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TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL HABEAS CORPUS Nº 818/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL

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Academic year: 2021

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IMPETRANTE: DR. AIR PRAEIRO ALVES - DEFENSOR PÚBLICO

PACIENTE: RONALDO SILVA OLIVEIRA

Número do Protocolo: 818/2009 Data de Julgamento: 16-2-2009

E M E N T A

HABEAS CORPUS – LESÃO CORPORAL E AMEAÇA C/C A LEI

MARIA DA PENHA – TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL – ALEGADA FALTA DE PROCEDIBILIDADE PARA A PERSECUÇÃO PENAL – AUSÊNCIA DE CONFIRMAÇÃO, EM JUÍZO, DA REPRESENTAÇÃO QUANTO AO CRIME DE AMEAÇA – INSUBSISTÊNCIA – INTELIGÊNCIA DO ART. 16 DA LEI N. 11.340/06 – CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE – WRIT DENEGADO.

A Lei n. 11.340/06, também conhecida como Lei Maria da Penha, não prevê a necessidade de que a vítima confirme, em juízo, a representação oferecida na fase policial, porque embora o art. 16 da referida lex realmente disponha sobre a possibilidade de retratação, não exige a convalidação do ato representativo como forma de condição de procedibilidade da ação penal instaurada em desfavor do paciente. Destarte, não estando evidenciado no habeas corpus o constrangimento ilegal deduzido na impetração, é imperiosa a denegação do writ constitucional.

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IMPETRANTE: DR. AIR PRAEIRO ALVES - DEFENSOR PÚBLICO

PACIENTE: RONALDO SILVA OLIVEIRA

R E L A T Ó R I O

EXMO. SR. DES. LUIZ FERREIRA DA SILVA Egrégia Câmara:

O ilustre Defensor Público Air Praieiro Alves impetrou a presente ação constitucional de cunho liberatório, em prol de Ronaldo Silva Oliveira, apontando como autoridade coatora a MM. Juíza de Direito da 2ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Cuiabá, aduzindo que inexiste justa causa no prosseguimento da ação penal instaurada em desfavor do paciente, para apuração da suposta prática dos crimes descritos nos arts. 129, § 9°, 147, caput, 69 e 61, inciso II, alínea “f”, todos do Código Penal, c/c as implicações da Lei n. 11.340/2006, em virtude da inexistência de elemento essencial de procedibilidade do feito.

Em benefício da tese arguida na inicial, o impetrante sustenta que a tramitação do processo foi determinada pela magistrada referida no parágrafo anterior, tão-somente com fundamento na representação feita na fase extrajudicial, apesar de o aludido ato não ter sido confirmado pela vítima em juízo, na audiência para a qual foi intimada, mas não compareceu e não justificou a sua ausência, situação que, no entender do autor da impetração, evidencia a necessidade da concessão do remédio heroico pretendido.

Com fundamento nesses fatos, requer a suspensão do processo até o julgamento final do presente writ e, no mérito, que seja ordenado o trancamento da ação penal. Por fim, almeja ser intimado de quaisquer decisões proferidas nestes autos, invocando as prerrogativas conferidas aos membros da Defensoria Pública pela Lei Complementar Federal n. 80/1994 e Lei Complementar Estadual n. 146/2003.

Após a regular distribuição, os autos me foram encaminhados para análise do pedido de liminar, que indeferi pelos motivos explicitados às fls. 86/88. Solicitadas, as informações foram remetidas e juntadas às fls. 95/96, noticiando que a denúncia foi recebida naquele juízo a quo, dado o preenchimento dos requisitos descritos no art. 41 do Código de

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Processo Penal e a ausência de previsão sobre a necessidade da vítima ratificar a representação ofertada na delegacia.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra do doutor Siger Tutiya, opina pela denegação da ordem almejada, por considerar que os argumentos sustentados pelo impetrante não induzem à renúncia da representação, inexistindo, portanto, motivo para o trancamento da ação penal por ausência de condição essencial de procedibilidade.

É o relatório.

P A R E C E R (ORAL)

O SR. DR. BENEDITO XAVIER DE SOUZA CORBELINO Ratifico o parecer escrito.

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V O T O

EXMO. SR. DES. LUIZ FERREIRA DA SILVA (RELATOR) Egrégia Câmara:

Trata-se de writ of habeas corpus impetrado em favor de Ronaldo Silva Oliveira, visando o trancamento da Ação Penal n. 62/2008, em trâmite na 2ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Cuiabá, na qual se apura a prática, em tese, dos crimes tipificados nos arts. 129, § 9°, 147, caput, 69 e 61, inciso II, alínea “f”, todos do Código Penal, c/c as implicações da Lei n. 11.340/2006, apesar da inexistência de elemento essencial de procedibilidade para a persecução criminal.

Da percuciente análise do presente feito observo que razão não assiste ao nobre signatário da inicial encontradiça às fls. 02/13, pois, no meu entender, em que pesem os documentos acostados às fls. 14/83, os autos não revelam a ilegalidade deduzida na impetração, motivo porque não vejo óbice ao prosseguimento da ação penal em testilha.

Com efeito, conforme se infere da cópia do Inquérito Policial n. 546/2007, que deu ensejo ao processo criminal alhures mencionado, no dia 18 de maio de 2007, a vítima Dirlene Gonçalves Santana registrou um boletim de ocorrência no Centro Integrado de Segurança e Cidadania/Coxipó – CISCC, afirmando que foi agredida fisicamente pelo paciente, com quem convivia maritalmente.

Na sequência, a vítima foi submetida ao exame pericial para constatação das lesões que ela disse ter sofrido no nariz e na boca, noticiadas no laudo de fls. 48/52, requerendo, ainda, a aplicação das medidas protetivas descritas às fls. 29/31 e externando interesse em representar o favorecido pelo crime de ameaça, ilícito esse parcialmente negado quando da inquirição do paciente na fase extrajudicial.

Em atenção à norma contida no art. 16 da Lei n. 11.340/06, a insigne Juíza de Direito, em substituição legal, na 2ª Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá, designou audiência para ouvir Dirlene, que, embora intimada, não compareceu ao aludido ato, de acordo com o que se dessume da certidão e do termo de audiência de fls. 76 e 77, registre-se, por necessário.

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Em seguida, o Ministério Público postulou o recebimento da denúncia oferecida contra o beneficiário, sendo este pleito deferido pela douta magistrada em atuação no juízo a quo, oportunidade na qual foi determinada a citação e intimação do paciente para que apresentasse a defesa escrita, no prazo de 10 (dez) dias, cujo lapso temporal transcorreu in

albis, como demonstram os documentos de fls. 78/83.

Dessa forma, entendo que o fato de a vítima não ter participado da audiência realizada no dia 05 de agosto do ano transato, não descaracteriza o elemento essencial de procedibilidade do feito, tendo em vista que a Lei n. 11.340/06 não impõe a necessidade de confirmação da representação formulada na fase extrajudicial, mas, tão-somente, a possibilidade de renúncia em juízo.

Assim, com o intuito de demonstrar a veracidade da assertiva acima deduzida, transcrevo o art. 16 da Lei Maria da Penha, que tem a seguinte redação:

“Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”. Destaquei.

Nesse aspecto, é imperioso asseverar que a lei especial excepciona a regra geral prevista no art. 102 do Código Penal, cujo verbete dispõe que: “A representação

será irretratável depois de oferecida a denúncia”. Destarte, enquanto o art. 102 do referido codex afirma que a retratação pode ser feita antes do oferecimento da vestibular acusatória, o

art. 16 da Lei n. 11.340/06 admite o aludido ato desde que precedente ao recebimento da peça vestibular acusatória.

Não resta, pois, a menor dúvida que a formalidade legal para a deflagração da persecutio criminis se encontra preenchida pela representação ofertada na fase policial, conforme consta do termo encartado na fl. 27, sendo desnecessário que a vítima ratifique em juízo o interesse de ver o acusado processado pelo crime de ameaça supostamente perpetrado por ele.

Concluo que a lei inovadora não impôs a realização da audiência citada no art. 16 da Lei Maria da Penha, como fase inafastável do procedimento judicializado. Ao contrário, tal assentada deve ser realizada somente quando existir notícia de que a vítima deseja

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renunciar ao direito de representação, não tendo, pois, cabimento, a indispensabilidade da ratificação da representação em juízo.

Diante do teor exposto, é preciso observar que a lei não prevê essa nova manifestação positiva e, assim procedendo, o intérprete estará restringindo direitos e garantias constitucionais da mulher, tendo em vista que o real desiderato da legislação em comento é dificultar a renúncia ou a retratação da representação, por meio de ato rigoroso e solene, para que se afira o real interesse, ou não, da vítima em afastar a punição do alegado autor do delito.

Não é demais deixar registrado que a colenda Corte de Justiça de Mato Grosso, em analisando caso similar ao que se discute nestes autos, perfilhou idêntico entendimento consoante se infere do Habeas Corpus n. 124005/2008, da relatoria da Desembargadora Shelma Lombardi de Kato, cuja ementa ficou assim redigida:

“HABEAS CORPUS - LESÃO CORPORAL E AMEAÇA - LEI MARIA DA PENHA - SOBRESTAMENTO DO PROCESSO ATÉ QUE A VÍTIMA RATIFIQUE EM JUÍZO A REPRESENTAÇÃO QUANTO AO CRIME DE AMEAÇA - INSUBSISTÊNCIA - INTELIGÊNCIA DO ART. 16 DA LEI Nº 11.340/06 - HIPÓTESE LEGAL QUE PREVÊ APENAS A RETRATAÇÃO - CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE - WRIT CONSTITUCIONAL INDEFERIDO. Para os crimes em que a lei prevê a representação do ofendido como condição de procedibilidade não há falar-se em ratificação da representação em juízo. O art. 16 da Lei nº 11.340/06 expressamente dispõe apenas sobre retratação, não exigindo a necessidade da ratificação para convalidar a representação”. (TJMT – HC 124005/2008 – Relator: Des. Shelma Lombardi de

Kato – Órgão julgador: Primeira Câmara Criminal – Julgamento: 16/12/08). Negritei.

Feitas essas considerações, registro que o habeas corpus tem como finalidade precípua a cessação do injusto cerceamento do status libertatis do cidadão, isso significando dizer que apenas se presta ao trancamento de ação penal em casos excepcionalíssimos, pela inépcia da denúncia, falta de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal, ou, ainda, diante da inexistência de justa causa para a persecutio

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Em face do exposto e em consonância com o parecer da ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, denego a ação constitucional de cunho liberatório manejada por não verificar nos autos a ilegalidade apontada na impetração.

Por derradeiro, determino a intimação pessoal do digno impetrante sobre a decisão ora proferida, em atenção à prerrogativa assegurada aos membros da Defensoria Pública, consoante se infere das disposições contidas no art. 128, inciso I da Lei Complementar Federal n. 80/1994 e no art. 5° da Lei Complementar Estadual n. 146/2003.

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Fl. 8 de 8 A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JOSÉ JURANDIR DE LIMA, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. LUIZ FERREIRA DA SILVA (Relator), DES. JOSÉ JURANDIR DE LIMA (1º Vogal) e DR. CIRIO MIOTTO (2º Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: DENEGARAM A ORDEM, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR, EM CONSONÂNCIA COM O PARECER.

Cuiabá, 16 de fevereiro de 2009.

--- DESEMBARGADOR JOSÉ JURANDIR DE LIMA - PRESIDENTE DA TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

--- DESEMBARGADOR LUIZ FERREIRA DA SILVA - RELATOR

--- PROCURADOR DE JUSTIÇA

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