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A castração química e sua inadmissibilidade no ordenamento jurídico brasileiro em face do princípio da dignidade humana

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Academic year: 2021

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MARIA IZABEL VOGEL

A CASTRAÇÃO QUÍMICA E SUA INADMISSIBILIDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO EM FACE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA

Ijuí (RS) 2019

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MARIA IZABEL VOGEL

A CASTRAÇÃO QUÍMICA E SUA INADMISSIBILIDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO EM FACE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dra. Anna Paula Bagetti Zeifert

Ijuí (RS) 2019

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro a Deus, que, apesar das dificuldades, me manteve na trilha certa durante este trabalho de conclusão do curso, com saúde e forças para chegar até o final.

Sou grata à minha família, meus pais, por terem desenvolvido em mim o espirito de busca, por eles e pela minha irmã, pelo apoio que sempre me deram durante toda a minha vida.

À minha orientadora, Dra. Anna Paula Bagetti Zeifert, por todo apoio e paciência ao longo da elaboração do meu trabalho de conclusão do curso.

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“Os animais do mundo existem para seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens.”

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RESUMO

O presente trabalho busca analisar o projeto de lei nº 5398/2013, referente a castração química e sua aplicabilidade no ordenamento jurídico. É uma forma temporária de privar o paciente a ter impulsos sexuais com o uso de medicamentos hormonais, não sendo assim, uma castração propriamente dita. Não se tem uma privação e sim, um tratamento para controle de impulsos. O método atualmente é utilizado em diversos países, há posicionamentos favoráveis e contrários à adoção da medida. Existem grupos que afirmam ser essa uma medida segura e eficaz, que não existem conflitos com a atual lei, pois o tratamento seria de forma voluntária e cumpriria com o interesse social. Ainda afirmam que os crimes sexuais tiveram uma redução bastante considerável nos países que adotaram essa medida em seu ordenamento jurídico. No entanto, outros grupos defendem que deve ser observado que a Constituição é o alicerce para o Direito Penal, observar seus princípios, principalmente o princípio da proporcionalidade, da vedação de penas cruéis, que, além de estar prevista na Constituição Federal, está no Pacto San José da Costa Rica, que o Brasil é signatário. Por fim, o estudo utilizou no seu delineamento o método hipotético dedutivo centrado na pesquisa bibliográfica.

Palavras-Chave: Violência sexual. Castração Química. Dignidade da Pessoa Humana.

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ABSTRACT

This paper seeks to analyze the bill no. 5398/2013, referring to chemical castration and its applicability in the legal system. It is a temporary way to deprive the patient to have sexual impulses with the use of hormonal drugs, thus not being a castration itself. There is no deprivation, but a treatment to control impulses. The method is currently used in several countries, there are positions favorable and contrary to the adoption of the measure. There are groups that claim that this is a safe and effective measure, that there are no conflicts with the current law, because the treatment would be voluntary and would comply with the social interest. They also state that sexual crimes have been considerably reduced in the countries that have adopted this measure in their legal systems. However, other groups argue that it should be noted that the Constitution is the foundation for criminal law, observe its principles, especially the principle of proportionality, the prohibition of cruel punishment, which, in addition to being provided for in the Federal Constitution, is in the San José Pact of Costa Rica, to which Brazil is a signatory. Finally, the study used in its design the hypothetical deductive method focused on bibliographic research.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...09

1. CRIMES SEXUAIS NO BRASIL E O PROJETO DE LEI N. 398/2013...11

1.1 Evolução jurídica dos crimes sexuais no ordenamento pátrio...12

1.2 O histórico de projetos apresentados referente a temática: o legislador Brasileiro em análise...17

1.3 Projeto de lei referente a Castração Química: aspectos uso da droga depo-provera...20

1.4 A Castração Química e o direito comparado...22

2 (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA CASTRAÇÃO QUÍMICA FRENTE AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASIELIRO...26

2.1 A Castração química e o princípio da dignidade da pessoa humana...29

2.2 Os direitos humanos como garantia da integridade dos indivíduos...33

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INTRODUÇÃO

A pesquisa estuda a castração química como forma de penalizar o acusado por crimes sexuais e sua forma de aplicação conforme o projeto de lei número 5398/2013, proposto na Câmera de Deputados. Faz um breve estudo da evolução do ordenamento jurídico brasileiro referente ao estupro e a aplicação da castração já utilizada, a aplicabilidade em outros países e estuda o método aplicado.

As discussões sobre projeto de lei que penaliza acusado de crimes sexuais com a castração química voltaram a tona com a candidatura a presidência de Jair Bolsonaro em 2018, autor do último projeto proposto nesse mesmo sentido e defensor ferrenho deles em seus discursos. O assunto gerou revolta em muitos, no entanto, agradou simpatizantes do candidato. Já para o movimento contrario a essa medida, mesmo diante de um crime repugnante, é inevitável não observar a inconstitucionalidade da pena em face do princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Assim, o presente estudo pretende verificar as principais formulações acerca do entendimento sobre o tema, produzida por alguns pensadores interessados na temática.

Além de ferir o princípio da dignidade da pessoa humana e da proporcionalidade, com a aplicação da Castração Química no ordenamento jurídico, acaba contrariando também, o Pacto de São José da Costa Rica, o qual, o Brasil é signatário e se equipara a uma Emenda Constitucional. Outra questão importante é sobre a real efetividade do método, pois, ele serve para inibir a o desejo sexual, assim, além de punir o agressor, evitaria também a reincidência. Mas, para que se

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ocorra um crime sexual, não há necessidade de ereção, pois um dos objetivos do acusado é o domínio e humilhação da vítima, que pode ser feita de outra forma.

Inicialmente, é desenvolvido um estudo sobre a evolução do ordenamento jurídico referente a penalização dos crimes sexuais e os projetos de leis anteriores com a intenção de incluir a castração química no ordenamento jurídico brasileiro. Ainda, no primeiro capítulo, foram analisados os aspectos controversos do uso da droga depo-provera, utilizada na castração química, sua aplicação e efeitos que podem provocados nos pacientes.

Finaliza com contraponto em face da Constituição Federal e o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Os estudos são voltados na im) possibilidade da inclusão da castração química como forma de punir delinquentes por crimes sexuais, em face do princípio, previsto na Carta Magna. Além disso, citadas a vedação de crimes cruéis, previsto na Constituição federal e no Pacto San José da Costa Rica que o Brasil é signatário. Muitas vezes a sociedade, desacreditada na justiça atual, defende projetos de leis mas que ferem os Princípios da Constituição Federal, como se deixasse de ser vista como a Lei Suprema da organização de um Estado. Nesse contexto, a temática possui especial relevância na problemática sociedade injusta, na qual nos encontramos inseridos.

É, pois, com o intuito de contribuir, senão para que a realização da justiça se torne efetiva, ao menos para fomentar o debate e enriquecer a reflexão sobre a matéria. Quanto aos objetivos gerais, a pesquisa será do tipo exploratória. Utiliza no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização, será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando a seleção de bibliografia e documentos afins à temática.

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1. CRIMES SEXUAIS NO BRASIL E O PROJETO DE LEI N. 5398/2013

Em 2013, foi proposto na Câmara de Deputados, o projeto de lei número 5398/2013 pelo então eleito presidente da Republica, Jair Bolsonaro, referente a castração química como forma de penalizar o acusado por crimes sexuais. O projeto foi arquivado no dia 31 de janeiro de 2019 sob termos do artigo 105 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, o qual Finda a legislatura, arquivar-se-ão todas as proposições que no seu decurso tenham sido submetidas à deliberação da Câmara e ainda se encontrem em tramitação, bem como as que abram crédito suplementar, com pareceres ou sem eles,

Com esse projeto sendo aprovado no plenário, também aumenta as penas para estupro e estupro de menores de 18 anos. Pela proposta, a pena mínima para estupro sobe de 6 para 9 anos; e a máxima vai de 10 para 15 anos. Nos casos de estupro de adolescente entre 14 e 18 anos, a pena deve variar entre 12 e 18 anos, e não mais de 8 a 12 anos, como atualmente. Para estupro em que a vítima morre, a pena mínima sobe de 12 para 18 anos. Nos casos de estupro de menor de 14 anos, a pena subirá de 8 a 15 anos para 12 a 22 anos. Se a vítima ficar gravemente ferida, a pena passa de 10 a 20 anos para 15 a 25 anos. Quando a criança ou adolescente morrer, a pena mínima será de 18 e não mais 12 anos.

O projeto também estabelece a castração química como condição para o condenado por estupro voltar à vida em sociedade. Antes de o condenado obter sua liberdade, seria submetido ao tratamento, com resultados positivos. A proposta também altera a Lei de Crimes Hediondos (8.072/90) para incluir essa obrigatoriedade na progressão do regime.

A explicação da Ementa, no site da Câmara dos Deputados traz o seguinte: “Aumenta a pena para crimes de estupro, estupro de vulneráveis, exige que o condenado por esses crimes conclua tratamento químico voluntário para inibição de desejo sexual como requisito para obtenção de livramento condicional e progressão de regime.”, ou seja, a castração química seria uma condição para o apenado voltar a conviver em sociedade e ainda aumenta o período do condenado com o regime

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carcerário, sendo a pena mínima subindo de 6 para 9 anos (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2018).

O projeto de lei 5398/2013, teve um relator designado, o deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF). O texto prevê o "tratamento químico voluntário para a inibição do desejo sexual", mas não especifica os medicamentos que seriam utilizados.

Para o Presidente eleito, é uma forma de evitar a reincidência nos casos de estupro, visto que, países como Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Polônia têm leis que estabelecem a castração química com resultados positivos.

Caso a castração química venha a ser adotada como pena, somente será após aprovação pelo Congresso Nacional, seguida de sanção presidencial. Inclusive, ainda que tomada apenas como tratamento médico, tal feito deverá ser também submetido à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal, tendo em vista que se está adentrando na esfera penal, pois, fará parte da pena para um ato criminoso.

1.2 Evolução jurídica dos crimes sexuais no ordenamento pátrio

Os crimes sexuais são um problema enfrentado desde a antiguidade e com o passar dos anos, procura-se uma maneira de punir os responsáveis e evitar esse crime que é considerado abominável pela sociedade.

Em artigo, publicado no Jus Brasil por Naiara Machado (2018), no século XIX, “Século da Ciência”, trouxe um conceito de ato criminosa nato, e quem praticava o delito era uma pessoa “vagabunda” das periferias das cidades. No século XX surge a palavra pedofilia, e assim se constroem figuras novas aos estupradores. Assim, conseguem ver que podem ser estupradores pais de família, padres, professores.

O Código Penal Brasileiro também teve mudança. No Livro X, Título XVIII, o estuprador era punido com pena de morte, até mesmo essa pena era aplicada ao partícipe, aquele que deu conselho ou que de alguma outra forma auxiliou no ato. Nem mesmo o perdão da vítima, ou até mesmo o casamento após o estupro, deixava-se de aplicar a pena.

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Já no Código Criminal Imperial (1830) a pena era pagamento de lote a vítima, com pena reduzida se a vítima fosse prostituta. Não se aplicava a pena caso houvesse casamento com o acusado e a ofendida (MACHADO, 2018).

Estupro foi conceituado em 1890, no artigo 268 do Código Penal:

Chama-se estupro o ato pelo qual o homem abusa com violência de uma mulher, seja virgem ou não, mas honesta. Pena: se a estuprada for mulher honesta, virgem ou não, um a seis anos de prisão celular. Se for mulher pública ou prostituta a pena é de seis meses a dois anos de prisão (BRASIL, 2018).

Em 1940, o crime de estupro era cometido apenas por homens e vítimas eram apenas mulheres. A pena era de 6 a 10 anos, contudo, era condicionada a representação. Ou publica incondicionada mediante violência real (súmula 608 do STF) e quando a vítima é menor de 18 anos. A lei nº 12.015 de agosto de 2009 unificou estupro com atentado violento ao pudor a fim de evitar confusões. Hoje são dominados de crimes contra a dignidade sexual. A partir desse ano, tanto homens como mulheres podiam estar no polo passivo (MACHADO, 2018).

A lei 12.015 de agosto de 2009, foi publicada no dia 7 e entrou em vigor no ordenamento jurídico brasileiro dia 10 de agosto. Alterou a legislação que trata dos crimes sexuais, inclusive o título que designado por “Dos Crimes Contra do Costumes” foi alterado para “Crimes Contra Dignidade Sexual”. Alterou o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) e a lei 8.072 de 1990 que trata dos crimes hediondos (MOURA, 2018).

Essa mudança da designação do título foi oportuna, já que, o bem tutela não se refere mais da dignidade sexual apenas da mulher, e sim, de todo ser humano, ajustando-se mais com a Constituição Federal, conforme se manifesta Rogério Greco (apud MOURA, 2018):

A expressão crimes contra os costumes já não traduzia a realidade dos bens juridicamente protegidos pelos tipos penais que se encontravam no Título VI do Código Penal. O foco da proteção já não era mais a forma como as pessoas deveriam se comportar sexualmente perante a sociedade do século XXI, mas sim a tutela

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da sua dignidade sexual. O nome dado a um Título ou mesmo a um Capítulo do Código Penal tem o condão de influenciar na análise de cada figura típica nele contida, pois, através de uma interpretação sistêmica ou mesmo de uma interpretação teleológica, onde se busca a finalidade da proteção legal, pode-se concluir a respeito do bem que se quer proteger, conduzindo, assim, o intérprete, que não poderá fugir às orientações nele contidas.

E sobre a dignidade sexual, Guilherme de Souza Nucci (apud MOURA, 2018) se pronuncia da seguinte forma:

Dignidade fornece a noção de decência, compostura, respeitabilidade. A sua associação ao termo sexual insere-a no contexto dos atos tendentes à satisfação da sensualidade ou da volúpia. Considerando-se o direito à intimidade, à vida privada e honra, constitucionalmente assegurados (artigo 5º inciso X da CF), além do que a atividade sexual é não somente um prazer material, mas uma necessidade fisiológica para muitos, possui pertinência, a tutela penal da dignidade sexual. Em outros termos, busca-se proteger a respeitabilidade do ser humano em matéria sexual, garantindo-lhe a liberdade de escolha e a opção nesse cenário, sem qualquer forma de exploração, especialmente quando envolver, formas de violência.

Antes da lei 12.015, a liberdade sexual da mulher era o objeto jurídico, tendo no artigo 213 do Código Penal o seguinte: “Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça: Pena- reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”. O crime era cometido apenas contra elas, não cabendo homens no polo passivo, sendo para a doutrina majoritária, podendo ser apenas partícipe. No polo ativo, apenas cabia o homem, que era autor direto com o delito (mão própria). Também, a doutrina se dividia entre ser possível estupro dentro do casamento ou não. Para alguns autores, isso só era possível fora do casamento, não sendo com sua própria cônjuge. Para outros autores, sexo sem consentimento, mesmo dentro do casamento, é sim, abuso do direito, pois a lei civil não autoriza de forma alguma o uso de violência física (MOURA, 2018).

Já o artigo 214, do antigo Código Penal, trazia a seguinte: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: Reclusão de 6 (seis) a 10 (dez) anos”, sendo que nesse artigo, não se falava em gêneros, podendo ser o homem ou mulher no polo ativo e passivo.

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Na nova lei, a qual prevalece nos dias atuais no Código Penal Brasileiro, unificou os artigos 213 e 214 trazendo a seguinte redação: “Artigo 213 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Esse artigo sendo inovado por dois parágrafos: “ § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos. Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos e § 2º Se da conduta resulta morte. Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos”. Inclui na nova redação com agravamento de penas, os casos que resultam grave lesão ou morte.

Guilherme Souza Nucci (apud MOURA, 2018) traz a baila que:

O revogado (em boa hora) artigo 223 apresentava redação defeituosa. No caput, tratando do resultado qualificador consistente em lesões corporais de natureza grave, mencionava: “se da violência resulta...”. No parágrafo único, cuidando do resultado qualificador consistente na morte da vítima, incluía: “se do fato resulta...”. Era nítida a diferença e geradora de intensos debates doutrinários e jurisprudenciais. Somente era qualificado o delito sexual se resultasse lesão grave da violência e não da grave ameaça? Quando se mencionava o fato, poder-se-ia abranger a violência e a grave ameaça ou somente a violência? Sem pretender ingressar nesse debate, a questão resolveu-se pela nova redação abraçada pelos parágrafos 1º e 2º, do artigo 213.

Eliminaram-se os termos violência e fato, adotando-se conduta. Portanto, se da conduta do agente (constrangimento exercido com violência ou grave ameaça) resultar lesão corporal de natureza grave ou morte, atingi-se o crime qualificado pelo resultado. No caso da lesão grave, a pena eleva-se para reclusão, de oito a doze anos (mesma pena do anterior artigo 223). No caso de morte, a pena passa para reclusão de doze a trinta anos (a pena máxima é aumentada em cinco anos).”

Entre as principais mudanças, muito importante foi a inclusão do estupro de vulnerável, encontrada no artigo 217 – A do Código Penal, entendendo-se por vulneráveis as pessoas que não podem oferecer resistência (menores de 14 anos, pessoa que se encontra em alguma enfermidade que não conseguem se defender ou deficientes mentais que que não são capazes de exteriorizar seu consentimento). Enfim, podemos dizer que o Código Penal foi alterado de forma significativa.

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No entanto, o que percebemos é que, mesmo com o endurecimento das penas para os crimes sexuais, os dados são alarmantes, assim como nos traz o site da BBC News Brasil (2018): 70% dos casos de estupro são cometidos contra crianças e adolescente, metades desses casos, já teve um ocorrência dessas e cerca de 15% dos casos, envolve mais que um agressor. Esse mesmo site, afirma que quando a vítima é do sexo masculino, o fato é mais difícil ser denunciado, mesmo assim, em 2014 ocorreram, em média, 13 denúncias diárias no disque 100, sendo vítimas meninos.

De acordo com dados mais recentes, em 2014, no Brasil, houve 11 casos por minuto notificados, isso que, apenas 30 a 35% dos casos são denunciados. Em pesquisa feito pelo Datafolha, revelou que 67% da população tem medo de ser vítima de agressão sexual. O percentual sobe para 90% entre mulheres (BBC News Brasil, 2018).

Dados trazidos pelo site O Tempo (2018), em 2011 foram registrados 50,6 mil estupros no Brasil, 6 estupros por hora, e um a cada dez minutos. A mesma pesquisa mostra que apenas 10% dos casos chegam a ser notificados, sendo as vítimas maioria crianças, seguido por adolescentes e pessoas adultas. As mulheres casas correspondem 25,80 % do grupo das pessoas adultas.

Os homens são 90% dos agressores e mulheres não chegam a 2%, segundo o site, esse dado se da pelo seguinte:

A violência de gênero é um reflexo direto da ideologia patriarcal, que demarca explicitamente os papéis e as relações de poder entre homens e mulheres. Como subproduto do patriarcalismo, a cultura do machismo, disseminada muitas vezes de forma implícita ou sub-reptícia, coloca a mulher como objeto de desejo e de propriedade do homem, o que termina legitimando e alimentando diversos tipos de violência, entre os quais o estupro.

Isto se dá por dois caminhos: pela imputação da culpa pelo ato à própria vítima (ao mesmo tempo em que coloca o algoz como vítima); e pela reprodução da estrutura e simbolismo de gênero dentro do próprio Sistema de Justiça Criminal, que vitimiza duplamente a mulher (O TEMPO, 2018)

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Já outra pesquisa mostra que, mesmo com a evolução do ordenamento jurídico, cerca de 530 mil mulheres são estupradas por ano no país e apenas 10% dos casos, chegam até a polícia. Desses crimes denunciados, poucos acusados acabam cumprido pena. Mesmo que, desde 2009, a lei se tornou mais severa. Esse mesmo estudo aponta que 89% das vítimas são mulheres, em geral de escolaridade baixa. Do total, 70% são crianças e adolescentes (IPEA, 2018).

Percebe-se que há algumas controvérsias nos dados apresentados, mas nenhuma duvida de que os dados são preocupantes e que o Brasil tem um alto índice de criminalidade e deve se buscar meio para coibir os crimes sexuais é inegável. Mesmo com a evolução do ordenamento jurídico e endurecimento das penas, os crimes sexuais são de número alto. Há algumas propostas para condenados por esses crimes como, por exemplo, a castração química.

1.2 O histórico de projetos apresentados referentes a temática: o legislador brasileiro em análise

Já houve a tentativa de se criar leis incluindo a castração química no ordenamento jurídico brasileiro, todas elas foram barradas de alguma forma. A mais remota é o projeto 2725, proposto em 1997 pelo Deputado Federal Wilberto Tartuce. Projeto tentava alterar o código penal punindo acusados de estupro e atentado violento ao pudor (que na época ainda não era unificado). Foi arquivado cinco anos depois. Em 2002, propôs novamente o projeto nº 7021, com o mesmo teor, sendo arquivado um ano após a propositura.

Em 1998, a então Deputada Federal Maria Valadão, propôs um projeto de um Emenda Constitucional, incluindo o no artigo 5º da Carta Magna, a inclusão da castração Química como pena pedofilia com estupro nos casos de reincidência, mas foi arquivado em 1999.

Os mais recentes foram o projetos de lei nº 552/07, 282/11, ambos do Senado Federal e 215/11 da assembleia legislativa de São Paulo.

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O projeto de lei nº 552/07 foi proposto pelo senador Gerson Camata, no quel, a ementa visava acrescentar o artigo 216 B no Código Penal, indicando a Castração Química para crimes dos artigos 213, 214, 218 e 224, todos do diploma repressivo substantivo (respectivamente estupro, atentado violento ao pudor, corrupção de menores), quando considerado pedófilo. A Castração Química referida consiste em injeções nos nos testículos, dessa forma, retirando do indivíduo o “desejo sexual”. A intenção era punir de forma mais rigorosa aqueles que cometiam violência sexual contra menores. Mas a proposta esbarra em óbices constitucionais.

Doutor em Direito, Luis Fernando Sgarbossa (2018), autor do artigo publicado no JusBrasil, tem o seguinte entendimento:

Tratando-se de tema relativo ao direito fundamental à integridade física, assim como às garantias contra penas cruéis, desumanas, degradantes e perpétuas, bem como de intento de recepção do princípio da incapacitação do ofensor no Direito pátrio, impõe-se uma breve incursão preliminar por um sistema penal que adota tais práticas, para melhor compreensão do tema.

Para o autor citado, a pena de castração Química teve inspiração no ordenamento jurídico norte-americano, onde são adotadas penas perpétuas e morte, e que não são excepcionais, e que pode-se dizer das mesmas que são humilhantes, infamantes e inusitadas. Ou também, pode haver inspiração no direito muçulmano, onde há penas irreversíveis para o corpo humano. Na tentativa de importar leis estrangeiras, poderá haver conflitos de incompatibilidade de sistemas (SGARBOSSA, 2018).

Luis Fernando Sgarbossa, afirma que a aprovação do Projeto de Lei 552/07 seria uma afronta à Constituição Federal como vemos:

[...] se coloca um problema em relação ao intento que se pretendeu levar a cabo com a propositura do Projeto de Lei do Senado de n. 552/07: ele colide frontalmente com disposições constitucionais imodificáveis (mesmo por Emendas à Constituição), a saber, a vedação de penas perpétuas e cruéis e violadoras da integridade física e moral do condenado (CRFB/88, art. 5°, XLVII, "b" e "e" e XLVIII), de modo que se vislumbra, primo ictu occuli, inconstitucional, merecendo a rejeição (SGARBOSSA, 2018).

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O que para o auto, não seria uma defesa para os pedófilos, e sim, defesa da Constituição Federal, que a punição deve ocorrer, medidas eficazes sempre são bem-vindas, mas mas sempre se atentando para os limites que a CF/88 impõe, mesmo em crimes que geram muita comoção, contra crianças. (SGARBOSSA, 2018).

Já o Projeto de lei nº 282/11, foi proposto pelo Senador Ivo Cassol, o quel desejava o acréscimo do artigo 98, no Decreto-lei nº 2.848 de 1940 (Código Penal). Acrescentava o tratamento médico (Castração Química), de forma voluntária para não reincidentes e obrigatória para reincidentes, indicado pelo juiz, com base em avalição médica. Caso o condenado descumpria a ordem judicial, lhe seria fixada pena de liberdade, sendo facultado ao juiz extinguir a punibilidade do condenado caso ele se submeta voluntariamente à intervenção cirúrgica de efeitos permanentes. O Projeto de lei foi encaminhado para a Subcomissão de Segurança Pública, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, sendo que o Senador relator rejeitou a proposta por violar a integridade física do preso (SENADO FEDERAL. 2018).

A Assembleia Legislativa de São Paulo, recebeu o projeto de lei com autoria do Deputado, Rafael Silva, n º 215/11, que também propõe a Castração Química, com utilização de hormônios, de forma terapêutica e temporária, para punir pedófilos. Uma das polêmicas desse projeto de lei, é sobre o Estado de São Paulo legislar sobre tal. Para o Deputado, o presente projeto não cria penas, tampouco condições adicionais para a concessão dos benefícios, notadamente matérias de competência da União, e que o estado autoriza a aplicação da pena. Isso, segundo o deputado, deveria ser autorizado pelo numero alarmante de casos de pedofilia que ocorrem no estado. (REPORTER DIÁRIO, 2018).

O projeto não foi aprovado por conter vícios formais e materiais. Em aspecto formal, não cabe a um estado criar leis para o Código Penal, sendo ele uma lei federal. No aspecto material, a Constituição Federal veda qualquer pena cruel e degradante, além de ferir a inviolabilidade física e moral dos presos.

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1.3 Projeto de lei referente a Castração Química: aspectos controversos do uso da droga depo-provera

A castração química não tem nenhuma relação com a retirada de algum órgão, consiste em uma forma temporária de privar o paciente a ter impulsos sexuais com usa de medicamentos hormonais, não sendo assim, uma castração propriamente dita, não se tem uma privação e sim, um tratamento para controle de impulsos. Esse termo então é mais jurídico do que médico. O homem, a principio, continua sendo uma pessoa fértil, mas pelo tratamento, pode ter dificuldades na ereção, assim, tendo dificuldades em ter relações sexuais (MARQUES, 2018).

De acordo com o Urologista e professor, Alex Meller,(2018) da Unifesp:

Existem dois tipos de drogas usados para o procedimento. Um deles simplesmente inibe a produção da testosterona. Já o outro remédio estimula altos níveis da produção hormonal: o corpo é enganado ao acreditar que há uma produção natural.

Segundo o médico, o método consiste em tentar bloquear a testosterona, diminuindo drasticamente o desejo sexual e até a ereção. Esses mesmos produtos, usados na castração química, também são usados no tratamento de câncer de próstata em estágio avançado. Os nomes dos medicamentos variam e as doses também. Podem ser orais ou injeções. Os pacientes precisam tomar doses diárias, semanais ou trimestrais. A droga pode ser comprada por 2 mil ou 3 mil reais por injeção, tornando um tratamento caro (MELLER, 2018).

Através de estudos, chegou-se a conclusão apontada por Érica Akie Hashimoto (2018), no site do JusBrasil:

A anomalia se dá pela quantidade de hormônios masculinos acima do normal. Desse modo, a castração química mais aceita atualmente é a inibição da produção da testosterona, que é feita com a introdução de Depo-Provera, uma versão sintética da progesterona (hormônio feminino pró-gestação). Todavia, este procedimento pode gerar efeitos colaterais como o desenvolvimento de diabetes, fadiga crônica, alterações na coagulação sanguínea e ocorrência de depressão.

Atualmente, o tratamento Hormonal Antiandrógeno (THA) é adotado em alguns países, no âmbito criminal, como no reino Unido, França, Bélgica, Alemanha

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entre outros. Em 2009, Polônia foi o único país a usar esse método nos acusados de forma forçada. Em vários países, a aplicação do THA consiste numa forma de redução da pena ou optativa pelo tratamento ou pena. Isso feito de formalmente, modo exigido pelas legislações dos países. O acusado expressa sua vontade, estando ciente dos efeitos colaterais que pode ocorrer (REGHELIN, 2017).

O tratamento médico através do Hormônio Luteiniante (LH), que é uma proteína reguladora da secreção de progesterona na mulher, que ajuda a controlar a ovulação, já em homens, é responsável pela produção de testosterona, o que inclui a aparição de características sexuais, como o desejo sexual. São dois principais tipos de hormônios proteicos envolvidos no controle de hormônios esteroides: estrógeno e andrógeno. Os dois são produzidos na mulher e em homens, mas em concentrações distintas e afetam o o desenvolvimento cerebral. Nas mulheres, é, muitas ve4zes, empregados nos tratamentos de câncer de mama e nos homens, de próstata. Mas pode interferir n vida diária de quem faz uso, e isso varia conforme o sexo da pessoa. (REGHELIN, 2017).

Ainda, para corroborar, Mara de Oliveira (2018), traz em artigo publicado no site do Conjur o seguinte:

A castração química é uma forma temporária de castração

ocasionada por medicamentos hormonais. A Depo-Provera,

uma progestina, é uma das drogas mais utilizadas com esta finalidade. “Depo-Provera” é um dos nomes comerciais do acetato de medroxiprogesterona, medicamento utilizado para controle de natalidade que, se administrado em injeções semanais em indivíduos do sexo masculino, inibe o apetite sexual. Sua ação reduz os níveis de testosterona nos homens, diminuindo os níveis de andrógenos no sangue, o que, ao menos em tese, reduziria as fantasias compulsivas sexuais de alguns tipos de agressores.

O tratamento com o acetato de medroxiprogesterona é uma resposta inserida no ordenamento jurídico de alguns países com vistas a reduzir as taxas de reincidência de alguns tipos de crimes sexuais, sobretudo nos casos de parafilia — padrão de comportamento sexual no qual, em regra, o desvio se encontra no objeto do desejo sexual, como, por exemplo, crianças — ou em casos em que os desejos biológicos são incontroláveis e expressos em forma de fantasias sexuais que normalmente só podem ser satisfeitas por meio de violência ou compulsão.

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É importante destacar que o medicamento só produz efeitos em homens, sendo em mulheres, não apresenta redução de desejo sexual na maioria dos casos. E que nos países onde se utiliza esse tratamento, a taxa de reincidência caiu de 70% pra 2% (OLIVEIRA, 2018).

Sobre os efeitos colaterais, pode se dizer que, a reversibilidade do método é duvidosa, não se sabe certo até onde a fertilidade do homem é afetada. Outros efeitos colaterais que podem ocasionar são aumento de peso, fadiga, trombose, hipertensão, leve depressão, entre outros, ainda há uns efeitos sendo investigados, como a gordura no fígado (OLIVEIRA, 2018).

Muitos psicólogos entende que o método não é eficaz pois, por um lado teremos uma pessoa com seus desejos sexuais reduzidos e por outro, mais agressivo, alertando que o tratamento não modificaria a personalidade da pessoa. Desta forma, a autora acredita que não deve fazer parte do ordenamento jurídico brasileiro a Castração Química como forma de punir o delinquente, entendendo ela, como sendo uma medida drástica, uma forma de vingança privada (OLIVEIRA, 2018).

1.4 A castração química e o Direito Comparado

Como já tratado anteriormente, a Castração Química pode ter tido inspiração em ordenamentos alienígenas, já que, vários países adotam penas bastante severas para acusados de crimes sexuais. Desta forma, é importante analisar o procedimento visto no cenário internacional.

Estados Unidos é lembrado por suas penas severas, como a pena perpétua e pena de morte. Nesse país, nos meados de 1935, era permitido a Castração Física (retirada dos testículos) de homens que tivessem cometido três delitos de “torpeza moral”, em 1942, essa pena foi banida pela Suprema Corte norte-americana, mas a esterilização psiquiátrica continuava (REGHLIN, 2017).

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Atualmente, oito países adotam leis que possuem Castração Química como pena. A Califórnia foi o primeiro a adotar a medida em 1996. Nesse país, exige-se do acusado consentimento formalizado, além de tudo, é necessário sua cooperação. Nesse estado, o método é visto como polêmico, parte dos autores alegam que ela é proibida pela Oitava Emenda Constitucional, para outros, trata-se de um tratamento necessário. No entanto, a Suprema Corte disse que, em conflito, prevalece a proteção à segurança pública (REGHLIN, 2017).

Na Califórnia, o juiz pode, já na primeira condenação, ordenar o acusado a se submeter ao tratamento, quando o crime ocorrer contra menor de 13 anos. O condenado pode escolher a cirurgia no lugar do tratamento. O tratamento deve começar pouco antes de sua liberdade e apenas especialista dirá se o tratamento teve resultados positivos. São submetidos ao tratamento aqueles que praticaram crimes sexuais graves, com violência ou grave ameaça. (REGHLIN, 2017).

Na Flórida, o juiz pode indicar o tratamento como a pena. Não substitui nem reduz outra pena imposta. Pode indicar o tratamento perpétuo. No primeiro crime da espécie é facultativo (para o magistrado indicar se deverá ou não se submeter ao tratamento), mas em caso de reincidência, se torna obrigatório.

Na Geórgia, a justiça pode exigir que o condenado contra crimes sexuais cometidos contra menores de 16 anos, seja submetido a uma avaliação psiquiátrica. Nesse caso, o tratamento pode ser imposto como condição de liberdade. Se preso, deverá se submeter ao tratamento antes da liberdade, se solto, deve ser recolhido sob custódia e fazer o tratamento. Já na Louisiana, o avaliação psiquiátrica é feita quando o crime é praticado contra menores de 12 anos. Após, a justiça irá analisar se haverá suspensão ou redução da pena. O tratamento deve iniciar seis semanas antes da liberdade do acusado, o próprio condenado é responsável pelas custas do psiquiatra, da avaliação que ele faz (plano) e do tratamento em sim. (REGHLIN, 2017).

Em Luisiana, o tratamento pode ser aplicado quando o crime ocorre entre adultos. Nesse caso, a castração química pode ser escolhida. Um exemplo para esse caso, seria do Sr. Francis Phillip Tullier, preso em 1997, com setenta e oito

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anos de idade e foi condenado a vinte e sete anos. Preferiu se submeter ao tratamento e viver os últimos anos de sua vida em liberdade. Ele foi condenado por molestar três meninas entre 6 e 12 anos de idade, por centenas de vezes (REGHLIN, 2017).

No Texas, os delinquentes sexuais poderá ser submetido a cirurgia, de castração física. Para isso ocorrer, devem ser reincidentes em crimes sexuais envolvendo menores de quatorze anos, ou ainda envolvidos em casos como tocar ou expor menores de dezesseis para obtenção de prazer sexual. A castração não deve servir para beneficiar o indivíduo. Porém, ela é voluntária desde 1997. Para fazer a cirurgia, o acusado deve ter no mínimo vinte e um anos, ter pelo menos duas condenações por crimes sexuais, ter frequentado dezoito meses de tratamento para agressores sexuais antes de realizar a cirurgia. O consentimento pode ser revogado a qualquer tempo, isso, porém, significa que a castração física não poderá mais ser realizada pelo Departamento. O psicólogo que avaliou a Castração Física do Texas, alega que a cirurgia diminui os níveis de testosterona, mas não garante que o modifique ou que os resultados são definitivos. Esse mesmo psicólogo disse que um agressor considerou a cirurgia como “tirar férias”, pelo menos assim, não ficava o tempo todo pensando em crianças. (REGHLIN, 2017).

Além dos estados citados, ainda nos Estados Unidos, existe a Castração química em Montana, estado de Oregon e em Wisconsin. E conforme alguns estudos realizados, com o procedimento cirúrgico, tem se demostrado uma redução na libido e também no reincidência dos crimes sexuais. Estudo alemão mostra que homens que se submeteram ao procedimento, 3% voltaram a praticar esse tipo de crimes, já entre os homens que não fizeram tratamento, foram 46%. No entanto, entende-se que após a cirurgia, ainda é necessário um acompanhamento psicológico e ter um monitoramento. Ainda assim, existe órgãos de proteção ás vítimas que são contras a liberdades desses indivíduos pois eles não podem ser reabilitados. Alegam que, mesmo que castrados, possuem mãos e cérebro, podendo conyinuar fazendo vítimas. (REGHLIN, 2017).

Para Elisangela Melo Reghlin, (2017) contexto europeu, todas as pesquisas realizadas apresentam baixos índices de reincidência nos casos em que foi realizado a castração física. Um dos trabalhos referente ao tem, publicado em 1997,

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que levou de 20 a 30 anos para ser realizado, aponta que o índice de reincidência antes da castração era de 84% caindo para 2,8% após a cirurgia.

A Alemanha adotou a castração física em seu ordenamento jurídico de forma voluntária e faz por ano, em de 10 a 12 procedimentos. Mas atualmente, a castração química vem sendo a opção preferencial Europa. Já foi solicitado pelo European Committee for the Prevention of Torture and Inhuman or Degrading Treatment or Punishmet, do Conselho europeu, que deixado de oferecer a Castração Física pois era considerada irreversível e mutilante. (REGHLIN, 2017).

Na Dinamarca, em 1929 era aplicada castração física em acusados com mais de 25 anos, cujos crimes foram praticados contra mulheres, crianças e jovens até 16 anos. Incluía alguns casos de incestos e excluía casos de homossexualidade e prostituição. Desde 1935, incluiu ainda tratamento psiquiátrico para casos que apresentam psicopatia.

Na Coréia do Sul, aplica-se a castração química desde 2011, quando a vítima do crime é menor de 16 anos e para aqueles acusados que apresentam alguma probabilidade de reincidência. Foi o primeiro país asiático a adotar o método. Em 2018 o tratamento era voluntário, mas com alguns casos que geraram revolta, a legislação do país foi modificando. em torno de 20% dos agressores sexuais são submetidos a castração. Também recebem tratamento de psiquiatra. Calcula-se que o país gasta em média, 4800 dólares norte-americanos com cada agressor para tratamento na área de drogas, mais valores para amenizar efeitos colaterais e tratamento psicológico. (REGHLIN, 2017).

Destarte, encerra-se este capítulo, enfatizando-se o Projeto de Lei nº 5398/13, comparando-o com outros países em que aplica a Castração Química como pena para crimes sexuais, e ainda um breve estudo sobre o método utilizado, para que possamos entender os motivos do método não ser aceita no nosso ordenamento jurídico, para realização da justiça efetiva.

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2. (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA CASTRAÇÃO QUÍMICA FRENTE AO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Deve ser observado que, o a Constituição é o alicerce para o Direito Penal, dela contidas os princípios que devem ser seguidos.

Há posicionamentos favoráveis e desfavoráveis à adoção da medida da castração química no ordenamento jurídico brasileiro. O primeiro grupo afirma ser uma medida segura e eficaz, que não existem conflitos com a atual lei, pois o tratamento seria de forma voluntária e cumpriria com o interesse social.

Já o segundo grupo, afirma que resolveria apenas parte do problema, que apenas afeta a libido dos criminosos e ignora outros fatores. Além disso, viola diversas normas do ordenamento jurídico. (FERREIRA; GODINHO, 2019).

Para Mara Elisa de Oliveira (2019), inicialmente, fere o princípio da proporcionalidade, assim como segue:

Este princípio pode ser entendido como o exame da adequação de determinado ato estatal ao seu fim, viabilizando-se o controle de sua razoabilidade, com fundamento no art. 5º, LV, da Carta Política; o exame da proporcionalidade é, em último caso, a própria fiscalização de constitucionalidade das prescrições normativas emanadas do Poder Público. Ressalte-se que também é papel do Poder Judiciário evitar que excessos prejudiquem a aplicação do direito, devendo pautar sua atuação pela ponderação, de forma racional, para que jamais sejam os sujeitos privados de direitos que lhes são inerentes.

Esse princípio, que também é tratado como razoabilidade, denominado como proibição de excessos, e quando se há um conflito entre um princípio e a solução de um caso concreto, desta forma, é considerado uma dimensão do princípio da Dignidade da Pessoa Humana. (CARDOSO, 2019)

Em artigo publicado no jus.com o autor, Rafael Bezerra Cardoso (2019), cita Glauco Barreira Magalhães Filho, que descreve:

O relacionamento dialético entre os meios e os fins: "Os meios são os modos possíveis de sopesar princípios e valores, objetivando-se encontrar

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uma solução para o caso concreto. Os fins são aqueles que são próprios a um Estado democrático de Direito. A relação entre meios e fins não será puramente pragmática, mas haverá uma dialeticiade entre meios e fins, porquanto a dignidade da pessoa humana que se encontra no fim estabelecerá um limite deontológico ao meio.

O princípio da proporcionalidade é necessário para que o poder judiciário não cometa excessos e não prejudiquem a aplicação da lei no caso concreto. Que ele atue com ponderação, racionalidade sem retirar direitos das pessoas acusadas.

Nessa linha, Pedro Henrique Santana Pereira (2019), faz referencia ao autor Alexandre de Morais em seu artigo publicado no site jus.com:

Para que o Estado, em sua atividade, atenda aos interesses da maioria, respeitando os direitos individuais fundamentais, se faz necessário não só a existência de normas para pautar essa atividade e que, em certos casos, nem mesmo a vontade de uma maioria pode derrogar (Estado de Direito), como também há de se reconhecer e lançar mão de um princípio regulativo para se ponderar até que ponto se vai dar preferência ao todo ou às partes (Princípio da Proporcionalidade), o que também não pode ir além de um certo limite, para não retirar o mínimo necessário a uma existência humana digna.

A partir do momento que o Poder Publico pretende efetivar uma pena superior à atitude do delinquente, o princípio da proporcionalidade é intimamente violado, e Punir o agressor com a Castração Química é puni-lo duas vezes, pois exige o tratamento para que ele possa ser beneficiado (PEREIRA, 2019).

Outro princípio que a castração química afronta é da vedação de penas cruéis e tratamento degradante, previsto no artigo 5º da Constituição Federal em dois incisos: vedação à prática de tortura e tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III); e a proibição de penas cruéis (art. 5º, XLVII, alínea e). (BRASIL, 2019)

Para Pereira (2019) “A castração química trata de pena degradante, que nos conformes do Aurélio (2004) priva de dignidades, torna vil, estraga, deteriora aquele que é submetido a ela”. É cruel porque é desumana e traz prejuízo á pessoa.

O Pacto San José da Costa Rica de 1969, ratificado pelo Brasil no ano de 1992, consagra esse direito internacionalmente, vedando qualquer aplicação de

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penas cruéis e aplicação de tortura, desumanas e degradantes, sendo garantido o respeito devido a pessoa humana. (CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS - PACTO SAN JOSÉ DA COSTA RICA, 1969).

A privacidade da pessoa é brutalmente atingida, e qualquer pena que atinja o corpo humano é cruel. Inexistem dúvidas do efeito colateral da aplicação de tal medida e esta se prolongará no tempo. Portanto, vedada constitucionalmente. Dessa forma, os projetos de lei referentes a castração química não são aceitáveis pois são inconstitucionais. (PEREIRA, 2019).

Num país que se vive a Democracia, não pode haver um retrocesso, com o retorno do Estado de Execução. O STF é conhecido por sempre afastar a possibilidade de aplicação de penas cruéis, e certamente fará o mesmo se tratando da castração química. (PEREIRA, 2019).

De acordo com a deputada do Rio de Janeiro, Laura Carneiro (2019), castração química aplicada em acusados de crimes sexuais é pena cruel e é prevista por Cláusula Pétrea, não se pode mudar então não se pode votar. Acrescenta ainda: “De acordo com todos os pareceres que foram dados ao longo desses anos pela própria Casa, portanto essa matéria nunca será aprovada porque sempre terá o mesmo parecer”.

Por último, mas não menos importante, o principio da dignidade da pessoa humana visa cada um o mínimo de suprimento para as necessidades básicas. Além de previsto Constitucionalmente, é manifestado no STF como exemplo do Ministro Celso de Mello no Agravo de Instrumento 677274:

NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO, EM FAVOR DOS INDIVÍDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NÚCLEO CONSUBSTANCIADOR DO ‘MÍNIMO EXISTENCIAL’. VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAÇÃO DAS LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAÇÃO). Salientei, então, em tal decisão, que o Supremo Tribunal Federal, considerada a dimensão política da jurisdição constitucional outorgada a esta Corte, não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tornar efetivos os direitos econômicos, sociais e culturais, que se identificam – enquanto direitos de segunda geração (como o direito à educação, p. ex.) – com as liberdades

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positivas, reais ou concretas (RTJ 164/158-161, Rel. Min. CELSO DE MELLO). É que, se assim não for, restarão comprometidas a integridade e a eficácia da própria Constituição, por efeito de violação negativa do estatuto constitucional motivada por inaceitável inércia governamental no adimplemento de prestações positivas impostas ao Poder Público, consoante já advertiu, em tema de inconstitucionalidade por omissão, por mais de uma vez (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO), o Supremo Tribunal Federal. (Inf. 520 STF). (BRASIL, 2019)

A preservação do mínimo necessário não deve ser retirada de nenhuma pessoa, tampouco de pessoa envolvida em algum crime, tanto que está contida na Carta Magna: “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Por isso, não há possibilidade de explorar o direito dos criminosos. (PEREIRA, 2019).

2.1 A castração química e o princípio da dignidade da pessoa humana

Por inibir o apetite sexual compulsivo de criminosos, a castração química é vista, para alguns, como medida benéfica, podendo punir os agressores e de forma eficaz, prevenir outros crimes sexuais. No entanto, dos maiores argumentos apresentados contra o é que essa medida afronta o texto da Constituição Federal de 1988 pois fere o princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

Sabe-se que em todos os ramos do Direito há conflitos e divergência e esses precisam ser harmonizados. mas é no Direito Penal que se dão as discussões mais tensas, pois sua função é proteger bens considerados essenciais, como a vida, por exemplo.

Nessa linha, Alexandre Magno Fernandes Moreira Aguiar (2019), harmonizar é o um desafio para o legislador e para quem interpreta as normas jurídicas. A Constituição deixou claro os crimes hediondos, da mesma forma que proibiu vertas penas. Então, deve se analisar se Castração Química para crimes sexuais é admissível dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Segue o autor:

Primeiramente, a castração física deve ser rejeitada de pronto pelo motivo já colocado: trata-se de uma intervenção permanente no corpo da pessoa, o que é inviabilizado pela vedação constitucional das penas de caráter perpétuo. Aliás, só recentemente, a jurisprudência passou a admitir a castração voluntária realizada nas cirurgias de mudança de sexo.

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O princípio da Dignidade da Pessoa Humana aflorou após a segunda guerra mundial, que até então, as pessoas eram consideradas descartáveis e abatidas iguais animais na Alemanha. O mundo, horrorizado com os acontecimentos da época, decidiu crias as Nações Unidas, cuja declarações falavam em Dignidade Humana, indispensável para o homem. (FERREIRA; GODINHO, 2019).

Segundo José Afondo da Silva (1998), só o ser humano é racional, sem qualquer distinção. Assim, fonte de imputação de valores. Todo ser humana reproduz no outro, reflexo de sua espiritualidade, sendo assim, se desconsiderarmos uma pessoa, desconsideramos a nós mesmo. Ela é o centro da imputação jurídica e o Direito existe para o seu desenvolvimento.

Dignidade da Pessoa Humana é um conceito abrangente e sua conceituação difícil. Analisando diversos conceitos trazidos por vários autores, pode-se dizer que a dignidade da pessoa humana concede unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo inerentes a pessoa humana. É um valor espiritual e moral inerente a pessoa humana e traz consigo a pretensão ao respeito das demais pessoas, assim, o ordenamento jurídico pode, apenas excepcionalmente intervir nos seus direitos, mas nunca menosprezando qualquer ser humano. (MORAIS, 2019).

Tudo tem preço ou dignidade. O que tem preço pode ser substituído por qualquer outra coisa equivalente, e a dignidade está acima de qualquer preço. Ve-assim, a dignidade um atributo intrínseco da essência da pessoa humana, que não admite substituição e se confunde com a própria natureza do ser humano. (DA SILVA, 1998).

A dignidade da pessoa humana não é uma criação da Constituição Federal, mas a reconheceu e transformou-a num supremo da ordem jurídica declarando-a como valores fundamentais. Não é um princípio apenas de ordem jurídica, é também de ordem social, política, social, econômica e cultural. (SILVA, 1998).

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A dignidade da pessoa humana constitui um valor que atrai a realização dos direitos fundamentais do homem, em todas as suas dimensões, e, como a democracia é um regime político capaz de propiciar a efetividade desses direitos, o que significa dignificar o homem, é ela que revela como o seu valor supremo, o valor que dimensiona e humaniza. (SILVA, 1998).

Ingo Wolfgang Sarlet (2001, p.60) bem define a dignidade da pessoa humana:

Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos.

Para a autora citada, mesmo que o tratamento seja voluntário, não é proporcional, sendo essa medida bastante drástica e punindo de forma mais severa do que outros acusados por crimes piores.

Além disso, a Castração Química fere o principio da dignidade da pessoa humana, princípio esse que, visa garantir que a pessoa tenha o mínimo para suprimento de suas necessidades básicas e vitais. Cada pessoa deve ser considerada e tratada como um fim em si mesmo e não para obtenção de vantagem ou resultado para outrem. A dignidade da pessoa humana impede a exploração do homem por outro homem. (OLIVEIRA, 2019).

Ainda, a autora segue nesse sentido:

Desta forma, sendo a dignidade algo intrínseco à condição de ser humano, toda conduta que prevê sua violação deve ser totalmente rechaçada, por retirar do indivíduo algo que os demais, não sendo acometidos por qualquer tipo de enfermidade, têm como característica, que é a própria libido e a capacidade reprodutiva. Por essa razão, a castração química em criminosos no Brasil também desrespeitaria frontalmente a dignidade humana, retirando do condenado seu direito à vida nos conformes do enunciado pela Carta Magna, isto é, em sua plenitude. (OLIVEIRA, 2019). Finaliza afirmando que, a Castração Química também fere dois direitos fundamentais, que são: a prática de tortura e a tratamento desumano e degradante art 5º, III) e a proibição de penas cruéis art 5ºXLVII). Tal medida é atingida de forma

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profunda, interferindo na integridade física da pessoa. E, segundo a doutrina majoritária, qualquer pena que atinja o corpo humano é cruel, portanto, afronta a carta Magna. (OLIVEIRA, 2019).

Ainda, para corroborar, Alexandre Magno Fernandes Moreira Aguiar (2019), em artigo publicado:

A privacidade do condenado é brutalmente atingida, pela interferência em sua integridade física. Além disso, a maior parte da doutrina nacional considera que qualquer pena que atinja o corpo do condenado é cruel e, portanto, vedada constitucionalmente. De modo mais explícito, o art. 5°, XLIX, dispõe que "é assegurado aos presos o respeito à integridade física e mental". Portanto, a castração, física ou química, é inaceitável como pena em nosso ordenamento jurídico, e os projetos de lei nesse sentido são flagrantemente inconstitucionais. A esse respeito, vide a contundente crítica de Spalding à lei da Flórida que prevê essa pena. Apesar de se referir ao ordenamento jurídico norte-americano, suas conclusões aplicam-se perfeitamente à situação brasileira.

Pela Constituição Federal, é assegurado aos presos o respeito a integridade física e moral. Então, mesmo que a Castração Química não resulte em dor, se tem a degradação moral pois também tem o objetivo de humilhar. Desta forma, não há possibilidade de adotar essa medida para punir o infrator penal, mesmo que seja de forma voluntária.

Carmem Lucia Antunes Rocha (2014) referiu-se ao Art 1º da Declaração dos Direitos humanos festejando o dispositivo que decreta a igualdade entre as pessoas referindo-se que todos são igual, mesmo cada um tendo alguma diferença, que todos tem medo, esperança, mas cada um vive do seu jeito e lida com seus problemas do seu modo.

Como já vimos anteriormente, a Castração Química interfere na vida sexual do paciente que faz o tratamento, e para os que defendem a inconstitucionalidade, privar o indivíduo de ter uma vida sexual ativa, se reproduzir é intervir e impor limites na sua vida privada, limitando direitos de conduzir a vida, violando assim, a dignidade da pessoa humana.

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2.2 Os direitos humanos como garantia da integridade dos indivíduos

Atualmente, quando pensamos em Direitos Humanos ligamos essa expressão imediatamente a tratados internacionais. Contudo, se profundarmos os estudos, percebemos que esses Direitos são inerentes aos homens independentemente de previsão legal por serem elementos essenciais ao homem e sua dignidade. (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 54).

Os direitos inerentes ao homem, antes mesmo de serem firmados em contrato, já existiam, as pessoas tinham a consciência deles. Por esse motivo,

pode-se dizer que os direitos tem um caráter jusnaturalista, que está baseado no bom

senso, sendo este pautado nos princípios da moral, ética, equidade entre todos os indivíduos e liberdade. No entanto, não deixa de possuir um caráter contratual, já que, visa o reconhecimento e proteção desses direitos de internacional e regional. (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 54).

Pode se dizer assim que os Direitos Humanos se fixam em duplo estandarte e há uma forte relação deles com o direito natural. Dessa forma, conceituam Bruna Penotti Garcia de Oliveira e Rafael de Lazari (2018, p.55):

Como consequência desta dupla influência, um conceito preliminar de direitos humanos pode ser estabelecido: direitos humanos são aqueles inerentes ao homem enquanto condição para sua dignidade, e que usualmente são descritos em documentos internacionais para que sejam mais seguramente garantidos. Ainda, não se pode perder de vista a essência da finalidade dos direitos humanos, que é a proteção da dignidade da pessoa humana, resguardando seus atributos mais fundamentais. A conquista de direitos da pessoa humana é, na verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana.

Cada pais tem sua própria legislação: seu sistema de organização, regras procedimentais, entre outras. No entanto, as leis que tratam sobre Direitos humanos

são consideradas supranacionais, que diz respeito ao poder que está acima do

governo de cada país. Essas leis ficam acima do ordenamento interno. Isso porque esses direitos são resultantes de evolução histórica, conflitos bélicos, acordos econômicos, entendimentos de paz, dentro outros. (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 55).

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Com essa explanação, podemos entender a diferença de Direitos humanos e Direitos Fundamentais. Ambos visam a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana, então, materialmente falando, não há diferenças. Há distinção entre eles em relação ao plano que eles são consagrados. “Assim, para quem entende haver distinção, os “direitos humanos” são os consagrados no plano internacional, enquanto os “direitos fundamentais” são os consagrados no plano interno, notadamente nas Constituições” (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 56).

Para corroborar, Mabel Cristiane Morais 2019), publicou artigo referente a A proteção dos direitos humanos e sua interação diante do princípio da dignidade da pessoa humana, esclarecendo o próprio conceito de democracia é indissociável, do conceito de direitos humanos pois não há uma constituição democrática sem pensar na existência de indivíduos detentores de tais direitos.

Ainda, sobre Em relação ao significado e ao conteúdo do princípio da dignidade da pessoa humana nos traz que:

Há que se dizer que não parece ser possível traçar uma definição clara e absoluta do que seja efetivamente esta dignidade, pois trata-se de conceito de contornos vagos e imprecisos. Ainda assim, sabe-se que a dignidade é algo real, facilmente identificada em situações em que sofre agressão. Neste contexto, atenta-se para a circunstância de que o princípio da dignidade da pessoa humana constitui uma categoria axiológica aberta, que abriga uma diversidade de valores presentes nas sociedades democráticas contemporâneas. Salienta-se que a dignidade, como qualidade inerente à pessoa humana, é algo que simplesmente existe, sendo irrenunciável e inalienável, na medida em que constitui elemento que qualifica o ser humano e dele não pode ser retirado. Trata-se de valor próprio, da natureza do ser humano, que independe das circunstâncias concretas e que é intrínseca a toda e qualquer pessoa humana, independente de sua condição. Tal entendimento está em consonância com o artigo 1º da Declaração Universal da ONU, uma vez que esta reconhece a dignidade como inerente a todos os membros da família humana e como fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. (MORAIS, 2019).

A abordagem teórica sobre direitos humanos apresenta problemas e contradições em suas definições. De três aparentes, a primeira refere-se a ele sendo um aspecto natural, próprio dos seres humanos ou aspecto consensual, criado através de políticas e legislação dos estados. A segunda se há um valor abstrato

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nesse princípio ou se existe algo mais concreto para as pessoas. E por último, se é absoluto e universal ou depende dos contextos históricos, povo e cultura. Com isso, é possível uma reconstrução conceitual de três tensões em torno do conceito: sobre seu caráter natural ou artificial, abstrato ou concreto e a tensão de seu caráter universal ou partícula. (MONSALVE; ROMÁN, 2019).

Referente a tensão de entre caráter natural consensual da dignidade humana, sobre seu aspecto, os autores Viviana Bohórquez Monsalve; Javier Aguirre Román (2019) concluem o seguinte:

A primeira dessas tensões se refere à ideia, enunciada em diversos documentos do âmbito internacional dos direitos humanos e das constituições modernas, de que a dignidade é uma característica "natural" com a qual nascem todos os seres humanos. Assim, todo ser humano, pelo simples fato de sê-lo, está naturalmente dotado de um atributo chamado "dignidade", assim como se encontra dotado de razão. Dessa maneira, a dignidade aparece como o elemento definidor da ideia de natureza humana, a qual, em princípio, caracterizaria essencialmente todo ser que faça parte da espécie humana, sem importar traços acidentais, tais como seu lugar de nascimento, sua origem étnica, sua posição social, seu gênero etc. Dessa perspectiva, é a natureza mesma, ou Deus, que confere a todo indivíduo pertencente à espécie humana esse atributo essencial chamado "dignidade" (SOULEN; WOODHEAD, 2006, p. 8). Atributo que, portanto, estaria presente nele desde o momento mesmo da concepção. Daí que, ao indivíduo, por um lado, não lhe resta outro remédio senão aceitar tal atributo, pois pertence a seu ser de uma forma muito mais intensa do que suas pernas, seus braços etc.; e, por outro lado, a seus demais congêneres e ao Estado tampouco restaria outra opção senão reconhecer sua dignidade, pois não são eles que a conferem.

Os Direitos humanos são considerados algo natural do ser humano, essencial a eles. E mesmo que em debates e reunião se defenda esses direitos, fora delas ainda se tem muito para discutir. Mas, também usado de “base” ou então de “fundamento” para leis, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essas leis são necessárias para garantir os direitos e manter um bom convívio entre as pessoas. Essa relação do natural com o consensual está intimamente ligada com o jusnaturalismo e juspositivismo. (MONDALVE; ROMÁN , 2019).

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se refere ao grau de abstração ou, ao contrário, de concreção que possui a ideia de dignidade humana. Em princípio, desde o projeto da Ilustração liderado pela filosofia prática kantiana, a dignidade humana foi concebida como um imperativo geral segundo o qual cada ser humano é um fim em si mesmo que, por conseguinte, não pode ser instrumentalizado para nenhum outro fim. Isso se traduz em uma máxima moral segundo a qual cada ser humano racional deve tratar a si e a todos os seres humanos que compartilham tal "atributo" como um fim em si mesmo e nunca como um meio. Kant, como é sabido, pretendeu desenvolver uma alternativa às éticas utilitaristas, baseada na ideia de que todo ser humano se encontra dotado de uma habilidade "autolegisladora" em virtude de sua liberdade inata, assim como de sua racionalidade e de certo sentido de dever para com toda a humanidade. Desse modo, para Kant, todo ser humano que possui razão e liberdade para seguir os imperativos morais está dotado, por isso mesmo, de uma dignidade humana universal (MONDALVE; ROMÁN, 2019).

Desta forma, a ideia de abstrato pode entrar em contradição quando a ideia é trazida para um caso concreto, na vida social e política, em certos trabalhos e certo nível educativo, por exemplo. Além de aceitar uma noção de “abstrato”, ela esta relacionada com alguns aspectos concretos na vida das pessoas. como liberdade de escolher uma profissão e receber uma remuneração justa por ela, gozo dos direitos, poder usufruir de seus bens, sendo assim, podendo ter “bem viver”. Tudo isso não poderia ser apenas definido em abstrato. (MONSALVE; ROMÁN, 2019).

No terceiro caso, na tensão entre caráter universal e caráter particular, o primeiro polo se baseia na Dignidade da Pessoa humana sendo um valor absoluto e universal. Esse seria aplicado em qualquer tempo e para todos os seres humanos, sem exceção.

Mas essa ideia muda conforme conhecemos povos e culturas muito diferentes das nossas. Em cada lugar, as pessoas possuem suas próprias concepções. Cada um com uma ideia de justo, com base em seus constumes e sua fé.

Nesse sentido, complementam os autores Viviana Bohórquez Monsalve; Javier Aguirre Román (2019):

É por isso que o polo oposto dessa terceira tensão, a saber, o caráter particular da dignidade, refere-se ao fato de que, mais do que uma "dignidade humana", o que realmente existe é uma multiplicidade de ideias de várias dignidades, cada uma predicada concretamente de

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