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NEGOCIAÇÃO COLETIVA A NíVEL DE EMPRESA *

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Academic year: 2021

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NEGOCIAÇÃO COLETIVA A NíVEL DE EMPRESA *

LÚCIA HELENA DO PASSO CABRAL * *

1. Fase preliminar - da negociação coletiva a nível de empresa; 2. Fase de pesquisa; 3. Fase final - con-

clusões.

1. Fase preliminar - da negociação coletiva a nível de empresa

A negociação coletiva tem sido objeto de uma atenção especial no campo do direito do trabalho e, sob um novo enfoque, está atraindo os juristas, como por exemplo Orlando Gomt:s. sustentando que "a mesa de negociações é um instrumento civilizado para rt:sol ver os conflitos das condições de tra- balho", dando-se às partes liberdade para que elas mesmas resolvam seus problemas.

O diálogo entre as grandes empresas e os trabalhadores se dá em países nos quais se atinge alto grau de desenvolvimento - como na França e nos EUA - e a privatização do direito coletivo é a tendência marcante das legis- lações trabalhistas dos principais países do Ocidente.

Ao escolhermos como nosso tema de estudo a negociação coletiva a nível de empresa, tivemos um único objetivo: estudar a matéria atentamente, apre- sentando aqui um apanhado de dados sobre o assunto e levantando questões e problemas acerca do tema, tais como:

1. O modelo de negociação coletiva adotado em outros países seria o conve- niente para o Brasil?

2. A negociação coletiva a nível de empresa seria um embrião de plurissin- dicalismo?

3. O regulamento concordado deve abranger todos os trabalhadores daquela unidade da empresa, ou somente os empregados sindicalizados?

4. Esse regulamento deve ser uniforme para todos os trabalhadores daquela empresa ou deve variar segundo a categoria profissional?

5. E se houver uma transgressão desse regulamento, que sanção deve ser adotada?

Segue-se a nossa fase de pesquisa.

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presente trabalho, apresentado ao Curso de Direito do Trabalho, Processo Traba- lhista e Previdência Social, promovido pelo Centro de Atividades Didáticas do INDIPO, em 1984, mereceu a nota máxima e está sendo publicado por decisão do Conselho Editorial da Revista de Ciência Política.

•• Advogada.

R. C. poI., Rio de Janeiro, 27(3):88-92, set.! dez. 1984

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2. Fase de pesquisa

o nosso tema tem, como ponto de partida a convenção coletiva de tra- balho. Isto porque a convenção coletiva de trabalho é o gênero que abrange a espécie, acordo coletivo de trabalho, do qual a negociação coletiva a nível de empresa é uma modalidade.

2.1 Convenção coletiva de trabalho

1: o acordo intersindical, no âmbito das categorias representativas. No dizer de Délio Maranhão, "é a solução por via de acordo, dos interesses coletivos de grupos ou categorias, através do estabelecimento de normas e condições de tra- balho reguladas, durante o prazo da respectiva vigência, das relações indivi- duais entre os integrantes ou grupos convenentes".!

Pressupõe a convenção coletiva a existência de um grupo, considerado como tal, que substitui o indivíduo nas negociações com o empregador, para o ajuste das condições da prestação de trabalho, e buscando a solução convencional ou processual de conflitos de interesse coletivo.

Não vamos aqui nos ater às infindáveis discussões teóricas acerca da natu- reza jurídica das convenções coletivas. Parece-nos relevante apenas ressaltar que, historicamente, a convenção coletiva nasceu no campo do direito privado, regulando relações de direito privado: o Estado praticamente a ignorava. En- tão, é compreensível que os juristas procurem explicá-la pela figura do contrato.

Mas, seguindo a lição de Duguit, "todo contrato é uma convenção, mas há muitas convenções que não são contratos, que, outrossim poderiam ser cha- mados de uniões - duas ou mais pessoas se ajustam sobre um ponto deter- minado - mas como conseqüência desse acordo não se vê surgir uma situação jurídica subjetiva, uma relação individual entre credor e devedor; percebe-se, ao contrário, o nascimento de uma regra permanente ou, então, de uma si- tuação jurídica objetiva. Não se pode dizer que haja contrato. O aspecto exterior do ato é contratual, a substância não".2

A convenção coletiva é, pois, uma figura especial, sui generis, ao mesmo tempo normativa e contratual, segundo Délio Maranhão "um contrato-ato- regra" .3

2.2 Acordo coletivo

1: uma convenção coletiva de âmbito normativo reduzido, celebrado entre os sindicatos representativos da categoria profissional econômica, visando a esti- pulação das condições de trabalho aplicáveis no âmbito da empresa ou das empresas.

1 Maranhão, Délio. Direito do trabalho. 11. ed. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getulio Vargas, 1983. p. 309.

2 Duguit, Leon. Traité de droit constitutionnel. Paris, Baccard, 1927. p. 322.

3 Maranhão, Délio. op. cito p. 314.

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o campo de aplicação do acordo coletivo é menor que o da convenção cole- tiva, vez que atinge apenas os empregados das empresas acordantes.

O acordo coletivo é uma espécie de convenção coletiva.

2.3 Negociação coletiva

A nível de empresa é, intuitivamente, uma modalidade de acordo coletivo.

Pode ser definida como um método, um procedimento, segundo Orlando Go- mes como "uma técnica através da qual se pretende constituir um regulamento coletivo de condições de trabalho, quer seja para a própria criação deste regu- lamento, ou para sua substituição ou alteração, simplesmente".4

Sendo a negociação coletiva a nível de empresa um método através do qual os trabalhadores possam reivindicar os seus direitos, pleitear condições de trabalho - expresso através de um regulamento firmado, diretamente, pelos trabalhadores e os órgãos da empresa - poder-se-ia dizer que correspondem às tratativas ou negociações preliminares, aos entendimentos para a realização dos contratos CÍveis.

Examinando o direito comparado, verificamos dois modelos aos quais as negociações coletivas obedecem:

a) o primeiro é o modelo autoritário, estatizado, publicista, carregado de in- tervenção estatal;

b) o segundo é um modelo autárquico, no qual é quase nula a intervenção do Estado, existe maior privatização das negociações - e é neste sentido que se desenvolve toda a tendência da moderna contratualística e que repre- senta uma reação contra o autoritarismo estatal.

2.4 Categoria profissional - os sindicatos

Como bem observa o mestre Orlando Gomes, examinando o art. 611 da CLT e seus parágrafos, "se pretendeu neste dispositivo legal contornar nitida- mente a figura da categoria profissional - é uma norma jurídica, mas exa- minada a fundo, verifica-se a intenção do legislador em definir a categoria profissional" .

A similitude das condições de vida compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profissional, porém o vínculo social básico de profissão pode criar certas dificuldades na criação de regulamentos coletivos (art. 611, § 19 , CLT).

À medida que o direito do trabalho foi evoluindo, surgiu a necessidade de se saber que limites teriam estas entidades - os sindicatos - como também de se saber que competência teriam para firmar acordos, bem como até que ponto esses preceitos obrigariam as categorias representadas.

4 Gomes, Orlando. Palestra proferida no IV Congresso Brasileiro de Direito Social, em 17 de maio de 1984, na Faculdade de Direito da USP.

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2.5 Autonomia privada coletiva

Então, para se explicar a atuação dessas entidades, passou-se a estudar, ao lado da autonomia privada, a autonomia privada coletiva, que é o poder reconhecido a certas pessoas jurídicas de direito privado (como os sindicatos ou outras organizações de trabalhadores) de auto-regularem seus interesses, me- diante um acordo de vontades com a outra parte (o sindicato patronal ou a outra organização de trabalhadores).

Através da autonomia privada coletiva, explica-se também o poder de coação de tais normas acordadas, exigindo-se a estrita observância das cláusulas esta- belecidas nos acordos coletivos, pelo seu exercício.

E ainda, pelo estudo da autonomia privada coletiva, compreende-se a in- fluência desta nas relações de direito individual, vez que não há possibilidade de revogação individual das normas estabelecidas através da autonomia coletiva.

Conclui-se, pois, que a autonomia coletiva é um conceito em moda para explicar a atuação dos trabalhadores e empregadores na realização dos acordos coletivos, estando eles próprios regulando, dirigindo seus interesses.

2.6 Regulamento coletivo

Surge, então, a figura do regulamento coletivo, procedente de um acordo que tem como fonte a vontade das partes expressadas através do contrato - esse regulamento coletivo é um complexo de cláusulas negociais que regem, num ato só, as condições de trabalho de uma pluralidade de trabalhadores, que serão subordinados a um mesmo regime jurídico.

O regulamento coletivo pode ter várias procedências: a) pode decorrer de uma lei - aqui então, será um regulamento imposto, autoritário, legal; b) pode provir também de uma sentença normativa - caso em que também será imposto; c) pode ainda resultar do acordo, do encontro de vontades, como em qualquer contrato - e este é que se caracteriza como um verdadeiro regulamento, pois exige-se que as partes interessadas em firmar, elaborar, amol- dar seus interesses, o façam através de um acordo coletivo.

Dentre esses regulamentos, o que nos interessa examinar é justamente o regulamento coletivo, que é fruto de um concurso de vontades das partes, ainda que esta vontade seja representada pelo sindicato da respectiva cate- goria profissional.

2.7 Regulamento concordado de empresa

Consagrado pela legislação espanhola, que reconhece os acordos coletivos de empresa, firmados diretamente pelos empregados, onde não houver a res- pectiva associação de classes.5

5 Segadas Vianna. Instituições de direito do trabalho. 8. ed. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1981. p. 1.053.

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Os regulamentos concordados são elaborados de modo direto e imediato, ao contrário daqueles em que há participação dos sindicatos, e é necessário não confundi-los.

Cumpre também distinguir o regulamento concordado de empresa do con- trato coletivo de trabalho, vez que estes são caracterizados por disposições que vão, futuramente, fundamentar outros contratos que virão a ser celebrados;

as normas coletivas têm caráter de lei, as cláusulas regulamentares não têm tal característica.

3. Fase final - conclusões

Após este breve estudo da matéria, entendemos que existe uma necessidade de afastar as negociações coletivas do paternalismo estatal, que abraça, dirige e determina as condições e o procedimento das convenções e acordos coletivos.

Em nosso sistema, é preciso, para se usar a expressão em moda, democra- tizar as negociações coletivas; deve-se impregnar a negociação coletiva do espírito do direito privado, do espírito da negociação das partes - espírito este que pode ser materializado através do regulamento concordado de em- presa, firmado diretamente pelos interessados, pelos trabalhadores.

Todavia, o acolhimento do regulamento concordado de empresa não signi- fica o afastamento, o alijamento das entidades sindicais das negociações coletivas.

Somos de opinião que os sindicatos devem deter o monopólio da negociação coletiva; porém, em não existindo representação sindical ou seção sindical dentro da empresa, deve-se processar a negociação através de outros grupos representativos de trabalhadores, eleitos internamente na empresa.

Concluímos, então, que a palavra de ordem é privatização, ou melhor, reprivatização da negociação coletiva a nível de empresa, pois este é o ca- minho da composição - e não havendo negociação ou acordo, fatalmente as partes terão que recorrer ao Judiciário.

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