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Rev. bras. polít. int. vol.40 número2

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Academic year: 2018

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Os organizadores conseguiram colocar estudantes e pesquisadores em contato com os documentos “fundadores” da diplomacia dos EUA, reunindo igual-mente um leque respeitável e demonstrativo de seus mais ilustres intérpretes. Tra-ta-se, pois, de excelente obra de referência e de estudo, cujo modelo estrutural e exemplo de análise interpretativa mereceriam – por que não? – ser imitados em volume similar sobre as relações exteriores do Brasil desde 1808. Delgado de Carvalho havia elaborado algo aproximado, tanto em seu hoje esgotado História Diplomática do Brasil como no Atlas de Relações Internacionais, em coopera-ção com a Profª. Therezinha de Castro, ela mesma organizadora de uma também desaparecida História Documental do Brasil. Quem sabe o exemplo dos “major problems” não frutifica entre nós?

Paulo Roberto de Almeida

SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. Porto Ale-gre: Livraria do Advogado, 1997, 352 p.

Dentre os oito Estados “cristãos” que se reuniram no Congresso de Vie-na, em 1815, cinco indiscutivelmente dominavam o chamado “concerto europeu”, que presidiu ao nascimento da Europa pós-napoleônica, estabeleceu novas regras de convívio entre as “nações civilizadas” e determinou, em grande medida, como seria moldado o mundo burguês que emergia da primeira Revolução Industrial. O equilíbrio persistiu durante todo o longo século XIX e apenas seria rompido em virtude da “segunda Guerra de Trinta Anos” em que parece ter vivido a Europa na primeira metade deste século.

Cinco grandes países continuavam a dominar, no final do século XX, o

inner circle do poder mundial e a determinar, via monopólio da arma nuclear, o curso da vida no planeta. Entretanto, do ponto de vista quantitativo, ao menos, o cenário é mais populoso: partindo de apenas 50 Estados independentes em seu ato constitutivo, o sistema onusiano evoluiu para cerca de 190 países membros. Do ponto de vista qualitativo, por outro lado, a mudança é substancial: no lugar da antiga diplomacia secreta dos príncipes e dos agentes dos reis, temos uma real diplomacia parlamentar exercida em mais de 350 organizações, interestatais e não-governamentais, constituídas em dezenas de foros econômicos, políticos, técnicos e culturais, nas quais as armas da crítica substituiram a crítica das armas. O poder talvez não se tenha tornado menos concentrado hoje do que 180 anos atrás, mas ele já não pode mais legitimamente ser exercido de forma crua e direta, devendo obrigatoriamente passar, mesmo no caso da superpotência remanescente, por di-ferentes instâncias de discussão e de encaminhamento de soluções aos problemas

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multifacéticos enfrentados pela humanidade.

A resposta encontrada a esses problemas pelos Estados nacionais, o ele-mento mais consistente do legado de Vestfália, é a construção de uma sociedade mundial que encontra nas organizações internacionais seu tijolo mais sólido. Se o mandato de Versalhes, com seus vícios revanchistas, não frutificou, a Carta de São Francisco ainda permanece uma referência válida para a construção de uma sociedade internacional livre da diplomacia da canhoneira. O livro de Ricardo Seitenfus trata precisamente desse fenômeno organizacional que constitui o multilateralismo contemporâneo, formado pelas dezenas de coletividades autôno-mas que se revezam na agenda internacional para tratar dos diferentes teautôno-mas aos quais, nos planos regional ou mundial, elas estão dedicadas: comércio, trabalho, clima e meio ambiente, finanças, padrões de comunicação, normas de saúde, pa-tentes e direitos do autor, transportes, energia, direito e justiça, produtos de base, correios, segurança, integração econômica, enfim, todas elas voltadas para a pro-moção dos direitos humanos, a causa da paz e, sobretudo, do desenvolvimento.

O título talvez peque por excessiva modéstia: o livro de Seitenfus é muito mais do que um simples manual, no sentido didático que se empresta correntemen-te ao vocábulo. Tampouco ele é um mero diretório das organizações ali elencadas, interessando apenas aos estudiosos do Direito Internacional. Trata-se de uma obra densa, voltada em primeiro lugar para os aspectos teóricos, históricos, doutrinários, classificatórios e ideológicos do multilateralismo contemporâneo, enfocando em seguida a personalidade jurídica, a competência e os instrumentos dessas organi-zações, para então discorrer, na maior parte do volume, sobre as mais importantes entidades multilaterais e regionais a partir da Liga das Nações. A ONU e suas agências especializadas recebem muita atenção, mas também os organismos polí-ticos e econômicos do continente americano, sem descurar os demais órgãos regi-onais e mesmo as organizações não-governamentais. Um conjunto de anexos traz um utilíssimo quadro cronológico sobre a participação do Brasil nessas organiza-ções internacionais e os textos dos convênios constitutivos das mais importantes entidades do ponto de vista da diplomacia brasileira.

A formação multidisciplinar e “transnacional” do seu autor – que transita facilmente da história ao direito e da economia à sociologia – por certo contribuiu para a elegante abrangência dessa verdadeira summa das organizações internaci-onais, relativamente inédita para os padrões acadêmicos brasileiros. Também é notável a clareza das definições; vejamos apenas a que interessa ao objeto da obra: as organizações internacionais são associações voluntárias de Estados, cons-tituídas através de um tratado, com a finalidade de buscar interesses comuns atra-vés de uma permanente cooperação entre seus membros. Elas representam, se-gundo outra definição, um subconjunto das relações internacionais e sua ideologia está vinculada às concepções defendidas por seus Estados membros (como foi o caso das Nações Aliadas nos estertores da Segunda Guerra). Elas passaram por

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fases, desde o funcionalismo dos primeiros anos da ONU até o atual globalismo, passando pelo desenvolvimentismo e pelo transnacionalismo. Os processos decisórios e seus mecanismos (ou relações de força) são obviamente muito impor-tantes, mas as organizações internacionais parecem querer levar o mundo con-temporâneo a uma espécie de “hegemonia consensual”.

Elas constituem, inquestionavelmente, um dos elementos mais dinâmicos e importantes das relações internacionais deste final de século e do futuro previsí-vel. Conhecer sua anatomia institucional, a trajetória de cada uma delas, seus respectivos mandatos constitucionais, compreender, por fim, suas competências específicas e suas limitações intrínsecas impõe-se a qualquer estudioso do mundo globalizado em que vivemos. O manual de Ricardo Seitenfus torna mais fácil a apreensão dessa realidade múltipla a qualquer leigo no assunto e consegue agre-gar conhecimentos novos mesmo ao mais escolado dos diplomatas.

Paulo Roberto de Almeida

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