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PRÁTICAS INTERSETORIAIS NA ATENÇÃO À MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

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Academic year: 2021

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PRÁTICAS INTERSETORIAIS NA ATENÇÃO À MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

Lorena Maria Da Silva* (Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá, Psicóloga do Núcleo de Estudos sobre a Lei Maria da Penha, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Thamilly Rozendo Santos Pinto* (Graduanda do 5º ano do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá, estagiária de Psicologia do Núcleo de Estudos sobre a Lei Maria da Penha, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil).

contato: thamillyrozendo@hotmail.com lorenamaria.sanches@gmail.com

Palavras-chave: Intersetorialidade. Violência contra a mulher. Interdisciplinaridade.

A violência contra as mulheres é um fenômeno que não admite exceção de classe social, raça, orientação sexual, escolaridade ou região do país, atingindo mulheres por meio de suas variadas expressões, a saber, a violência doméstica, sexual, física, psicológica, patrimonial, tráfico de mulheres, assédio sexual, dentre outras. Refletirmos acerca de um contexto de violação de direitos, seja ele qual for, implica no reconhecimento da complexidade implícita nesta situação. Admitir tal fenômeno enquanto complexo nos leva não somente a exigir do Estado brasileiro a tomada de iniciativas para o desenvolvimento de políticas públicas e sociais que atendam mulheres em situações de violências, mas o desenvolvimento de uma rede de equipamentos públicos que promovam o enfrentamento a essa realidade e contemplem essa população de maneira integral, além de reconhecer as interseccionalidades que agravam as vulnerabilidades.

Ao nos referimos à rede de serviços públicos, não remetemos apenas àquela comumente admitida como participante direta das ações de enfrentamento àa violência, como as Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres (DEAMs) e/ou os Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM). É um equívoco pensarmos que a rede de atendimento às mulheres vítimas de violência consiste apenas em serviços especializados, ao contrário, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres (2011) prevê ações que vão além do âmbito do especialismo, fortalecendo estratégias que privilegiem a descentralização das

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políticas públicas e sociais referentes à temática. Isso significa que a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres se constrói por meio da articulação dos mais variados serviços públicos da saúde, segurança pública, assistência social, educação, dentre outros. Todos os setores públicos de um município podem ser importantes participantes no enfrentamento à violência, não apenas por meio do atendimento, mas também por meio de ações de cuidado que ultrapassem o escopo de sua atuação, ou seja, por intermédio de práticas intersetoriais que dirimam a revitimização dessas mulheres. Mas como poderíamos definir práticas intersetoriais ou intersetorialidade?

De acordo com Faler (2015), podemos conceituar intersetorialidade como a articulação entre distintos serviços públicos visando à integralidade das ações voltadas a um indivíduo ou a um grupo populacional. Isso pressupõe que a intersetorialidade caminha no sentido oposto à fragmentação e à segmentação das políticas públicas. A intersetorialidade não se limita à troca recíproca de atividades, mas traz consigo o escambo dos saberes, tornando-se mais complexa a fim de se posicionar diante das relações sociais igualmente complexas. Assim, construir um sistema de garantia de direitos que vise à proteção integral, ou seja, de todas as instâncias que perpassa a realidade das mulheres implica em edificar um modo de política pública unificada que supere o sectarismo. Sendo assim, orientadas pela concepção histórica, que compreende os fenômenos a partir das relações sociais estabelecidas em determinado contexto histórico, discutiremos acerca da importância da intersetorialidade para o enfrentamento à violência contra as mulheres. Para tanto, apresentaremos a rede de serviços públicos da cidade de Maringá-PR, especialmente o trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Sobre a Lei Maria da Penha (NUMAPE/UEM) e a importância do trabalho intersetorial para a integralidade das ações.

A cidade de Maringá conta com uma ampla rede de serviços públicos que pode cooperar para o enfrentamento à violência contra as mulheres. Além dos serviços especializados, como a Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher, a DEAM, o CRAM, Centros de Geração de Renda, Patrulha Maria da Penha e a Casa-abrigo para mulheres em situação de risco pessoal e social, o município conta com diferentes equipamentos dentro das políticas de Assistência Social, de Saúde, etc. Ao que se refere à rede socioassistencial do município, que pode ser importante aliada no atendimento à mulher e sua família, a cidade dispõe de dois Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), dez Centros de Referência

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de Assistência Social (CRAS), e diversas organizações da Sociedade Civil (OSCs) que visam o atendimento e o fortalecimento das assistidas e suas famílias. Na área da saúde, Maringá conta 34 Unidades Básicas de Saúde, um complexo de saúde mental que reúne três Centros de Atenção Psicossocial (CAPSad, CAPS III e CAPSi), uma Unidade de Acolhimento, duas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), uma na zona norte e outra na zona sul da cidade, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), Laboratório Municipal de Análises Clínicas, um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) para doenças sexualmente transmissíveis e um Hospital Municipal (HMM). Além desses serviços, a cidade conta com serviços de outros setores como a educação e segurança pública que podem auxiliar na construção de estratégias de enfrentamento à violência (Maringá, 2018).

Entendemos, assim, que a violência traz consigo diversas outras questões que necessitam de cuidado e atenção e que podem extrapolar a função de um único serviço, logo, o diálogo entre os equipamentos públicos torna-se indispensável para a efetivação de ações que visem à garantia dos direitos. Citamos o NUMAPE/UEM como um dos serviços que tem se constituído enquanto parte da rede e buscado a efetivação de práticas intersetoriais.

O NUMAPE/UEM consiste em um projeto de extensão que visa o atendimento interdisciplinar a mulheres em situação de violência doméstica, familiar e de gênero. Para tanto, o projeto conta com a participação de quatro profissionais bolsistas recém-formadas nas áreas de Psicologia, Direito e Serviço social. Além disso, a equipe conta ainda com três bolsistas graduandas, sendo duas do curso de Direito e uma em Psicologia. Desse modo, todas essas áreas compõem a equipe do projeto de extensão que realiza seus atendimentos de segunda a sexta- feira, nas dependências da própria Universidade Estadual de Maringá.

Nesse sentido, o projeto visa não apenas o atendimento jurídico, mas também psicossocial, isto é, um trabalho interdisciplinar que busca além de orientar, acolher as mulheres que vivenciam a violência em diferentes âmbitos. Além disso, buscamos nesse primeiro atendimento a identificação de outras necessidades para além da esfera jurídica, no intuito de realizar encaminhamentos e orientações que possam contribuir para além dos trâmites legais, entendendo assim, a importância da articulação das diferentes áreas no que se refere à garantia dos direitos das mulheres. Nesse sentido, é a partir desse atendimento que se torna possível o direcionamento a outros órgãos e instâncias que se articulam a rede de atendimento.

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Vale destacar que as práticas desenvolvidas no Numape se dão sob uma perspectiva de gênero, que compreende os papéis sociais construídos e atribuídos historicamente a homens e mulheres. Com isso, a partir das demandas levantadas junto à equipe psicossocial, e respeitando os critérios de atendimento, como o de hipossuficiência, o caso é direcionado para um segundo encontro com a equipe jurídica, que visa dar continuidade ao atendimento bem como dar início ao processo junto ao poder judiciário (Venâncio & Machado, 2016).

Logo, tanto o trabalho interdisciplinar, como as ações intersetoriais, são relevantes no cuidado integral às mulheres, visto que é necessário não apenas identificar as demandas acolhidas em um primeiro encontro, mas também é preciso que haja um diálogo junto à rede, em virtude das necessidades secundárias que sobrepujam à esfera jurídica. Assim, o conhecimento das diferentes instâncias de atendimento às mulheres e a articulação entre elas possibilita que o trabalho seja realizado de forma efetiva, no que concerne à garantia dos direitos e à busca pela superação da violência vivenciada.

De acordo com Faler (2015), as políticas públicas vem sendo alvo de discussões em busca de torná-las mais democráticas e, portanto, acessíveis à população. Sendo assim, a intersetorialidade surge como uma proposta de ação que visa contribuir no que concerne ao acesso aos direitos comum a todos, isto é assegurar que todos os cidadãos e cidadãs tenham seus direitos não só assegurados, como seu acesso facilitado. Ao pensarmos nos atendimentos direcionados às mulheres em situação de violência doméstica, práticas intersetoriais podem auxiliar nas demandas que se apresentam, bem como, permitir que essas mulheres tenham os seus direitos assegurados, para atender ao que Faler (2015) chama de determinantes sociais, que consistem nos fatores socioeconômicos e culturais que se corelacionam com o fenômeno da violência. Desse modo, a partir dessa realidade, é preciso pensar em ações e principalmente, em um trabalho que vise uma articulação não apenas com outros saberes, mas também com outras instâncias, considerando-se a heterogeneidade e as condições estruturais de cada instituição pública.

Dessa forma, é possível, por meio da intersetorialidade, não apenas encaminhamentos para a resolução das problemáticas trazidas, mas também a união de diversos setores com vistas à execução de ações que tenham como objetivo a garantia do acesso aos direitos da mulher. Essa prática, sem dúvida, corrobora para a não fragmentação do atendimento, que muitas vezes, acaba

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por prejudicar e contribuir para a revitimização das mulheres, assim como a desistência em dar prosseguimento ao processo legal pela falta de informação. Desse modo, acreditamos que práticas intersetoriais podem constituir-se enquanto importante caminho para o acesso integral aos direitos, além de contribuir para um trabalho não obstaculizado pela falta de informação dos serviços ofertados, ou pela desintegração das instâncias da rede que atuam com o mesmo objetivo (Faler, 2015).

Vale considerar, ainda, que muitas mulheres podem chegar aos atendimentos iniciais já fragilizadas, com sentimentos de culpa, sem contato com a família, sentindo-se desamparadas diante de toda essa realidade, não conseguindo enxergar possibilidades de romper com a situação de violência (Hirigoyen, 2006; Pimentel, 2011). Nesse sentido, um trabalho desintegrado e carente de informações sobre a rede contribui para que essa mulher se sinta ainda mais desamparada. É a partir disso que o trabalho intersetorial pode ser visto, concomitantemente, como um recurso benéfico que propicie além do acesso aos direitos, a constante problematização acerca da temática da violência, buscando assim potencializar ações em direção à garantia dos direitos, assim como o enfrentamento à violência contra as mulheres (Faler, 2015).

Referências

Brasil (2011). Política nacional de enfrentamento a violência contra as mulheres. Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Brasília.

Faler, C. S. (2015). Intersetorialidade: a construção histórica do conceito e a interface com as políticas sociais públicas (Tese de Doutorado). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil.

Hirigoyen, M. (2006). A Violência no Casal: da coação psicológica à agressão

física. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Maringá (2018). Portal de Serviços. Prefeitura do Município de Maringá.

Pimentel, A. (2011). Violência Psicológica nas Relações Conjugais – Pesquisa e

Intervenção Clínica. São Paulo: Summus.

Venâncio, K. E. A. & Machado, I. V. (2016). A importância da categoria “gênero” para

instrumentalizar o atendimento a mulheres em situação de violência no projeto NUMAP/UEM.

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