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O Cânon Bíblico, a origem dos livros sagrados (Alexandre Lima).pdf

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O C Â N O N BÍ BLI CO

A O ri gem da List a do s Livros S agr ado s

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Prof. Alessandro Lima

O CÂNON BÍBLICO

A O ri gem da List a do s L ivro s Sag rado s

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© Copyright by Alessandro Ricardo Lima, 2007

Contato com o autor: alessandro@veritatis.com.br ou arlima® gmail . com

Revisão: Carlos Martins Nabeto e Solange Maria Corrêa Brant de Sá.

LIMA, Alessandro Ricardo. 1975

O Cânon Bíbli co: A Origem da Lista dos Livros Sagr ados. Brasília, DF: 2007.

(Ia. edição, 125 páginas) Bibliografia.

Registrado na Fu ndação Biblioteca Nacional sob o n o. 392.227, Livro 729, íls. 387.

1. Cristia nism o; 2.Bíblia; 3.H istória da Igreja; 4. Patrística . I. Título.

CDD - 220.95

índices pa ra Catálogo Sist emáti co:

1. Bíblia: Eventos, História 220.95 2. Antiguida de B íbli ca 220.93 3. Bíblia: Introdução 220.07 4. Histó ria da Igreja 281. 1 5. Patrística 281.1

'I belos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualq uer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, mic.rofilmáticos, fotográficos,

ívprográficos , fonográíicos, videográficos. Internet e e-books ou out ros, sem pré via auto rização . por es crito do auto r. Vedad a a memorização e/ou recuperação total ou parcial cm qualqu er sistema de processam ento de dados e a inclusão de q ualquer parte da obra em qu alquer programa juscibe m ético. Essas proibi ções aplicam-se ta mbém às ca racte rísticas gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível com o (-rime (art. 184 e parágra fos, do Códi go Penal. cf. Lei n° 6.895, de 17.12.198 0). com pena de prisão e multa, co njuntame nte com busca e apreensão e indenizaçõe s diversas

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(ai I igos 102. 103 parágrafo único, 104. 105, 106 e 107 itens 1. 2 e 3. da Lei n” 9.610. de 10.00 .1998 (Lei dos Dir eitos Autorais]).

(7)

“M uit os em preenderam com por uma hist óri a dos aconteci m en- tos que se reali zaram e ntre nó s, com o nol os tr ansm it ir am aq ue- le s que for a m desde o princí pio test em unhas ocul ares e qu e se tor naram m ini st ro s da pal avr a. Tam bém a m im me pa receu bem, d epois de hav er dili gen temen te i nves ti gad o tudo de sd e o p rin cíp io , es cre vê lo s p a ra ti se g u n d o a o rd e m ” (Lc 1,1-3).

(8)
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S UM ÁR I O

Sobre o autor...7

Apresentação...9

Introdução...11

Capítulo 1. Qual é o conjunto dos Livros Canônicos?...13

Capítulo 2. A Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX)...17

Capítulo 3, As Escrituras Sagradas utilizadas no tempo de Jesus...21

Capítulo 4. O Cânon de Jâmnia...27

Capitulo 5. Quais foram os livros considerados canônicos pelos primeiros cristãos?....'39

Capítulo 6. Cânon das Escrituras Sagradas começa a se estabelecerna Igreja. .. 79

Capítulo 7. A Reforma, o Concilio de Trento e as Igrejas Ortodoxas...91

Capítulo 8. Por que um Cânon Bíblico para os cristãos?...97

Capítulo 9. Uma Análise Sobre os Deuterocanônicos do AT ...101

Conclusão...107

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S

obre o

A

utor

A

lessandro R. Lima, casado e pai, nasceu em Brasília/DF. Vindo de uma família de classe média de quatro filhos, o pai (falecido) funcionário público e mãe dona de casa.

Formado em Tecnologia em Processamento de Dados pela União Educacional de Brasília (UNEB/DF) e pós-graduado em Ge rência de Projetos em Engenharia de Software pela Universidade Estácio de Sá/RJ. Trabalha como Professor Universitário e Consul tor de Engenharia de Software.

Desde 1999 dedica-se ao estudo da Fé Cristã dos primeiros séculos; pelo qual foi levado a deixar o protestantismo e ingressar na Igreja Católica, no final de 2000.

Em 2002, juntamente com Carlos Martins Nabeto fundou o

apostolado católico Veritat is Splendo r (http: / /www.veritatis.com.br )

- considerado um dos maiores sítios católicos em língua portugue sa - onde desde então, além das suas atribuições familiares e secu lares, dedica-se à publicação de artigos referentes ao Cristianismo primitivo e à defesa da Fé Católica nas questões mais difíceis.

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I

ntrodução

A

palavra “cãnon” vem do grego kanóni e significa “régua” ou “cana [de m edir]”. A cana era usada pelo s antigos como ins  trumen to de medição. D esta forma, os cânones em sentido religioso são as réguas que devem ser usadas para medir a vida, isto é, guiar o fiel em sua vida religiosa.

O Cãnon Bíblico é a lista dos livros sagrados que compõe a Bíblia Cristã. Esta lista também é chamada de lista canônica ou lista dos livros canônicos (=livros autorizados).

A Palavra “Bíblia” vem do grego “biblos" que significa bibliote ca. Assim, a Bíbli a é uma “bibliote ca” , porque é compo sta por um conjunto de livros que os cristãos crêem serem inspirados por Deus. A redação dos livros sagrados começou por volta do séc. XV a.C. e

somente se encerrou no final do séc. I d.C.

Ao contrário do que muitos pensam, a Bíblia Cristã organiza da como um único livro, não foi assim entregue pelos Apóstolos.

Antes que fosse possível reunir os livros sagrados em um úni co volume, foi necessário saber quais eram esses livros.

A Sagrada Escritura em nenhum lugar define a sua lista de livros sagrados; o índice por si mesmo também não é um “rol” ins pirado, mas uma criação humana visando facilitar a localização dos diversos livros sagrados existentes nessa “biblioteca” chamada Bíblia. Embora, alguns pesquisadores defendam a existência de

um cãnon bíblico judeu , já fixado depois do tempo do profeta Esdra s, não havia nos primeiros séculos da Era cristã um consenso sobre quais livros de tradição hebraica deveriam ser considerados

canônicos (A T1) . A m esm a dú vida pairou sobre alguns livros da lite ratura cristã (NT2).

Desta forma, nos primeiros séculos, alguns livros eram acei tos por toda a Igreja, enquanto outros tinham sua inspiração

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(estada ou posta em dúvida. Por esta razão, alguns livros que hoje se encontram na Bíblia, só foram considerados canônicos mais tar de. Considerando tudo isto, os livros canônicos que compõe a Sa grada Escritura Cristã são classificados quanto ao reconhecimento de sua canonicidade como: protocanônicos e deuterocanônicos.

Os protocanônicos (proto=primeiro, canônicos=autorizados) são aqueles que jamais tiveram sua canonicidade contestada, isto é, são aqueles que sem pre foram con siderados inspirados por De us. Os deuterocanônicos (deut.ero=depois, canônicos=autorizados) são aqueles que foram considerados canônicos mais tarde, pelo fato de ter havido inicialmente alguma dúvida quanto à sua inspiração e conseqüente canonicidade. Há ainda aqueles que inicialmente fo ram considerados canônicos e posteriormente não, incrementando assim o conjunto dos livros “apócrifos”3.

Existem livros protocanônicos e deuterocanônicos tanto para o AT quanto para o NT. Normalmente são relacionados como deuterocanônicos do AT: Tobias, Judite, Sabedoria, Sabedoria de Sirac (ou Sirácida) ou Ecles iástic o, B aruc (ou Ba ruq ue ), 1 e 2 Macabeu s. Como veremos mais adi ante, a i nclusão do livro d e Baruc neste conjunto parece ser equivocada, da mesma como é também equivocada a não inclusão do livro de Ester.

Tam bém são deu terocanônicos do A T os acréscim os no livro de Ester (10,4 a 16,24) e no livro de Daniel (“O Cântico dos três jo ven s” correspondendo aos versículos 24 a 90 do cap ítulo 3; “H is

tória de Susana” e "Bel e o Dragão” correspondendo respectiva mente os capítulos 13 e 14).

Do NT são de uterocan ônicos: 2 Pedro , 2 e 3 João, Tiago, Judas, Hebreus e o Apocalipse.

Não é escopo deste trabalho um estudo detalhado acerca das traduções e manuscritos bíblicos. No entanto este assunto será abordado na devida proporção no que concerne ao estabelecimento do Cânon Bíblico Cristão.

1 AT =A nti goT estam ento. Conjunt odosli vroscanôni cosquef oram escri tosantesde  Cri sto.

2 NT=NovoT estame nto.C onju ntodos liv ros canôni cosquefor am escri tosdepois de Cri sto.

3 São os livros  cuja ins pir açãodivi na não foiconfirmada oucujocon teúdo doutrinári onão é

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CAPÍTULO 1

Qual é o conjunto dos Livros Canônicos?

A

lgumas pessoas acreditam que é possível saber o conjunto dos livros canônicos, simplesmente porque a sua inspiração divi na é evidente. Este conceito além de ser bastante subjetivo, depen

de também de concei tos e cri térios de verificação aind a mais su bje tivos. Por exemplo: quais atributos definem se um livro é inspirado ou não? Quais são os critérios de avaliação e verificação destes mesmos atributos? As opiniões seriam tão múltiplas quanto são as estrelas do céu.

De fato, nenhum autor dos livros do NT diz ter escrito sob o impulso do Espírito Santo, exceto São João, ao escrever o Apoca lipse.

Ademais, ainda que cada livro da Bíblia começasse com a fra se: “Este livro é inspira do por Deu s” , seme lhante frase não prov aria nada. Ora, o Alco rão diz ser inspirado , assim co mo o Livro do Mór mo n e vários livros de religiões orientais. Ainda, os livros de Mary Baker Eddy (a fundadora da Ciência CristãJ e de Ellen G. White (fundado ra do Adventismo do Sétimo Dia) se proclamam inspirados e mui-los cristãos os rejeitam como tal. Pode-se concluir então, que o fato de um escrito atribuir a si qualidades de inspiração divina não quer dizer que assim o seja na realidade.

Diante destes argumentos, alguns recuam e afirmam que “o Espíri to Santo nos d iz claramente que a Bíblia é ins pira da ”, uma noção bastan te subjetiv a, que também p ode ser usa da po r um hindu, mulçumano ou espírita, para afirmar que os Deuses, Alah ou os Espíritos, respectivamente lhes convencem que sua escritura é di vina.

Este mesmo exemplo se aplica ainda àqueles que afirmam que a inspiração divina de um livro pode ser veri ficada pela insp ira

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ção que causa no crente. Argumento conhecido como “É inspirado

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porq ue in spir a” . Ora, note que há muitos escritos religiosos antigos que certamente são muito mais “inspirativos” ou “emotivos” do que muitos textos e até livros inteiros do AT. Veja, por exemplo, o livro de Números no AT. Será que com este critério é possível afirmar que o livro de Números é inspirado? No entanto, ele está presente em todas as Bíblias Cristãs.

Portanto, a fixação de um cânon bíblico, não está sujeita às opiniões alheias, fundamentadas em conceitos e métodos de verifi cação totalmente subjetivos e duvidosos.

Alguns ainda acreditam que através dos livros consensualmente considerados canônicos (protocanônicos) é pos sível identificar dos demai s. Esta proposta pod e nos fornecer pistas importantes, mas infelizmente não é suficiente. Por exemplo, em Lucas 24,27.47 e João 10,34, aparecem as expressões “Moisés e os Profetas”, “Lei e os Profetas”, “Lei, Profetas e Salmos”, todas elas relacionadas ao conceito de Escritura Sagrada.

A expressão “Profetas” abrangeria quais livros? Datados da mesma época dos profetas existe uma infinidade de outros livros cuja autoria é atribuída aos antigos profetas do AT, no entanto, hoje não são considerados canônicos. Assim como existem outros cuja autoria profética ainda é duvidosa e são considerados canônicos por todos os cristãos. O mesmo se aplica aos Salmos. Existe um escrito chamado Salm o 151, considerad o canônico apenas p ela Igreja Ortodoxa. O que dizer de livros como Provérbios, Eclesiastes, Ester, Rute, 1 e 2 Sam uel, 1 e 2 Reis e Jo su é? Fa riam p art e de qual gru  po? Lei, Profetas ou Salmos? Ou estariam em um outro grupo cuja men ção não se encontra em qualquer um dos li vros protocan ônicos?

Ainda, o A T faz r eferência a pelo menos 21 livros que hoje são considerados apócrifos (HAMMER, 2006). O mesmo acontece com o NT que menciona o “Ascensão de Moisés" (cf. Jd 1,9) e "O Livro de Henoc” (cf. Jd 1,14).

Pelas questões já aqui apresentadas e pelo fato da Bíblia não definir o seu conjunto de livr os sagrados, o discernim ento do Cânon Bíblico depende de algo que é exterior aos livros sagrados. Isto sig nifica que a B íblia não se forma por si mesm a e nem se autor iza por si própria. A sua legitimidade depende de algo que lhe é exterior.

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Por exemplo, o Pentateuco4 sempre foi considerado canônico pelos

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judeus, não por si mesmos, mas porque tinham origem na Tradi ção5 ju da ica e em M oisés que tinha au toridade de se u legítim o M a gistério (cf. Ex 18,13-14; Mt 19,7-8). Um outro exemplo são os es critos dos profetas. A autoridade destes livros não tinha srcem em si mesmos, mas no anúncio dos profetas (Tradição), ou porque sua autoria é atribuída a homens que eram legitimamente autorizados por Deus (Magistério).

Desta forma, atribuição de autoridade divina a um livro, isto é, a definição de sua canonicidade sempre dependeu da autoridade de algo que é exterior ao livro: a Tradição que lhe deu srcem (e que por tanto lhe é anterior) e o Magistério legitimamente estabelecido por Deus, reconhecido como seu legítimo guardião e difusor. Esta antiga e divina relação não se aplica somente ao Cãnon Bíblico. Alguns dos livros bíblicos não trazem o nome do autor (por exem plo, o Pentateuco e os 4 Evangelhos). A atribuição da autoria de muit os livr os canônicos também dependeu da Tradição e do Ma gis tério divinos.

Vejamos como o Senhor se utilizou destes dois instrumentos para nos comunicar o que hoje conhecemos como a Bíblia.

4 OsCincoprimeiros livrosd a Bíblia cujaautori a éatribuí daa  Moisés: Gênesi s, Êxodo ,

Levítico,NúmeroseDeuteronômio.

4 Tradição  com "T " maiúsc ulo,  nãosig nif icaoco njuntode  costumesdesenvolvi dosa  par tir deumconceitoreligiosoouconjuntodoutrinário,masaprópriaRevelaçãoDivina

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transmitidaeconservadadeformaoralouescrita. 15

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CAPÍTULO 2

A Septuaginta ou Versão dos Setenta (L X X )

urante o reinado de Nabucodonosor6, as Escrituras Sagradas hebraica s foram perdidas, por ocasião do cativeiro i mp osto ao povo judeu, que em aproximadamente 587 a.C. foi deportado de

Jeru salém para a Babilônia. As Escrituras foram novam ente cons tituídas no tempo do Profeta Esdras, durante o r einado de Artaxe rxes (cf. Esd 9,38-41).

O conjunto de manuscritos hebraicos mais antigos que che garam até nosso tempo , é conhecido como Texto Massorético. Nes ta compilação das Escrituras, o texto foi transcrito com a omissão das vogais. C om srcem no séc. VI, o Tex to Ma ssoré tico possui este nom e por ter sid o desenvolvido por um grupo de jud eu s conhecidos como Massoretas; que deste então se tornaram os responsáveis em con servar e transmitir o texto bíblico hebraico.

Bem anterior ao Texto Massorético, se conservou até nosso tempo, a versão Grega das Escrituras Hebraicas conhecida como Septu aginta ou Versão dos Setenta (LX X). Vertid a, aproximad amente no séc. III a.C. para grego a partir dos mais antigos manuscritos hebraicos (hoje não mais disponíveis), o valor histórico da

Septu aginta é i nestimável e de profunda importância para a identi ficação do Cânon Bíblico Cristão.

Origem da Septuaginta

Ptolomeu II Filadelfo (287-247 a.C.), rei do Egito, encomen dou espec ialmen te para sua Biblioteca em Ale xan dria 7, um a tradu 

(24)

7 FundadaporAl exan dre ,oGran de tor nou- seogran decentrocul tural  ecomercial  doi mpério helênico.

(25)

ção grega das escrituras sagradas dos judeus. Esta foi a primeira tradução fei ta do s livro s h ebrai cos para u ma outra lí ngua. A tradu  ção do hebraico para o grego, segundo a tradição, foi feita por 72

escribas durante 72 dias, por isso possui o nome Septuaginta que significa “Tradução dos Setenta”.

A primeira menção ã ver são da Septuaginta encontra-se em um escrito cham ado “C arta d e A risté ias ” . Segu nd o esta car ta, Ptolomeu II Filadelfo tinha estabelecido recentemente uma valiosa

biblioteca em Alexand ria. Ele foi persuadido por Demétrio de Fálaro (responsável pela biblioteca) a enriquecê-la com uma cópia dos li vros sagrados dos judeus. Para conquistar as boas graças deste povo, Ptolomeu, por conselho de Aristéias (oficial da guarda real,

egípcio de nascimento e pa gão por rel igi ão) emancipou 100 mil es  cravos, de diversas regiões de seu reino. Então, enviou represen tantes (entre os quais Aristéias) a Jerusalém e pediu a Eliazar (o Sum o Sa cerdote do s judeu s) para que fornecesse uma cópia da Le i e judeus capazes de traduzi-la para o grego. A embaixada obteve

sucesso: um a cópia da Lei r icamente ornam entada foi enviada para o Egito, acompanhada por 72 peritos no hebraico e no grego (seis de cad a Tr ibo 8) para atend er o desejo do re i. Estes foram recebidos com grande honra e durante sete dias surpreenderam a todos pela sabedoria que possuíam, demonstrada em respostas que deram a 72 questões: então, eles foram levados para a isolada ilha de Faros e ali iniciaram os seus trabalhos, traduzindo a Lei, ajudando uns aos outros e comparando as traduções conforme iam terminando. Ao final de 72 dias, a taref a estava concluída. A tradu ção foi li da na presença de sacerdotes judeus, príncipes e povo, reunidos em

Alexandria; a tradução foi reconhecida por todos e declarada em perfeita conformidade com o srcinal hebraico. O rei ficou profun dam ente satisfei to com a obra e a deposit ou n a sua biblio teca.

Comumente se acredita, que a Carta de Aristéias foi escrita por volta de 200 a.C., 50 anos após a morte do Rei Filadelfo.

Não há ainda entre os estudiosos um consenso sobre a ori gem e autenticidade desta carta. Embora a grande maioria

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dosfilhosdoPatriarcaJacó(cf.Gn49).

(27)

dere seu conteúdo fantasioso e lendário, questiona-se se não há algum fundamento histórico disfarçado sob os detalhes lendários. Por exemplo, hoje se sabe com certeza que o Pentateuco foi mesmo traduzido em Alexandria.

Difusão e revisões

Pelo fato de serem pouquíssimos os Judeus que ainda possu íam conhecimento da língua hebraica, principalmente após o domí nio helenista (entre os séculos IV e I a.C.) onde o koiné (grego popu lar) era o idioma falado, a Septuaginta foi bem acolhida, principal mente pelos judeus alexandrinos que foram os seus principais difusores, pelas nações onde o grego era falado. A Septuaginta foi usada por diferentes escritores e suplantou os manuscritos hebra icos na vid a religios a (JAEGER, 1991).

Em razão de sua grande difusão no mundo helênico (tanto entre judeus, filósofos gregos e cristãos), as cópias da Septuaginta passaram a se multiplicar, dando srcem a variações contextuais.

Orígen es9, mo tivado pela necessid ade de restaurar o texto à sua condição srcinal, dá srcem à sua revisão que ficou registrada

em sua famosa obra, conhecida como Hexápla10.

Luciano, sacerdote de Antioquia e mártir, no início do séc. IV publicou uma edição corrigida de acordo com o hebraico; tal edição reteve o nome de koiné, edição vulgar, e, às vezes, é chamada de Loukianos, após o nome de seu autor.

Finalmente, Hesíquio, um bispo egípcio, publicou, quase que ao mesmo tempo, uma nova revisão, difundida principalmente no Egito.

Os Manuscritos

Os três manuscritos mais conhecidos da Septuaginta são: o Vaticano (Codex Vaticanus ), do séc. IV; o Alexandrino (Codex Alexandrínus), do séc. V, atualmente no Museu Britânico de Lon

'' Há umabre vebio grafia nocap itulo  5.

111 Receb e estenom e pordisp ordotexto do ATem 6colunasdisti ntas,  cada uma conforme 

uma tradução (hebrai co,a LXX, versão  deÁquila,  versãode Símaco, versão deTeodocião, 

(28)

fragmentos.

(29)

dres; e o do Monte Sinai (Codex Sinaiti cus), do séc. IV, descoberto por Tis ch en do rf no convento de Santa Catari na, no M onte Sinai , em

1844 e 1849, sendo que parte se encontra em Leipzig e parte em São Petersburgo.

Todos foram escritos em u ncia is 11. O Codex Vatícanus é con siderado o mais fiel dos três; é geralmente tido como o texto mais antigo, embora o Codex Alex andrinus carregue consigo o texto da Hexa pla e tenha sido alt erado segun do o Texto Massorético. O Codex Vatícanus é referido pela letra B; o Codex Alexandrinus, pela letra A; e o Codex Sinaiticus, pela primeira letra do alfabeto hebraico

[Aleph] ou S.

Os livros que estão presentes na Septuaginta

Os livros presentes na Septuaginta, conforme a ordem srci nal: Gênesis, Êxodo, Levitico, Números, Deuteronômio, Josué,

Juizes, Rute, 1 Samuel (1 Reis), 2 Samuel (2 Reis), 1 Reis (3 Reis), 2 Re is ( 4 Re is), 1 C rôn icas (1 P ar alip ôm en os ), 2 C rôn ica s (2 Pa ralip ôm eno s), 1 Esdra s, 2 Esd ras (Esdras e Ne em ias), Ester , Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 M acabeu s, 4 M acabeus,

Salmos, Odes, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Job, Sabedoria, Eclesiástico (Sirac), Salmos de Salomão, Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias, Jo nas, Naum, Hab acuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Isaí as, Jeremias, Lamentações, Baruque, E pís tola de Jerem ias, E zequiel, Suza na12, Daniel, B el e o Dra gão (SO CI EDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, Xii-Xiii).

É importante notar que o conjunto de livros da Septuaginta é bem maior do que qualquer versão do AT disponível nas Bíblias Católica, Ortodoxa e Protestante. O que isto necessariamente signi fica? Será que o catálogo da LXX corresponderia a um cânon bíbli co conhecido e utilizado pelos antigos Judeus? Jesus e os Apósto los utilizaram este catálogo mais amplo de Escrituras Sagradas?

11 Let ras maiúscul as.

(30)

Ortodoxas.

(31)

CAPÍTULO 3

As Escrituras Sagradas

utilizadas no tempo de Jesus

C

omum ente é veiculada a informação (principalos na Internet e livros, ambos de srcem protestante) de quemente em síti

desus e os Ap óstolos não utilizaram a versão grega da Septuaginta, mas que manusearam as Escrituras do AT em manuscritos dispo níveis em h e b ra ic o 13. Isto se dev e bas ica m en te, ao f ato da Septuaginta possuir livros que são considerados apócrifos pelas confissões protestantes. Desta forma, a tese propõe que Jesus e os Apóstolos não manusearam esta versão grega das Escrituras.

Os cristãos crêem que Jesus foi concebido pelo Esp írito Santo

11 0 ventre da Virgem Mari a. A refer ência mais conh ecida à doutrina

da concepção virginal de Maria está em Mateus 1,18-23.Mateus, após relatar que a Mãe do Senhor concebeu por obra do Esp írito Santo, an tes de coabita r com José, e que então, um anjo do Senhor apareceu a José em sonhos para informar que este não deveria recusá-la como sua esposa, pois o filho que ela concebeu era obra do Espírito Santo (cf. versículos 18 a 21), nos versículos

2/2

e 23, escreve:

“Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor

falou p elo profeta. Eis que a Virgem co nceberá e dará à luz um filho,

que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco".

Mateus transcreve aqui Isaías 7,14. Conforme podemos ob servar, a tradução em língua portuguesa apresenta a expressão “eis que uma virgem conceberá".

(32)

Cristoe q ueco rresponde àatua l BíbliaHebrai ca. Est eassun toseráabordado noCapítul o4.

(33)

Alguns cristãos defendem a tese de que Mateus citava Isaías

7,14 conforme a versã o da Septuaginta. Como defes a, af irmam que na versão em hebraico, o adjetivo aplicado àquela que conceberá é

almah, que

significa jovem, pois o adjetivo mais apropriado para virgem seri a

b’tulah;

enquan to que na Septuaginta, o versicu lo ap re

senta o adjetivo grego

parthenos,

que significa virgem.

Embora seja possível, o adjetivo

almah

significar “virg em ” , enquanto que

b’tulah

também pode significar "mulher casada” (cf. Joel 1:8). Por exemplo, “alm ah” aparece pelo menos sete vezes no

AT: Gn 24,43; Ex 2,8; SI 68,25; Pv 30,19; Ct 1,3; 6,8 e Is 7:14. Em todas as primeiras seis referências tem o sentido de virgem ou mulher solteira (que era virgem). Aliás, em Ct 6,8, o sentido de virgem é bastante claro: fala sobre 3 classes de mulheres: as rai nhas, as concub inas e as donzelas (“alm ot” , plural de “ alm ah ”). A me sm a Rebe ca, que é c hamada

“b ’tulah [ virgem em

hebraico ] a quem varão não havia conh ecido” em Gênesis 24, 16, é chamad a no mes  mo capítulo de

almah.

Há citações da Septuaginta no NT?

Vários estudos atestam que os Apóstolos e Evangelistas usaram a Septuaginta,

“pois, como se sabe, muitas citações (e

alusões) do Antigo Testamento no Novo Testamento procedem di-

retamente da clássica versão grega"

(SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, i). Das 350 citações que o NT faz do AT, pelo m enos 300 provêm da vers ão grega (BÍB LIA, 197 4, i ii; BIBLEREARCH, 2006).

Tem os provas de que o Senhor Jesus usou a Septuagin ta. Em Sua resposta ao diabo em Mt 4,4 Ele disse:

“Es tá escrito: Nã o só de pã o vive o h omem, mas de toda p a -

lavra que procede da boca de Deus".

O

Senhor referiu-se a Deuteronômio 8,3, onde na versão

hebraica a expressão usada é

“da boca do Senhor"

enquanto a Septuaginta traz

“da boca de Deus".

Nos capítulos 6 e 7 do Livro dos Atos dos Apóstolos, lemos

que Es tevão foi levad o ao Sin éd rio14 pela m ultidão (cf. A t 6,12). Dirigindo-se a seus acusadores, conta-lhes como Jacó trouxe

(34)

seus 75 descendentes para o Egito (cf. At 7,14-15).

(35)

Porém os textos hebraicos dizem que Jacó trouxe 70 descen dentes para o Egito (cf. Gn 46,26-27; Dt 10,22 e Ex 1,5). O Sinédrio conhecia bem a proibição divina de acrescentar ou retirar algo dos livros sagrados (cf. Dt 4,2; 12,32; SI 12,6-7 e Prov 30,6), mas não ousou acusar Estevão de estar pervertendo as Escrituras, orde nando matá-lo porque foi contraditado na defesa de Cristo.

A s olução deste caso é muito simpl es. Es tevão citava Gn 46,26-27 a partir da Septuaginta, que possui cinco nomes a mais que o Texto Massorético hebraico. Os cinco nomes que faltam na versão

hebraica foram preservados na Septuaginta em Gn 46, 20, onde Makir, filho de Manasses, e Makir, filho de Galaad (=Gilead, no hebraico), são apontados, posteriormente, como os dois filhos de Kfraim, Taam (=Tahan, no hebraico) e Sufalaam (=Shufhelah, no hebraico) e seu filho Edon (=Eran, no hebraico).

Outro e xemp lo é o nome de um deus pagão citado por Estevão cm At 7,43. Estevão citou-o como Renlão. Esta citação é de Aniõs 3,26. No texto hebraico o nome do deus é Quijum. Estevão citou a versã o da Septu aginta que traz Renfã e não Quijum do texto hebrai co.

Isto significa que o uso da versão da Septuaginta era também comum entre o s Judeu s da Pal estina, contrariando aqueles que afir mam que somente os judeus de Alexandria aceitavam esta versão.

Pelo fato da Septuaginta ter sido amplamente usada pelos

Apóstolos e presbíteros da primitiva Igre ja, a Trad ição Cristã con fe riu-lhe lugar especial (SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, v).

A s descobertas do M a r M or to

Partes da Septuaginta foram encontradas na Judéia, entre os manuscritos do Mar Morto, descobertos em Qumran, sendo anteri ores ao ano 70 d.C. Alguns exemplares foram encontrados na ca verna 4 ( 1 19 L X X L ev .; 1 2 0 p ap L X X L ev .; 121 LX XN um .;

122LXX Deu t.), um texto não i dentificado da Septua ginta grega en  contrado na caverna 9 (Q9), e existe um fragmento de papiro, escri to em grego, encontrad o na caverna 7 (LXXExod.). A cav erna 7 produ

-11 Conselho naci onal  que  notem po deJesus tinha autoridadee ntreosjude us parajul gar

(36)

PôncioPilatos.

(37)

ziu ainda muitos pequenos fragmentos em grego (da Septuaginta), cujas identifi cações pe rmane cem e m discussão ou sem classi ficação.

O Dr. Emanuel Tov sugere as seguintes identificações para al guns destes fragmentos gregos do primeiro século antes de Cristo:

7Q4. Números 14,23-24;

7Q5. Êxodo 36,10-11; Números 22,38; 7Q6. 1 Salm o 34,28; Prové rbios 7,12-13; 7Q6. 2 Isaías 18,2

7Q8. Zacarias 8,8; Isaias 1,29-30; Salmo 18,14-15; Daniel 2,43; Eclesiastes 6,3.

Entre estes fragmentos constam ainda trechos dos livros deuterocanônicos do AT:

■ Em grego foram encontrados fragm entos d e: 4Q 478 [Tobi as], 4Q383, 7QLXXEpJer. [Epístola de Jeremias];

■ Em hebraico foram encontrados: uma cópia do livro do Ec le siástico [manuscrito 2QSir.], “A História de Suzana” (corres pon dente ao capítu lo 13 do livro de Daniel ) [man uscrito 4Q551] e fragmentos do livro de Tobias [manuscrito 4Q200].

■ Em aramaico f oi encontrado um fragm ento do livro de Tobias [manuscrito 4Q196-9],

Uma cópia do livro do Eclesiástico, em hebraico, foi encontra da nas ruínas de Mas ada e é datada como do início do século I a.C.

Estas evidências mostram que o s livr os d euterocanônicos eram conhecidos e manuseados pelos Judeus da Palestina.

Alguém poderia objetar afirmando que tais descobertas

correspon dem à literatura usada pel os Ebionitas (sei ta de Q um ran ), um grupo estranho ao ramo principal do Judaísmo. Não é desta forma que pensam os especialistas:

“Tanto no jud aís m o m oderno quanto no cris tianismo, uma 'sei- ta ’ é, geralmente, um ramo de um tronco religioso maior e é

freqüente mente vista como excêntrica ou desviada nas suas crenças. Ma s os pesqu isadores e leigos deveriam reco rdar que durante todo o período de existência de Qumran, os faris eus e os saduceus eram

‘seitas’, assim como eram os essênios! Foi apenas a partir do século II d. C. que pass ou a se fo rm a r um tipo de jud aís m o ‘ aquele dos fariseus, dos rabis ‘ que veio a se tornar padrão para o povo ju d eu

(38)
(39)

como um todo. Tais matérias são de menor importância se compara- das com os manuscritos bíblicos. Primeiro, porque toclos os pesquisa- dores concordam que nenhum dos textos bíblicos (tais como Gênese ou Isaías ) Joi com posto e m Qum ran; ao contr ário, todos eles se srci- naram antes do período de Qumran. Também é aceito que muitos ou a maioria desses m anuscritos f oram traz idos de for a pa ra Q umra n e. depois, aí reproduzidos. Isto significa que o valor da maioria dos man uscrit os bíblic os enganam, não em estabelecer prec isam ente onde foram escritos ou copiados, mas especifica men te quanto ao estudo

das formas textuais que encerram ” 15 (ABEG G, 1999).

Não é possível afirmar que todo conjunto de livros da Septuaginta foi considerado sagrado pelos judeus alexandrinos,

judeus palestinen ses ou por Jesus e seus Apóstolos. Só podem os afirmar que era conhecido por todos eles por constar na versão

bíblica por eles usada.

O tempo levará a sinagoga e a Igreja a escolherem alguns li vros da Septuaginta como canônicos e a rejeitarem outros. Nesta decisão a sinagoga saiu na frente. Vejamos no próximo capítulo como isto aconteceu.

(40)

ir’ FragmentotraduzidoporCarl os Martins Nabeto . 25

(41)

CAPÍTULO 4

O Cânon de Jâmnia

N

o tempo do Imperador Romano Nero, desencadeou-se a primei ra revolta aberta dos jud eus da Palestina contra Roma (66-70). Tilo, na prim avera de 70, sitiou Jerusa lém, a cidade in teira foi

saqueada, arrasada e o Templo foi destruído no dia 10 do mês de acosto do mesmo ano. Os fariseus de Je rus além 16 se transferiram

para a cidade de Jâmnia, onde formaram próspera escola rabíni ca. Aproximadamente no ano 90, este grupo de rabinos define uma lista dos livros que deveriam ser considerados sagrados pelos

Judeus. O Cân on de Jâmnia (como ficou conhecida esta lista) deu srcem à atual Bíblia Hebraica. O Cânon de Jâmnia excluiu os sete

livros deuterocanônicos [do AT] e os acréscimos de Daniel e Ester.

U m cânon sagrado p ré-existente?

Alguns afirmam que o Cânon dc Jâmnia foi a confirmação ilc um Cãnon Sagrado anterior e definido pela autêntica Tradi ção judaica.

Segundo esta tese, o fato de Jesus e os Apóstolos se referirem as Escrituras Sagradas disponíveis em seu tempo de forma geral ("Escrituras”), mostra que eles tinham em mente uma quantidade precisa de livros que estavam incluídos sob aqueles títulos gerais. Apresenta-se como prova o registro do Evangelista Lucas ao

11 Alguns autoresidentifi cam a Escola Rab ínicaem Jâmnia como oanti go Sinédr io

(BERARDI NO, 2002,  ver b. Jerusal ém, p, 750 ). Entretant o hácontrovérsi as entreos 

(42)

tempoforamdesimados.

(43)

diálogo entre Jesus e os discípulos na estrada de Emaús: ‘E come çando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.”(Lc 24,27). A expressão “todas as Escr ituras” dem onstraria que já no temp o de Cri sto, um a lis ta de livros canônicos já estava fixada.

Cita-se ainda João 5,39, quando Jesus manda os Fariseus, que eram os legítimos intérpretes da Lei (cf. Mt 23,1), verificarem que Nele se cumpriram todas as profecias messiânicas. Jesus ao utilizar a expressão “Escritu ras” est aria se referindo a um conjunto de livros bem conhecido, tanto por Ele quanto pelos Fariseus.

Chama-se ainda a atenção à expressão “Moisés e os Profetas” (cf. Lc 24,27). “Moisés e os Profetas” ou “A Lei e os Profetas” seria a estrutura de como este cânon judeu estaria organizado, sendo que na seção “L ei”, estariam contidos tam bém os Salmos (cf. Jo ão 10:34). Assim, se quer defender a existência de um cânon bíblico, organi zado em uma tríplice estrutura: a Lei, os Profetas e os Salmos. Tam bém se costuma fazer referencia a Lc 24,44, onde Jesus ao apare cer aos apóstolos e discípulos lhes disse: “(...) era necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos pro- je ta s e nos Salm os”.

Estes argum entos são bastante frágei s, pois em todas as refe rências apresentadas, Jesus está tentando demonstrar que Nele se cumprem todas as profecias messiânicas. E onde estão estas profe cias? Estão justamente nos livros de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Desta forma, dentro do contexto em questão, é bem mais certo que Jesus esteja referenciando esta triplica estrutura, porque nela se encontram as profecias messiânicas, do que Ele esteja fa zendo referência a um cânon sagrado existente em seu tempo.

Há também quem apresente como prova do suposto cânon, então confirmado pelo Cânon de Jâmnia, os testemunhos históri cos de Flãvio Josefo e Áquila (o qual criou uma nova versão grega das Escrituras hebraicas, que leva o seu nome).

O testemunho de Áquila é reconhecidamente posterior ao Cânon de Jâmnia, e por isso, também não pode ser aceito como prova: muito pelo contrário...

(44)
(45)

Por outro lado, reproduziremos abaixo o texto de Josefo, con-lorme consta em sua obra “Contra Apion’’:

“38. É, pois natural ou melhor dizendo, necessário, que não i xis ta en tre nós u ma m ultiplicidade de livros em contradiçã o en tre si, senão somente vinte e dois17 que contém os registros de toda história e que com toda ju stiça são dignos de conf iança . 39. Dele s, existem cinco de Moisés, os quais con têm as leis e a tradição desd e a criação tio homem até a morte de Moisés. Compreende, inais ou menos, um geríodo de três m il anos. 40. De sde a morte de Moisés até Ar ta xe rx es 18,

■.ncessor de X erx es19 como rei dos persas, aos pro feta s poste rior es a Moisés fo ra m deixados os feito s do seu tempo em treze livr os, os

i/iiatro restantes contém hinos a Deus e conselhos morais aos ho- mens. 41. Também desde Artaxerxes [tempo do Profeta Esdras] até nossos dias cada acontecimento tem sido registrado; embora estes nr to seja m dign os da mesm a con fiança dos a nterio res, p orqu e não havi a uma sucessão rigor osa de profet as. 42. Os fei tos prov am com claridade como nós nos acercamos das nossas próprias escrituras: have ndo j á transcor rido tanto temp o, ninguém se atreveu a adicio- nar. tirar ou trocar nada nelas “ (JOSEFO, 2006, p. 21-22).

Não é possível precisar se o testemunho de Josefo é anterior ou posterior ao Cânon de Jâmnia, devido à incerteza entre as datas do Cânon e seu testemunho.

Costuma-se dizer que “Contra Apion” foi terminada pelo ano 'i |; e o Cânon de Jâm nia, norm alm ente é referido pelos espec ialistas i oi no send o do ano 90. Entretanto, ne nhu ma destas datas é conc lu siva; sabemos apenas que ambos são os últimos anos do séc I d.C.

Com efeito, não é possível precisar se o testemu nho de Josefo i .mterior ou não ao Cânon de Jâm nia, devid o à inc ertez a entre a s il.itas do Cânon e seu testemunho. Esta incerteza compromete por i iimpleto o testem un ho de Josefo, pois nã o se sabe com certeza se o mesmo foi influenciado ou não pelo Cânon de Jâmnia. Porém, há indícios que sim.

( is judeusorg ani zava m suas Escr ituras conforme onúm erodeletr as dese ualfabeto.

Il.itiaduçãoori ginal  est áArtajerj es ("j"  no lugar do" x "),oquedifer edousoc om um  em

,,1111astraduções.Pormotivodeunidadetextualmantiveconformeousocomum.

(46)
(47)

Josefo era fariseu e os rabinos de Jâm nia também, assim pos sivelmente ele esteja simplesmente defendendo a posição de sua

facção religiosa.

O prólogo da tradução Grega do Eclesiástico (ou Sabe doria de Sirac), livro escrito por vo lta de 130 a.C., po rtanto an terio r ao teste  munho de Josefo, parece contradizê-lo. Nele lemos:

“Pela Lei , pe los Profetas e p or outros escritores que os s uce - deram, recebemos inúmeros ensinamentos importantes (...) Foi

assim que após entregarse particularmente ao estudo atento da Lei, dos Profetas e dos outros Escritos, transmitidos por nossos antepassados [...]".

Enquanto o test emun ho de Josefo procu ra restri ngir o Cânon Sagrado ao tempo de Esdras, “ porq ue [d epois de Esdras] não houve uma sucessão precisa de profetas", o Eclesiástico parece ser mais amplo e fiel à História ao afirmar que “por outros escritores que os sucederam [os profetas], recebemos inúmeros ensinamentos impor- tantes". O testemunho do Eclesiástico refere-se a livros posteriores ao tempo dos Profetas.

Veja o que estudioso protestante Leonard Rost tem a dizer sobre isso:

“Vê se, pelo prólogo de Sirac [Eclesiástico ou Sab edoria de Sira c], que, além dos escritos assumidos no Cãnon hebraico, traduziramse também out ros que parecem ter gozado de bast ente est ima como obras religiosas de edificação, em círculos mais ou menos amplos, até o fin a l do século I d.C" (ROST, 1980, p. 19).

Há ainda em Josefo um trecho bem polêmico, vejamos:

“havendo já transcor rido tanto t empo , ninguém se atreveu a adicionar, tirar ou trocar nada nelas [nas Escrituras/’.

Alguns entendem que neste trecho Josefo confirma que os livros escritos depois do tempo de Esdras não estavam dispostos num mesmo volume com os livros que foram escritos antes deste mesmo período (protocanônicos), pois isto configuraria um acrésci mo nos primeiros.

Ora, ele está dizendo que nada f oi alterado nos textos pre sen  tes nestes liv ros, nenh um a sílaba a mai s, nen hum a a menos. Jos efo não está se referindo à adição ou retirada de livros a um conjunto pré-estabelecido de outros livros.

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(49)

A tese do Cânon pré-existente apresenta sérios problemas. Primeiro , se este suposto câ non corres pondia ao Câno n de Jâm nia, por que er a com umente usada a S eptuagint a com um catálogo bem maior, conforme é comprovado pel o testemun ho do NT e as desco  bertas do Mar Morto e Massada?

Segundo, se este suposto cânon correspondesse aos livros da Septuaginta, logo não seria perm itida a def inição de qua lquer outro cânon bíblico; então por que foi estabelecido o Cânon de Jâmnia?

Terceiro, os judeus alexandrinos e etíopes recusaram o C ânon de Jâmnia e até hoje guardam como sagrados os livros da

«Septuaginta. Se realmente este suposto cânon bíblico existisse, não haveria disputas entre os judeus sobre este tema; todos adotariam o mesmo conjunto de livros sagrados definidos pela Tradição Ju daica.

Fílon de Alexandria, historiador e filósofo judeu, viveu entre

OS ano s d e 20 a 50 d.C. Em su a ob ra “Expos ições sobre a Lei", onde íaz comentários sobre a doutrina da Torah20, as referências ao Pentateuco são todas da Septuaginta, que possuía os livros

deuterocanônicos e as partes deuterocanônicas de Daniel e Ester, não aceitas posteriormente pelos Judeus de Jâmnia.

Um dos especialistas sobre a vida de Fílon de Alexandria, o Prof. Ritter, quanto ao uso da Septuaginta pelo filósofo escreve:

“A princípio o texto que ele [Fílon] comenta é o da tradução gre i/a dos Setenta; algumas diferenças que se assinalou com razão en- tre seu texto e aquele que possuímos atualmente dos Setenta se ex- plicam de uma maneira satisfatória não pela leitura do texto hebraico,

mas pelo fa to de que nossa rece nsão é d e srcem posterior à da que ele usava!’ (RITTER, 1979).

Antes que al guém objet e afirmando que a Tradição dos ju  deus palestinenses era diferente da Tradição dos judeus

alexandrinos, devo lembrá-los que ambos os grupos manuseavam a versão grega da Septuaginta, portanto, possuíam a mesma Tradi ção Judaica.

A correspondência entre a Tradição Judaica Alexandrina e a Palestina é atestada pelo estudioso Wolfson:

(50)
(51)

“O jud aís m o alexandr ino, no tempo d e Fílon, era do mesmo tron- co do jud aís m o farisaico, que então prosperava na Pal estina, ambos tendo brotad o daquele juda ísm o macabeu [ c. 165 a .C j que fo ra mol- dado pelas atividades dos escribas" (WOLFSON, 1982).

Ainda segundo o estudioso Werner Jaeger:

“O greg o era fa la do nas syna gogai21 po r todo o Mediterrâneo, como se torna evidente pelo exemplo de Fílon de Alexandria, que não escreveu o seu grego literário para um público de gentios, mas para os seus compatriotas jud eu s altamente educados" (JAEGER,

1991).

Fílon de Alexandria, falava grego como era costume em seu tempo e utilizava as escrituras hebraicas através da Septuaginta. Isto era muito comum até entre os judeus da Palestina. Josefo de fende os jude us de Alexa nd ria de di versas calúni as, m ostrando ha ver identidade entre eles e os judeus da palestina (JOSEFO, 2006, p. 96-102).

Se o cânon das Escrituras Hebraicas já estivesse fechado no tempo de Jesus, todos os judeus hoje (palestinos ou alexandrinos) observariam o mesmo conjunto de livros sagrados, e os fariseus de Jâmnia não precisariam se preocupar com isto no final do séc. I d.C.

Interessante é a constatação do estudioso Fedeli Pasquero:

"N a real idad e, seguram ente os ju d eu s alexa ndrino n o séc. I d.C. reconheciam como sagrados os livros deuterocanônicos [do AT]; não obst ante a isso, eles estavam em plena comunhão de f é com os j u - deus da Palestina, coisa que não teria sido possível se houvesse di- vergências em relação aos livros sagrados. Com efeito, os doutores hebreus fa zia m uso de pelo menos alguns dos livr os deuteroc anônicos [do AT ]; de m odo espe cial , encontramos frequ en tem en te citados Baru c, o Sirácida [Sabedoria de Siarc ou Ec lesi ástico ], To bia s ” (PASQUERO,

1986).

Sobre a possibilidade de um cânon de Escrituras hebraicas pré-definido, assim se manifesta Rost:

“[...] não havia u m cãnon ofic ial, ou, como diz a Mixn á Y addyim IV 6, não ha via Ktby qd s’, Escrituras sagradas, como grupo fecha do.

(52)
(53)

Mesmo na épo ca em que se fix o u a Mixná, po r volta de 100 d.C.,

11

ina va am pla discussão entre os erudit os a respeit o de sabe r se o

( 'ãntico dos C ânti co ou o Eclesi astes de Salomão (Qoh elet ) fa zia m ou

não pa rte d o grupo , discussão esta que Joi a plainada p or uma sen

tença arbitrai em fa v o r da incl usão destes livros entre os escrit os

•■agrados (Mixná Yadvim III5 cd).

A s

descobertas dos manuscritos do

Mar Morto, provenientes do período que vai de 150 antes de Cristo

até 70 da era cri stã, em pa rticular o s que fo ra m encontrados nas

cavernas de Qumran, mostramnos claramente que naquela época

ainda não havia uma distinção rigorosa entre Escritura sagrada e

men os sagrada

Mas o fa lo d e um fragm ento bast ante ext enso do

Cirac hebraico, copiad o em escrita esti cométrica, vale dizer , execu ta

<Io com caprich o e dispên dio de tempo, con stituir um dos po uc os res -

tos de manuscritos descobertos em Masada, é prova da estiva que

este escrito desfrutava no círculo dos zelotes, no correr do século I

d.C”

(RO ST, 1980, p. 13-14).

Du rante a formação do Cânon Hebreu, alguns rabinos se op u seram também à inclusão do livro de Ester, conforme atesta o Prof. Samuel Sandmel22:

"O

livro de Ester, segundo os antigos rabinos, é o livro mais

novo da Escritura. Houve, entre estes rabinos, quem não quisesse

gue ele fo ss e incl uído na Escritura”

(BIBLIA, 1974,

Introduções Aos

l.ivros Históricos,

verb. Ester, xxiii).

Ainda conforme o Prof. Sandmel, a tradição rabínica quase excluiu do Canon das E scritura H ebraicas, o livro do Profeta Ezequiel:

“O

livro de Ezequiel fo i julgad o d esapropriado pa ra o cãnon

gorque regulações dos capít

ulos 40  48 pa recem contrad izer

11

•gu lações s imilare s do Pentateuco. Com o o sábio rabínico Ha nan ias

hen Ezequias fo i capaz de resolv er est as contr adições com uma apu

inda interpr etação, o livro sal vouse de se r abandonad o jun ta m en te

com outros livr os que não pod iam circular publicamente"

(Ibid.;

Intro

iluções Aos Livros Proféticos,

xliii).

Além destes, também foram inicialmente contestados pelos

rabino s, Jó (Ibi d,, xvii), Provérbios, Cân tico dos Cân ticos e Ecle siaste s (lbid., xxxi), concordando assim com o parecer de Rost.

(54)

Prof. deBíbl iae Literat ura Heíenística na He bre w U nionCo llege, Cincinnat i, Ohio-  EUA.

(55)

Tudo isto mostra que realm ente houve em Jâm nia um acordo entre os fariseus sobre os livros que deveriam ser considerados

canôn icos pelos jude us. Note o leitor q ue alguns livr os do A T co nsi derados canônicos por todos os cristãos, quase ficaram fora do

Cânon Hebreu; livros estes que foram amplamente usados pelos antigos jude us. E se ti vessem sido excluidos do Cânon Hebreu, isto significaria que jamais foram considerados canônicos antes? E os livros que os fariseus rejeitaram, será mesmo que não eram canônicos?

Mas ainda resta a pergunta: por quê os rabinos da palestina adotaram um Cânon Bíblico mais restrito que o conjunto de livros

da Septuagint a, se est e era amp lamente util izado pelo s jud eu s tan  to alexandrinos quanto palestinenses?

Objetivos protecionistas

Tudo indica que a definição do Cân on de Jâm nia deveu -se a razões protecionistas. Goodnough afirma o seguinte:

“ju d eu s que tinham sido mai s helenizados to maram se cr istãos,

como fo i dito, enquanto que o rest ante retom ou ao ju daís m o normativo

do qual se separaram, quando muito, apenas superficialmente"

(GOODENOUGH, 1988).

Fatos como a destruição do Tempo de Jerusalém em 70 d.C., a Septuaginta utilizada amplamente pelos Judeus (tanto na Pales tina com em Alexandria), poucos judeus com conhecimento do

hebraico , o grego comu mente utili zado na vida religiosa dos judeu s, o aparecimento das primeiras escrituras cristãs, as conversões de

ju deus ao Cristianismo e etc; todo este conjunto de eventos levou os judeus da Palestina a se protegerem da extinção total de sua

cultura e religião.

Como isso poderia ser feito, sem que fosse necessário restau rar o hebraico na vida comum e religiosa dos judeus, resgatar da

identidade ju da ica e estabel ecer pol íticas que impe dissem o conta to com as Escrituras cristãs?

Não é no mínimo curioso que no final do primeiro século da

Era cristã,

Era cristã, os líderes judeus da Palestina, se reúnam para definir

(56)

critos em hebraico e no território de Israel? Não são estes critérios

(57)

nacionalis tas demais , já que o povo jud eu viveu tanto temp o em Icrra estrangeira, produzindo lá tantos escritos, escritos estes que lambém constavam em uma versão bíblica comumente usada por iodos os judeus, inclusive na Palestina?

E claro que o restabelecimento do hebraico na vida religiosa dos jud eu s nã o poderia se dar de uma hora para outra, m as m edi das de curto prazo loram tomadas para dificultar a pregação da mensagem cristã jun to aos jude us. Novas versões gregas das sa -gradas escrituras judaicas foram produzidas, nas quais as mais conhecidas são as de Áquila, Símaco e Teodocião.

O leitor lembra de Isaías 7,14, que comentamos no capítulo ,interior? Em todas estas versões, no referido versículo, a palavra

grega

“parthenos”

que significa “virgem”, foi trocada por

“neanis”,

que significa “jovem”. Por que esta alteração? Os cristãos usavam Is 7,14 para provar que o Messias viria ao mundo através de um nascimento virginal, o que atestaria sua srcem divina; a alteração posterior feita pelos judeus propiciaria as pessoas a entenderem isto de forma totalmente diferente.

Esta atitude dos judeus palestinenses por causa do Evange lho é confirmada pelo conceituado estudioso judeu, o Prof. Aage Bentzen:

“Contra a Igrej a [cr istãj os ju d eu s sustentavam que Isaías 7,14

não fa la de uma ‘virgem’ (partheno s), mas de um a 'mulher jo v e m ’

(neanis). Os cristãos respondiam acertadamente que a tradução

parthenos provém de tradutores ju deus"

(BENTZEN, 1968). Os judeus da palestina do séc. I d.C. estabeleceram funda mentos que permanecem até hoje. Basta observar o protecionismo

vigente nas atuais comu nidades judaicas. A próp ria palavra hebra ica

“almah”,

hoje é usada pelos judeus não com o significado de “vir gem”, mas como “jovem moça” ou “senhorita”. As traduções de Is

7,14 oriundas d as versões hebraicas traduzem

“almah”

como “j o  vem” e não como “virgem”.

Pelo fato de nunca ter havido disputas doutrinárias entre ju deus alexandrinos e palestinos, antes do Cânon de Jâmnia, a exis tência de testemunhos anteriores a Josefo (prólogo do Eclesiástico

(58)

e Fílon de Alexandria), que atestam o uso de um conjunto de livros canônicos mais amplo do que àquele definido em Jâmnia (evidênci

(59)

as estas corroboradas tanto pelas descobertas do Mar Morto e Massada quanto pelo NT), torna-se mais que óbvio quão arbitrária foi a definição do Cânon de Jâmnia.

Ainda sob a estreita de Rost:

“Não dispomos de informações para dizer quando esta versão

grega deixou de se r usada na comunid ade judaica, pois faltam nos

testemunhos em tal sentido. Como quer que seja, por volta do ano

100 d.C., segundo o que se lê na Mixná, só os textos escritos em

hebraico gozaram normativamente do caráter sagrado e, por conse-

guint e, só ele s podia m ser usados no cu lto. É impossível sab er quan-

do e de que modo esta norma se impô s. S eja com fo r, a comunidade

cristã de srcem grega, utilizava a coletânea grega mais extensa dos

livros sagrados, tal como encontramos nos unciais23 mais antigos B e

A, em vez da coletânea he braica, fix a d a através de m edidas restri ti-

vas"

(ROST, 1980, p.20-21).

Alguns cristãos dos primeiros séculos viajaram para a Pales tina a fim de verificar qual era a lista dos livros sagrados do AT. Seus testemunhos24 nos mostram que o Cânon de Jâmnia não foi aceito de imediato na Palestina.

Tudo isto é mera coin cidên cia ou estratégia deliberada?

Que implicações o Cânon de Jâmnia trouxe à Igreja Cristã?

O leitor se lembra do testemunho de Josefo a respeito das Escrituras Hebraicas? Neste momento quero chamar sua atenção para dois pontos importantes deste testemunho.

Primeiramente vejamos o seguinte trecho:

“D e Artaxerxes à nossa épo ca, todos os eventos fo ra m anota -

dos,

mas não são co ns i de r ados di g no s de ig ual cr édi to ao r

es-tante por que não h ouve uma s uce ss ão pr eci s a de pr ofetas ”

(grifos meus).

Os livros que foram escritos depois de Artaxerxes (depois do tempo do Profeta Esdras), Josefo não os menciona como livros con trários à Tradição Judaica, apenas diz que

“não são considerados

(60)

73 Manuscri tosem letra smaiú scu las.

24 Estes te stem un ho s sãot ranscritos no capít ulo5. Veri ficarM elitãodeSardese Orígenes.

(61)

dignos de igual crédito ao restante" . Para ele, este conjunto de livros possuía uma certa dignidade, embora fosse em grau menor que os livros escritos antes do tempo de Esdras.

Note o leitor que a distinção que Josefo faz destes livros em relação aos protocanônicos, não é doutrinária, mas canônica. Ele não afirma que os livros depois do tempo de Esdras não são canônicos porque continham algo alheio à doutrina que Deus con-llou aos judeus, ele não associa esses livros a conteúdo herético.

Já que para ele depois do tempo de Esdras “não houve uma suce ssão prec isa de profe tas", o mesmo entende que não há garan-tla de que os livros escritos depois deste período, tenham sido es

critos sob inspiração divina. Por isso afirma que estes livros “não

■■rioconsidera dos dignos de igual crédito ao restante porq ue não houve uma sucessão precisa de profetas”.

Josefo não tinha plena certez a se a Revelação de Deus havia cessado após o tempo de Esdras, mas nós cristãos sabemos que

não, ou não acreditaríam os hoje nos li vros do N T e nem n o M inisté-i Io dos A pós tolo s.

Alguém poderia objetar dizendo que o testemunho de Josefo Ncrve apenas p ara o AT. O próprio Cristo afirmou que a An tiga A li ança durou até o Ministé rio de Jo ão B atis ta (cf. Mt 11,13; Lc 16,16). Knquanto Josefo encerra a Revelação do AT ao tempo do Profeta

Esdras, o Nosso Senhor afirma que durou até o tempo de João

I ia lista. O Cris tão deve ficar com o tes tem un ho de Flávio J os efo ou iIo Senhor Jesus?

Portanto, as palavras de Jesu s anu lam o critéri o de Josefo em i Icte rminar quan do a Revelação da An tiga Aliança cessou. Fica bem clara a possibilidade de haver livros canônicos, referentes ao AT, posteriores ao tempo do Profeta Esdras.

Tendo visto que até meados do séc. I d.C., o cãnon das Escri-l nras Hebraicas ainda estava em aberto, a qu em pertence a Autori-. IAutori-.ide para definir tal lista? Ao s jud eu s que já não eram Povo de I icus, ou à Igreja Cristã, en tão he rdeira da Nova e Etern a Aliança?

Como os cristãos dos primeiros séculos entendiam esta ques-l .i&ques-lt;>? É o qu e .ver em os no próx im o cap ítuques-lo .

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CAPÍTULO 5

Quais foram os livros considerados

canônicos pelos primeiros cristãos?

G

rande era o material literário disponível para primeiros cris tãos, no que respeita à manutenção da Fé. Pelo fato de Jesus c os Após tolos utiliz arem a versão grega da Septuagi nta, esta tam  bém passou a ser de uso da nascente Igreja Apostólica (KELLY,

1978; SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, v).

No i nício do pri m eiro século já estavam disponíveis as ep ís tol as pa ulina s e outras ca rtas entã o cham adas “c at ólic a s”25 como: as primeiras epístolas universais de Pedro e João. Na

segunda metade deste mesmo século, ficaram disponíveis os 4 Kvangelhos, a epístola universal de Tiago, as segundas epísto las de Pedro e João, a terceira de João, a carta aos Hebreus e o livro do Apocalipse. Com a definição do Cânon de Jâmnia (no

llnal do s éc. I), l evan tou-se na Igreja nascente um a dú vida quan to .i canonicidade dos livros do AT que não encontravam corres

pondência em tal cânon. Por conseqüência esta dúvida se es-tcndeu aos livros cristãos que a eles faziam referência. O questionamento a estes livros da literatura cristã, produzidos cm período apostólico (séc. I), deu margem para que outros li vros do mesmo período também fossem questionados pelas ra zoes mais diversas. Esta motivação se deu principalmente pelo

surgim ento do s prim eiros gr u pos sec tários, com o o s ludaizantes26 e gnósticos27, onde estes últimos produziam sua própria literatura.

E com oeram chamadaspelos  cri stãosprimit ivosas  Epíst olasdePedr o, Joã o, Judase 

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A questão dos livros canônicos foi ainda mais agravada pelo fato de que os Apóstolos não deixaram para a Igreja tal definição; e na verdade nem poderiam tê-lo feito.

Em At 12,1-19 lemos que Tiago (irmão de João) foi morto à espada por Herodes. Sua morte se deu antes mesmo da conversão de Paulo, e são as epístolas paulinas as escrituras mais antigas do NT. Portanto, Tiago nem sequer conheceu qualquer escritura do NT. Paulo e Pedr o morrem em Roma, sob o reinado de Nero, apro xi madamente em 45 d.C. Neste tempo não estavam disponíveis ain da nenhu m do s 4 evangelhos. Os demais Ap ósto los foram evang elizar nos lugares mais longínquos da Terra (por exemplo, Mateus na

Etiópia, Tomé na índia, etc). Até o séc. III, os cristãos das regiões bárbaras ignoraram a existência de qualquer um dos livros do NT (IRENEU, 1995, p. 252-254).Com a morte de todos os Apóstolos, já no início do segun do século, seus discípulos assumem seu Ministério, confirman do toda a Igreja na Doutrina Apostólica que receberam pessoal mente de seus mentores. Neste período começaram a aparecer seus próprios escritos. Dentre eles se destacam a Primeira Car ta de Clemente aos Coríntios, as sete Cartas de Inácio de An tioqu ia, as Cartas de Policarpo de Esmirna, as cartas de Pápias

de Hierápolis e etc. Muitas destas cartas eram recebidas como canônicas pelos fiéis28.

Como se vê, o conjunto de livros que deveriam ser considera dos canônicos, pela Igreja Cristã, ainda era uma grande interroga ção nos primeiros séculos.

A literatura oriunda dos grupos herét icos com eçou a conlun-dir o s pri me iros crist ãos, porqu e estas l hes eram a presentada s como escrituras oriundas dos Apóstolos (ex: o Evan gelho de Tomé, o Evan  gelho de Filipe, etc.); e aos poucos foram tomando lugar nos estu dos catequéticos e nas celebrações de culto.

26 Cris tãosquecontinuavam aobservara  Leide Mo isés. É porc aus adelesque osapóstol os

sereúnem  em Jerusal ém cf.At ,15.

21 Cris tãosseguidoresda  here sia gnóst ica  ouGnose , queensi nava  quea  matéri a é rui m e

queporissoomundofoicriadoporumdeusdecaído. 28 Conform eap resentadonocapítul o5.

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É neste contexto, que a literatura cristã pós-apostólica cres ceu de forma expon encial, pois vários textos em defesa da antiga Fé Apostólica foram produzidos contra os grupos heréticos. Nesta dis puta, um tema que não poderia faltar, é claro são os livros que deveriam ser considerados canônicos.

Através dos escritos antigos que se conservaram até nosso lempo, vejamos qual foi o testemunho dos primeiros cristãos sobre 0 conjunto dos livros sagrados.

Testem unhos do séc II I. Melitão de Sardes

O testemu nho individu al mais antigo que se t em notícia sobre as Escrituras é o de Melitão, Bispo de Sardes. Conforme uma cita ção de uma c arta de Polícrates ao Papa Vitor, M elitão é “continente, vivendo todo no Espirito”. Sabe-se que endereçou uma apologia em favor dos cristãos ao Imperador Marco Aurélio. Visitou os lugares santos para estudar o cânon do AT.

Seus escritos se perderam com o tempo. No entanto, seu tes temunho sobre as Escrituras Sagradas foi preservado por Eusébio de Cesaréia em sua “História Eclesiástica”. Segundo Eusébio, no Início do prefácio da obra “Éclogas”, desta forma Melitão relaciona os livros canônicos do AT:

“Melitão a Onésimo, seu irmão. Saudações, Visto que muitas veze s m anijestaste o dese jo, inspi rado pelo zelo relativamente à d ou- trina, de poss uir extr atos da Le i e dos profetas sobre o Sa lvado r e o conj unto de nossa fé , e ainda quisest e conhecer com exatidão o nú- mero dos antigos livros e a ordem que seguem, dediqueime a tal tarefa, uma vez que conheço teu zelo pela f é e tua aplicação ao estu - do da doutri na. O Am or de Deus sobretudo fa z com que o apreci es, enquanto lutas tendo em mira a salvação eterna.

Tendo ido, portanto, ao Oriente e tendo estado até mesmo no lugar onde a Escritura fo i anunciad a e cumprida, tive exato conhe - cimento acerca dos livros do antigo Testamento. Levantei uma lista, <iue te envio. São os s eguintes os seus nomes: d e Moisés cinco livro s: Gênes is, Êxodo, N úmeros, Levíti co, D euteronômio; Jesu s Nav é [Jos ué], Juiz es, Ruth; qu atro l ivros dos Reis [I e II Samuel e l e II Reis], dois dos

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1'aralipômenos [I e II Crônicas]; Salmos de Davi, Provérbios ou Sabe-

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doria de Salomão; Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Jó; projetas:

Isaías, Je rem ias29 e os Doz e nu m só livro; Daniel, Eze quiel, Es dra s30. Destas obras extraí alguns trechos, que distribuí por seis livros

“(EUSEBIO, 2000, p. 214-215).

Dos livros que loram recusados pelos judeus da Palestina, Melitão menciona apenas Sabedoria.

A R eferência ao título geral “ Jer em ias” conform e a Septu aginta estavam organizados os livros de Jeremias, Baruc, as Lamentações e a Epístola de Jeremias.

Pela expressão “os Doze num só livro” ele refere-se aos doze profetas menores, a saber, Oséias, Amós, Miquéias, Joel, Obadias, Jonas, Naum , Hab acu que, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaqu ias.

M elitão não relac iona o l ivro de Ester entre o s livros canôn icos.

2. São Just ino de R om a

Justino viveu entre os an os 100 e 165, na cidade de Roma. Tra balh ava dirigindo uma escola de filosofia. É considerado o m aior

defensor da Fé Cristã do séc. II contra as perseguições promovidas pelo Imperador. De sua primeira obra escrita ao Imperador é que encontramos seu testemunho sobre os livros sagrados:

“31. Entre os jud eu s, houve profetas de Deu s, através d os quais o Espírit o proféti co anunciou antecipadamente os acontec imentos f u - turos, e os rei s, que segun do os tempos se suce deram entre os j u - deus, apropriandose de tais profecias, guardaramnas cuidadosa- mente tal como for a m ditas e tal como os próprios profetas as con sig- nara m em seus liv ros, escritos em sua própria língua hebrai ca. Quan do Ptol omeu, rei do Egi to, se preocupou em form a r um a bibli otec a e nela reunir os escritos de todo o mundo, tendo tido notícia dessas profecias, mandou uma embaixada a Herodes, que en tão era rei dos ju deus, pedin dolhe que mandasse os livros deles. O rei Herodes

mandou os livros, como dissemos, em sua língua hebraica. Todavia,

29 Conforme veremos nestem esm o capítulo, sobo tít ulogera l"Je rem ias" estav am

organi zadoso Liv rode  Jeremias,  as Lam entações deJeremias, Bar uc ea Epís tolade

Jeremias.  Ist oporqueos cri stãosadotarama  mesm a org ani zaç ãopresentena 

Sep tuagintaeque figuramnas Bíblias  Cat ólica  e Ortodox a.

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Referências

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