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Mẽ kãm pa aprente kãm: alternância de código em Parkatêjê

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Academic year: 2021

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ME KÃM PA APRENTE KÃM: ALTERNÂNCIA DE

CÓDIGO EM PARKATÊJÊ

Marília de Nazaré Ferreira-Silva Universidade Federal do Pará

mariliaferreira1@gmail.com

Cinthia de Lima Neves Universidade Federal do Pará

cinthianeves@gmail.com

Abstract: This paper describes occurrences of code switching in the speech of bilingual individuals from the indigenous community Parkatêjê – a language from Macro-Jê stock, Jê family. Parkatêjê language is spoken by 9% of the 400 people who live in two villages located in the southeast of Pará state, Brazil. The data used in this study are oral traditional narratives of Parkatêjê people, collected by the authors in 2008 and 2009. In these texts there are various occurrences of inter sentential switching and intra sentential switching. The linguistic phenomenon of code switching is typical of language contact situations and involves the use of two or more linguistic systems by a speaker in the same speech or in different parts of the same conversation.

Keywords: Parkatêjê, code switching, language contact.

1. Introdução

A língua Parkatêjê é falada por uma comunidade indígena que se de-nomina do mesmo modo e que está localizada no sudeste do estado do Pará, no município de Bom Jesus do Tocantins. Trata-se de uma língua considera-da parte do Complexo Dialetal Timbira, de acordo com Rodrigues (1999), da família Jê, agrupamento Macro-Jê, que partilha características tipológicas semelhantes às de outras línguas de mesma afiliação genética, entre as quais aquelas de cunho (i) fonético-fonológico em que as vogais centrais são nu-merosas; (ii) morfológico – a flexão que indica contiguidade ou não de um

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determinante a um determinado; (iii) sintático – a ordem constituinte SOV em orações declarativas.

Até 2000, partilhavam a mesma aldeia dois grupos de remanescentes de povos timbira que viveram na região do sudeste do estado do Pará. Toda-via o povo composto de dois grupos que habitava a T.I. Mãe Maria se dividiu, permanecendo ali aqueles que se denominam Parkatêjê. Na aldeia do km 25 – como eles próprios costumam falar – estão aqueles que agora se denomi-nam Kyjkatêjê. Embora esses povos façam questão de apresentar-se inclusive e principalmente da perspectiva linguística como distintos, posso afirmar que as línguas apresentam muita semelhança estrutural, podendo ser considera-das dialetos de uma mesma língua.

A intensiva situação de contato entre Parkatêjê e a língua portuguesa, já observada por Ferreira (2005) e Araújo (2008), tem resultado em uma situação de atrito linguístico crescente, cuja consequência mais dramática é a atual situação de obsolescência vivida pela língua Parkatêjê. De acordo com Aikhenvald (2002: 7), os resultados do contato entre línguas são geralmente mensurados em termos de ‘perda’ (deterioração, empobrecimento e simplifi-cação) ou de ‘ganho’, ou seja, enriquecimento. Dentre os muitos fenômenos ligados a tal situação de contato entre línguas está a mistura de línguas e a ocorrência da alternância de código (ou code-switching) entre os falantes que têm a língua Parkatêjê como primeira língua e a língua portuguesa como segunda, isto é, falantes bilíngues.

De acordo com Hymes (1967), o indivíduo bilíngue, por meio de sua competência comunicativa, pode selecionar os códigos gramaticalmente cor-retos incluindo a seleção das formas adequadas para refletir as normas so-ciais de conduta em dadas situações.

A literatura especializada da área de sociolinguística atesta que alternância de código é um dos processos decorrentes do contato de línguas, que inclui empréstimos (tanto em nível sintático quanto lexical), atrito linguístico e morte de um dos sistemas. Poplack (2004) define alternância como a justaposição integrada de línguas, em qualquer lugar no nível da estrutura sintática sem necessariamente haver mudança de interlocutor ou tópico.

Essa justaposição, que pode envolver uma palavra, uma frase ou uma sentença, é um dos processos encontrados na fala de indivíduos bilíngues da Comunidade Indígena Parkatêjê, quando estão em interação utilizando a lín-gua indígena, ou a línlín-gua portuguesa.

Segundo Araújo (2008) esse povo sofreu interferências que aumenta-ram com o contato com o não-índio. A autora afirma que tais interferências

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(...) necessariamente, impuseram a presença sempre maior da língua portuguesa, depreciando o uso da língua tradicional per-cebida como insuficiente para os novos relacionamentos que se estabeleciam.

A observação de Araújo está em conformidade com o que afirmam Thomason e Kaufman (1988: 37) de que a história sociolinguística de um povo, dos falantes de uma língua, é o primeiro determinante do surgimento linguístico da situação de contato de línguas. A língua parkatêjê vem apre-sentando, ao longo do período de contato intensivo com o português, mu-dança em sua estrutura, tais como, a simplificação do uso de verbos especializados para o ato de ‘comer’ (cf. Ferreira 2005). Essa língua apresen-ta várias raízes lexicais que indicam o ato de comer especificamente determi-nados alimentos. Por exemplo, o verbo kãmxár é comer alimentos como coco, castanhas, entre outros. Ou seja, kãmxár refere-se à ação de comer trituran-do. Com o contato, os falantes da língua indígena apresentam a tendência de utilizar apenas uma raiz verbal em todos os contextos para os quais havia uma raiz específica em sua língua.

Um outro aspecto frequentemente observado no uso da língua nativa são as manifestações do fenômeno alternância de código. A alternância de código pode ocorrer no momento em que há mudança de uma língua para outra, considerando-se a função que cada língua assume para o comporta-mento de cada indivíduo bilíngue bem como o grau da competência que esses indivíduos têm de ambas as línguas. A ocorrência da alternância então pode estar associada ao tópico que estiver sendo falado, à pessoa a quem o falante se dirige e à tensão da situação de fala.

Durante as coletas de histórias orais tradicionais entre os anos de 2008 e 2009, Ferreira-Silva e Neves verificaram grande incidência de mescla de língua portuguesa durante a narração desses textos por seus auxiliares de pesquisa. Tal comportamento linguístico também foi observado durante reu-niões do chefe com membros mais velhos da comunidade no mesmo período. Neste artigo, descreveremos a alternância de código manifestada quando do uso da língua parkatêjê em situações como a narração de histórias orais tra-dicionais e as reuniões de homens na aldeia.

2. Alternância de código: definição e ocorrência em Parkatêjê

O fenômeno alternância de código é entendido aqui como qualquer mudança de uma língua para outra sem haver mudança de tópico ou falante, dentro de uma única sentença ou entre sentenças. Para Grosjean (1982: 299), ocorre uma “influência involuntária de uma língua para outra”. Ele afirma

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que um falante bilíngue, quando fala a um monolíngue, faz uso da alternância de código e dos empréstimos a fim de se comunicar.

Bastante frequente em comunidades bilíngues, a alternância de código pode ser compreendida também como o uso de dois sistemas gramaticais de línguas lado a lado, ou sub-sistemas gramaticais em um mesmo ato de fala de indivíduos bilíngues. Assim a alternância é possível tanto entre distintas vari-edades de uma língua quanto entre línguas diferentes. Fatores externos ou sociais e fatores internos ou linguísticos afetam a ocorrência da alternância de código.

Os fatores externos estão relacionados ao falante, ao tópico da conver-sação e à identificação étnica do indivíduo. Já os fatores internos ou linguísticos não são tão facilmente distintos. Em geral, os estudos sobre a alternância de códigos apontam para um plano linguístico de regras gramaticais e para ou-tro sócio-pragmático, que tem como base o estudo interacional de Gumperz (1982), por meio do qual se interpreta a alternância de código como uma estratégia discursiva na interação de falantes multilíngues. Este estudioso in-clui aí o uso de interjeições e de expressões retóricas.

Tomando-se a alternância de código em seu plano linguístico de con-dicionamentos gramaticais, Romaine (1995: 122), distingue três tipos de alternância, definidos por Poplack (1980), segundo o modelo variacionista, como tag-switching, alternância inter-sentencial e alternância intrassentencial. O primeiro consiste na inserção de um tag, uma marca discursiva (como “no way” ou “I know” em língua inglesa), em uma sentença que está em outro código. Ou seja, o uso de expressões idiomáticas ou retóricas de uma língua, introduzidas em outra em manifestações comunicativas bilíngues. Já o uso de duas ou mais sentenças em línguas distintas é o que caracteriza a alternância inter-sentencial – como em casos nos quais frases são iniciadas em uma língua e terminadas em outra. O outro tipo é a alternância intrassentencial que pode ocorrer no meio de frases ou em partes de frases, o que reclama uma maior competência linguística do falante.

Nas narrativas Parkatêjê utilizadas como corpus deste trabalho foram encontradas as três instâncias de alternância definidos por Poplack, as quais se encontram esquematizadas abaixo com os respectivos exemplos.

2.1 Tag-switching

O tag-switching é a primeira categoria de alternância apresentada por Poplack (op.cit.). Neste tipo de alternância o falante produz um enunciado em determinada língua, inserindo tags de outra – marcadores discursivos, que podem ser interjeições ou expressões idiomáticas. Segundo Oliveira (2006: 33),

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“como os tags estão sujeitos a restrições sintáticas mínimas, eles podem ser inseridos em diversas posições num enunciado monolíngue sem violar regras sintáticas; portanto este tipo de alternância pode ser produzido mesmo quando o falante possui conhecimento limitado da língua estrangeira”.

Este tipo de alternância ocorre com frequência na fala dos auxiliares de pesquisa das narrativas selecionadas; como mostram os exemplos abaixo. O falante insere a marca discursiva “aí” em várias partes de seu discurso:

(1) Aí... Aiku me aiku kôt kre nã aite kume hõkre Aí... Eu escutava e depois cantava sozinho eu mesmo

(2) Aí fica...jyn aiku kô pupun ne aiku kaprire jyn Aí fica...sentado olhando a água, sentado triste

(3) Aí...wa pupun wa tapa neme wa tapa tojapakti

Aí...eu vi eu estava saudoso porque eu saudoso lembrava

2.2 Alternância intersentencial

A alternância intersentencial se dá no nível do período, no qual co-ocorrem sentenças dos códigos envolvidos. Neste tipo de alternância há uma demanda maior de domínio da segunda língua por parte do falante, já que este deve se adequar às regras das duas gramáticas.

No corpus analisado da língua parkatêjê, foram encontrados os seguintes casos em que se observa a ocorrência de orações das duas línguas:

(3) miti tore a-krãjapap ateti... Aí, ele corria atrás...

Jacaré (me) atravessou, tua nuca é enrugada... Aí, ele corria atrás...

(4) amji kapi puro... Aí, correu, caiu n’água... Tava deitado na água até quando a... pê

Agora tu aprendeste! Aí, correu, caiu n’água... Tava deitado na água até quando a...

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(5) Amji kapi karyri nã pia hõ pepia apiri apu nawy... Jê, quero também... quero também... fazer índio.

Dizem que ela continuou pedindo de novo: Jê, quero também... quero também... fazer índio.

2.3 Alternância intrassentencial

Este tipo ocorre no interior de uma sentença, razão pela qual apresenta maior demanda de competência do falante em ambas as línguas. Assim como as duas categorias apresentadas acima, este tipo foi encontrado no corpus analisado:

(6) Ijõkre assim ju mu jakre inõre pa wa pê pa aprender

Minha cantiga assim, ninguém me ensinou, eu sozinho aprender

(7) Me pê mekwârâ é o memo mejõkrepoj nã kre

As cantigas do Mekwârâ são as mesmas do Mejõkrepoj

(8) kupe têkiê, mã mej têkiê mpa aiku me respeitar só me ikra ô comu hõkitare...

As coisas do não-índio e as nossas coisas nós respeitamos só nossos filhos ô como as coisas deles...

3. Motivações para a alternância de código segundo Grosjean

Grosjean (1982: 152) propôs algumas razões pelas quais os falantes alternam entre os códigos. Entre essas estão: (1) o preenchimento de uma necessidade linguística por um item lexical, sintagma, marcador discursivo ou substitutivo de sentença como é o caso da expressão também em portu-guês (Ex.:1. Eu vou dormir. 2. Eu também.); (2) a continuação do uso da última língua utilizada; (3) a citação de alguém; (3) a especificação do inter-locutor; (4) a qualificação da mensagem no sentido de amplifica-la ou enfatizá-la; (5) o destaque ou a ênfase à identidade do grupo (solidariedade); (6) a transmissão de confidencialidade, raiva ou irritação; (7) a exclusão de al-guém da conversação; (8) a troca do papel do falante: aumentando-lhe o status, adicionando-lhe autoridade etc.

Segundo Romaine (1995: 143) o processo de alternância pode ocor-rer entre falantes bilíngues quando estes não lembram, em uma das línguas, o

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termo que desejam utilizar. Grosjean (op.cit.) afirma que a razão de ocorrên-cias como estas são originadas da carência de um item lexical, sintagma, marcador discursivo ou elemento substitutivo de sentença, ou seja, de preen-cher uma lacuna, uma necessidade linguística. Isto pode ocorrer também quando não são encontradas palavras, ou expressões, na língua que está em operação, por desconhecimento do falante ou inexistência no sistema linguístico.

Em Parkatêjê, por exemplo, quando coletamos sentenças como

(9) Me jõ lei itan nari Nossa lei é esta.

A língua Parkatêjê dispõe de uma palavra para o termo “lei”; mas nas narrativas é utilizado o termo pertencente ao português, integrado morfologicamente à língua-base. O que o falante faz, portanto, é relacionar determinados tópicos a uma língua específica; neste caso, “lei” no seu senti-do literal é relacionada ao português.

Já as sentenças (10) e (11) apresentam palavras que não existem em parkatêjê – bola e dança; o que justificaria o uso dos termos em outra língua. A palavra dança neste exemplo faz referência a danças inexistentes na cultura indígena como, por exemplo, o brega, o techno e o forró.

(10)a bola (pronúncia [br]) kupe têkiê a bola pertence ao não-índio

(11)É…a dança (pronúncia [nãs]) kupe têkiê” É... a dança é coisa do não-índio

Outra razão exposta por Grosjean (1982) para a alternância é a conti-nuação do uso da última língua utilizada, ou seja, um termo enunciado em uma língua B, em discurso que está sendo produzido em A, conduz a enunciação ao uso de B, língua da última palavra usada. Nos trechos parkatêjê foram encontrados os seguintes exemplos:

(12)Pyt nã kate... Pariu... Com força... Aí quebrou... Matou criança... Aí, por isso a mulher perde criança... Aí ele xingou... Nkryk ??? Nã kaka. Aí ele não fez casal não. Só Pyt que to ne nã...

O Sol bateu... pariu... com força... Aí quebrou...Matou criança...Aí, por isso a mulher perde criança...Aí ele xingou... Aborrecido??? E não quer. Aí ele não fez casal não. Só Sol que fez...

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(13) Me pohy kre, me kahy kre… Porque já derrubaram o pé.. Aí acabou, acabou mesmo...

Eles comeram milho, eles comeram amendoim... Porque já derrubaram o pé... Aí acabou, acabou mesmo...

Ressalta-se que os dados apresentados ocorreram diante de interlocu-tores que não compartilhavam a língua e cultura dos falantes – fato conheci-do por toconheci-dos. Durante o trabalho de campo observou-se que em reuniões conheci-do grupo, das quais participaram os indivíduos mais velhos bilíngues, o mesmo informante não alternou os códigos com tanta frequência.

Grosjean (op.cit.) explicaria a alternância em casos semelhantes a esse como se condicionados pela presença de não-falantes da língua no contexto de uso da língua. Não fazer uso da alternância implicaria excluir alguém da conversação, já que o falante utilizaria uma língua desconhecida por alguns de seus ouvintes. Deste modo, a alternância poderia ser entendida como au-xiliar da interação, sem a qual não haveria sinalização de solidariedade com a minoria1. No mesmo contexto, ao se reportar a uma pesquisadora

(não-fa-lante) o falante se pronunciou em português, especificando-a dentre os inter-locutores participantes da comunicação.

De uma forma geral, nas situações em que o grupo de falantes parkatêjê esteve reunido ocorreram casos motivados por mais de uma das razões ex-postas por Grosjean (1982), assim como para algumas ainda não foram en-contrados exemplos, cabendo a estudos posteriores a definição do que mais se adequa a cada caso.

Após a gravação dos dados há o momento da transcrição das narrati-vas, feita como auxílio de falantes. Quando feita com o próprio narrador, ao ouvir os trechos ditos em português ele lamenta: “eu errei... isso é kupe2... na

língua é...”. Essa declaração pode nos levar a formular duas hipóteses: (1) ou a alternância é inconsciente na fala desse indivíduo, principalmente quando esta não é monitorada; (2) ou essa fala sofre influência do contexto menos informal de enunciação. Acresce-se a isso o fato de o informante estar nar-rando para falantes de português:

1 Durante a visita às aldeias nota-se que quando estão conversando algo particular ou do qual não querem que os kupe tomem conhecimento, a preferência é pela língua indígena.

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(14) Kupe chama quatro, né? Nós chama to aikrut.

O não-índio chama quatro, né? Nós chamamos quatro.

(15) Kupe chama respeita, né? Itan me jarkwa mã aitehe... O não-índio chama respeito, né? Isso na nossa língua...

Segundo Romaine (1995: 143) uma das funções de um discurso com alternância é que a mesma coisa seja repetida. No caso do exemplo (14) acima, o falante informa nas duas línguas a palavra que expressa a ideia “três mais um”, que é aikrut. Não obstante, a contração “né” é marcador conversacional que pode indicar pedido de confirmação ou concordância com aquilo que foi dito. Provavelmente, se o falante não estivesse diante de interlocutores falantes de língua portuguesa não haveria necessidade de enunciar a frase em português, ainda que essa tivesse sido dita a falantes bilíngues. Nesse caso, então, há mais chance de o falante ter sido influenciado pelo contexto e seus interlocutores do que pela necessidade de repetir a ideia. A presença de monolíngues é um dos fatores que, segundo Grosjean, influenciam a escolha da língua da língua a ser utilizada pelo falante no momento da enunciação.

Conclusão

A literatura especializada da área de estudos sociolinguísticos tem demonstrado que a ocorrência de alternância de código entre indivíduos bilíngues é bastante comum em situação de contato entre línguas. As razões para a ocorrência desse fenômeno podem ser explicadas com base em fatores externos, relacionados ao falante, ao tópico da conversação e à identidade étnica do indivíduo participante da interação, e internos, que não são tão facilmente distintos por envolverem, por exemplos, aspetos psico-cognitivos. A presente pesquisa teve como objetivo principal a descrição de ocorrências da alternância de código na fala de indivíduos bilíngues da Comunidade Indígena Parkatêjê, os quais convivem diariamente com sua língua nativa e a língua portugesa. Considerando a abordagem do tema proposta por Romaine (1995) em que ela descreve três tipos de alternância, foi-nos possível identificar, segundo o modelo variacionista, os três tipos apontados por ela: o tag-switching, a alternância inter-sentencial e a alternância intrassentencial. As instâncias de coleta desses dados foram principalmente as gravações de narrativas orais do povo parkatêjê e a observação do comportamento linguístico de falantes bilíngues em reuniões políticas na própria comunidade, com o objetivo de tratar assuntos internos.

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Devido à situação de contato intenso com a língua portuguesa, percebemos a ocorrência massiva do fenômeno da alternância de código entre os falantes bilíngues de Parkatêjê, o que aponta para a universalidade desse fenômeno.

Referências

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Ferreira, Marília. 2005. Descrição de aspectos da variante étnica usada pelos parkatêjê. DELTA 21(1): 1-21.

Grosjean, F. 1982. Life with two languages: An introduction to bilingualism. Harvard University. Press, Cambridge, Mass.

Gumperz, J. J. 1982. Discourse Strategies. Cambridge: Cambridge UP.

Hymes, D. 1967. On communicative competence. In: Pride, J.B. & Holmes, J. (Eds.). Sociolinguistics,Harmondsworth. England: Penguin Books. p. 269-294.

Poplack, Shana. 2004. Code-Switching. In: Ammon, U., N. Dittmar, K.J. Mattheier and P. Trudgill (eds), Sociolinguistics. An International Handbook of the Science of Language and Society. Berlin: Walter de Gruyter. 2nd edition, pp. 589-596. Oliveira, Renata Sobrino Porto de. 2006. Code-switching: perspectivas multidisciplinares. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Letras.

Rodrigues, Aryon Dall’igna. 1999. Macro-Jê. In: Robert M. W. Dixon & Alexandra Y. Aikhenvald. (Eds.). Amazonian Languages. Cambridge University Press, Cambridge. Romaine, S. 1995. Bilingualism (2nd ed.). Malden: Blackwell.

Thomason, S; Kaufman, T. 1988. Language Contact, Creolization, and Genetic Linguistics. University of California Press: Berkeley.

von Borstel, C. 2009. O code switching sob a visão do modelo variacionista. UniLetras, Ponta Grossa, 23, mai. Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/ uniletras/article/view/220/218. Acesso em: 21 Mar. 2010.

Recebido em: 23/03/2010 Aceito em: 04/08/2010

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