento que faz parte do cotidiano de diversos jovens soteropolitanos.

(31)

As imagens foram dirigidas por mim, e realizadas por Kauê Melo, apoiadas por Rodrigo Veloso, no dia 08 de junho de 2017. A intenção é performática, tanto que foram utilizados cortes de cenas na sequência.

3.3 Edição e finalização

As decupagens das falas dos entrevistados vinham sendo feitas desde o início das filmagens, em que eu selecionava as falas mais importantes dos entrevistados. Á medida em que as imagens eram realizadas, percebia que o conceito de música

instrumental é muito amplo, e não caberia em um documentário feito sem muitos

recursos. Cheguei à conclusão de que o documentário deveria ter uma duração mais curta, de modo que os espectadores se sentissem atraídos. Foi então que decidi que ele teria uma duração de 20 minutos, e trataria sobre o lado instrumental da música em Salvador, focando no seu aspecto percussivo, e perpassando pelas reflexões mercadológicas, artísticas, políticas, etc. O modelo de 20 minutos, na minha concepção, permitiu uma dinâmica maior do documentário, uma exposição dos argumentos, conectados entre si, de forma que não cansasse o espectador. Era verdadeiramente uma das minhas intenções principais que este documentário fosse um “aperitivo” em relação ao tema música instrumental, de forma que o aprofundamento real seja buscado em outros projetos posteriores.

Para a obtenção de uma dinâmica, conforme o objetivo de não cansar o espectador do filme, escolhi então mesclar as entrevistas com as performances musicais, que já se incluem na trilha sonora. As performances dão sustentação aos argumentos, selecionados no enquadramento, dos entrevistados. Além do mais, em se tratando de um documentário sobre música, as improvisações artísticas tornam as reflexões menos maçantes.

Os traços performáticos também estão nas fotografias realizadas por Rodrigo Veloso, com os músicos da Kombinação Musical, e que foram editadas por mim e por ele, no programa Lightroom. Optamos imprimir características artificiais nas fotografias, que lembrassem pintura, como uma forma de associação com a fala de Mou Brasil, a respeito da expansão da consciência através da música instrumental. As fotografias,

(32)

com aspecto de pintura, que retratam os instrumentistas baianos, são expostas no documentário, como se estivessem em um museu.

Além disso, uma dificuldade que está sempre presente no documentário é a questão dos direitos autorais. Como dito anteriormente, decidi que não usaria gravação de estúdio de nenhum grupo ou artista, para não ter qualquer problema jurídico. Optei então pelo uso das performances dos entrevistados e participantes para compor a trilha sonora, através de suas improvisações livres, além de eu mesmo compor dois temas, gravados por mim, onde fiz uso do violão. Gravei um tema de 30 segundos, para a abertura do documentário, denominado Berimbaviola, que é uma execução percussiva no violão remetendo ao instrumento do berimbau, muito associado à cidade de Salvador. Outro tema composto por mim se chama Rua Ijexá, um tema improvisado, e uma alusão à percussividade dos blocos afro, e que foi gravado espontaneamente com o violão, para ser inserido nos créditos do documentário.

Ambas improvisações foram gravadas em arquivo MP4, no celular Samsung Galaxy Prime J7, devido aos poucos recursos, falta de tempo, e necessidade de complementar o filme. A idéia das duas gravações de áudios é demonstrar a percussividade existente na mão direita dos violonistas baianos, o que é uma característica marcante do músico soteropolitano (onde me incluo), ao transformar instrumento harmônico em também percussivo.

A ideia de incluir as composições próprias, na abertura e nos créditos, surge quando todas as falas já estavam decupadas, e articuladas em um roteiro de montagem. Decidi então realizar a edição final do filme com Kamal Eduardo. Utilizamos o programa

Premier, onde montamos todas as cenas e sequências do documentário, já com todos os

arquivos em mãos. A edição final foi conciliada com as atividades pessoais de Kamal Eduardo, e por isso durou de 13 de junho a 8 de julho de 2017.

3.4 Equipamentos

Utilizei câmeras modelo Sony HADRXR – 160, Canon T5 18 MP e Samsung Galaxy Prime J7, para a realização das imagens e gravação dos sons, além de um tripé e um microfone de lapela.

(33)

4. Considerações finais

Durante todo o meu percurso no curso de Jornalismo, poucas foram as oportunidades de se realizar um trabalho de ordem mais livre, para que eu pudesse colocar minha criatividade em prática. O trabalho de conclusão de curso é esse grande momento, principalmente quando o estudante opta por produzir um produto, que exija de fato que ele entre em um maior contato com a sociedade e não fique tão preso ao arcabouço teórico. Todavia, compreender a comunicação sob o ponto de vista dos autores acadêmicos proporciona uma visão mais ampla e um senso crítico mais aguçado com relação a tudo que enxergamos, e com a maturidade fui entender a importância de ter uma base teórica. Salvador: A Voz do Instrumental só foi possível de ter sido realizado a partir das leituras realizadas em sala de aula, sobre questões básicas da teoria da comunicação, cultura contemporânea, e uma compreensão maior da atualidade. De fato, saio da jornada universitária com pontos de vista mais amplos a respeito do cenário musical, em que eu estou inserido desde a infância.

Foi somente no último semestre como estudante de Jornalismo que consegui encontrar meu caminho na área de comunicação. Sei que preciso me sustentar financeiramente, mas aprendi que o jornalista pode atuar de diversas formas, e de sua responsabilidade para com o próximo ele não pode fugir. A produção audiovisual requer primeiramente, independente do retorno material, cumprir com a sua função humanística.

Salvador: A Voz do Instrumental, é um documentário para a posteridade, pois promove

uma reflexão sobre a importância social e econômica da fomentação da música instrumental na capital baiana. A formação de novos instrumentistas, unidas a uma boa educação artística, promoverá a agregação e solidariedade entre as pessoas. É necessário que procuremos meios de atuação que se direcionem para melhorias, minimizem as desigualdades, e recolham as pessoas da miséria, da fome material e intelectual.

Pretendo, ao final do curso, distribuir o produto descrito neste memorial, em festivais, exibições públicas e redes sociais. Terei um trabalho árduo pela frente, pois disseminar um produto audiovisual não é simples, e nem sempre promove um retorno de reconhecimento de imediato.

(34)

Sendo a minha primeira direção em um documentário, me sinto satisfeito, com vontade de produzir outros produtos, artísticos e comunicacionais. No período em que filmávamos, eu e Vitória Régia comentávamos que conversar com os músicos instrumentistas era como se fosse uma terapia psicológica para mim, que sou músico. Todo processo de entrevista, em verdade, não deixa de ser um processo de terapia, porque quando entramos em contato com o mundo do próximo, passamos a entender o nosso próprio mundo. Dar a voz para o próximo, e ouvi-la, pode significar um dispositivo para que encontremos nossas próprias vozes que se ocultam em nós.

Espero que esse documentário seja uma terapia também para os espectadores, e que ele amplie os pontos de vistas com relação ao cenário da música instrumental, de forma que as transformações positivas, sejam quais forem, tornem-se vigentes. Que este produto seja visto com o passar dos anos, e sirva para algum tipo de reflexão e compreensão da

música instrumental aqui na cidade. Até lá, espero que o cenário seja mais democrático

Referências

Documentos relacionados

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Fita 1 Lado A - O entrevistado faz um resumo sobre o histórico da relação entre sua família e a região na qual está localizada a Fazenda Santo Inácio; diz que a Fazenda

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Also due to the political relevance of the problem of repressing misguided employment relationships, during the centre-left Prodi Government (2006-2008) and the