A
CONSTRUÇÃO DA
COMUNIDADE LUSÓFONA
A PARTIR DO ANTIGO CENTRO.
MICRO-COMUNIDADES E PRÁTICAS DA LUSOFONIA
Cármen Liliana Ferreira Maciel
___________________________________________________
Dissertação de Doutoramento em Sociologia
A
BRIL2010
II
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Sociologia, realizada sob a orientação científica da Professora Doutora M. Margarida Marques, Professora Associada do Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Apoio financeiro da FCT
IV Declaro que esta dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.
A candidata,
____________________
Lisboa, .... de ... de ...
Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apresentada a provas públicas.
A orientadora,
____________________
V
AGRADECIMENTOS
A presente dissertação de doutoramento surgiu no seguimento do trabalho desenvolvido para a tese de licenciatura “Lusotropicalismo e Lusofonia: duas versões poéticas da identidade nacional?” sob a coorientação científica dos Professores Doutores Jorge Pedreira e Miguel Jerónimo – a quem agradeço por me terem acompanhado nos primeiros passos dados na investigação e por me terem incentivado a explorar as questões ligadas à lusofonia partindo para um doutoramento. Agradeço a confiança depositada e o desafio que, em especial, o Professor Miguel Jerónimo me lançou.
A Professora Doutora M. Margarida Marques, convidada a arguir a tese acima referida, convidou-me, posteriormente, a integrar a equipa do SociNova Migrações e incentivou-me a desenvolver um projecto de doutoramento que girasse em torno da temática, explorando novas possibilidades de análise. Sob a sua orientação académica, o projecto que deu origem a esta dissertação foi aprovado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia – instituições a que agradeço o acolhimento e o apoio financeiro.
À Professora Margarida Marques – orientadora não só desta dissertação, mas também referência académica e científica para a socióloga que pretendo ser – agradeço o olhar lúcido, rigoroso, exigente e de questionamento atento que me levou a procurar continuamente possíveis caminhos de inteligibilidade. O seu sentido crítico construtivo, o estímulo à excelência e ao rigor, o seu acompanhamento, disponibilidade e incansável apoio e dedicação foram indubitavelmente factores que me motivaram mesmo nos momentos mais difíceis da caminhada. Agradeço em especial o facto de ter acreditado que esta dissertação veria a luz do dia, mesmo depois de um interregno de treze meses, em que, por razões de ordem familiar suspendi os trabalhos de investigação. Os resultados alcançados não seriam os mesmos sem a sua orientação e amizade. Obrigada!
VI conterrâneos brasileiros, e pelo facto de se ter disposto (juntamente com os seus dois irmãos) a verificar algumas informações em dicionários de língua portuguesa editados no Brasil.
Um obrigada a todos os entrevistados e outros informantes privilegiados pela disponibilidade em me receberem, pelas opiniões, informações, referências e dicas. Também aos que gentilmente colaboraram na sondagem de opinião dissiminada por via electrónica; tanto aos que se limitaram a responder, como aos que me apoiaram na dificil tarefa de fazer chegar a mensagem a 911 indivíduos dos vários espaços e países de língua portuguesa. E, aqui, gostaria de destacar a inexcedível colaboração da Professora Doutora Isabel Lousada; do Sociólogo Paulo de Carvalho; do colega Francisco Carvalho; do amigo Miguel Sabino; e, a um outro nível – mais institucional – a inestimável colaboração da CPLP, em especial do Sr. Secretário-Executivo, Dr. Domingos Pereira, do Sr. Director-Geral, Dr. Hélder Vaz, e do Assessor de Comunicação, Dr. António Ilharco.
Agradeço ainda ao meu amigo João Carlos Martins, Director Executivo da ADRA Portugal (onde realizei um estágio profissional de 13 meses após o término da Bolsa da FCT), pela compreensão, incentivo e apoio em todos os momentos do final de percurso.
Um agradecimento também à rede IMISCOE que me concedeu uma bolsa para a realização de um curso de verão na Universidade de Amesterdão; à rede Metropolis, que me apoiou na deslocação a vários encontros internacionais onde pude apresentar algumas das minhas ideias a colegas de outros países; à Nancy Lima que me ajudou na tradução do resumo deste trabalho; à Sara Rabiais que me apoiou na revisão dos dados estatísticos; e a todos os que, de forma pontual, contribuiram para que este trabalho tomasse os contornos que tomou.
Por último, mas não menos importante, agradeço ao meu marido António, pela constante compreensão, incentivo, apoio e amizade. À minha filhinha Ana Beatriz, por pacientemente prescindir da minha presença e atenção em momentos que o volume de trabalho a isso obrigou; à minha mãe Gorete, por sempre me encorajar a atingir patamares elevados, por ser uma presença constante e amiga, que, juntamente com o João e o Rúben me acompanharam nesta jornada, facilitando-me a gestão do dia-a-dia nos momentos de maior aperto. As minhas palavras jamais poderão expressar o quanto vos devo. Obrigada!
VII
RESUMO
A construção da Comunidade Lusófona a partir do antigo centro. Micro-comunidades e práticas da lusofonia
Cármen Liliana Ferreira Maciel
PALAVRAS-CHAVE: Comunidade lusófona, Lusofonia, Língua portuguesa, Globalização, Micro-comunidades, Práticas da lusofonia, Produção cultural.
A presente dissertação tem por objectivo discutir a construção da comunidade lusófona a partir do antigo centro português. Escrutinando os rumos da história desde o século XV até à actualidade pós-colonial da sociedade portuguesa, pretende-se traçar o enquadramento histórico que terá estado na base de concepção e idealização de tal
comunidade.
Pretende-se ainda acompanhar as dinâmicas simbólicas, mas também políticas, institucionais e culturais do projecto de comunidade que, a 17 de Julho de 1996, adquire um rosto formal através da constituição da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa. Em simultâneo com a análise das iniciativas realizadas „de cima para baixo‟, presta-se particular atenção à actuação dos agentes ao nível micro, focalizando a atenção na exploração das práticas da lusofonia que se dão sobretudo na esfera cultural.
Defende-se, neste trabalho, que comunidade lusófona é um colectivo em formação e que, apesar da forte conotação ideológica, que a situa ao nível do resgate de
um passado agora reinventado à luz do „encontro de culturas‟, esta é uma realidade prática que vemos funcionar em expressões diversas, quer em iniciativas informais, quer em transacções comerciais ou em actividades sócio-culturais – para além das acções político-institucionais.
VIII
ABSTRACT
The building of a Portuguese-speaking community from the old imperial center. Micro-communities and Lusophone practices.
Cármen Liliana Ferreira Maciel
KEYWORDS: Portuguese-speaking community, Lusophonia, Portuguese language, Globalization, Micro-communities, Practices of Lusophonia, Cultural Production.
We intend in this dissertation to discuss the building of the Portuguese-speaking community from the old imperial centre. Scrutinizing the course of History since the fifteenth century up to the present post-colonial society will allow tracing the historical background that has been the basis of conceptionand idealization of such a community.
We also intend to follow the symbolic dynamics of the community project that, on July 17th 1996, is formalized through the constitution of the Community of Portuguese-Speaking Countries, as well as the political, institutional and cultural processes running parallel to them. Together with the analysis of the initiatives implemented from the top, particular attention is paid to the agents at the micro level, focusing the analysis on the practices of Lusophonia that take place in the cultural sphere.
It is argued that a Portuguese-speaking community is in process, and that, despite its heavy ideological connotation with a past now being reinvented as an
„encounter of cultures‟, this is a practical reality, operating in diverse expressions,
IX
ÍNDICE
Agradecimentos ... V
Resumo …………... VII
Abstract ………... VIII
Índice geral ……….. IX
Índice de Ilustrações: Esquemas, Quadros, Tabelas e Gráficos…………. XIII Lista de acrónimos e abreviaturas ... XVI
I. Introdução ... 1
I.I. Enquadramento histórico: I.I.I. Da lusotopia à lusofonia ... 8
I.I.II. Da globalização à comunidade lusófona: bases ideológicas e oportunidades estratégicas ………... 23
I.II. Problematização e hipóteses ... 32
I.III. Clarificação de conceitos ... 43
IV. Metodologia ... 47
II. Parte I ……… 52
Capítulo 1. Discorrendo sobre a lusofonia ……….. 53
1.1. Percurso do termo nos dicionários de língua portuguesa ……… 57
1.1.1. O dicionário como “objecto histórico-discursivo” …….. 60
1.1.2. Metodologia ……… 63
1.1.3. Análise de conteúdo 1.1.3.1. Percurso do termo entre 1900 e 1974 …..…….. 67
1.1.3.2. Percurso do termo entre 1975 e 2009 …..…….. 76
1.2. Lusofonia – entre a ideologia pós-colonial e o projecto de comunidade 1.2.1. Pós-colonialidade na sociedade portuguesa ……… 89
1.2.2. Em torno de um „imaginário comunitário‟: a problemática emergência da lusofonia ………. 95
Capítulo 2. A comunidade lusófona ……… 106
X 2.2. Ensaio sobre o significado de comunidade lusófona ... 116
2.2.1. A construção do carácter social da comunidade
lusófona ……… 119
2.2.2. A dimensão narrativa da comunidade lusófona ………. 122 2.2.3. A existência da comunidade lusófona num contexto relacional entre o „eu‟ e o(s) „outro(s)‟ ………... 124
2.2.3.1. Leituras da História comum: as comemorações do V Centenário da chegada de Pedro Álvares Cabral
ao Brasil ……….. 125
2.2.4. A natureza múltipla da comunidade lusófona ………… 128 2.2.4.1. Manifestações multifacetadas ao nível da
sociedade civil ……… 132
Capítulo 3. Evolução da ideia de comunidade lusófona: dos primeiros
passos à institucionalização das práticas da lusofonia ……… 137 3.1. A abordagem institucional ……….. 139 3.2. Contextualização histórica: a marca-de-água dos conflitos ideológicos e das necessidades político-económicas para a criação
de uma comunidade ………..………. 141
3.3. Os impulsionadores e precursores da comunidade lusófona e das primeiras organizações multinacionais de língua portuguesa ... 151 3.3. A emergência e a institucionalização da CPLP ... 156
Capítulo 4. A produção cultural como pilar estruturante da comunidade. O investimento na língua e na(s) literatura(s) em português ……….. 162
4.1. A língua portuguesa ... 168
4.2. Língua e Literatura: a formação de múltiplas „pátrias‟ a partir
da “chama plural” ………... 182
4.3. A formação de uma „comunidade interpretativa‟? O caso particular das literaturas africanas em língua portuguesa ………….. 188 4.4. O IPLB e o IILP: dois estudos de caso sobre a criação de estruturas de oportunidades para o investimento na língua e nas
XI 4.4.1. O Instituto Português do Livro e das Bibliotecas
e a Rede Bibliográfica da Lusofonia ……….. 197 4.4.2. O Instituto Internacional de Língua Portuguesa .. 202
Capítulo 5. Migrações, produção cultural e práticas da lusofonia ……….. 206 5.1. Migrações lusófonas no antigo centro. Breve contextualização histórica dos fluxos migratórios em Portugal ……… 209
5.2. As migrações lusófonas no antigo centro: „eu‟, o „outro‟ e „nós‟ 213 5.2.1. A difícil inserção no antigo centro ……… 214
5.2.2. “Maio, Mês de África em Lisboa”: um estudo de
caso sobre a „activação‟ de estruturas e recursos……… 216 5.2.3. O racismo em „confronto‟ com as expressões de
„miscigenação‟……… 228
5.2.4. Entre a Europa e as „afinidades‟ com o espaço
lusófono. A circulação de pessoas e de bens culturais ... 235
III. Parte II ………. 243
Capítulo 6. Os “mundos da lusofonia”……… 244 6.1. Agentes culturais da lusofonia ligados à esfera literária ………. 247
6.1.1. Língua portuguesa: engajamento e „espaço de
oportunidades‟ ……….. 252
6.1.2. A relação com as sociedades de origem/de referência…. 255 6.1.3. A diversidade (linguística) nas literaturas africanas em
língua portuguesa ……….. 258
6.1.4. A relação com o antigo centro ……… 260 6.1.5. A literatura em língua portuguesa, a lusofonia e a construção da comunidade lusófona ………. 262
6.2. Sondagem de opinião ……….. 265
6.2.1. Discussão das vantagens e desvantagens da metodologia escolhida ... 269 6.2.2. Caracterização dos inquiridos ... 275 6.2.3. Processo de categorização para trabalhar as respostas
XII
6.2.4. Discussão dos resultados obtidos ... 285
6.2.5. Considerações finais sobre os resultados obtidos ... 300
6.3. Conclusões ……….………. 303
Capítulo 7. Considerações finais ………. 306
7.1. A confusão de conceitos ………. 307
7.2. A inconsistência de processos de concretização ………. 308
7.3. O desconhecimento de práticas do quotidiano que sustentam a lusofonia como força motriz de um colectivo ……… 309
7.4. Pistas de análises futuras ………. 313
Fontes e Referências bibliográficas ... 315
Anexos ……… 363
Anexo I. Percurso do termo Lusofonia e de outros relacionados em dicionários/enciclopédias ………... 364
Anexo II. Lista dos Responsáveis pelas iniciativas do “Maio, Mês de África em Lisboa”, em 2004 ………. 382
Anexo III. Lista de artistas intervenientes no “Maio, Mês de África em Lisboa”, em 2004 ………. 383
Anexo IV. Lista de personalidades intervenientes no “Maio, Mês de África em Lisboa”, em 2004 ……….. 384
Anexo V. Guião temático utilizado na entrevista aos produtores culturais ……….. 385
Anexo VI. Listagem das Entrevistas realizadas ………. 387
Anexo VII. Síntese das opiniões dos escritores entrevistados ……... 389
Anexo VIII. Texto modelo de apelo à participação na sondagem de opinião ……… 392
Anexo IX. Grafismo da plataforma que a CPLP disponiblizou para apelo à participação na sondagem de opinião ……… 393
XIII
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES:
Esquemas, Quadros, Tabelas e Gráficos
Esquemas:
Introdução:
Esquema 1 – Visão esquemática do posicionamento de Portugal no contexto global …... 5
Esquema 2 –Modelo explicativo sobre a Comunidade Lusófona ………... 42
Quadros:
Introdução:
Quadro 1 – Momentos marcantes da Expansão Portuguesa, em comparação com outros movimentos expansionistas europeus, nos séculos XV e XVI ……. 12
Capítulo 3:
Quadro 2 – Síntese de alguns acontecimentos de relevância ocorridos até à
formalização da CPLP ………... 159
Capítulo 4:
Quadro 3 – (Re)criação de palavras portuguesas por Mia Couto ……… 183
Quadro 4– Denominações usuais para designar as literaturas africanas escritas
em português (1970-2000) ………... 189
Tabelas:
Capítulo 1:
Tabela 1 – Síntese das obras de referência consultadas ………... 5
Tabela 2 – Modelo da grelha de registo de informação retirada das obras de
referência ………... 64
Tabela 3 – Registo de ocorrências, em termos de inclusão dos vocábulos na nomenclatura das 25 obras de referência cosultadas entre 1900 e 1974 ………... 67
Tabela 4 – Registo de ocorrências, dos significados para Luso entre 1900 e
1974, nas 25 obras de referência cosultadas nesse período……….. 69
Tabela 5 – Registo de ocorrências, em termos de inclusão dos vocábulos na
nomenclatura das 26 obras de referência cosultadas entre 1975 e 2009 ………... 76
Tabela 6 – Registo de ocorrências, dos significados para Luso entre 1900 e
1974 e entre 1975 e 2009………..………. 77
Tabela 7 – Registo de ocorrências, dos significados para Luso entre 1975 e
XIV
Capítulo 4:
Tabela 8 –Motivações para aprender o Português ……….. 178
Tabela 9 – Usos presentes e futuros da Língua Portuguesa ……… 178
Capítulo 6, ponto 6.2.: Tabela 10 – Comparação da participação, por nacionalidade, com base nos dados recebidos por e-mail e os recebidos através da plataforma da CPLP ……. 270
Tabela 11 –Participação por sexo ……… 275
Tabela 12 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a idade (por grupos etários) ………... 275
Tabela 13 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a nacionalidade … 276 Tabela 14 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a profissão (por grupos profissionais e ocupacionais) ……… 276
Tabela 15– Participação por grupo etário ……….. 277
Tabela 16 – Participação por nacionalidade ………. 278
Tabela 17 –Participação por grupo profissional e ocupacional ………... 279
Tabela 18 – Participação dos especialistas das profissões intelectuais e científicas ……….. 280
Tabela 19 – Participação dos “Outros Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas” ……… 280
Tabela 20 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo o sexo dos inquiridos ……… 285
Tabela 21 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo os grupos etários dos inquiridos ………... 287
Tabela 22 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo as nacionalidades dos inquiridos ………... 288
Tabela 23 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo os grupos profissionais dos inquiridos ……….. 289
Tabela 24– Familiaridade com o conceito lusófono……… 290
Tabela 25 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo as respostas positivas ………. 291
Tabela 26 – Reservas quanto à familiaridade com o conceito lusófono (ordem decrescente) ……….. 292
Tabela 27 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo o sexo dos inquiridos ………... 293
Tabela 28 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a idade dos inquiridos (por grupos etários) ……….. 293
Tabela 29 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a nacionalidade dos inquiridos ……… 294
Tabela 30 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a profissão dos inquiridos (por grupos profissionais e ocupacionais) ……… 294
Tabela 31– Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona……… 295
Tabela 32 – Sentimento de pertença à comunidade lusófona segundo o sexo dos inquiridos ……… 295
XV
Tabela 34 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo a
nacionalidade dos inquiridos ……… 296
Tabela 35 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo a profissão dos inquiridos (por grupos profissionais e ocupacionais) ………. 298
Tabela 36 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo as respostas positivas ………. 299
Tabela 37 – Reservas quanto ao sentimento de pertença à Comunidade Lusófona(ordem decrescente) ………. 299
Gráficos: Capítulo 6, ponto 6.2.: Gráfico 1 –Participação por sexo ……….... 275
Gráfico 2 –Participação por grupo etário ....……….... 277
Gráfico 3 –Participação por nacionalidade .……….... 278
Gráfico 4 –Familiaridade com o conceito lusófono ....……… 290
XVI
LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS
ABL Academia Brasileira de Letras ACL Academia das Ciências de Lisboa
ACIME Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas
ACOLOP Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa AEJ Associação Espaço Jovem
AJIM Associação de Jovens de Intervenção Multicultural AULP Associação das Universidades de Língua Portuguesa BN-CV Biblioteca Nacional de Cabo Verde
CCP Comité de Concertação Permanente CEL Comunidade do Escotirsmo Lusófono CHAM Centro de História de Além-Mar CMP Câmara Municipal de Praia
CODESRIA Council for the Development of Social Science Research in Africa CONCP Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
DES-HUM Programa Interdisciplinar de Desenvolvimento Global em Ciências Humanas
DN Diário de Notícias
EUA Estados Unidos da América
FASCP Fundo de Apoio Social de Caboverdeanos em Portugal FLAD Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento FCG Fundação Calouste Gulbenkian
FCSH Faculdade de Ciências Sociais e Humanas FCT Fundação para a Ciência e a Tecnologia
FLAD Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento IC Instituto das Comunidades
IICT Instituto de Investigação Científica Tropical IILP Instituto Internacional de Língua Portuguesa INE Instituto Nacional de Estatística
IPAD Instituto Portguês de Apoio ao Desenvolvimento IPLB Instituto Português do Livro e das Bibliotecas ISCTE Instituto Superior de Ciência do Trabalho e Empresa ISCSP Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas OAC Observatório das Actividades Culturais
OIF Organização Internacional da Francofonia ONU Organização das Nações Unidas
PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PSD Partido Social Democrata
ME Ministério da Educação
NATO Organização do Tratado do Atlântico Norte
NEA-UC Núcleo de Estudantes Africanos da Universidade Católica
NEA-ULHT Núcleo de Estudantes Africanos da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
NEPAD Nova Parceria para o Desenvolvimento da África RBL Rede Bibliográfica da Lusofonia
RDP Rádiodifusão Portuguesa
SEF Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
UCCLA União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas
UL União Latina
UNL Universidade Nova de Lisboa UNEB Universidade do Estado da Bahia
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNI-CV Universidade de Cabo Verde
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
1
1. Informação pessoal
Nome completo:
Cármen Liliana Ferreira Maciel
Morada:
R. General Humberto Delgado, n.51, 1ºdtº Fogueteiro 2845-160 Amora
Contacto:
93 644 64 05
E-mail:
carmenmaciel@fcsh.unl.pt
Data de nascimento:
30.05.1979
Nacionalidade:
Portuguesa
Cartão de Cidadão
–
Nº ID Civil:
11529919
Nº Contribuinte:
222052457
Nº Segurança Social:
11076469758
2. Habilitações Académicas
2002
Licenciatura em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa, com classificação final de 16 valores
–
qualificação de Bom
com distinção.
3. Formação complementar
8-15.04.2008
Formação “Avaliação de Programas e Projectos” com
Paulo Teixeira (LogFrame),
no Núcleo Distrital de Lisboa da REAPN, com classificação final de 18 valores.
Temas:
conceitos de avaliação e monitorização; critérios universais de avaliação;
técnicas e instrumentos.
18-20.06.2007
II IMISCOE PhD Conference, IMES, Universiteit van Amsterdam.
Temas:
relação entre investigação e política; estratégias e normas de publicação
científica; oportunidades de trabalho. Worksho
p de Formação: “Giving an Audience
Focused Presentation” com Karin Herrebout (Greep).
Sessão plenária com Levent Soysal
(Kadir Has University).
Financiamento:
IMISCOE
12-30.06.2005
Escola de Verão „International Migration, Ethnic Diversity and Cities‟,
International School for Humanities and Social Sciences, Universiteit van Amsterdam.
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
2
(Université de Liège) e Alex Stepick (University of California); Research Seminar, com
Joroen Doomernik (Universiteit van Amsterdam).
Financiamento:
IMISCOE.
7-18.03.2005
Formação de Língua e Cultura Swahili com Sauda Barwani (University of
Hamburg) e Ridder H. Samsom (Humboldt University of Berlin), organização da
Professora Doutora Ana Maria Martinho Mão-de-Ferro, na FCSH
–
UNL.
19-31.07.2004
Curso “Estudos Interculturais Lusófonos” ministrado pela IX Universidade
Lusófona de Verão
–
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa.
Módulos:
Literatura e Cinema no Brasil, com Selma Calasans Rodrigues; Literatura e
Cinema na Cultura dos Povos Lusófonos: África, com Luís M. Sousa; Lusofonia e Lusotopia
no Oriente, com Teotónio R. de Souza.
3.1. Formação complementar - Seminários Pós-graduados
3.1.1. Frequência de Seminários de Pós-graduação e Mestrado
Março a Julho 2005:
Seminário “Direitos Humanos e Direitos Culturais” do Curso de Mestrado e Pós
-Graduação em Migrações, Minorias Étnicas e Transnacionalismo da FCSH
–
UNL.
Seminário “Culturas dos Países de Língua Portuguesa” do Mestrado em Estudos
Africanos da FCSH-UNL;
Seminário “Literaturas dos Países de Língua Portuguesa” do Mestrado em Estudos
Africanos da FCSH-UNL;
Março a Julho 2004:
Frequência do seminário “Diásporas: religiões transnacionais e identidade” do Curso de
Pós-Graduação em Migrações, Minorias Étnicas e Transnacionalismo da FCSH-UNL;
Frequência do seminário “Identidade e cultura Expressiva” do Curso de Pós
-Graduação
em Migrações, Minorias Étnicas e Transnacionalismo da FCSH-UNL;
Outubro 2003 a Fevereiro 2004:
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
3
Frequência do seminário “Entre «nós» e os «outros»: etnicidade, transnacionalismo e
estratégias identitárias” do Curso de Pós
-Graduação em Migrações, Minorias Étnicas e
Transnacionalismo da FCSH-UNL.
3.1.2. Participação em Seminários para Doutorandos
01.04.2009
com Miguel Bandeira Jerónimo (European University Institute)
, tema: “A questão
colonial na cena internacional”, organização e realização ICS, Lisboa.
12-15.06.2007
com Alejandro Portes (Princeton University) e Patrícia Fernandez-Helly
(Princeton University),
tema: “Imigração e Integração: a experiência norte
-
americana”,
organização do Socinova Migrações na FLAD e na FCSH-UNL.
21.05.2007
com Evangelia Tastsoglou
(Saint Mary‟s University),
tema:
“Gender, Migration and
Citiz
enship: Conceptual and Theoretical Issues”,
organização do Socinova Migrações na
FCSH-UNL.
30.06.2005
com Leo Lucassen
(Leiden University), tema; “Migration Processes and Immigrant
Integration: long-
term perspectives”
, organizado pelo IMES na International School for
Humanities and Social Sciences
–
Universiteit van Amsterdam.
29.06.2005
com Boris Slijper (Universiteit van Amsterdam),
tema: “Comparative research in
Ethnic and Migration Studies”,
organizado pelo IMES na International School for
Humanities and Social Sciences
–
Universiteit van Amsterdam.
28.06.2005
com Anja van Heelsum (Universiteit van Amsterdam
), tema: “Network Analysis”,
organizado pelo IMES na International School for Humanities and Social Sciences
–
Universiteit van Amsterdam.
02.05.2005
com Alejandro Portes (Princeton University), tema: pistas de análise no trabalho
empírico, organização do Socinova Migrações na FCSH-UNL.
10.03.2005
com Stephen Castles (University of Oxford), tema:
“Globalização e Migrações”,
organização do Socinova Migrações na FCSH-UNL.
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
4
27.02.2004
com Alejandro Portes (Princeton University), tema: "A investigação em matéria de
Migrações, Etnicidades e Transnacionalismo", organizado por SociNova Migrações, na
Fundação Luso-Americana.
4. Publicações
4.1. Entradas em Enciclopédias
(no prelo)
Maciel, Cármen, “Portuguese retu
rn migrants from the colonies
(Retornados
) since
the 1970's” in K. Bade, P. Emmer, L.
Lucassen and J. Oltmer (ed.),
Migration, Integration
and Minorities since the 17
thCentury: a European Encyclopaedia
,
London: Cambridge Univ.
Press.
(no prelo)
Maciel, Cármen "Immigrants from Angola and Mozambique in Portugal since the
1970's
” in K. Bade, P. Emmer, L.
Lucassen and J. Oltmer (ed.),
Migration, Integration and
Minorities since the 17
thCentury: a European Encyclopaedia
,
London: Cambridge Univ.
Press.
(2007)
Maciel, Cármen,
“›Retornados‹ aus den ehemaligen Kolonien in Portugal seit den 1970er
Jahren
” in K. Bade, P. Emmer, L.
Lucassen und J. Oltmer (ed.),
Migration, Integration und
Minoritäten seit dem 17. Jahrhundert: eine europäische Enzyklopädie
,
Munich und
Paderborn: Ferdinand-Schöningh-Verlag und the Wilhelm-Fink-Verlag, pp.898-900.
(2007)
Maciel, Cármen, “
Angolanische und mosambikanische Arbeitswanderer in Portugal seit
den 1970er Jahren
” in
K. Bade, P. Emmer, L. Lucassen und J. Oltmer (ed.),
Migration,
Integration und Minoritäten seit dem 17. Jahrhundert: eine europäische Enzyklopädie
,
Munich und Paderborn: Ferdinand-Schöningh-Verlag und the Wilhelm-Fink-Verlag,
pp.377-380.
4.2. Artigos em livros
(2006)
Maciel, Cármen,
“Imaginários da novela” in AAVV
(org. Diogo Ramada Curto),
Estudos de
Sociologia da Leitura em Portugal no século XX
, Lisboa: Ed. Gulbenkian
–
Colecção de
Textos Universitários, pp.551-573.
4.3. Publicações em Actas
(2008)
Maciel, Cármen, “Percursos de pintores subsarianos do espaço lu
sófono e o mercado
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
5
(2008)
Maciel, Cármen, “Produção e Mediação Cultural –
um estudo de caso sobre o papel das
associações li
gadas aos PALOP em Lisboa”, in
Actas do I Encontro Internacional
Migrantes Subsarianos na Europa
. Socinova Migrações: Cd-Rom.
(2007/2008)
Coordenadora da Edição das
Actas do I e II Encontro Internacional Migrantes
Subsarianos na Europa
. Socinova Migrações: Cd-Rom.
(2007)
Maciel, Cármen, “Introdução ao grupo de trabalho Identidade, Diversidade,
Hospitalidade e Xenofobia” in
Actas do II Congresso Nacional Portugal e o futuro da
Europa
, Lisboa: IEEI.
(2000)
Maciel, Cármen, “As aventuras dos descobrimentos numa perspectiva sociológica” in
Colóquio “Dos Mares de Cabral ao Oceano da Língua Portuguesa”, Lisboa, Ed
. Escola
Naval, pp.294-298.
4.4. Working papers
(2005)
“
African immigrants as cultural mediators in Lisbon: the European Center of African
Cultures for a month
"
, SociNova Working Papers, FCSH-UNL, 20 pp.
http://www.toronto.ca/metropolis/metropolistoronto2005/pdf/Presentation2.pdf.
(2004)
“
Língua Portuguesa: diversidades literárias
–
o caso das literaturas africanas
",
SociNova Working Papers, FCSH-UNL. 18 pp.
www.socinovamigration.org/conteudos.asp?IDCONT=302.
(2002)
“
O
peso da Língua, do Livro e das instituições enquanto afluentes do grande rio: a
Lusofonia"
, SociNova Working Papers, FCSH-UNL, 25 pp.
4.5. Relatórios
(2005)
"
Maio 2004, Mês de África em Lisboa
", SociNova Working Papers, FCSH-UNL, 78 pp.
www.socinovamigration.org/conteudos.asp?IDCONT=646.
5. Participação em Encontros Científicos
5.1. Moderação
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
6
Organização do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IEEI) em parceira com
outras entidades, na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.
27.03.2007
Modera
ção da sessão “Os migrantes como símbolo da diversidade na Europa” no
âmbito da Conferência A Europa dos Valores, organizada pelo IEEI, Socinova e CICDR, no
Hotel Tivoli em Lisboa.
5.2. Participação em Grupos de Trabalho
26.11.2009
Participação no I Workshop Doutoral promovido pela e na Fundação Calouste
Gulbenkian em parceria com o Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).
Apresentação do artigo “The Lusophone project.
Enhancing African Portuguese-speaking
immigrant‟s integration in Portugal through Lusophony?”
18-20.06.2007
Cluster
“Linguistic, cultural and religious diversity and related policies” no
âmbito da II IMISCOE PhD Conference, IMES, Universiteit van Amsterdam.
05.06.2006
Workshop “Migração e Desenvolvimento num contexto regional:
o caso da CPLP”,
organizado pela OIM na Fundação Cidade Lisboa.
05-06.12.2005
Sessão temática “África e Cooperação” no âmbito da Conferência “Portugal na
Europa e no Mundo: 25 anos de política externa e de segurança” organizada pelo IEEI no
Centro de Congressos de Lisboa.
5.12.2004
Cluster “Linguistic, cultural and religious diversity and related policies” no âmbito da
I Conferência Anual do IMISCOE, na Universidade de Coimbra;
28.09.2004
Workshop “Pluralisme, plurilinguisme, nation et État” no âmbito
da 9
thInternational
Metropolis Conference, Genève
–
Suiça.
5.3. Apresentação de comunicações
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
7
25.05.2007
Conferencista convidada para apresentação dos resultados da investigação de
doutoramento numa sessão d
o Curso de Verão “Imigraç
ão e Políticas Públicas de
Integração” organizado pelo Socinova Migrações na FCSH
-UNL.
25.05.2007
Comunicação “
Percursos de pintores subsarianos do espaço lusófono e o mercado
de produção cultural na Europa”, no âmbito do II Encontro Internacional „Migran
tes
Subsarianos na Europa‟,
organizado pelo Socinova Migrações na Quinta da Memória em
Odivelas.
23.06.2006
Comunicação “Produção e Mediação Cultural –
um estudo de caso sobre as
Associações de Imigrantes dos PALOP em Lisboa”, no âmbito do I Encontro Inte
rnacional
„Migrantes Subsarianos na Europa‟, organizado pelo Socinova Migrações no Tagus Park
em Oeiras.
17-21.10.2005
Comunicação “African immigrants as cultural mediators in Lisbon: the European
Centre of Africans Cultures for a month” no âmbito do X Co
ngresso Internacional
Metropolis
“Our diverse cities” em Toronto.
16-18.09.2004
Comunicação “Língua Portuguesa: diversidades literárias –
o caso das
literaturas africanas” no âmbito do VIII Congresso Luso
-Afro-Brasileiro de Ciências
Sociais na Universidade de Coimbra.
20-24.11.2000
Comunicação no Colóquio „Dos Mares de Cabral ao Oceano da Língua
Portuguesa‟, na Escola Naval do Alfeite, no âmbito das Jornadas do Mar 2000.
5.4. Sem Apresentação (selecção)
16.12.2009
Seminário “O que é a pós
-colonialidade portuguesa? Ou o regresso do império na
emergente literatura dos „retornados‟”. Proferido por Sheila Khan no Auditório Afonso de
Barros no ISCTE, Lisboa.
27.05.2009
III Congresso da África Lusófona “Paradigma Global: contributos africanos”,
organizado e realizado na Universidade Lusófonia de Humanidades e Tecnologias de
Lisboa.
19.05.2009
Conferência “Novas tendências das literaturas dos PALOP”, organizada e realizada
no IICT, Lisboa.
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
8
16.02.2009
Palestra “
Realidades Sócio-Económicas, Políticas e Culturais: Cabo Verde
”,
organizada pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, no âmbito do Ciclo
de Conferências CPLP, na Universidade Católica.
07.05.2007
Palestra „O fenómeno da recriação da língua portuguesa na narrativa africana‟
pela Professora Simone Caputo Gomes, na sede do Instituto Internacional de Língua
Portuguesa (IILP) na cidade da Praia
–
Cabo Verde.
15.05.2006
Seminário “Descendentes de Imigrantes: um lugar na sociedade portuguesa”
ACIME, Auditório da Assembleia da República, Lisboa.
15.05.2006
Conferência “Política linguística da Comissão Europeia desde os anos 90 e as
f
uturas accções para as línguas” proferida pelo Doutor Pedro Chaves, organizado pelo
Mestrado de Estudos Africanos na FCSH
–
UNL.
07.03.2006
Colóquio “Imigração e Desenvolvimento” organizado pelo Ministério da
Administração Interna no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa.
09-10.02.2006
Ciclo de Conferências “Perspectivas Críticas sobre a Lusofonia”, organizado
pela Fundação ProJustitiae na Universidade de Évora.
13.12.2005
Conferência “Educação e Desenvolvimento em África”, organizada pelo CEA/ISCTE
na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.
10-11.11.2005
Conferência
“Portugal e África: interesses nacionais, concertação e competição
europeia”
, organizada pela FLAD e o IPRI na FLAD em Lisboa.
02.11.2005
Conferência “Perspectivas de desenvolvimento de Moçambique” proferida por
Armando Emílio Guebuza, organizada pelo IEEI na Fundação Calouste Gulbenkian em
Lisboa.
06.05.2005
Conferência “Língua Portuguesa e Diversidade Cultural; Encontro com escritores e
jornalistas” na Universidade Católica de Lisboa.
6-7.12.2004
Congresso "A Língua Portuguesa, presente e futuro", Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa.
5.12.2004
I Conferência Anual do IMISCOE, organização do IMISCOE, Universidade de Coimbra;
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
9
03.06.2004
Seminário “Migration and Modernity” por Roger Ballard, organizado pelo CEMME da
Universidade Nova de Lisboa;
26-29.05.2004
Congresso Internacional “Culturas, Metáforas e Mestiçagens” organizado
pelo
CIDEHUS
–
Universidade de Évora;
18/19.12.2003
I Congresso “Imigração em Portugal: Diversidade, Cidadania e Integração”
organizado pelo ACIME, realizado na Fundação Calouste Gulbenkian.
17-19.04.2000
IV Congresso Português de Sociologia, sob o tema Sociedade Portuguesa:
Passados Recentes, Futuros Próximos, organização do CES na Universidade de Coimbra.
6. Organização de Encontros Científicos
06.2006-06.2007
Membro da Comissão Organizadora do II Congresso Nacional sobre o
Futuro da Europa
–
iniciativa do IEEI em parceiria com ACIME, AIP, APDE, CNC, Euronatura,
IICT, IPRI, UAL, UC, UGT, UM/EEG, UNL/Socinova e UP/FEP.
07.2006-05.2007
Coordenadora da Comissão Organizadora do II Encontro Internacional
„Migrantes Subsarianos na Europa‟, iniciativa do S
ocinova Migrações da FCSH
–
UNL.
11.2005-06.2006
Organização do workshop „Produção Cultural‟ integrado no I Encontro
Internacional „Migrantes Subsarianos na Europa‟, promovido pelo SociNova Migrações
da
FCSH
–
UNL. Membro da Comissão Organizadora do Encontro.
04.2002
Membro da Equipa Coordenadora, reunida pela APSIOT (Associação Portuguesa de
Profissionais em Sociologia Industrial, das Organizações e do Trabalho), para o
planeamento e organização da intervenção de estudantes do ensino superior no II
Encontro Nacional de Estudantes em SIOT.
7. Participação em Equipas de Investigação
2001-2003
Investigadora
no âmbito do projecto “Sociologia da Leitura em Portugal no Século
XX”,
financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (POCTI/SOC/34719/1999),
coordenado pelo Professor Doutor Diogo Ramada Curto e desenvolvido no SociNova
–
Gabinete de Investigação em Sociologia Aplicada da Universidade Nova de Lisboa.
CURRÍCULO CIENTÍFICO * CÁRMEN MACIEL 2010
10
Avaliação dos Cursos de Ensino Superior, financiado pela Fundação para a Ciência e a
Tecnologia e coordenado pelo Professor Doutor Casimiro Balsa.
8. Trabalho de campo no estrangeiro
27.04-11.05.2007
Deslocação a Cabo Verde (Santiago) para realização de entrevistas,
observação, visita a Institutos ligados à língua portuguesa e à comunidade lusófona,
recolha bibliográfica e de dados estatísticos.
Financiamento
: FCT
12.06-01.07.2005
Deslocação a Amesterdão para exploração do acervo bibliográfico da
biblioteca de Ciências Sociais e Humanas da Universiteit van Amsterdam e discussão do
projecto de doutoramento com diversos investigadores.
Financiamento
: FCT
9. Filiação Institucional
2001-
Investigadora em Sociologia no SociNova
–
Gabinete de Investigação em Sociologia
Aplicada da Universidade Nova de Lisboa. Actual CESNOVA.
8.1. Filiação em Redes Internacionais
2004-2009
Membro da Rede Europeia de Excelência IMISCOE
–
International Migration,
Integration and Social Choesion , financiada pela União Europeia ao abrigo da prioridade 7
(
Citizens and Governance in a Knowledge Based Society
), do Sexto programa Quadro.
2003-
Membro da rede METROPOLIS
–
International forum for research and policy on
migration, diversity and changing cities, financiada pela Fundação Luso-Americana.
10. Bolsas
(2003-2007)
Bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, referência:
SFRH / BD / 13194 / 2003, financiada pelo POCI 2010
–
Formação Avançada para a
Ciência
–
Medida IV.3.
11. Domínio de línguas
Leitura
Escrita
Conversação
Inglês
Bom
Médio
Médio
Francês
Bom
Médio
Médio
Espanhol
Bom
Elementar
Elementar
1 I. Introdução
«A cultura ocidental, em razão da sua hegemonia política e económica sobre o mundo, nos últimos séculos, tornou-se o único paradigma da civilização, e a medida absoluta da civilidade.»
Rezk (1998)
Abel Cabral Couto, General na reserva e referência da reflexão estratégica em Portugal, discorrendo sobre a marcha do mundo1, o lugar que Portugal ocupa na mesma e como se posiciona face aos espaços onde pretende actuar, refere-se à actualidade como uma era marcada por cinco aspectos: a ocorrência de uma viragem civilizacional; fortes assimetrias demográficas e de desenvolvimento; a passagem de um mundo bipolar para um multipolar; as reivindicações cada vez mais audíveis do controle da globalização; e a afirmação do eu no quadro dos direitos humanos.
De acordo ainda com Cabral Couto, o que ainda resta do ‗Euromundo‘2, em que
boa parte dos portugueses (e restantes europeus) foram educados e socializados, está a ruir. Seguindo o seu raciocínio, a constatação de Eduardo Lourenço, quando afirmou que aquilo que o «Tratado de Tordesilhas assinalou ou confirmou, há meio milénio atrás
[…] que a Europa é o único continente com uma vocação e presença planetária até aos dias de hoje» (Lourenço, 1999:56), careceria, hoje, de verificação.
Para o especialista em estratégia, a ascensão da China, da Índia, do Brasil e de vários países da África Austral, bem como a consolidação de uns Estados Unidos cada vez mais fortes em comparação com a Europa, forçar-nos-iam a admitir que o modelo civilizacional europeu3 de outrora não se encaixaria na realidade de hoje. Dizia Cabral Couto que, tal como há ajustes tectónicos quando as placas continentais se movem e emergem, assim se passa com estas novas potências, que obrigam a um ajuste mundial e, sobretudo, a uma mudança paradigmática de um mundo eurocêntrico para um mundo globalizado e multipolar.
1 No âmbito do ―III Congresso Internacional da África Lusófona. Paradigma Global: Contributos
Africanos‖, a 27 de Maio de 2009, na Universidade Lusófona de Lisboa. Organizado pela Linha de
investigação em Africanologia e Lusofonia da UEICTS/ULHT. Programa em: www.grupolusofona.pt/ portal/page?_pageid=135,1631160 &_dad=portal&_schema=PORTAL.
2 CF: «Os novos governantes do mundo, sejam lá quem forem, herdaram uma posição que foi construída pela Europa e somente pela Europa. São técnicas europeias, exemplos europeus, ideias europeias que arrancaram o mundo não-europeu de seu passado – alijando-o da barbárie da África, e das antigas, majestáticas e vagarosas civilizações da Ásia. A história do mundo nos últimos cinco séculos, se tem algum significado, é a história europeia. Não acho que temos de nos desculpar se nosso estudo da história estiver centrado na Europa.» (Trevor-Roper, 1996 [1966]:11).
3 Que elege, na mesma linha de raciocínio que Delanty (1995), a Europa como ―sistema de valores
2 Este é de resto, o argumento de Jack Goody, que tem procurado, ao longo das últimas décadas, reflectir sobre a Eurásia e a importância – no seu entender, excessiva –
que tem sido atribuída ao Ocidente por oposição ao Oriente (Goody, 2000).
Segundo Goody, temas tão diversos como capitalismo, democracia,
individualismo, amor e universidade são tratados como invenções ocidentais, quando, na sua opinião, devem em muito ao Oriente. Considerar, por exemplo, que a democracia terá nascido em Atenas, seria sustentar uma ideia, ocidentalizada e etnocêntrica, que carece de verificação. Como afirma: «Atenas pode ter desenvolvido uma forma particular de democracia com a votação por escrito, mas a democracia existia em Cartago, em algumas cidades da Mesopotâmia, na Índia, na China e em muitas sociedades "tribais"» (Goody em entrevista, 2008). Trata-se portanto, do seu ponto de vista, de uma ilusão fundamentada num modo distorcido de ver a História, como explica na recente obra O roubo da história. Como os europeus se apropriaram das ideias e invenções do Oriente (2008).
José Manuel Sobral, ao discorrer sobre o contributo de Goody na compreensão do mundo actual, enfatiza que as suas obras evidenciam que «para lá das diferenças –
nomeadamente as introduzidas pela revolução industrial iniciada em Inglaterra –, existe um percurso feito de afinidades. Percurso em que, se alguns – no Ocidente – tiveram um papel em determinado momento do desenvolvimento económico –, outros – no Oriente, a China, a Índia, o Japão, os novos ‗tigres asiáticos‘ –, que no passado já tiveram um lugar cimeiro, aprestam-se a disputar a primazia.» (Sobral, 2005: 765).
Pode parecer descabido começar um texto sobre a construção da comunidade lusófona a partir do antigo centro, invocando tão abrangente contexto; contudo, pelo peso que o paradigma eurocêntrico assumiu durante séculos e pelas reservas que parece ter criado nos países em vias de desenvolvimento (na sua esmagadora maioria antigas colónias europeias), em especial no mundo de língua portuguesa, pareceu-nos que seria uma boa porta de entrada para a discussão que ensaiamos nesta tese.
3
pressão dos países do ―Terceiro Mundo‖, a descolonização, os interesses permanentes
das grandes potências políticas e económicas em determinadas regiões (como, por exemplo, a África Austral), a constituição de blocos económicos regionais ou ainda a redução das barreiras comerciais promovida pela Organização Mundial de Comércio.» (Lopes e Santos, 2008:8).
Também Bela Feldman-Bianco, investigadora brasileira, reconhece que «[a] sobreposição entre nação e antigo império português na atual conjuntura do capitalismo, marcada por crescentes interpenetrações globais e formação de blocos regionais, envolveu esforços e embates para a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).» (Feldman-Bianco, 2002:408).
Sustentamos que reflectir sobre a criação de um espaço comunitário lusófono
implica reflectir sobre questões conexas como globalização, identidade, diversidade e interculturalidade. Admitimos ainda que, neste contexto ideológica e afectivamente marcado, tal tarefa obriga a situar o ponto de partida da análise, daí o optarmos por nos concentrar na ‗construção da comunidade lusófona a partir do antigo centro‘.
No entanto, pensar a construção da dita comunidade, treze anos volvidos sobre a formalização da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) – que lhe deu um
‗rosto‘ e um ‗corpo‘ institucional – e no actual cenário de ‗mundo reticular‘ em que Portugal, Brasil, Timor e cada um dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) voluntariamente se associam numa rede comum, mas se integram simultaneamente noutras redes internacionais (potencialmente concorrentes), é uma tarefa desafiante. Se pensarmos na conotação étnica, assente acima de tudo na radicação lusocêntrica que muitos lhe atribuem, e que pode eventualmente remeter para a ideia de que Portugal pretende uma nova hegemonia, o desafio torna-se ainda maior.
4 económicos ou pela acção das associações cívicas, como pela criação artística e literária, pela investigação científica ou pela reflexão filosófica.
Mas, procurar a essência de tal comunidade, ou de um ‗modo de ser lusófono‘, quando ainda uma boa parte dos cidadãos recorda a retórica da singularidade, marca de água do Estado Novo, e os traumatismos da época colonial (lembrados nos discursos políticos veiculados pelos chefes de estado africanos na Cimeira União Europeia-África de 20074), constitui missão arriscada. Contudo, pensar o tempo presente também requer
o reconhecimento das actuais circunstâncias de Portugal partilhar com o Brasil, os PALOP, Timor e outros espaços a língua portuguesa como veículo oficial de comunicação, e de existirem, actualmente, centenas de milhares de cidadãos de ascendência não Europeia, com origem ancestral nesses países, radicados no antigo centro imperial. Importa, pois, reflectir sobre o modo de equacionar cientificamente a questão neste dealbar do século XXI.
Partimos da reflexão de Cabral Couto sobre o estado do mundo para esboçarmos o travejamento problemático dessa missão arriscada e desafiante que nos propomos com a presente dissertação. Do mesmo modo que estamos a assistir no plano internacional a
um ―ajuste de placas‖ com novas formas hegemónicas de poder emergentes;
sustentamos que o que hoje se convencionou designar de ―comunidade dos países de língua portuguesa‖ enfrenta, há já algumas décadas (pelo menos desde o fim da Segunda Grande Guerra), dinâmicas complexas, ajustes de poder e uma crise de paradigmas, polvilhadas, aqui e acolá, por indefinições várias e por um medir de forças, que ora comprometem a construção coerente da possível comunidade, ora a impulsionam em moldes sólidos e sustentáveis.
Na opinião do sociólogo José Filipe Pinto, essa complexidade «resulta não apenas da substituição do paradigma eurocêntrico, que vigora aproximadamente há cinco séculos, por um outro, mas sobretudo, das dificuldades de aplicação ou de
generalização deste novo paradigma […] resultante da globalização e marcado pela
desterritorialização cultural, pelo alargamento das fronteiras e pelo multiculturalismo.»5
4 A Cimeira UE-África, envolvendo diversas reuniões entre Chefes de Estado e de Governo, realizou-se em Lisboa de 7 a 9 de Dezembro de 2007, no âmbito da Presidência portuguesa da União Europeia. Programa: http://www.eu2007.pt/UE/vPT/Reunioes_Eventos/ChefesEstado/UE_Africa.htm.
5 União Europeia
Península Ibérica
(Pinto, 2004: 21). Acrescentaríamos, numa visão ‗de baixo para cima‘, que o intenso
vai-e-vem de pessoas e de símbolos, que circulam entre os espaços da ‗lusotopia‘6,
dando origem a redes mais ou menos densas de tipo transnacional, também se constitui como contexto e factor importante para a compreensão dessas dinâmicas. Entendemos que expandir a análise dessa complexidade ao nível dos agentes individuais que constroem a comunidade lusófona permite ir para além da análise das estratégias dos Estados – que a maioria dos estudos privilegia. E esse será precisamente o objectivo desta dissertação.
A transição paradigmática a que Pinto alude é, indubitavelmente, vivida de forma diferente por Portugal e pelos restantes países de língua portuguesa. Para o antigo centro, a mudança, ou a necessidade dessa mudança (porventura agudizada com a adesão de Portugal à CEE e actualmente impulsionada pela existência no seu seio de um segmento crescentemente diferenciado de ascendência não europeia), passa por se reencontrar como país euro-atlântico7; e, necessariamente, por repensar as suas relações com os espaços da outrora periferia colonial.
Esquema 1: Visão esquemática do posicionamento de Portugal no contexto global: esferas verticais de influências e relações horizontais mais importantes.
Fonte: Fernandes, 2008:15.
6 Segundo o Dicionário Temático da Lusofonia, a lusotopia refere-se aos lugares onde efectivamente se fala português (Cristovão, 2005:652).
7 Vd.: Fernandes (1999); Soares (2000); Neves (2000). Timor-Leste
África Lusófona
Brasil
Diáspora:
comunidades portuguesas e lusodescendentes
Outros lugares e populações da Geografia histórica portuguesa:
Macau, Goa, Malaca…
Relações indirectas (via União Europeia)
Relações directas
6 Nas palavras da filósofa da cultura, Maria Manuel Baptista, trata-se de aprender «[c]omo coordenar [um] discurso de particularidade e especificidade cultural, com um
outro que clama por ‗mais Europa‘ e ‗mais cultura Europeia‘ [...]» (Baptista, 2000: 2).
Nesta perspectiva, o esquema 1, de João Fernandes (2008), sintetiza o que seria o actual posicionamento de Portugal no contexto global.
Realçando as relações com o Atlântico, a União Europeia e demais lugares e populações da lusotopia que não coincidem necessariamente com nenhum desses dois eixos, a representação gráfica permite perceber como, nesta perspectiva, se encontraria estruturado o campo em que decorrem as dinâmicas de identificação e interelação do antigo centro português com os espaços com que, privilegiadamente, interage.
Numa reflexão marcadamente política, sobre as ‗fronteiras portuguesas‘,
Adriano Moreira (1996) propugna que a globalização, mais do que vulnerabilizá-las, as transformou – num sentido de mudança e renovação. De acordo com o autor, em Portugal, tal como aconteceu noutros países, os espaços de afirmação deixaram de coincidir com as respectivas fronteiras políticas; até porque, para além destas, há ainda a considerar as fronteiras de segurança, as económicas e as culturais – que podem não ser concordantes entre si.
Será que o pequeno Portugal que viveu cinco séculos de atlantismo; algumas décadas, após o 25 de Abril de 1974, de europeismo; é actualmente um país euro-atlântico, simultânea e equilibradamente europeu e lusófono? O que podemos esperar na relação com as ex-cólonias africanas, com o Brasil, com Timor e com os demais espaços ainda associados à passagem e à permanência portuguesas? Como tece Portugal laços com todos estes espaços? Que posição assumem os actores individuais e as suas acções na construção da pretensa comunidade lusófona? Como é encarado este empreendimento pelos restantes países de língua portuguesa? E que papel desempenham os cidadãos desses países neste empreendimento?
Como referia José Filipe Pinto8, quando falamos, na Europa, da construção de África ou quando pensamos na relação de Portugal com os restantes espaços de língua portuguesa, corremos sempre o risco de a fala soar a paternalismo ou neocolonialismo. (No decorrer do trabalho citaremos exemplos de autores que seguem este argumento crítico.) Não pode, no entanto, este ser um receio dissuasor da indagação científica,
7 mormente quando se verifica hoje o envolvimento de largos segmentos da população portuguesa na discussão de África, das relações luso-africanas e da lusofonia9 de uma forma geral.
Cientes de que, do ponto de vista do antigo centro imperial, a construção da
comunidade lusófona é um processo com implicações ao nível da redefinição da identidade nacional e na afirmação de um paradigma pós-colonial assente na cooperação e no respeito pela Humanidade, admitimos que seria útil recuarmos ao período da expansão marítima e daí trilharmos, pelas sendas da História, o caminho de uma análise sobre o paradigma eurocêntrico (ou ocidental) – que durante vários séculos conferiu à Europa o estatuto de «sede de governo do Mundo.» (Moreira, 2004: 53).
8
I.I. Enquadramento histórico
«Não poderemos responder às interrogações do futuro sem reflectir nos percursos do passado – a fim de bem formularmos as problemáticas a desafiar-nos e ensaiar hipóteses de respostas pertinentes.»
Godinho (2004: XII)
Considerando a advertência de Vitorino Magalhães Godinho, faremos uma viagem ao passado na tentativa de melhor compreender o tempo presente e as interrogações que se nos colocam sobre o futuro da pretensa comunidade lusófona. Embarcaremos no ‗mundo que o Português criou‘ e desembarcaremos no actual mundo de língua portuguesa. Nessa caminhada pela máquina do tempo, procuraremos, naturalmente de forma sintética (porque outra opção não cabe na economia deste trabalho), passar em revista vários factores que condicionam a transição de paradigma a que se referem os estudiosos da globalização atrás citados.
Esta reflexão servirá dois propósitos: como forma de enquadramento e compreensão das mudanças epistemológicas e societais vividas no antigo centro, e como contextualização dos impactos da construção da chamada comunidade lusófona nas antigas periferias imperiais.
I.I.I. Da lusotopia à lusofonia
9 Perante os múltiplos cenários disruptivos e face aos conflitos e problemas despoletados, países rivais também tentam expandir-se além-mar. Logo, começam a construir-se os primeiros impérios mercantis na Índia, «onde se supõe existirem todas as riquezas e onde tudo [seria] abundante» (Mattoso, ibidem), e na América, considerada, na carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel, como o paraíso na terra, tal o deslumbramento dos europeus ante o ‗novo mundo‘ (Cf: Leite, 1962; Holanda, 1992).
Segundo Adriano Moreira, é neste período que se lançam as raízes para a construção da ideia de Euromundo – a «sede do governo do mundo assumido pela etnia branca» (Moreira, 1979: 407).
Durante a vigência desse paradigma, em que várias coligações hegemónicas entre Estados se ergueram, terá surgido aquela que alguns autores designam de primeira globalização (Elias, 1975; Wallerstein, 2000) –também apelidada de ―sistema-mundial moderno‖ ou ―economia-mundo europeia‖, por Immanuel Wallerstein (1979), ou de ―capitalismo moderno‖ por Fernand Braudel (1985).
Alguns estudos apontam Portugal como pioneiro deste primeiro movimento globalizador. Rodrigues e Devezas, co-autores da obra Portugal – O pioneiro da globalização, referem que «Portugal foi a primeira potência no Mundo a desencadear o processo hoje conhecido por Globalização, (...) o pioneirismo português de Quinhentos não é um mito criado por alguns entusiastas dos Descobrimentos.» (Rodrigues e Devezas, 2007: 18). No entanto, o historiador António Farinha chama a atenção para a necessidade de uma leitura crítica desse facto, explicando que «os Portugueses de então não podiam saber que seriam os arautos dos Novos Mundos e da Idade Moderna e que, ao embarcar para Ceuta, seriam os actores de uma das conquistas que maiores repercursões históricas viria a obter. Pode mesmo enunciar-se a problemática de outro modo: sendo a Reconquista do chão ibérico e norte-africano o desiterato prosseguido pelos reinos peninsulares e pela Igreja nos séculos finais da Idade Média, os portugueses de 1415 podiam mais facilmente representar-se como os agentes da recristianização africana do que como os descobridores dos mares e das terras ainda incógnitas» (Farinha, 1998: 120).
10 Quatro séculos mais tarde, Karl Marx e Frederich Engels, com a publicação do Manifesto do Partido Comunista em 1848, observariam com atenção os resultados dessa primeira ‗globalização‘: «a descoberta da América, a dobragem do Cabo da Boa Esperança, criaram um novo campo de acção para a burguesia em ascenção. O mercado das Índias Orientais e da China, a colonização da América, a troca com as colónias, a multiplicação dos meios de permuta e das mercadorias deram em geral ao comércio, à navegação e à indústria um impulso munca até então conhecido. [...] A necessidade de um mercado em constante expansão para os seus produtos lança a burguesia por todo o globo terrestre […]. Os produtos das nações individuais tornam-se mercadoria comum.» (Marx e Engels, 1975: 61, 64).
Não só as trocas materiais e os interesses económicos importavam. Sob o imperativo da pregação do evangelho, mas também à mercê de motivações políticas, e ainda pelas necessidades e desígnios da civilização, verifica-se uma expansão geográfica para todo o globo, apoiada pelos rápidos avanços científicos alcançados pelos europeus na época. «Foram os Europeus que começaram a estabelecer um sistema unificado de conhecimento e, por isso, foram eles que partiram à descoberta do Mundo.» (Rémond, 1994:22). É também essa a tese de Lynn White: «a Europa que se elevou a um predomínio geral por volta de 1500 tinha uma capacidade e saber industriais largamente superiores aos de qualquer cultura da Ásia – para não falar da África ou da América – com quem se confrontava.» (White, 1972: 250).
No entanto, diz José Mattoso que «[a] civilização europeia é uma civilização isolada até ao final do século XIV». Como tal, refere que a Europa não tinha qualquer relevância internacional antes do século XV: «em termos globais, certamente muito simplificadores de uma realidade complexa (...), a Europa estava, em 1400, francamente isolada do resto do mundo. Alguns anos mais tarde rompe o seu isolamento e torna-se o principal e mais precoce motor da expansão europeia. (...)» (Mattoso, 1998: 12). No mesmo sentido, Carlo Cipolla sustenta que «[n]ão há dúvida que, desde a queda do Império Romano até ao começo do século XIII, a Europa era uma região subdesenvolvida relativamente aos mais importantes centros civilizacionais da época,