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Fundamentos da Ciência. Prof. ª Fabiane Brião Vaz

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Academic year: 2021

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2018

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olítiCa

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ilosoFia

e

s

oCiologia

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Copyright © UNIASSELVI 2018

Elaboração: Prof.ª Fabiane Brião Vaz

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

V393f

Vaz, Fabiane Brião

Fundamentos da ciência política, filosofia e sociologia. / Fabiane Brião Vaz – Indaial: UNIASSELVI, 2018.

148 p.; il.

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a

Presentação

Este livro de estudos foi elaborado com o intuito de apresentar os fundamentos da Ciência Política, sociologia e filosofia ao acadêmico. Serão desenvolvidas ideias centrais de cada uma dessas ciências, colocando o aluno em contato com tais matérias de tamanha importância para o bom desenvolvimento social.

Na primeira unidade, demonstraremos os fundamentos históricos da Ciência Política, dando início ao desenvolvimento do pensamento acerca desta importante disciplina. Discutiremos questões que abordam desde uma introdução básica e estruturação da ideia de pensamento político até uma breve explanação sobre o sistema de partidos políticos que vigora no sistema eleitoral brasileiro nos dias atuais. Também identificaremos conceitos como “governo”, “Teoria Geral do Estado” “Constituição” e “democracia”.

Na segunda unidade, destacaremos a importância do estudo da sociologia, os objetos e objetivos desta. Conheceremos os principais elementos da Ciência da Sociologia, as ideias principais em destaque ao longo da história, o contexto histórico dos pensamentos sociológicos e a ideia central de cidadania e movimento sociais. A explicação acontecerá com a elaboração de tópicos para que se obtenha conhecimento. Ainda, analisaremos as ideias centrais dos principais pensadores, além do reconhecimento sobre os conceitos de ação e relação social, cidadania, direitos humanos e movimentos sociais.

Na terceira e última unidade, destacaremos o estudo do pensamento filosófico através da identificação dos objetos e objetivos da filosofia, a introdução do aluno no processo de filosofar, a constatação das ideias principais da filosofia que obtiveram destaque ao longo da história e a percepçãodo contexto histórico dos pensamentos filosóficos, sobretudo na contemporaneidade. Assim, elaboramos tópicos direcionados à compreensão das características do pensamento filosófico e do processo de filosofar, compreendendo o papel da filosofia no mundo moderno.

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Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

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UNIDADE 1 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA ... 1

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA ... 3

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 CONCEITO DE CIÊNCIA POLÍTICA ... 4

3 CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA ... 5

4 PRINCIPAIS TEORIAS POLÍTICAS ... 6

LEITURA COMPLEMENTAR ... 12

RESUMO DO TÓPICO 1... 15

AUTOATIVIDADE ... 16

TÓPICO 2 – CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO ... 17

1 INTRODUÇÃO ... 17 2 SOCIEDADE E ESTADO ... 18 3 O ESTADO DE DIREITO ... 21 LEITURA COMPLEMENTAR ... 25 RESUMO DO TÓPICO 2... 28 AUTOATIVIDADE ... 29

TÓPICO 3 – GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA ... 31

1 INTRODUÇÃO ... 31

2 CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA ... 31

3 O PODER CONSTITUINTE ... 33

4 FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO ... 35

LEITURA COMPLEMENTAR ... 37

RESUMO DO TÓPICO 3... 40

AUTOATIVIDADE ... 41

TÓPICO 4 – PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL... 43

1 INTRODUÇÃO ... 43

2 SISTEMA ELEITORAL ... 43

3 PARTIDOS POLÍTICOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS ... 45

LEITURA COMPLEMENTAR 1 ... 47

LEITURA COMPLEMENTAR 2 ... 48

RESUMO DO TÓPICO 4... 50

AUTOATIVIDADE ... 51

UNIDADE 2 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA ... 53

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA ... 55

1 INTRODUÇÃO ... 55

2 CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA... 55

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TÓPICO 2 – ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA. ...63 1 INTRODUÇÃO ...63 2 O SENSO COMUM ...63 3 A HISTORICIDADE ...65 4 COMUNIDADE ...65 LEITURA COMPLEMENTAR ...69 RESUMO DO TÓPICO 2...72 AUTOATIVIDADE ...74

TÓPICO 3 – PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA...75

1 INTRODUÇÃO ...75 2 AUGUSTO COMTE ...75 3 ÉMILE DURKHEIM ...76 4 MAX WEBER ...78 5 KARL MARX ...79 LEITURA COMPLEMENTAR ...81 RESUMO DO TÓPICO 3...85 AUTOATIVIDADE ...86

TÓPICO 4 – CONCEITO DE AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL...87

1 INTRODUÇÃO ...87

2 DOMINAÇÃO E PODER ...87

3 SOCIEDADE E INDIVÍDUO ...88

4 AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL ...88

LEITURA COMPLEMENTAR ...91

RESUMO DO TÓPICO 4...93

AUTOATIVIDADE ...94

TÓPICO 5 – CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS ...95

1 INTRODUÇÃO ...95

2 CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS ...95

3 MOVIMENTOS SOCIAIS ...99

LEITURA COMPLEMENTAR ...101

RESUMO DO TÓPICO 5...104

AUTOATIVIDADE ...105

UNIDADE 3 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA ...107

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA ...109

1 INTRODUÇÃO ...109 2 COMPREENSÃO DA FILOSOFIA ...109 3 CONTEXTO HISTÓRICO ...111 LEITURA COMPLEMENTAR ...114 RESUMO DO TÓPICO 1...116 AUTOATIVIDADE ...117

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TÓPICO 3 – O PROCESSO DE FILOSOFAR ...129

1 INTRODUÇÃO ...129

2 O CONCEITO DE FILOSOFAR ...129

3 IMMANUEL KANT E O PROCESSO DE FILOSOFAR ...131

LEITURA COMPLEMENTAR ...134

RESUMO DO TÓPICO 3...137

AUTOATIVIDADE ...138

TÓPICO 4 – A FILOSOFIA NO MUNDO MODERNO ...139

1 INTRODUÇÃO ...139

2 A FILOSOFIA MODERNA ...139

3 O PAPEL DA FILOSOFIA NA CONTEMPORANEIDADE ...141

LEITURA COMPLEMENTAR ...142

RESUMO DO TÓPICO 4...145

AUTOATIVIDADE ...146

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A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de: • destacar a importância do estudo do tema Ciência Política;

• identificar as diferenciações sobre os conceitos de Ciência, Política e Ciência Política;

• demonstrar ao aluno o pensamento da Ciência Política e Teoria Geral do Estado;

• constatar as ideias principais das teorias políticas em destaque ao longo da história;

• perceber o contexto histórico dos pensamentos políticos, sobretudo na contemporaneidade;

• caracterizar o sistema de partidos políticos adotado no Brasil.

UNIDADE 1

CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA

CIÊNCIA POLÍTICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles, você encontrará dicas, textos complementares, observações e atividades que darão uma maior compreensão dos temas a serem abordados.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA

TÓPICO 2 – CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO TÓPICO 3 – GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA TÓPICO 4 – PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL

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TÓPICO 1

UNIDADE 1

INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA

POLÍTICA

1 INTRODUÇÃO

Falar sobre política nunca foi tarefa simples. São inúmeras as teorias políticas criadas ao longo da história que, na maioria das vezes, se divergem em seus conteúdos. Contudo, ainda assim, todas essas teorias foram e ainda são de grande importância para o caminhar da sociedade.

Temos, ao longo da história, diferentes pensadores que trouxeram reflexões de organização e gestão de sociedade. Ao serem colocadas em prática, garantiram que os seres humanos se desenvolvessem em determinado espaço geográfico, relacionando-se pacificamente uns com os outros, para o desenvolvimento tanto pessoal quanto grupal.

Falar e pensar sobre política são pontos essenciais. Seu estudo pode despontar um novo mundo, traçar novos horizontes. A sociedade está em constante evolução e conta com o crescimento pessoal dos homens e do pensamento político, buscando a melhor vivência interpessoal entre seus membros.

Infelizmente, em nosso contexto social, o termo política tem sido visto como algo sombrio, um condutor de negatividade. Deve-se ao atual panorama de corrupção em que o Brasil se encontra. Assim, é importante não só falar, mas entender a Ciência Política.

Quanto mais cidadãos entenderem do que se trata e a importância desta, mais livre e pacífica será nossa sociedade. A política é boa desde que exercitada com responsabilidade social.

Assim, no primeiro tópico da Unidade 1, desvendaremos os conceitos de filósofos e cientistas políticos que mais obtiveram destaque ao longo da história. A descoberta pode ter ocorrido por terem alcançado êxito na aplicação prática de suas teorias ao longo do globo ou também por terem criado conceitos importantes.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

DICAS

Para aprimorar conhecimentos, o Portal do Governo está disponibilizando vários livros sobre a Ciência Política gratuitamente. São livros de Karl Marx, Friedrich Engels, Jean-Jacques Rousseau, dentre outros filósofos mestres na arte da Filosofia Política. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 26 jul. 2018. Basta colocar “Ciência Política” no campo “categoria” e o site lança uma lista com 107 livros importantes sobre o tema.

2 CONCEITO DE CIÊNCIA POLÍTICA

O conceito de ciência pode ser definido como um conjunto de conhecimentos obtidos ou produzidos, que foram acumulados ao longo da história. Temos como exemplo as Ciências Sociais, campo que trabalha com resultados de observação.

Devemos observar as relações humanas e retirar padrões que servirão de dados para aplicação futura de ideias de ordenamento social. Então, entendemos que a Ciência Política é uma disciplina das Ciências Sociais.

Esses conjuntos de conhecimentos, quando elevados ao nível de ciência, transformam-se em ideias dotadas de universalidade e objetividade. Assim, permitem a difusão com metodologias, teorias e palavreados próprios, a fim de que sejam compreendidos pelo maior número possível da população.

Já o termo “Política” vem do grego politikos, que significa a arte ou a ciência de governar. Assim, tudo que é pertinente à coletividade, à gestão de sociedade, à prática governamental ou aos modelos de Estado está relacionado à política. O conceito política, então, pode ser definido como a arte de organizar, de gerir os povos. É o conhecimento que está atento aos acontecimentos que dizem respeito ao Estado.

É a política que desenvolve objetivos de desenvolvimento para que determinados programas e ações governamentais sejam executados. Ela traça as metas e condiciona as maneiras de efetivação da governança.

Em poucas palavras, podemos dizer que a política é um princípio doutrinário que dá forma à estrutura constitucional de um Estado. É a ciência de bem governar um povo, constituindo um Estado.

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA

A Ciência Política lato sensu objetiva estudar os acontecimentos das instituições e das ideias políticas, tanto em sentido teórico através das doutrinas, quanto em sentido prático na arte de bem governar. Sempre devemos levar em consideração os acontecimentos sociais do passado, o quadro social do presente e, ainda, as possibilidades das relações futuras.

De acordo com o que vimos até agora, podemos concluir que a Ciência Política tem como objeto a sociedade política organizada, bem como, de maneira indireta, o Estado. Ainda, contempla as outras ciências relacionadas ao homem, como a Sociologia, História, Economia, Filosofia, Geografia, Direito e afins.

Ainda, por ora, é importante fixarmos que a Ciência Política tem como objetivo avaliar, posicionar e expor os problemas e as instituições existentes na sociedade contemporânea. Ainda, utiliza as Ciências Jurídicas através do Direito Constitucional.

O princípio doutrinário da política, quando visto de maneira científica, ou seja, como a ciência do estudo da política, dedica-se aos sistemas políticos, às organizações e aos processos políticos.

Dentre os cernes de atenção dos cientistas políticos, podemos ressaltar empresas subsidiárias de serviços públicos, sindicatos, igrejas e tipos de organizações dotados de estruturas e procedimentos.

3 CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA

O estudo da política surgiu na Grécia antiga, quando Aristóteles se dedicou a compreender e a definir as diferentes formas de governo. Ele determinou três maneiras de governo e suas respectivas formas degeneradas. São elas:

• Monarquia: representando o governo de um só (monarca). • Aristocracia: representando o governo de vários (famílias). • Democracia: representando o governo de todos (povo).

• Tirania: a maneira degenerada/corrupta de exercer a monarquia. • Oligarquia: a maneira degenerada/corrupta de exercer a aristocracia. • Demagogia: a maneira degenerada/corrupta de exercer a democracia.

Desde que Aristóteles surgiu com essa denominação, a política ingressou na pauta dos assuntos sociais importantes para o bom andamento das comunidades, recebendo ampla atenção tanto dos homens, quanto das respectivas populações.

Aristóteles mostrou que a política está presente em todas as relações humanas. Determinar esses seis tipos de relação governante/povo fez com que ele ganhasse especial atenção para as análises políticas tanto de sua época quanto

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

Contudo, foi só mais tarde que a Ciência Política conseguiu aglomerar filosofia moral, filosofia política, política econômica e história em suas outras matérias. A partir dessa aglomeração, a Ciência Política foi capaz de arranjar exames contemporâneos e futuros sobre o Estado, administração pública e suas funções.

A Ciência Política surgiu no decorrer do século XIX. Este ficou marcado na história como o século de aparecimento não só da Ciência Política, mas das Ciências Humanas no geral, como a Sociologia, Antropologia e História. Foi nessa época que surgiu algo diferente da filosofia política praticada pelos gregos antigos.

A Ciência Política apareceu como disciplina e instituição em meados do século XIX, período em que avançou como “Ciência do Estado” principalmente na Alemanha, Itália e França.

O termo que hoje é aplicado ao ensinamento e ao exercício da política, além de envolver definições e exames dos aparelhos e procedimentos políticos, foi lapidado pelo professor de História na Universidade Johns Hopkins (EUA), Herbert Baxter Adamn, no ano de 1880.

Nota-se que a criação da Ciência Política aconteceu em um determinado momento histórico em que o desenvolvimento científico começava a progredir no continente europeu. Assim, a disciplina acompanhou o surgimento de todas as demais matérias das Ciências Sociais.

Ainda, arquitetou-se nos alicerces do empirismo científico. De maneira geral, seus diagnósticos estão fundamentados nos mesmos métodos empregados pelas outras áreas que se empenham à pesquisa social, estando baseada em documentos históricos, registros oficiais, produção de pesquisa por questionário, análises estatísticas, estudos de caso e na construção de modelos.

4 PRINCIPAIS TEORIAS POLÍTICAS

Mesmo sendo uma disciplina em níveis históricos e recente, a Ciência Política possui raízes profundas na história do conhecimento humano. Os primeiros pensadores que cultivaram o estudo da política remontam à Grécia antiga, como Platão e Aristóteles.

Ainda na Índia, há mais ou menos 2.500 anos, já havia a reflexão sobre a Filosofia Política. Suas apreciações dos contextos políticos da realidade de sua época serviram como alicerce de edificação da disciplina da maneira como a encontramos. Avançando alguns anos, entre os séculos XIV e XVIII, diferentes

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA

Como visto no plano de ensino desta unidade, estudaremos um pouco sobre os principais pensamentos da Ciência Política. Assim, seguimos nos próximos parágrafos com a exposição das ideias dos cinco autores citados no parágrafo anterior.

Thomas Hobbes (1588–1679) teve suas ideias sobre governo e política publicadas ao longo dos anos em que esteve em atividade. Contudo, esses pensamentos só foram expostos de maneira terminante em sua obra intitulada Leviatã, no ano de 1651.

Hobbes não poupou esforços para embasar sua filosofia política em cima de uma ideia. Procurava uma tese que permitisse explicar o poder absoluto que os soberanos detinham. Junto com Maquiavel (1469–1527), as ideias de Hobbes fazem parte de um grupo que podemos denominar de realismo político.

O pensamento hobbesiano ficou conhecido por, de acordo com sua base realista, possuir tendências extremistas. Hobbes parte do princípio de que todos os seres humanos são maus por natureza.

Assim, podemos compreender que, no chamado estado de natureza, sempre existirão conflitos entre os seres humanos que ali coabitam. Todos os indivíduos são possuidores do chamado direito natural, sendo ele um direito que não necessita da criação de um Estado para existir. Temos como direito natural o direito à vida.

Logo, podemos concluir que toda situação de estado de natureza será carregada de conflitos entre os homens. Seria um cenário de guerra e cada um dos indivíduos se encontraria em constante luta contra todos os outros.

Se eu tenho o direito à vida, então, eu preciso me alimentar para continuar a viver. Como já vimos no estado de natureza, o Estado ainda não foi criado. Logo, não possuo garantias de acesso aos alimentos necessários para a manutenção da minha vida. Assim, terei que ir em busca de alimentos de alguma maneira e fazendo o que achar necessário para defender este que é meu único direito.

Ocorre que no estado de natureza não existem regras, pois não há quem as dite ou as regule. Assim, pouco importa se, ao conseguir um alimento, eu o retire de outro cidadão. É essa atitude que devemos tomar, uma vez que o ser humano, em sua visão, é ruim por natureza.

O homem livre, no estado de natureza, não se preocuparia em racionar ou dividir o alimento encontrado e apenas o comeria, sem se preocupar com seus semelhantes coabitantes daquele determinado espaço geográfico. Em casos mais drásticos, ao encontrar algum outro indivíduo de posse de um alimento que julgue necessário para sua vida, haveria agressão e, em determinadas situações, homicídio.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

IMPORTANTE

No estado de natureza anterior à criação do Estado (governo, organização política), além de não existirem regras, não existe também a figura da propriedade privada. Não há delimitações, não há divisões, gestão, governança etc.

É justamente por essa visão “negativa” sobre a natureza do homem que um governo absolutista e autoritário é o melhor que a sociedade pode conseguir. Deve existir a criação de um Estado absolutista, sendo a força exercida pelo Estado. De maneira centralizada, seria a única forma de controle desse lado “ruim” do ser humano.

Hobbes faz parte, junto com John Locke (1632–1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), do trio de filósofos políticos denominados como contratualistas. Esse nome se deve pelo fato de que esses pensadores enxergaram a criação do Estado como um contrato social entre os indivíduos.

O contrato social corresponde ao momento em que as pessoas transferem os seus direitos naturais ao Estado. Na ideia hobbesiana, o indivíduo passa a não ter mais direito, uma vez que o Estado criado deve ser absolutista.

Hobbes trabalha a ideia de soberania do Estado. Essa soberania deve ser absoluta. Se houver alguma voz concorrente à voz do Estado, estaríamos retornando para o estado de natureza, no qual não existem regras a serem seguidas.

A única maneira de os indivíduos adquirirem algum tipo de segurança é saindo do estado de natureza e transferindo seus direitos para que o Estado os resguarde com garantias de ordem social. Para finalizar o pensamento hobbesiano, vejamos os quatro objetivos da criação do Estado idealizados:

1 garantir a segurança dos homens;

2 proporcionar a liberdade social dos indivíduos; 3 harmonizar a igualdade entre os cidadãos;

4 adequar a educação pública e a propriedade material ou privada.

Dos quatro objetivos, apenas o primeiro é tido como obrigatório. A prioridade do Estado deve ser acabar com a sensação de insegurança que o estado de natureza proporciona. Assim, o Estado foi criado para impedir que os indivíduos vivam marcados por sentimentos como incerteza e medo.

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA

John Locke, além de contratualista, foi considerado também como o pai do liberalismo. Era visto como um pensador ponderado, não acreditava que o homem era de fato um ser ruim por natureza. Os principais fundamentos do Estado Civil, em linha cronológica, são:

1 o livre consentimento entre os indivíduos através do contrato social; 2 o livre consentimento da comunidade para formar o governo; 3 a proteção dos direitos de propriedade pelo governo;

4 o controle do Executivo pelo Legislativo; 5 o controle do governo pela sociedade.

Locke tem como principais obras dois grandes tratados sobre política, que se tornaram clássicos na ampliação das ideias políticas da modernidade. No primeiro, intitulado Primeiro Tratado sobre o Governo Civil, ele elabora sua crítica à tradição de sua época, que assegurava aos reis direitos que eram tidos como divinos.

Se pensarmos que o poder do Estado era idealizado na figura dos reis e advém de um pacto social entre os individuas, fica clara a conclusão de Locke para formalizar sua crítica. Afinal, o poder dos reis seria proveniente do pacto social, e não de uma autorização sobrenatural. Na outra obra de destaque, intitulada Segundo Tratado sobre o Governo Civil, Locke apresenta sua teoria do Estado liberal e da propriedade privada.

No contrato social, os membros da comunidade delegam poderes para um governante e este tem por obrigação garantir os direitos individuais já existentes no estado natural, além de assegurar o direito à propriedade.

No estado de direito natural não existe apenas o direito à vida, mas também o direito à liberdade e à propriedade privada. Os indivíduos criam o Estado apenas para este assegurar os direitos já preexistentes no estado de natureza.

Para encerrar as ideias sobre o contrato social, passemos a estudar Jean-Jacques Rousseau (1712–1778). O autor é conhecido por sua obra chamada Do Contrato Social, do ano de 1762.

O que diferencia Rousseau de seus colegas contratualistas é o fato de ele defender uma visão mais positiva do ser humano. O homem é um ser bom por natureza. Os homens sozinhos, em um estado de natureza, eram seres livres e felizes.

Os indivíduos são “bons selvagens”, são seres que vivem em harmonia com o seu meio natural. O homem natural é o homem justo. O desequilíbrio do homem não é originário, mas derivado e de ordem social, ou seja, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

Assim, a soberania após o contrato social pertence ao povo. O povo livremente transfere o exercício de sua soberania para o Estado. Essas ideias democráticas serviram de inspiração para os líderes da Revolução Francesa.

Na ideia hobbesiana, o homem mau por natureza sairia em busca de seu alimento e passando por cima de tudo e de todos para consegui-lo. Nas ideias de Rousseau, o homem livre e feliz, sozinho em seu estado de natureza, apenas conseguiria comidas que não prejudicassem aquele ambiente.

Ocorre que esses bons selvagens enxergariam a necessidade de retirada do alimento de alguns para poderem dar mais aos outros, por exemplo. Para o pensador, a sociedade implanta no homem maus sentimentos, como os de ambição, comparação etc.

IMPORTANTE

Imagine uma linha. No primeiro extremo temos o nome de Hobbes (o homem é mau por natureza), no meio temos Locke (o equilíbrio das ideias, o homem é ponderado) e, por último, Rousseau no outro extremo da linha (o homem é bom por natureza).

Para finalizar o presente tópico, passamos a expor, de maneira conjunta, as ideias de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Em Trier, capital da província alemã de Reno, no dia 5 de maio de 1818, nasce Karl Marx, apenas dois anos antes de Friedrich Engels, que nasceu em Barmen, Alemanha, em 28 de novembro de 1820.

Por insistência da família, Engels abandonou a escola para trabalhar. Assim, notamos a condição de miséria dos trabalhadores fabris nos negócios particulares. A condição despertou interesse para seguir sozinho nos estudos de filosofia, religião, literatura e política.

Em 1842, Engels se mudou para a Inglaterra, lugar onde, na época, já se especulava muito sobre as condições dos trabalhadores. Escreveu sobre em A Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra, publicado em 1845.

Dessa forma, adotou uma reprimenda ao sistema capitalista e estabeleceu ligações com Karl Marx, com quem se encontrou em Paris, no ano de 1844, após anos de correspondência. Juntos escreveram obras que se tornaram referências

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA

O Manifesto Comunista, de autoria de ambos, em 1848, e O Capital, de autoria de Karl Marx, em 1867, verteram suas ideias ao desenvolvimento teórico e prático de vários subtipos de socialismo, comunismo e alguns relacionados ao anarquismo.

Com a morte de Karl Marx em 1883, Friedrich Engels se responsabilizou a escrever a continuação do segundo volume de O Capital e redigir inteiramente o terceiro. Para que seja possível entender Engels, é necessário precisar a doutrina e a atividade de Marx no desenvolvimento do movimento operário.

Juntos anunciaram o socialismo como um estágio final do processo antropológico e sociológico, com poderes estatais em segundo plano e beneficiando paridade entre os indivíduos. Tudo norteado por teorias como a “mais-valia”.

Mais-valia foi o termo desenvolvido por Marx para se referir à exploração da mão de obra dos trabalhadores. O processo de troca da mão de obra por salário era uma maneira de exploração dos assalariados. Os empresários estavam gerando lucro em favor da exploração do corpo e mente de outros cidadãos. É dele a famosa ideia: “se a classe operária tudo produz, a ela tudo pertence”.

O fenômeno da mais-valia, em poucas palavras, seria a expropriação pelos donos das fábricas do valor do trabalho de seus empregados. Para Marx e Engels, esse tipo de injustiça seria o suficiente para inviabilizar o capitalismo, sendo o socialismo a única maneira de respeitar todos os cidadãos.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

REVISITANDO MONTESQUIEU: UMA ANÁLISE CONTEMPORÂNEA DA TEORIA DA SEPARAÇÃO DE PODERES

Alan Ricardo Fogliarini Lisboa A teoria da Separação dos Poderes, desenvolvida por Montesquieu, prevê a autonomia dos Poderes como um pressuposto de validade para o Estado Democrático. A ideia de que o poder deve ser controlado pelo próprio poder pressupõe que as atitudes dos atores envolvidos no palco de decisões sejam interligadas. Deve haver uma clara divisão nas competências e uma interdependência, que garantam uma gestão compartilhada e homogênea.

Assim, as ações do Executivo, Legislativo e do Judiciário devem ser, em tese, autônomas e complementares. O obstáculo à atuação legítima de qualquer um dos entes deve pressupor um abuso de seu poder institucional.

Entretanto, a atual conjuntura brasileira desenha um quadro diferente. A utilização indiscriminada de Medidas Provisórias pelo Executivo, a instalação de CPI’s pelo Legislativo e a utilização de Ações Diretas de Inconstitucionalidade por Omissão (ADIN) pelo Judiciário, por exemplo, apontam para uma interferência mútua nos círculos de poder dos atores estatais.

Cabe ressaltar que nenhuma das atividades é ilegal ou inédita. Todas têm amparo legal e são instrumentos previstos na atuação do Estado. O que desperta interesse no momento é que a utilização delas vem crescendo nos últimos 10 anos, às vezes como forma de acelerar o processo de gestão, ou como maneira de obstacularização do processo decisório.

O escopo do presente trabalho é questionar não a natureza do processo, mas seu objetivo. Afinal, a utilização demasiada desses métodos é a personificação de uma atitude despótica de conquista do poder pelas facções ideológicas (partidos políticos) ou uma readequação da teoria do Check and Balances como uma resposta dos demais poderes para a concentração de força no Executivo?

Caso a primeira opção se confirme, qual o papel do Judiciário nessa contenda, uma vez que sua natureza deve ser percebida como apolítica e, portanto, não inscrita na relação de disputa apresentada? Cabe a ele ser o mediador do conflito entre as demais facções notadamente políticas, consubstanciando-se tão somente como “la bouche de la loi” ou representa-se como ator ativo no palco do domínio do poder?

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TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA

Ao iniciar essa discussão, é preciso traçar as linhas gerais sobre o que seja e de onde venha a ideia de que o poder deve ser exercido de forma separada e complementar. Para alguns autores, inclusive, o poder político é indivisível e deriva do Estado e do Povo.

O que aconteceria na realidade é a especialização das funções entre entes diversos que, conjuntamente, exercem o poder do Estado. Essa ideia, contudo, é rechaçada por aqueles que entendem que o foco do estudo não está nem na ideia funcionalista, nem na estruturalista (órgãos) do governo, e sim na sua capacidade de imperium.

Ao iniciar seu trabalho sobre as leis, Montesquieu divide os três estilos de governo em republicano, monárquico e despótico. A diferença entre eles é básica e inscrita no próprio senso comum: na república, todo povo ou, ao menos, parte dele, exerce diretamente o controle do Estado. A monarquia é representada por apenas uma figura, mas regrada por leis fixas e estabelecidas. Já o déspota ignora a instituição de normas e governa por seu próprio arbítrio.

Nessa análise inicial, o autor coloca força em um poder intermediário, de contenção, ou “repositório de leis”, como um poder mediador entre a vontade do governante e o povo. Tal fenômeno inclusive é o que impede a evolução de um poder centralizado (monarquia) para um sistema despótico. Além disso, sugere a existência de primazias ou princípios aos sistemas republicanos e monárquicos, a virtude e a honra. São esses elementos, portanto, também freios primários do poder constituído.

A proposta de limites ao poder de comandar e coagir o cidadão está assente na teoria de Montesquieu, mas possui raízes mais profundas. Platão e Aristóteles, na Grécia antiga, Tomás de Aquino e Marsílio de Pádua, na era medieval, e mais modernamente Bodin e Locke já se ocuparam do assunto, embora o primeiro e o último foram considerados verdadeiros precursores do aristocrata francês.

Contemporaneamente, a percepção foi trabalhada por Locke, ao desenhar uma separação entre os poderes. Para esse autor, existiriam o Executivo, responsável pela execução das leis, o Legislativo, expressão do povo para a criação de tais enunciados, e ainda outros dois, Confederativo e Discricionário.

Refinando o modelo, Montesquieu afirma claramente a necessidade de divisão dos poderes como forma de constituição do Estado Moderno: ”Há em cada Estado três espécies de poder: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes, e o poder executivo daqueles que dependem do direito civil”.

O autor ainda compara monarquias moderadas da Europa. Existe uma fração do poder de governo na mão do povo (justiça) e com uma república sem

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

Partindo dessa visão, o poder no Estado Moderno, e particularmente no Brasil, divide-se em Legislativo (expressão máxima do poder popular, cujos representantes efetivamente criam as leis e regras que serão dirigidas a todos); Executivo (órgão responsável pela execução das leis e direção central da nação, também escolhido pelo povo), e Judiciário (repositório da legislação, com função de intérprete e guardião das normas e princípios norteadores do EDD).

Mais moderno e aprofundado, o conceito dado por Canotilho pressupõe não apenas uma divisão horizontal, como a já definida, mas também uma separação vertical dos poderes, como o princípio básico do federalismo e a separação em União, Estados e Municípios.

Com efeito, a ideia de um perfeito equilíbrio entre o Poder Central e os periféricos está assentada na base da ideia de parlamento, como afirma Bobbio:

“O nascimento e desenvolvimento das instituições parlamentares dependem, portanto, de um delicado equilíbrio de forças entre o poder central e os poderes periféricos. O poder central goza de uma significativa preponderância. As instituições parlamentares vingam mal e dificilmente prosperam. Tampouco na situação oposta [...] existem condições para a consolidação dos Parlamentos: falta, na verdade, um estímulo que leve as várias forças do país a se unirem de forma duradoura”.

Baseado no estudo constitucional português, o autor trabalha a estruturação de Montesquieu em três esferas: plano funcional (legislativa, executiva e judiciária); plano institucional: existência de três órgãos constitucionais para cada uma das funções; plano sociocultural: articulação de cada poder com as estruturas sociais. FONTE: LISBOA, Alan Ricardo Fogliarini. Revisitando Montesquieu: uma análise contemporânea da teoria da separação dos poderes. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 52, p. 1-3, abr 2008. Disponível em: <http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2670&revista_ caderno=9>. Acesso em: 24 jul. 2018.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• O conceito de política pode ser definido como a arte de organizar, de gerir os povos. É o conhecimento que está atento aos acontecimentos que dizem respeito ao Estado.

• A Ciência Política é uma disciplina das Ciências Sociais, fazendo parte do conjunto de ciências que são obtidas pelo ser humano.

• A Ciência Política tem como objeto a sociedade política organizada, bem como, de maneira indireta, o Estado.

• A Ciência Política tem como objetivo avaliar, posicionar e expor os problemas e as instituições existentes na sociedade contemporânea.

• O estudo da política surgiu na Grécia antiga, quando Aristóteles se dedicou a compreender e a definir as diferentes formas de governo. Há três maneiras de governo e suas respectivas formas degeneradas. São elas, respectivamente: monarquia, aristocracia, democracia, tirania, oligarquia, demagogia.

• O pensamento hobbesiano ficou conhecido por, de acordo com sua base realista, possuir tendências extremistas. Todos os seres humanos são maus por natureza.

• Nas ideias de Locke, os principais fundamentos do Estado Civil, em linha cronológica, são: o livre consentimento entre os indivíduos para estabelecer a sociedade através do contrato social; o livre consentimento da comunidade para formar o governo; a proteção dos direitos de propriedade pelo governo; o controle do Executivo pelo Legislativo e o controle do governo pela sociedade. • Rousseau enxerga os indivíduos como “bons selvagens”, como seres que vivem

em harmonia com o seu meio natural. O homem natural é o homem justo. O desequilíbrio do homem não é originário, mas derivado e de ordem social, ou seja, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe.

• O fenômeno da mais-valia é a expropriação pelos donos das fábricas do valor do trabalho de seus empregados.

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1 Explique o que é a Ciência Política, exibindo quais são seus objetos de estudo, seus objetivos e que meios ela utiliza para alcançá-los.

2 De acordo com o que você estudou, disserte sobre os autores contratualistas, enfatizando os principais pontos de divergência entre eles.

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TÓPICO 2

CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Quando falamos sobre Ciência Política, logo temos em mente a matéria de Teoria Geral do Estado. Essas duas matérias andam juntas e algumas pessoas acreditam, inclusive, que tratam da mesma coisa, que seria mera distinção de nomes. Entretanto, vamos aprender aqui o que as diferencia e a importância do estudo de ambas.

Esses estudos andam juntos pelo simples fato de que se complementam. Como já vimos, a Ciência Política nos traz as reflexões e ideias dos grandes pensadores. É uma matéria do campo da sociologia que, intimamente, está ligada à filosofia.

Já a Teoria Geral do Estado é matéria do campo jurídico, são os estudos que aparecem cronologicamente em tempo posterior ao pensar dos cientistas políticos. É a aplicação dos resultados obtidos na Ciência Política.

No tópico de Teoria Geral do Estado, por exemplo, iremos observar questões de modelos e formas de estados, soberania e sociedade. Esses são elementos que só são passíveis de estudos após concluirmos que o Estado já foi criado e aplicado de determinada maneira.

É possível conceituar Teoria Geral do Estado como a ciência que pesquisa e exibe os princípios basilares da sociedade política (Estado), sua composição, formas, modelos e evolução. Assim, ela conta com o que chamamos de Tríplice Aspecto da Teoria Geral do Estado, sendo eles o sociológico, político e jurídico.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

IMPORTANTE

Ciência Política = considerações, pesquisa, crítica. Teoria Geral do Estado = resultado das considerações, aplicação.

2 SOCIEDADE E ESTADO

Passamos agora ao estudo dos elementos da Teoria Geral do Estado. Primeiramente, falaremos sobre sociedade, que pode ser conceituada como um grupo de indivíduos reunidos e organizados em determinado território geográfico com um objetivo em comum.

Esse objetivo em comum a ser alcançado pela sociedade é o que denominamos como bem comum, sendo ele um bem que ultrapassa o bem pessoal único do indivíduo e contempla todos os cidadãos daquela sociedade.

Notamos que o bem comum não é o “bem de todos” ou o “bem geral”. Os últimos seriam anuladores dos bens individuais. O bem comum é algo equilibrado entre o bem pessoal do indivíduo e o bem geral da sociedade. É quando todos os cidadãos abrem mão de alguma parte de algo pessoal em prol do bem maior de todos.

Para melhor explicar, devemos imaginar um Estado que dispõe das melhores escolas possíveis em espaço físico e pesquisa científica, porém anula os direitos de liberdade de expressão de seus alunos. Assim, temos um exemplo de bem geral. Abdicou-se totalmente de um direito individual para obtê-lo. Logo, o bem não está em comunhão entre a sociedade e o cidadão.

Sobre a origem da sociedade, a teoria mais aceita é a da sociedade natural, que diz que a sociedade é fruto da própria natureza humana. Ainda, além dela, existe a teoria contratualista, que já vimos no tópico anterior, que diz que a sociedade é simples fruto de escolha entre os seres humanos que coabitavam determinado espaço geográfico e em determinada época. Dallari (1998) defende que, para um agrupamento humano ser considerado sociedade, são necessários alguns elementos:

• Finalidade social ou valor social: o homem necessita ter consciência de que

precisa viver em sociedade e buscar fixar, como objetivo da vida social, um desígnio harmônico entre suas necessidades fundamentais e as coisas que

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TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

• Manifestações de conjunto ordenadas (ordem social e ordem jurídica): para

a persecução das finalidades buscadas pela sociedade, há a necessidade de que os membros se despontem por meio de ação conjunta constantemente efetuada. Para ocorrer, devemos atender a três requisitos:

• Reiteração: sabendo que a todo momento e que nos territórios aparecem

novos fatores influenciadores para ideia de bem comum, é imprescindível que os membros da sociedade se manifestem em conjunto sempre que acharem necessário e visando à efetivação dos objetivos da sociedade. Além disso, é necessário que os atos cometidos de maneira isolada sejam conjugados e integrados dentro de todo harmônico.

• Ordem: as manifestações de conjunto são reproduzidas dentro de uma ordem,

para que a sociedade possa atuar em função do bem comum. A ordem não exclui a vontade e a liberdade das pessoas, visto que todos os membros da sociedade participaram da criação das normas de comportamento social.

• Adequação: não se deve impedir a livre manifestação, o desenvolvimento

das tendências da época e os anseios dos cidadãos. As ações conjuntas dos membros de uma sociedade consideram o bem comum.

• Poder social: para caracterizar poder, é importante ressaltar seus elementos:

socialidade, o poder é um fenômeno social, jamais podendo ser explicado pela simples consideração de fatores individuais; bilateralidade, indicando que o poder é sempre a correlação de duas ou mais vontades, havendo uma que predomina.

Continuando os aprendizados do presente tópico, passamos a pensar o Estado. Estado é a organização de determinada sociedade e sob governo próprio e território determinado, com a finalidade de efetivar o bem comum. Para melhor entender as Teorias do Estado, é importante que vejamos um breve histórico da sua evolução:

• O Estado Oriental, Antigo ou Teocrático: ocorreu nas antigas civilizações no

Oriente ou no Mediterrâneo. A família, a religião, o Estado e a organização econômica eram um só conjunto. Não se diferenciava o pensamento político da religião, da moral, da filosofia ou de outras doutrinas econômicas. O Estado não possuía subcategorias divisórias, territoriais ou de funções. Foi determinado como Estado Teocrático devido à grande influência que a religiosidade tinha na época. Tanto a autoridade dos governantes quanto as normas de comportamento individuais e coletivas eram a expressão da vontade de um poder divino.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

• O Estado Grego: a característica fundamental é a cidade-estado, a polis, cujo ideal

era a autossuficiência. Existia a classe política, composta pela elite, com intensa participação nas decisões de caráter público do Estado. Quando citado como governo democrático, significava que uma parte restrita da população, ou seja, os cidadãos, participava das decisões políticas. Além destes, habitavam a cidade os Metecos (estrangeiros) e os escravos, que não participavam do poder político.

• O Estado Romano: a família era a base da organização desse Estado. Eram

dados, aos descendentes dos fundadores do Estado, privilégios especiais. O povo, que representava uma pequena parte da população, participava diretamente do governo, que era exercido pelo Magistrado. Com o passar do tempo, novas categorias sociais apareceram e foram adquirindo e ampliando direitos. Com a ideia do surgimento do Império, Roma tentou integrar os povos conquistados e manter um sólido núcleo de poder político a fim de assegurar o desenvolvimento da Cidade de Roma.

• O Estado Medieval: existia um poder superior exercido pelo Imperador e uma

ilimitada multiplicidade de poderes menores e sem hierarquia definida. Ainda, várias ordens jurídicas (norma imperial, eclesiástica, monarquias inferiores, direito comunal desenvolvido, ordenações dos feudos e as regras estabelecidas no fim da Idade Média pelas corporações de ofício) e instabilidade social, política e econômica, que geraram uma intensa necessidade de ordem e autoridade.

• O Estado Moderno: a soberania, a territorialidade e o povo são as características

do Estado Moderno. Foram originadas da necessidade de unidade e da busca de um único governo soberano dentro do território delimitado. São três os elementos que constituem o Estado:

• Povo: corresponde à população do Estado. É o grupo de indivíduos em uma

ordem estatal determinada. Um conjunto de indivíduos sob o mesmo regime de normas, possuidor de direitos e deveres. Distingue-se de nação, que é uma entidade moral. São pessoas que possuem um sentimento de união por serem de origem comum, por possuírem interesses ou ideias em comum. Esse sentimento complexo é o que definimos como patriotismo.

• Território: é materialmente formado pela terra firme, incluindo o subsolo e

as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo mar territorial, pela plataforma continental e pelo espaço aéreo.

• Governo: é o conjunto das funções necessárias para a manutenção da ordem

jurídica e da administração pública. Governo confunde-se, muitas vezes, com soberania. Alguns autores citam, como quarto elemento constitutivo do Estado, a soberania. Para os demais, no entanto, a soberania integra o terceiro

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TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

As funções do Estado são todas as ações necessárias à execução do bem comum. Função legislativa é aquela exercida pelo Poder Legislativo, que tem a função de elaborar leis. Função executiva é exercida pelo Poder Executivo, tem como função administrar o Estado e pretende contemplar a melhor maneira de concluir seus objetivos (exemplos: nomeação de funcionários, criação de cargos, execução de serviços públicos, arrecadação de impostos). Por último, a função judiciária, que é exercida pelo Poder Judiciário e tem a função de interpretar e aplicar a lei.

O Estado, ao longo do tempo, foi se caracterizando de diferentes formas. Quando falamos em forma, estamos nos referindo à formação material do Estado, sua estrutura. São as variações existentes na combinação dos três elementos morfológicos do Estado: povo, território e governo. São formas de Estado:

• Estado simples ou unitário: existe apenas um poder soberano. O governo possui

completa jurisdição nacional e não existem divisões internas. Ex.: França.

• Estado composto: união de dois ou mais Estados, que representam duas

esferas distintas de poder governamental e que obedecem a um regime jurídico especial. É uma pluralidade de Estados perante o direito público interno, mas no exterior se projeta como uma unidade. São tipos importantes de Estados Compostos:

• Confederação: Estados independentes se juntam para fins de defesa externa

e paz interna. Na união confederativa, os Estados Confederados não sofrem qualquer restrição à soberania interna, nem perdem a personalidade jurídica de direito público internacional. Ex.: Estados Unidos da América do Norte e Alemanha, que são hoje federados, mostrando a tendência de as confederações evoluírem para federação ou se dissolverem.

• Federação: Estado formado pela união de vários Estados, que perdem a

soberania em favor do poder central da União Federal, que possui soberania e personalidade jurídica de Direito Público Internacional. Exemplo: Brasil, Estados Unidos da América do Norte, México.

3 O ESTADO DE DIREITO

O Estado de Direito é configurado como o sistema institucional. O governo e o indivíduo, por exemplo, devem se submeter em respeito às normas e direitos fundamentais. Dessa forma, desenvolve-se regulado e autorizado pela ordem jurídica a fim de oferecer mecanismos para proteger os cidadãos de ações abusivas do Estado. O propósito é carregar em si superioridade em relação à autoridade pública.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

Apresenta-se como oposição ao uso arbitrário de poder, não só como uma concepção tradicional de ordem jurídica, mas também como um conjunto dos direitos fundamentais. Deve ser considerado como uma forma de limitação de autoridade em torno das liberdades públicas, democracia e papel do Estado.

Ao contrário das monarquias absolutistas de direito divino, ditaduras e regimes, o Estado de Direito se apresenta ora liberal, ora social e, por fim, democrático.

IMPORTANTE

O arbítrio do Estado monárquico pode ser exemplificado pelo Rei Luiz XIV da França, apelidado de “Rei Sol”, símbolo do poder pessoal com sua famosa frase: "O estado sou eu” (l´État cést moi").

O Estado liberal de direito surge como a expressão jurídica da democracia liberal após a Revolução Francesa de 1789 e encerrando o absolutismo da monarquia. É guiado pela burguesia revolucionária, cujo lema era "Liberdade, Igualdade e Fraternidade". Liberdade individual, igualdade jurídica e fraternidade com os camponeses. Os capitalistas ansiavam por autonomia dos monarcas e nobres.

As principais características foram a não intervenção do Estado na economia, validade do princípio da igualdade formal, implementação da Teoria da Divisão dos Poderes de Montesquieu, supremacia da Constituição como norma limitadora do poder governamental e garantia de direitos individuais fundamentais. Foram denominados os "direitos de primeira geração". A especialização de funções age em conjunto com o constitucionalismo, no que diz respeito à delimitação do poder do Estado Moderno.

Com Montesquieu e seu O Espírito das Leis (1748) houve, a princípio, a percepção de uma divisão de tarefas para melhorar o desempenho burocrático do Estado. A ação não foi impulsionada como forma de estratégia para reduzir a influência direta da autoridade estatal.

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TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

O princípio da igualdade formal buscava a sujeição de todos perante a lei, acabando com qualquer discriminação. Todas as leis teriam conteúdo geral.

A partir da menor intervenção do Estado na economia, surge a ideia de “Estado mínimo”, em defesa da ordem natural e econômica. É utilizada atualmente com o Estado neoliberal, que busca proporcionar a condução da economia aos capitalistas em ascensão através da prática de autorregulação do mercado.

Na doutrina liberal, direitos reconhecidos fundamentais são considerados constitucionalmente e, portanto, invioláveis. Compreendem as liberdades clássicas, tais como liberdade, propriedade, vida e segurança, denominados também de direitos subjetivos materiais ou substantivos. O Estado social de direito, em face ao absenteísmo do modelo clássico do liberalismo, cria conteúdo social com a pretensão de agregar a busca do bem-estar social ao capitalismo.

A revolução russa de 1917 ocorre devido à exploração dos trabalhadores e cria preocupação com a possível disseminação de seus ideais e valores. Como dispositivo de defesa, surge o Estado social. Dessa demanda, surgiu o modelo de welfare state neocapitalista após a Segunda Guerra Mundial.

Políticos passam a aceitar o intervencionismo estatal pensando nos desfavorecidos. A intenção é criar uma fórmula para que o bem-estar e o desenvolvimento social passem a nortear as ações do ente público, sem haver a renegação dos valores e conquistas do liberalismo burguês e resguardando os valores, levando em conta as condições do presente.

Para completar o objetivo, a igualdade formal teve que ser substituída pela igualdade material, que procurava obter desenvolvimento e justiça social. Assim, são necessários o crescimento e a elevação do nível cultural e mudança social.

Foram ampliados os direitos subjetivos materiais, criando os chamados "direitos de segunda geração", compromissando o governante a proporcionar, dentre outros, o direito a educação, saúde e trabalho, lazer e moradia. A lei passa a ser, cada vez mais, específica e com destinação concreta, ao invés de abstrata e de ordem geral. Dessa forma, atendendo mais a critérios circunstanciais.

A principal diferença, então, para a concepção clássica do liberalismo é que, além dos limites, são acrescentadas obrigações positivas, mantendo o respeito aos direitos individuais. O Estado democrático de direito surge com a necessidade de acolher, confiavelmente, os desejos de democracia.

Como uma garantia para não compactuação com regimes incompatíveis com a democracia, são instituídos os "direitos de terceira geração" na esfera do respeito e conteúdo fraternal. São compreendidos por direitos coletivos, dentre outros, o respeito ao meio ambiente, paz, autodeterminação dos povos e moralidade administrativa.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

Bonavides (2000) cita os "direitos de quarta geração" quando explica que a globalização política, na esfera da normatividade jurídica, introduz os direitos de quarta geração, que correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado social.

Ao se apropriar do propósito democrático, o Estado de Direito tem como escopo a igualdade. A lei se torna mecanismo de mudança e solidariedade das pessoas, não mais ligada obrigatoriamente à sanção ou à promoção. A participação social não se limita mais a formar as instituições representativas.

FIGURA 1 – MODELOS DE ESTADOS E SUA ESTRUTURAÇÃO

Estado Liberal de Direito Educação Promoção Sanção Comunidade Grupo Indivíduo Lei é a ordem geral

e abstrata; não impedimento Lei é instrumento de ação concreta do Estado Lei é instrumento de transformação e solidariedade Transformação do status quo Prestações positivas Limitação da ação estadual Igualdade Questão Social Conteúdo jurídico do liberalismo Estado Democrático de Direito Estado Social de Direito Estado de Direito Estado legal Estado Liberal Estado Absolutista Estado Moderno

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TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

LEITURA COMPLEMENTAR

NOTAS SOBRE O ESTADO MODERNO E A SEPARAÇÃO DE PODERES

Nelson Nogueira Saldanha O Estado: stato, état, Stata, Estado, state etc. Um termo extremamente conhecido e de trânsito livre no vocabulário do homem comum, bem como no dos especialistas, e que entrou nesse vocabulário durante os séculos modernos, especialmente com a alusão de Maquiavel aos stati, no início de O Príncipe.

O Estado é visto como fenômeno universal (quase um “universal da cultura”), no sentido de estrutura de poder dominante para determinado povo. A ideia, presente em tantos autores, segundo a qual não teria havido Estado na Idade Média (Ocidental), é confirmada pela dispersão do poder em diversos “centros”, submetidos afinal ao poder maior do Papado e da Igreja. Daí que certos professores, como Hermann Heller e Ernst Forsthoft, tenham identificado a teoria do Estado como algo referido ao Estado moderno.

Este é, de resto, um tema de interesse permanente para os estudiosos: o Estado como ordem política e como ordem jurídica. A ordem, no Estado, como fundamento de seu surgimento histórico e de seu conforto social e também como organização de normas e de competências decisórias.

Uma duplicidade que pode trazer inquietação para o tratadista, e que se apresenta ao observador como referência permanente, seja nas teocracias do Oriente Antigo, seja nas democracias dos séculos XX e XXI (SALDANHA, 2003).

Como se sabe, um dos modos de aludir ao problema, inclusive por parte de pensadores ou de observadores mais descomprometidos, tem sido o de entender a divisão do poder, sua participação, como um processo jurídico, ao menos latentemente jurídico.

Outro problema, porém, que aí permanece, é que a colocação de uma estrutura jurídica no poder implica um poder de decisão realmente suficiente. Divide et impera sempre foi mais estratégia política do que preceito jurídico.

Contudo, a Idade Média nos legou uma imagem clara do direito como algo provido de validade peculiar: o jus como referência necessária para a medida dos atos de poder. Fica dito “medida”, em verdade, aludindo a um dos sentidos de nomos: para Schmitt, medida espacial, ligada ao “assentamento” e à “ordenação” (SCHMITT, 1979).

O Estado Moderno herdou a ambígua imagem da conexão entre o direito e o poder. Destarte, o dito absoluto aproveitaria, de acesso de frases romanas, do

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

É curioso que, em relação à permanência da ligação entre o Estado e o direito, a sucessão de fases (ou tipos históricos) daquele não corresponde às formas históricas deste. É raro falar em um “direito liberal” e outro social, salvo em um sentido diferente. Aliás, a discrepância já seria uma base para a tese da identificação entre direito e Estado ser recusada.

Nos tempos ditos modernos, a história dos homens de carne e osso está cada vez mais ligada à presença do Estado: poder, poderes, legislação, terminologia, problemas tributários, problemas de ética política, tudo realçado pelo olho implacável da imprensa.

Mac Ilwain considera correlatos os termos jurisdictio (de Bracton) e politicum (de Fortescue). O paralelo, que no fundo remete à complementaridade entre o político e o jurídico, situa o problema em termos que em verdade permanecem. Será o caso de ser acrescentada uma referência ao excelente estudo de Hermann Heller, contido em seus Escritos Políticos (1984).

Vale insistir sobre o paralelo entre o advento do Estado constitucional, que é o “liberal” encarado sob prisma específico, e a formação da própria ciência jurídica contemporânea. Ao mencionar o famoso debate Thibaut–Savigny sobre a codificação, citamos a frase de Koshaker (em seu livro Europa und das roemischen Rechts), conforme a qual a chamada ciência do direito seria historicamente um produto made in Germany.

Temperemos a frase: os alemães, sobretudo com a Pandectística, criaram uma ciência do direito e os franceses criaram outra, produto cartesiano da Escola da Exegese. Há uma convergência do espírito do Ocidente para um modelo que se tornaria, de certo modo, universal.

Para o referente ao socialismo, ou aos socialismos, valerá lembrar as dificuldades doutrinárias provenientes da crença na extinção do Estado. Marx e Engels tentaram abolir toda conotação utópica dentro da ideia do Estado socialista, conotação retomada no século XX inclusive por Ernst Bloch com seu “Princípio Esperança” (BLOCH, 1959).

A utopia prosseguiu, dispersa e diminuída, no meio dos debates sobre justiça social e coisas afins. Com efeito, a força do pensamento utópico sempre foi grande e desde a antiguidade se formulam utopias, inclusive a de Hipódramo e a de Platão.

Com as utopias do Renascimento aquele pensamento ressurgiu vigoroso e dentro do Romantismo (ou no período que o antecipa) as utopias se formulam de modo muito característico e quase sempre – vale acentuar – como propostas

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TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO

Urbanismo: o arquétipo cidade, desafio e fascínio para os habitantes da floresta e os do deserto, desde os inícios. O arquétipo cidade vinculando à imagem do próprio Estado, muitas vezes confundindo-se no espaço com as duas coisas, ambas se ligando à ideia milenar do reino e do poder real e com suas projeções: a segurança, a justiça, os contornos da vida. Para evocar novamente a frase de Weber, o “monopólio do uso legítimo da violência”.

Quero retomar, embora sem alongar-me, para a observação ali feita, que distingue em Il príncipe um “historiador pragmático” e na Republique de Bodin um jurista sistemático, apontado no Leviathan como um filósofo com ponderável veia metafísica e com uma visão do homem um tanto negativa.

Diria que a época era de revisões filosóficas, e que a antropologia política de Hobbes traduziu um realismo profundo (realismo também em Maquiavel, mas com outro sentido). Quanto a Bodin, com efeito, foi homem de preocupações metodológicas, apto para a visão estrutural do fenômeno do Estado (mencionado como “republica”). Interessante também o amplo estudo de Pocock (1975).

O livro de Meinecke, publicado em 1924, Die Idee der Staatsraeson in der neueren Geschichte, marcado por um certo europocentrismo, ficou de qualquer sorte, pela força de seu texto, como o grande chamamento ao tema.

FONTE: NOGUEIRA SALDANHA, Nelson. Notas sobre o Estado Moderno e a separação de poderes. Duc in Altum, Recife, v. 3, n. 4, p. 193-198, jul. 2008. Disponível em: <http://faculdadedamas. edu.br/revistafd/index.php/cihjur/article/view/131/122>. Acesso em: 9 jul. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Teoria Geral do Estado é matéria do campo jurídico, são os estudos que aparecem cronologicamente em tempo posterior ao pensar dos cientistas políticos. É a aplicação dos resultados obtidos na Ciência Política.

• Sociedade é um grupo de indivíduos reunidos e organizados em determinado território geográfico e com um objetivo em comum.

• Para um agrupamento humano ser considerado sociedade, é necessário: finalidade ou valor social, manifestações de conjunto ordenadas e poder social. • Povo é um conjunto de indivíduos sob o mesmo regime de normas, possuidor

de direitos e deveres.

• Território é a base geográfica onde um Estado exerce seu poder coercitivo nos seus cidadãos. É materialmente formado pela terra firme.

• Governo é o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública.

• Soberania é o poder de se organizar juridicamente e de fazer valer, dentro do seu território, a universalidade de suas normas.

• Confederação são estados independentes e que se juntam para fins de defesa externa e paz interna.

• Federação: Estado formado pela união de vários Estados, que perdem a soberania em favor do poder central da União Federal.

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1 O Estado Moderno divide suas funções em três aspectos. As funções de administrar o Estado e visar aos seus objetivos concretos dizem respeito à função exercida pelo poder:

a) Estatal. b) Judiciário. c) Executivo. d) Legislativo.

2 O tríplice aspecto da Teoria Geral do Estado abrange os aspectos: a) Sociológico, Político e Jurídico.

b) Sociológico, Político e Filosófico. c) Sociológico, Filosófico e Jurídico. d) Político, Jurídico e Filosófico.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, serão desenvolvidas apreciações sobre as ideias de governo, Constituição e democracia. A conceituação desses adventos institucionais é de grande importância no estudo da Ciência Política, uma vez que são parte central para o entendimento e persecução dos objetivos.

Assim, será levantado um breve histórico sobre a criação da Constituição em nosso país. Ainda, discutiremos as ideias do poder constituinte e as formas e sistemas de governo previstos ao longo da história.

2 CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA

Com a proclamação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, é instituído o Estado Democrático de Direito proveniente do movimento constitucionalista vindo no segundo pós-guerra.

A busca em estabelecer uma sociedade livre, justa e solidária, relacionando-se com diferentes culturas, etnias e a pluralidade de ideias, procura asrelacionando-segurar a presença do povo. Concebe a soberania popular como garantia geral dos direitos fundamentais da pessoa humana. Além de um puro instrumento de governo, a Constituição emerge como um plano de normas sociais, fundamentos de uma sociedade. Segundo Streck e De Morais (2014, p. 81):

Não compreende somente um “estatuto jurídico e político”, mas um “plano global normativo” da sociedade e, por isso mesmo, do Estado brasileiro. Daí ser ela a Constituição do Brasil, e não apenas a Constituição da República Federativa do Brasil.

Dessa forma, a gestão assegura a participação das pessoas na política nacional e também procura todas as maneiras possíveis para garantir a manutenção e totalidade dos direitos essenciais da pessoa humana.

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UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA

Agrega-se às noções que pertencem a três formas de governo que foram estudadas: liberal, social e democrático. Modera os poderes do Estado, propicia atenção aos direitos individuais e sociais e recusa todo regime de governo autoritário, estimulando a atuação dos cidadãos.

Com o desenvolvimento dos costumes, estabelecidos pela ordem jurídica e proclamados por cada uma das novas sustentações estatais, é feita uma escala com as “gerações de direitos”. A leitura não somente deve englobar aspectos literais.

Deve levar em consideração, também, o significado histórico, sistemático e os motivos pelos quais ela existe. O objetivo precisa ser o de alcançar o que propôs o legislador, de forma que não se direcione a um fim descabido ou antiquado.

Sendo assim, o poder público deve agir de forma dirigida e precaver as necessidades ao estabelecer, de antemão, políticas que consolidam os direitos humanos, protegendo os direitos de minorias étnicas, raciais, religiosas e sexuais.

Para que seja iniciada uma busca pela equiparação, é necessário um aumento anterior na participação democrática, pois a desigualdade exige um sistema não participativo para que se mantenha sua condição.

A mudança de consciência da população e a mitigação de desigualdades sociais e econômicas culminam na igualdade necessária para manutenção de um sistema participativo. Dessa forma, há um aumento no engajamento e é criada a legitimação na tomada de decisões.

Além da declaração de direitos do liberalismo clássico e da garantia do Estado social, surge a necessidade de concretização. Então, após a etapa dos direitos individuais do Estado liberal (fase Declaratória dos Direitos) e dos direitos sociais do Estado social (fase Garantidora dos Direitos), é chegada a fase dos direitos fraternais. O Estado democrático de direito (fase Concretista dos Direitos) amplia o conceito social e adota uma postura proativa.

Assim, o objetivo é tornar a sociedade um meio pelo qual as distâncias sejam encurtadas e que haja respeito em relação a raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Para ilustrar essa reforma social, analisamos a aplicação e interpretação da norma jurídica em conformidade com a Constituição de 1988 e podemos representar, resumidamente, os postulados do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana com o fluxograma a seguir:

Referências

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