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A reportagem O que ensina a turma 11 F (anexo 03, p.75) é uma produção realizada por Letícia Duarte e é vencedora do Prêmio Esso 2014 na categoria Regional Sul. Foi veiculada por ZH em 22 de dezembro de 2013. Para produzir a reportagem, a jornalista

acompanhou o ano letivo, 27 de fevereiro até 20 de dezembro/2013, de uma turma do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Júlio de Castilhos, escola pública localizada no bairro Santana, área central de Porto Alegre. Foram realizadas imersões de uma semana em cada trimestre, com o objetivo de testemunhar fatores que acontecem dentro e fora da sala de aula, e que influenciam o destino e o desempenho dos estudantes.

Conforme explicado nas análises anteriores, Zero Hora adota a forma de referência “acompanhada por Zero Hora” ou “ZH observou” para dar a sensação de distanciamento entre a produção e os jornalistas que produziram o conteúdo. Apesar dessa tentativa, sabemos que é impossível realizar uma produção com total imparcialidade. Outro detalhe importante é compreender e analisar a existência de um símbolo na primeira e segunda página da reportagem. Essa marca é composta por uma mão, o dedo indicativo em destaque uma frase.

Figura 01: Campanha A Educação Precisa de Respostas

Fonte: DUARTE, 2013, p. 34 e 35.

A educação frequentemente é tema de campanhas do grupo RBS. A bandeira institucional A Educação Precisa de Respostas16 é liderada pelo Grupo RBS, ao qual pertence o jornal ZH, para estimular o debate e a busca de soluções para a Educação Básica no país, mas em especial no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde o jornal é produzido e circula. Essa campanha, em parceria com a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, do Grupo RBS, faz parte de uma decisão da empresa de colocar a educação no foco dos seus investimentos sociais, reforçando o compromisso do Grupo com o desenvolvimento das comunidades em que está presente.

As bandeiras institucionais são tradição e uma das principais iniciativas do Grupo RBS na área do investimento social. A empresa possui a expectativa de que as ações realizadas provoquem a sociedade a refletir sobre o tema, perceber que todos fazem parte da solução do problema educacional e responder seis perguntas que considera essencial:

16 Site oficial da campanha

1. Por que, mesmo sendo a sexta economia do mundo, o Brasil ainda está no 88º lugar no ranking mundial da educação?

2. Por que 34,5% dos alunos do Ensino Médio não estão na série correspondente à sua idade?

3. Por que é importante os pais participarem da vida escolar dos seus filhos?

4. Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?

5. Por que 89% dos estudantes chegam ao final do Ensino Médio sem aprender o esperado em matemática?

6. Por que a maioria dos alunos matriculados no último ano do Ensino Fundamental não aprende o mínimo considerado adequado? O conceito e os motivos para essas perguntas estão explicados em um caderno especial17 que foi produzido com o intuito de reunir reportagens e entrevistas elaboradas sobre a educação básica. Para auxiliar a embasar o que é exposto por ZH na reportagem, os índices da educação do RS também apontam para deficiências e necessidades da educação.

89% dos estudantes chegam ao final do Ensino Médio sem aprender o mínimo

desejado em matemática. Fonte: relatório De Olho nas Metas 2012, do Movimento Todos Pela Educação (DUARTE, 2013, p. 36).

57ª é a posição do Brasil no ranking mundial de aprendizagem, entre 65 países

analisados. Fonte: Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) 2012 (DUARTE, 2013, p. 36).

38% dos alunos que saem do Ensino Médio e chegam ao Ensino Superior não

sabem ler e escrever plenamente. Fonte: Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011, do Instituto Paulo Montenegro (IPM) (DUARTE, 2013, p. 37).

Na reportagem, aliou-se a campanha com os índices negativos e foi produzido um conteúdo que aponta para as realidades e necessidades da educação básica. As soluções e possibilidades ficam por conta da imaginação do leitor, subentendidas, sem grandes exposições e embasamentos através de fontes e estudos acerca das possibilidades de resolução. É exposta a realidade atual de acordo com o que foi levantado por ZH. Possíveis ações futuras, meios e possibilidades não são claramente demonstradas.

4.4.1 Opinião e visões da Jornalista

A Análise do Discurso é um estudo interessante de ser realizado pelo fato de não haver um único método. As análises nunca serão iguais porque não há somente um caminho, cada pessoa que realizar o estudo irá encontrar trechos que, de acordo com a sua visão, merecem

destaque e diferentes interpretações. Para Pêcheux, “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar um outro” (2006, p.53). Orlandi concorda e explica:

A Análise do Discurso não estaciona na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de interpretação. Não há esta chave, há método, há construção de um dispositivo teórico. Não há uma verdade oculta atrás do texto. Há gestos de interpretação que o constituem e que o analista, com seu dispositivo, deve ser capaz de compreender (ORLANDI, 1999, p.26).

Seguindo o que diz na AD e sobre as possibilidades de interpretação existentes nessa forma de análise, compreendo que a jornalista ao produzir a reportagem integrou o ambiente escolar em determinadas semanas, conviveu e vivenciou o clima existente naquele local. Foi testemunha da realidade dos alunos em sala de aula.

Da maneira que o conteúdo é escrito e também com as situações expostas, é possível que o leitor forme uma identificação pessoal, pois há um grande número de descrições de indivíduos, de locais e também das características de cada personagem, formando identificação e familiarização do leitor. Sobre a personagem Andressa, por exemplo, podemos perceber com as seguintes SDs, que a jornalista buscou descrever de forma clara e concisa as descrições da aluna.

SD 01: Andressa hesita, confusa. Nunca teve tempo para metáforas em sua vida. SD 02: Lembrou que seu sonho era ser médica. E chorou.

SD 03: Com a dupla jornada, o tempo de estudar foi sendo feito de sobras. Quase nunca sobrava (DUARTE, 2013, p. 38).

A jornalista pode selecionar, de acordo com o contexto e o conteúdo, o que será destacado, quais são as falas das fontes que serão colocadas no texto, às comparações e metáforas. Nessa produção um grande número de fontes testemunhais, ou seja, fontes que possuem relação direta com os fatos e informações. Sobre essas fontes, Felipe Pena destaca “é preciso lembrar que seu relato sempre estará mediado pela emoção, pelos preconceitos, pela memória e pela própria linguagem (2010, p.64). Em relação às metáforas existentes, Eni Orlandi explica que na AD ela significa “transferência” de sentidos entre as palavras, uma palavra pode fazer alusão a outro significado (1999, p.44).

Exemplificando as metáforas, na sequência discursiva 04 que está apresentada abaixo, pode ser percebido que “um dia histórico” significa um acontecimento. É utilizado essa forma de referência ao primeiro dia de aula porque esse dia é importante para os alunos, essa

metáfora é uma forma irônica de dizer que no mês de junho acorre o primeiro dia de aula do ano letivo.

SD 04: Para os alunos que continuam na turma 11F, 12 de junho é um dia histórico. Não por ser Dia dos Namorados, mas porque, quase quatro meses depois do início do ano letivo, têm a primeira aula de seminário de matemática (DUARTE, 2013, p. 38).

As produções de reportagens tornam-se interessantes justamente por haver mais tempo para a apuração dos fatos e para a criação do conteúdo. Em uma reportagem também pode haver mais identificação por parte do leitor, uma produção mais elaborada, descritiva e clara provavelmente vai despertar mais a atenção de quem lê.

SD 05: O desencanto com a carreira do magistério não aparece apenas nos discursos recorrentes da categoria contra os baixos salários. Materializa-se também em sintomas menos óbvios, revestidos de ausências. Embora a escola não tenha uma estatística, o diretor do Julinho diz que é comum sete professores faltarem por dia somente no turno da manhã [...] (DUARTE, 2013, p. 41).

Letícia Duarte fez a imersão e descreveu em sua produção parte do que viu e sentiu, o motivo das faltas dos professores e dos alunos, dos conceitos insuficientes e das crises educacionais. A jornalista descreve com simplicidade e passa a sensação de ser o próprio leitor que está visualizando o fato.

4.4.2 Posicionamentos negativos

A reportagem explica que com a implantação do Ensino Politécnico o ano letivo termina na segunda quinzena de novembro, pois o último mês do ano letivo é destinado para a realização de provas e trabalhos finais, com horários reduzidos e sem novos conteúdos. Na sequência discursiva, é possível verificar metáforas sobre “novo” Ensino Médio.

SD 06: Nem por isso os alunos vão deixar de passar – pelo contrário. Com as mudanças introduzidas no Ensino Médio – o Ensino Politécnico, apelidado pelos críticos de “politréco” -, há um consenso entre professores e alunos de que ficou mais fácil a aprovação, o que estaria levando as turmas a uma maior acomodação (DUARTE, 2013, p. 36).

Segundo a reportagem essas mudanças significam que na prática é um mês a menos para vencer toda a carga de conteúdos que devem ser ensinados para os alunos. Através dos relatos e descrições apresentados na reportagem, pode-se perceber que no ambiente escolar existem frustrações aparentes e descritas no texto.

SD 07: Nunca vi turmas de primeiro ano tão fracas como neste ano, em rendimento, aproveitamento e desempenho. Foi um ano desgastante, os alunos não correspondem – avalia a professora, admitindo que pela primeira vez, depois de 10 anos de trabalho na rede estadual, sentiu desânimo para entrar em sala de aula (Jaqueline de Oliveira Gonçalves, professora de literatura, DUARTE, 2013, p. 36).

SD 08: Preocupada em impor disciplina, a professora Ana começa avisando que só vai trabalhar em sala de aula porque “não dava muito certo” a ida ao laboratório, já que os alunos “se perdiam” pelo caminho. Que também desistiu de levar as turmas à sala de informática porque “só queria saber de rede social”. E que prefere não adotar o livro didático, porque o material “só chega às vezes”. [...] A gente não pode exigir muito... senão, na primeira prova, já tiram nota baixa e abandonam a escola [...] (Ana Silva, professora de Biologia, DUARTE, 2013, p. 37).

SD 09: A escola se democratizou, abriu as portas. Veio uma população pouco letrada e a gente não está sabendo o que fazer com ela. A escola não se preparou. Não adianta dizer que o aluno não quer aprender; se a gente não souber primeiro o que o aluno precisa aprender (Gina Marques, orientadora educacional, DUARTE, 2013, p. 39).

SD 10: Não sei qual é o objetivo da tua pesquisa, mas isso tu poderias relatar, que é impossível tu fazer um bom trabalho num ambiente, que tu tá vendo como é que funciona. Eu só tenho 50 minutos. Tenho que fazer a chamada, entregar as notas, fazer correção de exercícios, continuar meu trabalho... em uma sala de aula totalmente desorganizada. A direção da escola não dá aparato nenhum, os alunos fazem isso porque sabem que realmente não acontece nada. [...] É impossível fazer um trabalho como a gente gostaria de fazer. Não tem como, não tem condições. Fora a infraestrutura. E os alunos não tem respeito. É muito difícil, muito complicado, mesmo que tu venhas com toda a boa vontade do mundo... tu acabas desistindo... Não é questão do social, é questão de interesse , de querer ir além (Werner Almeida Alves, professor de inglês, DUARTE, 2013, p. 41).

SD 11: [...] Querem melhorar os índices de aprovação. O problema é que não estamos melhorando a qualidade do ensino para diminuir a reprovação... Só estão melhorando os índices de reprovação (Antonio Esperança, diretor do Julinho, DUARTE, 2013, p. 42).

Com as sequências discursivas destacadas, pode-se perceber um grande número de situações que acontecem no Colégio Julinho que desagradam e causam insatisfação aos docentes. Conforme a sequência discursiva 05 é possível concluir que as frustrações dos professores do Julinho podem desencadear um grande número de faltas e, aliados aos problemas educacionais existentes nas demais instituições de ensino do estado, o resultado aparece nos índices negativos sobre a educação e é refletido no desempenho educacional.

Os relatos dos professores não dizem que eles não comparecem em determinados períodos, ou então que o número de faltas dos docentes é um número diariamente elevado naquela escola. Isso tudo é concluído através da análise do discurso existente na obra. A jornalista destaca que a média de faltas diárias dos professores é elevada. Os professores reclamam que os alunos não colaboram com o aprendizado e que as gestões não funcionam. Conclui-se com o discurso de ambos que o motivo para as faltas dos professores é a desmotivação e as frustrações existentes no corpo docente.

4.4.3 Posicionamentos positivos

No conteúdo exposto na produção da reportagem da turma 11F, existem relatos que apontam sutilmente para possíveis saídas e soluções. As soluções ficam subentendidas e não são trabalhadas de modo mais profundo e em lugar de destaque.

SD 12: O que mais te chamou a atenção? – pergunta a professora, que elegeu como meta profissional fazer com que os alunos percam o medo da leitura, por isso anda com o porta-malas sempre cheio de livros para emprestar. E se emociona com cada descoberta feita por eles (Jornalista fazendo referência à professora de literatura Jaqueline de Oliveira Gonçalves, DUARTE, 2013, p. 38).

SD 13: A maioria dos professores reclama que a turma 11F é bagunceira. Que os alunos não largam o celular. Que não param de conversar. Na disciplina de sociologia é diferente. A aula é tão popular, que alunos de outras turmas aparecem para assistir. Com suas brincadeiras, o professor Carlos Heitor Rosa da Silva magnetiza a atenção dos alunos. [...] Apaixonado pela sala de aula, Heitor diz que não sai de casa se não for para se divertir. E acredita que os alunos percebem isso, sabendo diferenciar os professores que estão ali por obrigação e os que estão ali por convicção (Jornalista fazendo referência ao professor de Sociologia Carlos Heitor Rosa da Silva, DUARTE, 2013, p. 39).

SD 14: O aluno nunca é ouvido, mas pelo menos na aula de artes ele pode escolher. [...] É uma terapia. [...] Meu aluno aqui é igual ao de outras escolas particulares, nos sonhos e nas expectativas. Aqui tem liberdade, e é de onde saem os melhores alunos (Imara Ungaretti, professora de desenho, DUARTE, 2013, p. 42).

O que pode ser percebido com as sequências discursivas elencadas é que nem tudo é ruim ou péssimo naquele ambiente. Existem aulas interessantes, professores motivados e que acreditam no futuro e aprendizado do aluno. Porém, após demonstrar os bons exemplos, a jornalista encerra com a seguinte sequência discursiva:

SD 15: Mesmo adorando as aulas, os alunos nem sempre entendem a proposta. O que a gente aprende em sociologia? – pergunta um aluno para o colega Maurício. - Ah, é tipo filosofia – responde.

- A matéria dele é frau, mas ele não é frau – completa Guilherme (DUARTE, 2013, p. 49).

A reportagem não explica o que significa frau. Trata-se de uma gíria popular entre os adolescentes, popularmente quando alguma coisa é frau entendo o significado como sendo uma coisa muito chata, sem graça ou desinteressante. Nessa produção existem críticas ao ensino, e quando surge alguma atitude boa ou estimulante ela é desconstruída logo em seguida com algo que minimiza a ação, conforme percebido na SD 15. Para endossar ainda mais esse meu destaque na análise, na SD 12 também é destacada a atitude da professora de literatura que carrega o porta-malas cheio de livros para emprestar e fazer com que os alunos despertem o hábito e gosto pela leitura.

SD 16: Aos 18 anos, lê o primeiro livro da sua vida. Um livro inteirinho, Do começo ao fim. [...] Meio sem jeito, a aluna que repete pela terceira vez o primeiro ano do Ensino Médio, depois de dois anos de evasão e repetência, admite que não entendeu muita coisa: - O “Rio do Meio” não tem muito a ver... eu não entendi muito bem... se passa num sótão... (DUARTE, 2013, p.38).

Nesse trecho novamente há uma crítica implícita. É destacado que a professora tem iniciativa para fazer os alunos sentirem gosto pela leitura, mas conforme o discurso, ela não obtém êxito. A palavra inteirinho é utilizado como forma de minimizar, quer dizer que mesmo a professora tendo o porta-malas do seu carro cheio de livros, ela só conseguiu fazer com que a aluna Andressa realizasse sua primeira leitura completa aos 18 anos e ainda sem entender a leitura que realizou. Na obra é elencada boas atitudes, mas logo é desconstruída com alguma característica que menospreza as ações relevantes.

4.4.4 Funcionamento discursivo da reportagem

As experiências positivas que foram encontradas também remetem para os problemas apontados nas sequências discursivas elencadas anteriormente. Há de uma forma bastante presente e destacada aqueles professores que não gostam de tecnologia, que reclamam dos atrasos e da dispersão dos alunos, que colocam a culpa de todos os problemas exclusivamente neles e na administração escolar. Existe em menor número, e em menor destaque, os que gostam de dar aulas, que interagem e se adaptam às necessidades e realidades da turma, que transformam a aula formando um vínculo. Nessas aulas os alunos não dormem, não utilizam celulares e não ficam fora da sala por achar a aula chata demais. Essas atitudes seria uma possível solução para os problemas, porém na obra não há destaque. Com a análise das sequências discursivas o que fica claro é que a reportagem foi produzida com o objetivo de destacar o que há de ruim no ensino, e o que há de bom é minimizado e por vezes também transformado algo negativo ou falho.

A Reportagem Lições da Turma 11F, de produção da jornalista Letícia Duarte, mescla metáforas e discurso descritivo para direcionar a compreensão de uma “certeza” e ainda para um questionamento: a educação estadual está ruim e, é uma soma de negligências que resultam essa realidade. Unindo a realidade do Colégio Júlio de Castilhos, aos problemas das demais escolas existentes no estado, o resultado é os índices destacados na reportagem e que colocam a educação do RS na situação que demonstram. Com palavras de forte significado e a existência de um exterior discursivo, os números que endossam a produção possuem a intenção de causar em primeiro lugar espanto, em segundo lugar sensação de indignação e em

terceiro lugar a vontade de mudança. No caso dessa produção a mudança pode ser inicialmente, um possível apoio e divulgação à campanha A educação precisa de respostas.

4.5 Considerações sobre as análises das três reportagens

Após realizar a análise do discurso das produções Meninos Condenados, Os Arquivos Secretos do Coronel do DOI-Codi e Lições da Turma 11F, é interessante realizar apontamentos que demonstram quais são as principais características que as reportagens possuem em comum. Considerando que a Análise de Discurso questiona a negação da exterioridade (BRASIL, 2011, p.172), essa escolha tornou possível um estudo interno buscando o que esses textos dizem; Como dizem; E também um estudo externo analisando por que dizem o que eles dizem. (GREGOLIN, 1995, p.17). Na AD descrever o conteúdo não pode estar separado da interpretação desse mesmo conteúdo e, “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar um outro” (PÊCHEUX, 2006, p.53). Dessa forma, quando diferentes pessoas realizam a Análise do Discurso de um mesmo texto, essas análises certamente serão distintas uma da outra.

Ao finalizar o estudo do discurso produzido pelas reportagens, destaco que os principais pontos de convergência entre elas se caracterizam como sendo o exterior discursivo existente, as metáforas, descrições e palavras com forte significado. A seguir é possível visualizar os quadros explicativos:

Tabela 01: Exemplo de exterior discursivo REPORTAGENS MENINOS CONDENADOS OS ARQUIVOS SECRETOS DO CORONEL DO DOI-CODI LIÇÕES DA TURMA 11F EXTERIOR DISCURSIVO Em um conflito bélico entre nações, os números já seriam dignos de um massacre (IRION, COSTA, 2012, p. 26). O coronel Molinas guardava em casa a mais importante prova material de que o deputado federal cassado Rubens Paiva deu entrada no DOI-Codi – e não desapareceu, como era até então a versão oficial do fato (COSTA; TREZZI; PERRONE; et. al, 2012, p. 31).

(DUARTE, 2013, p. 34 e 35).

Fonte: elaboração própria

Em relação ao exterior discursivo presente nas três reportagens de Zero Hora, é perceptível colocações que são encontradas dentro do texto, porém facilmente podem ser ignoradas pelos leitores. Ao realizar uma análise e uma avaliação mais detalhista, essa conexão aflora. Na tabela pode ser visualizado três exemplos que se encontram no interior das obras.

Quando surge a compreensão de que existe uma ligação entre texto/realidade/diversidade, é possível então associar o conteúdo exposto a todo o elenco de