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5 th Brazilian Conference of In form ation Design. Graphic design, graphic memory, newspaper Posição, graphical analysis

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Academic year: 2021

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Memória gráfica do Jornal Posição Graphic memory of newspaper Posição

Thiago Luiz Mendes Dutra, Letícia Pedruzzi Fonseca

Design gráfico, memória gráfica, jornal Posição, análise gráfica

Os elementos gráficos, aspectos técnicos e atributos físicos do jornal capixaba Posição revelam ângulos da memória coletiva e apontam sua identidade gráfica ingerida pelo regime militar que singularizou o Brasil e o Espírito Santo dos anos de 1970. Seu discurso contestador nesse ínterim de circulação é patente também em suas alternativas estéticas, constatadas através de uma análise gráfica minuciosa desenvolvida durante dois anos de pesquisa. Esse artigo resume aspectos tangentes na intercessão entre sua trajetória gráfica e histórica que evidenciam a contribuição da memória gráfica para preservação e amparo da memória coletiva brasileira.

Graphic design, graphic memory, newspaper Posição, graphical analysis

The graphics, technical and physical attributes of the capixaba newspaper Posição reveal angles of the collective memory and show a graphic identity influenced by the military regime that singled Brazil and the state of Espírito Santo in the 1970s. It's contesting ideology trougth it's circulation is also evident in it's aesthetic alternatives, established through a graphical analysis developed during two years of research.

This article summarizes aspects tangents at the intersection between graphical and historical trajectory that highlight the contribution of graphic memory and support for the preservation of the collective memory Brazilian.

1 Metodologia de análise gráfica do jornal Posição

Após a localização e contato com aspectos tangíveis do acervo localizado na Biblioteca Pública Estadual Levy Cúrcio da Rocha (BPES) na Enseada do Suá (Vitória-ES), a metodologia de pesquisa que estruturou a análise gráfica do Posição partiu do registro fotográfico das páginas de cada edição, analisadas através de um questionário online relativo a aspectos familiares ao design (tais como mancha gráfica, capa, ilustrações, publicidades, dados técnicos e históricos).

Esse instrumento foi denominado como Ficha de Registro de Elementos Gráficos e

Técnicos (FREGT) e monitorou o comportamento gráfico da publicação, codificando-o

automaticamente em uma planilha digital, que recebeu o nome de Inventário dos Elementos

Gráficos e Técnicos (IEGT). A trajetória gráfica do jornal foi interpretada através de saídas

estatísticas sobre as recorrências e exceções das variáveis registradas. Por fim, as

constatações foram postas à luz de seu contexto histórico detalhado através de entrevistas já realizadas com ex-integrantes da redação e livros de história, estabelecendo um elo entre design e memória coletiva.

2 Afinidade gráfica com congêneres

Atravessando um período de cassação dos direitos civis, típicos de regimes de exceção na América Latina, nasceu o jornal Posição, a própria voz de resistência à ditadura no estado do Espírito Santo, circulando entre 1976 e 1979. Sob a direção de Rogério Medeiros e Pedro Maia e assumindo o projeto gráfico de Jô Amado, Posição chegou a atingir uma tiragem de 12 mil exemplares. O mini-tablóide era composto e impresso em Minas Gerais driblando a censura e

Anais do

6º Congresso Internacional de Design da Informação 5º InfoDesign Brasil

6º Congic

Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.)

Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI Recife | Brasil | 2013

Proceedings of the

6th Information Design International Conference 5th InfoDesign Brazil

6th Congic

Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.)

Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI Recife | Brazil | 2013

CIDI 2013

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os altos valores envolvidos em sua produção sustentada especialmente pela colaboração de simpatizantes da causa.

Entre 1964 e 1985, especialmente após a criação do AI-5

1

emergiram em todo país

publicações alternativas dotadas de uma espécie de 'estética do feio'

2

, que garantia o aspecto marginal dessas publicações, sem o qual seriam inevitavelmente vetadas pela censura prévia.

O que se observa através de suas identidades gráficas é a dificuldade que publicações alternativas enfrentaram ao colocar a imaginação a favor de alternativas gráficas,

representando muito mais um jeito encontrado de adaptar-se à ditadura do que uma resposta a uma demanda por originalidade. Kucinski afirma que o jornal Posição representou 'também uma tentativa de criar um espaço de trabalho em cidades muito próximas ao eixo Rio-São Paulo, invadidas pelos jornais enviados das grandes cidades' (KUCINSKI, 1991: 62) suscitando a ideia de que essa 'estética do feio' evidente também nas páginas do Posição , brotou

especialmente da preocupação em assemelhar-se aos cariocas e paulistanos de mesma linha editorial tidos como referenciais na época. Declarações de diretores e editores do jornal Posição ao historiador Lino Resende reforçam essa hipóteses quando afirmam que Posição nunca sofreu retaliação da censura oficial: os depoimentos relatam que através o AI-5 a redação no máximo recebia pedidos expressos da Polícia Federal para que não se publicasse determinados conteúdos (RESENDE, 2005: 25).

Apesar disso é palpável a relação estética do jornal Posição com seus congêneres, tal qual o jornal alternativo paulistano Movimento

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, lançado em 1975 e tomado como parâmetro de comparação quando a análise gráfica foi desenvolvida. Esteticamente e prospectivamente, a relação entre o paulistano Movimento e o capixaba Posição é suficiente para descortinar um cenário mais abrangente, que salienta uma identidade gráfica de gênero constatada através da intercessão de familiaridades relativas ao design, também evidentes em outras publicações. O que sobra, são aspectos gráficos identitários sortidos de regionalismos somando nuances de uma identidade gráfica ímpar, porém, ainda alinhada a esse gênero de publicação. Sob a ótica do design, seu pertencimento à mesma categoria de congêneres paulistanos e cariocas é um contraponto à sua identidade gráfica regional que ainda assim se fundem formulando uma publicação única da história gráfica brasileira.

Os gráficos gerados a partir da IEGT revelaram que, graficamente, a trajetória do Posição pode ser classificada em duas fases. Entre outubro de 1976 e abril de 1979, o jornal experimenta sua primeira fase exibindo uma proposta visual impactante e consolidando uma identidade gráfica despojada de normatizações a não ser em aspectos específicos tais como a composição do texto. A outra fase, inaugurada em maio de 1979, surge de uma tentativa frustrada em resgatar a publicação das dívidas que tinha contraído para sua produção. As 13 edições derradeiras apresentaram um novo projeto gráfico mais sóbrio destoante de seu caráter alternativo e contestador inicial que, a essa altura, já havia misturado-se a outras causas. Especialmente o endividamento, o fim da censura prévia (que abriu caminho para a grande imprensa noticiar o que antes lhe era impedido), e as constantes reestruturações dentro da redação, encerraram sua história em setembro de 1979.

Através de seus aspectos estéticos, Posição revela uma identidade gráfica latente de perspectiva díspar. O olhar do design agrega novas informações aos resultados de pesquisas como a dissertação de mestrado intitulada Mídia, ditadura e contra-hegemonia (Resende, 2005) e os livros Impressões capixabas (Martinuzzo, 2005) e Quase 200 (Martinuzzo, 2008).

3 Uma identidade gráfica ímpar

Em linhas gerais, o periódico capixaba salta aos olhos pelas características marcantes de seu projeto gráfico a começar pelo seu logotipo que utiliza a alegoria de um muro de tijolos como símbolo de resistência (Figura 1). Em termos de diagrama há um protocolo insistente na composição de páginas tão sérias quanto seu teor jornalístico, característica marcante também

1 Ato institucional número 5, um instrumento de fiscalização de notícias veiculadas pela imprensa brasileira.

2 O termo é utilizado por Bernardo Kucinski, Jornalistas e revolucionários ao qualificar a estética desse gênero de publicação.

3 Cuja memória e acervo foram reunidos no livro Jornal Movimento: uma reportagem (Azevedo, 2011).

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em outras publicações. Há ornamentos funcionais dentro de um diagrama organizado e modular que oferecem versões visuais de um jornal dirigido por jornalistas (Figura 2). Além disso, a variedade e densidade tipográfica assume valores distintos nos títulos e anúncios publicitários impressionando e transmitindo o próprio vigor ideológico do jornal (Figura 3). As capas, funcionam como cartazes, assumindo um caráter panfletário através de suas soluções gráficas impactantes e dramáticas cujas combinações compositivas denunciavam os absurdos da repressão (Figura 4). A utilização do preto e do vermelho como cores principais do jornal, por vezes assumem páginas e capas inteiras, manifestando através da propriedade obscura de suas matizes, certo sentimento de luto, violência e negação (Figura 5).

Figura 1: Versões do logotipo do jornal Posição (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha).

Figura 2: Composição de texto em corpo 9 ou 10 em três ou quatro colunas, exemplos mais recorrentes de

diagramação (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha. Respectivamente: página 10 da edição nº6 e páginas 3 da edição nº9).

Figura 3: Alguns exemplos de tipografias utilizadas em títulos e publicidades (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha).

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Figura 4: Capa das edições nº23, nº35 e edição especial de fevereiro de 1979 do jornal Posição (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha).

Figura 5: Predomínio das cores preto e vermelho nas edições. (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha. À esquerda, página 3 da edição nº27. Ao centro, capa da edição nº45. À direita, página 11 da edição nº57).

Da mesma maneira há de se exaltar a criatividade colérica dos chargistas e caricaturistas

capixabas que retratavam com ironia o cotidiano da ditadura militar decretada no burlesco 1º de

abril de 1964, associação infeliz da qual nunca se livrou. Afora o caráter marcante de suas

ilustrações, a média geral durante toda a história do jornal aponta que a ilustração é um recurso

presente em cerca de 37% dos registros imagéticos. Nelas a recorrência de alegorias visuais

que traduziam sua militância frente à repressão e a favor da anistia e restauração dos direitos

civis multiplicam-se através da imagens de punhos cerrados, muros, retratações cômicas de

autoridades militares que criaram um universo visual característico desse estilo de publicação

(Figura 6).

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Figura 6: Exemplos de ilustrações encontradas nas edições do jornal Posição (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha. Da esquerda para direita, respectivamente, ilustrações extraídas das edições nº15, nº23, nº32 e nº37).

Em sua segunda fase, os valores estéticos tanto do diagrama quanto a capa são achatados partindo da ideia de que um projeto gráfico mais sólido poderia alavancar as vendas que entraram em declínio. As capas passam a apresentar um aspecto modular, com forte presença de texto e utilização de cores diferentes do usual preto e vermelho, para destacar apenas partes específicas da composição (Figura 7). O diagrama assume uma borda de cantos arredondados como padrão para todas as páginas do miolo e uma única tipografia sem serifa para corpo de texto e título, entre outros aspectos normativos. As ilustrações ganham uma seção exclusiva sempre presente na página 12, a exemplo da seção 'Corta Essa!' do paulistano Movimento, afetando o papel arrojado que desempenharam na primeira fase quando figuravam entre as matérias do jornal ilustrando-as e dinamizando a leitura (Figura 8).

Figura 7: Capa da edição nº55, mostrando o achatamento do projeto gráfico da publicação (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha).

Figura 8: Seção de ilustrações, sempre na última página do periódico (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha. Imagens da página 12 das edição nº53, 56 e 57).

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O valor que essa publicação capixaba assume em sua incursão histórica é notável em suas características gráficas, que a promovem a objeto da memória gráfica brasileira. Além das generalidades pontuadas até aqui, há uma relação direta entre seu aspecto gráfico e seu contexto histórico, marcado por escândalos e denúncias, que dramatizaram determinadas edições, atribuindo-lhes diferentes valores que desdobraram-se em adaptações inusitadas do projeto gráfico ao design de edições especiais, encartes, capas e recursos visuais genéricos.

Um exemplo disso é a capa da edição nº14, cujos originais foram apreendidos pela polícia mineira no dia 7 de junho.

Figura 9: Edição extraordinária nº14, noticiando a apreensão feita pela polícia mineira dos arquivos originais da publicação (Acervo da Biblioteca Pública do Espírito Santo Levy Cúrcio da Rocha).

O estudo dessa publicação capixaba revela um pedaço importante da história gráfica brasileira no estado do Espírito Santo em um momento em que publicações alternativas exercem um papel fundamental de contestação à ditadura militar. Há de se relevar ainda, a importância desse perfil de pesquisa relacionado à memória para o fortalecimento e construção do conhecimento em relação aos primórdios do design, sem o qual, seria um campo sem horizontes para projeções relacionadas ao futuro e sujeito ao esquecimento.

Referências

AZEVEDO, Carlos (coord.). 2011. Jornal Movimento: Uma Reportagem. São Paulo: Manifesto Editora.

KUCINSKI, Bernardo. 1991. Jornalistas e Revolucionários. São Paulo: Editora Escritta.

MARTINUZZO, José Antônio (org.). 2008. Quase 200: a imprensa na história capixaba. Vitória:

Departamento de Imprensa Oficial do Espírito (DIO), 265p.

___________. Impressões capixabas – 165 anos de jornalismo no Espírito Santo. 2005. Vitória:

Departamento de Imprensa Oficial do Espírito Santo (DIO), 404p.

RESENDE, Lino Geraldo. 2005. Mídia, ditadura e contra-hegemonia. Dissertação de mestrado.

Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-graduação em História, Mestrado em História Social das Relações Públicas. Vitória, 173p.

Sobre os autores

Thiago Luiz Mendes Dutra, Bel., UFES, Brasil <thiagomanauara@gmail.com>

Letícia Pedruzzi Fonseca, Dra., UFES, Brasil <leticia.fonseca@ufes.br>

Referências

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