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Acordam, em conferência, os juízes no Tribunal da Relação do Porto

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 86/13.8YRGMR-B.P1 Relator: JOSÉ CARRETO

Sessão: 29 Abril 2015

Número: RP2015042986/13.8YRGMR-B.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: REC PENAL Decisão: PROVIDO

REVISÃO E CONFIRMAÇÃO DE SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA

CÚMULO JURÍDICO PENA ÚNICA

Sumário

No caso de revisão e confirmação de sentença penal estrangeira referente a vários crimes em situação de concurso, deve-se, em conformidade com o Ordenamento Jurídico Português, realizar o respetivo cúmulo jurídico das penas em que o arguido foi condenado.

Texto Integral

Proc. 86/13.8YRGMR-B.P1 TRP 1ª secção Criminal

Acordam, em conferência, os juízes no Tribunal da Relação do Porto

O Ministério Público junto deste Tribunal requereu a Revisão da Sentença Penal Estrangeira em que é arguido:

B…, nascido em 16/10/1987, na freguesia … concelho de Felgueiras, filho de C…, com última residência em Portugal na Rua …, …, …, Felgueiras e

actualmente preso no Centro Penitenciário de Alma Pontevedra, com o nº

………., Espanha, Porque:

- Pelo acórdão nº 18/2013 proferido no processo nº 257/20014-E pelo Tribunal Penal nº7 de Bilbao, Espanha e transitada em julgado, o arguido foi

condenado, pela prática como autor de um crime de roubo com força em casa habitada p.p. pelos artºs 237, 238º1, 240 e 241, 1 e 2 Código Penal Espanhol,

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com a atenuante da toxicodependência do artº 21º2 CPE, na pena de 3 anos e 6 meses de prisão, com inabilitação parcial para o direito de sufrágio passivo durante o tempo da condenação.

- Por sentença nº104/2014 proferida no Proc Abreviado nº 76/2014 pelo

Tribunal Penal nº3 de Vigo, transitada em julgado, foi condenado pela prática de um crime de roubo com força nas coisas p.p. pelos artºs 237º, 238º2 e240º do CPE na pena de 1 ano de prisão com inabilitação especial para o direito de sufrágio passivo durante o tempo da condenação, e pagamento da quantia de 799,95 €

- Por sentença nº 272/2011 proferida no Processo nº 140/2011 pelo Tribunal Penal nº2 de Vigo, transitada em julgado, foi condenado pela prática de um crime de furto p.p. pelos artºs 28, 237º e 240º do CPE na pena de 12 meses de prisão com inabilitação especial para o direito de sufrágio passivo durante o tempo da condenação, e pagamento da quantia de 646,70 €;

Pede o Ministério Público que, revistas e confirmadas as condenações, lhes seja atribuída força executória para cumprimento em Portugal do

remanescente da pena aplicada.

Para tanto alega que as sentenças a rever obedecem aos requisitos legais, e em síntese que:

Os factos a que respeitam as condenações e são punidos integram segundo a lei portuguesa, os crimes de furto, furto qualificado e de roubo p. e p. nos artºs. 203º, 204º e 210º CP Português;

Não existem causas de extinção da pena

O detido solicitou o seu pedido de transferência;

A Espanha solicitou o prosseguimento da execução em Portugal

Por despacho 31/8/2014 de Sª. Ex.ª a Srª. Ministra da Justiça foi admitida a transferência para cumprimento do remanescente da pena;

Foi citado (artº 981º CPC) o requerido, e cumprido o disposto no art.982º do Código de Processo Civil foram produzidas alegações pelo arguido e pelo MºPº pronunciando-se ambos pela confirmação da sentença penal e ainda o MºPº pela efetivação do cumulo jurídico

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Colhidos os vistos legais, procedeu-se à conferência com observância do formalismo legal

Cumpre decidir.

Resultam dos autos os seguintes elementos de facto:

1- Pelo acórdão nº 18/2013 proferido no processo nº 257/20014-E pelo

Tribunal Penal nº7 de Bilbao, Espanha em 10/1/2013 e transitada em julgado

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em 28/11/2013, o arguido foi condenado, pela prática como autor de um crime de roubo com força em casa habitada p.p. pelos artºs 237, 238º1, 240 e 241, 1 e 2 Código Penal Espanhol, com a atenuante da toxicodependência do artº 21º2 CPE, na pena de 3 anos e 6 meses de prisão, com inabilitação parcial para o direito de sufrágio passivo durante o tempo da condenação.

2- Tal condenação tem por base os seguintes factos:

Entre as 14.30 horas e 16.40 horas do dia 13 de Janeiro de 2011 o arguido com intenção de obter um beneficio ilícito e devido á adição de substancias tóxicas, acedeu ao apartamento localizado no 6º andar direito do nº. da Rua

…, em Bilbau, trepando para tal desde a janela do quarto nº.. da pensão localizada no 5º andar do mesmo edifício, utilizando uma tubagem de descarga de água até à janela do andar superior que estava aberta. No

interior roubou diversos objectos como computadores portáteis, discos rígidos, máquinas fotográficas, joias e bijuteria, frascos de colonia, um blusão, lençóis e dinheiro. As proprietárias dos objectos D… e E… recuperaram alguns dos referidos objectos que a polícia lhes entregou e foram parcialmente

indemnizadas pela sua companhia de seguros, sem apresentar reclamação neste processo.

3- Os factos descritos são punidos, segundo o direito Espanhol, como delitos de roubo com força nas coisas previsto e punido nos art.s 237º, 238º, 240º e 241º CP Espanhol, e integram o crime de furto qualificado p.p. pelos artºs 204º 2 e) CP Português

4- O arguido esteve preso à ordem desse processo durante 2 dias antes da condenação (17/1/2011 a 18/1/2011)

5- Por sentença nº104/2014 proferida no Proc Abreviado nº 76/2014 pelo Tribunal Penal nº3 de Vigo, em 3/4/2014 transitada em julgado no mesmo dia foi condenado pela prática de um crime de roubo com força nas coisas p.p.

pelos artºs 237º, 238º2 e 240º do CPE na pena de 1 ano de prisão com inabilitação especial para o direito de sufrágio passivo durante o tempo da condenação, e pagamento ao ofendido da quantia de 799,95 € e na que vier a apurar-se em execução de sentença pelo valor do iphone e dos danos causados na viatura se não forem pagos pela seguradora.

6 - Tal condenação tem por base os seguintes factos:

- Pelas 3,30 horas do dia 7/7/2010 o arguido actuando de forma conjunta e previamente conluiado com F…, que ficou a vigiar nos arredores para evitar que ele fosse surpreendido, depois de partir o vidro da janela da porta

dianteira do Audi … matricula ….DTR cujo proprietário G… o tinha deixado fechado e estacionado junto ao nº.. da Rua … em Vigo, entrou no carro e com a intenção de obter lucro económico, apoderou-se de vários objectos, fugindo em companhia de F… em direcção à rua …, sendo localizados nessa rua pela

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Policia pouco tempo depois. A polícia apreendeu ao B… um saco de cor vermelha que continha parte dos objectos roubados.

O montante dos danos que o arguido provou na viatura onde realizou o furto que para além da janela partida, danificou o porta-luvas, o apoio de braços do assento e a alavanca do travão, ainda estão por apurar.

Dos objectos subtraídos, não foram recuperados: um iphone pendente de avaliação, um navegador avaliado em 299,95€ e a carteira do ofendido

avaliada em 250,00€ que continha 250,00€ em dinheiro, diferentes cartões de crédito e vários cartões.

7- Tais factos são punidos segundo o direito português como crime de furto qualificado p.p. pelo artº 204º1 b) CP

8 - O arguido esteve preso à ordem desse processo durante 2 dias.

9- Por sentença nº 272/2011 proferida no Processo nº 140/2011 pelo Tribunal Penal nº 2 de Vigo, em 14/6/2011 transitada em julgado em 23/9/2013, foi condenado pela prática de um crime de furto p.p. pelos artºs 28, 237º e 240º do CPE na pena de 12 meses de prisão com inabilitação especial para o direito de sufrágio passivo durante o tempo da condenação, e pagamento da quantia de 646,70 €;

10- Tal condenação tem por base os seguintes factos:

-No dia 6/2/2010 o arguido acompanhado de outra pessoa não identificada dirigiu-se pelas 10,52 horas e às 13,09 horas ao estabelecimento comercial H… localizado na rua …, nº … de Vigo e apoderou-se de um total de 52 livros nas duas ocasiões com o valor total de 940,40€.

Foram recuperados 14 dos livros subtraídos e avaliados em 293,70€, no estabelecimento I…, localizado na rua …. Os mesmos foram vendidos pelo arguido excepto dois deles que foram vendidos pelo arguido J… às 18.00 horas do dia 6/2/2010

11- Tais factos são punidos segundo o direito português como crime de furto p.p. pelo artº 203º CP

12 - O arguido esteve preso à ordem desse processo durante 2 dias.

13-O requerido consentiu na sua transferência para Portugal, que requereu, a fim de aqui cumprir o remanescente daquelas penas;

14- O Reino de Espanha não se opõe à transferência do condenado para Portugal, para aqui ter lugar o cumprimento do remanescente da pena;

15- Resulta dos apensos que:

- No Proc 86/13.8YRGMR, por acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 18/11/2013, transitado em julgado foi declarada revista e confirmada a sentença proferida pela secção nº 5 da Audiência provincial de Pontevedra, que condenou o arguido nas seguintes penas de prisão: 2 anos de prisão pelo crime de rapto de menores; 4 anos por dois crimes de detenção ilegal; 3 anos

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e 6 meses pelo crime de roubo com ameaça. Dele consta que nesse processo foram-lhe descontados 463 dias de prisão provisória e encontra-se a cumprir a pena restante de 3002 desde 27/11/2012;

- No Proc 86/13.8YRGMR-A, por acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 19/5/2014, transitada em julgado foram declaradas revistas e confirmadas a sentença proferida pelo Tribunal Penal nº 7 de Bilbao com o nº 83/2012 no Proc Abreviado 76/2011, e pelo Tribunal Penal nº1 de Vigo com o nº 120/2011 que condenaram o arguido nas seguintes penas de prisão: um ano de prisão pelo crime de roubo, e 12 meses de prisão, pelo crime de furto na forma

continuada respectivamente; Dele consta que nesse processo o arguido sofreu 4 dias de detenção

+

O presente pedido de revisão e confirmação de sentença penal condenatória estrangeira tem por fundamento legal a Convenção Relativa à Transferência de Pessoas Condenadas, ratificada por Decreto do Presidente da República nº 8/93 e aprovada para ratificação pela Resolução da Assembleia da República nº 8/93, ambos publicados no Diário da República, Série I-A, nº 92, de 20 de Abril de 1993, os art.s 95º a 100º da Lei 144/99, de 31 de Agosto (com as alterações introduzidas pelas Leis 104/2001, de 25.8, 48/2003 de 22.8 e

48/2007 de 29./8), os art.s 234º a 240º do Código de Processo Penal e ainda os art.s 980º a 984º do Código de Processo Civil (actual Lei 41/2013 de 26/6) na parte em que não contrariarem as especificidades previstas naquelas

anteriores disposições legais.

Dispõe o art. 3º da Lei 144/99, de 31/8 - lei que regula a cooperação judiciária internacional em matéria penal - que as formas de cooperação a que se refere o artigo 1º, em que se inclui a transferência de pessoas condenadas a penas privativas da liberdade, regem-se pelas normas dos tratados, convenções e acordos internacionais que vinculem o Estado Português e, na sua falta ou insuficiência, pelas disposições deste diploma, sendo subsidiariamente aplicáveis as disposições do Código de Processo Penal (princípio da prevalência dos tratados, convenções e acordos internacionais).

Assim, em primeiro lugar, há que atender às disposições contidas na

Convenção Relativa à Transferência de Pessoas Condenadas, celebrada em Estrasburgo, a 21 de Março de 1983, pelos Estados membros do Conselho da Europa, incluindo o Estado Português, que depois a aprovou e ratificou pelos diplomas acima referidos, e o Reino de Espanha, sendo, pois, aqui aplicável.

Como consta das considerações introdutórias, os procedimentos aí aprovados sobre a transferência de condenados a penas privativas da liberdade visam

“favorecer a reinserção social das pessoas condenadas”, concedendo-lhes a possibilidade “de cumprir a condenação no seu ambiente social de origem,

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considerando que a melhor forma de alcançar tal propósito é transferindo-os para o seu próprio país”.

Na concretização destas finalidades, o nº 2 do art. 2º dispõe que “uma pessoa condenada no território de uma Parte pode, em conformidade com as

disposições da presente Convenção, ser transferida para o território de uma outra Parte para aí cumprir a condenação que lhe foi imposta. Para esse fim pode manifestar, quer junto do Estado da condenação, quer junto do Estado da execução, o desejo de ser transferida nos termos da presente Convenção”, comprometendo-se as Partes a prestar mutuamente a mais ampla cooperação possível em matéria de transferência de pessoas condenadas (nº 1 do mesmo artigo).

Sobre as condições de transferência de condenados, prescreve o nº 1 do art.

3º, nos segmentos que interessam à apreciação deste caso, que uma transferência apenas pode ter lugar nas seguintes condições:

a) Se o condenado é nacional do Estado da execução;

b) Se a sentença é definitiva;

c) Se, na data da recepção do pedido de transferência, a duração da

condenação que o condenado tem ainda de cumprir é, pelo menos, de seis meses ou indeterminada;

d) Se o condenado tiver consentido na transferência;

e) Se os actos ou omissões que originaram a condenação constituem uma infracção penal face à lei do Estado da execução ou poderiam constituir se tivessem sido praticados no seu território; e

f) Se o Estado da condenação e o Estado da execução estiverem de acordo quanto à transferência.

No caso em apreciação consta dos elementos dos autos que:

a) O condenado é cidadão português, nascido na freguesia …, Felgueiras e tem aqui residência e se encontrava em Espanha;

b) As sentenças condenatórias transitaram em julgado;

c) À data do pedido de transferência, o condenado tem ainda para cumprir mais de seis meses de prisão;

d) O condenado consentiu na sua transferência para Portugal como foi o próprio a solicitá-la

e) Os factos que levaram à sua condenação em Espanha são igualmente

punidos em Portugal pelo tipo de crime pelos crimes de furto, furto qualificado e roubo;

f) O Estado da condenação (Reino da Espanha) e o Estado Português, através dos respectivos órgãos competentes, deram o seu acordo quanto à

transferência;

Mostram-se, assim, verificadas todas as condições previstas no nº 1 do art. 3º

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da aludida Convenção.

Todavia o Estado Português, ao aprovar, para ratificação, esta Convenção, formulou algumas declarações de reserva, de que aqui importa relevar as seguintes:

a) Que Portugal utilizará o processo previsto na alínea a) do nº 1 do artigo 9º, nos casos em que seja o Estado de execução (continuação da execução);

b) Que a execução de uma sentença estrangeira efectuar-se-á com base na sentença de um tribunal português que a declare executória, após prévia revisão e confirmação, (o que justifica a necessidade desta decisão); e,

c) Que, quando tiver de adaptar uma sanção estrangeira, Portugal, consoante o caso, converterá, segundo a lei portuguesa, a sanção estrangeira ou reduzirá a sua duração, se ela ultrapassar o máximo legal admissível na lei portuguesa.

Acresce que sobre as condições de admissibilidade de execução em Portugal de uma sentença penal estrangeira, dispõe o nº 1 do art. 96º da Lei 144/99 que o pedido de execução, em Portugal, de uma sentença penal estrangeira só é admissível quando, para além das condições gerais estabelecidas neste diploma, se verificar que:

a) A sentença condenar em reacção criminal por facto constitutivo de crime para conhecer do qual são competentes os tribunais do Estado estrangeiro;

b) Se a condenação resultar de julgamento na ausência do condenado, desde que o mesmo tenha tido a possibilidade legal de requerer novo julgamento ou de interpor recurso da sentença;

c) Não contenha disposições contrárias aos princípios fundamentais do ordenamento jurídico português;

d) O facto não seja objecto de procedimento penal em Portugal;

e) O facto seja também previsto como crime pela legislação penal portuguesa;

f) O condenado seja português, ou estrangeiro ou apátrida que residam habitualmente em Portugal;

g) A execução da sentença em Portugal se justifique pelo interesse da melhor reinserção social do condenado ou da reparação do dano causado pelo crime;

h) O Estado estrangeiro dê garantias de que, cumprida a sentença em Portugal considerará extinta a responsabilidade penal do condenado;

i) A duração das penas ou medidas de segurança impostas na sentença não seja inferior a um ano ou, tratando-se de pena pecuniária, o seu montante não seja inferior a quantia equivalente a 30 unidades de conta processual;

j) O condenado der o seu consentimento, tratando-se de reacção criminal privativa de liberdade.”

As condições ora referidas nas al.s e), f), i) e j) identificam-se com as previstas

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no nº 1 do art. 3º da Convenção já atrás analisadas.

Em relação às demais condições, cremos que todas elas se mostram também verificadas, pois que

a) Face à lei processual penal portuguesa a competência para o julgamento do crime por que foi condenado o requerido cabia ao Tribunal Espanhol que proferiu a condenação (como local do facto criminoso: locus dellicti);

b) O Requerido esteve presente e foi ouvido em julgamento e foi aí assistido por defensor e interpôs recurso de decisão que achou pertinente que foi negado provimento;

c) A decisão não se baseia em disposições contrárias aos princípios fundamentais do ordenamento jurídico português;

É em relação a este requisito que se suscita a questão da pena acessória da inabilidade para o direito de sufrágio passivo pois que o Ordenamento jurídico Português se mostra violado pelas sentenças submetidas a revisão

Na verdade a Constituição da Republica Portuguesa no seu artº 30º4 impõe que “nenhuma pena envolve como efeito necessário a perda de quaisquer direitos civis, profissionais ou políticos”, e o caso em apreço refere-se aos direitos políticos.

O C.P. (artº 65º1) estabelece igual proibição, sendo que nem um nem o outro impedem o estabelecimento e previsão de tais penas, e apenas impõem que elas não são automáticas (como efeito necessário da condenação).

E é nessa conformidade constitucional e legal, que as penas acessórias e em concreto a inabilidade eleitoral (de sufrágio) é prevista no ordenamento jurídico português (artº 346º CP).

Assim por si mesma a pena acessória aplicada pelo tribunal espanhol não afronta a Ordem Publica portuguesa por ser sanção que ela - lei portuguesa – aceita, sendo que a revisão só poderia ser negada se ofendesse os princípios fundamentais do ordenamento jurídico português ou seja os princípios da ordem pública internacional do Estado português (artº 980º f) CPC e 237º2 CPP), o que não é o caso

O Estado português ao optar “ na continuação da execução” está vinculado nos termos do artº 10º da Convenção mencionada / relativa á Transferência de Pessoas Condenadas, “pela natureza jurídica e pela duração da sanção, tal como resultam da condenação” nos termos da al. a) do artº 9º da Convenção, pois Portugal não optou pela conversão da decisão estrangeira numa

condenação portuguesa (substituindo a sanção do Estado de condenação por uma sanção prevista e adaptada ao Estado da Execução - antes fez declaração relativa à continuação da execução - e tendo feito a única ressalta relativa à redução da pena “se superior ao máximo legal admissível”

O nº 3 do art. 237º CPP a que já se fez referencia ao impor que, se a sentença

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penal estrangeira tiver aplicado pena que a lei portuguesa prevê, mas em medida superior ao máximo legal admissível, a sentença é confirmada, mas a pena aplicada reduz-se até ao limite adequado, visa acautelar a observância dos princípios fundamentais do nosso Direito Penal consagrados na

Constituição da República Portuguesa (vg. art.s 29º e 30º) e, por isso, de carácter imperativo (Cfr. TRP Ac. 26.02.97, proc. 933/96, em www.dgsi.pt sob o n.º 9610933.) em especial em matéria de restrição automática de direitos, na medida em que o art. 30º nº 4 CRP preceitua que “nenhuma pena envolve como efeito necessário a perda de quaisquer direitos civis, profissionais ou políticos”, e foi por causa disso que Portugal ao aprovar, para ratificação, a Convenção Relativa à Transferência de Pessoas Condenadas a que temos vindo a fazer referencia, formulou essa declaração de reserva.

Mas não cabe ao Estado da execução exercer qualquer censura sobre o teor e os fundamentos da decisão revidenda, seja no âmbito da matéria de facto, seja quanto à aplicação do direito (artº 100º 2 DL 144/99 de 31/8), nem tal juízo de censura se compreende no âmbito e finalidades do processo de revisão e

confirmação da sentença estrangeira, mas cabe-lhe, no cumprimento daquela declaração de reserva e da norma legal contida no nº 3 do art. 237º CPP tratando-se de pena que ofenda princípios fundamentais da CRP “expurga-la”

na parte correspondente.

Dado que a lei penal portuguesa não prevê a inabilidade eleitoral como pena acessória que possa ser aplicada ao autor do crime de furto ou roubo, a possibilidade de revisão e confirmação da sentença revidenda depende da inaplicabilidade da condenação da pena acessória em causa, cuja eficácia, aliás, seria restrita perante a Ordem Jurídica Espanhola, pelo que não seria exequível por falta de eficácia prática (artº 98º 4 DL 144/99).

d) Os factos por que foi condenado o requerido não são objecto de procedimento criminal em Portugal, o que se verifica, e

g) A transferência do condenado para Portugal baseia-se em razões de melhor reinserção social decorrentes da proximidade do meio social de origem, como se infere do pedido;

+

Em matéria de revisão e confirmação de sentença penal estrangeira, o nº 1 do art. 100º da Lei 144/99, de 31 de Agosto dispõe que “a força executiva da sentença estrangeira depende de prévia revisão e confirmação, segundo o disposto no Código de Processo Penal e o previsto nas alíneas a) e c) do nº 2 do artigo 6º do presente diploma”. E o nº 2 acrescenta que: “Quando se

pronunciar pela revisão e confirmação, o tribunal: a) Está vinculado à matéria de facto considerada provada na sentença estrangeira; b) Não pode converter uma pena privativa de liberdade em pena pecuniária; c) Não pode agravar, em

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caso algum, a reacção estabelecida na sentença estrangeira”, e igual exigência consta do nº 1 do art. 234º CPP que dispõe:

“Quando, por força da lei ou de tratado ou convenção, uma sentença penal estrangeira dever ter eficácia em Portugal, a sua força executiva depende de prévia revisão e confirmação”.

Nos termos do art. 236º CPP, o Ministério Público tem legitimidade para requerer a revisão e confirmação de sentença penal estrangeira, e a competência cabe ao Tribunal da Relação do Distrito Judicial em que o condenado teve o último domicílio em Portugal (art. 235º nº 1 CPP, e neste caso, a esta Relação, pois a última morada do requerido em Portugal se situa em Felgueiras, que ora (nova LOSJ - Lei 62/2013 de 26/8) pertence à comarca de Porto Este, sob jurisdição deste Tribunal da Relação.

Os requisitos, são os previstos no nº 1 do art. 237º CPP e ainda, por remissão expressa contida no nº 2 do mesmo artigo, “na parte aplicável, os requisitos de que a lei do processo civil faz depender a confirmação de sentença civil estrangeira”, isto é, os previstos no art. 980º do Código de Processo Civil actual (Lei 41/2013) que não sejam incompatíveis com aqueles.

Os requisitos exigidos pelo nº 1 do art. 237º do Código de Processo Penal são os seguintes:

a) Que, por lei, tratado ou convenção, a sentença possa ter força executiva em território português;

b) Que o facto que motivou a condenação seja também punível pela lei portuguesa;

c) Que a sentença não tenha aplicado pena ou medida de segurança proibida pela lei portuguesa;

d) Que o arguido tenha sido assistido por defensor e, quando ignorasse a língua usada no processo, por intérprete;

e)Que, salvo tratado ou convenção em contrário, a sentença não respeite a crime qualificável, segundo a lei portuguesa ou a do país em que foi proferida a sentença, de crime contra a segurança do Estado.

Ora estes requisitos das al.s a), b), c) e d) identificam-se com os exigidos para a transferência e execução da pena em Portugal do condenado, previstos no nº 1 do art. 3º da Convenção Relativa à Transferência de Pessoas Condenadas e no nº 1 do art. 96º da Lei 144/99 de 31 de Agosto, já apreciados e que se mostram verificados nos termos referenciados quanto à pena acessória de inabilidade eleitoral, e quanto à al. e), já se viu que os crimes são de furto e roubo que não constituem crimes contra a segurança do Estado.

Dos requisitos previstos no art. 980º CPC apenas tem aqui aplicação o referido na al. a), sobre a autenticidade dos documentos dos quais constam as

sentenças revidendas e sobre a inteligibilidade da decisão. Ora, nenhuma

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dúvida se suscita, e também não foi suscitada, nem quanto à autenticidade dos documentos apresentados nos autos contendo as certidões das sentenças

condenatórias proferidas pelo Tribunal Espanhol nem quanto à inteligibilidade das decisões condenatórias proferidas.

Assim há que concluir pela verificação de todos os requisitos legais necessários à pretendida revisão e confirmação das sentenças penais condenatórias constantes do acórdão nº18/2013 proferido no processo nº 257/20014-E pelo Tribunal Penal nº7 de Bilbao, da sentença nº104/2014 proferida no Proc Abreviado nº 76/2014 pelo Tribunal Penal nº3 de Vigo, e da sentença nº 272/2011proferida no Processo nº 140/2011 pelo Tribunal Penal nº2 de Vigo, com vista à execução em Portugal da pena de prisão que foi aplicada ao requerido, cidadão português, e à sua consequente transferência para Portugal.

+

Para além das questões apreciadas, importa ainda analisar, se em virtude das condenações sofridas pelo arguido quer em face das decisões revivendas quer daquelas já revistas que se encontram apensas (Rec. 86/13.8YRGMR, e

86/13.YRGMR-A), há necessidade, de efectuar, em face das várias

condenações e penas, o cumulo (jurídico) destas, fixando a pena única a cumprir, por “A inexistência de cumulo jurídico colide com o ordenamento jurídico-penal português neste aspecto se revelando incompatível com os princípios da ordem publica internacional do Estado”, no entender do STJ (ac.2/2/2011 proc 301/09.2TRPRT.S1 Pires da Graça www.dgsi.pt/ “em termos jurídico constitucionais no âmbito dos direitos fundamentais, a questão do cúmulo, tendo por objecto a fixação de uma pena única de prisão, contende com a restrição temporária do direito à liberdade, consubstanciado na duração da pena a cumprir.”

Apesar de dúvidas de constitucionalidade (artº 8º1 e 2 CRP) - em face da ausência de declaração de reserva (para além da relativa ao “máximo legal admissível”), da aceitação do principio da “ continuação da execução”, conhecendo o legislador das diferenças entre os ordenamentos dos Estados estrangeiros, que como é sabido também adoptam sistemas de penas

divergentes do cúmulo jurídico, como os sistemas da absorção, da agravação ou exasperação e da acumulação material das penas - Eduardo Correia,

Direito Criminal, II, 1971 (reimpressão), págs. 211 a 215, - sob a necessidade de efectivação do cúmulo jurídico se o tribunal estrangeiro não observa esse principio (por o Estado Português, podendo, não haver feito declaração de reserva), cremos dever proceder, em conformidade com o Ordenamento

Jurídico Português, à efectivação de cumulo “jurídico” das penas que em que o arguido foi condenado, e fixação de uma pena única sempre que “ tiver

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praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles” - artº 77º1 CP. - e se “depois de uma condenação transitada em julgado , se mostrar que o agente praticou anteriormente àquela

condenação, outros crimes são aplicáveis as regras do artigo anterior” - artº 78º1 CP. (concurso superveniente)

No caso dos autos, afigura-se-nos que todos crimes estão em concurso, pois que:

Nestes autos de revisão, o arguido foi condenado por decisão nº 18/2013 por factos de 13/1/2011, transitados em julgado em 28/11/2013 na pena de 3 anos e 6 meses de prisão, pela decisão nº 104/2014 por factos de 7/7/2010

transitado em 3/4/2014 na pena de 1 ano de prisão, e na decisão 272/2011 por factos de 6/2/2010 transitada em 23/9/2013 na pena de 12 meses de prisão;

No apenso 86/13.8YRGMR, por decisão nº 380/2012 da secção 5 da Audiência Provincial de Pontevedra, por factos de 22/1/2011, transitada, foi condenado na pena de 2 anos de prisão, por rapto de menor, 4 anos de prisão por 2 crimes de detenção ilegal e 3 anos de prisão por roubo com ameaça de

instrumento perigoso, já revista, ao abrigo do qual cumpre pena tendo estado preventivo de 9/4/2012 a 26/11/2012 (232 dias)

- No apenso 86/13.YRGMR-A por decisão nº 83/2012 do Tribunal Penal nº 7 de Bilbao (Proc Abrev. 76/2011) transitada em 13/3/2012 por roubo com força sobre coisas praticado em 5/1/2011 em um ano de prisão, e por decisão nº 120/2011, do Tribunal Penal nº1 de Vigo, transitada, por furto continuado, praticado em 6/2/2010 e em15/2/2010 na pena de 12 meses de prisão, tendo estado detido ao abrigo destes dois processos 4 dias;

Verifica-se assim o circunstancialismo de que a lei portuguesa faz depender a efectivação do cúmulo jurídico das penas.

Nos termos do artº 77º 2 CP a pena a aplicar, tem como limite máximo a soma das penas concretamente aplicadas aos vários crimes, e como limite mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas aos vários crimes, pelo que a pena única a aplicar ao arguido a fim de ser continuada a execução, terá de ser encontrada entre 4 anos e os 17 anos de prisão.

Por outro lado, nos termos do artº 77º1 in fine CP, para apurar a medida da pena única “ são considerados em conjunto os factos e a personalidade do agente” para o que o tribunal tem ponderar a matéria de facto constante das sentenças revidendas (artº 100º 2 al.a) Lei 144/99 de 31/8).

Assim tendo em conta a culpa do arguido, agindo com dolo directo em cada uma das suas actuações tal como os factos as descrevem, e as exigências de prevenção que se revelam acentuadas, face ao tipos de crime, contra a

propriedade e contra as pessoas (roubo violência contra coisas, pessoas e uso de instrumento perigoso), para além do rapto de menor que lhe estão

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associados e as circunstancias do facto e apreciando em conjunto os factos (10 crimes graves) demonstrativos de falta de temor pelas imposições punitivas da Ordem Jurídica, pondo assim em causa a validade social da norma como capaz de evitar tal tipo de condutas, e também de uma personalidade delinquente que não se coíbe de assim agir para obter proveitos quase não significativos, e perante quaisquer circunstâncias afigura-se-nos, justo e adequado fixar a pena única a cumprir pelo condenado em catorze anos e prisão.

+

Pelo exposto, o tribunal da Relação do Porto, decide:

Declarar revistas e confirmadas as sentenças penais condenatórias constantes:

- do acórdão nº18/2013 proferido no processo nº 257/20014-E pelo Tribunal Penal nº7 de Bilbao, Espanha

- da sentença nº104/2014 proferida no Proc Abreviado nº 76/2014 pelo Tribunal Penal nº3 de Vigo, Espanha, e

- da sentença nº 272/2011 proferida no Processo nº 140/2011 pelo Tribunal Penal nº2 de Vigo, Espanha, transitadas em julgado e

relativas ao arguido B…, nascido em 16/10/1987, na freguesia … concelho de Felgueiras, filho de C…, com última residência em Portugal na Rua …, …, …, Felgueiras e actualmente preso no Centro Penitenciário de Alma Pontevedra, com o nº ………., Espanha, na parte relativa à condenação nas penas de prisão, expurgando-as da pena acessória de inabilitação especial para o exercício do direito de sufrágio passivo durante o período do condenação.

Ao abrigo do artº 237º3 CPP, artºs 100º e 101º da Lei 144/99 de 31/8 e artº s 77º e 78º CP, operar o cúmulo jurídico das penas das sentenças ora revistas, e conjuntamente com as penas revistas nos apensos 86/13.8YRGMR, e

86/13.YRGMR-A fixar a pena única em catorze anos de prisão a cumprir pelo requerido B…;

Para o cálculo do termo de prisão, será levado em conta todo o tempo de prisão sofrido em Espanha, quer à ordem das sentenças ora revistas quer das revistas nos apensos.

Sem custas;

Notifique.

Após trânsito, observe-se o disposto nos art. s 123º n° 2 e 102º da Lei 144/99, bem como no seu art. 103° n° 3.

+

Porto, 29/4/2015 José Carreto Paula Guerreiro

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