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Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.24 número4

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Academic year: 2018

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C O M U N IC A Ç Ã O

A N G IO ST R O N G IL Í A S E A B D O M IN A L . PR IM E IR O R E L A T O D E C A S O A U T Ó C T O N E D E M IN A S G E R A IS

A d em ir R o c h a , J o sé M o sca r d in i S ob rin h o e E lia n a C h a v es S a lo m ã o R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d ic i n a T r o p i c a l

2 4 ( 4 ) : 2 6 5 - 2 6 8 , o u t - d e z , 1 9 9 1

A angiostrongilíase abdominal é causada pelo A n g i o s t r o n g y l u s c o s t a r i c e n s i s M o re ra & Céspedes, 1971, um parasita habitual de ramos arteriais mesentéricos de ratos, tendo lesmas como hospedeiros intermediários; acidentalmente, este nematelminto pode localizar-se em ramos das artérias mesentéricas do homem, podendo causar arterite, trombose, edema e infarto dos intestinos, enterite e/o u colite, suboclusão intestinal e peritonite13910. Em geral, o processo manifesta-se, clinicamente, como abdome agudo ou massa abdominal; o hemograma evidencia, na m aioria dos casos, leucocitose com marcante eosinofilia4.

A doença tem sido observada em diversos países das Américas, desde os Estados Unidos até a Argentina9. No Brasil, vem sendo detectada especialmente nos Estados da Região Sul (com destaque para o Rio Grande do Sul) e de São Paulo3. D ois casos foram relatados no Distrito Federal2 5. O casos cuja descrição se segue representa, a julgar pela literatura, o primeiro autóctone de Minas Gerais.

O paciente era um menino de nove anos, branco, natural e procedente de Uberlândia (M G), que chegou ao Hospital com queixa de dor abdominal moderada, com exacerbação há um dia. A dor, de início, era difusa, localizando-se, p o s te rio rm e n te , na fo ssa ilía c a d ire ita ; acompanhava-se de náuseas, vômitos e distensão abdominal. A criança mostrava regular estado geral, palidez cutâneo-mucosa e temperatura axilar de 37,6°C. O abdome era globoso, doloroso à palpação, e apresentava massa dura e fixa da fossa ilíaca direita, com cerca de 10 cm de maior diâmetro. No hemograma, notaram-se, como dados mais relevantes, leucocitose (13.500 mm3)

D epartam ento de Patologia do C entro de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de Uberlândia e Casa de Saúde “Santa M arta” , Uberlândia, MG.

Recebido para publicação em 08/07/91.

com neutrofilia (58% de segmentos e 2% de bastonetes) e eosinofilia (20% ).

Com a hipótese diagnostica de apendicite aguda, o paciente foi submetido à laparotomia exploradora, na qual se encontrou tumoração dura de limites imprecisos, localizada em ceco e início do colo ascendente; o íleo e o jejuno estavam distendidos, e havia discreta ascite sero-hemorrágica e múltiplos linfonodos discreta ou moderadamente infartados no mesocolo e mesentério; o apêndice não parecia inflamado. Realizou-se a ressecção do colo direito, ceco e segmento de íleo term inal, seguida de anastomose látero-lateral do íleo com o colo transverso.

O exame anatomopatológico da peça cirúrgica revelou parede intestinal moderadamente espessada, firme e brancacenta, com áreas de hem orragia recente e semi-oclusão do lume, de modo especial ao nível do ceco (Figura 1). Havia áreas de ulceração superficial da mucosa e de hem orragia recente na serosa. Dezoito linfonodos foram dissecados nos mesos. M icroscopicam ente, observaram -se, na parede cecal: infiltração leucocitária maciça de todas as camadas, com predomínio acentuado de granulócitos eosinófilos; arterite e arteriolite eosinofílicas; trombos arteriais ocludentes e semi- ocludentes; granulomas de corpo estranho, em distribuição esparsa, na submucosa, muscular e serosa, em parte relacionados a ovos de parede delgada (Figura 2); vermes no lume de arteríolas da submucosa, cortados de forma transversal ou oblíqua (F igura 3); focos de n ecro se co ag u lativ a e hemorragia recente. Nos cortes de íleo, apêndice e colo ascendente, constatou-se quadro inflamatório inespecífico, com menor exsudato de eosinófilos, sem helm intos ou granulom as. Os linfonodos exibiam pequenos focos de necrose e intensa infiltração eosinofílica dos seios, cordões e zona paracortical. O diagnóstico anatomopatológico, d ia n te dos ac h ad o s o ra d e s c rito s , fo i de angiostrongiliíase abdominal.

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C o m u n ic a ç ã o . R o c h a A , M o s c a r d i n i S o b r i n h o J , S a lo m ã o E C . A n g i o s t r o n g i l : a s e a b d o m i n a l . P r i m e i r o r e l a t o d e c a s o a u t ó c t o n e d e M in a s G e r i a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d ic i n a T r o p i c a l 2 4 : 2 6 6 - 2 6 7 , o u t - d e z , 1 9 9 1

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C o m u n ic a ç ã o . R o c h a A , M o s c a r d i n i S o b r i n h o J , S a lo m ã o E C . A n g i o s t r o n g i l í a s e a b d o m i n a l . P r i m e i r o r e l a t o d e c a s o a u t ó c t o n e d e M i n a s G e r i a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 4 : 2 6 6 - 2 6 7 , o u t - d e z , 1 9 9 1

O paciente recebeu alta hospitalar no quarto dia pós-operatório. Tem feito controles ambulatoriais periódicos, achando-se muito bem de saúde cerca de dois anos após a cirurgia.

Em face do diagnóstico anatomopatológico, indagamos à criança e seus pais, numa destas consultas, sobre condições de habitação, eventuais viagens etc. A família vive em bairro pobre da periferia de Uberlândia. Existem ratos no domicílio e na vizinhança, assim com lesmas nos quintais. O paciente sempre morou em Uberlândia, com saídas esporádicas para férias em pequena cidade do interior de Goiás; a últim a viagem foi curta e ocorreu há cerca de três ou quatro meses. Diante do exposto, parece-nos muito provável que a doença tenha sido contraída na área da própria residência, caracterizando-se o prim eiro caso m ineiro de angiostrongilíase abdominal.

A s a lte ra ç õ e s c lín ic a s, la b o ra to ria is e a n a to m o p a to ló g ic a s re la ta d a s n e ste caso e n q u a d ra m -se p e rfe ita m e n te n o s p a d rõ es previamente conhecidos de angiostrongilíase14710.

Deve-se ressaltar que, no homem, não ocorre a eliminação de ovos, larvas ou vermes adultos do A . c o s t a r i c e n s i s pelas fezes8. Um teste sorológico de precipitação do látex tem sido efetuado por M orera6, na Costa Rica, para a detecção de anticorpos contra o parasita; não nos consta que este teste seja efetuado no Brasil. Assim, adefinição do diagnóstico, em nosso país, exigea laparotomia exploradora e o exame anatomopatológico do segmento intestinal extirpado (ou de biópsias da parede intestinal). O A . c o s t a r i c e n s i s representa o único helminto de localização essencialmente intra- arterial descrito em nosso meio.

É possível que muitos casos caracterizados como inflamações eosinofílicas do tubo digestivo - e entre nós são relativamente frequentes as apendicites assim rotuladas - correspondam, na verdade à angiostrongilíase, hipótese j á confirmada por Graeff-Teixeira e col3 na Região Sul. Faz-se mister o estudo meticuloso (se necessário, com múltiplos cortes histológicos, semi-seriados ou não) para avaliar tal possibilidade.

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C o m u n ic a ç ã o . R o c h a A , M o s c a r d i n i S o b r i n h o J , S a lo m ã o E C . A n g i o s t r o n g i l í a s e a b d o m i n a l . P r i m e i r o r e l a t o d e c a s o a u t ó c t o n e d e M i n a s G e r i a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d ic i n a T r o p i c a l 2 4 : 2 6 6 - 2 6 7 , o u t - d e z , 1 9 9 1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2. B arbosaH , Raick AN, M agalhães AV, Otero MF. Angiostrongilose abdominal. Revistada Associação M édica Brasileira 26:178-180, 1980.

3. G raeff-Teixeira C, Camilo-Coura L, Lenzi HL. Abdominal angiostrongyliasis - an underdiagnosed disease. M em órias do Instituto Oswaldo Cruz 82 (Suppl. IV):353-354, 1987.

4. Lobo Sanahuja F , Loría Cortés R, González G. Angiostrongilosis abdom inal. Aspectos clínicos, tratam iento y revision de la literatura. Boletin M édico dei Hospital Infantil de México 44:4-9, 1987.

5. M agalhães AV, A ndrade GE, Koh IHJ, Soares CM , Alves E , Tubino P, Santos FAM , Raick AN.

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8. M o re ra P, C é sp ed es R . A n g io stro n g ilo sis abdominal. Una nueva parasitosis hum ana. Acta M édica Costarricense 14:159-173, 1971. 9. N eves DP. Parasitologia hum ana, 7 a edição,

Atheneu, Rio de Janeiro p .457-458, 1988. 10. Rojas Ayala MA. Angiostrongiloidíase abdominal:

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