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A Capa

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Academic year: 2021

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A releitura da obra Abaporu consistiu em um exer-cício durante a conclusão do meu ensino médio. Minha professora, na época, propôs que fizéssemos uma relei-tura do trabalho artístico mantendo alguma parte do original. Antes de planejar o que faria, lembrei de um ví-deo que dizia que Tarsila do Amaral havia pintado o qua-dro depois de um sonho. Minha mãe costuma dizer “se um sonho foi ruim, então era pesadelo”. Não acho que o sonho de Tarsila tenha sido um pesadelo, no entanto, deve ter sido um sonho bem esquisito.

A primeira vez que vi o quadro foi por ocasião de rea-lizar o mesmo exercício de releitura muitos anos antes, com papel e giz de cera, quando eu ainda estava na se-gunda série do ensino fundamental. Além de familiari-zação com a obra, acredito que a expectativa em propor essas releituras ao longo do tempo reside em obter no-vas visões, nono-vas digestões da imagem, ou até mesmo as mesmas visões de sempre, como uma forma de fixa-ção. De maneira informal, essa criatura enorme, tão so-zinha no meio nada, e tudo porque parece que a gente tem medo de chegar perto. O encontro e reencontro com o quadro parece um extenso convite à aproximação do que, por muito tempo, pareceu estranho e permaneceu abandonado.

Sem que alguém me convidasse, a mesma coisa tam-bém aconteceu com a colagem. Um dia meu terapeuta me perguntou se eu fazia colagem porque não tinha como errar. Era verdade, comecei assim, mas descobri que era possível errar... e muito! No período dos pri-meiros anos escolares, na época da primeira releitura, a tarefa de pegar revistas, recortar e colar era frequen-te e natural, porém, foi substituída ao longo do frequen-tempo pelo que fosse mais rápido e prático aos alunos.

A CAPA

Como queimar os olhos com um

sol-de-mentira

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A colagem existia como um exercício do passado, abandonado, quase como uma marca inconsciente es-perando para ser acessada. Por isso, a colagem como método e linguagem ainda parece algo fácil e “infan-til”, por ter ficado restrita como memória daquele mo-mento da vida.

Tenho a impressão que a estratégia mais eficiente dos colagistas é deslocar as coisas dos seus contextos, mon-tar quebra-cabeças colocando as peças em novos luga-res. Em nossa atividade, não só é possível errar, como também é possível brincar e se afogar nestes erros, en-golir o quebra-cabeça e queimar o olho, porque muitas vezes fazer colagem pode ser entregar o pior de uma imagem. Às vezes o “erro” é imprescindível. Me dizem “isso que tu colocou aqui não tem nada a ver com o que realmente significa” sem saber que o ofício muitas vezes requer subverter o que se vê, ou fazê-lo algo que ainda não era. Assim, precisamos ser cada vez mais intensos, elaborados e afetivos.

Mesmo que de forma pouco desenvolvida, ao execu-tar Abaporu, a ideia sobre significado e imagem já esta-va presente e serviu como ponto de partida para várias ações. Daquela estratégia comum, optei por, digamos assim, deslocar sem tirar do lugar. Se o quadro de Tarsi-la estava ou queria estar reTarsi-lacionado com antropofagia, então eu colocaria tudo de antropofagia, o mais medo-nho que tivesse. Se aquele rosto era distante, indefinido, próprio de um sonho, eu tornaria o sonho real, dando uma expressão de horror. Os corpos da antropofagia po-deriam ser de qualquer coisa, dentro dos imaginários, criaturas. Eu queria tudo humano e assim o fiz.

Referências

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