• Nenhum resultado encontrado

Rev. bras. polít. int. vol.40 número2

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Rev. bras. polít. int. vol.40 número2"

Copied!
3
0
0

Texto

(1)

181

PATERSON, Thomas G. e Dennis Merril (orgs.). Major Problems in American Foreign Relations. 4ª ed.; Lexington, Mas.: Heath, 1995. Volume I: To 1920 (576 p.); Volume II: Since 1914 (755 p.)

A obra integra uma coleção original editada sob a direção do historia-dor Paterson, da Universidade de Connecticut, “Major Problems in American History Series”, que já publicou mais de duas dezenas de títulos de história política, social, regional ou sobre períodos determinados da história dos Estados Unidos. Em todos esses “major problems”, o modelo básico é o mesmo: uma seção de “fontes primárias”, seguida de análises por historiadores reputados nos diversos campos ou períodos em causa. No caso desta obra sobre as rela-ções exteriores, houve um progresso conceitual em relação às três primeiras edições, cujos títulos remetiam tão simplesmente à American Foreign Policy, noção agora ampliada para a abordagem do conjunto das interações (econômi-cas, políti(econômi-cas, militares, culturais) entre sociedades, organizações e Estados envolvidos em quase três séculos de história daquele país. O primeiro dos dois alentados volumes trata das relações da nação americana com o mundo desde o período colonial (o primeiro documento é de 1630) até o final da Primeira Guerra Mundial e o segundo – cujo primeiro capítulo de documentos históricos é exatamente o mesmo que conclui o primeiro livro – examina o período subsequente, até o final da Guerra Fria (o último documento é um artigo de Brzezinski na Foreign Affairs, do outono de 1992).

Cada um dos volumes tem início por um capítulo metodológico que ante-cipa a documentação de referência e os ensaios setoriais. O do primeiro tem caráter explicativo – ele se chama, precisamente, “Explaining American Foreign Relations” –, no qual autores consagrados situam o contexto e explicam as prin-cipais características e realizações das relações exteriores da nação americana, com destaque para a política de “portas abertas”, a “busca do poder”, o “racis-mo na ideologia americana” e o que se poderia chamar de concepção washingtoniana do mundo (“The Unique American Prism”). No segundo volu-me, de forma similar, estudiosos acadêmicos examinam, em “Approaching the Study of American Foreign Relations”, as próprias interpretações sobre o itine-rário dos Estados Unidos em direção do status de grande poder mundial, discu-tem os valores e condicionantes de sua presença no mundo e introduzem os grandes temas que moldaram suas relações internacionais, inclusive, no que se refere ao período contemporâneo, a questão do “gênero”, o que não deixa de ser politicamente correto. Para William Appleman Williams, por exemplo, que muito influenciou os estudos subsequentes com o seu The Tragedy of American Diplomacy (1959), o expansionismo econômico – Open Door Policy – é a cha-ve para entender as relações exteriores dos Estados Unidos, o que terminou por violar os próprios princípios sobre os quais elas deveriam se assentar.

(2)

182

A estrutura formal dos 14 capítulos substantivos do primeiro e dos 13 do segundo volume, é, como se disse, idêntica: entre cinco e dez documentos relevan-tes para cada uma das fases examinadas – geralmente declarações presidenciais, notas de chancelaria ou textos de autores contemporâneos aos problemas tratados –, complementados por três a quatro ensaios de especialistas no tema ou no perí-odo em questão. Tem-se inicialmente, portanto, uma abordagem direta pelas fon-tes primárias, seguida de interpretações de scholars. Os ensaios destes últimos revelam como diferentes analistas colocam os documentos em perspectivas diver-sas e chegam a conclusões por vezes divergentes, quando não a concepções opos-tas sobre os mesmos processos, confrontação aliás deliberadamente buscada pe-los dois organizadores.

Entre a era colonial e o final da Guerra Fria, um longo itinerário de afirmação internacional se desenha, a partir da expansão territorial no continen-te (pela aquisição ou pela conquista) e da presença econômica e militar nas regiões adjacentes e mesmo algumas longínquas (como a China e as Filipinas). Episódios dessa lenta evolução para uma política internacional de poder são a Doutrina Monroe, o destino manifesto e o envolvimento em questões internacio-nais, no Caribe, no Atlântico e no Pacífico. A América Latina, enquanto tal, à exceção do problema cubano, sequer comparece nas entradas de documentos selecionados ou na discussão dos problemas das relações exteriores dos EUA. A falta de um índice – falha geralmente imperdoável em edições norte-america-nas, mas neste caso uma lacuna compreensível em virtude da concepção mes-ma da obra – dificulta, por exemplo, conferir quantas vezes o Brasil “entrou” na agenda do Department of State: provavelmente em raras ocasiões. Assim, a “good neighbour policy” de Roosevelt ou a Aliança para o Progresso de Kennedy sequer são citadas, mas Cuba e a crise dos mísseis comparecem com não menos de treze documentos em um importante capítulo. A política de “big stick” do energicamente expansionista Theodore Roosevelt recebe um capítulo, contendo, é verdade, um documento do chanceler argentino Luis Maria Drago contra o recolhimento forçado de dívidas, mas ainda assim se trata mais da hegemonia norte-americana no Caribe e na América Central do que do relacionamento hemisférico em seu conjunto.

A seleção é entretanto pertinente, pois não há como negar a absoluta marginalidade da América Latina nas relações internacionais. Depois de seguir a ascensão econômica da “nova Roma” no século XIX, os organizadores dedicam o essencial de sua atenção para as crises internacionais e as grandes guerras deste século, que recebem uma cobertura praticamente completa. Vários historiadores reconhecem o unilateralismo dos Estados Unidos. O afastamento da Liga e o desprezo pela ONU nos anos recentes se combinam ao “imperial overstretch” e ao declínio relativo sublinhados por Paul Kennedy, mas foram também os EUA que construiram, em grande medida, o multilateralismo contemporâneo.

(3)

183

Os organizadores conseguiram colocar estudantes e pesquisadores em contato com os documentos “fundadores” da diplomacia dos EUA, reunindo igual-mente um leque respeitável e demonstrativo de seus mais ilustres intérpretes. Tra-ta-se, pois, de excelente obra de referência e de estudo, cujo modelo estrutural e exemplo de análise interpretativa mereceriam – por que não? – ser imitados em volume similar sobre as relações exteriores do Brasil desde 1808. Delgado de Carvalho havia elaborado algo aproximado, tanto em seu hoje esgotado História Diplomática do Brasil como no Atlas de Relações Internacionais, em coopera-ção com a Profª. Therezinha de Castro, ela mesma organizadora de uma também desaparecida História Documental do Brasil. Quem sabe o exemplo dos “major problems” não frutifica entre nós?

Paulo Roberto de Almeida

SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. Porto Ale-gre: Livraria do Advogado, 1997, 352 p.

Dentre os oito Estados “cristãos” que se reuniram no Congresso de Vie-na, em 1815, cinco indiscutivelmente dominavam o chamado “concerto europeu”, que presidiu ao nascimento da Europa pós-napoleônica, estabeleceu novas regras de convívio entre as “nações civilizadas” e determinou, em grande medida, como seria moldado o mundo burguês que emergia da primeira Revolução Industrial. O equilíbrio persistiu durante todo o longo século XIX e apenas seria rompido em virtude da “segunda Guerra de Trinta Anos” em que parece ter vivido a Europa na primeira metade deste século.

Cinco grandes países continuavam a dominar, no final do século XX, o

inner circle do poder mundial e a determinar, via monopólio da arma nuclear, o curso da vida no planeta. Entretanto, do ponto de vista quantitativo, ao menos, o cenário é mais populoso: partindo de apenas 50 Estados independentes em seu ato constitutivo, o sistema onusiano evoluiu para cerca de 190 países membros. Do ponto de vista qualitativo, por outro lado, a mudança é substancial: no lugar da antiga diplomacia secreta dos príncipes e dos agentes dos reis, temos uma real diplomacia parlamentar exercida em mais de 350 organizações, interestatais e não-governamentais, constituídas em dezenas de foros econômicos, políticos, técnicos e culturais, nas quais as armas da crítica substituiram a crítica das armas. O poder talvez não se tenha tornado menos concentrado hoje do que 180 anos atrás, mas ele já não pode mais legitimamente ser exercido de forma crua e direta, devendo obrigatoriamente passar, mesmo no caso da superpotência remanescente, por di-ferentes instâncias de discussão e de encaminhamento de soluções aos problemas

Referências

Documentos relacionados

Experimenty probíhají za t chto podmínek: objem reak ní lahve 1100 ml dávkování: 10 g sušiny kompostu, 20 g perlitu, 1,7 g substrátu a v závislosti na vlhkosti kompostu 30 ml

3: Ecological footprint of European countries, 2003 index reflects economic and social disparities among countries of the world: while the average value in high income OECD countries

Klí ová slova: fluidní spalování uhlí, ložový produkt, geopolymer, pevnost v tlaku, mrazuvzdornost, odolnost proti tepelnému šoku.. Úvod V posledních letech lze pozorovat stále

The rabbits were fed a basal granulated diet containing 0.08 mg Se/kg, or diets obtained from basal diet, supplemented with sodium selenite, selenized yeast Se-yeast or selenized

tSeVeGSuren3 1Department of Food Engineering, Faculty of Technology, Tomas Bata University in Zlín, 760 01 Zlín, Czech Republic; 2Institute of Chemistry and Chemical Technology,

R2 = 0,943915 where yt – flow length, X1 – injection rate, X2 – injection, pressure, X3 – size of gate, X4 – surface roughness of testing plate, X5 – melt flow index, εi – incidental

Tomas Bata University in Zlín, Faculty of Technology, Polymer Centre, TGM 275, 762 72 Zlín, Czech Republic a b s t r a c t a r t i c l e i n f o Article history: Received 11 December

Powder Technology 194 2009 1-196 Pressure-affected flow properties of powder injection moulding compounds Berenika Hausnerova1, Tomas Sedlacek, Pavlina Vltavska Tomas Bata University

O livro de Marcelo Dias Varella vem contribuir, como o de Tullo Vigevani, para a “internalização” de relevantes questões internacionais – que constituem também questões centrais

Sem entrar nos meandros dos casos citados pelo autor, bastaria assinalar os seguintes temas tratados pela Corte e que possuem clara repercussão sobre a constituição do núcleo

Para Vegas, a história paralela das duas políticas exteriores demonstra que os dois países, Brasil e a Argentina, “nacen con polaridades geográficas e históricas opuestas y

O status colonial dessa região, bem como as relações estreitas (na dupla acepção desta palavra) com Portugal salazarista, fez com que esta fosse uma dimensão ausente em

Ela se caracterizaria por um alto perfil, racionalidade, consistência, continuidade e previsão e por valores ideológicos positivos como anticolonialismo, anti-racismo, não-alinhamento

O autor examina a política exterior do Zimbábue minuciosamente em seis áreas chaves de atuação: a) a reação à política de desestablização da África do Sul; b) a busca para

Se, durante muito tempo, a literatura sobre as organizações internacionais intergovernamentais dava ênfase, sobretudo, a aspectos institucionais (origem, objetivo, evolução de

Eles revelam uma preocupação com a pesquisa e sistematização do conhecimento sobre as relações exteriores do País, seja na vertente do multilateralismo econômico – relação de