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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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Academic year: 2021

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Registro: 2015.0000406054

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0001677-53.2012.8.26.0161, da Comarca de Diadema, em que é apelante SANTA HELENA ASSISTÊNCIA MÉDICA, são apelados CACILDA MAGALHÃES (JUSTIÇA GRATUITA) e JUSSARA DE BARROS MAGALHÃES (JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de

São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIZ ANTONIO DE GODOY (Presidente sem voto), CHRISTINE SANTINI E CLAUDIO GODOY.

São Paulo, 9 de junho de 2015

FRANCISCO LOUREIRO RELATOR

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Apelação Cível no 0001677-53.2012.8.26.0161 Comarca: Diadema

Juiz: Cintia Adas Abib

Apelante: Santa Helena Assistência Médica

Apelado: Cacilda Magalhães e outro

VOTO n. 26.051

RESPONSABILIDADE CIVIL DO HOSPITAL POR FALHA DE ATENDIMENTO DE SEUS PREPOSTOS INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS Ação proposta por vítima e filha - Atendimento deficiente do corpo médico e de enfermagem, além das más condições das instalações físicas e de atendimento Sofrimento desnecessário causado à paciente e angústia a seus parentes, em razão do evento - Responsabilização civil, de natureza objetiva, do hospital prestador dos serviços Ação procedente Manutenção da indenização que, dadas as circunstâncias fáticas, mostra-se razoável para compensar os danos morais e servir de exemplo para alteração futura da conduta

Recurso improvido.

Cuida-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 387/393 dos autos, que julgou parcialmente procedente ação de indenizatória por danos materiais e morais ajuizada por CACILDA MAGALHÃES E OUTRA em face de SANTA HELENA ASSISTÊNCIA MÉDICA S/C LTDA. para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais, fixados em R$ 10.000,00, atualizados e com incidência de juros moratórios, a partir da citação.

Fê-lo a r. sentença impugnada, sob o argumento de que há nos autos prova de que houve má prestação de serviços por parte da ré, vez que suas instalações não eram adequadas para a prestação do serviço de urgência e emergência a que se propunha, conforme conclusão do laudo pericial.

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narrados pelo apelado não condizem com a realidade. Afirma que as autoras baseiam sua pretensão em suposto erro médico ocorrido, sem, no entanto, comprovar culpa do profissional que as atendeu ou da equipe de enfermagem. Pretende a modificação da sentença para julgar improcedente a ação ou, subsidiariamente, a redução do quantum indenizatório.

O recurso foi contrariado. É o relatório.

1. O recurso não comporta provimento.

As autoras ajuizaram esta ação de reparação de danos morais e materiais em razão da falha na prestação dos serviços, quando da admissão da autora CACILDA em pronto socorro cujas instalações e equipe não estavam aptas a atendê-la.

Relata a inicial que a autora necessitou de atendimento médico no dia 08 de agosto de 2.011, e, ao se dirigir ao Pronto Socorro do Hospital Santa Helena em Diadema, encontrou os portões do local fechados, trancados com cadeado, impossibilitando a passagem de pacientes em estado de urgência ou emergência.

Ademais, o local não possuía cadeira de rodas, e a autora, senhora idosa e sentindo-se mal, foi obrigada a caminhar com muita dificuldade e ajuda de familiares até o local de atendimento.

Após passar por triagem, a autora começou a sentir-se mal, e, embora tenha sido chamado médico para prestar-lhe socorro, o mesmo não atendeu ao chamado, permanecendo na sala de descanso.

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atendimento da autora, que sofria um AVC, e nem condições técnicas para atendê-la, razão pela qual se solicitou uma ambulância para transferência da paciente.

Sem que fosse recebida a ambulância, a autora sofreu uma parada cardiorrespiratória, e, havendo apenas um médico e uma enfermeira no local, a auxiliar de limpeza teria sido convocada para auxiliar nos procedimentos de reanimação, além do segurança, que teria dado apoio buscando materiais e aparelhos.

Em decorrência do precário atendimento, os familiares da autora solicitaram uma viatura da Polícia Militar, que registrou a ocorrência e acionou o SAMU, cujos profissionais adentraram o Pronto Socorro e prestaram o atendimento de que necessitava a paciente.

Os vídeos juntados aos autos demonstram os profissionais do SAMU prestando atendimento à autora dentro do Pronto Socorro réu.

São os fatos postos a julgamento.

2. Não se trata, como afirma a ré, de ação indenizatória por erro médico.

Evidente que os fatos que levam à responsabilidade civil não constam do prontuário da paciente. Não se alega erro de diagnóstico, muito menos terapia inadequada à moléstia, ou medicação ministrada por erro.

O que se afirma na inicial e se provou nos autos é o tratamento precário recebido pela autora, e a inexistência de condições de admissão de pacientes no Pronto Socorro da ré.

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O vídeo juntado aos autos demonstra a autora recebendo atendimento prestado pelos paramédicos do SAMU, dentro das dependências do pronto socorro da ré, enquanto profissionais do corpo médico e de enfermagem do nosocômio permanecem do lado de fora da sala.

É possível verificar, ainda, que o atendimento era prestado com as portas abertas, diante dos familiares e demais pacientes e acompanhantes na sala de espera do Pronto Socorro, além da presença de auxiliar de limpeza dentro da sala, durante o procedimento, auxiliando os profissionais.

Embora o prontuário do atendimento traga

informações diversas, é significativo que o relatório elaborado pela autoridade policial, quando da lavratura da ocorrência, às fls. 28 dos autos, relate, de forma imparcial, portanto, que o médico responsável pelo Pronto Socorro naquela ocasião tenha afirmado que o Hospital estava em reformas e não tinha condições de prestar o atendimento necessário à autora CACILDA.

2. A responsabilidade do hospital é objetiva por falhas de atendimento de seu corpo médico e de enfermagem, ou deficiências de instalações, funcionários e equipamentos para prestar atendimento aos pacientes.

Os hospitais são fornecedores de serviço, nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, respondendo objetivamente pelos danos causados aos seus pacientes. É o que o CDC chama de fato do serviço, ou seja, acontecimento externo, ocorrido no mundo físico, que causa danos materiais ou morais ao consumidor decorrentes de um defeito do serviço (Sergio Cavalieri Filho, Programa

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de Responsabilidade Civil, 7ª ed., São Paulo: Atlas, 2007, p. 371).

Não se cogita de erro médico, mas sim de atendimento deficiente do corpo médico e da enfermagem em típicas obrigações de resultado, como a de atender os pacientes em situação de urgência e emergência e dar-lhes pronta atenção, além de disponibilizar instalações físicas e equipamentos condizentes com a atividade ali desenvolvida.

Nesses casos não há nenhuma dúvida da incidência do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, reconhecendo o Colendo Superior Tribunal de Justiça, muito recentemente, que a responsabilidade objetiva do hospital, como prestador do serviço, “circunscreve-se apenas

aos serviços única e exclusivamente relacionados com o estabelecimento empresarial propriamente dito, ou seja, aqueles que digam respeito à estadia do paciente (internação), instalações, equipamentos, serviços auxiliares (enfermagem, exames, radiologia), etc” (Rec. Esp. nº

258.359-SP, 4a Turma do STJ, Rel. Min. Fernando Gonçalves, em 16.06.2005, DJ 22.08.2005 p. 275).

Em suma, a falha na existência de instalações adequadas, equipamentos e no atendimento prestado pelas equipes médica e de enfermagem geram responsabilidade civil objetiva do hospital.

A respeito das deficiências do atendimento no local, bem asseverou o laudo elaborado às fls. 289/298 que “no caso em tela, não

havia a menor preocupação com a estrutura organizacional da unidade de pronto atendimento, no que tange aos seguintes itens: área externa para desembarque de ambulâncias, corredores de acesso à unidade de emergência distintos, um para os pacientes de menor gravidade e outro para os pacientes críticos, sala de emergência ampla onde tivesse

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condições de atendimento de pelo menos dois pacientes em estado crítico, com armários ou prateleiras onde são armazenados os medicamentos e equipamentos para uso em situações de risco iminente de vida como na parada cardíaca, assim como desfibriladores, material para entubação (laringoscópico, ambú, sondas, etc) e ventiladores mecânicos. Necessário também a existência de um posto de enfermagem de apoio para uso exclusivo desta unidade de emergência”.

E conclui: “A Resolução (RDC-50) do Programa de

Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde da ANVISA, de 21/02/2002 não foi contemplada pela unidade em questão”.

Frise-se, ademais, ser possível verificar a presença de auxiliar de limpeza dentro da sala, durante o atendimento da autora, a corroborar sua versão de que não havia quantidade suficiente de profissionais capacitados, fossem médicos ou enfermeiras, a atender situação como a dos autos.

Ademais, a ambulância do convênio, conforme relato do próprio médico que atendeu a requerida, chegou depois da ambulância do SAMU, quase duas horas após a solicitação, e depois muita insistência dos funcionários da ré.

3. Parece claro que o ilícito objetivo do hospital causou dano moral à autora e também a seus familiares.

Natural a angústia, o inconformismo, o sofrimento de filhos assistirem mãe acometida de grave doença deixar de receber tratamento adequado do corpo médico e de enfermagem de hospital.

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Moraes quando os atos ilícitos ferem direitos da personalidade, como a

liberdade, a honra, a atividade profissional, a reputação, as manifestações culturais e intelectuais, a própria violação causa danos morais in re ipsa, decorrente de uma presunção hominis. Quando, porém, os efeitos da ação, embora não repercutam na órbita de seu patrimônio material, mas originam angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções negativas, pode haver dano moral indenizável, se houver prova de sua intensidade em patamar superior ao dos aborrecimentos e dissabores a que todos se sujeitam a próprios da vida cotidiana (Danos à Pessoa Humana uma leitura civil-constitucional

dos danos morais, Renovar, Rio de Janeiro, 2.003, os 157/159).

A intensidade da dor, devido ao inadequado e ineficaz atendimento médico-hospitalar em função do delicado estado de saúde da paciente, causam sofrimento e angústia no espírito dos apelados, vítima e filha, de estatura suficiente a ensejar indenização.

Note-se que não se responsabiliza o hospital por erro médico ou de diagnóstico, o que não ocorreu, mas sim pelo agravamento do padecimento de paciente em agonia.

A ofensa teve intensidade suficiente para tipificar o dano moral indenizável, ultrapassando o patamar de mero desconforto típico da vida cotidiana.

4. Sabido que a fixação do valor do dano moral deve levar em conta as funções ressarcitória e punitiva da indenização. Na função ressarcitória, olha-se para a vítima, para a gravidade objetiva do dano que ela padeceu (Antônio Jeová dos Santos, Dano Moral

Indenizável, Lejus Editora, 1.997, p. 62). Na função punitiva, ou de

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indenização represente advertência, sinal de que a sociedade não aceita seu comportamento (Carlos Alberto Bittar, Reparação Civil por Danos

Morais, ps. 220/222; Sérgio Severo, Os Danos Extrapatrimoniais, ps. 186/190).

Da congruência entre as duas funções é que se extrai o valor da reparação. No caso concreto, o valor correspondente a R$ 10.000,00, atualizado a partir da r. sentença, cumpre as funções compensatória e exemplar da indenização e só não é majorado à míngua de recurso das autoras.

Diante do exposto, pelo meu voto nego

provimento ao recurso.

FRANCISCO LOUREIRO Relator

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