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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Escola de Museologia

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH

Escola de Museologia

Wagner Willian Martins

A IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO MUSEOLOGICA, O CASO DA COLEÇÃO JAPONESA DO SETOR DE ETNOLOGIA DO

MUSEU NACIONAL

Rio de Janeiro

2014.2

(2)

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH

Escola de Museologia

Wagner Willian Martins

A IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO MUSEOLOGICA, O CASO DA COLEÇÃO JAPONESA DO SETOR DE ETNOLOGIA DO

MUSEU NACIONAL

Monografia apresentada à escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Museologia.

Rio de Janeiro

2014.2

(3)

Monografia apresentada à escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do rio de Janeiro – UNIRIO, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Museologia.

_____________________________________________________

WAGNER WILIAM MARTINS

Monografia apresentada em ____ / ___ / ________

____________________________________________

Orientadora Professora Helena Cunha de Uzeda

______________________________________________

Professora Avelina Addor

______________________________________________

Professor Marcio Rangel

(4)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha esposa Carla e meus filhos Wiliam e Lívia, que me incentivaram e apoiaram durante todo curso, tiveram paciência e compreensão com minhas ausências, e nos momentos de angústias e irritações retribuíram com carinho e amor.

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AGRADECIMENTOS

Ao atual Decano do Centro de Ciências Humanas: professor Ivan Coelho de Sá, como exemplo e inspiração para todo bom profissional de Museologia.

A dedicação dos professores da UNIRIO em especial: Amir Geiser; Anaildo Baraçal; Antonio Carlos de Carvalho; Cícero Antonio Fonseca de Almeida; Marcio Rangel e as professoras: Andrea Fernandes Costa; Avelina Addor; Deusana Maria da Costa Machado; Geni Chaves Fernandes; Helena Cunha de Uzeda; Julia Nolasco, Junia Guimarães ; Leila Beatriz Ribeiro; Líbia Schenker; Marcia Valeria Rosa, Marisa Vianna Salomão;

A compreensão, apoio e incentivo da direção do Museu Nacional em especial ao ex-diretor professor Sergio Alex Kugland de Azevedo, e a atual diretora professora Claudia Rodrigues Ferreira de Carvalho.

Aos amigos da faculdade de Museologia, em particular: Rose Mary de Oliveira Messias Moritz e Letícia Meirinho.

Aos amigos do Museu Nacional em especial à Eliana Ezagui Frenkel, Jaçanã Elizabeth Nogueira da Silva e Roosevelt Rodrigues Mota.

A historiadora Regina de Macedo Dantas, e à arqueóloga Silvia Barreiros dos Reis que muito me auxiliaram.

A seção de Museologia em especial as museólogas Cleide Maria da Conceição Martins e Moana Campos Soto.

A chefia do arquivo geral do Museu Nacional Maria das Graças Freitas Souza Filho e especialmente aos servidores: Gustavo Alves Cardoso Moreira; Ubirajara Queiroz Mendes, Márcia Pereira de Barros Baptista, pelo auxilio e apoio na pesquisa documental.

A chefia do laboratório de restauração do Museu Nacional Simone de Souza Mesquita e a restauradora Márcia Valeria de Souza.

Ao setor de etnologia do Museu Nacional em especial aos servidores Raquel, Correa Lima e Crenivaldo Regis Veloso Junior, por franquearem o acesso à coleção e a documentação do setor.

E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para concretização deste trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho versa sobre os objetos que formam a coleção de origem japonesa do setor de etnologia do Museu Nacional, reunidos durante os séculos XIX e XX, onde temos a presença de uma armadura de Samurai como peça de maior expressão. Esse tema é relevante tendo em vista que este acervo nunca foi estudado ou exposto e nenhum trabalho foi produzido sobre o mesmo até o momento. Constata-se, ainda, que mesmo entre os servidores do museu, inclusive do setor de etnologia, há um completo desconhecimento sobre suas origens e, apesar do Museu possuir uma sala de exposição de longa duração há mais de 60 anos dedicada a “Culturas do Pacífico”, não há nenhuma peça ou menção à cultura japonesa. Assim, o objetivo desse trabalho é identificar o acervo ligado à cultura japonesa do setor de Etnologia e discutir a importância da documentação museológica como fonte de informação e instrumento de transmissão do conhecimento. Como base, foram utilizadas fontes primárias documentais do setor de etnologia e do arquivo geral histórico do Museu Nacional, assim como fontes secundárias, como: relatórios e publicações do Museu, e dissertações sobre as suas coleções.

Palavras-Chave: Coleção japonesa, Museu Nacional do Rio de Janeiro, Armadura Samurai, Documentação museológica.

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SUMÁRIO

Introdução...8

Capítulo I – Documentação Museológica ...11

1.1 – O Colecionismo. Gabinetes de Curiosidades e Museus ...11

1.2 – A documentação em Museus ...12

1.3 – A documentação de objetos etnográficos ...16

Capitulo II – O Museu Nacional...19

2.1 – Histórico...19

2.2 – A Transferência do Museu para Quinta da Boa Vista ...25

2.3 – A Casa dos Pássaros...29

2.4 – João de Deus e Matos...32

Capitulo III – A coleção japonesa...35

3.1– Histórico sobre o Japão...35

3.2 – O estabelecimento das relações Brasil e Japão ...40

3.3 – A Coleção Japonesa...40

3.4 – A identificação da Coleção Japonesa...42

Considerações Finais...47

Referências...49

Anexo I...54

Anexo II...60

Anexo III ...61

Anexo IV ...62

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INTRODUÇÃO

A ideia desta monografia surgiu no inicio de 2014, em função da orientação da professora Avelina Addor de que o tema da monografia a ser escolhido pelo aluno deveria responder ao seu interesse como pesquisador, podendo surgir da sua vida profissional. O que me remeteu a lembrança do contato acidental ocorrido há mais de dez anos com uma espada de Samurai; esta que se encontrava em processo de conservação preventiva no Laboratório Central de Conservação e Restauração (LCCR), do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro..

Este contato foi possível em função de minha atuação como servidor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autarquia do Ministério da Educação a qual o Museu Nacional esta vinculado, exercendo o cargo de técnico em edificações desde 1987, sendo posteriormente designado para a chefia do setor de Manutenção do Museu Nacional em 1991, e desde o ano 2000 exercendo a função de Diretor Adjunto Administrativo, o que me possibilitou o trânsito e o contato com as diversas coleções, os especialistas e os curadores da instituição.

Tomado pela beleza e pela curiosidade da peça procurei me informar a seu respeito, e para minha surpresa, descobri que a instituição possuía uma armadura de origem japonesa (de Samurai), além de diversos outros objetos e indumentárias japonesas. Esse acervo suscitou o meu interesse.

No ano de 2005, pude auxiliar a historiadora e, também, servidora do Museu Nacional, Regina Maria Macedo Costa Dantas, em sua dissertação de mestrado, “A Casa do Imperador: do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional”, no programa de Pós-Graduação em memória social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, especialmente no terceiro capítulo, quando trata do “Museu do Imperador”, em sua busca nas coleções do museu, por acervos reminiscentes das coleções do imperador D. Pedro II.

Considerando que algumas coleções estrangeiras sob a guarda do Museu Nacional pertenceram à família imperial, levantei na época a hipótese de que parte das peças da coleção japonesa poderiam ter pertencido à família imperial brasileira.

Essas peças, ligadas às atividades guerreiras, como espadas e armaduras, que possuem altos valores monetários, eram colecionadas normalmente pela burguesia e pela nobreza, podendo ter sido adquiridas ou presenteadas à família imperial

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brasileira, e posteriormente, repassadas ao Museu Nacional, uma hipótese que foi descartada à época.

O fato de atuar profissionalmente na instituição me despertou o interesse pela área museológica, especialmente, pelas coleções do Museu Nacional, levando-me, inclusive, a ingressar e cursar a Graduação em Museologia na UNIRIO. Desde meu ingresso no Curso de Museologia, o Museu Nacional já estava escolhido como tema para o trabalho de conclusão de curso, e a identificação de um objeto específico era ponto que faltava.

Ao iniciar minha pesquisa e solicitar um levantamento ao Setor de Etnologia do Museu, obtive uma listagem de peças relacionadas à cultura japonesa. Para minha surpresa, o primeiro objeto relacionado ao Japão registrado no livro de tombo era de número “4898 – colete acolchoado para esgrima – D. Pedro II ou Japão (?)”.

O que me faz retornar a questão da ligação entre a coleção japonesa e a família imperial brasileira.

Desta forma, nos propomos investigar a procedência das peças desta coleção e uma possível ligação de pertencimento de parte destas com a família imperial brasileira. O objetivo deste trabalho é reunir e identificar as peças representantes da cultura japonesa existentes na coleção do setor de etnologia do Museu Nacional.

.Esse tema possui relevância, visto que este acervo nunca foi estudado ou exposto, e nenhum trabalho foi produzido sobre ele até o momento. Constata-se, ainda, que entre os servidores do Museu, inclusive, do próprio setor de Etnologia, há um completo desconhecimento sobre a origem destas peças, e ainda que a instituição possua uma sala de exposição de longa duração, há mais de 60 anos, dedicada a “Culturas do Pacífico”, não há nela nenhuma peça ou menção à cultura japonesa.

Para tentar responder a estas questões, o presente trabalho foi estruturado em três capítulos. O primeiro apresenta o fenômeno do colecionismo no Mundo, desde seu surgimento ainda na antiguidade clássica, passando pelos gabinetes de curiosidades nos séculos XV, XVI e XVII, vinculados fortemente as monarquias européias, e o surgimento dos Museus no ocidente. A proposta também é discutir o histórico de construção e a importância da documentação museológica, para que as informações presentes nos objetos de coleções possam cumprir sua função comunicacional e de difusão do conhecimento.

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O segundo capítulo apresenta um histórico da criação do Museu Nacional, a formação de seu acervo, seu processo de transferência da antiga sede no Campo do Santana para o Palácio da Quinta da Boa Vista, antiga residência da família Imperial Brasileira, após a proclamação da Republica, analisando sua possível ligação ou antecedência com à iniciativa da “Casa dos Pássaros” e apresentar a relevância da atuação do funcionário João de Deus de Mattos, (porteiro; vigia e preparador), na formação e consolidação da instituição.

O terceiro capítulo apresenta um breve histórico da formação da cultura japonesa, dentro do contexto de seu isolamento com o mundo ocidental, e a partir de seu processo de abertura e estabelecimento de relacionamentos diplomáticos e comerciais com o Ocidente e com o Brasil. Trataremos nessa parte também da identificação das peças da cultura japonesa do acervo sob a guarda do setor de etnologia, apresentando os argumentos que sustentam a hipótese de que parte deste acervo teria como origem o espólio do Imperador D. Pedro II, e possivelmente, seu Museu Particular.

Desta forma, a metodologia adotada utilizou, além da literatura existente sobre o tema escolhido, fontes primárias documentais do setor de Etnologia e do Arquivo Histórico do Museu Nacional, como: os livros de tombo; as cartas de doação; documentos oficiais de permuta de acervo; teses e dissertações visando a análise destas referências para produção do presente trabalho.

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Capitulo I – Documentação Museológica

1.1 -O Colecionismo, Gabinetes de Curiosidades Reais e os Museus.

Podemos encontrar já na Grécia antiga referências sobre as coleções e insti- tuições preocupadas com a memória, como a existente no Liceu de Aristóteles (334 a.C.), ou em Alexandria (século III a.C.), de Alexandre Magno, onde foi criado por Ptolomeu o Mouseion1 juntamente com uma Biblioteca.

Mas, o estudo de coleções de objetos de história natural, e o hábito do coleci- onismo nos leva, necessariamente, ao início do século XV, quando o movimento das grandes navegações iriam resultar no descobrimento de novos continentes, culturas, plantas e animais, até então, desconhecidos.

Surgem, então, nos séculos XVI e XVII, os gabinetes de curiosidades euro- peus, que traduzem a preocupação de inventariar a natureza, devido a incapacidade de guardar na memória toda a maravilha da criação divina e da ação humana; tor- nando-se necessário contar com mecanismos que não deixem cair no esquecimento tudo o que Deus e os homens criaram. Podemos ver, cada vez mais fortemente, os gabinetes de curiosidades como sendo pontes entre o “visível e o invisível” (POMI- AN, 1984, p.66), conhecer o que está longe do alcance através da posse simbólica de seus representantes.

Os gabinetes revelam uma tentativa de se ter ao alcance dos olhos, o que existe em lugares distantes e desconhecidos. Antes de qualquer coisa, trata-se de juntar, de colecionar objetos que dão a ideia da existência de “outros”. Tinha como sua matéria prima a coleção de objetos, plantas e animais da natureza, sendo que om o tempo, essas coleções tornam-se sinônimos de poder de monarcas e nobres e de destaque social, ancorando-se cada vez mais no caráter científico.

. A partir de fins do século XVIII começam a surgir os Museus de História Natural2, instituições ocidentais que expressam uma intenção de colecionar objetos para serem exibidos, esses Museus recolhem e abrigam fragmentos; objetos;

artefatos e obras da natureza e da cultura, agrupando-os em coleções, com o propósito de expor. Essa memória, constituída a partir de objetos selecionados,

1 Este não era um Museu como no conceito atual, era um espaço de convivência para os sábios e eruditos da época com salas de conferencia e observatórios.

2Britsh Museum – 1753; Muséum d’Historie Naturelle – 1793, Museu de História Natural de Coimbra – 1772.

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segundo critérios de valor, não provém de um colecionismo neutro ou isento, mas comprometido com o poder hegemônico, com as idéias que habitam e o contexto da época em que ocorrem.

A tradição de colecionar objetos para serem mostrados é antiga, mas assume diferentes características ao longo do tempo, variando de acordo com os valores de cada momento. De fato, o Museu de História Natural têm em comum com o gabinete de curiosidades, por exemplo, o enfoque na coleção de objetos da natureza, diferindo, entretanto, nas formas de organização, nos critérios de coleta de objetos que formarão o acervo, nos usos e nos modos de apresentação.

A partir dos gabinetes de curiosidades e depois dos museus de história natural, temos, gradualmente, uma mudança entre o ato de apenas colecionar, ou seja, coletar objetos e informações, e a produção do conhecimento através da observação e experimentação. Os resultados das experiências e seus respectivos registros e publicações, transformam as simples coleções em matéria-prima para a construção do conhecimento. O museu moderno irá voltar-se, cada vez mais para o objeto como portador de informação e não mais como suporte da memória ou da reflexão.

Dentro deste universo, os gabinetes são considerados como marco funda- mental do que podemos denominar como processo de consolidação deste novo mo- delo de produção do conhecimento a partir da observação e experimentação, que ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, apresentaram alguns dos aspectos básicos do perfil dos museus, que se mantiveram até os nossos dias (LOPES, 1995, p.12).

.

1.2 - A documentação em Museus

A etimologia do vocábulo documento significa “título ou diploma que serve de prova; declaração escrita para servir de prova” (CUNHA, 2007). O termo é oriundo do latim documentium, de docere, que remete a ensinar, mostrar, informar. Segundo Le Goff (1992), o significado do termo evoluiu de “ensinar” para “provar” é usado freqüentemente no vocabulário judiciário, todavia, apenas no século XIX, o sentido de “testemunho” é utilizado. Sendo no final daquele século e início do século XX, que o termo documento afirma-se essencialmente como “testemunho escrito” e passa a ser o fundamento do fato histórico, numa visão positivista da História.

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Os dois dicionários mais conhecidos da Língua Portuguesa apontam o termo documento em acepções convergentes, isto é, qualquer anotação que se possa consultar, a fim de esclarecer, provar ou comprovar algum fato ou acontecimento.

Segundo Houaiss (2001), documento é “qualquer escrito usado para esclarecer determinada coisa; atestado escrito que sirva de prova ou testemunho; qualquer registro escrito”. Compartilhando do mesmo pensamento, Ferreira (2004) afirma que o vocábulo significa “qualquer base de conhecimento, fixada materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo ou prova”.

A história da documentação museológica nos permite entender a importância que ela teve e continua tendo para a preservação da memória coletiva, em um primeiro momento. O objetivo da documentação era o registro das coleções no sentido de posse e salvaguarda desses objetos, sendo que, mais tarde inicia-se uma aproximação entre a documentação e a organização das coleções. Hoje, além de englobar todas as funções anteriores, ela também está relacionada ao acesso e a disseminação da informação, visando à construção do conhecimento.

Na Idade Média, as igrejas e conventos foram os “lugares dos objetos coleta- dos” da época. Objetos de arte que eram levados pelas cortes itinerantes dos reis se acumulam nesses lugares. Eram inventariados pelos sacerdotes que tinham a preo- cupação do controle das coleções, com o objetivo de evitar que fossem roubados.

Os documentos eram autenticados e levavam um selo com certificado de origem.

Segundo Pomian, “Dois grupos, o clero e os detentores do poder, monopolizavam os semióforos3, controlavam o acesso da população a estes, e serviam-se deles para afirmar a sua posição dominante” (POMIAN, 2004, p.78).

No século XVII, o colecionismo científico se estabelece, com coleções de caráter mais especializado e uma maior sistematização das coleções, surgindo um museu racional, cartesiano, produto do pensamento ordenador, e também, uma preocupação com a difusão da informação visual, destacando-se os catálogos de gabinetes4, que eram produzidos pelos próprios gabinetes, e cujas coleções eram as mais variadas possíveis, compostas por animais, plantas; moedas; pinturas; jóias, etc. Alguns traziam a ilustração do gabinete na capa, minuciosamente reproduzido.

3 Pomian nomeia os objetos sem utilidade prática de semióforos, que passam a cumprir uma nova função, que não é mais utilitária.

4 Por exemplo, o caso do catálogo de Worm: O catálogo do Musei Wormiani História, publicado em 1655 pelo naturalista e professor de medicina Olef Worm, serviu também como manual de História Natural. (TORRES, 2002).

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Os catálogos e inventários dos séculos passados, mesmo que elaborados sem nenhuma técnica específica, são riquíssimas fontes de informação para pesquisadores.

Barbuy classifica as informações referentes à catalogação em dois tipos:

Aquilo a que chamamos, em Museologia, “documentação de acer- vos”, corresponde ao registro sistemático de informações pertinen- tes a cada unidade de acervo (ou “peça”) e constitui-se em ativi- dade institucional interna, rotineira. Tem como base indispensável a catalogação, registra dois tipos principais de informação: ele- mentos relativos à contextualização e à “biografia” do objeto, tanto em seu gênero como em sua individualidade, isto é,envolve desde informações históricas sobre aquela tipologia de objeto, sobre seu autor, fabricante, região de fabricação e formas recorrentes de uti- lização, até os usos que foram dados àquele objeto determinado (pertencimento, locais e modos de utilização). A decodificação, no âmbito da catalogação, liga-se diretamente à morfologia do objeto, isto é, diz respeito a materiais e técnicas de confecção, a formas, ornamentos, a partes constituintes, a funções utilitárias para as quais foi concebido e a significados simbólicos relacionados às formas materiais de representação. (BARBUY, 2002,p. 71)

O conceito adotado de documentação museológica, neste trabalho, será o que foi definido por Helena Dodd Ferraz:

[...] é o conjunto de informações sobre cada um dos seus itens e, por conseguinte, a representação destes por meio da palavra e da imagem (fotografia). Ao mesmo tempo, é um sistema de recupera- ção de informação capaz de transformar, como anteriormente visto, as coleções dos museus de fontes de informações em fontes de pesquisa científica ou em instrumentos de transmissão do conhe- cimento. (FERREZ, 1994, p.65).

O museu, enquanto fonte de informação tem a responsabilidade de disponibilizar meios de transmissão de conhecimento e da informação, cabendo a ele gerir sistemas capazes de possibilitar a comunicação das informações oriundas dos objetos pertencentes a suas coleções. Estas informações devem receber tratamento para que, dentro de um fluxo informacional, tornem-se instrumentos para a geração de conhecimento. Os museus estão voltados, basicamente, para a

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preservação, pesquisa e comunicação das evidências materiais do homem e do seu ambiente, isto é, seu patrimônio cultural5 e natural6.

Para Loureiro, a documentação museológica serve não apenas como:

[...] ferramenta de grande utilidade para a localização de itens da coleção e o controle de seus deslocamentos internos e externos, como também fonte de pesquisa e auxiliar indispensável ao desen- volvimento de exposições e outras atividades do museu. (LOUREI- RO, 1998, p.46)

Com relação aos produtos documentários resultantes da atividade de documentação em museus, destacamos: livro de tombo, inventário, catálogo, ficha classificatória, índice, etiqueta. Segundo Camargo-Moro (1986), no livro de tombo são registrados os objetos assim que chegam ao museu, assim como a sua baixa.

Utilizam uma numeração corrida, onde não pode haver repetições ou reutilizações. A descrição deve ser sucinta, objetiva e completa, mantendo uma uniformidade. O inventário seria o levantamento individualizado e completo dos bens de uma instituição ou pessoa. Nele consta o registro, identificação e classificação.

Corsino aponta a dificuldade na catalogação do item, caso não se obtenha as informações necessárias no momento em que o objeto é recebido pelo museu:

[...] quando os responsáveis pelo recebimento dos objetos não tive- rem grande preocupação com a coleta de informações, tais como o nome completo de doadores, artesãos, procedências anteriores, etc., na hora do recebimento, torna-se muito difícil o registro e cata- logação de maneira satisfatória antes de uma pesquisa mais apro- fundada. (CORSINO, 2000, p.124)

Aqui encontramos um ponto crucial do processo de construção da documentação museológica, por se tratar de um momento único e muitas vezes irrecuperável, que é a entrada do objeto na coleção, informações como doador, procedência, data de entrada e histórico, são determinantes para que o processo de comunicação e geração de conhecimento possam ocorrer de forma satisfatória.

Esse processo tem como finalidade não apenas obter o controle do acervo, mas, também, de otimizar sua utilização por meio da preservação e disseminação da informação. Essa documentação, no caso específico, de peças etnográficas de

5 Patrimônio cultural é a soma dos bens culturais de um povo, que são portadores de valores que podem ser legados a gerações futuras.

6 Patrimônio natural é composto por formações físicas, biológicas e geológicas excepcionais, que tenham valor científico, de conservação ou estético.

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museus é importante porque propicia a análise sob os mais diversos ângulos do conhecimento, por diferentes profissionais, incrementando a produção de publicações e contribuindo para a divulgação dos conhecimentos oriundos desses objetos, que muitas vezes, “constituem o único documento objetivo disponível sobre a realidade etnográfica de determinada época” (HARTMANN apud RIBEIRO;

VELTHEM, 1992).

Tendo em vista o caso da coleção japonesa do Setor de Etnologia do Museu Nacional, onde no processo de registro no livro de tombo não houve a identificação da data de entrada e do doador, em cerca de 50% desta coleção. Passados mais de 100 anos, as dificuldades para o desenvolvimento deste trabalho foi muito grande e a conseqüente comunicação do mesmo com o público de maneira eficiente fica mais difícil.

1.3 – A documentação de objetos Etnográficos

O objeto museológico, enquanto representação da memória adquire um valor simbólico dentro do âmbito a que denominamos patrimônio cultural, passando a ser representante de um grupo, de um tempo ou de um lugar. Ao ser inserido em uma coleção, o objeto perde o seu caráter utilitário e passa a ter uma nova função, a de representar o passado em função do presente. Neste sentido, Pomian (2004) nomeia os objetos sem utilidade prática de semióforos. Mas para que estes passem a cumprir esta nova função, não mais utilitária, é primordial que haja uma documentação museológica que permita sua comunicação.

A história nos indica que o objeto etnográfico se consolidou como tal e assu- miu a importância que tem hoje quando saiu de seu contexto particular e passou a ser abrigado e conservado na instituição museu, formando, assim, as chamadas co- leções etnográficas. Para entender melhor esse objeto, é preciso considerar que é produzido pelo homem em um contexto específico e refere-se a uma sociedade hu- mana particular (SAVARY, 1988, 1989).

Helena Dodd Ferraz aponta que os objetos produzidos pelo homem são portadores de informações intrínsecas e extrínsecas que, para uma abordagem museológica, precisam ser identificadas de forma a permitir que a documentação museológica, possa extrair as informações contidas nos objetos:

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As informações intrínsecas são deduzidas do próprio objeto, atra- vés da análise das suas qualidades físicas. As informações extrín- secas denominadas por MENSCH, de informação documental e contextual, são aquelas obtidas de outras fontes que não o objeto e que só muito recentemente vêm recebendo mais atenção por parte dos encarregados de administrar as coleções museológicas. Elas nos permitem conhecer os contextos nos quais os objetos existiram funcionaram e adquiriram significados e são, geralmente, fornecidas quando da entrada dos objetos no museu e/ou através das fontes bibliográficas e documentais existentes. (FERREZ, 1994, p.66).

O ICOM, através de seu comitê, o CIDOC/ICOM, estabeleceu um conjunto mínimo de dados que deve constar no registro de itens da coleção de museus que podem ser consultados nos CIDOC Fact Sheet7:

• Nome da instituição

• Número do inventário

• Palavra-chave do objeto

• Breve descrição e/ou título

• Método de aquisição/acesso

• Origem (pessoa/instituição) da aquisição/acesso

• Data de aquisição/acesso

• Local de permanência (CIDOC, 2007)

Outras informações poderão ser acrescentadas, segundo as necessidades específicas de cada museu:

Os museus são orientados a formalizarem suas necessidades específicas e podem adicionar seções sobre: material/técnica, mensurações, local temporário, condições, referência cultural/histórica, referência de história natural, site, produção (artista,data), preço, número da fotografia (negativo), manual, conservação,notas, etc. Enquanto em muitas seções de dados estrutura dos deverá entrar uma pré-descrição usando listas de controle de terminologia, “breve descrição e/ou título” e “notas”

normalmente contidas no texto. (CIDOC, 2007)

Os problemas encontrados nos registros e na documentação museológica do acervo da coleção japonesa do século XIX até o inicio do século XX, decorrem da

7Os CIDOC Fact sheets. são recomendações apresentadas pelo CIDOC para documentação de acervos museológicos. Apresentam-se como Fact sheet Nº 1: Registration e Fact sheet Nº 2: Label- ling.

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ausência de profissionais especializados e de padronização de procedimentos, que só foram estabelecidos na segunda metade do século XX.

Atualmente, os registros de entrada de objetos das diversas seções e departamentos do Museu Nacional são feitos por profissionais especializados nas áreas de pertencimento dos objetos, e atendem aos padrões de exigência e especificidade científica de cada coleção, não sendo admissível o registro de objetos sem informações mínimas como a data de entrada e o doador. Os campos de informação a serem preenchidos são bastante minuciosos e muito variados, não havendo um padrão único para todo Museu, tendo em vista a variedade de tipos de acervo, como: arqueológico, botânico, etnológico, mineralógico, paleontológico e zoológico.

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Capitulo II - O Museu Nacional

2.1 – Histórico

A partir de 1808, o Rio de Janeiro tornou-se o centro das decisões políticas do reino português, provocando impacto político, sociocultural, econômico e científi- co na colônia. Até então, as instituições acadêmicas, culturais e científicas existen- tes no Rio de Janeiro tinham um caráter limitado: eram vinculadas à metrópole. Com a mudança do poder da metrópole para a colônia, era necessário dotá-la de padrões e valores europeus.

[...] afinal uma corte que se preze não pode viver sem os seus íco- nes de distinção, grandeza e civilidade. Era preciso dotar a cidade de símbolos que representassem a visão iluminista do governo, e a cidade do Rio de Janeiro deveria estar apta para cumprir o seu pa- pel de sede da monarquia e cartão-postal do Império (SCHWARCZ, 2002, p. 256).

Criar instituições com alto grau de importância que pudessem integrar o proje- to de modernização da nova sede do Império era uma necessidade urgente. Nesse sentido foram criados o Banco do Brasil; a Imprensa Régia; a Real Biblioteca (atual Biblioteca Nacional); a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica; a Academia Militar Real; o Teatro Real São José, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, e mais tarde efetivada como Academia Imperial de Belas Artes e o Museu Real (atual Mu- seu Nacional).

O Padre Luiz Gonçalves dos Santos, contemporâneo dos acontecimentos e que ficou conhecido como Padre Perereca, deixou em sua obra, “Memórias para servir à História do Reino do Brasili”, várias descrições dos feitos resultantes da instalação da Corte no Rio de Janeiro, comenta o religioso:

[...] nesta cidade do Rio de Janeiro, onde ficou a sua Corte, passou não só a criar todos os estabelecimentos públicos indispensáveis ao decoro, e majestade da sua Coroa, mas também os necessários, e úteis para o bem, e prosperidade dos seus vassalos nesta parte do Novo mundo [...] Sua Alteza Real criou os régios tribunais do Desembargo do Paço, da Mesa da Consciência e ordens, do Conselho da Fazenda, do Supremo Conselho Militar, e de Justiça, criou mais a Casa da Suplicação do Brasil, a Junta do Comércio e outras juntas administrativas, como a do Arsenal Real do Exército, da Academia Militar, etc. Criou também o Erário Régio,

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a Relação do Maranhão, novas comarcas, e novas vilas; fundou o Banco do Brasil; mandou abrir estradas pelo interior do sertão até ao Pará, explorar a navegação dos rios, aldear e civilizar os índios bárbaros, e ferozes [...] criou a Academia Militar, e a Escola Médico Cirúrgica; promoveu a população, já permitindo aos estrangeiros estabelecimentos no Brasil, [...], além disto, terras, gado, instrumentos de agricultura, privilégios e isenções; e não havendo um só ramo da pública prosperidade, que não sentisse os benéficos efeitos da solicitude de Sua Alteza Real para engrandecer e fazer preparar este Estado (SANTOS,1981, p.466).

A criação destas Instituições, com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil provocou uma valorização dos estudos de história natural, e a abertura dos portos às nações amigas, em 28 de janeiro de 1808, atraiu para o Brasil um grande número de naturalistas viajantes, contribuindo assim, para a criação e o desenvolvimento do Museu.

Em 06 de junho de 1818, D. João VI assinou, no Rio de Janeiro, o decreto de criação do Museu Real com a missão de atender aos interesses de promoção do progresso cultural e econômico no país, com redação do Ministro Thomaz Antônio de Vilanova Portugal.

Querendo propagar os conhecimentos e estudos das Ciências naturais no Reino do Brasil, que encerra em si milhares de objetos dignos de observação e exame, e que podem ser empregados em beneficio do Comércio, da Indústria e das Artes que muito desejo favorecer, como grandes mananciais de riqueza: Hei por bem que nesta Corte se estabeleça um Museu Real para onde passem quanto antes, os instrumentos, máquinas e gabinetes que já existem dispersos por outros lugares, ficando tudo á cargo das pessoas que Eu para o futuro nomear. E sendo-me presente que a morada de casas que no campo de S. Anna ocupa o seu proprietário João Rodrigues Pereira d' Almeida, reúne as proporções e cômodos convenientes ao dito estabelecimento, e que o mencionado proprietário voluntariamente se presta á vende lá [...]

Thomas Antonio de Villa Nova Portugal, do Meu Conselho, Ministro e Secretários d' Estado dos Negócios do Reino, encarregado da presidência do meu Real Erário, o tenha assim entendido e faça executar com os despachos necessários, sem embargo de quaisquer leis ou ordens em contrario. Palácio do Rio de Janeiro em 6 de Junho de 1818.8

A museóloga Fátima Nascimento (2009, p.14) que foi curadora do setor de etnologia do Museu Nacional, diz que o Museu Real foi criado por um Príncipe Re- gente Português, com o objetivo de propagar o conhecimento e estudo da ciência

8Decreto de fundação do Museu, Arquivo Geral do Museu Nacional: BR MN. AO, pasta 1, doc. 2, 6.6.1818

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natural no reino do Brasil, em uma ex-cidade colonial, recém-promovida à metrópole, tem, como distinção inicial, o fato de ter sido criado através de um decreto de lei, no qual fica especificado o fato de a instituição não estar sendo criada para salvaguar- dar coleções pretéritas.

A historiadoraRegina Dantas (2007, p.82) uma das organizadoras do arquivo histórico do Museu Nacional, aponta que o Museu Real como as demais instituições recém-criadas no Brasil representava uma “transposição de modelos europeus para os trópicos, demonstrando um alinhamento às iniciativas análogas em toda a Euro- pa” (ALMEIDA, 2001, p. 126).

Lilia Schwarcz, destaca também a atuação da princesa Leopoldina, no pro- cesso de idealização do Museu Real.

[...] um dos motivos freqüentemente apontados para a criação do Museu Real foi o interesse pelas Ciências Naturais da futura Impe- ratriz Dona Leopoldina, apaixonada naturalista, grande estudiosa de geologia, que desembarcou no Rio de Janeiro em 5 de novem- bro de 1817, devido ao seu consórcio com d. Pedro I, trazendo em sua comitiva nupcial, uma legião de naturalistas: Rochus Schüch, Johann Natterer, Johann Emanuel Pohl, Giuseppe Raddi e Johann Christian Mikan (LISBOA, 1997, p. 21).[...] Sua atuação, enviando caixotes com minerais, plantas e animais para a Europa, de prefe- rência para o Museu de História Natural de Viena, suscitou o inte- resse de cientistas e artistas em explorarem os territórios até então desconhecidos. A partir de então, os viajantes estrangeiros não se limitaram a desenvolver a pesquisa científica apenas nos países europeus. A curiosidade renascentista que imperava na exploração do Novo Mundo e no Oriente fortaleceu os atos de coleta e de pre- servação da cultura realizados em alta escala pelos viajantes es- trangeiros, até meados do século XIX (SCHWARCZ, 1993, p. 68- 69).

A composição dos primeiros funcionários do Museu Real foi assim estabeleci- da: o diretor, um porteiro, que também exercia as funções de vigia e preparador (ta- xidermista)9, um ajudante das preparações zoológicas, um escriturário e um escrivão de receita e despesa (LACERDA, 1905, p. 4-5). Para exercer o cargo de diretor, foi nomeado pelo governo o Fr. José da Costa Azevedo, que era o diretor do Gabinete Mineralógico da Academia Real Militar.

9Técnica para preservar animais mortos tal qual como eram quando vivos, popularmente conhecido como empalhamento de animais.

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Entre as muitas dificuldades enfrentadas pela primeira direção do Museu Re- al, destacamos a falta de verba e o reduzido corpo de funcionários, para realizar um imenso trabalho de estudo e conhecimento efetivo das naturezas da terra. Ladislau Netto aponta isto quando compara os recursos e a equipe que dispunha a “Casa dos Pássaros” e o Museu Nacional décadas depois.

Ao inspetor Francisco Xavier dos Pássaros, foram reunidos dois ajudantes, três serventes e dois caçadores. Auxiliares em numero superior ao de que dispõe hoje, três quartos de século depois, todo o Museu Nacional, cujas atribuições e responsabilidade natural tem em mais do décuplo das que eram impostas aquele pequeno gabinete de ornitologia. Os honorários de Francisco Xavier, pouco inferiores á um conto de réis, em moeda de então, eram proporcionalmente superiores á soma dos vencimentos dos quatro atuais diretores do Museu acrescendo ainda que aquele simples preparador de zoologia (tolerem-nos, em atenção á necessidade do paralelo, as minudencias á que descemos), dava-se além da habitação no próprio estabelecimento, 60 feixes de lenha por mês, 2 arrobas de velas de cera e 12 medidas de azeite doce por trimestre. (NETTO, 1870, p.13)

Esta comparação entre os recursos disponibilizados ao Museu Real e o que dispunha a “casa dos pássaros”, evidencia o caráter econômico da casa dos pássa- ros, cujo objetivo era abastecer os museus e gabinetes da Europa de espécimes exóticas provenientes da colônia americana.

Quando o Museu foi criado, o Brasil era um país novo, quase desconhecido, e as riquezas naturais de seu solo, assim como os costumes dos povos indígenas que nele habitavam, não tinham começado a ser exploradas e estudadas. (DANTAS, 2007)

A criação e a organização de museus de história natural buscavam atender, a necessidade que se tinha de selecionar os dados da natureza, de modo a organizá- los e classificá-los para os pesquisadores. Esta visão é enfatizada por Lopes quando afirma que:

Os museus foram espaços para a articulação do olhar dos natura- listas, transformando-se de gabinetes de curiosidade em institui- ções de produção e disseminação de conhecimentos, nos moldes que lhes exigiam as concepções científicas vigentes, alterando-se com elas em seus objetivos, programas de investigação, métodos de coleta, armazenamento e exposição de coleções (LOPES, 1997, p. 15).

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Mas as coleções deste novo museu não se reduziriam às “riquezas da terra”.

Eliane Frenkel destaca a presença nas coleções do Museu desde sua criação de objetos de arte, modelos didáticos e outros.

Desde a sua criação, foram acrescentados objetos de valor históri- co e artístico que ultrapassavam os limites espaços-temporais do país. D. João VI doou ao museu dois armários octaedros, contendo 80 modelos de oficinas das profissões mais comuns no fim do sécu- lo XVIII; uma taça-cofre de prata dourada decorada por corais es- culpidos que representam a Batalha de Constantino; um pé de mármore com alparcata grega; uma arma de fogo da Idade Média marchetada de marfim e uma coleção de quadros a óleo. (FREN- KEL, 2012, p.66).

O primeiro diretor do Museu Frei José da Costa Azevedo de 1818 a 1822, teve a tarefa de recolher os instrumentos, máquinas e gabinetes dispersos em ou- tras instituições. Objetos de arte e da Antiguidade doados pela Família Real; peças etnográficas procedentes das províncias do Brasil, e também, a coleção mineralógi- ca adquirida pela Coroa Portuguesa ainda no fim do século XVIII, conhecida como Coleção Werner10, durante organização do acervo na sede do Museu no Campo de Santana, atual Praça da República.

A Coleção Werner em é uma homenagem a Abraham Gottlob Werner, consi- derado o pai da mineralogia, cujo catálogo manuscrito é hoje considerado a primeira obra rara adquirida pelo museu. Figurou no centro do acervo mineralógico como co- leção principal da Academia Real Militar que havia sido adquirida pela Coroa portu- guesa para compor o chamado “Gabinete de Minerais” do Real Museu de Lisboa.

As coleções do Museu Real foram sendo ampliadas e durante a transforma- ção do reino brasileiro em império, com o apoio e doações de D. Pedro I, da família imperial, e a devida orientação de seu ministro José Bonifácio de Andrada e Silva, foi também desenvolvida uma política de incentivo aos viajantes naturalistas11, que doaram artefatos e espécies dos diferentes locais do Brasil para o Museu (LACER- DA, 1905).

10A coleção foi composta inicialmente de 3.326 exemplares – pertencera originalmente a Karl Eugen Pabst von Ohain, assessor de minas da Bergakademia de Freiberg, local onde Werner lecionava (FALCÃO, 1965, p. 262). No último levantamento dos geólogos do Museu Nacional, em 1987, foram identificados apenas 1.200 exemplares.

11Responderam imediatamente ao chamado Heinrich Von Langsdorf, Johann Natterer e Frederico Sellow. Algumas das doações estão registradas nos documentos existentes na Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional da UFRJ.

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Em 24 de abril de 1821, D. João VI retorna a Portugal, deixando no Brasil seu filho D. Pedro I como Príncipe Regente. Em 1822, com a declaração da independên- cia do Brasil, D. Pedro I assumiu o título de Imperador do Brasil e o Museu Real passou a se chamar Museu Imperial, nome que permaneceu até 1830, quando a instituição passa a ser denominada de Museu Nacional.

Na formação do acervo do Museu aparecem muitas doações ligadas à família imperial Brasileira. Em 1823, D. Pedro I e Dona Leopoldina, doaram ao acervo: Duas cabeças de chefes Maoris da Nova Zelândia; o manto Owhyeen, oferecido pelo Rei Tamechameha II em 1824 e um colar de plumas doado pela Rainha Tamehamalu das Ilhas Sandwich, atual Havaí. Preciosidades de extrema raridade que fazem par- te das exposições de longa duração do Museu, na sala dedicada as “culturas do pa- cifico”. No entanto, das doações realizadas pelo Imperador, as mais importantes, e ainda, hoje, as mais populares são as múmias, os sarcófagos e outros objetos que fazem parte da coleção egípcia, arrematados em 1826, num leilão da Alfândega, por sugestão de José Bonifácio.

A localização central do Museu, prevista em seu decreto de criação, que cita o Campo de Santana, mais tarde Campo da Aclamação, onde se realizavam as fes- tas populares promovidas pela monarquia e onde outras instituições do Império, co- mo o Senado, tinham sede, o colocam ao mesmo tempo próximo aos centros de de- cisão do poder, assim como da população. Esta popularização do Museu foi comen- tada por viajantes europeus, que estavam acostumados a uma maior elitização em seus próprios museus e estranhavam a presença de pessoas mais humildes.

No livro de Ferdinand Dennis de 1838 encontramos a impressão de um via- jante sobre os visitantes do Museu.

Há alguns anos, um viajante, que acabava de visitar esse estabele- cimento mostrou-se admirado pelo grande número de pessoas de classes mais humildes da sociedade, que ali encontrou; os solda- dos, principalmente, pareciam afluir para ali; todos pareciam tomar um grande interesse por aquela exibição um tanto confusa (DEN- NIS, 1980, p. 131)

Como observou o museólogo Cícero Almeida (2001, p. 124), os objetos cons- tituídos em coleções no espaço museológico, “passam a exercer um papel específi- co dentro de um sistema próprio, no qual estão em jogo inúmeros sentidos, cujas invocações só podem ser analisadas à luz de um sistema cultural que lhe é comum”.

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Portanto, o Museu Real foi criado para ser um Museu Metropolitano, como apontou Maria Margaret Lopes (1997, p. 47), um núcleo para o recebimento e catalogação das riquezas naturais das províncias brasileiras, que, por meio de intercâmbio com outras nações, foi enriquecido com coleções de âmbito universal.

O prédio do Museu durante o período em que esteve sediado no Campo de Santana, passou por inúmeras reformas. O Museu é aberto ao público em 24 de ou- tubro de 1821, ou seja, três anos após sua criação, com a observação da visita se dar:

[...] que faculte a visita, do Museu, ás quintas-feiras de cada sema- na desde as dez horas da manhã até a uma da tarde não sendo dia santo,à todas as pessoas assim, estrangeiras como nacionais, que se fizerem dignas pelos seus conhecimentos e qualidades, e que para conservar-se em tais ocasiões a boa ordem e evitar-se qual- quer tumulto [...] (NETTO, 1870, p. 27).

O museu passa a ser conhecido como Museu Nacional a partir de 1842. Em função do interesse do imperador D. Pedro II em construir uma identidade brasileira, e visando a “assegurar não só a realeza como destacar uma memória, reconhecer uma cultura” (SCHWARCZ, 1998, p. 126), o Museu passou a ser reconhecido como uma instituição de caráter nacional.

Em 1858 o Museu obtém autorização para abrir ás exposições publicas, nos domingos, em vez de fazê-lo ás quintas-feiras, dias em que somente a poucos era dado fruir destas visitas de instrução e de recreio, sem perda dos interesses e ocu- pações quotidianas de cada um. (NETTO, 1870).

As exposições começam a demonstrar preocupações dirigidas ao público em 1861, como a realização da exposição dos produtos da Comissão do Império efetu- ada no Ceará. E em 1882, começa a tratar a exposição como um evento, a partir da Exposição Antropológica. (NASCIMENTO, 2009, p.34).

2.2 - A Transferência do Museu para Quinta da Boa Vista

Após o banimento do Imperador D. Pedro II em 1890, o novo governo republi- cano promove o leilão do Paço12, um rápido processo de venda dos pertences do imperador, oriundos de suas antigas fazendas, e propriedades. Em ofício datado de

12Sobre o assunto, ver O leilão do Paço, composto das sessões do leilão narradas detalhadamente e contendo o inventário dos pertences dos Paços do imperador (SANTOS, 1940).

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28 de fevereiro de 1890, o então diretor do Museu Nacional, Ladislau de Souza Mel- lo e Netto (1875-1892), começou a empreender esforços visando à possibilidade da transferência do Museu Nacional do Campo de Santana, para o palácio da Quinta da Boa Vista. Sua insistência foi pautada na falta de espaço para uma instituição que estava em crescente desenvolvimento.

Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1890. Ao cidadão Francisco Glicério, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Snr. Ministro, tendo recebido do Ministério do Interior a autorização em que ha- veis solicitado, para que me fosse permitido examinar todo o edifí- cio da Quinta da Boa Vista, percorri e minuciosamente visitei aquele edifício, que me parece perfeitamente adequado as funções de um Museu de História Natural, a que destina o Governo Provisório, de que fazeis dignamente parte. Estranho, mas me parece útil e fácil [...] os reparos e melhoramentos, que se exige referido edifício para satisfazer aos fins que se tem em vista. Estes trabalhos limitam-se ao retalhamento de todo aquele imóvel e a colocação de cobertas de vidro em quatro pátios internos, transformáveis assim em novos salões de grande altura e portanto excelentes para neles se con- servarem ao alcance da curiosidade pública, os esqueletos de mai- ores dimensões conhecidas.[...] (DANTAS, 2007, p.89).

Há que se destacar neste trecho a solicitação de Ladislau Netto, ainda no processo de mudança em 1890, para a colocação de coberturas de vidro em quatro pátios internos do Palácio, atendendo demandas de grandes salas em altura para exibição de esqueletos de grandes dimensões. Infelizmente isto não ocorreu e ainda hoje, passados mais de 120 anos, a cobertura com estrutura de vidro de pelo menos um dos pátios internos é uma prioridade da instituição a ser executada nas futuras reformas do Palácio.

[...] Infelizmente, nos mais ricos salões, aposentos internos, galerias e corredores do Palácio, atiram-se desastrada e precipitadamente, em acervo mais que desordenado, todos os móveis do Paço da Ci- dade [...] é indispensável que se desocupe o edifício, onde deve ser colocado o novo museu, e sem a intervenção mais enérgica do Go- verno Provisório, nada se fará tão cedo neste sentido, o que facil- mente se depreende ao estado em que se acham aqueles móveis, e mais ainda da declaração formal do principal procurador do ex- imperador, recusando-se a tomar qualquer providência. Rogo-vos, pois que, atendendo a necessidade da mudança desta repartição para o edifício daquela Quinta, tomeis as providências precisas a fim de que pelo Ministro do Interior sejam removidos os móveis que aí se acham, impedindo qualquer instalação que me seja dado fa- zer de algumas coleções mal acomodadas já nesse Museu. Saúde

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e Fraternidade. O Diretor Geral Ladislau Netto.13 (DANTAS, 2007, p.89).

Entretanto, dias após o término do leilão, em novembro de 1890, o prédio foi destinado para abrigar a primeira Assembléia Constituinte republicana,14responsável pela elaboração da Constituição de 1891 e pela indicação dos primeiro presidente e vice-presidente do Brasil.

Dois anos após o primeiro documento solicitando o palácio ao ministro dos Negócios, Comércio e Obras Públicas, identificamos um ofício de Ladislau Netto so- licitando providências para o transporte do “Museu do Imperador” para o Museu Na- cional. Talvez a estratégia de Ladislau tenha sido continuar presente nas discussões sobre o palácio, dessa vez solicitando o acervo existente no prédio, para conseguir por insistência o próprio edifício.

Museu Nacional do Rio de Janeiro em 6 de fevereiro de 1892. Ao Snr. Dr. José Hygino Duarte Pereira, Ministro e Secretário de Esta- do dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. Snr.

Ministro sendo-me urgentemente necessário transportar para o Mu- seu Nacional todo o Museu da Quinta da Boa Vista com enorme material composto de numerosas coleções de objetos delicadíssi- mos, de aparelhos de física, de livros e de móveis, constando a maior parte dessas coleções de minerais guardados em frascos muito frágeis, e não sendo possível efetuar semelhante transporte senão em vagões da Companhia de São Cristóvão, peço-vos provi- dências a fim de que seja aquela companhia encarregada desse serviço, empregando vagões descobertos que tragam até os por- tões do Museu as referidas coleções, ainda que seja preciso pro- longar com alguns metros os trilhos da mesma companhia. O Dire- tor Geral Ladislau Netto.15 (DANTAS apud. NETTO, 2007, p.90)

Em maio de 1892, é possível constatar que a insistência de Ladislau fez com que se conseguisse o palácio, e, por meio do ofício enviado ao ministro da Instrução Pública, identificamos o processo de mudança e destacamos sua denúncia contra o engenheiro do Ministério do Interior e seu trato com os objetos da ex-residência im- perial.

Museu Nacional do Rio de Janeiro em 19 de maio de 1892. Ao Snr.

Dr. Fernando Lobo Leite Pereira, Ministro e Secretário de Estado

13Arquivo Geral do Museu Nacional: BR MN MN. DR. CO, RA. 9/f.151-151v.

14Jamil Cury fez um minucioso trabalho sobre o I Congresso Constituinte republicano. (CURY, 2001).

15Arquivo Geral do Museu Nacional: documento de Ladislau solicitando urgência para a mudança. BR MN MN. DR. CO, RA. 9/f. 156-157.

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Interino dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos.

Snr. Ministro, passo a vossas mãos o ofício incluso, por cópia, que me foi dirigido pelo empregado Alexandre Magno de Mello Mattos, encarregado da direção do transporte do material do Museu Nacio- nal para a Quinta da Boa Vista e por mim particularmente incumbi- do de velar pelos móveis pertencentes a aquela Quinta, os quais por abusos praticados sob a direção do engenheiro de Obras do Ministério do Interior sofreram grande depredação [...] O caso me parece tão grave que não posso esquivar-me ao dever de chamar sobre ele o vosso zelo patriótico, a fim de que uma comissão seja nomeada para examinar o que houve neste assunto, [...] conduzin- do em trinta carroças de mudança móveis riquíssimos, nos quais se reconhecem os móveis do antigo palácio. O Diretor Geral Ladislau Netto16. (DANTAS, 2007, p.92).

Lacerda (1905, p.67) diz que “Em 25 de julho de 1992, o museu estava totalmente transferido para a Quinta da Boa Vista”. Os amplos espaços do palácio possibilitavam a organização das coleções e, além disso, propiciavam os estudos de botânica e zoologia, por estar localizado no parque da Quinta da Boa Vista, vasto local de natureza exuberante e diversificada, diferentemente da antiga sede no Campo de Santana.

A transferência do museu para o Paço de São Cristóvão significou a união de valiosos bens e de importantes referências da história do Brasil. O palácio residencial dos monarcas, também sede da primei- ra Constituinte da República, além de representar um dos mais sig- nificativos monumentos arquitetônicos do século XIX no país, pas- saria a sediar a mais importante instituição científica nacional da época, abrigando a partir de então, em um mesmo espaço, a histó- ria política, a história das artes e a história das ciências no Brasil (AZEVEDO, 2007, p.21).

Após a transferência do acervo para a Quinta da Boa Vista, o prédio passa por muitas reformas e adaptações, para atender as demandas de acomodação do Museu Nacional no Palácio, somente reabrindo para o público em sua nova sede em 25 de maio de 1900, com a presença do Presidente da República, Campos Sales (AZEVEDO, 2007).

Em 1938, o Paço de São Cristóvão fez parte do primeiro grupo de monumen- tos tombados, pelo Serviço de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN) ressaltando seu valor no contexto dos bens que representam a identi- dade nacional a ser preservada.

16 Arquivo Geral do Museu Nacional:BR MN MN. DR. CO, RA. 10/f.54.

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Atualmente, o Museu Nacional é uma instituição autônoma, ligada à Universi- dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e está vinculado ao Ministério da Educação.

Como Museu Universitário, tem perfil acadêmico e científico, ministrando cursos de Pós-Graduação nas áreas de Antropologia, Arqueologia, Botânica e Zoologia. Pos- sui um acervo de cerca de 20 milhões de peça sem suas coleções científicas e cons- titui um dos maiores museus de história natural e antropológica da América Latina.

2.3 - A Casa dos Pássaros

Ainda nos dias de hoje se discute sobre a iniciativa do Vice-Rei Luis de Vas- concellos e Souza (1778 – 1790), quando cria uma “Casa de História Natural”, no Rio de Janeiro. Escolheu o Campo da Lampadosa, futuro Erário e atual Avenida Passos, para erguer a casa que iria abrigar uma coleção expressiva de exemplares da fauna e da flora brasileiras. “Estranha uma elegante arcaria de granito, -- entre começo e ruínas --, erguida no mesmo lugar em que vemos atualmente o Tesouro nacional: essa arcaria era o principio do Museu de Historia Natural Brasileiro” (NET- TO, 1870, p.10).

Ao longo do período das obras da “Casa de Historia Natural”, foi construído um grande barracão ao lado do futuro prédio, para servir de depósito, para a guarda de materiais já coletados, e próximo a esse local havia a “Lagoa da Panela” que era visitada por aves aquáticas, muitos exemplares foram capturados neste local, abati- dos até mesmo da janela do barracão e compuseram as primeiras coleções. Como conseqüência, a casa ficou popularmente conhecida como “Casa dos Pássaros”.

Esta iniciativa vista por alguns como sendo o primeiro museu no Brasil e por outros um antecedente do Museu Real que seria herdeiro do seu acervo é contro- versa, pois como afirma Fátima Nascimento:

O Museu, no decreto de sua fundação, passa a ser denominado de Museu Real e, a seguir, viria a ser tratado, em projetos, como um Museu Geral do Rio de Janeiro,[...] No projeto, uma vez recebidos os produtos de instituições provinciais no Museu do Rio de Janei- ro,[...] A partir desse programa de intenções, concordamos com Lo- pes, quanto ao alerta para o fato de a instituição, a partir de então formada, diferir radicalmente do que se denomina um entreposto com finalidades de armazenamento provisório para o envio de ma- terial a metrópoles portuguesas, alertando para o caráter metropoli- tano do museu recém-criado, baseando-se no fato de sua criação ocorrer na sede do Reino-Unido Português. Lopes discorda de La-

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cerda que, nos Fastos do Museu Nacional, aponta a Casa dos Pás- saros como um embrião do Museu Nacional. A versão de Lacerda passa a fazer parte do senso comum sobre a história da instituição, sem dar conta da comprovação de uma continuidade em termos de política ou em termos de manutenção de coleções (NASCIMENTO, 2009, p.25).

Ladislau Netto, em sua Investigações, também se refere à casa dos pássaros como um depósito de produtos zoológicos do Brasil, destinados sobretudo ao au- mento das coleções brasileiras do Museu Metropolitano.

Segundo Dantas (2007, p.79). José Lacerda de Araújo Feio, ex-diretor do Museu Nacional, acreditava ser imprecisa a data da inauguração da Casa de Histó- ria Natural, pois ela começou a funcionar independentemente da conclusão das obras de construção da sede. Calcula que o início foi em 1783 (FEIO, 1965, pp. 1- 31). Para Maria Margaret Lopes, o início da Casa de História Natural data de 1784, mesmo ano em que o vice-rei D. Luis de Vasconcellos criou o Gabinete de Estudos de História Natural, provavelmente, a Casa de História Natural (LOPES, 1997, p.

27).

Dona Maria I, aos 43 anos em 1777, assumiu o trono após a morte de seu pai. Na condição de rainha de Portugal, ela determinou que seu ministro, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, e o Vice-Rei, Luis de Vasconcellos e Souza, recolhessem pro- dutos naturais e objetos que representassem as culturas da população nativa da co- lônia sul americana para serem enviados a Lisboa. Assim, várias amostras de “ri- quezas da terra” foram transportadas para a metrópole para incrementar o tesouro da Coroa e o acervo do Museu Real de Lisboa. (FRENKEL, 2012, p.63).

Francisco Xavier Cardoso Caldeira, conhecido como Xavier dos Pássaros, foi o inspetor responsável pela Casa de História Natural. Interessado pesquisador e guardião do material, Xavier praticava e ministrava aulas de taxidermia, processo popularmente conhecido como de empalhamento de animais. “Ao inspetor Francisco Xavier dos Pássaros, foram reunidos dois ajudantes, três serventes e dois caçado- res” (NETTO, 1870, p.13).

Em sete de março de 1808 com a chegada a Família Real e sua Corte de- sembarcavam no porto do Rio de Janeiro, marcando a transferência da sede da mo- narquia de Lisboa para o Rio de Janeiro, numa estratégia de fuga das invasões na- poleônicas na Europa.

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Desta forma, perdeu-se o sentido da existência de um entreposto de produtos naturais no Rio de Janeiro, já que Portugal estava dominado e os produtos teriam que ser cedidos ao invasor. Infelizmente, o sucessor do Vice-Rei Luiz de Vasconcel- los, não apoiou a “Casa de História Natural”, que acabou entrando em decadência.

Com o falecimento de Xavier dos Pássaros em 1810, foi designado com subs- tituto em suas funções de inspetor, o Doutor em Filosofia Luiz Antonio da Costa Bar- radas, Oficial do Real Corpo de Engenheiros e Professor de Física da Academia Real Militar, que não deu continuidade às atividades. Após 1811, as pesquisas e a formação do acervo das coleções zoológicas foram encerradas.

De acordo com as pesquisas de Lopes (1997), o edifício da “Casa de História Natural” abrigou os encarregados dos serviços de lapidação de diamantes com suas famílias, e foi derrubado posteriormente, para se transformar em prédio do Erário Real, que depois abrigou o Tesouro Nacional.

Todos os seus móveis e produtos, entre os quais havia mais de mil peles de pássaros, muitos insetos e alguns mamíferos, foram colocados em caixões e guar- dados em um grande cômodo, sobe responsabilidade de Costa Barradas, e perma- neceram neste espaço por cerca de um ano, quando foram recolhidos ao Arsenal de Guerra.

Todas as coleções pertencentes á Caso de historia natural foram metidas em caixões e entregues a vigilância extramuros dos dois ajudantes de Costa Barradas, os quais nunca mais lhes puseram os olhos no quarto onde, os haviam emparedado e cuja entrada lhes foi formalmente vedada. Era o sarcófago em que houveram por bem sepultar os restos mortais daquele mal vingado e tão cedo as- fixiado começo do nosso primeiro museu. Pouco tempo depois se tendo encarregado o General Napion de vir caridosamente exuma- los, -- na cabal acepção do verbo -- apenas achou em estado de imperfeita conservação cerca de cinqüenta exemplares dos mil pássaros e dos muitos outros animais, que tenham sido ali depos- tos. Por sua iniciativa e ilustrada coadjuvação, foram eles conduzi- dos ao Arsenal do Exercito (hoje da Guerra) e conservados naquele estabelecimento d' envolta com uma bela coleção mineralógica e alguns instrumentos físicos destinados aos estudos práticos dos alunos da antiga Academia Militar (NETTO, 1870, p.15).

Assim, em 22 de junho de 1813, a decisão número 20 do Príncipe Regente mandou “extinguir o museu desta Corte”, acabando com os “empregos do museu”, em função da contenção de despesas que marcaram os primeiros anos da Corte no país.

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