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Índice de Globalização das Regiões Portuguesas

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Academic year: 2021

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Índice de Globalização das Regiões Portuguesas

João Paulo Gomes Lima

Dissertação/relatório de projeto/relatório de estágio Mestrado em Economia

Orientado por

Orientadora: Prof. Dra. Ana Paula Africano de Sousa e Silva Co-orientador: Prof. Dr. Paulo João Figueiredo Cabral Teles

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“It’s hard to fail, but it is worse never to have tried to succeed”

Theodore Roosevelt

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Agradecimentos

Clarice Lispector uma vez disse “Quem caminha sozinho chega mais rápido, mas quem caminha acompanhado, chega mais longe”, pois bem este processo de escrita científica demonstrou isso mesmo, pelo que devo um agradecimento a todos os que nele participaram de forma direta ou indireta.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Prof. Dra. Ana Paula Africano de Sousa e Silva, que aceitou orientar-me mesmo quando todas as orientações estavam definidas. Agradeço o facto de ter sido uma orientadora na verdadeira acessão da palavra, como também todas as correções e indicações incansáveis que me foram dadas. Gostaria também de agradecer ao meu coorientador, o Prof. Dr. Paulo João Figueiredo Cabral Teles, pela preciosa ajuda no cálculo do índice, pelas respostas às minhas questões e pelas sugestões que enriqueceram a análise dos resultados.

Aproveito também para agradecer a todos os Professores que fizeram parte da minha formação na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, no Mestrado em Economia, em especial Professor Vítor Manuel da Costa Carvalho, por ter sido um excelente tutor e por incentivar a minha ideia de prosseguir com uma nova dissertação.

Aos meus pais, que sempre me apoiaram e demonstraram confiança nas minhas capacidades. A eles devo mais que a minha educação.

À Rita Rangel Gameiro agradeço por toda a ajuda, compreensão, paciência e motivação que me deu ao longo deste tempo. As suas revisões incansáveis contribuíram muito para a qualidade deste texto.

A todos os meus amigos que me apoiaram nos momentos mais difíceis com palavras de motivação e que me encorajaram a não desistir e iniciar este trabalho.

A todos os meus colegas de karaté que me acompanharam ao longo desta jornada. Por fim, agradeço ao Dr. José Milheiro que conheci no projeto de mentoria e que me incentivou a procurar o melhor caminho para mim.

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Resumo:

Os índices compósitos são instrumentos úteis para comunicar fenómenos complexos e fornecer dados para a tomada de decisão política. Os índices de globalização permitem que se capte os efeitos deste fenómeno ao nível regional, sendo importante que estejam não só bem construídos do ponto de vista prático, como também fundamentados teoricamente. Neste sentido, contribuímos para a literatura ao fundamentar teoricamente as dimensões e subdimensões da globalização ao nível regional. Assim, esta dissertação tem em vista responder à questão de investigação: “Quais são os fundamentos teóricos para as

dimensões e subdimensões da globalização ao nível regional e como podemos medir esse mesmo fenómeno para NUTS III de Portugal?”.

Procedemos a uma análise crítica da literatura para a fundamentação das dimensões e subdimensões complementada com uma análise estatística em que foi utilizada a análise em componentes principais para a atribuição dos pesos às subdimensões fundamentadas para os anos 2016, 2017 e 2018.

A partir dos índices de globalização ao nível nacional, fundamentou-se as dimensões e subdimensões utilizadas para medir o fenómeno ao nível regional e fez-se uma aplicação empírica para as NUTS III de Portugal. Foi possível calcular o índice para os anos 2016, 2017 e 2018 e hierarquizar as regiões relativamente ao índice de globalização nas várias dimensões: económica, sociotecnológica e política. Adicionalmente, através da análise de clusters, foi possível obter 4 tipologias de regiões, relativamente homogéneas, de acordo com os diferentes tipos de exposições internacionais que estas têm, face às dimensões da globalização.

Palavras-Chave: Globalização, Regiões, Medida de Globalização, Análise em

Componentes Principais.

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Abstract:

Composite indices are useful tools for communicating complex phenomena and providing data for political decision making. Globalization indices allow for the effects of this phenomenon to be captured at the regional level, and they must be not only well constructed from a practical point of view but also have theoretical foundations, otherwise, we take the risk of simplifying the phenomena. Therefore, we contribute to the literature by theoretically substantiating the dimensions and sub-dimensions of globalization at the regional level. Hence, this dissertation aims to answer the following research question: “What are the theoretical foundations for the dimensions and sub-dimensions of globalization at the

regional level and how can we measure this same phenomenon for the Portuguese NUTS III?”

To answer this question, we carried out a critical analysis of the literature to sustain the dimensions and sub-dimensions on a regional basis, complemented by a statistical analysis in which the Principal Component Analysis is used to assign the weights to the sub-dimensions for the years 2016 to 2018.

Based on the globalization indices at the national level, the dimensions and sub-dimensions used to measure the phenomenon were substantiated at the regional level and an empirical application was made for NUTS III Portugal. It was possible to calculate the index for the years 2016 to 2018 and rank the regions relative to the globalization index in various dimensions: economic, socio-technological, and political. Additionally, through a cluster analysis, it was possible to obtain four types of regions, relatively homogenous, according to the different types of international exposures that they have concerning the dimensions of globalization.

Keywords: Globalization, Regions, Globalization measure, Principal Component

Analysis.

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Índice de conteúdos

Agradecimentos... ii

Resumo: ... iii

Abstract: ... iv

Índice de Figuras ... vii

Índice de Tabelas ... viii

Lista de Acrónimos e Siglas ... ix

Capítulo 1 – Introdução ... 1

Capítulo 2 – Revisão da Literatura ... 3

2.1 O Conceito de Globalização ... 3

2.2 Índices de Globalização... 5

2.2.1 Fundamentação Teórica das Subdimensões das Métricas a Nível Nacional ... 8

2.2.1.1 Dimensão Económica ... 8

2.2.1.2 Dimensões Social e Tecnológica ... 10

2.2.1.3 Dimensão Política ... 12

2.2.1.4 Outras Dimensões ... 14

2.3 Dimensão Regional ... 15

2.3.1 Estudos da Globalização vs Regiões ... 16

2.3.2 Dimensão Económica Regional ... 19

2.3.3 Dimensão Sociotecnológica Regional ... 21

2.3.4 Dimensão Política Regional ... 24

Capítulo 3 – Adaptação do Índice de Globalização ao Nível Regional ... 26

3.1 Indicadores a Incluir na Dimensão Económica ... 26

3.2 Indicadores a Incluir na Dimensão Sociotecnológica ... 28

3.3 Indicadores a Incluir na Dimensão Política ... 29

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vi

Capítulo 4 – Metodologia ... 31

4.1 Análise em Componentes Principais ... 32

Capítulo 5 – Discussão de Resultados ... 34

5.1 Análise dos Resultados do IGRP ... 34

5.2 Análise das Dimensões que Compõem o IGRP ... 37

5.2.1 Análise de Resultados da Dimensão Económica ... 37

5.2.2 Análise de Resultados da Dimensão Sociotecnológica ... 40

5.2.3 Análise de Resultados da Dimensão Política ... 42

5.3 Análise Classificatória ... 45

Capítulo 6 – Conclusões ... 49

6.1 Pistas de Investigação Futuras ... 51

Referências Bibliográficas ... 53

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Índice de Figuras

Figura 1: Resultados do IGRP, (Portugal=100), NUTS III, 2016-2018 ... 35

Figura 2: Diagrama de Tendência do IGRP, NUTS III, 2016-2018 ... 36

Figura 3: Peso Atribuído a Cada Dimensão do IGRP, 2016-2018 ... 37

Figura 4: Peso de Cada Subdimensão no Índice Económico, 2016-2018 ... 38

Figura 5: Peso de Cada Subdimensão no Índice Sociotencológico, 2016-2018 ... 40

Figura 6: Peso de Cada Subdimensão no Índice Político, 2016-2018 ... 43

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Dimensões Presentes nos Vários Índices de Globalização ... 7

Tabela 2: Subdimensões Económicas Utilizadas nos Índices de Globalização ... 10

Tabela 3: Subdimensões Sociais e Tecnológicas Utilizadas nos Índices de Globalização .. 12

Tabela 4: Subdimensões Políticas Utilizadas nos Índices de Globalização ... 14

Tabela 5: Indicadores Utilizados para as Subdimensões Utilizadas a Nível Regional ... 30

Tabela 6: Pesos Obtidos pela ACP para as Dimensões e Subdimensões do IGRP ... 33

Tabela 7: Top 5 dos Maiores e Menores Valores no Ranking da Dimensão Económica .. 39

Tabela 8: Top 5 dos Maiores e Menores Valores no Ranking da Dimensão Sociotecnológica ... 41

Tabela 9: Top 5 dos Maiores e Menores Valores no Ranking da Dimensão Política ... 44

Tabela 10: Classes que Resultam da Análise de Clusters ... 45

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Lista de Acrónimos e Siglas

ACP – Análise em Componentes Principais A.M. – Área Metropolitana

CSGR – Centre for the Study of Globalization and Regionalization IDE – Investimento Direto Estrangeiro

I&D – Investigação e Desenvolvimento

GATT – General Agreement on Tariffs and Trade MGI – Modified Global Index

NGI – New Global Index

NUTS – Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos OMC – Organização Comercial do Comércio

ONU – Organização das Nações Unidas PEM – Política Externa Municipal PIB – Produto Interno Bruto R.A. – Região Autónoma

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1

Capítulo 1 – Introdução

Os índices compósitos são bons instrumentos para comunicar ao público fenómenos constituídos por várias dimensões e permitem que esses fenómenos estejam disponíveis para análise política (OECD, 2008). A globalização é um exemplo destes fenómenos pluridimensionais, pelo que o estudo dos seus efeitos e consequências precisa de dados para tomada de decisão política. Os índices de globalização permitem fornecer esses dados.

As métricas para a globalização surgiram no início dos anos 2000, dado que a globalização era apenas aferida aproximadamente por aspetos económicos, nomeadamente do comércio internacional. Os índices KOF e ATK/FP, elaborados por Dreher (2006) e A.T. Kearney/Foreign Policy (2001), respetivamente, foram os primeiros a englobar aspetos sociais e políticos, para além dos económicos.

Ao nível regional, as medidas da globalização apenas consideram aspetos económicos, pelas vulnerabilidades que as regiões têm face ao fenómeno. Um exemplo é o índice proposto por Mastrostefano, Dijkstra, and Poelman (2009) para as regiões NUTS II da União Europeia, porém não tem em consideração outros aspetos que não os económicos. J. Ferreira (2017) propõe uma métrica da globalização ao nível regional, nomeadamente das NUTS III portuguesas não só do ponto de vista económico, mas também social e político. Contudo, o estudo somente baseado na medição pode implicar uma simplificação de um fenómeno tão complexo e multifacetado como o da globalização (Martens, Caselli, De Lombaerde, Figge, & Scholte, 2015). Adicionalmente, o estudo da globalização precisa de dados para a tomada de decisão política, sendo que a globalização foi identificada como um dos maiores desafios que as regiões dos países da União Europeia enfrentam (European Comission, 2011). Tomando em consideração este contexto, é de primeira importância fundamentar as dimensões e subdimensões a utilizar a nível regional a par do cálculo do índice, a este nível de análise. É na complementaridade do cálculo do índice com a fundamentação teórica das dimensões e subdimensões a nível regional que esta dissertação pretende contribuir.

Assim, o objetivo desta dissertação é aprofundar o conhecimento do cálculo da globalização ao nível regional, neste caso para as regiões NUTS III de Portugal, e

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2 desenvolver a fundamentação teórica das dimensões e subdimensões a incluir no índice a este nível territorial. É neste último ponto que, tanto quanto sabemos, existe uma lacuna na literatura. Desta forma, pretendemos responder à questão de investigação: “Quais são os

fundamentos teóricos para as dimensões e subdimensões da globalização ao nível regional e como podemos medir esse mesmo fenómeno para NUTS III de Portugal?”

Para conseguirmos responder à questão de investigação, primeiramente, iremos fazer uma revisão crítica da literatura de modo a identificar a definição a usar para a globalização e como tem sido medida ao nível nacional. Posteriormente, iremos avaliar criticamente a adaptação das dimensões e subdimensões utilizadas ao nível nacional para o nível regional. Em seguida, iremos recorrer a um método estatístico, nomeadamente à análise em componentes principais, para atribuir os pesos às variáveis e, assim, proceder à adaptação e cálculo do índice compósito de globalização ao nível regional nos anos 2016, 2017 e 2018. Por fim, iremos analisar os resultados obtidos no índice de globalização das regiões portuguesas e nas dimensões que o compõe, elaborando também uma análise de

clusters.

Esta dissertação está estruturada do seguinte modo: Após a introdução segue-se o Capítulo 2 dedicado à revisão da literatura. Este capítulo tem três focos principais: primeiro fundamenta a definição de globalização a ser utilizada ao longo deste trabalho; segundo apresenta os índices de globalização utilizados para os países, analisando as respetivas dimensões e subdimensões; por fim contém a discussão relativa aos fundamentos teóricos ao nível regional das dimensões e subdimensões usadas nos índices de globalização a nível nacional. O capítulo 3 apresenta a nossa proposta de adaptação do índice de globalização ao nível regional, mais propriamente as variáveis que são utilizadas para cada uma das subdimensões. O capítulo 4 versa sobre a metodologia, nomeadamente as possíveis alternativas para se atribuir os pesos e a explicação da análise em componentes principais. O capítulo 5 apresenta os resultados do índice de globalização para as regiões portuguesas NUTS III, e a sua análise. Posteriormente, analisamos os resultados obtidos em cada uma das dimensões extraindo-se mais informação e detalhe do índice. Por fim, elaboramos uma análise de clusters em que agrupamos as regiões pelo tipo de exposição global que têm nas dimensões económica, sociotecnológica e política. O capítulo 6 apresenta as principais conclusões do estudo e indica possíveis caminhos de investigação futuros.

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3

Capítulo 2 – Revisão da Literatura

O fenómeno da Globalização e as Métricas existentes

O objetivo desta revisão de literatura é definir o quadro teórico do estudo da medição da globalização. A secção 2.1 irá fundamentar a definição de globalização a utilizar ao longo do trabalho. Segue-se a secção 2.2 com a revisão das diferentes métricas utilizadas nos índices que são calculados a nível nacional. Por fim, na secção 2.3 é feita a fundamentação teórica do índice de globalização ao nível regional.

2.1 O Conceito de Globalização

O ponto de partida é definir o que se entende por globalização, já que para medir um fenómeno é preciso tomar conhecimento do que se entende por esse mesmo fenómeno.

A medição de um fenómeno complexo como o da globalização implica uma abordagem em que o primeiro passo é fornecer uma definição clara e rigorosa do conceito, que segundo Caselli (2012) é particularmente difícil. De acordo com Kıvılcım (2018), o facto da globalização ser um processo dinâmico fez com que a noção de globalização se tornasse um conceito controverso e que fosse utilizado com pouca precisão na literatura que aborda o tema (Sklair, 1999).

As definições atribuídas à globalização estão associadas às vagas de pensamento sobre o próprio fenómeno. Holton (2005) identifica três linhas de abordagem ao fenómeno da globalização: a hiperglobalização, o ceticismo e o pós-ceticismo. A vaga de pensamento intitulada de hiperglobalização está associada às consequências dos processos de interdependências entre países e áreas para o bem-estar populacional mundial, para a política e para a identidade cultural. De acordo com Holton (2005), a outra vaga de pensamento é o ceticismo e engloba o pensamento dos autores que defendem que a globalização não existe e/ou que é um processo em decadência, pelo que defendem que

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4 não deve existir um conceito para tal fenómeno. Por último, o pós-ceticismo é apresentado por Holton (2005) como o pensamento que aceita a existência e validade de uma definição de globalização (contrastando com a posição do ceticismo), pela existência de acontecimentos que transcendem os Estados. Desta forma, nesta vaga de pensamento, que nos parece ser a mais sensata a tomar nesta dissertação, o conceito de globalização deve conter a ideia da tendência das relações e dependências entre Estados ter superado as tendências de reverter essas mesmas relações e interdependências, sem colocar em causa a importância do Estado.

Para Sklair (1999) a definição de globalização engloba a ideia de existirem problemas que transcendem o nível nacional, pelo que não são devidamente apreendidos se estudados a esse nível. Caselli (2012) complementa a ideia anterior, ao defender que o sentimento de pertença e identidade transcende fronteiras e não tem afiliações a qualquer país é o que distingue precisamente a globalização de outro conceito, a internacionalização. Sassen (2007) reforça a ideia da importância do papel das relações sociais nos níveis de desagregação mais baixos que os nacionais como as regiões, já que são fenómenos que ultrapassam as próprias fronteiras dos países em que estão inseridos. Desta forma, destaca a importância da análise da globalização a nível subnacional, sendo esta uma ideia importante a reter pela natureza do objetivo a que esta dissertação se propõe.

Ao nível regional, as críticas aos conceitos de globalização e a aceitação do fenómeno são mais concensuais, como Sklair (1999) refere: “While not all globalization

researchers entirely accept the existence of a global economy or a global culture, most accept that local, national and regional economies are undergoing important changes as a result of processes of globalization even where there are limits to globalization”1 (p.146). Segundo Caselli (2012) outro ponto de

convergência teórica é a ideia de se tratar de um fenómeno complexo que compreende várias dimensões. Adicionalmente, tanto Caselli (2012) como Figge and Martens (2014), reconhecem que existe consenso na literatura quanto à ideia da intensificação das relações de interdependência das dimensões que compõem a globalização.

Tendo tudo isto em consideração e tendo em conta que a noção e medida da globalização não é algo universal, mas que varia mediante o interesse da análise, iremos

1 “Apesar de nem todos os investigadores da globalização aceitarem a existência de uma economia global ou

uma cultura global, a maioria aceita que as economias locais, nacionais e regionais estão submetidas a alterações importantes, como resultado do processo de globalização mesmo onde existem limites à globalização”.

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5 adotar a seguinte definição: “In the context of our exercise, we look at globalisation as a process of

international (market) integration, where local economies and social systems experience a rapid increase of their sphere of action and their reciprocal interdependence.”2 (Mastrostefano et al., 2009, p. 6). Desta

forma, incluímos as noções aferidas como consensuais na literatura, nomeadamente de incluir a ideia da tendência de intensificação das relações e dependências entre Estados. Adicionalmente, a definição está enquadrada num estudo da globalização ao nível regional, o que motiva a sua adequação e utilização nesta dissertação.

2.2 Índices de Globalização

Esta secção apresenta o quadro teórico da medição da globalização através da revisão das métricas propostas na literatura para o seu estudo.

As métricas propostas para a medição da globalização foram originalmente desenvolvidas ao nível macroeconómico, tendo os países como principal unidade de referência territorial. De acordo com Gygli, Haelg, Potrafke, and Sturm (2019) e Martens et al. (2015), a escolha para a unidade territorial nacional é justificada, por um lado, pelos governos nacionais serem os maiores atores a moldar os processos de globalização e, por outro, porque a disponibilidade de dados também é superior a este nível de análise.

O ATK/FP3 foi um dos primeiros índices de globalização e surgiu numa

colaboração A.T. Kearney Consulting Group e a revista Foreign Policy apresentado no trabalho de A.T. Kearney/Foreign Policy (2001). O índice ATK surgiu pelo debate da globalização, até então, ser feito sem fundamentos quantitativos, o que tornava os resultados da avaliação de outros estudos pouco tangíveis. Este índice propõe-se a medir os níveis de interdependência registada para os vários países em quatro dimensões: política, económica, social e tecnológica.

Posteriormente, Dreher (2006) desenvolveu o índice KOF por considerar que a maioria das medidas da globalização eram insuficientes, por omitirem aspetos importantes.

2 “No contexto do nosso exercício, nós olhamos para a globalização como um processo de integração (dos

mercados) internacional, onde as economias locais e os sistemas sociais experienciam um rápido aumento na esfera de ação e interdependência recíproca.”.

3 Apesar do índice ter sido desenvolvido na parceria entre entre o A.T. Kearney Consulting Group e a revista Foreign Policy, este é identificado na literatura apenas por ATK. Por esta razão iremos citá-lo como ATK.

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6 Por um lado, as medidas focavam-se na dimensão económica, como o grau de abertura e fluxos de capital, ignorando outras dimensões do fenómeno, nomeadamente aspetos sociais e políticos, que influenciam e são influenciados pela dimensão económica. Por outro lado, a única medida que incluía estas dimensões, o índice ATK, omitia subdimensões importantes como as restrições ao comércio ou a população imigrante.

O índice KOF foi recentemente revisto por Gygli et al. (2019). Estes autores aplicam a distinção da medida de facto e de jure às dimensões política, social e económica, sendo que a versão anterior do índice apenas aplicava esta distinção à dimensão económica. Enquanto a medição de facto mede os fluxos e atividades globais, a medida de jure mede a contribuição das políticas e condições que permitem ou facilitem os fluxos e atividades internacionais.

Apesar dos dois índices (ATK e KOF) serem os que mais se encontram citados na literatura, encontram-se outros como o Modified Globalization Index (daqui em diante MGI) proposto por Martens and Zywietz (2006). Estes autores basearam-se no índice ATK, modificando-o, por considerarem que era incompleto devido à falta de fundamentação teórica. O índice MGI foi alvo de mais duas atualizações em 2009 e 2014, nos trabalhos de Martens and Raza (2009) e Figge and Martens (2014), respetivamente, em que foram feitas alterações metodológicas. A característica mais distinta do índice MGI é o facto de incluir a dimensão ecológica, como consequência da ação das outras dimensões (económica, social e política).

O índice CSGR,4 desenvolvido na Universidade de Warwick, proposto por

Lockwood and Redoano (2005), contrariamente ao ATK, faz o ajustamento das variáveis dos países, tomando em conta o tamanho e o facto de terem acesso a uma zona costeira. Para tal, baseiam-se no que Lockwood (2004) refere como o enviesamento dos países pequenos no índice ATK, em que os países mais pequenos tinham posições mais altas nos

rankings, já que dependem mais do exterior para acederem a bens e serviços.

O GlobalIndex elaborado no trabalho de Raab et al. (2008) destaca a vertente mais sociológica da globalização. Este índice, para além de incluir uma fundamentação mais profunda na vertente social, também inclui outras dimensões como as dimensões económica e política.

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7 Por fim, no New GlobalIndex (daqui em diante NGI), proposto por Vujakovic (2010), realça a importância do ajustamento ter em consideração o tamanho de país para distinguir o conceito de globalização do conceito de regionalização. A regionalização é entendida, neste contexto, como a maioria das trocas comerciais serem feitas com outros países próximos, pelo que a autora dá o exemplo do comércio feito entre países da Zona Euro. O NGI proposto por Vujakovic (2010) também tem a particularidade de englobar a dimensão ecológica, mas contrariamente ao MGI, insere-a na dimensão política.

A Tabela 1 apresenta a síntese das dimensões incluídas nos vários índices de globalização utilizados nos estudos que estudam a incidência deste fenómeno ao nível nacional. As dimensões marcadas com x e s foram incluídas nos cálculos compósitos dos respetivos índices de globalização. Os índices que apresentam o registo s na dimensão tecnológica, incluíram os elementos desta dimensão na respetiva dimensão social, ou seja, não a autonomizaram.

Tabela 1: Dimensões Presentes nos Vários Índices de Globalização

Índices Económica Política Social Tecnológica Ecológica

ATK x x x x KOF x x x s MGI x x x x x NGI x x x s GlobalIndex x x x s CSGR x x x

Fonte: Construção Própria.

A Tabela 1 permite constatar que todos os índices de globalização utilizam as dimensões económica, social e política, ou seja, são as dimensões mais consensuais na literatura, tal como reconhecido por Caselli (2008). Adicionalmente, a dimensão tecnológica parece ser uma dimensão importante, atendendo a que há consenso quanto à sua inclusão nos índices. No entanto, a forma como é incluída nos índices de globalização apresenta divergências. O seu reconhecimento como dimensão distinta da social não é consensual na literatura.

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2.2.1 Fundamentação Teórica das Subdimensões das Métricas a Nível

Nacional

Apresentadas as métricas a nível nacional, esta subsecção pretende explorar a fundamentação teórica encontrada na literatura para as várias dimensões incluídas na construção dos índices de globalização, com vista à sua posterior adaptação ao nível regional.

2.2.1.1 Dimensão Económica

De acordo com Dreher (2006) e Martens et al. (2015), a utilização das trocas comerciais e do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) foram sempre favorecidas pelos economistas como subdimensões a utilizar para os índices de globalização. O último estudo referido acima justifica a utilização tanto do IDE, como de variáveis ligadas ao comércio internacional, como as exportações e importações, nos índices de globalização, pela disponibilidade dos dados. No entanto, os argumentos para a inclusão tanto de variáveis do comércio internacional como do IDE parecem-nos limitados.

A criação do Acordo Geral sobre as Tarifas e Comércio (GATT), no pós segunda Guerra Mundial tinha como principais objetivos a diminuição das barreiras tarifárias e o aumento do ambiente negocial, o que provocou uma diminuição do nível geral das tarifas e um aumento das trocas entre países (Africano et al., 2018). Após várias rondas negociais, a Ronda do Uruguai (1986-1994) despoletou o processo de criação da Organização Mundial de Comércio (OMC) em 1995. A OMC continuou o trabalho do GATT, pelo que em 2018, tinha 164 membros e representava 95% do comércio mundial (Africano et al., 2018). Assim, as políticas económicas fomentaram a integração económica e o aumento das interdependências entre países, através do comércio. Os países trocam entre si para conseguirem produtos diferentes ou variedades diferentes do mesmo tipo de produtos. O contributo do comércio internacional para a globalização é aferido através do grau de abertura (soma das exportações com as importações sobre o Produto Interno Bruto (PIB)) e está presente em todos os índices de globalização.

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9 A partir dos anos 70, o processo de intensificação das interdependências das economias também é influenciado pelo crescente dinamismo do investimento direto estrangeiro (IDE) nomeadamente com o desenvolvimento de multinacionais. O IDE é outra subdimensão que está presente em todos os índices de globalização. Martens and Zywietz (2006) destacam que o IDE, contrariamente ao investimento em portefólio (adicionado para aferir a globalização financeira), constitui um envolvimento financeiro de longo-prazo. Os autores destacam o facto de ser um compromisso de longo-prazo cujos efeitos impactam na economia como um todo, pela exposição das empresas locais às inovações tecnológicas, técnicas ou aos métodos de gestão e produção provenientes do exterior.

Na literatura é possível encontrar fundamentos para a inclusão dos fluxos financeiros como o investimento em portefólio. Gygli et al. (2019) justificam a inclusão da globalização financeira a par das trocas comerciais pelos efeitos diferentes que provocam na distribuição de rendimentos entre países. Assim segundo Jaumotte, Lall, and Papageorgiou (2013), o comércio internacional tem contribuído para a diminuição das desigualdades de rendimentos entre países, enquanto a globalização financeira tem tido o impacto contrário. De facto, a liberalização do comércio internacional é uma das fontes mais importantes para o crescimento dos países menos desenvolvidos, enquanto a liberalização financeira tem sido causadora de grande instabilidade financeira à escala global que tem efeitos para a economia real.

A remuneração a trabalhadores estrangeiros também é adicionada na dimensão económica por Dreher (2006) e Vujakovic (2010), como consequência da ação da globalização no mercado de trabalho. Vujakovic (2010) inclui os pedidos de patentes e de marcas registadas por parte de empresas internacionais. O objetivo é considerar também as dinâmicas de novos produtos e da investigação e desenvolvimento no mercado doméstico. Por fim, tanto Dreher (2006) como Raab et al. (2008) consideram as restrições ao comércio como variáveis a incluir na dimensão económica. Raab et al. (2008) justifica esta opção devido ao aumento das barreiras não tarifárias, apesar dos muitos acordos comerciais celebrados nas últimas décadas. Desta forma, complementam a avaliação obtida pelo grau de abertura com outras medidas que constituem barreiras ao comércio.

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10 A Tabela 2 faz o resumo das subdimensões utilizadas para aferir a dimensão económica. Tal como na tabela anterior, a letra x indica a presença da subdimensão no respetivo índice de globalização.

Tabela 2: Subdimensões Económicas Utilizadas nos Índices de Globalização

ATK KOF MGI NGI GlobalIndex CSGR

Grau de abertura x x x x x x IDE x x x x x x Fluxo de investimento em portefólio x x x x x Pagamentos de salários a estrangeiros x x x Restrições ao comércio x x

Registo de marcas e patentes x

Fonte: Construção Própria.5

A partir da Tabela 2, constata-se que há consenso em incluir o grau de abertura e o IDE nos índices de globalização. Desta forma, é reconhecida a sua importância como veículo que interliga as economias e que cria interdependências entre elas. A inclusão da subdimensão fluxos de investimento em portefólio também é muito consensual. Por fim, a incorporação das subdimensões dos pagamentos de salários a estrangeiros, as restrições ao comércio e o registo de marcas e patentes são menos consensuais na literatura.

2.2.1.2 Dimensões Social e Tecnológica

A dimensão social engloba dimensões comuns nos estudos referidos anteriormente ao nível nacional, como o turismo internacional e o tráfego de chamadas internacionais. Contudo, não há uma clara separação na literatura de certos aspetos da dimensão tecnológica da social em subdimensões como o tráfego de chamadas internacionais. A última subdimensão mencionada, aparece no índice MGI (Martens and Zywietz (2006); Martens and Raza (2009); Figge and Martens (2014)) como pertencente à dimensão tecnológica. Já no trabalho de Raab et al. (2008), não é feita uma distinção entre a dimensão social e a tecnológica, pelo que é chamada de dimensão sociotecnológica.

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11 Martens and Zywietz (2006) incluíram a subdimensão dos imigrantes, através dos residentes nascidos no exterior (% da população), para aferirem o impacto da globalização via dimensão social, já que as populações provindas de outros países mantêm relações próximas com o país de origem e com a cultura do país de origem. Desta forma, pode argumentar-se que existe contacto indireto com outros países e é esperado que quanto maior for a diversidade de países de origem dos imigrantes, mais global será o país.

Gygli et al. (2019) referem que o contacto com a população estrangeira é uma das formas mais diretas de interação entre países, pelo que o turismo é, para Raab et al. (2008), uma das razões para o surgimento de cidades globais de referência. Martens and Zywietz (2006) argumentam que o turismo promove o contacto com diferentes países e altera as atitudes para com outros países mais distantes culturalmente, aproximando as relações e interdependências entre países.

Outras variáveis incluídas na dimensão social são as chamadas internacionais e os utilizadores de internet. Os utilizadores da internet são incluídos na dimensão tecnológica em alguns índices, como o MGI e o ATK. A dificuldade da distinção entre as dimensões social e tecnológica deve-se ao facto da tecnologia permitir aumentar as relações sociais e a transmissão de conhecimento em simultâneo. Figge and Martens (2014) referem que, através da utilização da internet, os agentes económicos podem participar na sociedade global e aceder a conteúdos digitais e bens que não são produzidos no seu país. No entanto, é referido pelos mesmos autores que uma limitação é não poder ser distinguido o tipo de consumo digital por país ou região. Por outro lado, a transmissão de conhecimento e o aumento da esfera de ação económica proporcionada pela internet são a motivação para a separação feita na dimensão sociotecnológica no GlobalIndex, no trabalho de Raab et al. (2008). Para os autores, a justificação da inclusão da vertente tecnológica deve-se ao facto de permitir, aos agentes económicos, às empresas e dos governos, reagirem mais rapidamente às alterações ocorridas nos mercados.

A Tabela 3 faz a síntese das subdimensões incluídas em cada um dos índices. Pela dificuldade já referida relativamente à distinção entre a dimensão social e tecnológica, existe necessidade explicitar a forma como são incluídas. Entenda-se que x designa as subdimensões presentes em cada índice de globalização na respetiva dimensão, ou seja, na social ou na tecnológica de forma independente. Já st é utlizada em duas situações: quando

(24)

12 a dimensão tecnológica está contida na dimensão social ou quando não existe qualquer distinção entre a dimensão social e tecnológica como no caso do GlobalIndex.

Tabela 3: Subdimensões Sociais e Tecnológicas Utilizadas nos Índices de Globalização

ATK KOF MGI NGI GlobalIndex CSGR

Imigrantes x x x st x Turismo internacional x x x x st x Tráfego de chamadas internacionais x x st x st x Transferências x x x st Jornais diários x x st Utilizadores internet st x st st x

Fonte: Construção Própria.6

A inclusão do turismo e do tráfego de chamadas internacionais nos índices de globalização parecem ser consensuais na literatura. A inclusão dos imigrantes também parece ser consensual na literatura, sendo apenas omitida pelo ATK. Assim, a ideia do aumento do contacto de culturas resultar num país mais global sai reforçada. A inclusão da variável dos utilizadores não só parece importante por ser consensual na literatura a sua inclusão nos índices de globalização como também por afetar a esfera social (aumenta o contacto entre povos) e a esfera tecnológica (promove a transmissão de conhecimento). Por fim, deste quadro é possível verificar a importância da dimensão tecnológica apesar de não ser consensual a sua inclusão nos índices de globalização.

2.2.1.3 Dimensão Política

A dimensão política é uma dimensão difícil de separar das restantes, pela esfera de ação abranger as restantes dimensões (Raab et al., 2008). Segundo Martens and Raza (2009), a dimensão política não pode ser ignorada, já que ao exercer o seu papel através das organizações internacionais, cria as condições para o surgimento ou desenvolvimento de sociedades mais globais.

Na literatura é possível encontrar três subdimensões a utilizar para aferir o impacto da dimensão política: o número de embaixadas, a participação em organizações

(25)

13 internacionais e a participação em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).

Martens and Zywietz (2006) referem que entre os primeiros elementos das relações políticas na globalização estão as relações diplomáticas. Os autores argumentam que é lógico assumir que quanto maiores as ligações entre os países do mundo, maior a necessidade de existir uma relação diplomática entre países para facilitar a comunicação, proteger os interesses e manterem-se informados dos acontecimentos. Desta forma, justificam a utilização do número de embaixadas de cada país.

Gygli et al. (2019) sugerem a inclusão de organizações não governamentais que têm atividade internacional. A justificação para a sua inclusão seria semelhante à argumentação utilizada para a inclusão das embaixadas, já que seria uma proxy para a influência de poderes políticos internacionais. No entanto, consideramos que a sua inclusão na dimensão política depende do cariz de atividade da própria organização. A aproximação de diferentes agentes económicos de diferentes países por interesses comuns e internacionais como os ambientais, através das organizações não governamentais, faz com que aumentem as relações de interdependência entre países. Assim, caso a organização não tenha objetivo relacionado à dimensão política, mas outro, por exemplo, o de promover ações culturais, poderá ser enquadrada na dimensão social.

Dreher, Gaston, Martens, and Boxem (2010) referem que a participação de um país nas organizações mundiais é uma medida semelhante ao das embaixadas, como proxy para o envolvimento político de um dado país.

A Tabela 4 resume as subdimensões utilizadas para aferir a dimensão política nos índices de globalização.

(26)

14

Fonte: Construção Própria.7

A Tabela 4 evidencia que a subdimensão participação em organizações internacionais é utilizada em todos os índices de globalização em estudo. A inclusão do número de embaixadas e as participações em missões da ONU também são consensuais na literatura.

2.2.1.4 Outras Dimensões

Na literatura também é possível encontrar outras dimensões a incluir na medição da globalização, como a cultura e a vertente ecológica.

A dimensão cultural é a mais difícil de ser medida (Gygli et al., 2019), pelo que, segundo Kluver and Fu (2004), não pode ser medida diretamente. Alguns autores como Dreher (2006) e o trabalho de A.T. Kearney/Foreign Policy (2001) optaram por incluir o número de estabelecimentos McDonald’s como uma proxy para a cultura. Esta opção, segundo Gygli et al. (2019) foi muito criticada por só considerar a aproximação à cultura ocidental. Dreher (2006) defendeu a posição por considerar que os Estados Unidos da América são os pace setters da globalização.

A dimensão ecológica aparece no MGI, proposto por Martens and Zywietz (2006). Os autores, referem que a dimensão ecológica é uma consequência das restantes. O intuito da dimensão é dar a conhecer o défice ou superávit de recursos naturais para suportar as outras dimensões, como a económica. Na nossa perspetiva, é uma medida para aferir os

7 Ver Anexo 4 com a apresentação detalhada das subdimensões de cada índice estudado.

Tabela 4: Subdimensões Políticas Utilizadas nos Índices de Globalização

ATK KOF MGI NGI GlobalIndex CSGR

Número de embaixadas x x x x x

Participação em organizações

internacionais x x x x x x

Participação em missões

internacionais pela ONU x x x x

Acordos ambientais x

Montante de transferências

(27)

15 recursos naturais necessários para suportar a posição global do país. Por fim, é importante referir que esta dimensão também é reconhecida por Vujakovic (2010), no NGI, no entanto é incluída como parte da dimensão política.

2.3 Dimensão Regional

Após a apresentação das métricas da globalização a nível nacional, iremos agora aprofundar o conhecimento de métricas relacionadas com a globalização utilizadas a nível regional. Como veremos, a este nível, o foco da literatura tem sido na dimensão económica. O objetivo desta secção será discutir a fundamentação e adaptação das métricas que foram usadas a nível nacional, nomeadamente a dimensão social, tecnológica e política da globalização, ao nível regional.

Antes de avançarmos com a apresentação das diferentes métricas propostas ao nível regional teremos de definir o conceito de região. O termo região tanto é utilizado para se referir a um conjunto de países como a um dado território delimitado no interior de um país. É esta última versão que nos interessa. Neste estudo iremos auxiliarmo-nos da definição territorial feita na Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos (NUTS), 8 no âmbito da União Europeia.

A escolha da definição territorial através de NUTS deve-se, em primeiro lugar, ao facto de terem sido especialmente concebidas para as estatísticas regionais europeias (INE, 2015), o que implica a sua delineação territorial clara. Em segundo lugar, a literatura utiliza extensivamente esta designação territorial. Tanto o estudo enquadrado na temática da vulnerabilidade das regiões europeias à globalização de Mastrostefano et al. (2009) como o de Annoni and Kozovska (2010) sobre competitividade regional, utilizam as NUTS II como unidade territorial de referência. Para o caso português, o Índice de Desenvolvimento Regional elaborado pelo INE (2017) utiliza uma desagregação territorial NUTS III.

Por fim, neste estudo, seguiremos uma análise ao nível das NUTS III, porque pretendemos uma análise mais desagregada dos dados, havendo 25 regiões que contrastam

8 Nomeadamente na revisão das NUTS de 2013, que começou a ser aplicada pelo Sistema Estatístico

(28)

16 com as 8 regiões das NUTS II. Desta forma, pretende-se que as diferenças que possam existir num nível de desagregação maior não sejam escondidas num nível de desagregação menor. Tal como Bachtler, Martins, Wostner, and Zuber (2017), consideramos que é importante o estudo ser feito de forma a aferir as diferenças de crescimento e desenvolvimento económico entre as regiões urbanas e as restantes regiões. O nível de desagregação de um estudo de caracter regional é importante, porque influencia os resultados que se obtêm.

Em Portugal, por exemplo, encontram-se diferenças entre as regiões urbanas e as restantes. O trabalho desenvolvido pelo INE (2017) refere que as disparidades9 de

competitividade entre regiões definidas em NUTS III têm aumentando. No relatório da comissão independente para a regionalização, Cravinho et al. (2019) referem-se aos resultados obtidos anteriormente por serem multidimensionais e em NUTS III indicando que contrastam com resultados obtidos em NUTS II no trabalho de M. Ferreira et al. (2018). Estes últimos autores registam uma convergência regional nomeadamente no PIB

per capita, entre 2000 e 2016. Assim, para obter uma análise mais detalhada das regiões e que

tenha utilidade para as decisões de política enquadradas não só do ponto de vista de Portugal, mas também dentro do plano Europeu, é importante a utilização da desagregação em NUTS III.

2.3.1 Estudos da Globalização vs Regiões

Estando definido o conceito territorial da região a ser usado neste estudo, NUTS III, estamos em condições rever os estudos da globalização feitos a nível regional.

O estudo do impacto da globalização ao nível regional está associado à vulnerabilidade das regiões ao fenómeno. Entenda-se como região vulnerável uma região que está exposta ao comércio internacional. Os estudos de Mastrostefano et al. (2009) e Affuso, Capello, and Fratesi (2011) aferem essa vulnerabilidade das regiões NUTS II na União Europeia. Ambos os estudos usam varíaveis pertencentes à dimensão económica, por estarem focados na competitividade das regiões.

(29)

17 O estudo de Zane, Tatjana, and Kiril (2019) afere o impacto da globalização no estado de desenvolvimento e competitividade das regiões. Os autores concluíram que as regiões mais desenvolvidas (que apostam mais em processos de inovação) são as mais resilientes à exposição internacional que resulta da globalização. Por outro lado, as regiões menos desenvolvidas e que dependem mais dos fatores de produção, das infraestruturas e do contexto macroeconómico do país em que estão inseridas são menos competitivas, pelo que o impacto da globalização é maior.

Capello, Fratesi, and Resmini (2011) medem a globalização ao nível regional de forma indireta, através da medição da integração das regiões NUTS II da União Europeia na economia global por duas vias. Uma das vias, é pela função económica do território, isto é, se o desenvolvimento da região está mais relacionado com as dinâmicas exteriores do que com as dinâmicas do país em que estão inseridas. Outra das vias é pela existência de aglomerados de empresas numa região e que estão expostas à competição internacional. Daqui resultou um indicador compósito com 5 indicadores económicos: População nascida fora da União Europeia, Conexões aéreas para o espaço da União Europeia, Número de escritórios de empresas de serviços avançados, Sedes de empresas transnacionais e IDE provindo de regiões fora da União Europeia. No entanto, poderemos considerar que este índice (Global Indicator) é limitado por se restringir à dimensão económica.

Daqui se pode constatar que existe uma diferença em relação às métricas propostas a nível regional e nacional. Apesar das métricas regionais apresentadas anteriormente se inserirem no tema da globalização, estas não aferem o quão globalizado um território é. Enquanto o estudo da globalização a nível nacional afere o quão globalizado um território é, o estudo regional incide ora sobre a vulnerabilidade à exposição das interdependências internacionais ora sobre o desenvolvimento económico dessas regiões.

A dimensão económica tem uma importância acrescida para o estudo da globalização a nível regional, quando comparado com o estudo ao nível dos países, pela relevância da competitividade entre as regiões. Capello et al. (2011) referem que a competição entre regiões é mais crítica do que a existente entre países. O argumento dos autores baseia-se no facto das regiões estarem sobre um contexto nacional comum, contrariamente ao que acontece ao nível dos países com bases de governação diferentes. A política salarial, por exemplo, é fixada nacionalmente pelo que o salário mínimo é igual para todas as regiões de um dado país. No entanto, esta é diferente entre países, pelo que pode

(30)

18 ser utilizada como fator de competitividade de um país face a outro. Adicionalmente, os autores referem que o processo de desvalorização cambial da moeda, que confere competitividade durante um período de tempo,10 ceteris paribus, não está disponível no nível

regional, contrariamente ao que acontece ao nível dos países. Contudo, consideramos que este argumento não pode ser utilizado entre países e respetivas regiões da Zona Euro, já que estão sujeitos a uma política cambial e monetária comuns. Assim, os processos que conferem vantagens comparativas na teoria de Ricardo com moeda não estão disponíveis ao nível regional. A consequência que daqui decorre para Capello et al. (2011) é de não existir algum tipo de especialização garantida para as regiões, contrariamente ao que acontece ao nível dos países.

Assim, face aos desafios da globalização, existem riscos associados que são amplificados ao nível regional, quando comparando com o nível dos países, como o facto das regiões “poderem sair de mercado”, caso estas não possuam fatores produtivos dinâmicos. No contexto de concorrência internacional, as regiões são valorizadas pela capacidade de captarem e manterem fatores produtivos dinâmicos. Estes, de acordo com Kitson, Martin, and Tyler (2004), vão desde a existência de empresas dinâmicas com o foco internacional, como também aspetos que residem fora das empresas como uma fonte de trabalhadores qualificados ou de infraestruturas que permitam processos de inovação. Tendo em consideração que a deslocalização de empresas para locais com condições mais favoráveis é facilitada pela globalização, as regiões menos dinâmicas com atividades mais intensivas no fator trabalho são as mais expostas à concorrência internacional (Mastrostefano et al., 2009). A literatura converge para esta consequência. Woods (2014), por exemplo, refere que, com a globalização, as regiões rurais e menos dinâmicas são mais afetadas pela mobilidade transnacional, aceleração de fluxos de migrantes e por diferenças tecnológicas, o que tem como consequência divergirem mais das regiões mais dinâmicas. Isto é agravado pelo facto de não existirem tratados a nível regional, o que faz com que não haja um tratamento preferencial de uma região face às restantes, por parte de um conjunto de países.

10 De acordo com Krugman, Obstfeld, and Melitz (2012), a evidência empírica indica que, para os países mais

industriais, o efeito positivo na balança corrente da depreciação real da moeda pode durar mais de 6 meses e menos que um ano.

(31)

19 Assim, sendo a globalização um processo inevitável, a melhor estratégia das regiões para enfrentar a competição internacional é a adaptação às dinâmicas externas sob pena de serem latecomers (Affuso et al., 2011) e é o que explica o foco na dimensão económica.

No entanto, tal como verificamos anteriormente, o fenómeno da globalização é aferido pela dimensão social, política e tecnológica, para além da económica. Tanto quanto sabemos apenas J. Ferreira (2017) propõe uma métrica regional com estas dimensões. Porém, existe a necessidade de fundamentar essas mesmas dimensões ao nível teórico. É nesse sentido que as próximas subsecções pretendem contribuir.

2.3.2 Dimensão Económica Regional

Esta subsecção pretende elaborar a discussão da atuação da globalização na dimensão económica a nível regional com vista à fundamentação das subdimensões a utilizar no índice regional. Como veremos, as regiões reúnem fatores produtivos dinâmicos para a sua participação quer no comércio internacional, quer no IDE o que, por sua vez, gera relações de interdependência.

As regiões são sistemas económicos mais abertos ao exterior (Capello et al., 2011) e, como tal, mais expostas à concorrência internacional, seja pela via do comércio, seja pelo investimento estrangeiro. As restrições às trocas comerciais pela via de tarifas ou outras medidas, não podem ser estabelecidas a este nível, sendo esta uma subdimensão que não pode ser adaptada. Porém, tal como Müller (2009) refere, a globalização e a abertura ao comércio externo permitiram que houvesse um maior potencial de vendas para as regiões.

Neste contexto de maior abertura face ao exterior, a concentração da atividade económica numa dada região, permite a participação competitiva no comércio internacional. Isto ocorre pelas vantagens competitivas que residem nas características locais da região (Capello et al., 2011). O conhecimento obtido das empresas na região e as relações regionais que outras não possuem são exemplos de fatores atrativos que permitem o surgimento de aglomerados de empresas (Porter, 1998). Daqui decorre o conceito de

(32)

20

field.”11 (Porter, 1998, p. 78). Para Kitson et al. (2004) isto significa mais que a capacidade de

uma região conseguir exportar, pois envolve outras dimensões, para além dos fatores de produção. Os autores dão o exemplo da facilitação de infraestruturas pela dimensão política regional e o envolvimento social que permita criar redes de confiança e cooperação internacional na dimensão social. Daqui decorre que a própria dinâmica da dimensão económica a nível regional influencia e é influenciada por outras dimensões como a social e a política.

O IDE é outro fator a ter em consideração neste contexto de competitividade regional que confere um maior dinamismo a uma dada região. De acordo com o relatório do Eurochambers (2007), o IDE é fundamental para o desenvolvimento económico regional pela transferência de tecnologias e de conhecimento que se propagam para a economia como um todo. Daqui resultam relações de interdependência entre as regiões e os países de onde o IDE provém.

As regiões mais dinâmicas atraem capital humano de outras regiões e países, pela exposição internacional que têm e pelas dinâmicas que daí resultam. Os agentes económicos têm incentivos para se moverem para um cluster, por exemplo, pois encontram facilmente trabalho para a sua função e as empresas têm incentivo a deslocalizarem-se para os clusters pela facilidade de encontrar agentes económicos com as competências necessárias (Scott & Storper, 2003). Em Portugal, segundo Alexandre, Cerejeira, Portela, Rodrigues, and Costa (2019) as regiões com maior PIB per capita são também aquelas que captam os trabalhadores com mais qualificações de outras regiões menos dinâmicas. Desta forma, existem interdependências criadas pela participação de agentes económicos estrangeiros nos processos produtivos regionais e vice-versa.

Por fim, a inovação também surge no contexto de competição entre regiões, por atribuir a capacidade à região de participar ativamente no comércio internacional, na captação de IDE e de recursos humanos. De acordo com Mastrostefano et al. (2009), a pressão das regiões participarem no comércio internacional provoca a necessidade de inovar e difunde as inovações. A difusão das inovações e o processo de Investigação e Desenvolvimento (I&D) conectam as regiões com outros países e regiões. Adicionalmente, Aranguren et al. (2010) defendem que as regiões com empresas que inovam estão mais preparadas para competir internacionalmente, logo mais interligadas com o exterior,

(33)

21 quando comparadas com as regiões menos dinâmicas, mais orientadas para atividades tradicionais intensivas no fator trabalho e focadas no mercado nacional.

Assim, conclui-se que a dinâmica da dimensão económica tem uma importância acrescida ao nível das regiões por estar ligada à capacidade destas agregarem recursos produtivos dinâmicos com o objetivo de participarem no comércio internacional e na captação de IDE. A concentração da atividade económica numa dada região surge pelas características locais que conferem vantagens competitivas face às restantes. O resultado do dinamismo da região gera interdependências para além da participação no comércio internacional e do IDE. A captação de recursos humanos de outras regiões e países é um desses exemplos de relações de interdependência. Estes surgem pela participação de estrangeiros nos processos produtivos regionais e vice-versa. Adicionalmente, os processos de inovação permitem que as regiões consigam competir internacionalmente conferindo-lhes vantagens e dinamismo, sendo que para isso precisam de estar mais conectadas internacionalmente.

2.3.3 Dimensão Sociotecnológica Regional

Tal como foi visto anteriormente no estudo dos indicadores nacionais, as dimensões social e tecnológica tanto podem ser tratadas de forma conjunta ou separada. Nesta subsecção optamos pela discussão conjunta, dado que a dimensão tecnológica que consideramos está relacionada com as tecnologias de informação e comunicação, que fomentam e influenciam as relações sociais.

A imigração, apesar de ter sido incluída de certa forma na dimensão económica, é um exemplo da importância das relações sociais, de natureza internacional ao nível regional. Para Longhi, Nijkamp, and Poot (2009) as maiores oportunidades e riscos da imigração encontram-se a nível regional. Os autores justificam tal posição pelo facto da distribuição dos imigrantes não ser uniforme ao nível do país, mas acontecer em aglomerações regionais. Estas aglomerações têm efeitos diferentes pela heterogeneidade de competências, de níveis educacionais e experiência cultural dos mesmos. No nosso entendimento, estas aglomerações de imigrantes promovem relações de interdependência

(34)

22 mais ou menos intensas pelo contacto indireto com a cultura do país de origem. Este contacto pode acontecer, por exemplo, com produtos do país de origem, tal como Murat (2018) e Martens and Zywietz (2006) referem.

Os estudantes estrangeiros no ensino superior são um exemplo de redes de confiança que se estabelecem com outros países ao nível da dimensão social e que vão além das relações de interdependência culturais, que se estabelecem pela partilha de produtos do país de origem (Murat, 2018). O argumento baseia-se no trabalho de Cohen, Frazzini, and Malloy (2008), em que os agentes económicos podem colocar os seus investimentos ora em antigos colegas de faculdade, ora em potenciais parceiros de negócio. Os autores verificaram que os antigos colegas de faculdade eram mais escolhidos. Desta forma, esta subdimensão pode ser adaptada ao nível regional pelo contacto que se estabelece entre a região e os alunos estrangeiros, através da partilha de produtos locais, ou seja, da cultura e pelas relações sociais, que para Murat (2018) são duradouras ao ponto de gerarem confiança nas oportunidades de negócio.

O turismo está de certa forma incluído na dimensão económica, nomeadamente no grau de abertura, por estar registado como uma exportação na balança de serviços. No entanto, nesta subsecção, iremos captar o impacto social que a presença de turistas estrangeiros tem nas regiões onde se concentram. Desta forma, o turismo pode ser visto como uma forma de contacto das regiões com agentes económicos de outros países, que tem uma importância acrescida para as regiões com poucos recursos que não a beleza natural e/ou locais com valor histórico (Martens & Zywietz, 2006). De facto, é possível encontrar argumentos na literatura para a importância do turismo a nível regional. Duffield (1982) refere que o turismo promove a preservação da cultura local, nomeadamente os eventos locais, festividades e produtos. Ao mesmo tempo, o autor refere que existe uma adaptação da cultura local para se adaptar às expectativas dos turistas.

Para que as relações sociais entre as regiões e outros países se estabeleçam é preciso meios que possibilitem esse contacto. A subdimensão da globalização da internet foi utilizada ao nível nacional por dois motivos. Por um lado, permite a participação dos agentes económicos na sociedade global e permite o acesso a conteúdos digitais e bens não produzidos no seu país (Figge & Martens, 2014). Por outro lado, permite a transmissão do conhecimento e difunde a informação para os agentes económicos tomarem as suas decisões (Raab et al., 2008). Consideramos que estes motivos também se aplicam ao nível

(35)

23 regional e até podem ter um papel mais preponderante. O nosso argumento baseia-se em duas considerações. Primeiro, no facto de permitirem que se gerem relações de interdependência ao nível da comunicação com outros países (Kirby, Marston, & Seasholes, 1995). Em segundo, baseamo-nos no relatório do Eurochambers (2007) em que é referido que a utilização de internet é um fator crucial para a integração dos agentes económicos e para o seu desempenho no mundo globalizado.

Por fim, outra subdimensão adaptada do nível nacional ao nível regional é o tráfego de chamadas internacionais. Esta subdimensão pode ser questionada se o tráfego de chamadas incluir o contacto com agentes económicos que saíram do país, mas que estão no exterior, por exemplo, emigrantes, no entanto vamos preponderar mais o facto de estarem localizadas num território que não é o nacional. Deste modo, valorizamos as relações de interdependência entre a região e o país para o qual os agentes económicos foram, ideia que pertence à definição de globalização utilizada.

A dimensão sociotecnológica está associada à dimensão económica, pelas redes de confiança que se geram pelas relações sociais e pelo contacto indireto com a cultura do país de origem tanto dos estudantes estrangeiros como dos emigrantes. No entanto, as relações que se estabelecem ao nível dos estudantes são mais profundas, podendo consubstanciar-se em oportunidades de negócio. O turismo, por sua vez, aparece como uma subdimensão que impulsiona a partilha da cultura local à medida que também a influencia pela via da informação das preferências dos agentes estrangeiros. O estabelecimento de relações sociais também depende das infraestruturas tecnológicas que as suportam, sendo o acesso à internet um desses meios. Esta subdimensão é muito importante não só pela participação no mundo do conhecimento, como também na integração dos agentes económicos regionais na economia global. Por fim, o tráfego de chamadas internacionais é uma subdimensão que tenta exprimir a manutenção ou formação de interdependências internacionais pela via social.

(36)

24

2.3.4 Dimensão Política Regional

Esta subsecção pretende discutir a inclusão da dimensão política ao nível regional. A dimensão política, tal como a dimensão social, é omitida ou não existe pelo foco na dimensão económica. Tal como foi referido anteriormente, as regiões estão sujeitas a um contexto nacional comum, contrariamente aos países que definem esse mesmo contexto. Adicionalmente, as regiões não têm o mesmo poder para definir políticas ou fazer acordos com outros países. Tendo isto em consideração, estamos cientes que esta é uma limitação que a discussão regional da dimensão política apresenta. Desta forma, subdimensões como a participação em missões internacionais pela ONU, o montante de transferências governamentais, os acordos ambientais e a participação em organizações internacionais, não podem ser discutidas ao nível regional da mesma forma que é feita ao nível dos países.

Apesar das limitações elencadas anteriormente, consideramos que existem outras subdimensões como o número de embaixadas ou consulados, cuja discussão pode ser adaptada ao nível regional. As embaixadas foram apresentadas ao nível nacional como facilitadoras da comunicação e defesa dos interesses entre países (Martens & Zywietz, 2006). Porém, a embaixada ou consulado num dado país, também pode existir por um dado interesse numa região específica. Por exemplo, o interesse dos Estados Unidos da América em manter relações diplomáticas com a Região Autónoma dos Açores, em específico, pela utilidade de manter a base das Lages.

As organizações não governamentais com atividade internacional são outra subdimensão que pode ser discutida ao nível regional. Gygli et al. (2019) referem que esta subdimensão é uma alternativa à participação de países em organizações internacionais, uma vez que aferem a influência na esfera política global. A diferença encontra-se no facto de existir uma ação por parte de agentes privados. Se consideramos aquelas cujo âmbito se enquadra no campo político é possível encontrar suporte na literatura com aplicação ao nível regional através dos movimentos de política externa municipal (daqui em diante PEM). Tomando por base Kirby et al. (1995), entenda-se por PEM os movimentos de agentes económicos sem responsabilidades políticas, que se envolvem em processos globais

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25 de restruturação política e económica, seja pela pressão política que causam, seja pela possibilidade de estar em contacto com agentes políticos.

As organizações ambientais são um exemplo de PEM elencados por Kirby et al. (1995). Este exemplo é relevante por ser uma representação de uma PEM, no entanto consideramos que não está estabelecido que o facto de terem preocupações globais seja por si uma garantia que o âmbito de ação é internacional.

Por fim, consideram-se os acordos de geminação como forma de acordos políticos e que são possíveis ao nível regional. Entenda-se como acordos de geminação o estabelecimento e prática de relações relativamente formais entre territórios localizados em diferentes países (Clarke, 2011). De acordo com o autor, os acordos de geminação pretendem que as regiões possam aceder a outros mercados e captar IDE. Adicionalmente, o autor defende que também têm impactos ao nível da dimensão social. O argumento baseia-se no facto das relações entre agentes económicos de diferentes regiões ser facilitado e encorajado pelos acordos de geminação estabelecidos. Assim, é uma subdimensão importante a ser incluída no índice de globalização por ser uma forma da região se envolver de forma política com outras regiões e pelos efeitos para as outras dimensões que resultam desses acordos.

A discussão da dimensão política ao nível regional tem limitações pelo facto de as regiões estarem sujeitas a um contexto nacional comum. Apesar destas limitações, podemos constatar que existem subdimensões, como embaixadas ou organizações não governamentais com atividade internacional, que podem ser discutidas ao nível regional. As embaixadas podem ser consideradas, do ponto de vista regional, como uma intensificação das relações da região onde são estabelecidas e o país de origem da embaixada. As organizações não governamentais com atividade internacional pretendem ser uma alternativa à participação em organizações internacionais por parte dos países. Um dos exemplos que se enquadra nesta subdimensão são as organizações ambientais. Por fim, os acordos de geminação pretendem que exista um compromisso político entre duas regiões, que se pode alargar ao nível económico, pelo comércio e pelo IDE.

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