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A Ampliação da Rede de Transmissão do Brasil e as Ações Diretas de Inconstitucionalidade dos partidos DEM e PPS

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Academic year: 2021

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A Ampliação da Rede de Transmissão do Brasil e as

Ações Diretas de Inconstitucionalidade dos partidos

DEM e PPS

Nivalde José de Castro1

Victor José Ferreira Gomes2

Em qualquer análise e apresentação sobre o sistema elétrico brasileiro – SEB - são apresentados, com certo orgulho, os dados do tamanho e extensão da rede de linhas de transmissão. Para mostrar a magnitude desta rede, recorre-se a uma imagem que, como diz o ditado chinês, “vale mais do que mil palavras”: o desenho da rede elétrica brasileira é superposto ao continente europeu e verifica-se que ela cobre a distância entre Lisboa e Moscou. Mesmo assim, ainda uma parte expressiva do Território Nacional, na Região Norte, ainda não está integrada ao Sistema Interligado Nacional - SIN. Este espaço é denominado por Sistema Isolado. Ali a demanda de energia elétrica é muito difusa espacialmente e predominam as usinas termoelétricas a óleo, poluidoras e caras.

O avanço da “fronteira elétrica” é um movimento natural e tem um duplo e convergente objetivo: aproveitar o potencial hidroelétrico disponível na região estimado em 100 GW e substituir a oferta de energia elétrica de origem termo (cara e poluidora) pela hidroeletricidade. Este movimento já foi estudado pela EPE e foi incorporado aos Planos de 15 e 30 anos de expansão do SEB. Uma ação

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Professor do Instituto de Economia da UFRJ e Coordenador do GESEL – Grupo de estudos do Setor Elétrico <nivalde@ufrj.br>

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será a construção de linhas de transmissão integrando Tucuruí a Manaus e Macapá. As novas linhas de transmissão serão leiloadas ainda no primeiro semestre deste ano, de acordo com o Programa de Extensão de Transmissão – PET 2008-2012 da EPE. Esta integração irá garantir mais energia elétrica menos poluidora que a usada atualmente. O custo bem maior desta energia é subsidiado através do rateio entre todos os consumidores de energia elétrica do Brasil, via o encargo setorial Conta de Consumo de Combustíveis – CCC. O valor deste encargo é, em termos absolutos, alto. Em 2007 somou 2,9 bilhões de reais. A EPE estima que com a interligação Tucuruí – Manaus – Macapá, a redução será de 2 bilhões de reais anuais na CCC em valores de hoje, já que Manaus concentra mais de 80% do consumo de energia elétrica do Sistema Isolado - SI. Outro empreendimento importante para o processo de integração desta região ao SIN é a interligação do Estado de Rondônia, cujas linhas de transmissão já foram leiloadas e tiveram a concessão outorgada. No entanto, o governo estadual tem se colocado contra esta obra, observando-se dificuldades na obtenção da licença ambiental pelo órgão estadual.

Em suma, estes empreendimentos permitirão levar mais energia elétrica e menos poluidora, provocando, em paralelo, a redução das tarifas dos consumidores de todo o Brasil, via queda do CCC.

No entanto, e para surpresa dos que estudam a dinâmica de expansão racional e eficiente do sistema elétrico, o DEM - partido Democratas – ex-PFL e o Partido Progressista Brasileiro - PPS, ajuizaram nos dias 6 e 14 de março, respectivamente, Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF), com o fim de expurgar do ordenamento jurídico os Decretos 6.161/2007 e 5.146/2004, que dispõem sobre a inclusão e exclusão, de empreendimentos de transmissão de energia elétrica integrantes da Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN). O foco central da ADI são as linhas de

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transmissão de Tucuruí – Manaus – Macapá e da interligação do Estado de Rondônia ao SIN.

Os dois partidos sustentam a tese de que os Decretos ferem:

i. o princípio constitucional de arrecadação das receitas tributárias dos Estados-membros (CF, art. 155, II), violando a competência estadual de arrecadar o ICMS; e

ii. o princípio federativo (CF, art. 1º, caput).

Alegam que os Estados de Amazonas, Amapá e Rondônia irão ter prejuízos anuais da ordem de R$ 455 milhões, R$ 57 milhões e R$ 171 milhões respectivamente, com a interligação das linhas de transmissão em função da perda de arrecadação do ICMS cobrado sobre o combustível usado nas usinas térmicas nestes Estados. Ou seja, os estados cobram um ICMS alto sobre um produto que esta na base do desenvolvimento econômico e social da região. E quem paga o ICMS são todos os consumidores do país que estão no mercado cativo.

Do ponto de vista jurídico-constitucional, em relação ao princípio da arrecadação das receitas tributárias e do princípio federativo, não se pode afirmar que as teses sejam corretas. O artigo 155, II, da CF dispõe que compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre a circulação de mercadorias. O fato de que, como conseqüência do Decreto 6.161/2007, alguns Estados terão redução na arrecadação do imposto cobrado sobre óleo diesel e combustível não configura que o Decreto institui ou não o imposto sobre circulação de mercadorias. Nem mesmo modifica o fato gerador do ICMS, pois o imposto continuará a ser cobrado sobre este tipo de mercadoria nos Estados do Amazonas, Amapá e Rondônia. O Decreto somente interfere na ocorrência prática ou não do fato gerador do imposto. Deste modo, a União não está

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invadindo a competência tributária dos Estados. Portanto, não se pode afirmar que houve ferimento ao princípio da arrecadação das receitas tributárias e nem ao princípio federativo.

Quanto à troca de energia proveniente de térmicas a óleo por energia hidroelétrica proveniente do SIN, o benefício ambiental é claro e relevante. Deixarão de ser gerados por energia térmica a óleo 6.640.640 MWh/ano no Amazonas e 1.095.419 MWh/ano no Amapá, evitando-se o lançamento no meio ambiente de toneladas de CO2, conforme a própria petição da ADI do DEM.

Nestes termos, a interligação das linhas de transmissão se coaduna perfeitamente com o princípio constitucional de terceira geração do meio ambiente ecologicamente equilibrado, na medida em que terá um impacto direto sobre emissão de gases poluentes na atmosfera, contribuindo para mitigar o aquecimento global.

Outra conseqüência dos Decretos em questão são as menores tarifas que os consumidores de todo o Brasil pagarão com a diminuição do valor da CCC. Também se pode afirmar que tal conseqüência está balizada constitucionalmente pelo princípio da defesa do consumidor, prevista no artigo 170, V, da CF, além de seguir o princípio da modicidade tarifária consagrado no novo modelo do setor elétrico com a Lei 10.848/2004.

Diante do exposto e a título de conclusão, enquanto a oferta de energia elétrica destes estados é feita no âmbito do Sistema Isolado, este “serviço público” se faz com tecnologia (termoeletricidade) que resulta em uma tarifa excessivamente alta. Se a tarifa real fosse aplicada, as condições mínimas de desenvolvimento econômico estariam seriamente comprometidas, dada incapacidade local da economia e da sociedade suportar o valor real. Dentro do princípio Republicano, a sociedade brasileira, como um todo, transfere recursos

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para subsidiar as tarifas e, com isto, dar um mínimo de condição para o desenvolvimento econômico e social desta imensa região. Os governos destes estados, em tempos passados, impuseram alíquotas de ICMS sobre o insumo que permite a produção desta energia, que é o óleo diesel e combustível. Assim, estes estados foram duplamente beneficiados – energia barata e transferência de renda, via tributo, dos outros estados para a região. O avanço da fronteira elétrica é importante e inexorável. Ele expressa o próprio desenvolvimento econômico e também busca o aproveitamento do potencial dos recursos hidroelétricos que estão localizados na própria região Amazônica. Querer barrar este avanço, do ponto de vista econômico é um erro, grave e insustentável.

Desta forma, pode-se afirmar que os Decretos 6.161/2007 e 5.146/2004 são claramente constitucionais. Além de constitucionais, os Decretos contribuirão para a diminuição das tarifas do mercado cativo de todo o país, redução da poluição ambiental na região Amazônica e permitirão a integração energética da região Norte. Assim, os ganhos nacionais são de tal monta que é difícil aceitar a motivação jurídica e econômica do DEM e do PPS ao proporem ADIs para garantir ICMS sobre uma atividade econômica que se tornará ineficiente e pouco produtiva com as novas linhas de transmissão. O avanço da fronteira elétrica é uma questão econômica e ambiental tão séria e importante para o desenvolvimento do Brasil que não merece este tipo de abordagem política. A problemática fiscal, que está na base destas ADIs, deveria ser tratada na Reforma Tributária, e não na esfera do Judiciário. Agora só resta aguardar a decisão do STF frente aos interesses nacionais em jogo.

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