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AULA 01: Análise de textos (verbais e não verbais), sob o aspecto tipológico, do gênero e das marcas linguísticas e interpretação.

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Texto

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AULA 01:

Análise de textos (verbais e não verbais), sob o aspecto tipológico, do gênero e das marcas linguísticas e interpretação.

Sumário

Texto, Contexto e Elementos Paratextuais ... 2

Definições e concepções de leitura: as essências ... 6

Condições De Textualidade ... 13

Intertextualidade ... 16

Tipologia Textual: Tipos e Gêneros ... 23

Funções da Linguagem ... 32

Figuras da Linguagem ... 37

A variação Linguística ... 45

Vamos dar início ao nosso curso de Língua Portuguesa para o concurso da

Câmara de CERRO CORÁ RN 2020 – para o cargo de Agente Administrativo .

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Texto, Contexto e Elementos Paratextuais

Você já se perguntou o que é, de fato, um texto? Geralmente, entendemos o texto como um conjunto de frases, ou seja, algo que foi feito para ser lido. Mas a definição de texto não é tão simples quanto parece.

Imagine, por exemplo, que você está lendo um livro e, de repente, encontra em uma página qualquer um papel com a palavra “madeira”. Ora, certamente você ficará intrigado ou simplesmente não dará importância a isso.

Agora, vamos imaginar outra situação: você está no meio de uma floresta e ouve alguém gritar: “Madeira!”. Bem, se você pretende preservar sua vida, sua reação imediata é sair correndo. Isso acontece porque a situação em que você se encontra levou-o a interpretar o grito como um sinal de alerta.

A partir desses exemplos simples, podemos chegar a algumas conclusões importantes:

1º - os textos não são apenas escritos, eles também podem ser orais;

2º - os textos não são simples amontoados de palavras ou frases, ou seja, eles precisam fazer sentido.

Na segunda situação, uma única palavra foi capaz de transmitir uma mensagem de sentido completo, por isso ela pode ser considerada um texto. Mas o que leva um texto a fazer sentido?

Existem elementos que nos ajudam a interpretar os textos que estão a nossa volta, mas para que se possa compreender bem um texto é necessário identificar o contexto (social, cultural, estético, político) no qual ele está inserido.

O contexto pode ser explícito, quando é expresso por palavras (o texto em que se encontra a frase ou a frase em que se encontra a palavra), ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido. Logo, a simples mudança de contexto faz com que a palavra “madeira” seja interpretada de maneiras diferentes. Na primeira situação, embora a palavra esteja dentro de um livro, ela

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Para deixar ainda mais claro, numa frase o que seria o contexto e qual importância dele. Observe o seguinte enunciado:

“Que belo dia!”

Sem se levar em conta o contexto, não se pode explicar o sentido desta frase. Poderia se imaginar que ela poderia se referir a um dia agradável, que a rotina flui sem imprevistos, ou poderia ter sido dita por alguém que ganhou na loteria. Não se sabe a que contexto se refere, se a um dia de sol após um período chuvoso ou se é um dia de chuva após meses de sol escaldante. Como não foi apresentada a situação em que esse enunciado foi proferido, há várias possibilidades de sentido nesta frase.

Observe o texto abaixo retirado de um site de notícias: Por Bernardo Caram,G1, Brasília 11/12/2016

“Delator da Odebrecht cita doações não declaradas a mais de 30 políticos

Em informações prestadas ao Ministério Público Federal (MPF) para a assinatura de acordo de delação premiada, o ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho apresentou valores repassados a políticos com a finalidade de obter vantagens para a empreiteira.

O depoimento, que veio a público na sextafeira (9), traz nomes, valores, circunstâncias e motivação dos repasses. Parte dos recursos foi paga por meio de doações eleitorais oficiais, mas também há registro de propina e de caixa 2.

Em alguns casos, como o dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o dinheiro era entregue a uma pessoa, mas serviria para abastecer um grupo dentro do partido. Em outros casos, não é possível identificar se a doação foi oficial.

Cláudio atuava na relação da Odebrecht com o Congresso Nacional. Segundo ele, alguns pagamentos eram feitos para garantir aaprovação de projetos de interesse da empreiteira. ”

Para compreendermos melhor sobre a informação retratada no texto é necessário que estejamos atentos a situação política do nosso país.

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Conhecimento de mundo

Ao longo de sua vida, o leitor adquire conhecimentos utilizados durante a leitura dos extos. O leitor constrói o sentido do texto quando articula diferentes níveis de conhecimento, entre eles o conhecimento de mundo. Esse tipo de conhecimento costuma ser adquirido informalmente, através de nossas experiências pessoais e convívio em sociedade. Ativar seu conhecimento de mundo no momento certo pode ser útil tanto para salvar sua vida no meio da floresta ou para resolver questões de concursos.

Agora observe a seguinte imagem:

O texto é uma propaganda de um adoçante que tem o seguinte mote: “Mude sua embalagem”. A propaganda utiliza recursos “verbais” e “não verbais”. Os recursos verbais referem-se à palavra “açúcar”, escrita no saco, e ao slogan “mude sua embalagem”. O conteúdo verbal da propaganda é reforçado pela parte não verbal, ou seja, a imagem do saco de açúcar semelhante a uma barriga gorda, que contrasta com a imagem do adoçante no canto inferior, bem fininho.

Textos verbais e visuais

Até aqui, vimos que os textos podem ser orais ou escritos. Mas essa noção precisa ser ampliada, pois há textos que não contam com o auxílio da palavra, seja ela escrita ou oral. É o caso, por exemplo, da fotografia e da pintura. Dizemos, então, que há textos verbais e visuais. Há ainda textos que utilizam os dois recursos, como no exemplo anterior, assim também como os filmes, que usam imagens, diálogos e legendas.

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Então, chegamos a conceito de texto mais ampliado e consistente: todo enunciado que faz sentido para um determinado grupo em uma determinada situação. No concurso, essa noção mais moderna de texto é a que vale.

Em resumo temos que:

Texto: Tomando como definição de texto a de Costa Val (1999:3), para quem “texto

é uma ocorrência linguística, falada ou escrita, de qualquer extensão, dotado de unidades sócio comunicativa semântica e formal”.

Contexto: O contexto situacional é formado por informações que estão fora do

texto, sejam elas históricas, geográficas, sociológicas, literárias. Ele é essencial para uma leitura mais eficaz, aproximando o interlocutor/leitor do sentido que o locutor/escritor quis imprimir ao texto.

Além do texto e do contexto temos ainda os elementos paratextuais. A sabedoria popular diz que não devemos “julgar um livro pela capa”. Isso acontece porque muitas vezes a capa de um livro acaba despertando ou não nosso interesse pelo texto. Porém, quando abrimos um livro, podemos nos deparar com outros elementos, como contracapa, biografia do autor, prefácio, dedicatória, índice, notas de rodapé, citações, posfácio e ilustrações. Esses elementos que margeiam o texto são chamados de elementos paratextuais.

Portanto, paratextos são elementos que estão para além do texto, ou seja, informações que acompanham uma obra. Como podem motivar a aquisição e a leitura livros, os elementos paratextuais são muito privilegiados pela indústria editorial.

De todos os elementos paratextuais, o mais importante é o título, pois funciona como uma espécie de “slogan” do texto, ou seja, algo que faça com que o leitor “compre” suas ideias. Alguns especialistas já chegaram a sugerir que o título não é relevante para a leitura de um texto, mas não é bem assim. Um título adequado pode direcionar a compreensão do texto, ajudando o leitor a criar expectativas de leitura.

Em alguns casos, o título fornece pistas importantes para que o leitor levante hipóteses sobre o que vai ler. Por exemplo, diante de um título como “Conheça as angiospermas”, o leitor espera ler um texto que trará explicações sobre as

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angiospermas, seus tipos e exemplares na natureza. Com a ajuda de outros elementos paratextuais, como a ilustração de uma flor, o leitor poderá imaginar que se trata de plantas.

A partir do título desses livros é possível especular qual será o enredo da história. Sobre o título “A culpa é das estrelas” de John Green, é possível imaginar que se trata de uma história romântica já que o título parece fazer alusão a expressão “escrito nas estrelas”, já o segundo título “ Para todos os amores errados” de Clarissa Corrêa, podemos interpretar que a história apesar de uma história romântica vai tratar mais especificamente de desilusões amorosas. Todos esses apontamentos são apenas suposições feitas a partir do título.

Definições e concepções de leitura: as essências

O tema Leitura

Segundo Orlandi (2000:7), o termo leitura é polissêmico, isto é, permiti distinguir vários sentidos. Podemos entendê-lo, em sua acepção mais ampla, como atribuição de sentidos, tanto em relação à linguagem escrita como em relação à linguagem oral.

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Leitura também pode significar concepção, e é nesse sentido que o termo é usado

quando falamos em leitura de mundo, isto é, quando usamos a palavra leitura para refletir o conhecimento de cada leitor, considerando-se ou não sua escolaridade. No sentido acadêmico – mais restrito -, leitura pode significar a construção das bases teóricas metodológicas que permitem chegar a um texto: são várias as leituras de Rubem Alves, ou de um texto de Paulo Freire.

Em um sentido ainda mais específico, o termo leitura pode ser entendido como estrita aprendizagem formal, quando se vincula leitura e alfabetização.

Uma reflexão mais aprofundada sobre leitura nos permite concluir que o leitor precisa recorrer a estratégias que lhe permitam alcançar o sentido do texto. Além disso, devemos lembrar que há diferentes modos de leitura, em relação direta com a vida intelectual do leitor, isto é, com sua maneira de estabelecer os sentidos daquilo que lê.

Leitura e sentido

As palavras significam o que o grupo social convencionou que elas devem significar, mas a comunicação exige muito mais que apenas usar e aceitar passivamente significados preestabelecidos.

Ler, então, é mais que decifrar: ler é ser capaz de atribuir um significado ao texto, partindo do próprio texto, de modo que cada leitor consiga relacioná-lo a todos outros textos significativos, seja capaz de reconhecer o tipo de leitura que o autor pretendia, e possa, depois, dono da própria vontade, entregar-se à leitura ou rejeitá-la.

Para que tudo isso aconteça, é preciso que autor e leitor interajam ao longo de um texto. Ao autor cabe delinear o caminho percorrido durante a produção do texto, direcionando o efeito de sentido desejado e a intenção comunicativa pretendida; ao leitor compete ler, reler, analisar, comparar, fazer inferências, ativar conhecimentos.

Todo leitor, ao ler um texto, deve participar da produção de leitura desse texto. Para isso, deve construir, através do que passaremos a chamar de pistas textuais que o próprio texto fornece, um sentido para ele (o texto) – mas somente o sentido

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porque é a partir delas que o autor formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões.

Agora, pedimos que você coloque em ordem, numerando de 1 a 4, as diferentes etapas de participação do leitor na produção de leitura de um texto.

( ) construção de sentido autorizado pelo texto ( ) identificação de pistas textuais

( ) aceitação ou rejeição de conclusões ( ) formulação e reformulação de hipóteses

Esperamos que Você tenha respondido que o leitor procura, em primeiro lugar, pistas textuais; em seguida, constrói, por meio dessas peitas, um sentido autorizado pelo próprio texto; depois, de posse dessas pistas, formula e reformula hipóteses, para, finalmente, aceitar ou rejeitar conclusões.

Informações implícitas

Muitos candidatos se perguntam como melhorar sua capacidade de interpretação dos textos. Primeiramente, é preciso ter em mente que um texto é formado por informações explícitas e implícitas. As informações explícitas são aquelas manifestadas pelo autor no próprio texto. As informações implícitas não são manifestadas pelo autor no texto, mas podem ser subentendidas. Muitas vezes, para efetuarmos uma leitura eficiente, é preciso ir além do que foi dito, ou seja, ler nas entrelinhas.

A partir de elementos presentes no texto, é possível ao leitor recuperar as informações implícitas, para que possa, efetivamente, chegar a produção de sentido. Por isso, o leitor precisa estabelecer relações dos mais diversos tipos do texto e o contexto, de forma a interpretar adequadamente o enunciado.

Por exemplo, observe este enunciado: - Patrícia parou de tomar refrigerante. A informação explícita é “Patrícia parou de tomar refrigerante”. A informação implícita é “Patrícia tomava refrigerante antes”. Agora, veja este outro exemplo: -Felizmente, Patrícia parou de tomar refrigerante. A informação explícita é “Patrícia parou de tomar refrigerante”. A palavra “felizmente” indica que o falante tem uma opinião positiva sobre o fato – essa é a informação implícita. Com esses exemplos,

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mostramos como podemos inferir informações a partir de um texto. Fazer uma

inferência significa concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Nos

vestibulares, fazer inferências é uma habilidade fundamental para a interpretação adequada dos textos e dos enunciados. A seguir, veremos dois tipos de informações que podem ser inferidas: as pressupostas e as subentendidas.

Pressupostos.

Uma informação é considerada pressuposta quando um enunciado depende dela para fazer sentido.

Considere, por exemplo, a seguinte pergunta: “Quando Patrícia voltará para casa?”. Esse enunciado só faz sentido se considerarmos que Patrícia saiu de casa, ao menos temporariamente – essa é a informação pressuposta. Caso Patrícia se encontre em casa, o pressuposto não é válido, o que torna o enunciado sem sentido.

Repare que as informações pressupostas estão marcadas através de palavras e expressões presentes no próprio enunciado e resultam de um raciocínio lógico. Portanto, no enunciado “Patrícia ainda não voltou para casa”, a palavra “ainda” indica que a volta de Patrícia para casa é dada como certa pelo falante.

Subentendidos Ao contrário das informações pressupostas, as informações

subentendidas não são marcadas no próprio enunciado, são apenas sugeridas, ou seja, podem ser entendidas como insinuações.

O uso de subentendidos faz com que o enunciador se esconda atrás de uma afirmação, pois não quer se comprometer com ela. Por isso, dizemos que os subentendidos são de responsabilidade do receptor, enquanto os pressupostos são partilhados por enunciadores e receptores.

Em nosso cotidiano, somos cercados por informações subentendidas. A publicidade, por exemplo, parte de hábitos e pensamentos da sociedade para criar subentendidos. Já a piada é um gênero textual cuja interpretação depende a quebra de subentendidos.

Observemos como isso é verdadeiro e deve acontecer em todos os atos de leitura, dos mais simples aos mais complexos. Considere a manchete do Caderno de Esporte do jornal O Liberal, de 24.08.2003:

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“PAPÃO PROCURA O CAMINHO DA VITÓRIA”

Essa manchete esportiva, uma simples e curta frase declarativa, interpretada adequadamente, desencadeia uma série de relações entre ela e o leitor, a partir de uma informação explícita de que alguém, no caso, um clube de futebol, procura uma forma de vencer.

Estabelecidas essas relações, o leitor encontra outros sentidos além do que foi explicitado.

A primeira dessas relações, que se estabelece entre texto e contexto, leva à compreensão de que, para vencer, é preciso uma tática de jogo, uma estratégia, sentido latente na metáfora caminho da vitória.

A segunda, linguística por natureza, requer que o leitor reconheça o valor do artigo definido o: ele permite entender que o caminho existe, que é um preciso e determinado caminho, que só ele conduzirá à vitória.

A segunda, linguística por natureza, requer que o leitor reconheça o valor do artigo definido o: ele permite entender que o caminho existe, que é um preciso e determinado caminho, que só ele conduzirá à vitória.

A terceira, ainda no âmbito da linguagem, está centrada no significado de procura. Quem procura é porque perdeu ou porque nunca teve. No caso do clube paraense ele conhecia bem o caminho da vitória, porém, no dia em que a manchete foi produzida, não conhecia mais.

A quarta novamente uma relação entre texto e contexto, cumplicidade entre autor e leitor,indica que o clube já não vencia há algum tempo.

Finalmente a quinta relação por meio da qual o autor também busca a adesão do leitor, descortina a crítica ao clube que vinha vencendo seguidamente, enchia a sua torcida de orgulho e parara de vencer. Uma sutil ironia sem dúvida.

Um ouvinte/leitor eficiente precisa captar não apenas as informações explícitas (postas, dadas, expressas), como também as que estão implícitas, pois, se ele não tiver essa habilidade, passará por cima de significados importantes, ou – o que é mais grave – concordará com ideias ou ponto de vista que talvez rejeitasse se os percebesse.

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Por que utilizamos sentidos implícitos?

Em todo grupo social, há um conjunto de tabu linguísticos. Isso não significa apenas a existência de palavras que, em certas circunstancias, não podem ou não devem ser pronunciadas (os palavrões, por exemplo), mas também a de temas proibidos e protegidos por uma espécie de “lei do silêncio”. Um ditado popular traduz plenamente essa restrição: “não se fala em corda em casa de enforcado”.

Esses tabus linguísticos também se fazem presente em relação a determinada informações que uma pessoa não pode ou não deve dar, não porque elas sejam proibidas, mas porque o ato de expressá-las constituiria uma atitude repreensível ou comprometedora.

Além dos tabus linguísticos um outro motivo para o uso de sentidos implícitos é que toda declaração explícita pode tornar-se temas de discussões. O que é dito pode ser contradito, de modo que não se poderia anunciar uma opinião ou um desejo sem, ao mesmo tempo, expô-lo às eventuais objeções dos interlocutores. Julgue você mesmo: no dia 01.02.2003, um deputado federal reeleito em resposta ao repórter do Jornal Nacional, que referia aos erros desse parlamentar no mandato anterior, respondeu: “a gente não comete os mesmos erros, porque há tantos erros novos para serem cometidos...”. Como Você observou o parlamentar admite que continuará errando apenas não pretende repetir erros já cometidos, o que é muito grave, porque o repórter se referia a erros prejudiciais ao povo que o elegeu.

Quando se lê, considera-se não apenas o que está dito, mas também o que está implícito, isto é, aquilo que não está dito, mas que também significando. E o que não está dito pode ser de várias naturezas:

a) O que não está dito, mas que de certa forma, sustenta o que está dito; b) O que está suposto para que se entenda o que está dito;

c) O sentido que se opõe àquilo que está dito; d) Outras maneiras de se dizer o que se disse.

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Em época de forte repressão, a livre manifestação do pensamento, o direto de contestar e de se denunciar se materializam por meio de sentidos implícitos. Foi o que aconteceu no período da ditadura militar no Brasil.

Atento a isso, leia o excerto abaixo, do poemacanção de Chico Buarque, datado de 1984, para aprofundar seu conhecimento sobre sentidos implícitos.

(...) Num tempo

Página triste da nossa história Passagem desbotada na

memória

Das nossas novas gerações Dormia

A nossa pátria-mãe tão distraída

Sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações. (...)

Esperamos que você tenha percebido que os quatro primeiros versos significam o período da ditadura militar, entre 1964 e o limiar da década de 80 do século XX, e que os quatro últimos denunciam a intensa corrupção ocorrida no referido período. Por isso, tem sido cada vez mais frequente o cuidado de “medirmos as palavras”, para evitarmos os perigos que advêm dos sentidos literais ou explícitos da língua. O recurso que se tem mostrado mais frequente e eficaz parece ser simplesmente o uso dos sentidos implícitos, que conseguem expressar aquilo que queremos dizer, mas sem que corramos o risco de ser responsabilizados por aquilo que dizemos.

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Não é por acaso que, muitas vezes, pessoas de destaque no grupo social, ao falarem, o fazem de forma tão opaca e incompreensível que seu discurso acarreta lacunas no entendimento de seus interlocutores.

Condições De Textualidade

Para que uma sequência de enunciados seja reconhecida como texto, é preciso que ela forme um todo significativo, nas circunstancias de uso em que os enunciados ocorrem. É sobre as condições de textualidade, ou seja, aquelas que permitem que você avalie a qualidade do que lê e do que escreve.

A primeira dessas condições é alcançada com a coerência, isto é, o fator responsável pela unidade de sentido; a segunda é a coesão,que permite a harmoniosa articulação entre os diferentes constituintes do texto.

Textualidade

Chama-se textualidade ou tecitura ao conjunto de propriedades que qualquer manifestação linguística deve possuir para que não seja apenas uma simples sequência de palavras ou frases.

Contemplamos dois, dentre os fatores responsável pela textualidade de qualquer discurso, juntamente os que envolvem os componentes conceitual e linguístico.

Componentes conceitual e linguístico

Um texto deve apresentar um conjunto de propriedades decorrentes da relação entre as partes que o compõem, de tal modo que, ao final, essa relação resulte em uma unidade de sentido e estabeleça uma ligação – nem sempre aparente – entre essas partes. No primeiro caso, manifesta-se a coerência; no segundo a coesão.

Coerência

A coerência ou conectividade conceitual é a interdependência semântica entre os elementos constituintes de um texto, isto é, a relação entre as partes desse texto e que resulta em unidade de sentido. A coerência decorre da continuidade do sentido, do compromisso entre as partes que formam a macroestrutura (estrutura semântica global do texto) e está ligada à compreensão, possibilidade de

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Para que a coerência se realize, há três propriedades fundamentais – continuidade ou repetição, não-contradição e progressão – que serão desenvolvidas a seguir. A relação entre o texto e o contexto, entendido este como a unidade maior em que a unidade menor está inserida, é relevante para a depressão das relações do sentido que compõem a globalidade do texto. Elas devem obedecer a condições cognitivas gerais, satisfazendo às relações lógico-semânticas entre estados e coisas, como por exemplo, relações de ordenação temporal, relações de casualidade – entre outras. Essas relações podem se manifestar pelo vocabulário, pela combinação dos tempos verbais, pela ordem de apresentação de conteúdo, pela adequação dos campos semânticos.

No texto abaixo, queremos mostrar-lhe como se constrói o sentido de um texto a partir de uma ideia-chave. Acompanhe com atenção e, ao final, você constatará que, num texto, tudo significa.

Dentro do planalto: Fome de reforma

“João Pedro Stédile está afinado com o governo petista. Na semana passada, o líder do MST andou pelos corredores do Planalto como se fosse um velho conhecido do austero prédio. Jotapê tenta convencer o governo de que R$ 1 bilhão, previsto no Orçamento para o Incra, é pouco para tocar a reforma agrária.

Quer abocanhar parte do capital internacional destinado ao projeto Fome Zero. Reforma agrária, diz, é a maneira mais eficaz de combate à fome.” ( Época – 03.02.2003 – p.8).

Observe que, nesse texto, há uma idéia-chave: João Pedro Stédile. Essa idéiachave, embora não esteja expressa no título nem no subtítulo, é uma espécie de “primeiro ponto” para o ato de “tecer o texto”. Ela se repete, quer representar por vocábulos diferentes (João Pedro Stédile / o líder do MST / um velho conhecido / jotapê), quer representada pelo apagamento do vocábulo que a poderia expressar.

Essa mesma ideia-chave é responsável pelas formas verbais em 3ª pessoa do singular (está afinado/ andou/ fosse/ tentar convencer/ quer/ diz). Além disso, o seu conhecimento prévio permite que você identifique a relação de afinidade entre João Pedro Stédile e governo petista, assim como entre João Pedro Stédile /

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governo petista e entre corredores do Planalto / austero prédio / o governo / fome zero /combate à fome.

A coerência conceitual – macroestrutura ou estrutura semântica – é um dos requisitos fundamentais para construção de qualquer texto, quer ele seja literário, jornalístico, científico, jurídico, acadêmico, quer seja uma conversão espontânea.

Coesão

A coesão pode ser entendida como o modo pelo qual frases ou partes delas se combinam para assegurar o desenvolvimento textual, ou seja, é o modo como as palavras estão ligadas entre si, dentro de uma sequência, a fim de criar uma relação semântica entre um elemento do texto e outro elemento que é fundamental para sua interpretação.

A coesão – isto é, a articulação – será eficaz quando estabelecer não apenas a ligação de uma ideia a outra, mas também que tipo de relação específica se institui a partir desse recurso. A coesão é marcada linguisticamente quando, para isso, empregamos nomes, conjunções, pronomes relativos, preposições, advérbios, locuções adverbiais, elementos de transição adequados.

Não há dúvida de que a coesão marcada por elementos linguísticos contribui para conferir coerência ao texto. Tais elementos, no entanto, não são nem suficientes nem imprescindíveis para garantila. É perfeitamente possível haver textos coerentes que não apresentam elementos coesivos, como no parágrafo a seguir, extraído de uma reportagem sobre Di Cavalcanti.

“Nas vacas magras, ia de cerveja a cachaça. Nunca bêbado. Tinha um poder enorme sobre o copo. Bebia, depois deitava, lia, relaxava..” (Veja – julho/1997).

As quatro orações do período estão separadas por ponto. Embora não haja conectores gramaticais explícitos, é fácil perceber de que modo essas orações se combinam para formar uma sequência, pois é fácil recuperar os elementos coesivos que não foram expressos. Nada impediria que o autor da matéria tivesse escrito o texto assim:

Nas vacas magras, ia de cerveja a cachaça, porém nunca ficava bêbado, pois tinha um poder enorme sobre o corpo, isto é, bebia, depois deitava, lia e relaxava…

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A coesão pode ser estabelecida por elementos que fazem o texto progredir a partir da conexão por eles operacionalizada. Esses conectores estabelecem uma relação semântica de acordo com o sentido que expressam.

É pela coesão que se estabelece o nexo entre as partes de um texto. As relações

coesivas realizam-se por meio de um léxico da língua e suas marcas são fixadas

principalmente por elementos da natureza gramatical (pronomes, conjunções, preposições, formas verbais), elementos da natureza lexical (sinônimos, antônimos, repetições) e por mecanismos sintáticos (subordinação, coordenação, ordenação dos vocábulos, das orações). A coesão, como elemento responsável pela textualidade, diz respeito a todos os processos de referenciarão ou segmentação que asseguram ou tornam recuperável uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual.

Intertextualidade

Assunto comum em provas de concursos, a intertextualidade acontece quando um texto retoma uma parte ou a totalidade de outro texto – o texto fonte. Geralmente, os textos fontes são aqueles considerados fundamentais em uma determinada cultura. No exemplo dado, compositores brasileiros contemporâneos retomam um dos textos mais reverenciados da literatura portuguesa.

Nos anos 90, Pedro Luis e Fernanda Abreu lançaram a canção “Tudo vale a pena”, cujo refrão diz o seguinte: “Tudo vale a pena, sua alma não é pequena”. O mote, na verdade, faz referência ao famoso poema “Mar português” (1934), do poeta Fernando Pessoa:

Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

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Como podemos ver, temos dois textos que, apesar de distantes no tempo e no espaço, dialogam entre si. A intertextualidade é exatamente essa relação, uma forma de diálogo entre dois ou mais textos.

É importante considerar que a intertextualidade pode ocorrer entre textos de mesma natureza ou de naturezas diferentes. Como é um conceito amplo e passível de classificações, a intertextualidade pode ser classificada em dois tipos principais: intertextualidade explícita e intertextualidade implícita.

Na intertextualidade explícita ocorre a citação da fonte do intertexto, encontrada principalmente nas citações, nos resumos, resenhas e traduções, além de estar presente também em diversos anúncios publicitários. Nesse caso, dizemos que a intertextualidade se localiza na superfície do texto, pois alguns elementos nos são fornecidos para que identifiquemos o texto fonte. Observe um exemplo:

A intertextualidade, quando explícita, fornece ao leitor diversos elementos que o remetem ao texto fonte.

No anúncio publicitário utilizado no exemplo, há uma forte referência ao texto fonte, facilmente identificada pelo leitor através dos elementos fornecidos pela linguagem verbal e pela linguagem não verbal. A composição do anúncio nos transporta imediatamente para o filme “Tropa de Elite”, do cineasta José Padilha, e isso só é possível em razão do forte apelo popular da produção, que ganhou grande projeção em nossa sociedade.

Já a intertextualidade implícita ocorre de maneira diferente, pois não há citação expressa da fonte, fazendo com que o leitor busque na memória os sentidos do texto. Geralmente está inserida nos textos do tipo paródia ou do tipo paráfrase, ganhando espaço também na publicidade. Observe o exemplo:

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No anúncio há um elemento verbal que permite a retomada do texto fonte, mas essa inferência depende de um conhecimento prévio do leitor: se ele não souber que há uma referência à música “Mania de você”, da cantora Rita Lee, provavelmente o texto não será compreendido em sua totalidade.

Portanto, a intertextualidade é um elemento muito importante para a constituição de sentidos do texto, colaborando em muito para a coerência textual ao reforçar a ideia de que a competência linguística não depende apenas do conhecimento do código linguístico, mas também do conhecimento das relações intertextuais. A seguir, veremos vários exemplos de intertextualidade, seja em forma de citação, paródia ou paráfrase.

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Esse procedimento intertextual acontece quando um texto reproduz outro texto ou parte dele. Para sinalizar que houve a reprodução de outro texto, são utilizados alguns marcadores, como as aspas. Dessa forma, o texto deixa claro que o trecho ou o texto citado foi tirado de outra fonte, como no exemplo.

A compreensão adequada de um intertexto depende, naturalmente, do conhecimento do texto fonte. Vejamos o outro exemplo abaixo.

No exemplo dado, a propaganda buscou inspiração no texto bíblico "Do pó vieste e ao pó voltarás", marcando sua reprodução por meio de aspas.

Paródia

A paródia consiste em uma subversão ao texto fonte, recriando-o de maneira satírica ou crítica. Dizendo de outra maneira, a paródia ironiza o texto original e inverte seu sentido. “Canção do exílio” (1847) é um dos textos mais parodiados da cultura brasileira, exercendo sua influência por várias gerações.

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

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Minha Dinda tem cascatas Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió. Minha Dinda tem coqueiros

Da Ilha de Marajó As aves, aqui, gorjeiam

Não fazem cocoricó.

No poema de Gonçalves Dias, do final do século XIX, o eu lírico deseja cantar a saudade que sente de sua terra natal, o Brasil, enfatizando seus encantos e belezas naturais.

O texto de Jô Soares, do final do século XX, desconstrói o sentido do texto original, já que o eu lírico quer distância da terra natal, pois prefere as mordomias da Casa da Dinda, como ficou conhecida a residência oficial do Presidente da República na época, Fernando Collor de Mello.

Através da paródia, Jô Soares faz uma crítica aos escândalos de corrupção do governo, que culminaram no processo de “impeachment” do presidente.

Paráfrase

Fazer uma paráfrase significa reproduzir as ideias de um texto, só que utilizando outras palavras, dentro de uma nova montagem. É o recurso intertextual que se faz presente, por exemplo, em resumos, atas e relatórios, que fazem parte do nosso cotidiano Veja um exemplo de paráfrase da tão parodiada “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias:

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos Minha boca procura a “Canção do Exílio”.

Como era mesmo a “Canção do Exílio”? Eu tão esquecido de minha terra...

Ai terra que palmeiras onde canta o sabiá

Perceba que o poema “Europa, França e Bahia”, de Carlos Drummond de Andrade, estabelece um diálogo com o texto de Gonçalves Dias, mas não tem uma intenção satírica – é uma paráfrase.

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Citação do discurso (direto, indireto, modalização em discurso segundo, ilha textual).

Quando o enunciador precisa citar, em seu discurso, um texto (falado ou escrito) de outrem, pode recorrer a alguns mecanismos linguísticos, como a modalização em discurso segundo, o discurso direto, o discurso indireto e a ilha textual.

MODALIZAÇÃO EM DISCURSO SEGUNDO

É o modo mais simples e mais direto para o enunciador mostrar que não é responsável por um determinado discurso: apenas indica que está se apoiando em um texto alheio. Para tanto, o enunciador utiliza-se de determinadas marcas linguísticas, como as apresentadas em destaque nos exemplos abaixo. Ex.: Para a antropóloga americana Margaret Mead, a monogamia é o mais difícil dos arranjos maritais. Ex.: Uma dieta rica em vegetais, segundo dizem, reduz a chance de se ter vários tipos de câncer. Ex.: O que falta aos governos latino-americanos é profissionalismo e inteligência política, conforme Caetano Veloso. Ex.: A adolescência, de acordo com fontes bem informadas, começa cada vez mais cedo e termina cada vez mais tarde.

DISCURSO DIRETO

Nesse tipo de citação, o enunciador se exime de qualquer responsabilidade, por isso, ele reproduz literalmente as falas citadas, ou seja, o discurso apresenta-se às vezes como a exata reprodução das palavras do enunciador citado.

Ex.: “Um indivíduo faminto tende a salivar muito mais diante de um prato de comida do que alguém com menos fome”, afirma a fisiologista Sara Shammah Lagnado, da Universidade de São Paulo (USP).

Marcas do discurso direto

a) O discurso direto vem introduzido por um verbo que anuncia a fala citada. Tais verbos são denominados de dizer (dizer, responder, retrucar, afirmar, falar, entre outros) e podem ser colocados antes do discurso direto, em oração intercalada, no interior do discurso direto ou no final do discurso direto.

Ex.: O professor esclarece: “Os jovens levam a sério o mundo dos super-heróis, mas não completamente”.

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Ex.: – Farei uma farra daquelas – disse o candidato – quando eu passar no vestibular.

Ex.: – Por que o senhor bebe? – perguntou a repórter. – Eu bebo porque é líquido. Se fosse sólido, eu comeria – respondeu malcriado o alcoólatra.

b) A fala citada aparece nitidamente separada por elementos tipográficos como as aspas, travessões, dois-pontos e itálico.

Ex.: A mulher perguntou ao marido: – Você bebeu? Ex.: A mulher perguntou ao marido: “Você bebeu?”

Ex.: A mulher perguntou ao marido: Você bebeu?

A opção pelo discurso direto geralmente está ligada ao gênero do discurso ou às estratégias do enunciador de cada texto. Ao escolher esse modo de citação, o enunciador, pode estar, particularmente, querendo:

• Criar imagem de autenticidade do que reproduziu, indicando que as palavras relatadas são realmente proferidas;

• distanciar-se: seja porque o enunciador quer explicitar, por intermédio do discurso direto, sua adesão respeitosa ao dito, fazendo ver o desnível entre palavras prestigiosas, irretocáveis e as suas próprias palavras (citação de autoridade); seja porque não adere ao que é dito; 

• mostra-se objetivo;  caracterizar a fala relatada, imprimindo-lhe marcas de oralidade espontânea, de regionalismos ou até de cacoetes linguísticos (recurso muito utilizado em gêneros literários). 3. DISCURSO INDIRETO É o modo de citação do discurso alheio em que o enunciador tem uma diversidade de maneiras para traduzir as falas citadas, uma vez que ele se utiliza de suas próprias palavras para reproduzir a fala do outro. Ex.: O carnavalesco disse que os traficantes não mandam no samba. Marcas do discurso indireto  da mesma forma do discurso direto, vem também introduzido por um verbo de dizer;  ao contrário do discurso direto, a fala citada é introduzida por meio de uma partícula introdutória: que ou se. A escolha do discurso indireto está também ligada ao gênero textual e às estratégias do enunciador em cada texto. A imprensa popular, por exemplo, prefere o discurso direto ao indireto. Para um público leitor popular, o

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situação. Para um leitor mais instruído, o jornalista constrói um enunciado que fale à inteligência desse público e atrás desse enunciado ele (o jornalista) se apaga. Por isso, nesse caso, haverá mais recorrência ao discurso indireto, às ilhas textuais e á modalização em discurso segundo.

ILHA TEXTUAL

Ilha textual ou ilha enunciativa é uma forma híbrida de citação. Considere os exemplos seguintes: Ex.: Vera disse aos prantos que tinha flagrado o marido “papando a empregada”. Ex.: O ladrão confessou que tinha roubado para “matá as fome dos bruguelo”. Ex.: Segundo o Presidente da República, “é necessário que cada posto de gasolina seje fiscalizado”. O enunciador de cada um dos grupos acima isolou em itálico e entre aspas um fragmento que, ao mesmo tempo, ele utiliza e menciona, emprega e cita. Apesar de o fragmento possuir a estrutura do discurso indireto ou da modalização em discurso segundo, há neles algumas palavras que são atribuídas aos enunciadores citados. Aqui a ilha é indicada pelas aspas e pelo itálico. É o procedimento mais frequente na imprensa. Pode-se também encontrar somente as aspas ou somente o itálico. Nesse tipo de citação, as marcas tipográficas permitem verificar que essa parte do texto não é assumida pelo enunciador.

Tipologia Textual: Tipos e Gêneros

Sempre cai nas provas o assunto “Tipologia textual” (Tipos textuais) mas muita gente confunde com “Gêneros Textuais” (gêneros discursivos).

Querem dizer a mesma coisa? Não.

Estas são duas classificações que recebem os textos que produzimos a longo de nossa vida, seja na forma oral ou escrita.

Sendo que a primeira leva em consideração estruturas específicas de cada tipo, ou seja, seguem regras gramaticais, algo mais formal.

Já a segunda preocupa-se não em classificar um texto por regras, mas sim levando em consideração a finalidade do texto; o papel dos interlocutores; a situação de

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comunicação. São inúmeros os gêneros textuais: Piada, conto, romance, texto de opinião, carta do leitor, noticia, biografia, seminário, palestras, etc

O que é tipologia textual?

Como dito anteriormente, são as classificações recebidas por um texto de acordo com as regras gramaticais, dependendo de suas características. São as classificações mais clássicas de um texto:

A narração, a descrição, a dissertação (expositiva e argumentativa), a injunção, a

predição e a conversacional. Narração

Modalidade em que um narrador, participante ou não, conta um fato, real ou fictício, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. Estamos cercados de narrações desde as que nos contam histórias infantis até às piadas do cotidiano. É o tipo predominante nos gêneros: conto, fábula, crônica, romance, novela, depoimento, piada, relato, etc.

Descrição

Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com palavras a imagem do objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se Pega. É um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Tem predominância em gêneros como: cardápio, folheto turístico, anúncio classificado, etc.

Dissertação

Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, pode ter caráter expositivo ou argumentativo.

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Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Apresenta informações sobre assuntos, expõe, reflete, explica e avalia ideias de modo objetivo. O texto expositivo apenas expõe ideias sobre um determinado assunto. A intenção é informar, esclarecer. Ex: aula, resumo, textos científicos, enciclopédia, textos expositivos de revistas e jornais, etc.

Dissertação-Argumentação

Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de vista do autor. O texto, além de explicar, também persuade o interlocutor, objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se pela progressão lógica de ideias. Geralmente utiliza linguagem denotativa. É tipo predominante em: sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese, ensaio, manifesto, crítica, editorial de jornais e revistas.

Injunção / Instrucional

Indica como realizar uma ação. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex: ordens; pedidos; súplica; desejo; manuais e instruções para montagem ou uso de aparelhos e instrumentos; textos com regras de comportamento; textos de orientação (ex: recomendações de trânsito); receitas, cartões com votos e desejos (de natal, aniversário, etc.).

OBS1: Muitos estudiosos do assunto listam apenas os tipos acima. Alguns outros

consideram que existe também o tipo predição.

Predição

Caracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor a crer em alguma coisa, a qual ainda está por ocorrer. É o tipo predominante nos gêneros: previsões astrológicas, previsões meteorológicas, previsões escatológicas/apocalípticas.

OBS2: Alguns estudiosos listam também o tipo Dialogal, ou Conversacional.

Entretanto, esse nada mais é que o tipo narrativo aplicado em certos contextos, pois toda conversação envolve personagens, um momento temporal (não necessariamente explícito), um espaço (real ou virtual), um enredo (assunto da

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Dialogal / Conversacional Caracteriza-se pelo diálogo entre os interlocutores. É o

tipo predominante nos gêneros: entrevista, conversa telefônica, chat, etc.

Gêneros textuais

Os Gêneros textuais são as estruturas com que se compõem os textos, sejam eles orais ou escritos. Essas estruturas são socialmente reconhecidas, pois se mantêm sempre muito parecidas, com características comuns, procuram atingir intenções comunicativas semelhantes e ocorrem em situações específicas. Pode-se dizer que se tratam das variadas formas de linguagem que circulam em nossa sociedade, sejam eles formais ou informais. Cada gênero textual tem seu estilo próprio, podendo então, ser identificado e diferenciado dos demais através de suas características. Exemplos:

Carta

Quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo

dissertativoargumentativo com uma linguagem formal, em que se escreve à

sociedade ou a leitores.

Quando se trata de "carta pessoal", a presença de aspectos narrativos ou descritivos e uma linguagem pessoal é mais comum. No caso da

"carta denúncia", em que há o relato de um fato que o autor sente necessidade de o expor ao seu público, os tipos narrativos e dissertativoexpositivo são mais utilizados. Observe o exemplo de uma carta ao leitor logo abaixo:

Carta ao leitor

Nunca te vi, mas sempre te amei

Por: Martha San Juan França (Diretora de redação)

De todas as tarefas que fazem parte da rotina de redação de Galileu, a mais prazerosa certamente é ler as cartas dos leitores. Os fãs da revista são de fato especiais e suas cartas traduzem isso. São criativos, curiosos, observadores e não deixam passar nada. Fazem perguntas tão difíceis quanto imprevisíveis. Querem saber de tudo: do monstro do Lago Ness ao Projeto Genoma Humano. E não se contentam com respostas pela metade. Ler as dúvidas que aparecem nas cartas, os comentários sobre as reportagens passadas e as sugestões de futuras é gratificante

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para qualquer jornalista. Ainda mais para nós, jornalistas de Galileu, que adoramos um bom desafio.

Felizmente, a revista conta com uma arma secreta para satisfazer tantas pessoas exigentes. Vou apresentá-la agora: Luiz Francisco Senne, nosso secretário de produção, professor de português, roqueiro, colecionador de discos de vinil e livros usados, e responsável pelo atendimento aos leitores. Kiko, como é muito mais conhecido, sabe também driblar as angústias dos nossos jovens amigos em apuros. Muitos pedem ajuda a Galileu quando recebem dos professores uma tarefa complicada e não sabem a quem recorrer. Kiko responde delicada, mas firmemente: não dá para fazer o trabalho escolar no lugar do aluno (é festa agora?). Mas simpatiza com o drama de leitores como este cuja mensagem é reproduzida acima: "Vocês não poderiam dar uma dica de como ir bem numa prova de física porque o meu cérebro está cansado?" Atendendo ao apelo levado aos repórteres por Kiko, Galileu oferece a seus leitores a matéria "Os cientistas alertam: não deveríamos existir", do editor Marcelo Ferroni. Ela mostra que a física pode ser criativa em vez de uma aula chata. Quer ver?

Propaganda

É um gênero textual dissertativo expositivo onde há a o intuito de propagar informações sobre algo, buscando sempre atingir e influenciar o leitor apresentando, na maioria das vezes, mensagens que despertam as emoções e a sensibilidade do mesmo. Observe na imagem abaixo:

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Bula de remédio

Trata-se de um gênero textual descritivo, dissertativo expositivo e injuntivo que tem por obrigação fornecer as informações necessárias para o correto uso do medicamento, como no exemplo a seguir.

Receita

É um gênero textual descritivo e injuntivo que tem por objetivo informar a fórmula para preparar tal comida, descrevendo os ingredientes e o preparo destes, além disso, com verbos no imperativo, dado o sentido de ordem, para que o leitor siga

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Reportagem

É um gênero textual jornalístico de caráter dissertativo-expositivo. A reportagem tem, por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta.

“Mercado Central de Macapá poderá reabrir em março, prevê prefeitura”

Lojistas reclamam de transtornos durante demora nas obras de reformas. Prefeitura informou que ponto turístico é ampliado e revitalizado.

Em obras desde novembro de 2015, o Mercado Central de Macapá deverá reabrir em março, prevê a prefeitura. O local é um dos principais pontos turísticos da capital e reúne diversos pontos de vendas de comidas típicas e artesanatos.

Essa é a terceira data reabertura. A primeira foi anunciada para maio de 2016 e a segunda para setembro do mesmo ano. A obra foi orçada em aproximadamente

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O investimento é financiado pelo Programa Calha Norte, do Governo Federal, por meio de emenda parlamentar, e terá espaços com acessibilidade para pessoas com deficiência, segundo a prefeitura.

A Secretaria Municipal de Obras (Semob) informou além da pintura, consertos na rede elétrica e hidráulica e substituição do telhado, novos espaços serão implantados no local, como a ampliação da área para lanchonetes, banheiros e a montagem de um palco para atrações culturais. A última reforma aconteceu em 2013, quando o prédio completou 60 anos de criação. ”

História em quadrinhos

É um gênero narrativo que consiste em enredos contados em pequenos quadros através de diálogos diretos entre seus personagens, gerando uma espécie de conversação. Observe o exemplo abaixo:

Charge

É um gênero textual narrativo onde se faz uma espécie de ilustração cômica, através de caricaturas, com o objetivo de realizar uma sátira, crítica ou comentário sobre algum acontecimento atual, em sua grande maioria.

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Poema

Trabalho elaborado e estruturado em versos. Além dos versos, pode ser estruturado em estrofes. Rimas e métrica também podem fazer parte de sua composição. Pode ou não ser poético. Dependendo de sua estrutura, pode receber classificações específicas, como haicai, soneto, epopeia, poema figurado, dramático, etc. Em geral, a presença de aspectos narrativos e descritivos são mais frequentes neste gênero. Importante também é a distinção entre poema e poesia. Poesia é o conteúdo capaz de transmitir emoções por meio de uma linguagem, ou seja, tudo o que toca e comove pode ser considerado como poético. Assim, quando se aplica a poesia ao gênero poema, resulta-se em um poema poético, quando aplicada à prosa, resulta-se na prosa poética (até mesmo uma peça ou um filme podem ser assim considerados).

Veja o exemplo de um poema poético, em Poema da purificação de Carlos Drummond De Andrade:

Poema da purificação Depois de tantos combates o anjo bom matou o anjo mau e jogou seu corpo no rio

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de um sangue que não descorava e os peixes todos morreram. Mas uma luz que ninguém soube dizer de onde tinha vindo

apareceu para clarear o mundo, e outro anjo pensou a ferida do anjo batalhador.

Veja o exemplo de uma prosa poética, em um trecho da obra Iracema de José de Alencar: “O guerreiro sem a esposa é como a árvore sem fôlhas nem flôres: nunca ela verá o fruto; o guerreiro sem amigo é como a árvore solitária que o vento açouta no meio do campo: o fruto dela nunca amadurece”.

Funções da Linguagem

Para que serve a linguagem?

Sabemos que a linguagem é uma das formas de apreensão e de comunicação das coisas do mundo. O ser humano, ao viver em conjunto, utiliza vários códigos para representar o que pensa, o que sente, o que quer, o que faz.

Sendo assim, o que conseguimos expressar e comunicar através da linguagem? Para que ela funciona?

O estudo das funções da linguagem depende de seus fatores principais. Destacamos cada um deles em particular:

Emissor – quem fala ou transmite uma mensagem a alguém Receptor – (ou interlocutor) – quem recebe a mensagem

Mensagem – a informação ou o texto transmitido pelo emissor

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Referente – o contexto ou o assunto da mensagem

Partindo desses elementos, o linguista russo Roman Jakobson elaborou seus estudos acerca das funções da linguagem para a análise e produção de textos. Em todo processo de comunicação, a linguagem é expressa de acord com a função que se deseja enfatizar. A multiplicidade da linguagem pode ser sintetizada em seis funções ou finalidades básicas. Veja a seguir:

Função emotiva ou expressiva Na função emotiva (ou expressiva), enfatizase a

linguagem do emissor que expressa sentimentos, emoções, avaliações centradas no ”eu” do seu mundo interior. Predomina nas cartas pessoais, na poesia confessional, nas resenhas críticas ou nas canções sentimentais, assim prevalece o uso da 1ª pessoa. Como no poema a seguir:

Carlos Drummond de Andrade: Sentimento do mundo Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem

e o corpo transige na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado,

eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.

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e era necessário trazer fogo e alimento.

Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço

que me perdoeis. Quando os corpos passarem,

eu ficarei sozinho desfiando a recordação

do sineiro, da viúva e do microscopista que habitavam a barraca

e não foram encontrados ao amanhecer esse amanhecer mais noite que a noite.

O poema que você acabou de ler é de autoria de um de nossos maiores poetas, Carlos Drummond de Andrade, e ilustra bem a função da linguagem sobre a qual falaremos neste artigo. No poema, que integra o livro “Sentimento do mundo”, Drummond posiciona-se em relação ao tema que está abordando, expressando seus sentimentos e impressões pessoais. Essas características são próprias da

função emotiva da linguagem. Função Apelativa ou Conativa

O objetivo da transmissão da mensagem é persuadir ou convencer o receptor. Os textos publicitários apresentam essa finalidade: influenciar o comportamento do leitor, envolvê-lo com uma mensagem persuasiva. Normalmente, empregam-se verbos no Modo Imperativo, como pronomes e verbos na 2ª ou 3ª pessoas.

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A publicidade dialoga com seu público-alvo através da linguagem empregada, variando de acordo com o tipo de público que pretende atingir.

Função Poética

Quando a mensagem é elaborada de forma inovadora, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. Desenvolve o sentido conotativo das palavras. Predomina na poesia, mas pode ser encontrada em determinadas formas jornalísticas. Por exemplo:

Serenata sintética – Cassiano Ricardo

Rua torta Lua morta Tua porta. Função Fática

A intenção é iniciar um contato através de cumprimentos com uma abordagem coloquial - objetiva e rápida. Em textos escritos, têm muita importância os recursos

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gráficos. A função fática tem o objetivo de fazer a manutenção do canal de comunicação. Como exemplo:

Função Metalinguística

Esta função refere-se à metalinguagem, que ocorre quando o emissor explica um código usando o próprio código. É a poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. As gramáticas e os dicionários são exemplos de metalinguagem. Exemplo:

Vitória

Substantivo feminino 1. Ato ou efeito de sair-se vencedor, de triunfar sobre um

inimigo, competidor ou antagonista; triunfo. 2. Êxito, triunfo, sucesso alcançado.

Função Referencial

Transmite uma informação objetiva sobre a realidade. Dá prioridade aos dados concretos, fatos e circunstâncias. É a linguagem característica das notícias de jornal, do discurso científico e de qualquer exposição deconceitos. Coloca em evidência o referente, ou seja, o assunto ao qual a mensagem se refere.

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“Protesto contra estrutura precária de escola do Amapá viraliza na internet” Estudantes publicaram fotos nas redes sociais em pontos críticos do prédio. Escola estadual Tiradentes foi selecionada para modelo de ensino integral

Uniformizados, estudantes da escola estadual Tiradentes publicaram fotos nas redes sociais em pontos críticos do prédio, que se encontra em situação precária, segundo eles. O protesto é para chamar a atenção sobre a implantação, diante dos problemas, do modelo de ensino em tempo integral, confirmado para 2017 no Amapá.

A Secretaria de Estado da Educação (SEED) destacou que uma equipe de implantação do programa de Educação em Tempo Integral (ETI) realizou uma série de visitas às escolas que terão a nova modalidade de ensino e devem receber reformas. A SEED ressaltou que está aberta ao diálogo com a comunidade escolar. As fotos foram publicadas na página do grêmio estudantil da escola e alcançaram até o momento mais de 2 mil compartilhamentos. Nas imagens, os alunos seguram cartazes com dizeres sobre a situação do espaço, na visão de cada aluno, e alertas sobre perigos. ”

Figuras da Linguagem

Figuras de Linguagem são recursos especiais usados para dar maior ênfase à comunicação.

Elas são classificadas em: Figuras de Palavras

Figuras de Pensamento Figuras de Sintaxe Figuras de Som Figuras de Palavras

As Figuras de Palavras são recursos utilizados para produzir maior expressividade à comunicação. Elas consistem na substituição de uma palavra por outra, isto é, no

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emprego figurado, simbólico, seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja por uma associação, uma comparação, uma similaridade.

Metáfora

A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças.

Obs.: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento

comparativo não aparece. Exemplo: A vida é uma nuvem que voa.

Metonímia

A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido.

Observe os exemplos abaixo:

a) Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis.)

b) Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da cruz. (Não te afastes da religião.)

Catacrese

Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, tomase outro "emprestado". Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original.

Exemplos:

"asa da xícara" "batata da perna" "maçã do rosto" "pé da mesa"

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Perífrase

Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. Veja o exemplo: A Cidade Maravilhosa ( Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo. Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o nome de antonomásia. Exemplos:

a) O Divino Mestre (Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem. b) O Poeta dos Escravos (Castro Alves) morreu muito jovem. c) Poeta da Vila (Noel Rosa) compôs lindas canções.

Sinestesia

Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

Exemplos:

a) Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (Grito = auditivo; áspero = tátil) b) No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (Silêncio = auditivo; negro = visual)

Figuras de Pensamento

As figuras de pensamento trabalham com a combinação de ideias, pensamentos. Dentre as figuras de pensamento, as mais comuns são:

Antítese

Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. Observe os exemplos: a) "O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa)

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c) "Quando um muro separa, uma ponte une."

d) "Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves) e) Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma.

Paradoxo

Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias. Veja o exemplo: a) Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas.

Eufemismo

Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante.

Exemplos: a) Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor. (Morreu) b) O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (Roubou)

c) Fernando faltou com a verdade. (Mentiu)

Ironia

Consiste em dizer o contrário do que se pretende ou em satirizar, questionar certo tipo de pensamento com a intenção de ridicularizá- lo, ou ainda em ressaltar algum aspecto passível de crítica. A ironia deve ser muito bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emissor. Veja os exemplos abaixo:

a) Como você foi bem na última prova, não tirou nem a nota mínima! b) Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.

Hipérbole

É a expressão intencionalmente exagerada com o intuito de realçar uma ideia. Exemplos:

a) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.

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Prosopopeia ou Personificação

Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres inanimados, ou características humanas a seres não humanos. Observe os exemplos:

a) As pedras andam vagarosamente. b) O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse.

Apóstrofe

Consiste na "invocação" de alguém ou de alguma coisa personificada, de acordo com o objetivo do discurso que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor da mensagem, Caracteriza-seja ele imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo. Exemplos:

a) Moça, que fazes aí parada?

b) "Pai Nosso, que estais no céu..." c) "Liberdade, Liberdade,

Abre as asas sobre nós,

Das lutas, na tempestade,

Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)

Gradação

Consiste em dispor as ideias por meio de palavras, sinônimas ou não, em ordem crescente ou decrescente. Quando a progressão é ascendente, temos o clímax; quando é descendente, o anticlímax.

Observe este exemplo:

Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana com seus olhos claros e brincalhões...

O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos olhos de Joana. Para chegar a esse detalhe, ele se refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus

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olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decrescente de intensidade. Outros exemplos:

a) "Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu amor". (Olavo Bilac) b) "O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira).

Figuras de Sintaxe

As Figuras de Sintaxe ou Figuras de Construção são utilizadas para modificar um período, ou seja, interferem na estrutura gramatical da frase, com o intuito de oferecer maior expressividade ao texto. Assim, as figuras de sintaxe operam de diversas maneiras na frase, seja na inversão, repetição ou na omissão dos termos.

Elipse

Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser facilmente identificados, tanto por elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto pelo contexto. Exemplos:

a) Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir direto para o trabalho, pois estava atrasada.)

b) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem em agosto.)

Zeugma

Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencionado anteriormente. Exemplos:

a) Ele gosta de geografia; eu, de português. b) Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos.

Silepse

Na silepse há concordância da ideia e não do termo utilizado. São classificadas em:

Silepse de Gênero, quando ocorre discordância entre os gêneros (feminino e

masculino);

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Silepse de Pessoa, quando ocorre discordância entre o sujeito, que aparece na

terceira pessoa, e o verbo, que surge na primeira pessoa do plural. Exemplos: São Paulo é suja. (silepse de gênero)

Um bando (singular) de mulheres (plural) gritavam assustadas. (silepse de número) Todos os atletas (terceira pessoa) estamos (primeira pessoa do plural) preparados para o jogo. (silepse de pessoa).

Hipérbato ou Inversão

O hipérbato é caraterizado pela inversão da ordem direta dos termos da oração, segundo a construção sintática usual da língua (sujeito + predicado + complemento).

Exemplo: Triste estava Manuela. (Neste caso, o estado do sujeito surge antes do nome “Manuela”, que na construção sintática usual seria: Manuela estava triste).

Assíndeto

Síndeto corresponde a uma conjunção coordenativa utilizada para unir termos nas orações coordenadas. Feita essa observação, a figura de pensamento assíndeto é caracterizada pela ausência de conjunções. Exemplo: Daiana comprou uvas para comer, (e) limões para fazer suco.

Polissíndeto

Ao contrário do assíndeto, o polissíndeto é caracterizado pela repetição da conjunção coordenativa (conectivo). Exemplo: Dolores brigava, e gritava, e falava.

Anáfora

A anáfora é a repetição de termos no começo das frases, muito utilizada pelos escritores na construção dos versos a fim de dar maior ênfase à ideia. Exemplo: Se eu amasse, se eu chorasse, se eu perdoasse. (A repetição do termo “se” enfatiza a condicionalidade que o emissor do discurso quer propor).

Anacoluto

O anacoluto altera a sequência lógica da estrutura da frase por meio de uma pausa no discurso. Exemplo: Esses políticos de hoje, não se pode confiar. (Numa

Referências

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