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Jornalismo e questões sociais: uma análise do discurso de reportagens de Zero Hora vencedoras do prêmio Esso de jornalismo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO – DACEC

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

FERNANDA ADRIELE MELLITZ

JORNALISMO E QUESTÕES SOCIAIS: UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE REPORTAGENS DE ZERO HORA VENCEDORAS DO PRÊMIO

ESSO DE JORNALISMO

Ijuí 2015

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FERNANDA ADRIELE MELLITZ

JORNALISMO E QUESTÕES SOCIAIS: UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE REPORTAGENS DE ZERO HORA VENCEDORAS DO PRÊMIO

ESSO DE JORNALISMO

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Lara Nasi

Ijuí 2015

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A COMISSÃO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A MONOGRAFIA

JORNALISMO E QUESTÕES SOCIAIS: UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE REPORTAGENS DE ZERO HORA VENCEDORAS DO PRÊMIO

ESSO DE JORNALISMO

Elaborada por

FERNANDA ADRIELE MELLITZ

Como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo

Banca Examinadora:

Profª Ma. Lara Nasi (orientadora)

Profª Dra. Vera Lucia Spacil Raddatz

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por abençoar e iluminar todos os caminhos da minha vida, por me dar força e persistência sem medida, pelas oportunidades e por manter minha fé inesgotável. Deus é digno de todo o meu louvou.

À minha família por compreender minhas ausências e ansiedade. Por me dar suporte emocional nos momentos de nervosismo e de dificuldade.

Agradeço à professora Lara Nasi que com carinho e paciência acreditou no meu projeto, na minha capacidade e embarcou nessa construção de conhecimento.

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RESUMO

Esta monografia se propõe a realizar uma Análise do Discurso produzido em reportagens veiculadas pelo jornal impresso Zero Hora. Para isso, foram estudadas as reportagens Meninos Condenados, Os Arquivos Secretos do Coronel do DOI-Codi e Lições da Turma 11F. Essas três produções foram vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo nas categorias Regional Sul 2012, Prêmio Principal 2013 e Regional Sul 2014, respectivamente. O objetivo é verificar se nessas obras existe ênfase no humano, nas suas condições e situações sociais, e, a partir daí, investigar de que forma as pautas são trabalhadas. Com o aporte teórico e metodológico da Análise do Discurso francesa, busca-se investigar de que forma as reportagens significam, que exteriores discursivos acionam, que fontes elegem e que pontos de vista privilegiam.

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ABSTRACT

This monograph intents to perform a Speech Analysis on articles presented by the printed newspaper Zero Hora. Therefore, the articles Meninos Condenados, Os Arquivos Secretos do Coronel do DOI-Codi and Lições da Turma 11F. Those three writings were the winners of the Esso Journalism Award in the South Regional 2012, Main Award 2013 and South Regional 2014 categories, respectively. The main goal is to verify if these works show emphasis on the humane, on their social conditions and situations and, from this point on, to look into which way these subjects are explored. Working with the theoretical and methodological input of the french Discourse Analysis, this paper pursuits to inquire what these articles mean, which discursive exteriors they trigger, which fonts they elect and which points of view are privileged.

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SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS... 08 2 SOBRE O JORNALISMO ... 10 2.1 Notícia ... 14 2.2 Reportagem ... 18 2.3 Fontes ... 21

3 CIDADANIA E DEMOCRACIA NA COMUNICAÇÃO ... 29

3.1 O direito à informação ... 31

3.2 O jornalismo, a sociedade e seus desafios ... 34

4 ANÁLISE DO DISCURSO E OBSERVAÇÕES ... 38

4.1 Zero Hora e Prêmio Esso de Jornalismo... 42

4.2 Análise do Discurso da reportagem Meninos Condenados... 45

4.2.1 Opiniões e visão dos jornalistas ... 46 4.2.2 Posicionamentos negativos ... 47

4.2.3 Posicionamentos positivos ... 49

4.3 Análise do Discurso da reportagem Os Arquivos Secretos do Coronel do DOI-Codi... 50

4.4 Análise do Discurso da reportagem Lições da Turma 11F... 55 4.4.1 Opinião e visões da jornalista ... 57 4.4.2 Posicionamentos negativos ... 59 4.4.3 Posicionamentos positivos ... 61

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4.4.4 Funcionamento discursivo da reportagem ... 62

4.5 Considerações sobre as análises das três reportagens... 63 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...

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REFERÊNCIAS ... 71 ANEXOS ... 75

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A proposta desse trabalho surge a partir da necessidade de compreender, de modo mais intenso e completo, produções jornalísticas que abordam assuntos ligados à realidade social, com focos distintos e que não são pautados diariamente. Para decidir que reportagens seriam analisadas, o primeiro passo foi fazer uma pesquisa nos materiais já veiculados por Zero Hora, jornal de referência do Rio Grande do Sul. A proposta foi realizar o estudo de reportagens vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo, pois há um reconhecimento externo do trabalho realizado. O título desse trabalho de conclusão de curso carrega o antigo nome da premiação, Esso de Jornalismo, pois no período em que as reportagens conquistaram as premiações ele era denominado dessa maneira. Uma mudança no nome aconteceu no ano de 2015 e o Prêmio Esso passou a se chamar ExxonMobil de Jornalismo.

A partir dessa primeira decisão, foi feita uma pré-análise, para saber que sentidos, que temas, que assuntos eram acionados e produzidos pelas reportagens em questão, para poder planejar o percurso teórico e metodológico, de acordo com a proposta do trabalho. Com esse primeiro exercício de observação, o problema de pesquisa do meu trabalho passou a consistir em analisar o discurso das reportagens do jornal impresso Zero Hora que possuem o ser humano como foco, suas condições e situações sociais. Com o estudo pretendo verificar se existe ênfase no humano, nas suas condições e situações sociais e de que forma questões sociais são trabalhadas em reportagens premiadas do Jornal Zero Hora.

Com a realização da pré-análise foi constatada a importância de inicialmente destacar e esclarecer alguns conceitos do jornalismo. Sendo assim, com o estudo baseado em Medina, Pena, Wolf, Lage, Sodré, Ferrari e outros importantes autores, na segunda parte desse trabalho são abordadas questões relevantes sobre mídia, imprensa e informação. É possível compreender as características das notícias, da reportagem e a importância que as fontes possuem no contexto geral de todas as produções.

Na terceira parte o foco principal é a sociedade brasileira, a cidadania e o direito à informação. Através das obras de Lafer, Gentilli, Bobbio e Raddatz, é possível destacar a conexão entre o universo comunicacional, o universo da sociedade, seus componentes e as produções jornalísticas realizadas dentro desse contexto geral. Todas as definições realizadas nos capítulos iniciais, juntam-se com as reportagens para endossar e analisar o discurso existente nas obras de Zero Hora.

Dessa forma, na quarta parte é produzida a Análise do Discurso. Nesse momento existe a imersão em um exercício de observação, em que se busca o entendimento acerca dos

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conceitos elencados nessa pesquisa. É possível perceber o que as reportagens dizem além de suas palavras e frases escritas. A escolha desse método de análise se dá pelo fato de existir riqueza em suas formas de realização. Riqueza, pois não existe uma única maneira de desenvolver a Análise do Discurso, cada pessoa que se dispõe a fazer parte do universo de estudo, está aceitando realizar um conteúdo único e distinto. Isso acontece pelo fato de que cada pessoa encontra e escolhe diferentes enunciados, levando em consideração os conhecimentos próprios de mundo e sociedade. Todas essas considerações são realizadas através do estudo de Pêcheux, Orlandi e Cazarin.

As reportagens escolhidas como objeto da análise são Meninos Condenados, Os Arquivos Secretos do Coronel do DOI-Codi e Lições da turma 11F. Essas produções são vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo nas categorias Regional Sul 2012, Prêmio Principal 2013 e Regional Sul 2014, respectivamente. Tratam-se de textos veiculados no jornal Zero Hora, com diferentes focos e métodos de abordagens distintos. Com a análise é possível detectar pontos em que determinadas características convergem, a soma de todas essas características têm influência na assimilação, repercussão e entendimento do assunto colocado em debate. Quem aceita o desafio de realizar uma Análise do Discurso, ou ler uma análise produzida, não retoma a leitura de uma grande reportagem jornalística sem se dispor a “ver com os olhos de quem vê”.

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2 SOBRE O JORNALISMO

É importante iniciar a explanação do presente trabalho com uma pergunta, que inicialmente parece simples, mas que sua resposta aponta para diversos caminhos. Alguns diriam que tentar definir o jornalismo é restringi-lo a um limite. A pretensão deste trabalho tampouco é esta. Parto do entendimento de que o jornalismo se regenera, reinventam e não se limitam com tamanha facilidade.

A pergunta em questão é: para que serve o jornalismo? Uns responderiam que jornalismo informa, esclarece e fornece respostas para a população, torna públicas as histórias e acontecimentos importantes da sociedade. Sim, jornalismo é realmente isso. Mas acrescento, ancorada em estudiosos da área, que o jornalismo sempre teve, e vai continuar exercendo, um papel mais específico. O jornalismo e o conteúdo que produz um jornalista deve ser plural, ou seja, ampliador de respostas, conhecimentos e anseios. Ele fornece elementos e informação para que as pessoas busquem sua independência, ele serve para dar o dom da voz para quem ainda não possui, lembrar quem está esquecido e não recorda de sua própria existência.

Essa arrebatadora e apaixonante sede pelo universo jornalístico pode ser sentida na apresentação da obra A aventura da reportagem, de Clóvis Rossi, citada na produção de Dimenstein e Kotscho.

Que me desculpem Vinicius de Moraes, os editores e os redatores, mas repórter é fundamental. É certamente a única função pela qual vale a pena ser jornalista. Jornalista não fica rico, a não ser um punhado de iluminados. Jornalista não fica famoso, a não ser um outro (ou o mesmo) punhado e assim mesmo no círculo restrito que frequenta ou no qual é lido. Jornalismo, por isso, só vale a pena pela sensação de se poder ser testemunha ocular da história de seu tempo. E a história ocorre sempre na rua, nunca numa redação de jornal. É claro que estou tomando “rua” num sentido bem amplo. Rua pode ser a rua propriamente dita, mas pode ser também um estádio de futebol, a favela da Rocinha, o palanque de um comício, o gabinete de uma autoridade, as selvas de El Salvador, os campos petrolíferos do Oriente Médio. Só não pode ser a redação de um jornal. Por isso, é um privilégio ser repórter (DIMENSTEIN; KOTSCHO, 1957, p.9).

Dentro desse universo do jornalismo, Medina destaca o conceito de informação que Luka Brajnovic, na obra Tecnologia de la Información, defende. De acordo com as considerações, informação é o conjunto de condições que torna público os elementos do saber, os fatos, acontecimentos, especulações, ações e projetos, “tudo isso mediante uma técnica especial feita com este fim e utilizando os meios de transmissão ou comunicação social” (MEDINA, 1988, p.22). Essa técnica especial a que o autor faz referência, é a técnica jornalística, que utiliza instrumentos e recursos próprios para que a informação torne-se pública e adquira abrangência.

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Para Felipe Pena, assim como é importante inicialmente esclarecer sobre a informação, também é necessário separar os conceitos de mídia e imprensa que posteriormente serão citados no trabalho. Na mídia estão presentes todos os tipos de manifestação cultural presentes no espaço público (como novelas e filmes), a imprensa, por sua vez, refere-se à produção de notícias.

[...] a imprensa está no interior da mídia, sendo também uma de suas manifestações, as influências são mútuas. [...] O homem comum não se informa mais pelos relatos da praça, mas sim pelo que os mediadores do novo espaço público trazem até ele. Daí a nossa responsabilidade (PENA, 2010, p.31).

Dessa maneira entende-se que o jornalismo reproduz a sociedade em que está inserido, as condições e as desigualdades que imperam no interior dela. Daí vem à importância do jornalista conhecer “a rua” conforme relatou Clóvis Rossi, pois a história de uma sociedade e de seu povo acontece nesse local “nunca numa redação de jornal”, conforme igualmente concorda Pena (2010, p.75). Nessa mesma linha de pensamento Luiz Martins da Silva afirma que Rui Barbosa, sendo o grande jornalista e escritor que foi, nunca deixou de acreditar firmemente na capacidade da imprensa de atuar como “os olhos da sociedade” (SILVA, 2010, p.11).

Agora que já usamos os conceitos de mídia e imprensa, vamos voltar a explanar sobre a informação, matéria prima dos meios de comunicação. O jornalismo, entre todas as funções já elencadas, auxilia na construção de uma comunidade e da cidadania dentro desse ambiente. “A principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernar” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004, p.31).

Seguindo a linha de pensamento desses autores é possível verificar que a imprensa auxilia as pessoas a entender melhor a comunidade em que estão inseridas. Ela ajuda a esclarecer determinados conhecimentos, construir outros necessários e identificar objetivos. O então âncora da rede NBC, Tom Brokaw, contou em determinada conversa com acadêmicos, que durante muito tempo acreditou firmemente que uma sociedade é melhor se dispõe de uma base comum de informação (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004, p.31). A partir das leituras entendo que o jornalismo e o vasto mundo da imprensa e dos meios de comunicação funcionam como um índice de uma importante obra literária. A sociedade e os cidadãos buscam, através desse índice/jornalismo, encontrar a informação inicial para que possam seguir um caminho, e conhecer respostas e possibilidades que se identificam com os anseios de determinado local. Uma sociedade é mais democrática quanto maior for a sua capacidade de dispor de notícias, informações e meios de comunicação plural.

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As pessoas precisam de informação por causa de um instinto básico de ser humano, que chamamos de Instinto de Percepção. Elas precisam saber o que acontece do outro lado do país e do mundo, precisam estar a par de fatos que vão além de sua própria experiência. O conhecimento do desconhecido lhes dá segurança, permite-lhes planejar e administrar suas próprias vidas (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004, p.36).

Assim como Kovach e Rosenstiel, Felipe Pena também acredita na necessidade que o ser humano possui de conhecer o desconhecido. Ele reforça a importância do jornalismo nesse modo de descoberta.

[...] a natureza do jornalismo está no medo. O medo do desconhecido, que leva o homem a querer exatamente o contrário, ou seja, conhecer. E assim, ele acredita que pode administrar a vida de forma mais estável e coerente, sentindo-se um pouco mais seguro para enfrentar o cotidiano aterrorizante. [...] Mas, para isso, é preciso transpor limites, superar barreiras, ousar. Entretanto, não basta produzir cientistas e filósofos ou incentivar navegadores, astronautas e outros viajantes. Também é preciso que eles façam os tais relatos e reportem informações a outros membros da comunidade que buscam a segurança e a estabilidade do „conhecimento‟. A isso, sob certas circunstâncias éticas e estéticas, posso denominar jornalismo (PENA, 2010, p.22).

Carl Bernstein, repórter do Washington Post, definiu o jornalismo como sendo “a melhor versão da verdade possível de se obter” (DIMENSTEIN; KOTSCHO, 1957, p.10). E para resgatar a melhor versão é necessário persistência.

Exige-se muito mais transpiração do que inspiração. Mais esforço físico do que intelectual. Exige que se gaste a ponta do dedo telefonando para todas as pessoas que possam dar ao menos um fragmento de informação. Exige que se gaste a bunda nos sofás das ante-salas de autoridades [...] na espera de que elas atendam o repórter e lhe deem mais um pedacinho de informação. Exige que se gastem as pernas e as solas dos sapatos andando atrás de passeatas, comícios [...] Exige ainda gastar a vida lendo livros, revistas, jornais, documentos, relatórios, certidões, o diabo, atrás de detalhes ou confirmações ou, no mínimo, como ponto de partida para se iniciar um trabalho com um mínimo de informações previas (DIMENSTEIN; KOTSCHO, 1957, p.11).

Para ele, um jornalista exercita e também gasta os olhos. Exercita porque por incontáveis situações precisa realizar o “simples exercício de olhar com olhos de ver. Tem muita gente que olha e vê detalhes que acabam compondo pedaços por vezes vitais de uma reportagem” (DIMENSTEIN; KOTSCHO, 1957, p.11). No capítulo 4 desse trabalho, referente às análises das reportagens premiadas do jornal impresso Zero Hora, vamos voltar a citar a importância do jornalista “olhar com os olhos de ver” na produção do jornalista José Luis Costa, intitulada Arquivos Secretos do DOI-CODI (ZH, 22, 23 e 25 de novembro de 2012).

Nessa explanação não vamos entrar nos méritos e evoluções da tecnologia no universo do jornalismo. Para o momento, basta recordar que o jornalista em determinado tempo, antes

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da internet estar presente na vida cotidiana de boa parte da população, necessitava procurar as informações mais básicas, em enciclopédias, arquivos na própria redação, revistas, jornais antigos, almanaques e Telex1 . A partir do surgimento de novas e diferentes tecnologias, os jornalistas precisaram inicialmente encontrar pontos sólidos e aprender a dar sentido às coisas que começavam a surgir (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004 p.41). Ainda para os autores, os profissionais da imprensa desenvolveram, ao longo de trezentos anos, um grande código não escrito de princípios e valores que devem nortear a difusão da informação. Entre os mais importantes desses princípios estão: “A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade; A primeira lealdade do jornalismo é com os cidadãos; A essência do jornalismo é a disciplina da verificação” (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004, p. 61, 83, 113).

Sobre os princípios mais importantes elencados acima é possível dizer que seus enunciados são simples e explicativos. Uma cobertura jornalística sobre determinado acontecimento deve ser realizada com tamanho empenho a ponto de o público (ouvinte/leitor/espectador) conseguir tirar as suas próprias conclusões.

Citarei um exemplo bem simples que mostra em que posição se encontra o jornalista. Vamos imaginar uma roda de amigos onde uns defendem certa religião, outros defendem determinada classe social e tantos outros acreditam que certa forma de política é a melhor. Nós estamos misturados nessa roda de amigos defendendo nossas ideias. E a figura do jornalista? O jornalista geralmente é aquela pessoa que se afastou da roda, ele está do lado de fora, ouvindo e avaliando a posição e as defesas de cada um, percebendo as reações e formas de agir quando determinada pessoa é questionada, os momentos em que se calou, o instante em que se empolgou e concordou.

Nesse contexto, entende-se também que a preguiça e o jornalismo são extremamente incompatíveis, não é aceitável desistir ao levar os primeiros tombos. Contar o que vê pode-se tornar interessante, resumir documentos, procurar fontes diferentes, processar informações, vencer a inibição e ter o extremo cuidado de ser confiante. Tudo isso até ficar bom, muito bom e finalmente perfeito (LAGE, 1993).

Vale ressaltar que a redundância também é essencial para o universo da comunicação. Ela está diretamente ligada com a eficácia. Para Pena, “redundar não é simplesmente repetir, mas reforçar uma informação” ela “não é só útil, como absolutamente vital” (PENA, 2010, p.81). É através da redundância que se baixa o nível de complexidade de uma mensagem, reforça o conteúdo, faz entender as suas intenções e fundamentos, melhora a recepção e a

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absorção de conteúdos. O autor conclui “que a ausência de redundância é diretamente proporcional à desinformação” (PENA, 2010, p.83). Na imprensa a redundância já foi incorporada nas rotinas e produções das redações, ela tem utilização em manchetes, que direcionam a títulos, que remetem a subtítulos, que possuem confirmação pelo primeiro parágrafo da matéria. Dentro da discussão sobre as reafirmações no jornalismo é importante destacar que, quando surge determinado fato e opta-se por ir divulgando o desenrolar através de novas produções em edições distintas, o desfecho acontece gradativamente e os jornalistas fazem uso de suítes. Por suítes pode-se entender que é a sequência dos fatos, a continuidade, o desenrolar, novos detalhes ou acompanhamento dos personagens. Pena recorda que as fotos também são anexos indispensáveis para determinados conteúdos, elas possuem legendas que também reforçam a mensagem.

Dentro desse contexto de afirmações e reafirmações, é necessário lembrar a importância de manter o respeito pelos fatos e colocar à disposição do leitor condições para que ele avalie conforme seus valores e repertório de conhecimento. Saber escrever e ter conhecimento de formas gramaticais bonitas é importante, mas a tarefa não se limita a produzir conteúdos de acordo com uma “fórmula”, mas saber cultivar a forma de informar visando a determinado tipo de transformação.

2.1 Notícia

Nesse trabalho é importante que fique estabelecida diferença entre os gêneros jornalísticos notícia e reportagem. Inicialmente, vou trabalhar o termo notícia, suas definições e características primordiais. Posteriormente falarei sobre a reportagem, que é um dos quesitos de maior relevância para o trabalho. Sobre a notícia podemos dizer que ela é predominante e possui como função informar e distrair.

As notícias procuram atingir o nível máximo de leitores, daí a ênfase em informações sonho/realidade, tais como noticiário do mundo dos alimpianos, novidades da „sociedade‟, polícia e o mundo das emoções primárias, serviços de lazer, entrevistas e perfis de interesse humano – matérias ditas amenas (MEDINA, 1988, p.71).

Para Antunes e Vaz, as notícias são assimiladas como dispositivos midiáticos. Esses por sua vez, articulam primeiramente “uma forma específica de manifestação material dos discursos, de formatação de textos”; Em segundo lugar as notícias se veiculam a “um processo de produção de significação, de estruturação de sentido”; Em terceiro lugar se ligam a “uma maneira de modelar e ordenar os processos de interação” e por último, encadeiam “um

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procedimento de transmissão e difusão de materiais significantes” (ANTUNES; VAZ, 2006, p. 47).

Felipe Pena, cita um quadro comparativo desenvolvido por João de Deus Corrêa, onde elenca as diferenças entre a notícia e a reportagem. Descrevendo de maneira discursiva o quadro elaborado, entende-se que a notícia apura os fatos, possui como referência a imparcialidade, opera em um movimento típico da indução (do particular para o geral) e se apoia na compreensão imediata dos dados essenciais. A notícia trabalha principalmente com o singular e se dedica a cada caso ocorrido. Os relatos se dão de modo formal e seco, com o pretexto de comunicar com imparcialidade (PENA, 2010, p.76).

Vale lembrar que no mundo do jornalismo a informação é a matéria prima e é por ela que se deve manter respeito e zelo. O jornalista que escreve uma notícia precisa responder as clássicas perguntas Quem? O quê? Como? Quando? Onde? Por quê? Normalmente essas perguntas são respondidas no lide (ou lead, em inglês conduzir), que tem como função dar objetividade ao jornalismo, ou seja, o mais importante vem primeiro. O lide é um relato sintético do acontecimento que está presente logo no início do texto e responde às perguntas básicas elencadas (PENA, 2010, p.42). Ele é o primeiro parágrafo da notícia nos jornais impressos, a cabeça do repórter no início de uma notícia em televisão ou à primeira proposição de uma notícia radiofônica (LAGE, 1993, p.26). O lide, retratado no primeiro parágrafo do texto, é um relato sintético das principais informações que existem na notícia.

Uma singularidade muito forte do lide é o tratamento estilístico que recebe: os dados são apresentados numa articulação tal que ao leitor resta ir até o fim, sem qualquer convite à pausa. Ele funciona como uma espécie de “rede” que envolve e segura o receptor daquela informação (a ideia tradicional de que o lide seja uma “isca” tem uma carga muito negativa, sugere engodo). É possível compará-lo a um jorro; para alcançar tal efeito, o lide “clássico” costuma ter um só ponto final, que é também o ponto delimitador do parágrafo (PENA, 2010, p.43).

De acordo com Nilson Lage, a notícia se define, no jornalismo moderno principalmente, como uma forma de expor os fatos.

[...] o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ou interessante; e de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante. Essa definição pode ser considerada por uma série de aspectos. Em primeiro lugar, indica que não se trata exatamente de narrar os acontecimentos, mas de expô-los (LAGE, 1993, p.16).

O conteúdo que emerge de uma notícia pode gerar comoção, motivação ou até mesmo conformismo. Para quem escreve, a preocupação é saber se “a informação tem importância ou desperta interesse bastante para ser publicada e como ressaltar essa importância ou interesse mantendo a conformidade com os fatos” (LAGE, 1993, p.25). A notícia está entrelaça com as

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diversas necessidades que existem na sociedade e em quem a compõe. Tudo o que é de interesse, o que as pessoas necessitam saber e o que elas desejam falar pode ser encontrado nos noticiários diários (PENA, 2010, p.71). Mauro Wolf contextualiza a produção da notícia.

A produção de notícias resulta da conjunção de dois fatores. De um lado, a cultura profissional, entendida como um emaranhado de estereótipos, representações sociais e rituais relativos ás funções dos meios de comunicação de massa e dos jornalistas, à concepção do principal produto – a notícia – e às modalidades que presidem à sua confecção. De outro, as restrições ligadas à organização do trabalho, sobre as quais se criam convenções profissionais que determinam a definição de notícia, legitimam o processo produtivo – desde a utilização das fontes até a seleção dos acontecimentos e as modalidades de confecção do noticiário – e contribuem para se prevenir das críticas dos leitores. Fica, assim, estabelecido um conjunto de critérios – ou seja, do grau de relevância entre os acontecimentos – que definem a noticiabilidade de cada acontecimento: o modo pelo qual é construída sua qualidade para que seja transformado em notícia (WOLF, 2003, p.25).

Para alguns autores a distância entre notícia e reportagem já está estabelecida a partir da pauta. Na notícia, as pautas são indicações de fatos programados, da continuação de eventos que já ocorreram, dos quais se espera algum desdobramento. Ela é o que está acontecendo de mais interessante em uma data, a população precisa tomar conhecimento e o veículo de comunicação precisa noticiar. Normalmente diz respeito às chamadas pautas “quentes”. Essas pautas são aquelas que acontecem em um dia e precisam entrar imediatamente na TV, emissoras de rádio, internet, ou então estar na próxima edição do jornal impresso. São exemplos desses acontecimentos “as coberturas de casos policiais, alguns acontecimentos na cidade, jogos de futebol, assim como de anúncios econômicos, escândalos políticos etc” (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.4).

De acordo com os moldes de Sodré e Ferrari, a notícia possui a função essencial de “assinalar os acontecimentos, ou seja, tornar público um fato (que implica em algum gênero de ação), através de uma informação (onde se relata a ação em termos compreensíveis)” (1986, p.17). Noticiar seria então a ação de anunciar o fato. Só será notícia o que for anunciado, dessa forma pode estar ocorrendo um grande número de acontecimentos, mas só se torna uma verdadeira notícia o acontecimento que ganha o espaço nos meios de comunicação. Pena concorda com Sodré e Ferrari e reafirma que nem tudo o que surge é notícia.

Na rotina produtiva diária das redações de todo o mundo, há um excesso de fatos que chegam ao conhecimento dos jornalistas. Mas apenas uma pequena parte deles é publicada ou veiculada. Ou seja, apenas uma pequena parte vira notícia (PENA, 2010, p.71).

É importante destacar que Felipe Pena chama de noticiabilidade a capacidade que os fatos têm de virar ou não notícia (PENA, 2010, p.72). Para o português Rogério Santos, a

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noticiabilidade é construída a partir de um conjunto de critérios onde os mais importantes seriam “frequência, ausência de ambiguidade, consonância, significado, inédito e não esperado, continuidade, negatividade, simplificação, dramatização, personalização e referência a pessoas de elite [...]” (SANTOS, 1997, p.114).

Outro fator interessante para que se construa um consenso sobre as definições da notícia é o fator tempo. A notícia possui um caráter imediato e mais descreve do que analisa significados.

O fato deve ser recente, e o anúncio do fato, imediato. Este é um dos principais elementos de distinção entre a notícia e outras modalidades de informação. Aqui, talvez, um aspecto importante a diferençar notícia de reportagem: a questão da atualidade (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.18).

Ricardo Noblat (2014, p.31), assim como Sodré e Ferrari, simplifica que a notícia é qualquer fato que possui relevância e que desperta o interesse do público. Para ele, o jornalista saberá quando está diante de uma notícia. Poderá não acertar na primeira vez, mas na segunda ou terceira acertará. Embora a afirmação do autor possa gerar discordâncias e opinião contrária, acredito ser pertinente a citação uma vez que ele chama a atenção para a pressa que é cultuada nas redações. Para Noblat, a pressa é a culpada pelo aniquilamento de muitas verdades e por textos superficiais que desestimulam a reflexão.

Apurar bem exige tempo. Escrever bem exige tempo. E não existe razão de jornal ser feito às pressas. Notícia em tempo real deve ficar para os veículos de informação instantânea – rádio, televisão e internet. Jornal deve ocupar-se com o desconhecido. E enxergar o amanhã (NOBLAT, 2014, p.38).

A notícia esta presente em toda parte e ao mesmo tempo. Ela deve ser procurada e não somente e simplesmente garimpada da lista de pautas comuns entre todos os meios de comunicação. Para Ricardo Noblat, ela “pode estar no ambiente onde se passou determinada história. A notícia pode estar no silêncio de uma pessoa entrevistada. A notícia pode estar no nervosismo de alguém” (2014, p.44).

Assim como foi citado no início do capítulo, sobre o jornalismo e a importância de cultuar determinadas redundâncias, relembramos aqui o quanto é importante reafirmar, produzir suítes e melhorar a recepção dos conteúdos. Quando se trata de um assunto que está sendo abordado há determinado tempo, é necessário que o jornalista não esqueça de contextualizá-lo, pois não é correto partir do pressuposto que todos leem todas as notícias diariamente.

O bom repórter deve escrever como se estivesse contando o que aconteceu a alguém que ainda desconhece o caso, como os leitores de fim de semana. Ou seja, mesmo que o jornalista esteja cobrindo um assunto de longa duração, é importante relatar

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em um parágrafo curto o que aconteceu para que o leitor de primeira viagem compreenda (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.122).

O correto não é pensar que o leitor conhece o andamento dos fatos como quem está cobrindo a notícia. Nesse caso o texto didático atrairia o leitor. “Aqueles que já conhecem o fato considerarão o didatismo uma qualidade a mais em sua escrita. Os que estão lendo pela primeira vez entenderão a notícia” (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.122). É importante dar espaço para a imaginação e enxergar além do fato, o que ele esconde o que revela, ou o que está por vir. Uma notícia possui traços no passado, mas pode também desencadear coisas no futuro.

Se um dia pudesse fazer um jornal exatamente da maneira como imagino, na altura do cabeçalho, ao lado do título, escreveria: „Dá-se explicação‟. Sei que os leitores querem encontrar notícias novas nos jornais, das quais eles ainda não tenham ouvido falar. Mas sei também que esperam receber explicações competentes sobre tudo o que de importante aconteceu ou está acontecendo. Explicar o mundo, contar o que está por trás das notícias, relacionar fator, tentar a partir disso antecipar o que pode vir a suceder: é o que os jornais deveriam fazer diariamente (NOBLAT, 2014, p.78). Segundo esse mesmo autor, o que não pode ocorrer é as pessoas receberem diversas informações superficiais durante o seu dia. Esse número massivo de informação, quando não são trabalhadas e desenvolvidas da maneira correta, tornam-se excessivas, e informação em excesso possui o poder contrário, o de desinformar. Para Noblat, “mais valem cinco boas histórias por dia – inéditas, bem apuradas, bem escritas [...] – do que centenas de notícias reunidas às pressas e sem maiores critérios” (2014, p.152).

2.2 Reportagem

Abordar os conceitos da reportagem é importante, pois esse é o gênero escolhido para fazer a construção do presente trabalho de conclusão de curso. Para Medina, a reportagem “é conceituada como a grande notícia” (1988, p.68); Sodré e Maria Helena Ferrari acreditam que a reportagem “é o conto jornalístico – um modo especial de propiciar a personalização da informação ou aquilo que também se indica como interesse humano” (1986, p.75); Na mesma linha de pensamento, Felipe Pena contextualiza que a reportagem é um relato jornalístico temático, com determinado foco e que busca aprofundar a investigação sobre os fatos e quem os compõem (PENA, 2010, p.75);

A reportagem não diz respeito à cobertura de um fato ou de uma série de fatos conforme ocorre com a notícia. Nela, há o levantamento de um assunto conforme um ângulo determinado. Para a reportagem os assuntos estão sempre disponíveis, “faz-se reportagem

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sobre a situação da classe operária a propósito de uma onda de greves ou sem qualquer motivo especial” (LAGE, 1993, p.47).

Conforme já citado anteriormente, Felipe Pena cita um importante quadro comparativo que foi desenvolvido por João de Deus Corrêa. Nessa comparação a reportagem teria um conteúdo que trabalha com assuntos sobre os fatos, enfoque e interpretação, com a dedução (do geral, que é o tema, ao particular – os fatos). Ela converte fatos em assuntos, traz a repercussão, o desdobramento, aprofunda e é produto da intenção de passar uma “visão” interpretativa. A reportagem transforma vários fatos em tema, procurando envolver, usando a criatividade como recurso para seduzir, trabalhando com pautas mais complexas, pois aponta para causas, contextos, consequências e novas fontes (PENA, 2010, p.76).

As características da reportagem também são citadas por Sodré e Maria Helena Ferrari, mas que não se separa das características elencadas por Pena. Para os autores, as principais seriam “a predominância da forma narrativa [...] humanização do relato [...] texto de natureza impressionista e objetividade dos fatos narrados” (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.15). É necessário que a narrativa esteja presente numa reportagem, caso contrário não pode ser elencada como tal. A narrativa nesse contexto é compreendida como “todo e qualquer discurso capaz de evocar um mundo concebido como real, material e espiritual, situado em um espaço determinado” (SODRÉ; FERRARI, 1986, p. 11).

Os mesmos autores também acreditam que em uma reportagem deve existir força, onde é ela que arrebata o leitor e faz com que ele chegue ao fim da narrativa; Clareza que nada mais é do que a objetividade da narrativa; Condensação que refere-se à concentração e síntese com que são manipulados os recursos narrativos e descritivos; Tensão que faz referência à dosagem com que os elementos são dispostos em sequência e fazem com que essa dosagem sirva a um clímax. E para finalizar, deve conter certo grau de novidade onde determinados acontecimentos são inéditos, mas também faz referência à observação diferenciada e original de qualquer assunto (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.75, 76).

Sobre as classificações de reportagens, Sodré e Maria Helena Ferrari consideram que ela possui três modelos fundamentais: Reportagem de fatos (Fact-story), Reportagem de ação (Action-story) e a Reportagem documental (Quote-story).

1- Reportagem de fatos (Fact-story)

Trata-se do relato objetivo de acontecimentos, que obedece na redação à forma da pirâmide invertida. Como na notícia, os fatos são narrados em sucessão, por ordem de importância. Em reportagens televisivas, quando se cobrem grandes acontecimentos, a edição parte do anúncio do fato (a exemplo do lide da notícia)

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mas pode fazer de cada flash uma pequena notícia independente (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.45).

2- Reportagem de ação (Action-story)

É o relato mais ou menos movimentado, que começa sempre pelo fato mais atraente, para ir descendo aos poucos na exposição dos detalhes. O importante, nessas reportagens, é o desenrolar dos acontecimentos de maneira enunciante, próxima ao leitor, que fica envolvido com a visualização das cenas, como num filme. [...] O testemunho é importante em relatos desse tipo, pois confere maior realismo e credibilidade à ação (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.52,54).

3- Reportagem documental (Quote-story)

É o relato documentado, que apresenta os elementos de maneira objetiva, acompanhados de citações que complementam e esclarecem o assunto tratado. [...] A reportagem documental é expositiva e aproxima-se da pesquisa. Às vezes, tem caráter denunciante. Mas, na maioria dos casos, apoiada em dados que lhe conferem fundamentação, adquire cunho pedagógico e se pronuncia a respeito do tema em questão (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.64).

Sobre os modelos elencados pelos autores é importante ressaltar que eles não são modelos rígidos e pode haver combinações. Uma reportagem documental pode usar recursos da reportagem de ação e/ou da reportagem de fatos. O contrário também é possível, uma reportagem de ação ou de fatos pode conter dados numéricos, estatísticas, ou informações técnicas (SODRÉ; FERRARI. 1986, p. 57,58).

Nilson Lage, sobre as classificações acredita que elas se dividem também em três, porém essas seriam reportagem de Interpretação, Investigação e Novo Jornalismo conforme explicação que segue.

[...] podemos considerar gêneros de reportagens as do tipo investigação, em que se parte de um fato para revelar outros mais ou menos ocultados e, através deles, o perfil de uma situação de interesse jornalístico [...]; do tipo interpretação, em que o conjunto de fatos é observado da perspectiva metodológica de cada ciência (as interpretações mais frequentes são sociológicas e econômicas); e as do novo

jornalismo (uma escola americana, geralmente associada aos nomes de Truman

Capote e Normal Mailer) que, investindo justamente na revelação de uma práxis humana não teorizada, busca aprender a essência do fenômeno aplicado técnicas literárias na construção de situações episódios narrados (LAGE, 2001, p.116). A reportagem em sua maioria, não destaca um assunto que necessita relativa urgência na sua noticiabilidade. Ela não possui um fato eclodido recentemente conforme a notícia. Vale ressaltar que ao relatar sobre os conceitos da notícia, foi destacado que ela dá foco para pautas quentes, acontecimentos que necessitam uma relativa brevidade na divulgação. Na reportagem podemos dizer que a “pauta é fria” e ela pode surgir de uma observação do repórter ou ser elaborada a partir de um assunto factual, com o intuito de contextualizar o tema, “O erro é achar que essas pautas não são importantes ou são desnecessárias. Muitas vezes, são elas quem dá tempero à edição e uma informação a mais ao leitor” (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.6).

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Existe um vasto número de grandes reportagens que foram escritas com estilo e rigor profissional e acabaram se tornando clássicos da literatura brasileira. Pena relembra o livro Os sertões, de Euclides da Cunha, que é um relato jornalístico sobre a Guerra de Canudos. Do mesma modo, o autor inclui os livros Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, que relata as condições dos porões da ditadura Vargas e A noite das grandes fogueiras, de Domingos Meirelles que narra a saga da Coluna Prestes, que atravessou o Brasil na década de 1920 (PENA, 2010, p.79).

Na reportagem o jornalista pode anunciar, enunciar, pronunciar e denunciar (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.32)

[...] nesta terra de ninguém [...] que se vai encontrar o Brasil real – as histórias da vida e da morte dos desempregados, dos menores abandonados, o fim de linha da violência e dos desencontros, o drama dos bóias frias e dos sem-terra, as vítimas e seus algozes frente a frente. Ali está o reverso do Brasil oficial dos gabinetes, dos decretos, das discussões teóricas (KOTSCHO, 2002, p.58).

A intenção não é aprofundar nesse momento os debates e explanações sobre a reportagem e as questões sociais, pois esse será exclusivamente o tema do próximo capítulo. Por hora é pertinente destacar que é para o repórter que é lançado o desafio de colocar à mostra a sociedade, “para que ela possa ser mudada, e não camuflada, todos os dias nos jornais. Seja qual for à pauta, esta realidade fica sempre no caminho de quem tem os olhos para ver e o coração para sentir – e entende que sua missão é contar” (KOTSCHO, 2002, p.63). No final das contas, e bem “a grosso modo”, uma grande reportagem é somente ver e cheirar as coisas com tempo e calma, pois segundo Wainer, “é o mundo que está à espera de um jornalista, não o contrário” (1988, p.91).

2.3 Fontes

Nesse trabalho será abordado o tema fontes devido ao grau de relevância que possui para a construção de uma notícia e de uma reportagem. Inicialmente é importante destacar que o trabalho de construir uma reportagem se divide em duas partes: a primeira é apurar corretamente os fatos e a segunda é escrever bem o texto. Para que um jornalista escreva bons textos é importante que ele possua o hábito da leitura. Para que apure bem os fatos, ele precisa ser um ótimo observador, ter um raciocínio lógico apurado e uma percepção aguçada (FLOSI, 2012, p.50).

Segundo Floresta eBraslauskas, o termo fontes “é usado nas redações para designar as pessoas que passam informações aos jornalistas (em on ou off)” (2009, p.20). E para Ricardo Noblat, “a melhor fonte de informação não é a que sabe tudo, mas a que nos conta o que sabe”

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(2014, p.62). Nesse quesito de esclarecimento, Pena chama a atenção para o fato de que a fonte de qualquer informação possui “a subjetiva interpretação de um fato” (2010, p.57). Segundo o autor, é necessário observar, pois a visão que ela possui sobre determinado acontecimento pode estar mediada por conceitos e convicções culturais, de linguagem e também de seus preconceitos concebidos através de toda a sua vida. Felipe Pena em suas análises, e de acordo com as afirmações de Nilson Lage, também acredita que os indivíduos compreendem a realidade de acordo com sua carga de informações adquiridas no decorrer da vida e seus enfoques de memória (PENA, 2010, p.59).

Ainda sobre as visões e definições a respeito das fontes, o português Rogério Santos, parte da ideia de que as fontes são a origem das informações e dados para uma produção jornalística; São também atores que são observados e entrevistados pelos jornalistas, com o intuito de buscar informações e sugestões noticiosas (1997, p.76). Segundo o autor, elas constituem-se como um fator determinante para a qualidade da informação que se deseja produzir, quanto maior for o número de fontes disponíveis e dispostas a contribuir com a produção do jornalista, melhores serão os resultados e a compreensão do acontecimento que está em pauta. Sobre a definição dessas fontes, e levando em consideração os estudos de Hess, Santos aponta fatores de escolha.

Do ponto de vista da oportunidade e da conveniência dos jornalistas em utilizarem uma determinada fonte, encontram-se os seguintes factores: (1) oportunidade antecipadamente revelada; (2) produtividade; (3) credibilidade; (4) garantia; (5) respeitabilidade (SANTOS, 1997, p.34).

O autor se baseia no Livro de estilo e prontuário da Lusa, de 1992, para afirmar que as fontes podem ser classificadas em seguras, autorizadas, oficiais e específicas. A definição de cada uma delas seria de simples assimilação.

[...] seguras (com designação de nome ou função, caso do Presidente da República), autorizadas (competentes numa dada área, como o Ministro da Defesa), oficiais (competência limitada à sua actividade), específicas (com acesso a uma área designada, como as diplomáticas ou os participantes numa conferência) (SANTOS, 1997, p.77, 78).

Jurandira Gonçalves aborda a diferenciação das fontes proposta por Lage que acontece em três categorias. A primeira categoria é relacionada à autoridade que a fonte possui para falar sobre determinado tema de interesse; a segunda categoria tem relação ao nível de participação e influência das fontes sobre a constituição da notícia; e a terceira diz respeito à relação que as fontes estabelecem com o tema em questão.

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No primeiro caso, teríamos as fontes oficiais (mantidas pelo Estado, empresas e organizações autorizadas a falar em seu nome), as fontes oficiosas (ligadas a entidades ou indivíduos, mas não autorizadas a falar em nome deles) e as fontes independentes (desvinculadas de uma relação de poder ou interesse específico). Na segunda categoria são elencadas as fontes primárias (aquelas em que o jornalista se baseia para colher o essencial de uma matéria; são mais diretas e específicas) e secundárias (mais contextuais, preparam o terreno para as fontes primárias ou situam/complementam as informações fornecidas por elas).

Na última categoria, diferenciam-se as testemunhas (afetadas pelas emoções e pela perspectiva, que fazem parte ou vivenciaram em algum nível, o fato/evento relatado) e os experts (fornecem interpretações dos eventos e são acionados para organizar, dar sentido ou explicar determinadas ocorrências)” (GONÇALVES, 2014, p. 97). Ainda de acordo com esclarecimentos de Jurandira Gonçalves, as fontes oficiais são frequentemente utilizadas pelos meios de comunicação por seu grau de confiabilidade, já que não podem mentir abertamente. Citando Mauro Wolf, a autora afirma que a vantagem em trabalhar com fontes institucionais é que “elas fornecem materiais credíveis o suficiente para fazer a notícia, permitindo, assim, que os órgãos de informação não tenham de recorrer a demasiadas fontes para obter os dados ou elementos necessários” (GONÇALVES, 2014, p. 97). A preferência que os meios de comunicação possuem em relação às opiniões de quem está no poder ou então aos “porta-vozes” oficiais se dá por motivo de que essas fontes possuem condições de acesso, ou informação mais especializada em determinados temas do que o restante da população (SANTOS, 1997, p.29, 30). Santos, utilizando considerações de Hall, explica que as fontes oficiais, autorizadas para falar em nome de determinada instituição, podem ser divididas de acordo com a seguinte classificação:

(1) representantes das principais instituições sociais; (2) poder institucional (fontes „autorizadas‟); (3) „estatuto representativo‟: deputados, ministros, outros funcionários de estado e grupos de interesses organizados (sindicatos[...]); (4) „especialistas‟ (SANTOS, 1997, p.30).

Ainda sobre as fontes oficiais, Pena faz um alerta para o fato de serem mais tendenciosas que as demais pois possuem interesses que devem ser preservados, “informações a esconder e beneficiam-se da própria lógica do poder que as colocam na clássica condição de Instituição” (PENA, 2010, p.62). Nessa categoria de fontes estariam elencados os governos, institutos, as empresas e associações. É importante chamar a atenção para um detalhe. Concordando com a classificação das fontes proposta por Lage, Pena chama a atenção e reafirma que se a fonte é oficial mas não está autorizada a prestar declarações ela fica intitulada de fonte oficiosa, e quando ela não detém nenhum vínculo direto com o assunto em questão passa a ser chamada de fonte independente (PENA, 2010, p.62).

Concordando e reafirmando o que foi exposto anteriormente, as fontes testemunhais possuem relação direta com o fato e “é preciso lembrar que seu relato sempre estará mediado

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pela emoção, pelos preconceitos, pela memória e pela própria linguagem. Testemunha é apenas a perspectiva de um fato, jamais sua exata e fiel representação” (PENA, 2010, p.64). A fonte testemunhal possui uma relação direta com a informação, dessa forma ela está inserida também na categoria das fontes primárias. As fontes secundárias são usadas para contextualizar o conteúdo da reportagem. Pena cita como um exemplo a Guerra do Iraque: na reportagem, os soldados e moradores daquele local seriam as fontes primárias e os cientistas políticos e analistas militares seriam fontes secundárias (2010, p.64).

Jurandira Gonçalves, em sua explanação sobre as fontes e seus possíveis interesses, acredita que se ela falar em nome de uma instituição pode significar também uma segurança para o jornalista. Segundo ela, “é preferível que a fonte seja institucionalizada, de fácil acesso e confiável, ou seja, que possua um lugar de fala já legitimado e possa realizar, sem grandes investimentos, o papel de escudo do jornalista” (GONÇALVES, 2014, p. 94). Em contraponto a essa afirmação, Noblat aponta que o jornalista também deve ficar atento para as informações recebidas oficialmente. Conforme o autor, “como não se pode obrigar as fontes oficiais a falar a verdade, nada mais que a verdade, informações que emanem delas devem ocupar pouco espaço nos jornais” (NOBLAT, 2014, p.59). Nesse contexto, Santos possui o entendimento, conforme estudos de Molotch e Lester, de que as atitudes e as formas de agir não são generalizadas e que “a fonte promove o acontecimento com ou sem intenção” de acordo com a situação (1997, p.24).

As pessoas gostam de figurar nas produções jornalísticas, passar informações que ajudam a construiu uma boa e embasada reportagem. Dessa forma, participam da reportagem e se sentem bem com isso. Esse fascínio com a imprensa e os meios de comunicação se explica, segundo Flosi, porque “quando alguém conta um caso, está exercendo naturalmente a profissão de jornalista. É por isso que as pessoas gostam de ajudar repórteres” (2012, p. 47).

Para esclarecer mais alguns conceitos, é importante destacar que as informações passadas em off referem-se àquelas que dão ao jornalista a condição de não revelar a identidade da pessoa que está atuando como fonte. Sugere Ricardo Noblat que “uma informação em off só seja aproveitada se confirmada por mais de uma fonte – em off ou não. De preferência em on” (2014, p.63). Ou ainda, essa poderá ser usada com segurança se o jornalista investigar a informação que lhe foi repassada e conseguir confirmar o teor de suas revelações. Nesse caso, o jornalista terá a confirmação de que a fonte em off foi verdadeira e não comprometerá seu trabalho.

Essas informações repassadas em off obrigam o repórter a tomar um cuidado redobrado com a checagem da veracidade das informações reveladas. Ao passar uma

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informação sem que seja identificada sua origem, a pessoa se exime da responsabilidade sobre o que diz.

Cabe ao repórter e ao editor decidirem se ela é importante o suficiente para ser publicada. E, nesse caso, terá de ser confirmada por outras pessoas, mesmo que em novo off. Se várias pessoas estão falando a mesma coisa, as chances de o fato ser verdadeiro é maior (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.54).

Com a análise de diversos autores que trabalham com o tema das fontes em off é possível perceber que não existe uma unanimidade sobre quando, onde e como usar essas declarações. Como exemplo de algumas orientações, pode ser analisado o caso do jornal The Washington Post, que estabeleceu os seguintes procedimentos para o uso de fontes confidenciais e declarações em suas páginas.

 Todas as declarações devem ser transcritas exatamente como foram colhidas pelos repórteres;

 Se o repórter quiser utilizar uma fonte confidencial, sua identidade deverá ser revelada a pelo menos um editor;

Entrevistas em off, sem que a fonte se identifique de forma alguma, não serão mais publicadas. É recomendável ao repórter que não se envolva mais nesse tipo de conversa;

 Informações sem atribuição de fonte, mas com algum tipo de identificação, podem ser utilizadas desde que respeitada a regra 2. Exemplo: Um funcionário da Casa Branca disse... (PENA, 2010, p.61).

As diretrizes implantadas pelo jornal alertam para o fato do jornalista ser aquele que vivencia ou o que ouve quem vivenciou determinado fato. Ele comanda e elabora o discurso, decide o certo, o errado, o que será ou o que não será publicado, “ou seja, é quem dá voz ao relato” (GONÇALVES, 2014, p. 90). Conforme o entendimento de Santos, o jornalista desempenha um papel de extrema responsabilidade dentro da produção de sentido, pois o que a fonte procura promover será visualizado por ele, que fará também a necessária reconstituição.

A importância das fontes de informação pode ser vista atendendo a três níveis de consideração (Traquina: 1988). A primeira diz respeito ao relacionamento entre jornalista e fonte, protegida por lei: o jornalista apenas revela a fonte quando o entender, mesmo em tribunal – é o princípio da inviolabilidade. A segunda entende que a fonte não actua de forma desinteressada – o jornalista para acreditar nela precisa de ter confiança no que ela informa (Traquina: 1988; Martins: 1983, 15). A terceira, derivada da anterior, apresenta o ponto de vista de que quanto mais alta é a posição da fonte mais confiança merece (SANTOS, 1997, p.165).

Conforme visão e estudos de Flosi, as fontes de informação que um repórter utiliza para dar início ao seu trabalho de construção de conteúdo da reportagem dividem-se em dois grupos:

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1º O noticiário dos próprios jornais, revistas, rádio, televisão e internet; 2º Informantes em geral, como amigos, familiares, funcionários públicos, políticos, militares, religiosos, profissionais liberais e, sobretudo, pessoas que trabalham tanto na iniciativa privada como no governo (FLOSI, 2012, p.58).

É possível encontrar o ponto de partida para um grande trabalho através da análise de conteúdos dos jornais e revistas, ou ouvindo conversas e debates existentes em diferentes lugares. Para Flosi, na vida de um jornalista o fator sorte também auxilia. Ele conversará com secretários de Estado ou delegados de Polícia e não conseguirá nenhuma informação de relevância trabalho. Porém, em um momento de diversão poderá surgir uma valiosa informação vinda de um garçom, ou um manobrista (2012, p. 58).

Dentro dessa perspectiva ressalta-se que o resultado final de uma reportagem depende da apuração. Essa apuração será mais completa quanto mais diversas forem as suas fontes. Para Flosi, “é somente indo ao local, fazendo entrevistas pessoalmente, analisando física e psicologicamente os personagens, sentindo de perto a história narrada, que o repórter pode escrever um bom texto. O telefone só serve para marcar encontros” (2012, p.82). Sobre o mesmo assunto, Floresta e Braslaukas esclarecem: “pessoalmente, por telefone ou por email? A primeira é sempre melhor opção – mas o tempo do repórter e a disponibilidade do entrevistado serão determinantes” (2009, p.73). E Wainer reafirma o que já havia sido citado anteriormente, que lugar de repórter “é na rua”.

Seja qual for sua experiência profissional, seja qual for o posto que ocupe, na redação, um jornalista não pode deixar de viajar. É preciso viajar incessantemente ao encontro do que está para acontecer, e insisto em que é possível viajar pelo nosso bairro, até mesmo pela nossa rua (WAINER, 1988, p. 228).

Para Floresta e Braslauskas, ir para a rua é uma das primeiras obrigações de um jornalista.

Fazer entrevistas por telefone é prático, mas deveria ser sempre a última opção. Ou porque a “fonte” não pode recebê-lo ou porque o tempo é curto. Se esses fatores não são o problema e se, mesmo assim, o repórter resiste em sair da redação, alguma coisa está errada. Qualquer que seja o assunto, a entrevista cara a cara renderá muito mais. [...] na rua, o repórter poderá encontrar outras pautas, ver a vida acontecendo. Não dá para acreditar que as reportagens virão por telefone ou por e-mail. Com a profissionalização cada vez maior das assessorias de imprensa, o máximo que o repórter receberá é um telefonema igual ao de seu concorrente. Existem as notas exclusivas passadas pelos assessores, mas nada se compara às descobertas. Afinal, a maior parte das pessoas e das empresas não tem assessoria (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.55).

A conversa por telefone é funcional e resolve muitas emergências nas redações, como quando o entrevistado está longe e é impossível ir a seu encontro. Mas em uma entrevista por telefone o jornalista não consegue perceber quando o entrevistado está desviando das perguntas ou não consegue decifrar as suas reações, o mesmo acontece com as entrevistas

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realizadas por e-mail, a grande invenção dos anos 2000. Para ele, não dá para descartar esse tipo de entrevista na correria do dia a dia, mas esse não é um bom caminho, pois não é possível refazer novas questões a partir do que o entrevistado está afirmando ou desviando (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.74).

Outro fator importante para ser lembrado é que o repórter precisa ficar atento quando a fonte entrevistada for menor de idade. As pessoas menores de 18 anos possuem seus direitos garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. É preciso ter cuidado na hora de usar nomes e imagens, “ou se usa apenas as iniciais ou se deve trocar os nomes (deixando claro no texto que esse recurso foi utilizado)” (FLORESTA; BRASLAUSKAS, 2009, p.64). Os rostos de crianças não devem aparecer nas fotos e, por esse motivo, são utilizados fotos desfocadas.

Finalizando as considerações específicas sobre as fontes e introduzindo o assunto do próximo capítulo que aborda os temas sociais no jornalismo, é importante questionar: onde podemos encontrar as informações? Para Nuno Manna as informações podem ser encontradas de modo pertinente em uma vítima, testemunha além das autoridades e especialistas, mas além dessas fontes consideradas de uso corriqueiro, ele faz mais um desafio:

[...] por que não aquele rapaz ali, passando despercebido, com as mãos no bolso, aparentemente desinformado? Um documento, uma fotografia, uma declaração, tudo isso pode também ser “portador” de informações. Mas não poderíamos perceber informações valiosas em lugares imprevistos? Um sussurro, uma pausa, uma encruzilhada, uma ideia não concluída? (MANNA, 2014, p.70).

Em dias em que as empresas jornalísticas desdobram a escassez de tempo, são reduzidos os números de notícias e reportagens que possuem origem em uma observação pessoal e direta, “a maioria é composta por informações fornecidas por pessoas, instituições e documentos” (GONÇALVES, 2014, p. 92). Nesse contexto, o principal papel do jornalista é buscar as fontes relevantes e separar as informações pertinentes para a elaboração do conteúdo.

[...] O jornalista não é mais, e sequer podemos dizer que já tenha sido de maneira plena, o maestro absoluto desse conjunto. Todos dependem das fontes, e as perspectivas apontadas por elas influenciaram em grande medida a decisão jornalística. Essas dependências, junto a um princípio ético de proteção e direito de sigilo das fontes atesta o reconhecimento de que elas são fundamentais (GONÇALVES, 2014, p. 92).

Uma fonte séria só será conquistada com confiança. Para mantê-la sempre disposta a colaborar com os conteúdos jornalísticos basta de início primar para que se a informação for revelada em off ela deverá permanecer sempre em off. Além disso, o jornalista deve ouvir as ponderações dos entrevistados e primar pela fidelidade dos relatos. Uma fonte que possui

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confiança no jornalista e no seu conteúdo, não hesitará em prestar esclarecimentos e informações para as futuras produções. No capítulo em que será realizada a Análise do Discurso poderá ser observada a diversidade de fontes utilizadas e que desempenham um importante papel para que a produção jornalística tome forma.

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3 CIDADANIA E DEMOCRACIA NA COMUNICAÇÃO

Após esclarecer conceitos e realizar considerações sobre o jornalismo, notícias, reportagens e fontes, esse capítulo vai abordar o tema sociedade nos meios de comunicação. As informações que chegam até as pessoas através de produções jornalísticas são indispensáveis para se estar de modo ativo no mundo atual. Gentilli, em suas explanações, afirma que o ser humano possui necessidade de informação, e que essa, por sua vez, é suprida pelo jornalismo.

Não se quer dizer com isso que seja impossível a vida em sociedade sem o consumo da informação jornalística produzida pelas mídias. Mas a realidade é que todas as informações indispensáveis para a vida em sociedade chegam, hoje, aos homens, de forma mediada e não direta (GENTILLI, 2002, s/p).

Tomar conhecimento, para que o receptor não fique passivo sobre o que acontece no mundo através das produções jornalísticas, significa possuir maiores condições de se tornar um ser humano mais ativo. Essas informações que são transmitidas possibilitam às pessoas compreender e realizar avaliação dos acontecimentos, se posicionar e interagir com a sociedade, pois “informar-se é investir no conhecimento, considerando que informação não é a mesma coisa que conhecimento, mas é condição para adquiri-lo” (RADDATZ, 2012, p.307). Ainda de acordo com o entendimento de Vera Raddatz, uma sociedade encontra condições para o cumprimento dos direitos humanos também através do acesso a informações. Ela é o princípio da cidadania, e essa somente se torna possível quando os cidadãos são plenamente inclusos na comunidade e possuem acesso aos seus direitos de forma justa e igualitária.

Sem igualdade a democracia não é plena. O Estado Democrático de Direito edifica-se pelo direito à informação, de forma transparente para todos os cidadãos, entidades públicas ou privadas, compreendendo tanto o direito de informar quanto o de ser informado (direito à verdade), bem como o direito de se informar (RADDATZ, 2012, p.300).

Sobre cidadania, Lafer entende que é “concebida com o „direito a ter direitos‟, pois sem ela não se trabalha a igualdade que requer o acesso ao espaço público, pois os direitos – todos os direitos – não são dados (physei) mas construídos (nomoi) no âmbito de uma comunidade política;” (1997, s/p). Nas considerações de Victor Gentilli também é possível perceber essa mesma linha de pensamento e o entendimento de que o acesso à informação é um “direito-meio”. Sem a sua existência a informação os outros direitos ficam prejudicados, e dessa forma ela pode ser vista como “a porta de acesso a outros direitos”.

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Com a expressão “direito-meio” estou querendo dizer que o direito à informação não se realiza em si mesmo, não se concebe a informação como algo com valor em si mesmo. Inclusive, porque falar apenas em direito à informação esclarece pouco. Direito à qual informação? O direito à informação, concebido como necessárias e imprescindíveis para a vida numa sociedade de massas, aí incluindo o exercício pleno do conjunto de direitos civis, políticos e sociais (GENTILLI, 2005, p.130). Gentilli explica que usufruir do direito à informação é ter acesso a conteúdos que dão condições para realizar as escolhas necessárias, perante uma sociedade, com plenas condições e segurança. Todas essas condições geram um direito à autonomia, pois cada indivíduo pode “formar as próprias preferências particulares, fazer suas escolhas e seus julgamentos de modo autônomo” (GENTILLI, 2005, p.130). Na visão de Celso Lafer é possível perceber que a igualdade entre as pessoas, igualdade de direitos e dignidade, é edificada através de uma ação coletiva. Em resumo “é esse acesso ao espaço público – o direito de pertencer a uma comunidade política – que permite a construção de um mundo comum através do processo de asserção dos direitos humanos” (LAFER, 1997, s/p). A igualdade deve ser efetiva e independente de classes, raças ou qualquer outra coisa que possa tentar diferenciar as pessoas. A lei é para todos, é isso que pode ser entendido como princípio da cidadania.

Ao falar sobre os direitos, vale lembrar que eles não surgiram todos de uma só vez ou que são fruto de uma só ação. Para Bobbio, eles “nascem quando devem ou podem nascer” (2004, p.6). O reconhecimento de um direito nasce através da admissão de uma necessidade, e as ações que hoje são normais, não eram consideradas de tal forma em décadas passadas.

Como exemplo, podemos relembrar que hoje, nós mulheres possuímos direitos igualitários, se isso fosse dito no início do século XX, provavelmente achariam improvável, pois não imaginariam as mulheres possuindo direitos reconhecidos de forma igual aos direitos dos homens. O que é indispensável hoje não era visto de tal maneira no início do século XX, quando existia outra cultura. É importante destacar que atualmente, mesmo com direitos garantidos de forma igualitária, ainda não usufruímos de tal. Diariamente mulheres são assassinadas por seus companheiros, enfrentam discriminação e comentários preconceituosos dentro de seu próprio âmbito familiar, não possuem igualdade salarial se comparados a homens que ocupam o mesmo posto. Inúmeras e duradouras ações foram realizadas para que os direitos fossem reconhecidos da forma que são atualmente, embora ainda há muitas melhorias e conquistas para serem galgadas, e “Não é difícil prever que, no futuro, poderão emergir novas pretensões que no momento nem sequer podemos imaginar [...]” (BOBBIO, 2004, p.18).

Ao falar de cidadania e direitos, não podemos deixar de citar também importantes considerações sobre a democracia. Ainda citando a visão de Bobbio, ele destaca que uma

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